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BOLETIM DA CASA DE GOA

Novembro/Dezembro - 2017
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BOLETIM DA CASA DE GOA


Índice
Editorial.................................................... pág. 3
Associação de Goa, Damão e Diu
Pessoa Coletiva de Utilidade Pública Mensagem Presidente da Assembleia
Geral........................................................ pág. 4

Nota da redação........................................ pág. 5


Calçada do Livramento, 17
1350-188 Lisboa
Contactos:
De historiador a escritor.......................... pág.5-8
21 393 00 78
91 505 74 77 V Congresso da Cidadania Lusófona..... pág. 9-12
casadegoa@sapo.pt
www.casadegoa.org Goanidade e Sacralidade.................... pág. 13-16

Viver em Delhi.................................... pág. 17-19


Diretor – Edgar Valles (Presidente da Direção) Padre Chico Monteiro.............................. pág. 20
Coordenação – Ana Paula Guerra
Designer/Diagramação - Juliano M. Mariano Terá Goa uma cultura sustentada no
século XXI.......................................... pág. 21-22
Colaboraram neste número:
Capa: Espaço dos Jovens............................. pág. 23-24
http://lilaprana.com/yoga/the-ten-sacred-principles/
Aconteceu.......................................... pág. 24-29
Ana Raquel Fernandes
Andreia Fernandes Agenda................................................... pág. 30
António Rodrigues
Daniela Rodrigues Anúncios................................................. pág. 31
David Vaz
Eugênio Viassa Monteiro
Henrique Machado Jorge
José Filipe Monteiro
Lourdes Elvino de Sousa
Maria Odete Fernandes
Valentino Viegas
Vicente Fernandes

ESTATUTO EDITORIAL
O Boletim da Casa de Goa visa divulgar a atividade da
associação, sendo um instrumento de divulgação da realidade
de Goa e de tudo o que se insira nos fins estatutários da Casa
de Goa.
O Boletim aposta numa comunicação viva, imaginativa, atual
e atuante, privilegiando as notícias mais relevantes da área,
sem descurar a crónica, a opinião ou o comentário mais
desenvolvido.
O Boletim é da responsabilidade da Direção.
Publicará textos que sejam solicitados, reservando-se o direito
de não publicar as colaborações que não sejam expressamente
solicitadas. Caso as mesmas sejam publicadas, respeitará na
íntegra o texto enviado, exceto se o autor aceitar as sugestões
de alterações que venham a ser propostas, em razão de
critérios de espaço.
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Editorial
“Ano novo, vida nova”, costuma dizer-se. Mesmo que as perspetivas não sejam
boas, a expressão traz esperança e ânimo, o que já de si é bom.
O ano de 2018 será certamente um ano de sucessos para a Casa de Goa.
Destacamos o dia 8 de abril, em que o EKVAT, o nosso grupo de danças e
cantares, promove um grande espetáculo no Tivoli, em Lisboa.
Aguarda-se a participação de artistas de outras comunidades.
Ainda que a realizar em 2018, este espetáculo encerra as comemorações do 30º
aniversário da Casa de Goa e está a ser aguardado com grande expetativa, dada
a qualidade do grupo.
Ainda no mês de abril, prevê-se a realização das eleições para os órgãos sociais para o quadriénio
2018/2021. As eleições constituem sempre um marco importante na vida associativa e desejamos que
o ato eleitoral contribua para um maior dinamismo da Casa de Goa.
Teremos também o curso de concani, que será ministrado pelo Prof. Dhruv Usgaonkar, assistente
da Universidade de Goa, em Panjim, que constitui uma ótima oportunidade para aprender a língua
nacional de Goa.
Mas muitas outras iniciativas e eventos estão previstos, a anunciar oportunamente, pelos meios
habituais.
No que diz respeito ao boletim que ora se apresenta, destacamos os artigos dos nossos colaboradores
Valentino Viegas e Henrique Machado Jorge, que constituem comunicações apresentadas em congressos
e eventos importantes, em que representaram a Casa de Goa. São artigos que merecem uma leitura
atenta.
Em outro continente, Eugénio Viassa Monteiro, que “trocou” a vida cómoda de Lisboa por Nova
Delhi, onde reside atualmente, envia-nos como que um postal, transmitindo as suas vivências na capital
da Índia. Trata-se de um artigo interessante, especialmente para aqueles que encaram a possibilidade
de viver na Índia.
O Boletim contém também as habituais rubricas sobre a nossa atividade desenvolvida nos meses de
novembro e dezembro.

Edgar Valles
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Caros associados

Neste início de 2018, enquanto Presidente da Assembleia Geral, quero saudar-


vos e desejar que este seja um ano à medida dos vossos desejos.
Neste ano, completa-se o término do mandato da actual Direcção e, como tal,
dentro em breve serão convocadas eleições para os novos corpos sociais.
Numa missiva dirigida a alguns associados o Presidente da actual Direcção, Dr.
Edgar Vales, manifestou a sua decisão, irrevogável, de não se candidatar a um
novo mandato.
Quero aqui recordar, expressamente, que de acordo com o Artigo 10º dos nossos
estatutos, são direitos do sócio:
10.1b ─ Eleger e ser eleito para os órgãos sociais, nos termos dos Estatutos e da Lei.
10.d ─ Participar activamente na vida da Associação.
Assim sendo, na minha opinião, estas eleições adquirem uma dimensão adicional por vários motivos:
Não sendo a futura direcção um directorado de continuidade terá que apresentar o seu programa com
os objectivos que propõe realizar e a equipa, que se espera que seja competente e coesa, para levar a
bom termo os seus propósitos.
Um aspecto fulcral é que a nossa instituição está numa nova encruzilhada ─ a encruzilhada das
gerações ─ onde o progressivo render da guarda com a passagem do testemunho geracional é uma
premência para que haja uma continuidade nos desideratos que levaram à formação da Casa de Goa.
Os fundadores, pioneiros, militantes e outros que tanto contribuíram para a realidade que é a Casa
de Goa, esperam e aguardam que a nossa identidade goesa, a Goencarponn, em toda a sua plenitude,
encontre na nova geração os guardiões, defensores e arautos da nossa herança cultural em toda a sua
integralidade.
Apelo a todos os sócios que se mobilizem desde já para trabalharem nesse sentido.
Nesta hora tão determinante e crucial a Casa de Goa conta convosco.

Lisboa 15 de Janeiro de 2018

Presidente da Assembleia Geral

JOSÉ FILIPE MONTEIRO


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NOTA DA REDAÇÃO
A Casa de Goa esteve representada em três importantes eventos que se realizaram no ano de 2017 e que se indicam.
Integrado na Bienal da Lusofonia, promovida pela Câmara Municipal de Odivelas, realizou-se em maio o VI Encontro dos Escritores Lusófonos.
O Prof. Dr. Valentino Viegas, sócio fundador da Casa de Goa, representou-nos, tendo apresentado a comunicação “De historiador a escritor”.
Em novembro, realizou-se o VI Congresso da Lusofonia, em Lisboa, em que também estivemos representados pelo referido sócio fundador,
que apresentou a comunicação “A importância da liberdade de circulação da língua portuguesa”.
Também em novembro, realizou-se em Fátima o II Festival Literário de Fátima, tendo a nossa associação sido representada pelo Prof. Henrique
Machado Jorge, que apresentou a comunicação “Goanidade e Sacralidade. Olhares sobre o Sacro de Literatos Goeses Oitocentistas».
Pela sua importância, reproduzimos os textos integrais de tais comunicações.

De historiador a escritor

Em resposta ao repto lançado pelos


organizadores do VI Encontro de Escritores
Lusófonos, designadamente ao painel
“As Literaturas da Língua Portuguesa na
Diáspora”, começaria por revelar as razões
que me levaram a abraçar um estilo diferente
daquele que praticava enquanto historiador.
Por dever de ofício, nos historiadores, a
permanente preocupação do rigor científico
e da busca da verdade chega a ser obsessiva.
A escrita produzida, por necessitar de
documentar as afirmações e de fundamentar
as hipóteses, sofre retraimento nos desejos
e contenção nos impulsos. Há quem não
arrisque ser criativo, com vista a abrir
caminhos inovadores, por receio de ficar
exposto à mercê das críticas.
Durante largos anos escrevi sobre a História Medieval, em especial sobre o século XIV, com destaque
para a Primeira Revolução Portuguesa, matéria onde me especializei e fiz a tese de doutoramento.
Foram oito livros e numerosos artigos sobre o tema, cuja riqueza é tão grande e tão diversificada
que continua a estar aberta a novas linhas de investigação, que podem dar lugar a defesa de uma
diversidade de provas académicas.
Para alguém que nasceu e teve o prazer de desfrutar a primeira vintena de anos da sua juventude
numa terra chamada Goa, que até o dia 19 de Dezembro de 1961 fazia parte do antigo Estado Português
da Índia, embora possa dizer em seu abono que gostava de História, parece difícil justificar por que
razão decidiu estudar a Idade Média e não qualquer outro período histórico, ou assunto específico,
como por exemplo a Expansão Portuguesa.
Cumprida esta provecta idade, em resultado da experiência acumulada, posso testemunhar aos mais
jovens que não é nenhuma falácia repetir que a vida é uma caixa de surpresas. Mesmo que planeemos
os passos do porvir, com todos os pormenores, bastas vezes são as ínfimas contingências existenciais,
as inesperadas circunstâncias do dia-a-dia, ou os acontecimentos imprevisíveis que nos guindam para
itinerários jamais idealizados.

