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Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século

XIX: o olhar de Paranhos

Victor Andrade de MeloI

Resumo

Muitos autores consideram os anos 1850 como um marco na


história brasileira, pois foi um período em que se conformou, em
diferentes âmbitos, uma estabilidade que permitiu avançar, de forma
mais efetiva, o processo de construção da nação independente. Na
capital, que se tornou foco irradiador de novas modas e costumes,
gestou-se uma dinâmica social mais mundana, uma maior
estruturação do comércio de luxos e entretenimentos. Ao estudar
esse período da história brasileira, este artigo tem por objetivo
discutir os aspectos educacionais que cercavam uma das atividades
comumente promovidas no Rio de Janeiro de meados do século
XIX, os bailes, a partir do olhar de um importante personagem do
Império: José Maria da Silva Paranhos. Trata-se de uma pesquisa
histórica que utilizou como fontes 47 crônicas da série Cartas ao
amigo ausente, publicadas no Jornal do Commercio entre os anos
de 1850 e 1851. Ao final, conclui-se que a visão de Paranhos a
respeito dos bailes tem relação direta com sua percepção e seus
projetos para o país. Os eventos dançantes não eram concebidos
somente como um divertimento, mas, a seu ver, eram também
ocasiões que contribuíam para forjar e fortalecer uma sociedade
civil, composta por distintos setores da elite nacional, que poderia
conduzir o Brasil a um futuro alvissareiro, marcado pelas ideias de
civilização e progresso. Os posicionamentos de Paranhos ajudam
a entender os bailes como uma estratégia de educação do corpo a
partir de três princípios: eficácia, propriedade e identidade.

Palavras-chave

Bailes — Dança — Educação do corpo.

I- Universidade Federal do Rio de


Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Contato: victor.a.melo@uol.com.br

Educ. Pesqui., São Paulo, Ahead of print, fev. 2014. 1


Body education – social dance in 19th century Rio de
Janeiro: the Paranhos point of view

Victor Andrade de MeloI

Abstract

Many authors consider 1850’s as a turn point in Brazilian history.


It was a period in which was conformed, in different areas, a
stability that increase the process of the building of the independent
nation. In the capital (Rio de Janeiro), which became a center
that spread out new fashions and customs, was conformed a new
social dynamics, a better structuring of the trade of luxuries and
entertainments. By studying this period of Brazilian history, this
article aims to discuss the educational aspects of one of the activities
commonly promoted in Rio de Janeiro in the mid-nineteenth century,
the social dance, considering the point of view of an important
Brazilian Empire personality: José Maria da Silva Paranhos. This
is a historical research that has used as sources 47 articles of this
author, the series Letters to Absent Friend, published in the Jornal do
Commercio between 1850 and 1851. It is concluded that the vision
of Paranhos about the balls is directly related to his perception
and his projects for the country. The dance events were perceived
not only as a special fun, but also as occasions which helped to
build and strengthen a civil society composed of different sectors of
the national elite, which could lead Brazil to an auspicious future,
marked by ideas of civilization and progress. Paranhos’ view help
understand the dances as a strategy for body education from three
principles: effectiveness, ownership and identity.
 
Keywords

Balls — Social dance — Body education.

I- Universidade Federal do Rio de


Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Contact: victor.a.melo@uol.com.br

2 Educ. Pesqui., São Paulo, Ahead of print, fev. 2014.


Introdução Nesse contexto, de um lado, adotaram-se
costumes mais distendidos, frutos, inclusive, dos
E se não fossem os bailes, o que seria do bom povo
mais frequentes contatos no cenário urbano. De
fluminense?
outro lado, aumentaram as preocupações com
José Maria da Silva Paranhos
os comportamentos a serem adotados. Todos
passavam por um processo de reeducação frente
Carvalho (2012) e Chalhoub (2012), entre ao novo dinamismo social.
outros autores, consideram os anos 1850 como Isso é, quando o espaço privado, sem deixar
um marco na história brasileira. Tendo surtido de ser importante, perde força frente ao avanço
efeito a estratégia da antecipação da maioridade das vivências na esfera pública, novas exigências
de Pedro II (1840), conformou-se, em diferentes pendem sobre os indivíduos. Que comportamentos
âmbitos, uma estabilidade que permitiu avançar, adotar? Como expressar um gosto apurado tendo
de forma mais efetiva, o processo de construção em conta os novos parâmetros? Como isso se
da nação independente. manifesta nas vestimentas, nos cumprimentos,
Ainda que persistissem resistências e nos gestos, nas técnicas corporais? Trata-se
ocorrências contraditórias, como a manutenção claramente de um processo de educação do
da escravidão, foi o período em que mais bem corpo. Estou aqui dialogando com as ideias de
delineou-se o processo de modernização que, de Soares (2001, p. 110):
alguma forma, já vinha sendo entabulado desde
a chegada da família real portuguesa (1808). Os corpos são educados por toda realidade
Constroem-se discursos de que o Brasil deveria que os circunda, por todas as coisas com
ser reconhecido pelo seu caráter civilizado e pela as quais convivem, pelas relações que
adesão à ideia de progresso (SCHWARCZ, 1998). se estabelecem em espaços definidos e
Impactos desse processo são claramente delimitados pelos atos de conhecimento.
observáveis no município neutro da corte, que Uma educação que se mostra como face
se tornou o espaço das principais experiências polissêmica e se processa de modo singular:
de modernização do país, foco irradiador de dá-se não só por palavras, mas por olhares,
novas modas e costumes. Gestou-se no Rio de gestos, coisas, pelo lugar onde vivem.
Janeiro uma dinâmica social mais mundana,
uma maior estruturação do comércio de luxos Concordamos com a autora ao dizer que,
e entretenimentos, relacionados, inclusive, à por sua materialidade, esses corpos educados,
conformação de uma sociedade civil que desejava ou que se pretende que assim o sejam, são
(e precisava) expor publicamente seus símbolos de uma representação da sociedade, permitindo-
status e distinção. Tornaram-se mais valorizadas nos prospectar a “dinâmica de elaboração dos
as atividades públicas de convivência, quase uma códigos a que devem responder”. Ao seu redor é
obrigação para os que desejavam ser reconhecidos possível compreender “as técnicas, pedagogias e
em certos círculos sociais: instrumentos desenvolvidos para submetê-los a
normas” (SOARES, 2001, p. 111). Trata-se não só
[...] é na capital, durante os anos de 1840 de um processo que pende sobre os indivíduos,
e 1860, que se cria uma febre de bailes, mas sim sobre a sociedade como um todo, sendo
concertos, reuniões e festas. A corte se inegável seu caráter político: gestar grupos e
opõe à província, arrogando-se o papel de governar comunidades passa, inequivocamente,
informar os melhores hábitos de civilidade, pela necessidade de estabelecer parâmetros de
tudo isso aliado à importação dos bens educação corporal.
culturais reificados nos produtos ingleses e Nessa perspectiva, a educação do corpo
franceses (SCHWARCZ, 1998, p. 111). se cruza com a educação das sensibilidades e dos

