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A ESCOLA DE SAGRES:

"NAVEGAR É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO" :

Como Portugal conseguiu conquistar uma posição tão privilegiada? O que permitiu o
desenvolvimento das grandes navegações? Que condições culturais e mentais impulsionaram
os portugueses para mares tão desconhecidos?

 Século XII: A realização das Cruzadas abriu a possibilidade de os europeus entrarem


em contato com povos diferentes.
 As viagens, as lutas entre católicos, muçulmanos e bizantinos acarretaram grandes
transformações na vida europeia.
 Aperfeiçoamento das técnicas de guerra, a mudança de hábitos alimentares, novas
palavras no vocabulário e, principalmente, o aperfeiçoamento de técnicas marítimas.
 Ao longo dos séculos XIV, XV e XVI, Grande esforço pessoal nos empreendimentos
comerciais, na produção agrícola, no domínio da natureza, no conhecimento de
técnicas marítimas. Os homens começavam a acreditar em si mesmos e não em
providências divinas.
 O teocentrismo medieval dava lugar ao antropocentrismo renascentista: o homem era
agora a medida de todas as coisas, isto é, pelas próprias forças ele poderia conquistar
o mundo.

No século XV, a criação da Escola Naval de Sagres, pelo infante dom Henrique, foi um
marco decisivo para as navegações portuguesas no Atlântico. A Escola de Sagres reuniu os
maiores estudiosos do mundo europeu em técnicas de navegação e lançou ao mar pelo menos
um navio por ano para estudar o oceano, fazer mapas e anotar as posições das estrelas para
guiar os navegadores.

As viagens pelo Atlântico eram muito inseguras: todos os tripulantes dos navios, ao
saírem de Portugal, assinavam o livro de óbitos. Mesmo assim, os portugueses colocavam em
risco suas vidas, menos pela aventura do mar ou pela religião, e mais pelas possibilidades de
riquezas comerciais.

A primeira expedição comercial às Índias, sob o comando de Pedro Álvares Cabral. Em


1500 - encerrando espetacularmente o século XV -, foi o marco definitivo das conquistas
portuguesas. Reuniu-se a maior e mais bem organizada frota para chegar às Índias. A
magnitude do empreendimento ressalta da comparação: enquanto Vasco da Gama levara
apenas quatro naus em sua viagem pioneira e Cristóvão Colombo chegara à América com
apenas três -, Cabral saiu no dia 8 de março com treze embarcações e mil e quinhentos
homens. E trazia apenas uma recomendação do rei português, dom Manuel: afastar-se o
máximo possível das águas conhecidas para descobrir um caminho mais rápido para as Índias.

Desse afastamento resultou á vista de inequívocos sinais de terra, a 21 de abril. No dia


seguinte pela manhã avistaram um monte; como era a semana da Páscoa, chamaram- no de
Monte Pascoal. O porto era seguro. No dia 23 seguiram os primeiros contornos e descobriram:
não estavam nas Índias, porque os tradutores que conheciam a língua do Oriente não
entenderam o que os habitantes da terra falavam. Estava descoberta a Ilha de Vera Cruz,
depois Terra de Santa Cruz e, finalmente, Brasil. Decidiram continuar viagem em 1° de maio
para as Índias. Uma nau voltou a Portugal anunciando a nova terra descoberta.

NA POESIA A VERDADE DO "MAR PORTUGUÊS":

“Ó Mar Salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Se a alma não é pequena.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas
ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar”!

Os versos do poeta português Fernando Pessoa revelam a força do Atlântico para a


vida dos portugueses. O lema da Escola de Sagres e dos navegantes de mares tão
desconhecidos e arriscados era: 'Navegar é preciso, viver não é preciso. Navegar era preciso
para o enriquecimento do rei e da burguesia mercantil. Viver não era preciso. Preciso era
trazer ouro, prata, diamantes, canela, cravo, açúcar para o poder de Portugal, ainda que isso
custasse a vida de muitos navegantes.