O Requerimento
No ano em que concluí a licenciatura, quando passei pelo Departamento de História da Faculdade de
Letras de Lisboa para me informar como devia proceder para obter o diploma do curso, encontrei, por
mero acaso, aquele que tinha sido meu professor em duas disciplinas, o consagrado Historiador, Prof.
Doutor António Borges Coelho.
Ainda hoje, lembro-me perfeitamente do local e das palavras por ele pronunciadas.
Depois de corresponder ao meu cumprimento, com rasgado sorriso e caloroso aperto de mão,
perguntou-me:
- Já fizeste o requerimento?
Algo confuso e surpreendido com a interrogação, respondi:
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- Não senhor Professor. A esta hora,
a reitoria está fechada. Logo à tarde,
vou até lá para solicitar o meu diploma
do curso.
- Não é isso, Valentino, é o
requerimento para dar aulas em
História, como assistente da nossa
Faculdade.
Apanhei um grande susto, pois não
estava à espera daquele convite.
Antes de decidir, consultei outros
professores, nomeadamente, Prof.
Sales Loureiro e Prof. Pedro Celso
Cavalcanti, assim como alguns
colegas do curso.
Um deles, que era muito bom aluno
e com quem fiz trabalhos de grupo,
disse-me:
- Estou certo que tens capacidade para exercer aquelas funções, daí não entender a razão da
hesitação. E acrescentou:
- Sabes? Às vezes, este tipo de oportunidades surge uma única vez na vida. Se fosse comigo dava
pulos de alegria.
Pois bem, caros ouvintes. Naquele ano lectivo passei a ser o docente mais moderno do departamento
de História.
Quando chegou a minha vez de escolher as disciplinas para leccionar, as que eram da minha
preferência já tinham sido escolhidas pelos mais antigos. Sobravam apenas três. Uma delas era a
Idade Média Portuguesa, a outra, Introdução à História Económica e Social e da terceira, mal sabia
de que se tratava.
Privado de opções, foi assim que comecei a gostar deste período da história portuguesa. Hoje
reconheço que o seu estudo é fundamental para conhecermos as raízes que sustentam os alicerces de
Portugal.

Um dívida de gratidão
Sobretudo na viragem do século, os meus conterrâneos insistiram que eu tinha o dever moral de
canalizar parte da minha investigação para o estudo da História do berço do meu nascimento. Era uma
dívida de gratidão que necessitava de pagar à terra que me acolhera sem nada pedir em troca. Como
continuei a fazer orelhas mocas, desafiaram-me a escrever um livro sobre Goa.
Em resposta a este repto publiquei As Políticas Portuguesas na Índia e o Foral de Goa, onde estudei
um dos períodos mais brilhantes da história portuguesa e fiz o paralelo entre o papel desempenhado
por Vasco da Gama, D. Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque. Depois de proceder ao estudo
do foral de Goa pude afirmar que é o documento indo-português mais antigo sobre as regras de
vivência e convivência de uma parcela da sociedade indiana do século XVI com os portugueses, seus
conquistadores, e o mundo de que foram portadores.
Apesar da mudança da área de investigação, por deformação profissional, continuei amarrado ao
meu passado de historiador, mas como escrevia artigos para jornais e revistas fui-me libertando,
gradualmente, das amarras que me prendiam à escrita e à metodologia ministrada durante cinco anos
nos degraus da licenciatura.
De entre os meus leitores, um belo dia, quando pedi a um professor universitário para rever um
artigo de ficção que redigira, ele, que era crítico literário, afirmou-me que o meu texto revelava possuir
habilidade para escrever romances.
Registei com agrado esse comentário, mas fui adiando qualquer iniciativa nesse sentido, até que os
militares que tinham participado comigo na guerra do Ultramar, no Norte de Angola, com os quais
reúno e confraternizo ao menos uma vez ao ano, e que, em 1983-1984, haviam visto a série televisiva
de seis episódios sobre a Revolução de 1383-1385, da qual fui autor, organizador e apresentador, me
pediram para escrever sobre a guerra em que tínhamos participado.
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O primeiro romance histórico
Assim nasceu o meu primeiro romance histórico, A Morte do Herói Português. Da Guerra em Angola
à Invasão de Goa. Um Testemunho.
Tenho para mim que a existência só tem valor se vivermos experiências únicas e inolvidáveis, as tais
que se fixam na retina, metamorfoseiam nas porosidades da epiderme, penetram nas profundezas do
ser e jamais nos abandonam, mesmo que nos queiramos ver livre delas.
Os fortes sentimentos e as vibrantes emoções que a guerra proporciona, se não forem devidamente
controlados, podem direccionar os nossos pensamentos e atitudes para caminhos de trevas desconhecidas
e acabar por destruir a harmonia de famílias inteiras, pois revivências dramáticas e stresse pós-traumático
podem surgir a qualquer altura, até na inocente pacatez de convívio do militar com familiares e amigos.
Quem participou em operações de combate não necessita de apelar à imaginação e muito menos
recorrer à ficção, pois a matéria-prima é tão abundante que basta escrever a primeira linha para
sermos bombardeados com milhentas situações, umas similares outras completamente diferentes, a
atropelarem-se umas às outras em cascata, a ponto de tornar difícil travar o manancial de ideias, que
surgem no nosso horizonte visual, para sermos capazes de nos concentrarmos no acto de registar em
texto escrito.
Nestas situações, a solução recomendada, pelos entendidos na matéria, é apontar tudo o que se cruza
diante dos olhos, mesmo ideias desconexas, sem sentido nem interligação, desprezando a beleza do
texto, a cronologia e a preocupação da coerência.
Os flashes que teimam em reaparecer de forma insistente, só deixam de nos apoquentar quando
os aprisionamos e assentamos em papel. Assim que ficam registados, as imagens, as ideias e outras
formas de afirmação presencial sentem-se aliviadas e satisfeitas por terem conseguido realizar os seus
intentos e, gradualmente, acabam por nos deixar de perseguir e importunar.
Libertados desta pressão obstinada e sufocante, com mais vagar e sem sermos permanentemente
incomodados com a presença das cenas impositivas, podemos, serenamente, ler e reler várias vezes o
texto, apurá-lo e dar-lhe a redacção pretendida.
Os meus camaradas de guerra asseguraram-me que devoraram o livro, A Morte do Herói Português,
com avidez, desejosos de absorver a narrativa sem parar e, ao mesmo tempo, pesarosos por não
quererem chegar à última página.
Em cada cena descrita, em cada episódio recriado, em cada convivência narrada, sentiam-se recuar à
época, renascer e viver no presente os arrepiantes momentos e as inolvidáveis emoções outrora fruídas.
Sinto-me tocado pela felicidade e satisfeito com o testemunho deixado não porque os desafios tivessem
sido fáceis de ultrapassar, mas por ter depreendido, pelas reacções chegadas ao meu conhecimento,
que correspondi às expectativas criadas pelos meus leitores e, fundamentalmente, por ter sido bafejado
com uma riquíssima e inolvidável experiência durante a minha existência.
Deixem-me confidenciar-vos que tenho como filosofia de vida enfatizar a análise das situações mais
pelo lado positivo do que negativo; procuro respostas satisfatórias em vez de me deixar abater pelas
dúvidas e intermináveis incertezas e interrogações. Reconheço que tenho defeitos e sou imperfeito
mas não me martirizo a pensar nos erros cometidos, nem me apavoro com o futuro que foge ao meu
controlo. Prefiro desfrutar o presente por ser o único momento que tenho a certeza de existir.
Reparem só nesta coincidência
histórica que funcionou em meu
favor. Em 25 de Novembro de
1510, Afonso de Albuquerque
invade e conquista Goa. Claro
que inexistia naquela altura, pois
era uma eventual promessa por
acontecer. Mais de quinhentos
anos depois, em 18 de Dezembro
de 1961, a União Indiana segue as
pisadas deste governador português
e também invade e conquista o
Estado Português da Índia, pondo
termo à soberania portuguesa
naquela parte do subcontinente
indiano.
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Ver com os próprios olhos
Apesar de todos os malefícios que qualquer guerra
comporta, por feliz coincidência, desta vez eu estava
presente naquele território.
Por isso, vi com os meus próprios olhos os
bombardeamentos da aviação indiana, a acção do
aviso Afonso de Albuquerque contra três fragatas
inimigas e, no mesmo dia, pouco antes de anoitecer,
quando toda a população havia fugido da localidade
de Betim, só eu e um amigo meu, por escutarmos o
som das lagartas em movimento, fomos confirmar a
razão óbvia e assistimos à progressão da vanguarda da coluna das forças invasoras a avançar ao nosso
encontro.
Observar numerosos tanques de guerra, com as bocas dos canhões apontadas em direcção a Pangim,
situada na outra banda do rio Mandovi, com um militar a afirmar, ou se rendem ou arrasamos a cidade,
é algo que jamais se esquece, pois de um e de outro lado do rio viviam irmãos de sangue pertencentes
à mesma família.
Dormir com uma nacionalidade, para no dia seguinte, após rendição incondicional do governador-
geral, general Vassalo e Silva, saber que bastava uma publicação oficial para se deixar de ser aquilo
que se era para passar a ser, automaticamente, aquilo a que nos obrigavam, é algo que só sucede em
raras ocasiões e isso nos aconteceu em Goa.
Se, naquela conjuntura, era dramática a situação do exército português aprisionado, por razões
políticas, em Portugal, a mais de onze mil quilómetros de distância, indiferentes aos sofrimentos de um
e de outro lado dos oceanos, os familiares dos militares vencidos eram bombardeados pela imprensa
nacional com notícias falsas e invenção de terríveis combates inexistentes, chegando-se ao ponto de
avançar com estimativa, por confirmar, de mais de um milhar de militares mortos.
Goa. Preço de Identidade aborda muitos destes acontecimentos, sem esquecer, entre outros, a origem
do nefasto problema das castas, as marcantes contradições sociais existentes naquela parcela territorial,
os movimentos internos contrários à soberania portuguesa, as hesitações nos momentos fulcrais, as
reacções populares em relação àqueles que arriscavam rumar para Portugal em vez de permanecer na
terra onde haviam nascido.
A crise provocada pela falência do banco Lemon Brother e o contágio provocado ao resto do mundo,
obrigando Portugal a pedir assistência financeira e a viver uma situação de emergência nacional, é o
mote para denunciar situações calamitosas em Os Filhos da Sombra.
Os sofrimentos dos pedintes no metro de Lisboa, a busca de uma côdea de pão nos caixotes de lixo,
o desespero dos desempregados, as intermináveis filas de candidatos à procura do posto de trabalho,
a imparável onda migratória, o desagregar das famílias, a humilhação a que foram sujeitos os mais
carenciados, a indiferença dos agentes governamentais, mais preocupados em cumprir as ordens
recebidas do exterior do que em amenizar as agruras das populações, estão descritos neste romance
numa linguagem tocante e objectiva.
Este romance descreve o périplo de Daniel aquando da viragem político-social em Goa, Moçambique,
Angola e Portugal, onde os heróis são observados numa perspectiva diferente da habitual, os cidadãos
comuns ganham relevo especial e a atitude dos detentores do poder sofre o crivo da crítica.

