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Thiago - FEB
Lauro S. Thiago - FEB
desacordo em que se encontrava com a medicina do seu tempo. E com razão. A tal ponto
chegou esse desacordo no espírito de Hahnemann que, após ter conquistado o mais alto
conceito dentro da sua classe, que o levou ao seio de várias sociedades sábias e à aquisição
de numerosa clientela, capaz de lhe propiciar recursos para uma existência farta e tranqüila,
num belo dia, ante o espanto dos seus clientes, anuncia-lhes a resolução de abandonar o
exercício da profissão médica, dedicando-se daí em diante à tradução de obras científicas.
Passou, assim, da glória ao quase esquecimento; caiu pouco a pouco na maior pobreza;
trocou o conforto pelas privações; mas, sentia-se feliz com sua consciência e seu caráter. Foi
em meio de seus árduos labores de tradutor, num simples cômodo onde apenas por uma
cortina o seu gabinete de trabalho era separado do resto do aposento, que lhe assomaram
ao espírito as primeiras idéias que, mais tarde desenvolvidas, corporificaram a sua doutrina.
Com elas, empreendia uma completa reforma na Medicina, envolvendo conceitos
inteiramente novos em patologia e etiologia, tanto quanto em farmacodinâmica e
terapêutica. Fez uma exposição delas, pela primeira vez, em 1796, num trabalho original
publicado na "Revista Médica", de seu colega e amigo Hufeland, e intitulado "Ensaio sobre
um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das substâncias medicinais, seguido
de alguns comentários sobre os princípios admitidos até nossos dias". A este, seguiram-se
muitos outros, até que, em 1810, consubstanciando inteiramente a sua doutrina, publicou a
primeira edição do "Organon da Medicina Racional", cujas edições posteriores trouxeram o
nome de "Organon da Arte de Curar", e que é a obra fundamental de Hahnemann.
Surgiu, portanto, a Homeopatia, como doutrina médica, muito antes do Espiritismo, que é
uma doutrina dê caráter científico-filosófico-religioso, codificada por Alan Kardec, e cuja obra
fundamental "O Livro dos Espíritos" — apareceu na França, em 1857.
Não há negar que existe uma medicina espírita, praticada ainda não pelos médicos, mas
pelos crentes e de modo inteiramente desinteressado. Há uma patologia espírita, como há
uma biologia espírita decorrências mesmas da cosmologia e da cosmogonia espíritas. "Deus,
Espírito e Matéria constituem o princípio de tudo o Que existe, a trindade universal" — diz "O
Livro dos Espíritos"; mas, ao lado da matéria, é preciso que se considere o fluido universal,
elemento necessário de ligação entre o Espírito e a matéria, suscetível de modificações
inumeráveis, condicionando modalidades diversas de fluidos que em tudo intervêm, tanto na
grandeza infinita dos espaços estelares, como na grandiosa pequenez dos turbilhões
atômicos, na natureza bruta como na natureza viva, na vida dos vegetais e animais como do
homem, portanto, na saúde como na doença. A biologia e a patologia espíritas existem,
aliás, não no sentido de ciências particulares, mas de contribuições do Espiritismo à Biologia
e à Patologia, de estudos de Biologia e Patologia à luz do Espiritismo.