You are on page 1of 3

Lauro S.

Thiago - FEB
Lauro S. Thiago - FEB

A HOMEOPATIA E O ESPIRITISMO são duas doutrinas com objetivos perfeitamente distintos


e surgidas na Terra em locais e épocas bem diferentes.

A Homeopatia é uma doutrina médica, devida a Cristiano Frederico Samuel Hahnemann.

Hahnemann era alemão; nasceu na cidade de Meissen, na Saxônia, a 11 de abril de 1755.


Nas plagas germânicas cresceu, desenvolveu-se, estudou e formou-se em Medicina.
Freqüentou as Universidades de Leipzig, Viena e Erlangen, tendo nesta última defendido sua
tese de doutoramento, aos 10 de agosto de-1779.

Formando-se em Medicina, Hahnemann não se tornou simplesmente um médico; ele foi um


gênio médico. Possuía vastos e profundos conhecimentos de medicina (conhecia toda a
tradição médica desde Hipócrates e a mais remota antiguidade); de ciências físicas e
naturais (era sábio em Química e Mineralogia, a cujo respeito escreveu obras de grande
mérito e era consultado por investigadores do mundo inteiro, entre eles o nosso patriarca
José Bonifácio, que era também mineralogista e se correspondia com Hahnemann); de
línguas vivas e mortas (versava o latim, o grego e o hebraico, o alemão e o inglês, o francês,
o espanhol e o italiano, o sírio e o árabe); e todo esse vasto saber ele não adquiriu, por
certo, na Alemanha e nas universidades germânicas somente, mas trazia-o já no espírito, em
sua maior parte, como patrimônio valiosíssimo adquirido em vidas sucessivas e laboriosas,
certamente dedicadas à pesquisa da verdade e ao serviço da humanidade. Dotado ao mesmo
tempo de gênio intuitivo e de espírito prático, sendo tão grande pensador quanto
experimentador invulgar, possuía alta capacidade de análise crítica e de juízo objetivo.
Nessas condições, não podia acomodar-se às presunções da medicina de sua época — fim do
século XVIII e metade do século XIX — cheia de incertezas, lacunas e impropriedades, em
cuja prática abundavam as medicações sintomáticas, os drásticos, eméticos, diuréticos,
analgésicos, antitérmicos, sedativos, hipnóticos, e prevaleciam as aplicações tópicas, os
rubefacientes, os vesicatórios, o sedal, a moxa, as pontas de fogo, as sangrias e tantos
outros instrumentos de tortura, antes nocivos que úteis. Insurgiu-se contra o que
considerava uma ciência enganosa e uma arte perigosa, uma medicina que vivia ao sabor
das discussões acadêmicas, esquecida da sua mais alta missão, que é curar o homem
enfermo. "A primeira, a única vocação do médico — diz Hahnemann no primeiro parágrafo
do seu "Organon da Arte de Curar" é restabelecer a saúde nas pessoas enfermas; é ao que
se chama curar. Sua missão não é, como pensaram tantos médicos que perderam seu tempo
e suas forças correndo atrás da celebridade, forjar sistemas combinando idéias ocas e
hipóteses sobre a essência íntima da vida e a produção das doenças no interior invisível do
corpo, envolvendo tudo numa farragem de abstrações ininteligíveis, cuja pompa dogmática
engana os ignorantes, enquanto os doentes suspiram em vão por socorro. Basta destes
sábios devaneios, a que se chama medicina teórica, e para os quais até se instituíram
cátedras especiais. É tempo de que todos aqueles que se dizem médicos cessem afinal de
enganar os pobres humanos com palavras vazias de sentido, e que comecem a agir, isto é, a
aliviar e a curar realmente os enfermos." Nessas palavras de Hahnemann percebe-se o
Lauro S. Thiago - FEB

desacordo em que se encontrava com a medicina do seu tempo. E com razão. A tal ponto
chegou esse desacordo no espírito de Hahnemann que, após ter conquistado o mais alto
conceito dentro da sua classe, que o levou ao seio de várias sociedades sábias e à aquisição
de numerosa clientela, capaz de lhe propiciar recursos para uma existência farta e tranqüila,
num belo dia, ante o espanto dos seus clientes, anuncia-lhes a resolução de abandonar o
exercício da profissão médica, dedicando-se daí em diante à tradução de obras científicas.
Passou, assim, da glória ao quase esquecimento; caiu pouco a pouco na maior pobreza;
trocou o conforto pelas privações; mas, sentia-se feliz com sua consciência e seu caráter. Foi
em meio de seus árduos labores de tradutor, num simples cômodo onde apenas por uma
cortina o seu gabinete de trabalho era separado do resto do aposento, que lhe assomaram
ao espírito as primeiras idéias que, mais tarde desenvolvidas, corporificaram a sua doutrina.
Com elas, empreendia uma completa reforma na Medicina, envolvendo conceitos
inteiramente novos em patologia e etiologia, tanto quanto em farmacodinâmica e
terapêutica. Fez uma exposição delas, pela primeira vez, em 1796, num trabalho original
publicado na "Revista Médica", de seu colega e amigo Hufeland, e intitulado "Ensaio sobre
um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das substâncias medicinais, seguido
de alguns comentários sobre os princípios admitidos até nossos dias". A este, seguiram-se
muitos outros, até que, em 1810, consubstanciando inteiramente a sua doutrina, publicou a
primeira edição do "Organon da Medicina Racional", cujas edições posteriores trouxeram o
nome de "Organon da Arte de Curar", e que é a obra fundamental de Hahnemann.

Surgiu, portanto, a Homeopatia, como doutrina médica, muito antes do Espiritismo, que é
uma doutrina dê caráter científico-filosófico-religioso, codificada por Alan Kardec, e cuja obra
fundamental "O Livro dos Espíritos" — apareceu na França, em 1857.

Essas diferenças de objetos, de datas e locais de aparecimento não impedem, entretanto,


que se descubram afinidades extraordinárias entre a doutrina médica do genial alemão e a
doutrina codificada pelo missionário francês, afinidades essas certamente mais evidentes
naqueles pontos em que o Espiritismo toca os problemas biológicos, médicos e terapêuticos.

Não há negar que existe uma medicina espírita, praticada ainda não pelos médicos, mas
pelos crentes e de modo inteiramente desinteressado. Há uma patologia espírita, como há
uma biologia espírita decorrências mesmas da cosmologia e da cosmogonia espíritas. "Deus,
Espírito e Matéria constituem o princípio de tudo o Que existe, a trindade universal" — diz "O
Livro dos Espíritos"; mas, ao lado da matéria, é preciso que se considere o fluido universal,
elemento necessário de ligação entre o Espírito e a matéria, suscetível de modificações
inumeráveis, condicionando modalidades diversas de fluidos que em tudo intervêm, tanto na
grandeza infinita dos espaços estelares, como na grandiosa pequenez dos turbilhões
atômicos, na natureza bruta como na natureza viva, na vida dos vegetais e animais como do
homem, portanto, na saúde como na doença. A biologia e a patologia espíritas existem,
aliás, não no sentido de ciências particulares, mas de contribuições do Espiritismo à Biologia
e à Patologia, de estudos de Biologia e Patologia à luz do Espiritismo.

You might also like