Mensagem de esperança
Embora não se deixe de constatar que Portugal está rodeado de obstáculos, a mensagem de esperança
permanece viva e geradora de confiança no futuro.
Para terminar, lembro-vos que vivi em países onde existe uma diversidade de idiomas nativos,
como em Goa, Moçambique e Angola, e embora continue a passar longas temporadas na Alemanha,
o português é a língua do meu pensamento e da minha expressão literária. É através da língua de
Camões, funcionando como o principal elo de ligação entre todos os locais calcorreados, que exprimo
o multiculturalismo lusitano.
Valentino Viegas
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V Congresso da Cidadania Lusófona

Decorreu no dia 13 de Novembro o V Congresso da Cidadania Lusófona, sob o tema Liberdade de Circulação
& outras liberdades para o espaço lusófono, no Palácio Valenças, por especial deferência da Câmara Municipal
de Sintra, onde tomaram a palavra além de Renato Epifânio, presidente do MIL: Movimento Internacional
Lusófono, várias personalidades “que, na teoria e na prática, muito se têm batido pelo reforço dos laços entre
os países e regiões do espaço da Lusofonia – no plano cultural, desde logo, mas também nos planos social,
económico e político.”
A sessão de abertura teve lugar às 15H00, seguida de intervenções programadas, apresentação da Nova Águia
20, e jantar oferecido pela Câmara Municipal de Sintra.
Os trabalhos prosseguiram no dia seguinte no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, em parceria com a Associação
Nacional de Professores de Português, e com o patrocínio de PASC: Plataforma de Associações da Sociedade
Civil – Casa da Cidadania e da NOVA ÁGUIA: Revista de Cultura para o Século XXI.
A sessão de abertura, naquele prestigiado Liceu, teve lugar logo de manhã, pelas 9H00, tendo sido seguida de
numerosas comunicações de representantes de Associações da Sociedade Civil e apresentação das conclusões
às 18H00.
A pedido da direcção, a Casa de Goa fez-se representar naquele evento pelo Prof. Doutor Valentino Viegas que
apresentou a comunicação intitulada “A importância da liberdade de circulação da língua portuguesa”.
Para mais informações sobre o congresso consulte-se:
www.cidadanialusofona.webnode.com
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A importância da liberdade de circulação da língua portuguesa

Por razões históricas conhecidas, que dispenso de especificar, Goa não faz parte da CPLP, apesar de ter sido
conquistada por Afonso de Albuquerque há mais de quatrocentos e cinquenta anos.
No remanescente império português do século vinte, os novos Estados, nascidos após descolonização,
adaptaram o português como língua oficial, tal como acontecera com o Brasil.
Assim se criou uma comunidade de quase duzentos e setenta milhões de falantes da língua lusitana, da qual
uma escassa minoria tem a nacionalidade portuguesa.
Para haver homogeneização entre os habitantes dos países que se expressam na língua de Camões, o ideal
seria que em toda esta vasta comunidade transnacional houvesse total liberdade de circulação de pessoas e
bens, mas como os novos Estados são independentes e se regem por leis próprias, neles se aplicam as normas
nacionais, até em relação à concessão da simples autorização de residência.
Em virtude de existir o primado de reciprocidade nos convénios celebrados entre os Estados do antigo
Império português, parece-me que, para se fortalecer os laços entre os países lusófonos, o primeiro passo a
dar seria o de criar a cidadania transnacional lusófona, introduzindo disposições constitucionais harmonizadas
conducentes à sua viabilização.
A partir deste desiderato basilar julgo que seria possível trabalhar no sentido de dar passos seguros na
caracterização e defesa da liberdade de circulação para trabalhar, estudar, fazer turismo, investir, empreender,
e até alcançar um grau mais elevado da liberdade política, económica, cultural e religiosa.
Como representante da Casa de Goa no V Congresso da Cidadania Lusófona, que decorre sob o lema
“Liberdade de circulação e outras liberdades para o espaço lusófono”, diria que nós, os goeses, espalhados
pelos cinco cantos do mundo, emigrados antes e depois do fim do antigo império português, pugnamos por
fazer vincar bem a nossa identidade própria através das mais diversas organizações representativas, sem
considerar a identidade própria como uma prisão sacrossanta despida de perspectivas enriquecedoras. De
entre as existentes em Portugal, a Casa de Goa, associação de Goa, Damão e Diu, é a mais conhecida.
Dos seus objectivos estatutários cumpre destacar o primeiro:
Promover acções conducentes à preservação da identidade das culturas de Goa, Damão e Diu.
Uma das vias escolhidas para dar corpo a este objectivo foi a criação do grupo Ekvat que, através da música,
do canto e da dança, tem divulgado a especificidade da cultura goesa em Portugal e pelo mundo, assim
também com a afirmação do Gamat, grupo musical juvenil da Casa de Goa. É igualmente através de uma mão
cheia de actividades diferenciadas, incluindo as lúdicas, que procura manter viva a tradição goesa na terra lusa.
O dia-a-dia da associação pauta por realizar conferências, colóquios, debates, tertúlias, lançamento de
livros, visitas de estudo, sessões musicais e gastronómicas, jogos tradicionais, feiras, almoços solidários e
comemorativos, sardinhadas, festas de Carnaval, de Natal, de Fim do Ano, encontros de jovens, de seniores,
bem como a efectivação de diversos outros eventos, que seria fastidioso mencionar.
Faço parte de uma geração em extinção que, por ser natural de Goa e português, tinha outrora a plenitude
de liberdades em todos os territórios do antigo império lusitano.
Naquelas circunstâncias específicas, as memórias pessoais registadas, quando todo aquele vasto território
era português, é naturalmente diferente daquela que seria se o percorresse apenas no presente. Muito embora
tratando-se do mesmo espaço físico a realidade política alterou e é totalmente distinta.
Considero-me um privilegiado não só por ter usufruído da liberdade de circulação em todos os países do
antigo império português, mas principalmente por haver tido a fortuna de nascer e desfrutar a juventude em
Goa e conseguido guardar, em registo memorial e escrito, a inolvidável experiência de ter assistido à invasão
11
daquele território por tropas da União Indiana.
Tal como aconteceu no passado recente e tem vindo a suceder no presente em Portugal, em especial com
muitos jovens acerca dos desejos de emigrar, depois daquela invasão, também foi necessário decidir entre ficar
ou sair de Goa.
Em boa hora optei por rumar para Portugal, passando por Bombaim e Karachi.
Posteriormente, em prestação do serviço militar obrigatório, fui mobilizado para participar no teatro de
operações no Norte de Angola, onde combati durante dois anos.
Terminada a comissão militar, por razões familiares, de Angola embarquei para Moçambique. No sétimo
ano da minha permanência naquele território, ecoaram os longínquos sinos da liberdade protagonizados pela
revolução de 25 de Abril de 1974, em Portugal.
Presenciei os ventos da mudança e as primeiras transformações operadas no território moçambicano
e, a partir do dia 8 do mês de Agosto de 1974, vivi e participei em Lisboa na evolução do novo Portugal
revolucionário que se erguia, após um longo período ditatorial.
Em todos aqueles trinta e dois anos de existência, usufruídos em três continentes distintos, asiático, europeu
e africano, aquilo que me acompanhou em permanência e facilitou a minha convivência quotidiana naqueles
territórios foi o facto de, em todos eles, se falar a língua portuguesa.
Este é um bem absoluto em si que muitas vezes é menosprezado e subestimado em vez de ser supervalorizado.
Só quem viajou por vários países, onde não se fala o português, é que sabe dar importância à língua por ser
uma das melhores formas de comunicação entre os humanos.
Não imaginem o prazer que se sente quando ouvimos falar a encantadora melodia da língua portuguesa,
com ou sem sotaque, longe de Portugal continental e insular. Uma autêntica centelha de felicidade percorre o
nosso âmago e sentimo-nos imediatamente como se estivéssemos em casa.
Daí a livre circulação do português em territórios do seu antigo império ser uma mais-valia inquestionável
e essencial, que é preciso preservar e defender com unhas e dentes e, tanto quanto possível, difundir pelos
territórios vizinhos e por outros países de maneira a se impor no mundo inteiro.
Caso contrário poderá acontecer como em Goa, onde se constata que a língua portuguesa está tendencialmente
moribunda, pois apenas a geração mais antiga, alguns dos seus filhos, e uns tantos interessados em obter
o passaporte português, por razões meramente económicas, ainda valorizam a língua de Camões, embora
possamos ficar esperançados, pois Nalini Elvino de Sousa nos informa que cerca de novecentos e cinquenta
alunos aprendem português nas escolas secundárias de Goa1.
Não vale a pena preocuparmo-nos com o acordo ortográfico ou com outras iniciativas que poderão surgir
para tentar uniformizar a língua, porque com ou sem acordo, através da liberdade da expressão e a afirmação
dos escritores, cada país irá enriquecer a língua original com as suas particularidades que, necessariamente,
irão furar as regras estabelecidas e deixar bem claro que a língua não se deixa prender por amarras normativas.
De entre as numerosas actividades em que participei na Casa de Goa, vou apenas mencionar os livros
que ali lancei, relacionados com a temática em causa “liberdade de circulação e outras liberdades no espaço
lusófono”.
Quando escrevi, por exemplo, a obra As Políticas Portuguesas na Índia e o Foral de Goa, publicado em
2005, não me servi apenas do original do foral e de outras fontes documentais primárias e secundárias para a
sua elaboração, mas utilizei também os conhecimentos pessoais adquiridos dos metropolitanos que viviam em
Goa e o modo como eles se relacionavam com os goeses, enquanto senhores daquele território.
Ao redigir A Morte do Herói Português. Da Guerra em Angola à Invasão de Goa. Um Testemunho, publicado
1 Boletim da Casa de Goa, Agosto/Setembro/Outubro, 2017, p.15.
12
em 2010, fi-lo enquanto combatente português a defender o solo pátrio contra aqueles que lutavam pela
autodeterminação e independência do território onde habitavam desde os tempos imemoriais, partindo
do princípio de que pugnava por uma causa nacional, independentemente daquilo que pensavam os
opositores do regime português e as razões que assistiam aos combatentes contra os quais pelejava.
Quem ler Goa, o Preço da Identidade, Invasão 50 anos depois, publicado em 2012, pode inferir que
não reconheci à União Indiana o assumido direito de movimentar as suas tropas invadindo o território
de Goa, alegando que o fizera para libertar a população goesa do jugo colonial português, pois se
assim fosse, consumada a vitória, teria convocado os goeses, através do mecanismo democrático de
plebiscito, perguntando se aprovavam a integração de Goa na União Indiana, ou se, pelo contrário,
rejeitavam esta integração e preferiam a independência.
Entre diversas matérias versadas nesta obra, podem comprovar também como os jornalistas
metropolitanos fizeram péssimo uso da liberdade de circulação da informação ao publicarem notícias
falsas em Portugal, inventando propositadamente acontecimentos jamais ocorridos em Goa, com total
cobertura e apoio dos poderes públicos, com a deliberada intenção de continuar a manter a população
portuguesa na ignorância e longe da realidade vivida no teatro de operações do Estado Português da
Índia.
A incorporação de acontecimentos do passado distante e do presente recente da história portuguesa
tidos lugar em Goa, Angola, Moçambique e Portugal, na obra Os Filhos da Sombra, publicada em 2015,
só foi possível por ter gozado de livre circulação de movimentos naqueles territórios e ter conseguido
captar presencialmente as fortes emoções e os sentimentos mais profundos das pessoas que viviam
naqueles territórios.
Termino esta comunicação solicitando a todos os participantes e, em especial, aos mentores do V
Congresso da Cidadania Lusófona que, utilizando sobretudo a inteligência e a imaginação, trabalhem
em prol da aquisição da “liberdade de circulação e outras liberdades no espaço lusófono”, propondo
uma plataforma comum, sem entrar em conflito com os limites das liberdades estabelecidas em cada
um dos países soberanos.
Lisboa, Liceu Pedro Nunes, 14 de Novembro de 2017