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sentidos. Devemos ter em conta o desafio apontado onde se tornou professor. Inclusive em função
por Oliveira (2012, p. 08) para melhor entender a do estrato social de sua família (que não era das
especificidade dessa intervenção educacional: mais ricas), não estabeleceu, como era comum
em muitas lideranças do país, uma relação direta
Para tentar uma aproximação dessa dimensão com a advocacia.
da nossa humanidade, pretendemos Desde os anos 1840, atuava na imprensa,
inscrevê-la no âmbito de um conjunto de primeiro fórum público do que viria a ser uma
influências mutuamente complementares. brilhante carreira política e diplomática: foi um
A natureza, a estética, a ciência, a cultura, dos principais estadistas do Segundo Reinado,
entendida como síntese da economia, da tendo ocupado postos-chave e se envolvido com
política, da sociedade, por mais que sua importantes acontecimentos do Império. Foi
separação remeta a dificuldades que não são responsável por implementar uma série de reformas
de fácil resolução, são os âmbitos nos quais no país, notadamente quando esteve à frente do
os sentidos, a sensibilidade e sua educação Conselho de Ministros, entre 1871 e 18751.
podem ser percorridos pelo historiador. No Jornal do Commercio, Paranhos
ingressou em dezembro de 1850, na condição
Partindo dessas considerações, este de autor anônimo da série Cartas ao amigo
estudo tem por objetivo discutir os aspectos ausente, publicada até outubro de 1851,
educacionais que cercavam uma das atividades quando viajou para o Uruguai, por motivo de
comumente promovidas no Rio de Janeiro de serviço diplomático. Criado em 1827, tendo
meados do século XIX, os bailes, a partir do olhar como foco as questões da economia, esse
de um importante personagem daquele cenário: periódico paulatinamente foi mudando de
José Maria da Silva Paranhos. Trata-se de uma perfil, passando também a se debruçar sobre a
pesquisa histórica que utilizou como fontes 47 política e assuntos mundanos. Foi um dos mais
crônicas que o autor publicou, entre os anos de importantes jornais do Império, sendo um dos
1850 e 1851, no Jornal do Commercio. responsáveis por implementar inovações na
Dialogando com as posições de René imprensa e por torná-la um fórum público de
Remond (2003), metodologicamente este estudo grande relevância (JUNQUEIRA, 2010)2.
transita entre a história política e a história Há divergências a respeito de quem seria
cultural. O político é considerado como um ponto o pioneiro da crônica brasileira. De toda forma, a
de condensação que, a partir de instituições e atuação de Paranhos no Jornal do Commercio pode
funções caracterizadas como estatais, se irradia ser considerada como exemplo de um cronista
para todas as outras esferas da vida social, em ação (EWALD, 2000). O autor abordava, com
influenciando e sendo influenciado por elas. cumplicidade com o leitor, o que acompanhava
Assim, argumentamos que se as agências em todos os âmbitos na vida da corte:
que promoviam os bailes não eram efetivamente
órgãos estatais, eram, contudo, compostas por Paranhos participava de todas as festas,
lideranças nacionais e tinham seu funcionamento frequentava o Prado, adorava os bailes e
de alguma forma relacionado a algumas demandas recomendava sempre aos que o escutavam
e necessidades do país. que gozassem o mundo, porque fugaces
Neste momento, cabem algumas linhas labuntur anni (RODRIGUES, 2008, p. XVIII).
para apresentar o personagem com o qual
dialogaremos. Paranhos, o futuro visconde do Rio 1- Paranhos foi, ainda, Ministro das Relações Exteriores (1855-1857;
Branco, nasceu na Bahia (em 1819). Deslocou-se 1858-1859), Ministro da Marinha (1853-1855; 1856-1857), Ministro da
Guerra (1871) e Ministro da Fazendo (1871-1875).
para o Rio de Janeiro na década de 1830. Estudou 2 - Atuaram no Jornal do Commercio grandes personalidades do país. É
na Academia da Marinha e na Escola Militar, de publicado até os dias de hoje, pelo grupo Diários Associados.

