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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007

Controle próprio de atividades ou terceirização: Um estudo na


indústria de confecções à luz da teoria dos custos de transação
Sergio Evangelista Silva (UEMG/Passos) silvaevangeista@passosuemg.br
Flávio C. F. Fernandes (UFSCar) dfcf@power.ufscar.br

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar as decisões sobre a abordagem a se adotar nas
atividades relacionadas ao processo produtivo de três manufaturas de confecções. As
abordagens consideradas são manter a atividade sob responsabilidade própria, terceiriza-la
ou integrá-la verticalmente. Esta análise é feita com o auxílio da teoria dos custos de
transação. Os dados coletados nas empresas permitem perceber que não são apenas as
decisões econômicas imediatas que influenciam a decisão de como realizar determinada
tarefa, mas também aspectos relacionados ao risco envolvido na decisão; é possível a
coexistência na indústria com diferentes níveis de eficiência, graças à complexidade do
mercado; e que a posição de um determinado agente dentro de uma cadeia produtiva lhe
permite maior eficiência do que outros agentes de outras posições, não apenas pela sua
especialização, mas também pela sua capacidade de melhor se relacionar com empresas de
outros elos.

Palavras-chave: Integração vertical; Terceirização; Custos de transação.

1. Introdução
O atual ambiente competitivo faz com que as empresas busquem constantemente
meios para o aumento da competitividade. Estes esforços muitas vezes se concretizam sob a
mudança na organização das atividades produtivas, em que a empresa pode aumentar, ou
diminuir sua responsabilidade sobre o controle de determinadas operações. O desafio
encontrado pelo gestor nesta questão está em encontrar informações que permitam saber com
precisão qual a melhor alternativa a ser escolhida. Em relação ao controle das atividades
produtivas, a empresa possui duas alternativas extremas, transferir parte de suas atividades
para terceiros, o que é conhecido como terceirização, ou incorporar além das atividades que
são responsabilidade direta da indústria, outras atividades normalmente responsabilidade de
indústrias adjacentes; fenômeno conhecido como integração vertical.
Um arcabouço teórico importante para se entender melhor os processos de integração
vertical e terceirização é a teoria dos custos de transação, uma vez que permite compreender
os elementos conceituais da formação de custos da empresa, e sua relação com o aumento ou
diminuição da escala produtiva.
Este artigo tem como objetivo analisar as decisões de manufaturas de confecções
quanto à terceirização ou manutenção das atividades produtivas sob a própria
responsabilidade à luz da teoria dos custos de transação. Foram investigadas três empresas
fabricantes de confecções de pequeno e grande porte, localizadas no arranjo produtivo local
(APL) de Passos, interior de Minas Gerais. A seção 2 apresenta uma revisão sobre a teoria dos
custos de transação; na seção 3, é apresentada uma visão geral sobre a indústria de confecção
e do APL de Passos; na seção 4 são apresentados os aspectos metodológicos da pesquisa; na
seção 5 são apresentados os estudos de caso, com a análise de resultados realizada na seção 6;
por fim na seção 7 são apresentadas as conclusões e na seção 8 as referência bibliográficas.
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2. Revisão sobre a teoria dos custos de transação