Valentino Viegas
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Goanidade e Sacralidade. Olhares sobre o Sacro de Literatos Goeses
Oitocentistas»

Tendo sido a Casa de Goa convidada a fazer uma apresentação no II Festival


Literário de Fátima, em fim de linha foi essa incumbência atribuída ao autor do
presente artigo. Ainda que o programa do Festival consignasse «A Literatura e o
Sagrado em Goa» como tema para a nossa intervenção, tema e título efectivamente
retidos foram «Goanidade e Sacralidade. Olhares sobre o Sacro de Literatos
Goeses Oitocentistas».
Este artigo revê os tópicos centrais dessa apresentação, que será objecto
de publicação em livro, pela organização do Festival, no decurso de 2018.
Foto de H. Machado Jorge

Texto e contexto
A parte central do Programa do Festival, A Literatura e o Sagrado (I a IV), cobriu a Lusofonia; com
uma única ausência, Macau, e a inclusão de Galiza e Malaca. Essas quatro sessões, de entre o total de
onze, foram objecto de «deslocalização», ou seja, realizaram-se em estabelecimentos de ensino da Vila
de Fátima, nomeadamente: Centro de Estudos de Fátima, Colégio Sagrado Coração de Maria, Colégio
São Miguel e Escola de Hotelaria de Fátima. A apresentação da Casa de Goa teve lugar no Colégio
São Miguel, perante um auditório de largas dezenas de alunos, alguns professores e outros inscritos no
Festival.
Tendo em consideração o facto de serem os jovens – de idade aparentemente a rondar os 16-18
anos – a razão primeira dessa deslocalização da Sessão, o palestrante «negociou» com a organização
do Festival a opção de apresentação de tópicos directamente relevantes para eles, ou seja, as usuais
interrogações e dúvidas sobre valores, desafios e oportunidades desse escalão etário, ao invés de manter
a apresentação que havia preparado. Essa alteração in extremis não impediu que se aflorassem tópicos
relativos à expansão asiática do Portugal seiscentista, mas inseridos numa lógica de ênfase nos valores
essenciais à emergência da Lusofonia – de que a Goanidade é caso particular, sem dúvida notável sob
diversos pontos de vista, mas não exclusivo.
«Teses» da comunicação
Dos tópicos abordados no texto da comunicação intitulada «Goanidade e Sacralidade. Olhares
sobre o Sacro de Literatos Goeses Oitocentistas», sumariam-se, no que segue, os tematica-mente mais
significativos. Anote-se que os quatro literatos seleccionados foram: Francisco Luis Gomes, José
Manuel Braz de Sá, Sebastião Rodolfo Dalgado e Mariano Gracias.
Vasco Gama, emérito velejador e fiel executor
Seja na apresentação oral, seja no texto escrito, procurou ir-se ao encontro de interpretações erradas,
mas muito disseminadas, acerca da temática «descobrimento do caminho marítimo para a Índia», com
o objectivo de salientar a respectiva incongruência e/ou falta de fundamento histórico. Em primeiro
lugar, há que ressalvar que a viagem de Vasco da Gama é testemunho de um rigoroso planeamento
em matéria de destino e objectivo da missão. Leitura cuidadosa dos relatos de cronistas como João de
Barros evidenciam, por parte dos executores da missão, um pormenorizado conhecimento de geografia,
economia e estrutura política do subcontinente, à época. O que, por sua vez, denuncia um extenso e
consciencioso trabalho preparatório de recolha de informações, sobretudo provenientes de mercadores
e outros viajantes que regularmente acediam a essas paragens distantes, por via terrestre. Em segundo
lugar, e com particular relevância, o facto de a missão de Vasco da Gama ser estruturalmente pacífica.
Não só se tratava de um minúscula frota – composta por apenas quatro navios, ainda que devidamente
providos de artilharia – como se destinava a estabelecer acordos comerciais, especialmente com o
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rei de Calecute, com vista à aquisição de especiarias contra pagamento
«à vista» em ouro, prata e eventualmente mercadorias. Se a missão
falhou, sobretudo (mas não unicamente) por razões de índole política
local, ficou a dever-se a um menos conveniente (juízo a posteriori, note-
se!) compulsar do factor Islão – a dependência económica do reino de
Calecute de negócios proporcionados por muçulmanos, ali residentes, quer
viviam da importação de cavalos árabes, muito apreciados e desejados na
Ásia meridional e oriental. Afora isso, a missão de Vasco da Gama foi
escrupulosamente cumprida, nos termos ditados por D. Manuel, isto é,
sem envolver violência. Em particular, proporcionou um vasto conjunto de
informação de natureza científica que constituiu uma efectiva revolução
no conhecimento europeu da época.
Afonso de Albuquerque, um estratega de estatura global
A segunda tentativa, capitaneada por Pedro Álvares Cabral, tinha um
assumido objectivo económico, mas igualmente militar e religioso. Se, no
que concerne aspectos religiosos, nada fora contemplado na missão de Vasco
da Gama, agora a conversão persuasiva de população indígena era visada por via de um contingente
de dezassete religiosos (entre frades, capelães e vigário). Tacticamente foi bem sucedida, movendo o
alvo de Calecute para Cochim, cujo rei se mostrava bem mais aberto ao estabelecimento de acordos
comerciais que o de Calecute; como obra missionária falhou redondamente, devido a desconhecimento
das condições locais (usos, costumes, idiomas). O uso pleno da capacidade militar só se concretizaria
numa terceira fase, com Francisco de Almeida – que não vingaria, fruto da «internacionalização»
do conflito. Isto é, as armadas portuguesas passaram a ter de se defrontar, também ou sobretudo,
com mercenários estrangeiros, turcos em particular. Caberia por isso, subsequentemente, a Afonso de
Albuquerque sobrepujar esse tipo de ameaças. Fê-lo com imensa capacidade de direcção militar e uma
visão extraordinária: ainda que apenas em segunda instância, face à emergência de factores conjunturais
particularmente favoráveis, decidiu proceder à conquista da Velha Goa, cidade particularmente
importante no controle do comércio regional. Mais importante ainda, representava passo essencial para
a constituição de uma efectiva base territorial permanente no subcontinente indiano, muito para além
da anterior estratégia de construção de fortalezas de apoio mas isoladas, da costa oriental de África
a ilhas no Índico. Ao mesmo tempo, concebeu uma estratégia de transformação de Goa em centro
irradiador da expansão portuguesa na Ásia Oriental. Os elementos fulcrais dessa estratégia eram a
cristianização e a miscigenação. Como determinante suporte a essa política: a garantia de segurança de
pessoas e de bens, aos autóctones e aos muçulmanos que declarassem fidelidade à Coroa portuguesa.
Soldadesca esforçada, nobreza desleal
Sem generalizações abusivas parece poder afirmar-se que, regra geral, as vitórias navais e
consequentes conquistas territoriais eram alcançadas em desvantagem numérica, ou seja, face a
adversários numericamente bem mais poderosos. Há diversos testemunhos de que os homens de guerra
portugueses combatiam com uma bravura inexcedível, sem olhar a desvantagem quantitiva ou, sequer,
risco de vida. Entregavam-se integralmente à luta, mal-grado «ferro e fogo» inimigo. No mar, sem
dúvida, a vantagem provinha de uma artilharia bem mais eficaz que a dos oponentes e de superior
estratégia de combate. De facto, alguns dos desaires militares ficaram sobretudo a dever-se a casos
isolados de inexperiência de capitania e/ou injustificado excesso de confiança.
Bem diverso foi, contudo, o comportamento da entourage da governança-mor. Desde um governador
(Duarte de Meneses) que Vasco da Gama teve de mandar prender por má conduta (indisciplina,
corrupção, nepotismo, etc.) a outro (Lopo Vaz de Sampaio) que se recusou a cumprir instrução real
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no sentido de ceder a posição de topo que detinha temporariamente a quem a Coroa havia nomeado
para o efeito (Pêro Mascarenhas), passando por generalizados casos de abuso de posição dominante