4 Victor Andrade de MELO. Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século XIX: o olhar de Paranhos...
Deve-se ressaltar que seus posicionamentos Além disso, havia ainda uma grande
são uma representação, um olhar de um ruptura: “Povo e elite mantiveram-se em
personagem que já era reconhecido, mas que mundos à parte no campo cultural, assim como
se encontrava ainda no início de uma trajetória no mundo social e político” (CARVALHO, 2012,
que lhe alçaria ao posto de um dos mais p. 35). A dança era uma das práticas nas quais
importantes do Império. Seus pontos de vista essa separação claramente se manifestava:
são marcados não exatamente pelo frescor da “o reisado, o lundu, o batuque, o maxixe
juventude, mas sim por uma ainda instável contrastavam com a valsa e a polca dos salões”.
certeza de meia idade acerca dos projetos para (CARVALHO, 2012, p. 35).
a nação, que ele mesmo vai contribuir para Vejamos como se estruturava a prática
operacionalizar nas décadas seguintes. da dança naquelas décadas de 1840/1850.
Nesse sentido, essas crônicas podem
ser consideradas como “uma fonte primordial A sociedade fluminense dança
para o conhecimento do Império, num de seus
períodos mais característicos” (RODRIGUES, O baile! O baile é sempre o baile! Estas interjeições
exprimem as mais sérias preocupações, os mais vivos e
2008, p. X), uma “fonte autêntica, viva, diária, afetuosos sentimentos da atual sociedade fluminense.
cotidiana, para captar o sentido, o valor, a José Maria da Silva Paranhos
significação, o ethos da reviravolta que se opera
na década de 1850” (p. XXII). Fonseca (2007) Na transição dos anos 1840/1850, no Rio de
concorda com esse ponto de vista, destacando Janeiro, já não era uma novidade a dança de salão,
que, nesses escritos, Paranhos discutiu seus aquela que é praticada não de forma espontânea
projetos para o país a partir de um olhar de nas ruas, mas sim em espaços fechados, seguindo
quem era egresso das fileiras das escolas regras e princípios coreográficos variáveis de
militares, e não da faculdade de direito. acordo com diferentes estilos.
Consideramos, assim, produtivo prospectar Sabe-se que, já instalado no Brasil, D.
seus posicionamentos acerca dos bailes e socieda- João mandou vir de Portugal, em 1810, o mestre
des dançantes, novas organizações da sociedade de dança Pedro Colonna (CAVALCANTI, 2004).
civil que funcionavam mesmo como instâncias No ano seguinte, desembarcou na colônia o
educacionais, informando os possíveis usos do francês Luis Lacombe, que passou a oferecer seus
corpo, dramatizando as tensões relacionadas aos serviços de docente e a coreografar espetáculos
projetos de grupos engajados no forjar da nação. apresentados nos teatros da Corte (SILVA, 2007).
Devem-se considerar algumas peculia- De fato, com a chegada da família real
ridades dos bailes abordados por Paranhos. portuguesa, em 1808, houve grandes mudanças
Inegavelmente, esses eventos frequentados pe- no cotidiano colonial, notadamente no Rio
las elites do Império dialogavam com referên- de Janeiro. A vida pública se tornou mais
cias que chegavam da Europa. Seria um equí- agitada. Os bailes, seguindo padrões europeus,
voco, todavia, encará-los como uma cópia do tornaram-se mais comuns, dinamizados por
que ocorria no velho continente. Havia, sim, mestres que chegavam do velho continente.
movimentos de reelaboração, a incorporação Eram promovidos em teatros, nas residências
de peculiaridades do jovem país que ainda ini- das elites, nas festividades da Coroa:
ciava seu processo de construção identitária:
As danças se aperfeiçoavam com mestres
É dentro dessa complexa dialética do entendidos. Luiz Lacombe não tinha mãos
nacional e do universal que se deve a medir e multiplicavam-se salões e saraus
interpretar a rica produção cultural do onde suas discípulas exibiam passes e passos
Segundo Reinado. (CARVALHO, 2012, p. 35) de bem aprendidas graças coreográficas. Os

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cabeleireiros e os mestres de danças [...] comerciantes, negociantes em geral). Esse
gozavam de grande prestígio e maiores quadro gerou a necessidade de estabelecimento
proveitos (PINHO, 1942, p. 15). e aprendizado de novos comportamentos,
que deveriam ser informados pelas agências
Em 1815, é fundada a Assembleia educativas (notadamente a família e a escola),
Portuguesa, com o objetivo de reunir pessoas mediados pela imprensa, que repercutia o
influentes em torno de certos divertimentos, entre momento pelo qual passava a cidade.
os quais bailes, previstos nos estatutos, seguindo Graham também compareceu a eventos
rígidas normas de etiqueta (SILVA, 1978), uma promovidos pela Sociedade Praia-Grandense,
iniciativa que não teve longa duração. localizada em Niterói. Ao comentar a
Uma nova agremiação dedicada à inauguração do novo salão de baile da
dança surgiu somente em 1834, presidida agremiação, foi eufórico: “o melhor que
por um importante personagem do Império, já vi até hoje” (HAMOND, 1984, p. 112). O
o conselheiro Diogo Soares da Silva de Bivar. inglês percebeu que, embora suas atividades
Ficou conhecida como Bailes do Catete, atraindo contassem com importantes personagens do
não somente membros da aristocracia, como Império, o regulamento do clube sugeria que os
também comerciantes, estrangeiros ligados frequentadores deveriam se vestir de maneira
a órgãos diplomáticos, pessoas envolvidas mais simples. Nos convites, aliás, deixava-se
com os novos negócios que se estruturavam claro: “He proibido o luxo no trajar, e o uso
na cidade (CARDOSO, 2006). Essa sociedade de brilhantes, e pérolas” (HAMOND, 1984, p.
teria sido uma das primeiras a abolir a grande 112). Avaliação positiva teve também outro
separação que existia entre homens e mulheres estrangeiro que lá esteve em dia de festa, o
nas atividades públicas (ZAMITH, 2011). norte-americano Charles Wilkes4: “Raras
Por volta da mesma época foi criada vezes vi tão bom gosto nos arranjos e uma
a Assembleia Estrangeira, presidida por sociedade tão distinta” (HAMOND, 1984, p.
Marcelino José Coelho, importante liderança 197). Como observado, tratava-se de novos
dos comerciantes fluminenses. Sua sede, uma comportamentos públicos que deveriam ser
casa alugada do marquês de Barbacena, também observados pelos que desejassem se integrar à
se localizava no bairro do Catete. Gozando de dinâmica social em construção.
certo prestígio na cidade, chegou, em 1841, a Essas iniciativas dos anos 1830/1840
oferecer o mais badalado baile em homenagem não alcançaram a projeção que conseguiram as
à coroação de Pedro II. agremiações criadas na década de 1840/1850.
O Almirante Graham3 muitas vezes esteve Entre tantas, algumas merecem destaque. O
nessa agremiação. Em setembro de 1835, observou Cassino Fluminense foi fundado em 1845, com o
a presença de cerca de 400 pessoas de “todas as fim de: “proporcionar a seus membros honestos
classes” (HAMOND, 1984, p. 90). Em outra ocasião, divertimentos, por partidas de Baile e Música”5
em um baile à fantasia realizado em junho de 1836, (ALMANAK LAEMMERT, 1849, p. 227). A
chegou a comentar: “Não sei se jamais me diverti diretoria, eleita a cada dois anos, era composta
tanto, pois não me lembro de ter parado de rir um por insignes personagens do Império. O primeiro
só momento” (HAMOND, 1984, p. 128). presidente foi Luiz Fortunato de Brito Abreu
Era, de certa maneira, uma novidade essa Souza e Menezes, desembargador e um dos
mistura de distintos grupos sociais (aristocracia, grandes nomes da advocacia de seu tempo.

3- Graham Eden Hamond esteve, no Rio de Janeiro, em 1825, comandando


o navio que trouxe Charles Stuart, embaixador responsável por negociar 4- Wilkes esteve na cidade liderando uma expedição científica, a United
o reconhecimento português da independência brasileira, e, entre 1834 e States Exploring Expedition.
1838, como almirante-em-chefe da esquadra do Atlântico Sul.  5- Almanak Laemmert, 1849, p. 227. 