OURO E COMÉRCIO NA RIQUEZA DA EUROPA:

No século XVI, Organização dos estados Nacionais:

 A maior quantidade possível de ouro e prata constituiria a base da riqueza de um país;


 O aumento da exportação de mercadorias permitiria acúmulo dos metais preciosos, ou
seja, levaria a uma balança comercial favorável;
 O protecionismo aos produtos nacionais deveria impedir a entrada de mercadorias
iguais ou semelhantes àquelas que o país possuísse;
 A transformação das matérias-primas em manufaturas estimularia o industrialismo;
 O estabelecimento de colônias para a produção de matérias-primas baratas e a
exploração de ouro e prata ajudariam a suprir as necessidades das metrópoles;
 O Pacto Colonial (as colônias só podiam comerciar com sua metrópole) e a criação de
Companhias de Comércio garantiam o monopólio comercial do sistema colonial. A
prática desses princípios ficou conhecida como política mercantilista ou mercantilismo.
A burguesia comercial era economicamente responsável pelas transações mercantis,
cujos lucros fortaleceram o poder dos Estados Nacionais. O lema do mercantilismo
poderia ser: ouro, poder e glória, ou seja, riqueza, domínio e prestígio... O sistema de
governo baseado economicamente no mercantilismo era o Estado absolutista - o rei,
apoiado pela burguesia comercial, centralizava o poder. O comércio monopolista
(exclusivista) promovido pelo rei e burguesia exigia que estes controlassem suas
mercadorias não só em suas nações como também em outras. Essa prática gerou
guerras na disputa de territórios comerciais entre os países europeus. A conquista de
colônias tornava-se essencial para o equilíbrio econômico-financeiro das nações
europeias, pois as colônias poderiam produzir as matérias- primas inexistentes nas
metrópoles. Além disso, os territórios colonizados consumiriam as manufaturas
produzidas nas metrópoles.

COLÔNIAS DE EXPLORAÇÃO E DE POVOAMENTO:

Nas colônias de povoamento a economia era organizada para atender aos interesses
dos colonos, que abandonaram seus países de origem por motivos de perseguição política ou
religiosa, ou por condições subumanas de sobrevivência.
Não se deve pensar, no entanto, que se tratava de colônias em que prevaleciam os
interesses dos colonizados... Através das colônias de povoamento, o que se visava era a
ocupação territorial, ao mesmo tempo em que se tentava resolver os problemas sociais,
políticos e econômicos das populações pobres da Europa, permitindo-lhe novas alternativas de
sobrevivência.
Quanto às colônias de exploração, foram organizadas com a finalidade de suprir a falta
de matérias-primas da metrópole. Aqui, a economia obedecia ao que se costumou denominar
de Pacto Colonial, que subordinava integralmente à metrópole toda transação comercial
(exportação e importação) das colônias. Ou seja, os colonizadores extraíam toda a matéria-
prima possível das colônias e as obrigavam a importar seus produtos manufaturados.
As colônias de exploração fundamentavam sua economia na extração de metais ou na
produção de qualquer gênero agrário, de alto valor mercantil, para ser vendido nos mercados
europeus. Produção em latifúndio, especialização em um único produto agrícola
(monocultura), emprego de mão-de-obra escrava eram as características desse modelo
colonial.
Entender o modelo de colônias de exploração é fundamental, pois ele caracteriza todo
um conjunto de colônias, exploradas pelos europeus em várias regiões (África, Ásia e América),
que permitiriam o crescimento da acumulação de capitais gerados pelas atividades mercantis
monopolistas.
O monopólio da compra dos produtos coloniais permitia à burguesia mercantil adquiri-
los a preços baixos. Os lucros eram enormes, pois essas mercadorias eram vendidas a preços
vantajosos no continente europeu.
As práticas mercantilistas deram origem à economia pré-capitalista, que se
desenvolveu principalmente nos séculos XVI, XVII até fins do século XVIII. A acumulação de
capitais comerciais pelas práticas dos mercantilistas foi responsável pela transição do processo
produtivo de manufaturas para o desenvolvimento industrial, característico da economia
capitalista.