para locupletamento via subtração de bens de quem forçosamente se submetia à sua autoridade,
incluindo períodos de intolerância religiosa em pura contravenção do regime estatuído por Afonso
de Albuquerque, e mesmo calúnias levantadas contra este, junto ao rei, por residentes portugueses
na «Roma do Oriente», foi longo o rol de ‘luso-infâmia’, em tão indisfarçável quanto reprovável
violação, quer de obrigações estatutárias, quer do contexto de convivência e respeito por valores
intangíveis que Albuquerque magistralmente erigira. Não admira que Francisco de Xavier, ao aportar
à Índia, se tivesse deparado com extensiva corrupção de práticas – que, aliás, combateu destemida
e frontalmente. Se se quiser reconhecer baixeza, não é nos próceres que há que buscá-la, mas sim
em indivíduos e personalidades de «segunda linha» – ou seja, naqueles para quem o objectivo da
residência, especialmente se temporária, em terras da Índia era o enriquecimento fácil e rápido. Estes
nada tinham a ver com «expansão da Pátria lusitana», «evangelização de “idólatras”» ou qualquer
outra «excelsa bandeira»; apenas desbragada ganância.
Bhārat – Riqueza filosófica, penúria moral e social
O subcontinente indiano albergou uma das primeiras (se não a primeira das) altas culturas na história
da humanidade. Segundo a tradição jaina, a dinâmica cultural Bhārat (a designação tradicional da Índia)
proviria de um passado pré-histórico, tão distante quanto 30 milénios. Já historicamente documentada
foi a chamada civilização de Mohenjo Daro, estabelecida a partir da margem esquerda do rio Indo para
leste, supostamente datando de há 8 milénios. Mais tarde, ou seja 4 milénios a. E. C., surge o período
védico, aquele que brindou a humanidade com duas peças literárias monumentais: a epopeia Ramāyana
e o enciclopédico (c. 200+ mil versos) poema Mahabhārata. E ainda antes da era comum/era cristã,
afirmaram-se correntes de pensamento como o jainismo e o budismo. Não obstante, na palavra (1866)
de Francisco Luis Gomes:
«A Inglaterra não conquistou a Índia; foi a Índia que se lhe entregou. O maior inimigo da sua
independência fora a mesma Índia. As rivalidades das diversas dinastias, o ódio das diversas castas e o
antagonismo das diversas religiões foram a parte descoberta da armadura por onde o novo David ferira
o Golias».
Será esse circunstancialismo danoso que explica o facto de que, ainda hoje, a Índia seja o país que
proporcionalmente concentra a maior quantidade de pobres? De acordo com relatório das Nações
Unidas sobre as Metas de Desenvolvimento do Milénio, a taxa de pobreza da Índia caiu, de 1994 para
2010, de 49,4% para 32,7%. Por seu lado, a China, de 1990 para 2010, evoluiu de 60% para 12%.
Acerca desse desempenho, segundo o Times of India, afirmou o então Ministro das Minorias, Najma
Heptulla, em Julho de 2014: «We don’t have to be proud of what we’ve done. Poverty is the biggest
challenge». Mas será, neste específico quadro temporal, irrelevante o facto de, desde a década de 50 do
século passado, a China controlar o planalto do Tibete, fonte de grandes
rios como o Bramaputra, que vivificam países a jusante, desse modo
determinando unilateralmente o fluxo de água a exportar?
E uma vez mais, em modo interrogativo: poderão os antecedentes milenares
de sistemática (e sistémica) não-consecução em matéria de provisão de um
padrão digno de vida a centenas de milhões de destituídos ter contribuído,
decisivamente até, para o inigualado êxito da missionação de Francisco de
Xavier?
Francisco de Xavier, milagreiro
Ainda hoje, como foi esclarecedoramente ilustrado por Luísa Timóteo, na
mesma Sessão III do II Festival Literário de Fátima, existe em Malaca um
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remanescente de luso-falantes, que rendem sentida devoção a Francisco de Xavier e sincero preito a
Afonso de Albuquerque. Após o falecimento do missionário, permanecendo o seu corpo incorrupto, se
foi sacralizado pelos crentes católicos, também crentes de outras confissões religiosas reconheceram e
assumiram a supremacia espiritual do «Apóstolo das Índias». Assim como relata José Manuel Braz de
Sá, no seu «Resumo Histórico» do «Apóstolo das Índias» (1878), que a 21 de Novembro desse ano, ou
seja, há 139 anos, o Primaz D. Ayres d’Ornellas e Vasconsellos proclamou, solenemente:
«Reconhece pois, ó Goa, a tua dignidade, a tua verdadeira e só grandeza, a unica que te resta de
tantas outras que outr’ora te ornavam a fronte, a unica que sobrevive a tantas ruinas e tanta desventura
[...]
S. Francisco Xavier foi sempre a egide de Goa.
Quando Sambagi no silencio de noite descendo sobre Goa com 24 a 25 mil guerreiros, nos colhia descuidados,
qual foi o braço que nos defendeu? Qual foi o prodigio diante do qual fugiu espavorido o inimigo? Foi o
patrocinio de S. Francisco Xavier, a cujo pé, o vice-rei da India, Conde de Alvor, depunha reverente o seu
bastão entregando-lhe no momento da sua suprema angustia o governo da India.»
A veneração de Francisco de Xavier de facto proveio e permanece entre goeses (e muitos outros asiáticos) por
virtude de uma extraordinária combinação de atributos: o sacrifício pessoal levado aos limites da sobrevivência
física, a dedicação total à conversão de corações e mentes predispostos a adesão sincera a uma fé redentora,
o recurso a milagres quando a resistência ao proselitismo se afirmava inamovível, a excepcional capacidade
organizativa ao serviço da continuidade de acompanhamento e apoio a recém-conversos, a inultrapassável
oposição a abusos e desmandos de portugueses detentores de autoridade, em terras da Índia em particular.
A persistente «identidade goesa»
Assume-se, usualmente, como elementos identitários de uma sociedade (não necessariamente identificável
como nação): cultura, língua, religião, economia, gastronomia, música, etc. Neste conjunto, a língua não é,
por forma alguma, componente de importância secundária. Tenha-se presente que a língua comungada por
um grupo social condiciona a formulação de conceitos, modos de transmissão de raciocínios e partilha de
informação. Assim sendo e reconhecendo-se que a prática da língua portuguesa conhece, quer em Goa, quer
nas diásporas goesas, uma tendência secular de retracção, poderá isso implicar risco de desaparecimento a
prazo? Crê-se que a negação mais evidente provém do exemplo de sobrevivência do crioulo português de
Malaca. Sobre religião é bastante o que acima se invocou com respeito ao actual e duradouro culto católico de
Francisco de Xavier. No capítulo da gastronomia, é igualmente patente que nem mesmo no circuito comercial
(restauração) se instalou fusão entre as cozinhas goesa e indiana, cada uma mantendo a respectiva identidade,
não obstante a essencial proximidade entre ambas. Sobre música, basta lembrar a receptividade pública a
apresentações de grupos musicais como o Ekvat.
O que é indisputável é não haver, nem poder haver, imutabilidade temporal numa cultura específica como
a goesa. A goanidade representa uma dinâmica que necessariamente responde a influências externas, mas
que mostra uma vitalidade que desmente «profecias» pessimistas com respeito à respectiva capacidade de
sobrevivência no actual quadro de globalização. Dito isto, afigura-se apropriado lembrar a quase inexistente
presença da goanidade no quadro da lusofonia. Nesse sentido, ainda que possa parecer paradoxal, defende-se
aqui o ponto de vista de que um estreitamento das relações culturais, económicas e geopolíticas entre Portugal
e a União Indiana poderá significativamente contribuir para o reforço de uma activa, enriquecedora presença
da goanidade no seio da lusofonia; esta última enquanto afirmação conjunta de afinidades pluri-seculares,
apostada em ganhos mútuos, num mundo onde «tamanho» é factor determinante (ainda que não exclusivo) de
consecução. Sem dúvida uma tarefa plurigeracional que, exactamente por isso, importa fundamentar e planear
desde já.