6 Victor Andrade de MELO. Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século XIX: o olhar de Paranhos...
Essa agremiação foi, de fato, uma das intencionalidades. As elites, que no processo
mais importantes do Rio de Janeiro do século de construção da nação precisavam mesmo
XIX (NEEDELL, 1993). Como a ela se referiu se reconhecer como tal, utilizavam os bailes
Paranhos na crônica do dia 27 de abril de 1851: como forma de identificação e diferenciação,
“o aristocrático Cassino, que conta em seu seio ocasiões nas quais se minimizavam as tensões
com todas as glórias parlamentares presentes e internas, celebravam-se alianças e acordos,
passadas, todas as sumidades políticas e cortesãos estabeleciam-se distinções com quem
[...]”. Sua sede da rua do Passeio foi um importante estava fora (e entre quem estava dentro).
centro de encontro das elites nacionais. Saber dançar, assim, passou a ser uma
Também merecem destaque, pela reper- necessidade. Não valia qualquer dança, mas
cussão de suas atividades e pelos personagens estilos considerados civilizados. Nada que se
que as integraram, a Sociedade Recreação confundisse com as práticas populares, razão
Campestre, a Assembleia Fluminense e a pela qual era necessário aprender a forma
Sociedade Amizade, mas de fato muitas eram correta de bailar.
as agremiações que promoviam bailes para É interessante citar que, em 1854,
diferentes estratos das elites e setores médios6. foi lançado, sendo editado pela Laemmert,
Houve também espaços populares provavelmente o mais antigo manual de dança
de dança que se organizaram no decorrer publicado no Brasil. Leiamos a descrição:
do século XIX. Esse é o caso do Salão do
Caçador, criado em 1859, no Largo de São Arte da dansa de sociedade ensinada em
Domingos. Segundo Francisco Macedo, seus lições claramente explicadas por meio de
“frequentadores se compunham da mais ínfima trinta e duas figuras gravadas e contendo
espécie de rameiras e devassos” (PECHMANN, além de contradanças gerais, das figuras da
2002, p. 315). Esse médico, tão preocupado com valsa, da polka, da schottisch e da redowa
a moralidade pública, lembrava outros locais, a as marcas das contradanças provinciais
seu ver marcados pela devassidão, onde bailes e de várias outras inteiramente novas.
eram oferecidos: Bailes do Rachado, Bailes do (ZAMITH, 2011)
Ângelo, Chico Caroço, Salão do Oriente, Fábrica
de Cerveja de Mata-Cavalos. Nesse cenário, não surpreende que a
Na verdade, a prática da dança por dança tenha sido introduzida nas escolas,
populares sempre sofreu restrições, notadamente antes mesmo da ginástica e dos esportes.
quando se dava em espaço público. Pelos jornais, Vejamos, por exemplo, o caso do Colégio
é comum encontramos indícios dessas tensões, Pedro II. Já no primeiro regulamento previa-
comunicados de repressão ou solicitações de que se no artigo 54: “As lições de Dança serão
alguma medida fosse tomada. Havia um claro dadas nos dias de feriados aos Alumnos, cujos
processo de estabelecimento de um modelo Pais houverem determinado que a aprendão”
correto de diversão, relacionado a iniciativas (BRASIL, 1838). Tratava-se de um curso à
de controle da ordem pública, relacionadas a parte, ainda assim sendo digno de registro
um perfil civilizacional que determinava o que que tenha sido previsto.
deveria ser aceito ou não. O primeiro professor de ginástica
O perfil dos dirigentes das agremiações dessa instituição, Guilherme Luiz de Taube,
mais renomadas é um indicador das suas somente foi contratado em 1841. Frente
à dificuldade de conseguir outro docente,
6- Alguns exemplos: Recreio dos Militares, Harmonia dos Empregados quando ele deixou a instituição em 1843, o
Públicos, Sylphide, Minerva, Floresta, Cassino Americano, Dois de
Dezembro, Assembleia Familiar Fluminense, Lísia, Vestal, Recreação reitor, Joaquim Caetano da Silva, chegou a
Brasileira, Terpsícore, Ulisséa, Nova Eleusina, Amante do Recreio. propor ao Ministério do Império:

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Não sendo facil achar hum bom Mestre nessas instituições ou oferecendo aulas
de gymnastica, e correndo os alumnos em salas particulares: Antonio Maria Rioja
continuo risco, se elle sahir maó; com o Castelini, Carolina Caton, Francisca Farina,
mais profundo respeito tenho a honra Francisco York, João José da Rocha, Julio
de lembrar a V. Exc. a conveniencia Toussaint, Madame Lacombe, Miguel Vaccani
de substituir-lhe hum Mestre de Dança Junior, entre outros.
(CUNHA JÚNIOR, 2008, p. 170). Desde a década de 1820, frequente-
mente se apresentava a dança como um conte-
Como podemos notar, no espírito do údo das iniciativas educacionais. Por exemplo,
tempo, dança e ginástica eram equiparados em 1828, D. Tereza Fortunata da Silva infor-
como estratégias de educação corporal no mava que no seu colégio de meninas havia “os
âmbito da prestigiosa instituição. seguintes ensinos ler, escrever, contar, gramá-
Com a Reforma Couto Ferraz (BRASIL, tica portuguesa, desenho, dança, coser, bor-
1854), que estabeleceu novas normas para dar, e marcar, etc.” (JORNAL DO COMMERCIO,
o ensino primário e secundário na corte, a 08/01/1828, p. 2). A prática também era ofere-
dança se tornou obrigatória no Colégio Pedro cida como parte da educação masculina, como
II. Nas décadas de 1850 e 1860, a prática se podemos ver nesse anúncio do mesmo jornal,
manteve. Em 1865, por exemplo, havia 141 em 17/01/1831 (p. 4):
matriculados em suas turmas (80 do internato
e 61 do externato), número superior à maioria [...] a cuja casa se poderá dirigir qualquer
das matérias, sendo que a aula era ministrada pessoa que quiser aprender, ou mandar
para todas as séries, por isso o número tão ensinar a meninos quaisquer das preditas
grande7. Cumpre ressaltar que somente nos letras, ou qualquer das duas línguas. Os
anos 1870, seria suprimida da instituição hábeis mestres poderão ensinar também
(BRASIL, 1870). as línguas latina, e alemã, a dançar e a
A dança também era oferecida no desenhar.
ensino privado. Nas décadas de 1840/1850,
entre as escolas masculinas, podemos citar: Em muitos países aconteceu processo
Colégio D’Instrução Elementar (futuro semelhante. Lousada (1998) informa que
Colégio de Santa Cruz); Colégio de São Pedro o mesmo ocorrera em Portugal, desde a
de Alcântara; Liceu Comercial; Instituto transição dos séculos XVIII e XIX, tendo
Comercial (futuro Colégio Freese) e Liceu a dança se incorporado às exigências de
Rossmalen. Já entre as femininas, citamos: educação, de homens e das mulheres, não
Colégio de Instrução e Educação de Meninas mais só da aristocracia, como também de
(futuro Colégio de Botafogo); Colégio de setores médios.
Meninas (Madame Lacombe); Colégio de Este é um tema fascinante, que
Meninas da Baroneza de Geslin; Colégio pretendemos aprofundar em outras ocasiões.
Augusto; Colégio de Santa Cecilia; Colégio Da mesma forma, vale investigar melhor as
Estrella; Colégio Madame Luiza Halbout; muitas sociedades que ofereciam os bailes.
Colégio Emulação da Juventude; Colégio Esse artigo, contudo, é dedicado a discutir
Madame Carolina; Colégio da Lapa e Colégio o olhar de José Maria da Silva Paranhos,
Miss Steinmetz. Atuavam como professores, analisando como esse notável personagem do
Império teria se posicionado frente à febre de
7- Confira Mappa das matrículas do Imperial Collegio de Pedro II, atividades dançantes e refletido a respeito das
único estabelecimento publico de instrucção secundaria, por matérias.
Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1740/000085.html>. necessidades de comportamentos que deveriam
Acesso em: 11 abr. 2013.  ser adotados.