A teoria dos custos de transação tem como um dos principais precursores Ronald
Coase, que em seu artigo “The Nature of Firm” (COASE, 1937) lança os seus principais
conceitos. Fiani (2002) afirma que a questão básica de Coase neste artigo é responder uma
questão, que embora básica até aquele momento não tinha sido respondida pelos economistas.
Porque as empresas existem? O próprio Coase apresenta as seguintes questões: Porque os
indivíduos se organizam em empresas, em que uns se submetem ao comando de outros para a
produção de bens e serviços? Ele justifica que fora dos limites da empresa são os preços que
dirigem a atividade produtiva, que é coordenada por uma série de relações de troca entre os
agentes do mercado. O autor afirma que, portanto, deve haver um custo em se utilizar os
mecanismos do mercado. Já dentro dos limites da empresa os custos de transação do mercado
são eliminados, posto que a complexa estrutura de transações entre os agentes é substituída
por uma estrutura mais simples, de prazo mais duradouro sobre o comando do empreendedor,
o que elimina os custos de contrato de curtíssimo prazo.
Williamson (1981) afirma que a teoria dos custos de transação está relacionada às
literaturas econômica, da organização empresarial e jurídica. De acordo com este autor os
custos de transação surgem das fricções entre diferentes agentes econômicos quando estes
realizam suas operações de compra e venda de bens e serviços. Estes custos podem ser
mínimos quando as partes se relacionam de modo harmonioso, ou podem ser altos em
situações em que os objetivos são conflitantes. Williamson (1981) afirma que diferente da
visão do homem econômico, lançada por Adam Smith, que via o homem como um agente que
tomava suas decisões sempre baseado no interesse próprio e com máxima racionalidade, a
teoria dos custos de transação se apóia na racionalidade limitada, conceito este lançado
posteriormente a Coase (1937) por Herbert Simon em “Administrative Behaviour” (ver
SIMON, 1970), em que este autor reconhece uma série de fatores que restringem a
racionalidade humana e conclui que os processos decisórios humanos têm sua eficiência
limitada por vieses e imperfeições.
Williamson (1981) afirma que a complexidade da realidade econômica, juntamente
com as limitações da racionalidade, permite considerar a hipótese de que pelo menos alguns
agentes agirão com oportunismo nas suas transações, ou seja, buscarão muitas vezes, à custa
do prejuízo da outra parte, o máximo benefício próprio. Em um texto posterior Williamson
(1985) afirma que a possibilidade de atitudes oportunistas, aliada a impossibilidade de se
perceber a priori a intenção dos agentes, leva os agentes a buscarem estabelecer garantias que
assegurem a correta execução da transação, o que inevitavelmente gera custos de contrato.
Além da racionalidade limitada e dos oportunismos entre os agentes econômicos
Fiani (2002) apresenta a especificidade dos ativos como importante fator de influência sobre
os custos de transação. Esta especificidade ocorre quando ao mesmo tempo uma pequena
quantidade de agentes está habilitada a fornecer e a adquirir determinado insumo, o que torna
as duas partes dependentes entre si, em que atitudes oportunistas podem causar grandes danos
sobre o desempenho da outra parte. Neste caso os agentes se esforçarão para estabelecer
contratos que resguardem sua segurança no longo prazo, o que conseqüentemente aumentam
os custos de transação.
Azevedo (1998) afirma que o que determina o tamanho de uma empresa é a forma
com que ela realiza as transações de modo alternativo ao mercado. Se à medida que aumenta
o volume produzido, a execução das atividades intra-firma permite menores custos do que
obtê-las do mercado, o tamanho da empresa tende a aumentar. Por outro lado se à medida que
o volume aumenta os custos tornam-se maiores do que os da execução das atividades no
mercado, estas atividades tenderão a ser transferidas para o mercado e conseqüentemente o
tamanho da empresa tende a diminuir. Assim, a decisão de manter ou terceirizar uma
atividade, considerada do ponto de vista estritamente econômico, deve-se levar em conta
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justamente a relação entre os custos de se realizá-la na empresa versus a sua obtenção do