Henrique Machado Jorge


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Viver em Delhi

Estou em Delhi desde começos de Fevereiro de 2017. Antes estivera por dois
períodos de 25 dias, nos meses de Julho, época das monções.
É uma sensação agradável de se estar numa cidade-jardim. Muita árvore de
grande porte, verde, densa folhagem e muita sombra. É proverbial o grande
apreço que na India se tem pelas árvores. Numa das vias de serviço da Avenida
Aurobindo, está a meio uma árvore frondosa, centenária, tronco grande. E o
tráfego motorizado passa ao lado, com todo o cuidado... parecia que os acidentes
iriam suceder-se... Mas não, quase sem acidentes.
Já vira notícias de eventos familiares - aniversários, casamentos- celebrados
com algo duradoiro, como plantação de milhares de árvores. As próprias auto-
estradas ou troços de caminho de ferro, ao serem inaugurados, as empresas responsáveis publicitam que
se plantaram xx mil árvores a ladear.
A India deve ter bons Arquitectos. Nota-se nas moradias atraentes, com originalidade, boa disposição
de espaços no interior e a protecção das vistas e da incidência solar. O próprio Aeroporto de Delhi é
considerado o melhor, impar! pela beleza e funcionalidade, apesar do intenso movimento.
A cidade é gigantesca. O número de habitantes ‘deve ser’ mais de 15 milhões, talvez 25 milhões.
Tem abundantes zonas verdes, com relvados bem cuidados e edificações com “marca”, nomeadamente
escolas e edifícios públicos, construídos com largueza, não a monte, uns sobre os outros, mas criando
a sensação de liberdade para respirar, de grandeza e beleza para admirar por quantos vêm aos milhares
como utentes.
Há muitos enclaves, colonies, vizinhanças, que criam um ambiente de privacidade. Não sei se os
vizinhos são como em Portugal, estranhos, sem se conhecerem nem se falarem. Há uma prudente
selecção imposta por cidades grandes, com muita gente a passar, a vender, a trazer e levar. Os enclaves
estão bem protegidas de ‘aceleras’ e de gente estranha, por portões com horas de abrir e fechar, quebra-
velocidade e porteiros/vigilantes.
Este, de porteiros, é um modo de reduzir o desemprego: pessoas a trabalhar como guardas uniformizados,
com alguma formação para o efeito. Faz pena vê-los o santo dia na conversa ou a dormitar sobre algum
Jornal. Penso sugerir que se transmitam programas de radio ou por whattsapp que dêem conteúdo e
interesse ao tempo que passam na função; por exemplo, com sessões de leitura de livros, soap-operas
ligeiras, ou que se ensinem técnicas agrícolas ou de carpintaria, para praticar nas horas livres; ou jogos
que além de entretenimento também façam pensar.
Na zona que habito, há inúmeros parques viçosos, floridos, com aparelhagen de ginástica e caminhos
planos para andar/correr. Não são grandes e devem ter uma frequência distribuída ao longo do dia, pois
a vida é absorvente, com transportes intermináveis para o local de trabalho, para a escola, etc., de modo
a cada um ter o seu plano de aproveitar o tempo.
Nos bairros de pessoas com posses, há frequentemente um ‘Clube’ muito bem posto e com biblioteca,
salas de estar, restaurantes, campos desportivos (ténis, golf, ping-pong, badmington, piscina, etc.),
sempre com reserva de entrada e joia importante, para os associados. Em geral dão bom serviço.
Para quem não tem um clube, há também mercados, restaurantes e Cafés. Em geral são mercados
pequenos, distribuídos pela cidade, com umas 30 a 150 lojas variadas cada um. Perto do meu sítio o
mercado tem 3 boas livrarias, uma padaria, 8 lojas de roupa, 3 de material eléctrico e artigos domésticos,
3 restaurantes, uma farmácia e, para minha surpresa, umas 9 joalharias! Em geral a cidade está cheia
de edifícios de aspecto sumptuário, bem assinalados, com joalharias no interior em vários pisos, por
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vezes de uma só marca. Entende-se bem a loucura das joias... A grande densidade de joalharias num
mercado, são um atrativo para as senhoras: podem admirar, comparar preços, beleza, dimensões... e,
eventualmente comprar.
E a comunicação em Delhi? O metro foi a grande “invenção”. É o transporte por excelência, que se
espraia por toda a cidade; é confortável, pontual, limpo e acessível nos custos. Tem já em funcionamento
uma extensão de 375 kms, com muitos troços com composições de 6 e 8 carruagens, que passam de 2
em 2 minutos, nas horas de maior trafego. Usa-se um cartão magnético carregável com um certo valor,
que se vai utilzando. Ao colocar o cartão na máquina de controlo à entrada da linha, ela dá o valor
disponível; e à saída desconta o custo mostrando o valor residual. Todas as entradas são controladas
com detectores de metais; as estações são amplas e funcionais e a carruagens têm todas ar condicionado,
com lugares reservados para pessoas doentes e idosas ou para senhoras. Uma carruagem da composição
é só para senhoras.
O sucesso do metro de Delhi foi tão notável que logo a seguir à primera fase se decidiu pelas fases
seguintes estando a terminar a fase 4 em 2021; além disso construiram-se os metros de Mumbai,
Bangalore, Chennai, Hyderabad, Kolkota, Jaipur, etc., com troços já em funcionamento em cada cidade.
Além do metro, a cidade beneficia de autocarros com e sem ar condicionado e montanhas de taxis e
rickshaws. O aparecimento da Uber, fomentou a criação da OLÁ (indiana); as duas revolucionaram os
transportes. Instalando aplicações de cada entidade chama-se um taxi e vai-se ao destino, sabendo logo
o seu custo. A OLA tem também serviço partilhado, que por isso é muito económico. Isso fez disparar
o uso do táxi, pela previsibilidade, rapidez e acessibilidade dos custos, sem ter de se negociar com o
condutor. O custo da viagem é determinado por um algoritmo que toma em conta a densidade do tráfego,
a distância, etc. Isto deu enorme organização à actividade e modernização dos antigos operadores.
Em geral os telefones funcionam muito bem, a um custo irrisório, para dar recados, combinar,
conversar, receber e mandar mensagens e e-mails, chamar táxis, etc.
Algumas semanas durante o ano são muito quentes, com temperaturas altas, na ordem dos 44 ºC,
que não pareceram insuportáveis... E também há dias de de nevoeiro e alta poluição, esta causada pelo
adensar de particulas no ar, que por falta de vento aí ficam; e com os fumos das muitas queimas de palha
à volta da cidade (Punjab, Assam, etc.) piora-se a situação. Este aspecto deve ficar resolvido depressa,
pois além de anti-económico que é queimar matéria orgânica, é prejudicial à saúde. As monções quase
não se notam, em comparação com Goa. Terei usado 4 vezes o chapéu de chuva ao longo do ano.
Nota-se que a agricultura está em alta por toda a India, produzindo muito e bem. Como é obvio, o
melhor vem para Delhi e outros grandes centros de consumo. A fruta é abundante, variada e multicolorida
e bem apresentada em quiosques ou carros de venda. É também exportada para países vizinhos, Médio
Oriente, etc. Produz-se muita uva sem semente, practicamente de fevereiro a maio/junho; e toda a
variedade de legumes e cereais, em abundância...
Há gente muito pobre - em redução, com as medidas que se foram tomando-, a viver mal, em tendas,
sobretudo famílias de trabalhadores em busca de melhor retribuição. Dá pena ver crianças a brincar e
vender o dia todo, sem oportunidade de estudar.
O partido que governa a Cidade é muito imaginativo, defendendo bem os seus habitantes, para lhes
dar melhores condições de vida e de acesso a bons cuidados de saúde. E, em geral, são notórias
as melhorias na gestão da cidade e do conjunto das infraestruturas que asseguram a mobilidade dos
cidadãos nesta grande urbe.

Eugenio Viassa Monteiro 1


1 Professor da AESE (Lisboa); do IIM-Rohtak (Indian Institute of Management, India); Dirigente da AAPI-Associação de
Amizade Portugal-India.
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Padre Chico Monteiro
Exemplo de patriotismo português em Goa

O padre Chico Monteiro, natural de Candolim, Goa, nascido a 1 de Fevereiro


de 1918 e falecido em 29 de Outubro de 1990, é praticamente desconhecido
da maioria dos portugueses, mas os que fizeram serviço militar em Goa,
ou por qualquer outra razão estiveram no antigo Estado Português da
Índia, conhecem-no perfeitamente e reconhecem não só a importância
que teve na educação de uma geração de jovens estudantes como
também a influência que exerceu na sociedade goesa.
Foi fundador e director do Lar dos Estudantes, sito no Altinho, em
Pangim, e professor de religião e moral no então Liceu Nacional Afonso
de Albuquerque, localizado na capital goesa.
Dedicou a sua vida ao serviço do próximo, sobretudo no campo educacional, do
desporto e de apoio às instituições de caridade e de solidariedade social, pugnando pela melhoria de condições
morais e espirituais dos mais carenciados.
No âmbito do vasto programa anual de comemoração do centenário de seu nascimento, vão realizar-se diversas
iniciativas em Goa, entre elas, a sessão de homenagem no citado Lar dos Estudantes, inauguração de um
monumento comemorativo, lançamento do livro sobre a vida e obra deste ilustre sacerdote, assim como um
torneio de futebol. É justo recordar que o Padre Chico foi a alma da equipa de futebol da Académica de Goa.
Com o decorrer do tempo os ventos da História mudaram e hoje as relações entre Portugal e Índia são
excelentes, graças aos esforços diplomáticos dos dois países e a visita à Índia de António Costa, primeiro-
ministro português.
Mas nem sempre foi assim e os factos históricos não podem cair no manto do esquecimento.
Goa, conquistada definitivamente por Afonso de Albuquerque em 25 de Novembro de 1510, foi por sua vez
invadida e conquistada pela União Indiana, em 18 de Dezembro de 1961, e depois anexada.
A História tem comprovado que é nos momentos mais conturbados que se destacam as grandes figuras.
Padre Chico Monteiro, homem de convicções profundas, foi sempre fiel aos seus princípios até nos momentos
mais difíceis da sua vida.
Quando em 14 de Agosto de 1964 declarou à polícia indiana que pretendia manter a cidadania portuguesa, foi-
lhe dado um prazo para continuar a residir em Goa. Ultrapassada a data-limite, recusou-se a pedir a extensão
da autorização. Tendo ignorado a ordem recebida para sair da Índia, no prazo de quinze dias, foi processado
e, após julgamento, condenado1.
Embora tivesse sido sujeito a ameaças e, efectivamente, preso em Mapuça, no Forte de Reis Magos e em Patiala
(Punjab), recusou terminantemente abandonar Goa, porque tinha a plena convicção de que se assim procedesse
as autoridades oficiais jamais o autorizariam a regressar a sua terra natal.
No Portugal hodierno, foi preciso Marcelo Rebelo de Sousa ser eleito presidente da República Portuguesa para
se recuperar o sentido mais profundo de patriotismo e os portugueses deixarem de ter vergonha de empregar
esta palavra, carregada de simbolismo.
São homens portadores da estatura cívica e moral de padre Chico Monteiro que fazem a diferença entre o
comum dos mortais e aqueles que deixam um legado para as gerações futuras. Nunca serão esquecidos, pois
ganharam a distinção e, por mérito próprio, vão continuar a fazer parte da História.

Valentino Viegas

1 Goa: A terceira corrente. Discursos, artigos, cartas e defesas forenses de António A. Bruto da Costa.
Seleccionados e apresentados por Mário Bruto da Costa, Published by: Isabel Bruto da Costa, Marol, Andheri
(East), Mumbai – 400 072. Maharastra, Índia, p. 313.
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Terá Goa uma cultura sustentada no século XXI?

No dia 06 de Maio de 2017, a Casa de Goa viveu um dia que ficará na história da vida da instituição.
Integrado nas celebrações do 30º aniversário da sua fundação, realizou-se nesse dia, uma Conferência
Internacional subordinada ao “Desenvolvimento sustentado de Goa no século XXI”.
A conferência contou com a presença de cerca de 100 delegados de Goa e de vários outros países onde
se encontram goeses da diáspora. A cerimónia inaugural contou com a presença do Primeiro-ministro de
Portugal, Dr. António Costa e de um representante da Embaixada da Índia.
Nesta conferência houve workshops onde foram debatidos 3 temas, a saber:
Cultura e Educação
Desenvolvimento Económico
Meio Ambiente.
O relatório e as conclusões da conferência estão foram inseridos neste no número do Boletim da Casa
de Goa.
Fui o coordenador do workshop dedicado à Cultura e Educação durante a parte da manhã, onde
foram apresentadas algumas comunicações. Por motivos pessoais não pude estar presente nos trabalhos
vespertinos.
Na apresentação do workshop fiz uma breve introdução sobre o tema e o que na minha opinião iria
determinar o futuro da cultura em Goa, neste século.
Por considerar que, numa visão mais abrangente, a cultura ou a identidade cultural de um povo não
pode estar dissociada de circunstâncias que a envolvem, achei pertinente, a propósito da temática em
causa, escrever este artigo de opinião acerca da identidade cultural de Goa no século XXI.
*
Por cultura entende-se «conjunto de costumes, práticas e comportamentos que são adquiridos e
transmitidos socialmente de geração em geração”1
Não existe nenhuma sociedade, arcaica ou moderna, sem uma cultura própria, que é única e distinta.
Uma cultura pode ser homogénea, isto é, uma cultura em que todos os seus membros são iguais:
pertencem ao mesmo grupo étnico, falam a mesma língua e partilham as mesmas crenças e costumes.
Por outro lado uma cultura heterogénea é composta por grupos de pessoas com antecedentes culturais
diferentes.
Em teoria uma sociedade com uma cultura homogénea minimiza a possibilidade de conflitos sociais
internos do tipo rácico, religioso ou linguístico. As culturas homogéneas são consideradas mais prósperas
e estáveis por causa da sua uniformidade.
Num mundo globalizado os países e as sociedades estão cada vez mais expostos à interculturalidade.
A pergunta que fica é se existe algum limite a esta abertura. Podem as sociedades permitir a imigração
ilimitada de pessoas de culturas diferentes? Não serão estas comunidades imigrantes, se não fizerem
qualquer esforço para se integrarem na cultura do país ou sociedade que os acolhe, uma fonte de
antagonismos e conflitos?
Vejamos alguns dados em relação a Goa:
De acordo com alguns elementos2 em 1956 este território teria 550 000 habitantes ─ 152 por km2 e
em 1961 cerca de 590 000 habitantes.