8 Victor Andrade de MELO. Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século XIX: o olhar de Paranhos...
Uma febre dançante: os bailes no que tenham o poder de intimidar os seus cava-
olhar de José Maria da Silva Paranhos lheiros e as suas belas”.
O cronista não usava meias palavras para
Não exagero dizendo que uma febre dançante
se apossou do espírito, ou antes das pernas dos
definir o que ocorria, a seu ver, na sociedade
habitantes desta boa cidade do Rio de Janeiro. Por fluminense. Na crônica de 11/05/1851, escreveu:
toda a parte e todos os dias ouve-se falar de bailes,
uns com antecedência anunciados, outros de repente Continua o furor bailante com tal
improvisados. Vai-se visitar a um conhecido velho,
na intenção, após a tarefa do dia, de gozar alguns intensidade, que se pode temer que daí
minutos de repouso, e eis senão quando acha-se venha a nascer alguma febre simples ou
um homem numa sala de dança. Se alguém vai à mista, conforme for só devida a alguma das
casa de um amigo para passar algumas horas em
três espécies – valsa, polca e contradança –,
agradável prática, e esse amigo tem irmãs, filhas ou
primas, acham-se lá dois homens que lhes possam ou às suas possíveis combinações.
servir de vis-à-vis, improvisa-se imediatamente uma
contradança. E como fugir a esta nova espécie de Era categórico, como podemos notar
leva forçada? Pede-se com tanta graça, com palavras
tão doces, que, a menos de faltar a todas as regras
nesse trecho, escrito em 24/08/1851:
da civilidade fluminense, não há alternativa, é forçoso
aceitar o convite e dançar muito risonho. Nem mais, nem menos! Aqui executa-se a
José Maria da Silva Paranhos polca, acolá a contradança, mais adiante a
valsa, e por toda a parte a graciosa e delicada
José Maria da Silva Paranhos não schottisch, que muitos alteram a seu bel-
deixou passar despercebido esse movimento prazer, sem se lembrarem que outrora a
de valorização da dança no Rio de Janeiro de dança era uma arte, senão quase uma ciência.
meados do século XIX. Para ele, tratava-se de
um desdobramento da busca de sintonização Para Paranhos, não havia exceções,
com o continente europeu e da influência dos tratava-se de uma vaga que a todos envolvia,
estrangeiros que chegavam ao país. Era um inclusive “aqueles sobre quem repousam os
sinal de que a cidade passava por profundas futuros destinos do país”, que “entregam-
mudanças e “perdia a inocência”: “O Rio de se a exercícios coreográficos, para não dizer
Janeiro tem mudado tanto, que custa a conhecê- ginásticos” (PARANHOS, 24/08/1851).
lo” (PARANHOS, 13/01/1851). Seu olhar não De forma ocasional, Paranhos, ao
era somente uma constatação, mas também mobilizar a ideia de ginástica, uma prática que
uma celebração. Para ele, a sociedade da corte ainda era embrionária na sociedade fluminense,
deveria aprender a se comportar como os povos deixa transparecer que encarava a dança como
“mais desenvolvidos”, adotando parâmetros de um exercício corporal.
vida “mais civilizados”. Devemos perceber que esse elogio à
Paranhos percebeu que se diversifica- dança era simultaneamente motivo de júbilo e
vam os divertimentos, tornando-se mais ati- preocupação. Essa nova performance pública era
va a vida pública. Um dos indícios desse novo fundamental para a sociedade, mas deveria ser
cenário seria a multiplicação das “sociedades experenciada de forma adequada, de maneira
de baile, de dança, musicais e dramáticas” a efetivamente significar algo produtivo para
(PARANHOS, 24/02/1851). Mesmo os proble- a consolidação da nação, entendida, como já
mas da cidade, o rigoroso clima e a epidemia dissemos, a partir de parâmetros civilizados, isso
de febre amarela não conseguiam aplainar o é, inspirados em países que tinham aderido mais
ímpeto dos que compareciam aos eventos pro- explícitamente ao discurso e ideário modernos.
movidos por essas agremiações. O autor escre- Para nosso cronista, os eventos dançantes
ve em 24/02/1851: “não há calor nem febre se constituíam mesmo no principal assunto da