mercado. Esta é a lógica empregada por Williamson (1981) num exemplo esquemático em
que avalia a decisão de uma empresa em incorporar atividades a montante e a jusante da
cadeia produtiva.
Embora o estudo dos autores citados anteriormente permita compreender de forma
lógica as situações que levam as indústrias a concentração ou a ocorrência de grande
quantidade de agentes, torna-se necessário identificar os fatores levam a um ou outro estado.
Uma análise inicial desta situação pode se basear nos seguintes fatores propostos: nível de
incorporação de tecnologia ao longo do tempo; nível de ganho de eficiência pelo domínio do
conhecimento da indústria ao longo do tempo; ganho de eficiência do uso de equipamento em
relação ao uso de mão-de-obra; e nível de custo gerado por ações oportunistas de outros
agentes.
Industriais cujo desenvolvimento tecnológico próprio ou em indústrias adjacentes
levam a ganhos de eficiência, certamente darão vantagem às empresas atuantes na indústria
em relação a outras formas alternativas, o mesmo ocorre se à medida que opera no mercado a
empresa adquire conhecimento e experiência que lhe permitem obter ganhos crescentes de
eficiência, em que um novo entrante, ou outra forma alternativa de produção não seria capaz
de adquirir. Estas propriedades estão particularmente presentes na indústria automobilística,
como pode ser visto em Womack & Jones (1992) esta indústria possuía na Europa e EUA no
início do século XX grande quantidade de agentes, e que graças aos ganhos de eficiência
inerentes às atividades da indústria, fez com que aqueles mais eficientes levassem a indústria
à concentração que ela se encontra atualmente. Tomando dois exemplos clássicos, as
empresas Ford e General Motors, comandadas respectivamente por Henry Ford e Alfred
Sloan se notabilizaram respectivamente por desenvolverem uma nova tecnologia de produção
– Henry Ford introduziu a produção do automóvel em alta escala, com grande número de
divisões de tarefas, auferindo assim imensos ganhos de produtividade – e Alfred Sloan
desenvolveu uma nova estratégia de relacionamento com o mercado, oferecendo ao cliente
ampla variedade de produtos e inovação de modelos ao mesmo tempo. Desta forma, estes dois
exemplos de empresas que dentre as muitas outras que existiam nos EUA do início do século
XX, graças ao seu maior nível de eficiência conseguiram tirar do mercado ou incorporar as
menos eficientes.
Em indústrias em que o emprego de equipamentos permite ganhos superiores aos
conseguidos pela mão-de-obra tenderão do mesmo modo à concentração. Isso pode ser
observado em uma série de indústria de commodities (ex. siderurgia, extração mineral,
cimento, etc...). A situação contrária, em que não existem ganhos expressivos do uso de
equipamentos em substituição a mão-de-obra, é altamente convidativa a livre iniciativa de
novos empreendedores, como ocorre nas indústrias de confecção, calçadista, dentre outras.
Indústrias em que o custo de ações oportunistas tende a ser extremamente
prejudiciais para os agentes contratantes também possuem forte incentivo à concentração,
neste caso o que se encontra em jogo não é o custo de se realizar a atividade via empresa, ou
outra forma alternativa de produção, mas sim o nível de risco ou incerteza envolvido na
transação e as suas conseqüências, neste caso os agentes buscarão minimizar seus riscos
executando as suas transações com agentes, cujo tempo de atuação e reputação no mercado
são altos, o que certamente favorece a constituição da empresa em relação a outros tipos
alternativos.

3. Uma visão geral da indústria de confecções e do APL de Passos


Como afirmam Buxey (2005), Harfield & Hamilton (1997) dentre outros autores a
indústria de confecções é uma indústria baseada em uso intensivo de mão-de-obra e
tecnologia padronizada. A existência de tênues barreiras a entrada faz com que esta indústria
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possua uma imensa quantidade de agentes, como pode ser observado em Oliveira & Ribeiro
(1996). No Brasil várias são as regiões produtoras de confecções, dentre as quais destacam
Romero et al (1994) as cidades de Caxias do Sul, Divinópolis, Juiz de Fora, São Paulo, e do
Vale do Itajaí, dentre outras.
O APL de Passos consiste num pequeno aglomerado de empresas de confecções,
situado no interior de Minas Gerais. Este aglomerado possui cerca de 90 manufaturas de
confecções, cuja imensa maioria é de pequeno ou micro porte. Um traço importante neste
APL é a presença de um grande número de ateliês de montagem de confecção, que são
empresas que recebem normalmente o tecido cortado pela manufatura e fazem a sua
montagem.
As fases comumente presentes no processo de produção da confecção, podendo
variar de acordo com o tipo de roupa, são segundo as empresas entrevistadas: o corte, em que
o tecido é cortado em várias partes, segundo o molde da roupa que será produzida; a lavagem,
que consiste no tingimento do tecido e impressão de detalhes variados; a estamparia, em que
são impressos figuras no tecido; o bordado, em que são gravadas figuras no tecido com o uso
de linha; a montagem, em que as peças de tecido são unidas, dando forma à confecção, e o
acabamento, em que são realizados detalhes e é feito o processo de inspeção da qualidade da
mesma.