AÇÚCAR: O OURO DO BRASIL, ORIENTE LUCRATIVO:

Portugal era um exemplo desse modelo mercantilista. A partir da viagem lucrativa de


Vasco da Gama, em 1498, os navegadores portugueses estabeleceram acordos com
mercadores da Índia para obter a exclusividade no comércio das especiarias. Através de
guerras colonialistas os portugueses conseguiram garantir o comércio dos produtos orientais.
Ouro da África e do Oriente, escravos africanos para a produção açucareira das ilhas do
Atlântico, artigos de luxo (perfumes, sedas, tapetes) do Oriente, socorro à escassez de cereais
do reino português e da Europa eram alguns objetivos lusitanos no início do século XVI.
Nos primeiros trinta anos após a descoberta do Brasil, Portugal desinteressou-se pela
Terra de Santa Cruz e quase a abandonou, pois as especiarias e as manufaturas de luxo do
Oriente eram mais lucrativas. Homens e dinheiro eram decisivos para o domínio militar e o
combate aos árabes no controle comercial do Oriente. Isso fazia com que pouco sobrasse para
investir na nova terra.
Além disso, os portugueses não haviam encontrado no Brasil nem ouro nem prata, ou
outro produto que pudesse ser comercializado no mercado europeu. Mesmo assim, houve
várias expedições de reconhecimento do litoral brasileiro. Numa delas, os navegadores
descobriram grande quantidade de pau-brasil na Mata Atlântica.
Essa madeira já era conhecida pelos europeus, que a utilizavam como corante na
indústria têxtil. Até então, o produto vinha do Oriente. O rei de Portugal firmou um contrato
com mercadores para a exploração do pau-brasil nas novas terras.
O Estado português comprometeu-se com os mercadores a não importar mais pau-
brasil do Oriente. Em troca, eles deveriam enviar navios ao Brasil, construir e manter aqui uma
fortaleza e pagar impostos à Coroa. Assim nasceram os 'brasileiros" - nome dado aos
comerciantes do pau-brasil.

BRASIL: OCUPAÇÃO OU PERDA?

Depois que os espanhóis encontraram ouro e prata em suas possessões nas Américas,
a França resolveu também enviar navios ao Brasil e aqui disputar com Portugal a procura de
metais preciosos. As expedições francesas ao litoral brasileiro provocavam protestos dos
portugueses, que reclamavam o acordo estabelecido no Tratado de Tordesilhas. O rei da
França - Francisco I - respondeu ao rei português que a França deixaria o litoral do Brasil se
Portugal apresentasse o "Testamento de Adão", em que constasse a doação das terras do
Novo Mundo aos espanhóis e portugueses...
Diante de tais ameaças, Portugal decidiu-se, a partir de 1530, a ocupar
economicamente o Brasil, colonizando-o. Além das ameaças europeias ao Brasil, o comércio
das especiarias no Oriente estava enfraquecendo. A concorrência de outras nações da Europa,
os altos custos militares e de transporte, a enorme distância entre a Índia e Portugal e
principalmente a diminuição dos lucros mercantis foram os fatores decisivos para os lusitanos
optarem pela exploração comercial da colônia brasileira. Por ordem de dom João III, a
expedição de Martim Afonso de Sousa ao Brasil, em 1530, visava expulsar os franceses do
litoral, observar e relatar cuidadosamente as características geográficas da nova terra e fundar
povoamentos.
São Vicente (no atual litoral paulista) foi a primeira vila brasileira, fundada em 1532.
Após o relatório de Martim Afonso, que mostrava a viabilidade da colonização, e tendo em
vista a falta de capital da Coroa, o rei decidiu entregar as despesas da colonização à iniciativa
privada.
A divisão da terra em capitanias hereditárias foi o esquema encontrado pela Coroa
portuguesa para a ocupação colonial. Eram quinze faixas lineares de terras, entregues a doze
proprietários, incumbidos de montar engenhos de açúcar, de pagar ao rei um quinto dos
metais preciosos encontrados, e, em troca, o donatário (proprietário da capitania) poderia
vender pau-brasil e índios em Portugal. A posse da terra era garantida pela Carta de Doação e
pelo Foral.
Os donatários eram capitães com poder de fazer leis, administrar a produção e a renda
das capitanias. Esses poderes eram bastante amplos; no entanto, o sistema de capitanias não
foi feudal, a mão-de-obra era escrava e a produção visava o mercado externo. A economia da
colônia funcionava de acordo com o comércio internacional.
O sistema de capitanias hereditárias foi adotado no Brasil devido ao êxito obtido com
um esquema semelhante na produção de gêneros agrários nas ilhas de Açores, Madeira, Cabo-
Verde, Porto Príncipe e em Angola (todos territórios portugueses no Atlântico). No Brasil, as
capitanias tiveram pouco resultado. A falta de recursos financeiros foi a principal causa do
fracasso; de resto, a maioria dos donatários nem veio ao Brasil para assumir a colonização.
O fracasso das capitanias determinou a necessidade de substituir a política
descentralizada por um centro de unidade política e administrativa. Assim, em 1548, foi criado
o Governo Geral. Tomé de Sousa foi o primeiro governador, com a função primordial de ajudar
os capitães donatários na produção agrícola.
Ao governador geral cabia também combater tribos indígenas rebeldes aos
colonizadores, realizar buscas de jazidas de ouro e prata pelo interior e construir navios para a
defesa territorial. Os governadores gerais pouco puderam fazer para estimular a produção e
defender as terras brasileiras, dada a enorme extensão territorial e os parcos recursos
financeiros que a Coroa enviava.
O poder de fato estava nas mãos dos proprietários de terras - os chamados senhores
coloniais -, donos das fazendas de açúcar, movidas a trabalho escravo. Essa classe social
detinha, na prática, o poder local através dos municípios, organizados em câmaras. Nestas,
reuniam-se os 'homens bons', isto é, homens de propriedades, para as decisões políticas,
administrativas e econômicas do município. Nelas ainda se decidia sobre a declaração de
guerra e paz com índios, arrecadação de impostos, catequese, abastecimento de mão-de-obra
escrava (negros e índios) para as fazendas.