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cidade. A chegada de um novo estilo de dança atenção dos pais; atrair-lhes o interesse pelo “belo
era comemorada como uma grande novidade. sexo”; em último caso, desenvolver estratégias
A schottisch, por exemplo, é enfaticamente para despistar e enganar os “agressores”.
saudada por ser mais adequada ao caráter dos Claramente conclamava nosso cronista
brasileiros. Em mais de uma ocasião, aliás, que se aprendesse a lidar com essa novidade,
Paranhos chegou a considerar um baile como que de forma ambígua apresentava novas
o mais importante acontecimento da semana. possibilidades de vivência social pari passu
A cada atividade promovida, centenas de com novos rigores comportamentais. Esses
pessoas compareciam. O que tanto entusiasmava acontecimentos aparentemente ingênuos
os amantes dos bailes? A dança em si, certamente, se relacionavam a uma exigência que se
que gerava uma proximidade física ainda inusitada impunha aos frequentadores dos bailes: a
naquele momento. A possibilidade de ouvir boa necessidade de saber se portar em público.
música também. Todavia, eram bem mais amplos Isso passava pela forma de se vestir, pelo
os estímulos que envolviam essas ocasiões que domínio das técnicas de dança, mas também
movimentavam a sociedade fluminense. pela maneira de se portar frente ao outro,
Algumas motivações pareciam bem notadamente porque havia uma nova
frugais, como sugere Paranhos ao observar, na personagem em cena: as mulheres, que não
crônica de 24/02/1851, o “grande número de foram só partidárias, como também agentes
gastrônomos que lá vão somente pelo cheiro importantes das mudanças em curso. Como
dos sorvetes e dos sequilhos”, preparados colocado por Silva (2011, p. 52), a elas:
pelas mais importantes confeitarias da cidade,
como a Francioni, que assim anunciava: [...] deve-se uma parte importante do
“Incumbe-se de qualquer função, e aluga processo de modernização, europeização
todo o necessário para o serviço tanto da e afrancesamento do Rio de Janeiro, que
mêsa quanto para os bailes” (ALMANAK iria contaminar paulatinamente as outras
LAEMMERT, 1851, p. 388). urbes brasileiras.
A Castellões não deixava por menos,
publicando um anúncio ainda maior, no qual O aumento de sua presença social
informava que possuía “o mais completo e tumultuava a ordem dos desejos e dos
variado sortimento de doces finos, tanto para chá, procederes. Até mesmo por isso, muitas eram
quanto para bailes, funções, etc.” (ALMANAK as críticas que pendiam sobre os bailes, por
LAEMMERT, 1851, p. 388), um serviço que já há Paranhos, com a ironia de sempre, contestadas.
algum tempo era oferecido, como podemos ver Leiamos um trecho, da crônica de 11/05/1851:
no Laemmert de 1847 (p. 409): “O apreço que
tem tido os doces de sua casa, lhe tem grangeado Não imito o esdrúxulo filósofo dos nossos
a fama publica, e a freguesia das sociedades tempos que, em um baile, o que mais sentia
Philarmonica e Assemblea Fluminense”. era a dor que lhe causava a ideia da imensa
Nosso cronista observou, no texto de quantidade de carneiros sacrificados à
01/06/1851, de forma bem humorada, que esses casquilharia das luvas de pelica. Não
atrativos gastronômicos por vezes interferiam posso tolerar a hipocrisia com que certa
no bom andamento dos bailes. Jovens, com presumida matrona, que já está entre
“apetite e sede insaciáveis”, esqueceriam as duas idades, prega contra a licença das
danças, fazendo “uma guerra desapiedada aos folias dançantes, e revestindo-se de toda
sorvetes, aos canudos, aos pastéis, às empadas a gravidade, diz que nem em sua livraria
e aos sanduíches”. As soluções para “refrear esse permite o contato dos autores machos com
terrível bando de cossacos” seriam: chamar a os autores fêmeas. Não aconselho que os

10 Victor Andrade de MELO. Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século XIX: o olhar de Paranhos...
nossos vigários imitem o cura de Bellebat, (PARANHOS, 31/08/1851) acabam adquirindo
que, para evitar que nos festins houvesse uma má fisionomia. Mais ainda, preocupa-se
alguma indecência, tocava ele próprio o com os elevados custos:
violão e fazia dançar os seus paroquianos.
Mas também não posso deixar de perguntar A sociedade fluminense está a tal ponto
a certos rigoristas se quando eles pregam atacada da febre dançante e fascinada com
do púlpito contra a dança e os prazeres os prazeres da comédia dos bailes, que
humanos, não os espera lá no refeitório um começo a recear pela saúde e felicidade
suculento jantar ou gorda ceia. das belas, pelos fundos dos pais e pelo
crédito comercial de muitos elegantes.
Havia também, é verdade, o oposto, uma (PARANHOS, 31/08/1851)
expectativa de algumas famílias de que a frequ-
ência aos bailes pudesse gerar bons casamentos, No seu modo de entender, os excessos
postura igualmente ironizada por Paranhos: poderiam até mesmo ser prejudiciais à saúde
e “um veneno corrosivo da moral pública, da
Só as moças que aspiram ao ministério felicidade doméstica e da fortuna privada”:
doméstico e desejam contribuir para o
aumento legal da humanidade, é que vão Então o luxo e os prazeres, já não
perdendo de todo a fé nos tais bailes. correspondendo às posses daquele que
(PARANHOS, 27/04/1851) os quer ostentar e gozar, longe de serem
lícitos e salutares, corrompem os bons
De toda forma, em vários momentos, o costumes de uma família ou de uma nação
cronista defendeu uma maior liberdade feminina, morigerada, excitam a cobiça, acostumam
para ele um sinal de que avançavam os costumes. às intrigas e às baixezas e solapam
Mais ainda, sugere que as atividades dançantes pouco a pouco os alicerces da probidade.
desempenhariam um importante papel: (PARANHOS, 11/05/1851)

Há mesmo quem pretenda que a educação Trata-se de uma posição interessante.