1 Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001).


2 Orlando Ribeiro. Goa em 1956. Relatório ao Governo. Ed. Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimento Portugueses. 1999
21
O censo de 20113 revelou uma
população de 1459 000 habitantes
─ 394 por Km2.
Este aumento exponencial
da população não se deveu a
qualquer explosão demográfica
dos goeses. Bem pelo contrário, é
do conhecimento geral o grande
surto migratório dos goeses, no
início dos anos sessenta e setenta
respectivamente, inicialmente
para Portugal e posteriormente
para os países do Médio Oriente.
O aumento populacional deve-
se pois a continuada imigração
de pessoas e famílias de outros
estados da Índia. O reflexo desta entrada maciça de emigrantes tem tido o seu eco nas mais diversas
áreas.
Em Dezembro de 2014, aquando da minha última visita à minha terra natal, constatei que em muitas
lojas, em Panjim, quando interpelava em Concanim não era entendido, pois os funcionários da loja não
falavam a nossa língua mãe. Muitos restaurantes, ditos shacks, não serviam a comida tradicional goesa.
Até na praça de táxis no Azad Maidan (antigo Largo Afonso de Albuquerque), sòmente 3 taxistas eram
goeses (católicos e hindus) sendo os restantes oriundos de outros estados.
Os dados estatísticos (2015-16)4 revelam também um aumento significativo de alunos do ensino
(primário e secundário) a estudarem nas escolas com ensino em marata, hindi, kannada, urdú e até
telegú.
Poder-se-á argumentar qua a constituição da Índia permite a deslocação/emigração livre dos seus
cidadãos através dos estados. É verdade. Mas há que ter em conta que na constituição dos estados o factor
prioritário é a língua dos seus habitantes e Concanim, em escrita devanagari, é a única língua oficial de
Goa5. Que sentido faz termos um Estado de Goa onde os goeses são minoritários? Que especificidade/
singularidade cultural terá a terra, onde a sua língua pode um dia ser ─ e será se num futuro próximo
continuar esta tendência migratória ─ em termos relativos e mesmo absolutos, minoritária?
Como matéria para uma reflexão gostaria de deixar aqui duas perguntas e uma citação.
Existe um mínimo denominador comum na identidade cultural dos goeses?
Com a actual tendência migratória (emigração/imigração) que está a ter lugar em Goa, será a nossa
identidade cultural (especificidade/singularidade), sustentável no século XXI?
O passado, o presente e a orientação futura duma cultura é fundamental para a sua existência. Culturas
com orientação e concepção diferentes irão olhar-se mutuamente, na melhor das hipóteses, com alguma
curiosidade e insensatez e na pior com considerável desdém6.
Lisboa, 4 de Julho de 2017.

Filipe Monteiro

3 http://www.census2011.co.in/census/state/goa.htmls (downloaded em 03/07/2017)


4 Directorate of Education. Number of students according to medium (2015-16)
5 Official Language. 50th Report of the Commissioner for Linguistic Minorities in India (July 2012 to June 2013). www.nclm.nic.in
6 Cultural Differences . The Past, Present, Future Conundrum. www. thearticulateceo.typepad.com
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10th Know Goa Programme 2017 ESPAÇO DOS JOVENS


Foi com muita ansiedade e com uma felicidade estampada no rosto que embarcamos nesta aventura à
Índia através do Programa “Know Goa”.
O nosso sincero agradecimento ao Governo de Goa e ao Departamento de Negócios NRI pela criação
deste programa, dando a possibilidade a todos os jovens com ascendência Goesa de conhecer e descobrir
a Índia. A toda a organização, o nosso obrigada pela hospitalidade e generosidade com que nos receberam
e todas as pessoas envolvidas que tornaram esta viagem memorável.
Tivemos a privilégio de partilhar esta experiência com mais nove jovens vindos de todos os cantos do
Mundo: Austrália, Canadá, Tanzânia e Quénia. Foi incrível perceber que a Diáspora goesa está espalhada
pelo Mundo fora. Fomos partilhando uns com os outros um pouco de nós, da nossa história, e a nossa
ligação a Índia. Formamos um grupo extraordinário, com uma muito boa energia e estávamos todos ali
reunidos porque tínhamos todos algo em comum, as nossas raízes pertenciam aquela linda terra, Goa.
Apesar do grande contraste cultural com o Ocidente, Goa de facto conquistou-nos, é o paraíso, as
praias tropicais, os coqueiros, as águas quentes, as paisagens de tirar o fôlego como Dona Paula ou o
Forte de Reis Magos, ou simplesmente o maravilhoso pôr-do-sol.
A experiência cultural foi muito marcante: a exposição ao meio rural e urbano, a simplicidade
das pessoas, conhecer o puro de tanta gente foi maravilhoso, os mercados de rua aos quais tivemos
oportunidade de ir como o de Mapusa e o de São Francisco Xavier, mercados enormes em que nos
perdíamos no meio da multidão, o facto de as vacas serem um animal sagrado, ora nas praias, nas aldeias
ou no meio da rua, elas estavam em todo o lado, o Bindi na testa usado por homens e mulheres, os Saris,
vestidos pela maior parte das mulheres, o caos de tráfego nas ruas, não existem sinais, não há regras e o
som de buzinas é uma constante a cada minuto, o curioso é que apesar de toda a calamidade e confusão
que se gera, não há acidentes…
Em Goa fomos a Assembleia Legislativa de Goa, interagimos com os Ministros, fomos as Universidades,
Igrejas, templos fomos a uma plantação de especiarias, inúmeros museus, fábricas, fizemos um cruzeiro
pelo rio, e assistimos à Noite Cultural com danças e músicas tradicionais onde tivemos também uma
participação especial.
Foi em 1961 que Goa deixou de ser uma colónia portuguesa, mas ainda assim e notória a marca que os
Portugueses deixaram em Goa, o nome de algumas lojas em português, em Panjim a geração mais velha,
ainda fala português, catolicismo: a igreja portuguesa Nossa Senhora da Imaculada Conceição, situada
em Panjim, e o museu de Chitra, onde se encontra uma vasta colecção de artefactos que representavam
a cultura de Goa no passado, um tributo aos seus antecessores e ao seu modo de vida.

Em Delhi houve sem dúvida uma grande conexão com a espiritualidade, foi bonito de ver a harmonia
e tolerância das diferentes religiões. Fomos ao grandioso templo de Akshardam e ao templo de Lotus.
A diversidade cultural está espelhada nos inúmeros templos e mesquitas. Um dos costumes que
também experienciamos foi o de termos de entrar descalças em grande parte dos templos. Em Agra não
poderíamos deixar de ir ao Majestoso Taj Mahal, uma verdadeira prova de amor do imperador Shah
Jahan para acolher o tumúlo da sua amada mulher.

A cozinha Indiana foi uma experiência divinal desta viagem, com as suas especiarias exóticas e o
23
toque de picante, foi uma autêntica explosão de sabores… O sumo de cana de açúcar no mercado é
absolutamente imperdível.
Esta viagem foi um redescobrir de nós mesmos, da nossa identidade, das nossas raízes, e perceber a
nossa verdadeira essência, foi um misto de emoções mas o sentimento é de gratidão por esta experiência
única e inesquecível.
Quando a Nostalgia bate a porta, é tao bom ver e rever as centenas de fotografias, selfies e pensar
Aqui eu fui Feliz!
Foi um orgulho termos feito parte do 10th Know Goa Programme e aconselhamos vivamente a todos
os jovens a candidatar-se a este programa, é uma oportunidade única de ver, sentir e viver a beleza deste
pais e a sua riqueza cultural.

Ana Raquel Fernandes


Andreia Fernandes
Daniela Rodrigues
Tatiana Fernandes
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ACONTECEU...
ASSEMBLEIA GERAL DE APROVAÇÃO DE CONTAS - 13 de novembro

“Qual o número de sócios com quotas em atraso que regularizaram as quotizações neste ano?”, foi uma das
perguntas formuladas no decurso da assembleia geral ordinária realizada em 13 de novembro, cujo ponto
único era a aprovação do Plano de Atividades e Orçamento para o ano de 2018.
A pergunta, que não obteve resposta imediata por parte da direcção, espelha a preocupação do sócio perante
a situação de quotas em atraso, que afeta a Casa de Goa e é, aliás, comum à generalidade das associações no
país.
Esta e outras questões foram debatidas na sessão muito viva, presidida por José Filipe Monteiro.
Quanto ao ponto único, registou-se a aprovação dos documentos apresentados pela direcção, tendo, no entanto,
sido formuladas algumas observações críticas sobre o seu teor.

Último encontro do ciclo Tertúlias sob o Céu de Goa - 20 de novembro


Realizou-se no dia 20 de Novembro, a última tertúlia deste ciclo, desta vez
com o tema Ecosofia e 2 Modelos Relacionais / Sanãthana Dharma e Dharma
do Buda.
Uma das mensagens fundamentais da tertúlia foi a de Cultivar
Sabedorias e Colher a Paz, com referência ao pensamento de Norbert
Wiener: “Nós não somos mais do que remoinhos num rio de água
sempre em movimento / Não somos material que permanece mas sim
padrões que se auto-perpetuam”.
Falou-se de dois desafios contemporâneos - alterações climáticas
e destruição da diversidade, em aceleramento exponencial e cujas
repercussões durarão milénios. Apesar desta constatação, pouco fazemos
para cuidar melhor da Terra, nossa casa comum.
A propósito dos 4 Modelos Cosmológicos de originação/transformação,
invocou-se o Vāmana Purāṇa (12.26): “Que todos os grandes elementos abençoem o dia que desperta:
Terra com o seu cheiro, Água com o seu paladar, Fogo com a sua radiância, Ar com o seu toque e Espaço
com o seu som”.
Na conclusão deste tão interessante ciclo de tertúlias, aqui fica expresso o agradecimento ao Prof.
António Faria pela disponibilidade e empenho.
…E um novo projeto de Conversas Francas
Queremos igualmente dar-vos conta de uma nova proposta sua para dinamizar uma série de Conversas
Francas em conjunto com o nosso sócio Prof. Henrique Machado Jorge. Serão sessões mensais sobre
temas fraturantes, ou seja, por natureza, não conducentes a resposta certa, mas antes abertos a alternativas
de entendimento. Os dinamizadores
querem tirar partido da diversidade das
suas opções espirituais, um budista e
o outro cristão, para abrirem pistas de
reflexão.
Brevemente, iremos divulgar os
temas propostos pelos dinamizadores,
pedindo aos sócios que participem
numa pequena sondagem para
identificar outros temas que gostassem
de ver refletidos nestas Conversas.
Vamos corresponder, com a
nossa adesão, ao entusiamo dos
dinamizadores!
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CHÁ DAS 5 – 30 de novembro

Este foi o último Chá do Ano de 2017.