4. Metodologia
Um a vez que este artigo tem como objetivo analisar as decisões de manufaturas de
confecções, quanto à terceirização, ou manutenção das atividades sob a própria
responsabilidade, à luz da teoria dos custos de transação, foi utilizado o estudo de caso como
delineamento de pesquisa. Gil (2002) explica que estudos de caso permitem o profundo
estudo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado
conhecimento. Os aspectos que Yin (1994) afirma serem adequados ao uso de estudos de caso
e que estão presentes na realidade desta pesquisa são: o pesquisador possui pouco controle
sobre os fenômenos estudados, não existe distinção clara entre o fenômeno estudado e o seu
contexto; os resultados a serem atingidos poderão apresentar contribuição teórica. Embora o
uso de estudos de caso não seja passível de generalização este tipo de delineamento se mostra
bastante consistente com o tipo de discussão realizada neste artigo. O que permitirá
compreender melhor os meios utilizados pelas empresas de confecção na busca de maior
eficiência.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista estruturada, que segundo os
moldes de Chizzotti (1991) consiste num roteiro de perguntas previamente estabelecidas.
Foram entrevistadas nas empresas membros da alta gestão, cujas respostas foram gravadas e
posteriormente transcritas para a análise.
As empresas serão doravante denominadas por A, B e C elas possuem
respectivamente 200, 80 e 18 funcionários sendo classificadas respectivamente de porte
médio (que possui entre 101 e 499 funcionários), pequeno (entre 20 e 99) e micro (entre 1 e
19), classificação esta adotada pelo SEBRAE (ver SEBRAE, 2007). A empresa A é dedicada
à produção de roupas femininas, moda casual e de alta costura, a empresa B é especializada
na produção de roupas infantis e a empresa C na moda casual feminina.

5. Apresentação dos estudos de caso


Embora os termos integração vertical e terceirização sejam facilmente
compreensíveis na teoria, determiná-los na prática nem sempre é uma tarefa trivial. Desta
forma, será considerada como abordagem convencional a empresa que controla diretamente
aquelas atividades inerentes à sua indústria; será considerada terceirização quando a empresa
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transferir uma destas atividades para terceiros; e integração vertical quando a empresa
mantiver sob sua responsabilidade as atividades que a priori não são do seu ramo de atuação.
São consideras atividades inerentemente ligadas: o corte, a montagem e o acabamento, uma
vez que requerem do trabalhador o mesmo nível de habilidade e são básicas para se fabricar a
roupa. Por outro lado as atividades de lavagem, bordado e estamparia são consideradas
ligadas a indústrias adjacentes à indústria de confecção, uma vez que requerem diferentes
níveis de conhecimento, daqueles requeridos na nesta indústria, e pelo fato de não estarem
diretamente ligados à produção básica da confecção.
Utilizando a notação acima o quadro 1 apresenta a abordagem das três empresas para
as atividades de produção de confecções. Este quadro apresenta o tipo de abordagem da
empresa e também a justificativa apresentada para esta escolha. Observa-se que todas as
empresas executam por contra própria o processo de corte do tecido, segundo estas empresas
o corte da roupa por uma empresa terceirizada levaria a um grande fluxo de matérias-primas e
moldes de corte, o que traria grande complexidade operacional e maiores custos de execução
da tarefa, o que inviabiliza a terceirização. Outros aspectos que inviabilizam esta alternativa
são: as empresas A e B possuem equipamentos sofisticados para o corte de várias camadas de
tecido ao mesmo tempo, o que permite ganhos de produtividade nesta tarefa; o controle da
mão-de-obra destinada ao corte permite maior controle sobre a qualidade do produto e
também diminui os riscos de perda de materiais na operação de corte.
O processo de montagem é totalmente mantido pela empresa A, embora reconheça
que a terceirização desta atividade poderia trazer menores custos, a empresa mantêm esta
atividade sob responsabilidade própria dizendo assegurar maior controle da qualidade. Sob a
mesma alegação a empresa C mantêm a montagem das peças de confecção sob sua
responsabilidade e terceiriza apenas a montagem de detalhes da roupa, que segundo
proprietária diminui o risco de comprometer sua qualidade. A justificativa para a terceirização
de toda a montagem pela empresa B e parte deste processo pela empresa C é a redução de
custos. Esta redução ocorre principalmente pelo fato de se transformar um custo fixo em custo
variável. A indústria de confecções tradicionalmente sofre alterações na demanda ao longo do
ano, neste caso ao terceirizar a montagem as manufaturas de confecção eliminam os custos de
se manter pessoal acima do necessário, ou ter que contratar e demitir de acordo com as
variações de demanda. Transferindo esta atividade para ateliês, elas só arcam com custos à
medida que é necessária a montagem da roupa.
O processo de lavagem da confecção da empresa B é realizado por um prestador de
serviço na área, a justificativa destas empresas para esta abordagem é que a incorporação
desta atividade traria subutilização dos ativos destinados a esta tarefa, além do alto
investimento necessário. Uma pequena parte da lavagem da empresa A é executada por uma
empresa especializada e a maior parte é executada por contra própria. A justificativa dada pela
empresa é que a lavagem realizada pela empresa especializada demandaria a compra de
equipamentos especializados, que neste caso seria subutilizado, sendo a melhor alternativa a
prestação deste serviço por outro agente. Já o tipo de lavagem executado internamente ocorre
em grande volume, o que justifica o investimento em equipamentos específicos e torna esta
atividade mais barata internamente. A empresa C não necessita do processo de lavagem da
confecção.
A atividade de estamparia das empresas B e C é realizada por prestadores de serviço
locais, a justificativa para esta abordagem é que a realização por contra própria traria
subutilização dos ativos destinados a esta tarefa. O mesmo aconteceria com a mão-de-obra,
que segundo os entrevistados deve ter know-how específico. Já a empresa A verticalizou esta
tarefa, neste caso a empresa possui volume suficiente nesta operação para realizá-la por contra
própria, sendo esta abordagem mais barata do que a realização deste serviço por uma empresa
prestadora de serviço.
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Execução Justificativa Atividade