das mulheres não se pode operar sem os Ao propor uma distensão dos costumes, de
bailes; que as mulheres criam-se no salão, forma alguma sugeria abandonar a moralidade
como o general no campo da batalha, pública. Muito pelo contrário, para não por
como o homem de ciência no gabinete, em risco uma instância tão importante para o
como o homem de Estado nos escritórios país que estava nascendo, dever-se-ia ter em
de jornal e nas discussões da tribuna conta os novos rigores que a nova dinâmica
(PARANHOS, 27/09/1851). exigia. Por isso sua grande preocupação com
a educação dos que iam aos bailes: se limites
Ao sugerir que os bailes eram não fossem estabelecidos, perder-se-ia sua
fundamentais na educação da mulher potencialidade.
sintonizada com os novos tempos, Paranhos De toda forma, o cronista exaltava
enfrentava os que se apegavam ao passado. os bailes, lembrando, inclusive, que tinham
Todavia, não pensemos que tinha uma visão potencial econômico. Em 11/05/1951 escreveu:
idílica dos eventos dançantes. Para ele, essas
ocasiões não deveriam se tornar um vício. [...] favorecendo o consumo dos objetos
Chega a sugerir que as mulheres que se do tom ou de luxo, animam a indústria
submetem “ao violento exercício coreográfico e o comércio, e tornam-se por este modo
de dois, três e seis bailes por semana” tão protetores do progresso material do

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país como provado fica que o são da sua ele, a marcialidade de algumas músicas até
civilização política e moral. mesmo despertaria “os instintos guerreiros” e
os tornaria “apaixonados da sua vida ativa e
Lembra que, na alta temporada, a cidade aventurosa” (PARANHOS, 10/08/1851). Uma
entrava em polvorosa, como colocado na vez mais vemos nas posições de Paranhos a
crônica de 27/04/1851: sugestão de que se tratava de uma contribuição
para a educação do corpo, nos moldes que
Felizes cabeleireiros, alfaiates, lojistas, mo- apresentamos na introdução.
distas, e o restante da legião de industrio- Essa valorização da confraternização
sos suíços a serviço dos fashionables e das entre os diferentes é, de alguma forma, similar
elegantes de todas as idades. à sua posição a respeito do quadro político
nacional, da necessidade de conciliação
Para Paranhos, havia um ganho ainda para o bem da nação, algo que se manifesta
maior – fortalecer elos entre distintos grupos. frequentemente em suas crônicas no Jornal
Em 11/05/1851, afirmou: do Commercio:

[...] reunindo debaixo do mesmo teto, Nas Cartas ao amigo ausente, nota-se que
e obrigando o saquarema e o luzia, o a discussão de Paranhos, quase sempre,
cabeludo e o liso, o cabano e o bentevi, gira em torno da necessidade de um
a dançarem na mesma sala e ao som acordo entre os partidos, em benefício dos
da mesma orquestra, acostumam estas melhoramentos técnicos e materiais do
diferentes espécies de animais do Brasil a país (FONSECA, 2007, p. 11).
viverem sem se devorarem uns aos outros.
Esse posicionamento ajuda-nos a com-
Deveria ser, assim, celebrada a costumeira preender o seu entusiasmo com os eventos do
presença de: “Todas as classes, todas as profissões Recreação Campestre. Para ele, era uma agre-
nobres, todas as ciências, todas as opiniões ou miação mais democrática, onde importantes
personalidades” (PARANHOS, 18/08/1851). personagens da sociedade nacional se permi-
Essa linha de argumentação, que tem tiam contatos mais descontraídos, em um am-
relação com sua compreensão de que é necessário biente marcado por menos constrangimentos.
gestar uma sociedade forte e organizada, uma Como escreveu em 01/06/1851: “O baile cam-
dimensão fundamental para garantir o futuro da pestre é uma dessas concepções que imortali-
nação, está presente das mais diferentes formas zam os seus autores”.
nas crônicas de Paranhos. Pode ser vista quando Enfim, Paranhos encarava os bailes
celebra as novas possibilidades de encontros como uma forma de polir os costumes, a fim de
entre homens e mulheres. Também quando gestar o que ele chama de civilização popular.
comenta, com o entusiasmo de sempre, um baile Há que se ter claro, todavia, quem desejava
promovido pelo Recreio dos Militares, no salão que integrasse essa confraternização. Não se
do Floresta. tratava de propor uma comunhão entre elites e
O cronista julga que essas ocasiões populares, mas sim entre os diferentes estratos
ajudariam a fortalecer os laços entre militares das elites, como enumera em 24/08/1851:
e civis, atitude fundamental para garantir a
defesa nacional. Além disso, considerava que Havia artistas, especieiros, comerciantes
era uma forma de suavizar a dureza da vida de pequeno e grosso trato, militares,
na caserna. Discordava, aliás, que a dança médicos, advogados, deputados, senadores
prejudicaria a preparação do combatente. Para e ministros: os pequenos acotovelando-

12 Victor Andrade de MELO. Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século XIX: o olhar de Paranhos...
-se com os grandes, e todos confundidos Como colocado na crônica de 27/04/1851,
nesse utilíssimo e bem entendido sistema o baile era a ocasião em que se poderia:
de igualdade.
conversar ao som de uma galopada, estudar
Vejamos como, em outra ocasião, definiu o espírito humano engolindo um canudo e
os presentes em um baile: sorvendo uma pirâmide de neve, e preparar
a solução das grandes questões de Estado
Todas as classes aí estão representadas – as com o auxílio do encanto das belas, a
artes, as letras, a indústria, a lavoura e o fascinação das luzes, e as inspirações de
comércio; o funcionário civil e o militar, uma orquestra.
grandes e pequenos, a inteligência e o
dinheiro, o talento e a felicidade, o nacional Eram momentos em que se alinhavam os
e o estrangeiro. (PARANHOS, 21/09/1951) debates políticos.