ÊXITO AÇUCAREIRO GARANTE COLONIZAÇÃO:

A decisão de colonizar a nossa terra estava intimamente associada à escolha do cultivo


de um gênero agrário que trouxesse elevados lucros à Coroa. A ausência de metais preciosos,
os baixos recursos obtidos com a extração do pau-brasil e o declínio do comércio de
especiarias no Oriente exigiram uma opção agrícola lucrativa. O açúcar foi a escolha
portuguesa para o projeto colonizador.

A produção açucareira oferecia várias vantagens:

a) As boas experiências produtivas dos portugueses com o açúcar cultivado nas ilhas de Açores
e Madeira;
b) O pequeno tempo gasto entre a produção e a comercialização do produto, em relação aos
outros gêneros, permitia que o capital empregado, embora elevado, tivesse retorno rápido;
c) O mercado europeu era garantido porque não haveria concorrentes;
d) A grande quantidade de terras disponíveis no Brasil, com solo tipo massapê favorável a essa
cultura.

A organização da produção açucareira obedeceu ao esquema de plantation: produção


agrícola baseada no latifúndio (grande propriedade), monocultura (somente produção de
açúcar), com mão-de-obra escrava, voltada exclusivamente para o mercado externo.

NEGRO: CAÇADO COMO ANIMAL PARA O TRABALHO ESCRAVO:

A mão-de-obra escrava constituiu outro fator de lucratividade para a burguesia


mercantil metropolitana. O negro africano era vendido como mercadoria e as classes
burguesas traficantes obtiveram com ele altos rendimentos.
Como o objetivo da colonização não era favorecer o desenvolvimento de um mercado
interno, o uso da mão-de-obra escrava cumpria a finalidade mercantilista: produzir para o
mercado externo, em benefício da metrópole. O negro ou era caçado como animal pelos
comerciantes portugueses com o uso da violência ou trocado com os chefes das tribos por
produtos de pouco valor, como fumo, armas de fogo etc.
Nos porões dos navios negreiros (os chamados tumbeiros) a viagem era difícil, havia
pouca comida (em geral, banana e água). Eram comuns as epidemias, que chegavam a matar
metade dos prisioneiros.
A vida dos negros nas colônias era ainda mais cruel que as viagens. Submetidos, em
média, a catorze horas de trabalho diário, poucos sobreviviam mais que cinco a doze anos.
Plantio da cana, colheita, moagem eram as atividades cotidianas. "Os negros são as mãos e os
pés dos senhores de engenho." Essa frase do jesuíta Antônio - que escreveu sobre as
condições sociais, econômicas e políticas do período colonial - expressa a dependência total
que os proprietários dos engenhos tinham em relação aos escravos africanos.