Acabament
Montagem

Estampari
Lavagem

Bordado
Corte

o
Abordagem Dificuldade de controle operacional da atividade A,
convencional produtiva fora dos limites da empresa. B,
C
O alto volume de operações justifica o investimento em A,
equipamentos próprios e torna a execução atividade B
mais barata internamente.
O controle direto sobre a mão-de-obra permite maior A, A, A,
controle da qualidade. B, C B,
C C
O controle direto sobre a mão-de-obra permite menor A,
risco de perda de materiais. B,
C
A necessidade de conhecimento específico da tarefa B,
(Know-How) não justifica a incorporação da atividade C
frente ao pequeno volume de operações.
O volume de atividades nesta tarefa causaria A, B, A,
subutilização dos ativos, caso ela fosse mantida pela B, C B,
própria empresa. C
Integração O alto volume de operações justifica o investimento em A A
Vertical equipamentos próprios e torna a execução da atividade
mais barata internamente.
Terceirização Transformação de um custo fixo em variável; B,
Diminuição de responsabilidades diretas frente e força C
de trabalho; Diminuição dos custos médios da atividade.
Observação: Entende-se que a abordagem é convencional quando o corte, a montagem e o acabamento são
realizados pela própria empresa; e a lavagem, a estamparia e o bordado são realizados por outras empresas
Quadro 1 – Decisões de verticalização e terceirização das atividades e justificativa das empresas.

Todas as empresas realizam o bordado por meio de um mesmo prestador de serviço


local, neste caso, a justificativa é que esta atividade necessita do uso de equipamentos de alto
custo e sofisticação. Deve-se notar que nem mesmo a empresa A consegue realizar esta
atividade por conta própria. A atividade de acabamento é realizada pelas empresas, neste caso
a justificativa para a não terceirização desta atividade é que acredita-se que o controle direto
da mão-de-obra que realiza esta tarefa permite a empresa uma maior segurança na garantia da
qualidade do produto, já que esta tarefa é a última a ser realizada na produção da confecção.