Tivemos a presença de muitos sócios e amigos e o habitual buffet de delícias de goesas.
De seguida tivemos a sessão sobre Didgeridoo por Ruben Branco.
Esta foi uma sessão interessante e que captou da melhor forma o público presente que aproveitou de
forma interessada os ensinamentos que este nosso amigo nos trouxe.
O Ruben Branco, a quem agradecemos, promete voltar e fazer algumas sessões em outro formato de
forma a que o nosso público possa ter uma maior interação com este instrumento tradicional australiano
que de forma tão original nos pretende ligar à Mãe Terra!

FESTA DE NATAL DAS CRIANÇAS – 9 de dezembro

Foi com muita alegria que organizámos mais


uma Festa de Natal na Casa de Goa para
as crianças dos nossos sócios e amigos…
cheia de surpresas e com até um Pai Natal
que trouxe prendinhas e sorrisos ao som de
canções de Natal e com uma maravilhosa
mesa de doces!
Pena é que os nossos sócios e amigos
continuem a aderir pouco a esta iniciativa
e a outras que procuram trazer para a Casa
de Goa crianças e jovens de famílias com
origem goesa e de amigos de Goa, e que
venham desfrutar dos espaços e aprender a
Cultura dos seus antepassados naquela terra
distante.
A História faz-se de feitos e se não
ensinamos História às nossas crianças e não
as mantemos em contacto, a Cultura vai-se
esvaindo por entre os dedos e fica num lugar
guardado apenas na memória daqueles que
mais cedo ou mais tarde a levam consigo!
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Poema na Vila - EKVAT em Coruche - 10 de dezembro

No passado dia 10 de Dezembro, o Ekvat participou no Contares e Cantares de Goa, em Coruche a


convite de Ana Freitas e com o apoio da Câmara Municipal de Coruche que organizou o transporte e a
quem desde já agradecemos.
O grupo de cantores e instrumentistas apresentou no seu reportório diversas canções, não faltando o
clássico “mandó”.
Os dançarinos interpretaram o Fugddi e o Pollé Pollé, um dekni e ainda um número de dança clássica
indiana Bharata Natyam. A actuação do EKVAT foi complementada pela própria organização com o
“dizer poemas” com o tema Goa, de poetas goeses e não só. A receptividade do público foi grande, tendo
o Ekvat sido elogiado pela sua performance. No final do espectáculo, quer os artistas quer o público
tiveram a hipótese de confraternizar e de trocar ideias sobre Goa.
Finalmente, deixar um agradecimento especial ao João Coutinho pelos contactos realizados para que
fosse possível a actuação do Ekvat em Coruche.
27
FESTA DE PASSAGEM DO ANO 2017-2018

Embora não seja curial, inicio este apontamento, que me foi solicitado, recordando que, para os
organizadores da Festa de Fim do Ano, levar a cabo este evento obriga a um esforço considerável e representa
um risco assumido, principalmente por se realizar numa época em que as condições meteorológicas são
incertas, razão pela qual, invariavelmente, um certo número de candidatos, que pretende marcar a sua
presença na passagem do ano, adia a sua inscrição até às vésperas, apesar de saber que ultrapassa a data
limite estabelecida.
Por isso, nos momentos de redobrada azáfama, chovem os telefonemas com pedidos de inscrição
de última hora, quando a equipa liderante do evento necessita de se concentrar nos pormenores finais,
contudo essenciais, bastas vezes de importância capital para o êxito da festa.
Este comportamento dos retardatários obriga a reajustamentos contínuos na organização do espaço e
no remate da logística dos afazeres da retaguarda, assim como em relação à tomada de decisões acerca de
um cem número de alterações que necessitam de ser efectuados em cima dos acontecimentos, provocando,
naturalmente, um stresse que pode e deve ser evitado, bastando para isso sermos mais compreensivos e
colaborantes.
Imaginem quanto labor e boa vontade foi necessário existir entre os organizadores e os músicos para
se poder deslocar a localização do conjunto “UBS” da sala principal, onde habitualmente actuava nas
festas anteriores, para o palco, a fim de tirar o melhor partido da acústica da música e, simultaneamente,
calcular a área necessária para satisfazer a catadupa de inscrições que foram surgindo ao cair do pano.
Tive conhecimento de que, apesar de boa vontade prevalecente, chegou um momento em que foi
necessário encerrar definitivamente as inscrições, por não caberem mais pessoas no recinto, pois atingira-
se a magnífica soma de duzentas e quarenta pessoas. Delicadamente, os responsáveis lamentaram as
rejeições efectuadas e pediram desculpas, mesmo sem terem culpa, obrigados como foram a tomar tais
decisões desagradáveis por imperativo de segurança e comodidade.
Estes contratempos foram ultrapassados com tal mestria que os participantes só encontraram da parte dos
organizadores sorrisos rasgados, abertura de espírito e prontidão para colmatar eventuais imperfeições.
Como consequência dessa actuação e do calor humano que foi irradiando entre os convivas, a alegria
e a boa disposição foi a nota dominante desde o início até o término do evento.
O salão, ornamentado com singeleza e bom gosto, deu as boas vindas a todos quantos desejavam
desfrutar de uma passagem de ano com brilho e encantamento.
De facto, a partir dos primeiros acordes do trio “UBS”, composto por Vítor Cunha, To Amaral e V.
Fontão, a animação tomou conta dos dançarinos, e os músicos, contagiados pela excelente receptividade
recebida, galvanizaram-se e superaram as expectativas.
E quando paravam de tocar, para poderem reaver forças e fruir do merecido descanso, o D.J., Jesus
Dias, enchia a sala com melodias condizentes com a data festiva.
Para satisfazer os desejos gastronómicos dos participantes, nascidos nos quatro cantos do mundo, o
serviço do bar esteve aberto com bebidas, salgados, sarapatel, arroz de pato, bacalhau com broa e bebinca.
Para além do tradicional espumante e passas, servidos quando soaram as aguardadas badaladas de meia-
noite da passagem do Ano de 2017 para 2018, em momentos considerados oportunos, foram oferecidos
também caldo verde, salada de frutas e chocolate quente.
Com as forças retemperadas com estes mimos, a música sempre a animar e a alegria a prevalecer, não é
de admirar que a festa, prevista para ser encerrada às 04H00 de madrugada, só tenha terminado às 06H00.
Penso ser de elementar justiça deixar aqui uma palavra de gratidão a todos quantos contribuíram com
o seu trabalho e imaginação para realizar com êxito o evento e para engrandecer o nome da Casa de Goa.
Na pessoa de António Rodrigues, que encabeçou o processo e liderou o grupo, fica aqui o meu
reconhecimento pelo excelente trabalho desenvolvido, acabando desta feita por encerrar de forma elevada
e com chave de ouro o trigésimo aniversário da Casa de Goa.
Lisboa, 11 de Janeiro de 2018.

Valentino Viegas
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COMUNICADO - RESTAURANTE DA CASA DE GOA


Como é do conhecimento geral, na sequência de procedimento concursal foi ajudicada a
concessão do restaurante à sociedade Brand New Life.
O novo concessionário esta empenhado num projeto inovador e ambicioso, de forma a tornar o
espaço, incluindo a esplanada, num local de referência, não apenas em termos de gastronomia
mas também de lazer.
Por contingências várias, ainda não foi possível a execução do projeto, razão pela qual o
restaurante ainda não foi reaberto.
Em reunião havida no dia 10 de janeiro, o concessionário apresentou uma reformulação do
projeto, de forma a que o restaurante possa já reabir em breve, estando previsto que tal suceda
em abril.
A parte de cima (esplanada) será integrada numa segunda fase de execução.
A Direção da Casa de Goa presta este esclarecimento aos sócios, uma vez que têm sido muitos
os pedidos de informação sobre a reabertura do restaurante.

Agenda
25 JANEIRO - CHÁ DAS 5
10 FEVEREIRO- FESTA DE CARNAVAL C/CAL
22 FEVEREIRO - CHÁ DAS 5
13 MARÇO - DIA DA ÍNDIA NA FLUL

CURSO DE CONCANI
Anunciamos a realização de um curso elementar de Concani, com início em 1 de
março e termo em 31 de maio de 2018, na Casa de Goa.
O curso terá duas sessões por semana: quarta-feira, das 18 h às 19,30 e sábado das
15 às 16,30.
Conseguimos obter a colaboração de Dhruv Usgaokar, professor de português na
Universidade de Goa.
Pretende-se permitir ao aluno interagir em situações da vida corrente, como, por
exemplo, estar num restaurante, apanhar um táxi, ir ao mercado...
A inscrição poderá ser efetuada por mail (casadegoa@sapo.pt) para a Secretaria, até
ao dia 25 de fevereiro, havendo lugar ao pagamento imediato, sendo 125 euros (sócios
c/quotas em dia) e 150 euros (não sócios).
Inscrições limitatas.
A Direção
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A Casa de Goa é uma instituição de
associados e para os associados.
Se está disponível para dinamizar ou
acompanhar atividades
INSCREVA-SE COMO VOLUNTÁRIO
Ficha disponível na Secretaria ou por correio
electrónico
Fazemos serviços de catering, casadegoa@sapo.pt
coffe break, eventos temáticos e
especialidades goesas.

Andreia Fernandes
Contacto: 964 550 107

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Aluguer de salas
Auditório para:
Reuniões, seminários, workshops, e
conferências
Sala de Festas para:
Batizados, Aniversários e Casamentos

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