AÇÚCAR, O NEGÓCIO DOS FLAMENGOS:

A montagem do empreendimento açucareiro no Brasil contou com o financiamento


dos holandeses, pois a burguesia mercantil lusitana estava em crise financeira em decorrência
do declínio do comércio de especiarias, nas primeiras décadas do século XVI. Não havia
disponibilidade de capitais para bancar a empresa agrícola açucareira. Então, maquinaria para
os engenhos (moenda - conjunto de peças de ferro para triturar o açúcar), instrumentos como
a enxada e a foice, bem como o tráfico de negros, eram financiados pelos flamengos
(holandeses).
A Portugal ficava a tarefa de produzir o açúcar na colônia brasileira. O açúcar saía
daqui na forma de rapadura ou melaço. Comerciantes portugueses vendiam esse açúcar para
os batavos (holandeses), que executavam o refino do melaço (transformação em pó, açúcar
mascavo), comercializavam e distribuíam o produto na Europa.
Assim, as técnicas de produção do açúcar eram dominadas pelos portugueses, mas o
refino e o domínio comercial dos mercados europeus pertenciam aos holandeses. Como, pelas
leis mercantilistas, a atividade comercial era muito mais lucrativa que a atividade produtora,
podemos afirmar que "o negócio do açúcar foi, em resumo, mais flamengo que português".
(Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina).
Em 1578, dom Sebastião, o rei de Portugal, desapareceu numa batalha contra os
muçulmanos, em Alcácer-Quibir, território africano, e deixou vago o trono lusitano. Filipe II, rei
da Espanha e primo de dom Sebastião, reclamou a herança da Coroa portuguesa. No entanto,
subiu ao trono de Portugal o cardeal dom Henrique, tio de dom Sebastião e de Filipe II. Tropas
espanholas invadiram Portugal e depuseram dom Henrique. Em 1580, Filipe II proclamou a
União Ibérica.
A união de Portugal à Espanha durou sessenta anos (1580-1640). A União Ibérica, sob
o reinado de Filipe II, proibiu a venda do açúcar brasileiro para os holandeses. Proibia-se
também aos flamengos realizarem qualquer atividade mercantil em portos portugueses de
todo o mundo. Tropas espanholas controlaram com a força das armas os portos de Portugal,
para impedir as possíveis transações comerciais holandesas.
A burguesia flamenga reagiu: contratou piratas para realizar ataques-surpresa às
tropas luso-espanholas, visando romper o bloqueio econômico da União Ibérica. Além disso, os
holandeses criaram duas companhias de comércio: a Companhia das Índias Orientais e a
Companhia das Índias Ocidentais. A primeira se encarregava do comércio na Malásia e nas
Ilhas Molucas (ambas na Ásia). As atividades da segunda você conhecerá a seguir.

BRASIL HOLANDÊS:

Apesar da reação flamenga, o embargo espanhol conseguiu desmantelar o comércio


açucareiro holandês na Europa. Por isso, a Holanda decidiu invadir o Brasil: tentava buscar o
açúcar diretamente na fonte produtora, a fim de recuperar seu comércio.
A primeira invasão, realizada sob a responsabilidade da Companhia das Índias
Ocidentais, ocorreu em Salvador, na Bahia, no ano de 1624. O bispo dom Marcos Teixeira, no
entanto, organizou a resistência: mobilizou a população de negros, índios e brancos pobres,
convencendo-os a lutar contra o invasor "protestante, infiel e satânico". Os holandeses
perceberam que dominar a capital da colônia (Salvador) não garantiria a retomada do
comércio açucareiro, pois o centro econômico da colônia não era a Bahia, mas Pernambuco.
Por isso, a segunda invasão aconteceu em Pernambuco (Recife e Olinda), a maior região de
produção açucareira, em 1630. É possível distinguir três fases nessa invasão:

 1630 a 37 - fase da conquista.


 1637 a 44 - fase da acomodação.
 1644 a 54 - fase da expulsão.