Na verdade, Paranhos não desconsiderava Se a diplomacia considera os jantares


os benefícios das danças para a população como habilíssimos agentes internacionais,
em geral, encarando-as, contudo, a partir de os ministérios e os pretendentes dizem que
uma funcionalidade específica. A questão era as soirées e os bailes são de uma grande
educar os populares para que, de forma ordeira, força persuasiva para certos parlamentares
suportassem seu destino. Leiamos o que escreve (PARANHOS, 27/04/1851).
em 29/06/1851:
Paranhos chega a ironizar a intensa
Bem hajam os Prados, os teatros, os bailes, agenda dos parlamentares: não se podia privá-
que contribuem com as festas da nossa los de tamanho “fervor filarmônico-dançante-
bela e sublime religião para distrair o povo teatral”. Dessa forma, devia-se ter com eles
fluminense das aflições do presente, e fazê- certa tolerância, já que seria absurdo:
lo caminhar ledo e cego para o futuro [...].
Exigir que, depois de uma vigília passada
Os eventos dançantes abordados por nas regiões agitadas e deslumbrantes da
Paranhos eram mesmo espaços privilegiados de schottisch [...], um digno representante se
encontros das elites, inclusive daqueles que, no levante ao alvorecer, e pálido, lasso e ainda
âmbito da política, dirigiam os rumos do país. Ele, desacordado pelas emoções da véspera, se
aliás, sugeria que “a quadra parlamentar coincide mergulhe numa atmosfera glacial e úmida.
com a estação própria dos bailes nesta boa cidade”. (PARANHOS, 28/07/1851)
(PARANHOS, 27/04/1851) É verdade que os clubes
funcionavam o ano inteiro, mas o auge de suas Vejamos que, mesmo com os bailes
atividades dava-se na ocasião em que a câmara e públicos ocupando progressivo espaço, ainda
o senado estavam em plena atuação, quando per- seguiam existindo as atividades privadas, que
sonagens importantes de todo o país estavam reu- reuniam a fina flor da sociedade fluminense.
nidos na sede do Império. Segundo seu perspicaz Paranhos narra uma dessas reuniões, realizada na
olhar, os bailes complementavam (e mesmo in- casa do oficial-maior da secretaria dos negócios
tegravam) as tarefas parlamentares, aproximando estrangeiros, em que estiveram presentes:
os representantes (entre si e com seus eleitores),
amenizando as tensões da nação, contribuindo [...] o ministro desta repartição, o da Guerra,
“poderosamente para as combinações da pequena todo corpo diplomático, inclusive os adidos,
e da grande política”. (PARANHOS, 18/05/1851) vários conselheiros de Estado e deputados,

Educ. Pesqui., São Paulo, Ahead of print, fev. 2014. 13


oficiais das Secretarias de Estado e muitos uma contradança, ou toda embasbacada a
outros [...] 43 pessoas do sexo feio e 37 do aplaudir os triunfos de uma bela e maviosa
belo sexo. (PARANHOS, 06/07/1851) cantora. Já era tempo de perdermos esses
preconceitos (PARANHOS, 12/10/1851).
A despeito do perfil dos convidados,
“Contradançou-se, schottischou-se à larga”. É interessante notar o quanto o olhar
Da mesma forma, ainda que com frequência de Paranhos a respeito dos bailes tem relação
reduzida, o Imperador Pedro II progressivamente com sua percepção e mesmo entusiasmo com o
foi tornando-se mais recluso, volta e meia momento pelo qual passava a sociedade brasileira;
acontecia algum baile promovido pela família mais ainda, com seus projetos para a nação.
imperial, ocasião sempre celebrada e aguardada As atividades dançantes eram tanto celebradas
com ansiedade. como expressão dos novos tempos quanto
Dançava-se por todos os lados, razão pela compreendidas como agências educacionais,
qual todos deveriam aprender não só a dançar, polindo os costumes, ensinando a conviver, em
mas fundamentalmente como se comportar um mesmo espaço, homens e mulheres, militares
nessas ocasiões. Tratava-se de uma exigência e civis, aristocratas e envolvidos com os novos
tendo em conta as necessidades da nação, negócios, parlamentares de distintos partidos.
segundo o olhar de Paranhos. Devemos prospectar essas posições na
trajetória do cronista. O que sugere Fontana
Conclusão (2012, p. 5) ajuda-nos a pensar:

O fim da temporada parlamentar e o Jose Maria da Silva Paranhos vive e cons-


aumento da temperatura funcionavam como trói sua identidade política num período
senhas para que houvesse um intervalo na de grandes mudanças e de passagem à
intensidade dos eventos sociais. Na crônica de 12 modernidade. O contexto de entrada do
de outubro de 1851, ele escreveu: “Era tempo de liberalismo nos círculos intelectuais e
remitir a febre dançante, de dar algum descanso maçônicos o faz conjugar tradições “ar-
à alma e ao corpo, e cuidar de distrações menos caicas” e aspirações modernas, numa
agitadas”. Reduzia-se o frenesi: “Eclipsa-se o sol tentativa de moderação que o acompa-
dos bailes, desaparecem as grandes ilusões do nhará por toda sua vida. Num momento
mundo político”. Para Paranhos, a cada uma dessas onde o tempo histórico parece acelerar-se,
sessões, a sociedade fluminense modificava-se: [...], assim como muitos de sua geração,
(apropriou-se) de elementos conservado-
A nossa sociedade já vai compreendendo res e liberais, dentro de um processo de
que se pode amar o teatro, a música, a circulação de ideias próprio do período.
poesia, e até ser elegante e agradável ao belo Vivenciou os conflitos e contradições típi-
sexo sem que o homem se torne incapaz de cas da modernidade, sentindo as rupturas
trabalhos sérios, de exercer as mais elevadas e permanências do período, sendo liberal
como as mais difíceis funções civis. Os e conservador, progressista e tradicional.
homens de porte homérico e semblante
socrático, para quem a dança é uma Os bailes eram indicadores de uma
puerilidade, a música uma distração nociva sociedade mais livre, mas cuja liberdade deveria
e a poesia um desarranjo mental, já estão ser vivida com limites. Tratava-se, de fato, de
menos suscetíveis, menos inexoráveis, e até um processo de educação do corpo que pode ser
não é raro ver uma dessas figuras equestres entendido a partir das três faces da experiência
de vis-à-vis com algum dandy dançando corporal propostas por Vigarello (2003):

14 Victor Andrade de MELO. Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século XIX: o olhar de Paranhos...
• a educação do físico (princípio da eficácia) • a educação para a inserção em coletivos
– a necessidade de conhecer certas técnicas maiores (princípio da identidade) – tudo isso
civilizadas, que passaram a ser, inclusive, deveria ter em conta gestar uma sociedade civil,
ensinadas na escola, não devendo se confundir especificamente uma elite, tão necessária para a
com as danças voluptuosas típicas dos populares; consolidação da nação.
• a educação do espírito (princípio da propriedade) A dança não era, portanto, somente um
– havia um conjunto de comportamentos divertimento. Era um sinal dos novos tempos,
considerados socialmente adequados que produto e, esperava-se, produtora de uma nova
deveriam ser aprendidos, marcando a diferença dinâmica social. Uma exigência social, deven-
com a falta de moralidade que supostamente do, portanto, ser motivo de educação. Uma edu-
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Victor Andrade de Melo é professor dos Programas de Pós-Graduação em Educação e em História Comparada da
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16 Victor Andrade de MELO. Educação do corpo – bailes no Rio de Janeiro do século XIX: o olhar de Paranhos...

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