Na fase da conquista, os holandeses enfrentaram resistências dos colonos, mas


obtiveram a ajuda do português Domingos Fernandes Calabar, que levou os flamengos a obter
importantes vitórias.
Na fase da acomodação, a administração holandesa ficou a cargo do conde Mauricio
de Nassau, que ofereceu aos proprietários de engenho empréstimos para recuperarem as
plantações, maquinaria e escravos.
Nassau soube conviver com os colonos católicos, autorizando construções de igrejas e
respeitando seus dias sagrados. Promoveu também construções de palácios, pontes, além de
trazer cientistas europeus com o objetivo de estudar a terra tropical para melhor dominar as
diferenças geográficas e econômicas, tornando mais eficiente à exploração do Brasil. Nassau
procurou uma convivência pacífica com os colonos, conforme convinha aos objetivos da
Companhia das Índias Ocidentais, da qual era um dos investidores. A habilidade política de
Nassau como governador teve como resultado a retomada da produção a níveis melhores que
os da fase de conquista, conseguindo assim aumentar as áreas de plantação.
A partir de 1640, Portugal, auxiliado pela Inglaterra, recuperou a autonomia em
relação à Espanha, após sucessivas guerras. Os ingleses estavam interessados em monopolizar
o fornecimento de manufaturas aos portugueses.
O rei português assinou, então, um acordo com os holandeses, permitindo-lhes
permanecerem no Brasil por mais dez anos (até 1650). Em troca, os holandeses continuaram a
financiar a produção do açúcar. Entretanto, começa a haver, nessa época, um declínio da
economia holandesa, cuja causa principal foi a guerra entre católicos (sob a liderança da
Espanha) e protestantes (liderados pela Holanda). Na verdade, essa luta, aparentemente
motivada por razões religiosas, nasceu como disputa entre a nobreza feudal (catolicismo
espanhol) e a burguesia (protestantismo holandês).
O conflito durou de 1618 a 1648 Por isso recebeu o nome de "Guerra dos 30 anos".
Nesse período intensificou-se a luta holandesa pela conquista definitiva da independência em
relação à Espanha.
A Holanda buscou obter o máximo de recursos financeiros para enfrentar a crise:
elevou a produção e os impostos açucareiros, não tolerou atraso no pagamento dos
empréstimos e aumentou os juros dos empréstimos aos colonos brasileiros, governados por
Nassau. O governador holandês sabia dos problemas de produção, equipamentos e capitais
dos senhores de engenho.
Havia muitas dificuldades na colônia apesar da confiança e do crédito pessoal
conquistado por Nassau ao longo dos sete anos de administração colonial no Brasil,
entretanto, as novas exigências da Holanda impossibilitavam a Nassau a manutenção de sua
habilidosa política de convivência com os colonos. Alertou então os holandeses, mostrando
que a nova orientação econômica provocaria lutas armadas dos colonos contra os flamengos.

EXPULSÃO E CRISE:

A fase de expulsão dos holandeses iniciou-se com a saída de Nassau do Brasil. Uma
junta de três holandeses substituiu-o na administração da colônia. A junta seguiu as
orientações recusadas por Nassau. O resultado deste procedimento foi a reação imediata dos
colonos, organizando resistência armada e conseguindo a expulsão dos holandeses. Em 1654,
a Holanda aceitou a perda da guerra, assinando a rendição da Campina da Taborda.
Mais tarde, em 1661, os holandeses assinaram o acordo da Paz de Haia, reconhecendo
o domínio português sobre o Nordeste brasileiro e a região africana de Angola. Em troca, os
portugueses aceitaram a dominação holandesa em suas possessões do Oriente e pagaram uma
indenização de quatro milhões de cruzados (moeda portuguesa) à Holanda.
A Inglaterra, que já se impunha como nova potência marítima, serviu de intermediária
nos acordos entre flamengos e lusitanos. Com isso, passou a influenciar Portugal, com quem
estabeleceu uma aliança econômica e política.
Através dessa aliança, a Inglaterra torna-se o principal fornecedor de manufaturas
inglesas às colônias portuguesas. Quebra-se o domínio comercial holandês e os britânicos
substituem os flamengos enquanto grande potência pré-capitalista.
Em troca do apoio a Portugal ; a Inglaterra ficou com os domínios portugueses de
Tânger (África) e Bombaim (Ásia), e a permissão para o trânsito de mercadores ingleses no
comércio português da Índia. Por esse acordo, que culmina com o casamento entre a princesa
Catarina (portuguesa) e o rei Carlos II (inglês), Portugal recebeu da Grã-Bretanha dois milhões
de cruzados, suficientes para quitar metade da indenização prometida à Holanda. Pela outra
metade, os portugueses tiveram de pagar juros em libras aos britânicos.
A partir do século XVII, após a expulsão dos holandeses, o Brasil tornou-se a mais
importante colônia portuguesa. Isso porque a Coroa lusitana perdera pontos comerciais
importantes nos acordos com a Holanda e a Inglaterra, tendo que voltar- se integralmente à
exploração econômica na colônia brasileira.
A partir da segunda metade do século XVII, os holandeses levaram a tecnologia da
produção de açúcar, aprendida no Brasil, para seus domínios nas Antilhas (ilhas do Caribe), na
América Central e na Guiana Holandesa (fronteira com o Amazonas). O açúcar brasileiro
passou a ter como concorrente o açúcar flamengo, mais barato, porque os holandeses não
dependiam de capital estrangeiro, o que ocorria com Portugal em relação ao capital inglês.
Além disso, os preços do açúcar sofreram uma queda geral no continente europeu,
provocada pela diminuição da atividade das minas de ouro e prata na América espanhola.
Como resultado, faltavam moedas no mercado, o que levou ao declínio da produção
açucareira do Brasil.

SERTÃO: OS CAMINHOS DO GADO. O GADO PENETRAVA E OCUPAVA O INTERIOR:

A economia agro-açucareira foi a base da colonização na América portuguesa, nos


séculos XVI e XVII, e o gado dava sustentação local ao açúcar. A criação bovina foi um dos
fatores decisivos para a penetração e conquista do interior brasileiro - especialmente o
Nordeste.
É possível distinguir três fases da pecuária colonial. A primeira iniciou-se logo após a
Descoberta, em 1533, estendendo-se até o começo do século XVII. Engenho e curral faziam
parte do latifúndio canavieiro. O gado alimentava a população das fazendas e era usado como
força de tração na moagem da cana, além de transportar as caixas de açúcar aos locais de
embarque no litoral.
A segunda fase inicia-se nas primeiras décadas do século XVII, com a necessidade de
mais terras cultivadas para atender ao crescimento da produção açucareira. A criação de gado
amplia-se rumo ao interior, além dos limites agrícolas. Isso ocorreu desde as primeiras décadas
do século XVII até por volta de 1660. Nessa época diminui a produção canavieira, provocada
pela concorrência do açúcar antilhano-holandês, e o gado começa a ser uma alternativa
econômica para a crise. A característica marcante dessa etapa é a separação, na mesma
fazenda, entre as áreas de cultivo e as de pecuária.
A terceira fase caracteriza-se por uma separação definitiva entre a pecuária e a
agricultura. A atividade de criação de gado interiorizou-se pelo sertão.
Ampliam-se os rebanhos e as pastagens, marcando duas áreas bem distintas:
enquanto o sertão era pastoril, o litoral era agrícola. Apareceram as feiras de gado localizadas
entre as áreas pastoris e as áreas agrícolas.
Os sertanejos levavam sua produção às feiras que, com o tempo, foram se
transformando em cidades. Esse período vai da segunda metade do século XVII até fins do
século XVIII. Enfrentando pastos escassos, curtos períodos de chuva, clima quente e seco, o
gado penetrava o interior, ocupando as regiões dos futuros Estados brasileiros.
Duas correntes de penetração partiram dos principais centros de atividade açucareira:
a baiana, formando os contornos dos cinco "sertões de dentro" uma área correspondente aos
atuais Estados da Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão. A corrente pernambucana acaba formando
os "sertões de fora", a região que hoje corresponde aos limites dos Estados da Paraíba, Rio
Grande do Norte, Pernambuco e parte do Ceara e Piauí. Essas correntes seguiam o curso dos
rios, para provisão de água.
Em Alagoas, Ceará e, principalmente, no Rio Grande do Norte, desenvolveu-se o
extrativismo do sal, criando uma outra opção econômica no século XVIII para os nordestinos, É
desse período do século XVIII a criação da 'carne-do-ceará' isto é, da carne seca, ou carne-de-
sol, charqueada no sal ou no sol.
O charqueamento da carne contribuiu para a penetração no interior da colônia pois
possibilitava percorrer distâncias maiores. Os homens poderiam saciar a fome durante vários
dias, porque as carnes charqueadas conservavam-se por longos períodos. Esse fato permitiu o
surgimento de uma outra atividade comercial voltada para o mercado interno, no qual se
integrava a economia da mineração.

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