6. Análise dos resultados


Analisando as escolhas das empresas pesquisadas a partir da ótica dos custos de
transação é possível realizar algumas considerações. A decisão quanto a responsabilidade de
execução de uma atividade não é apenas orientada pela sua vantagem econômica real, mas
também pela expectativa ou risco de custos futuros. Isso pode ser constatado nas seguintes
situações, realização por conta própria da montagem pelas empresas A e C (a empresa C
realiza a maior parte da montagem), e realização própria do acabamento pelas empresas A, B
e C. Considerando a realização destas atividades do ponto de vista estritamente econômico
pode-se concluir que a sua terceirização seria mais vantajosa, uma vez que poderia se
transformar custo fixo em custo variável nestas tarefas, posto que são atividades intensivas de
mão-de-obra e o APL em que se encontram possui ampla disponibilidade de ateliês,
destinados principalmente a montagem do produto, que, no entanto, poderiam realizar o
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acabamento. Entretanto, a realização por conta própria destas atividades pelas empresas
mostra que elas não estão dispostas a se expor aos possíveis riscos de ações oportunistas dos
prestadores de serviço nestas tarefas, o que poderia trazer além de prejuízos financeiros
imediatos, por conta da devolução dos produtos pelos clientes, o prejuízo na reputação da
empresa.
Outra consideração é que empresas de diferentes portes possuem diferentes níveis de
eficiência em relação a realização da atividade por conta própria, ou pelo mercado. Isso pode
ser constatado comparando-se as empresas A com as empresas B e C. Enquanto a primeira
realiza por conta própria a atividade estamparia, as últimas realizam esta atividade por meio
dos prestadores de serviço. Estas últimas por não terem volume suficiente são levadas a pagar
mais por este serviço do que a empresa A. Aqui surge um outro aspecto econômico que
influencia estas empresas, que consiste na escala mínima eficiente, nota-se que diferente das
empresa A, diferente das empresas B e C, possui escala mínima que torna mais vantajosa a
realização desta atividade por contra própria. Dados os diferentes volumes de operação destas
empresas e as diferentes abordagens de execução das tarefas do processo produtivo surge uma
questão: Como é possível para empresas que atuam no mesmo ramo industrial, operarem com
níveis diferentes de eficiência econômica? Uma possível resposta para esta pergunta é que
estas empresas atuam num mercado por demasiado complexo. A indústria de confecção é
marcada por uma grande diversidade de produtos, destinados a públicos com estilos de vida,
classes sociais e idades bastante diversificados. Esta situação aliada ao conceito de
racionalidade limitada torna improvável um processo de decisão completamente racional por
parte do cliente, além do que empresas com menor nível de eficiência podem-se dedicar a
nichos de mercado poucos explorados pelas mais eficientes.
É também interessante notar que as atividades em que ocorreu a integração vertical,
parte da lavagem e toda a estamparia da empresa A, são aquelas intensivas no uso de capital,
enquanto que a terceirização ocorreu naquelas intensivas em mão-de-obra. A partir desta
realidade surge outra questão: Como os ateliês de montagem que fazem uso intensivo de mão-
de-obra que possuem o mesmo nível de qualificação do trabalhador das manufaturas de
confecção, conseguem maior eficiência nesta tarefa? Primeiramente é importante constatar
que os ateliês são na sua maioria micro e pequenas empresas que prestam serviços para várias
manufaturas, ao passo que uma manufatura utiliza os serviços de vários ateliês. Desta forma,
não pode se dizer que estes ateliês conseguem auferir ganhos de escala, provavelmente a sua
maior eficiência ocorra pelos seguintes motivos: primeiramente estes ateliês são
especializados em atividades específicas, conseguindo com isso alta eficiência, em segundo
lugar ao prestarem serviço para várias manufaturas ao mesmo tempo eles conseguem
amortecer a diminuição da procura de um cliente, prestando serviço para outro. Esta situação
dificilmente ocorreria na indústria de confecção, em que uma empresa conseguisse manter
alta taxa de utilização de sua capacidade prestando serviço para um concorrente. Desta forma
ao estarem em um outro elo da cadeia produtiva os ateliês conseguem manter um melhor
relacionamento com as manufaturas de confecções.

7. Conclusão
O presente artigo permite perceber que não são apenas os custos imediatos que tornam
vantajosa a execução de uma determinada atividade pela empresa, mas também os riscos
envolvidos, o que denota que a possibilidade de ações oportunistas também contribui para
reforçar a concentração de atividades na empresa. Observa-se também que o alto nível de
heterogeneidade de algumas indústrias, aliado às limitações do cliente, quanto ao
conhecimento das possibilidades de escolha de um produto, favorece a coexistência de
empresas com diferentes níveis de eficiência. Pode-se observar por meio do tipo de
relacionamento mantido entre os ateliês e as manufaturas de confecção que não são apenas os
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fatores internos que influenciam a eficiência de uma empresa, mas também a sua posição na
cadeia produtiva. Como pôde ser observado os ateliês possuem maior facilidade na prestação
de serviço para empresas da indústria de confecções, do que as próprias empresas entre si.
Estudos posteriores devem ser concentrados na análise da importância da configuração da
cadeia produtiva sobre o tipo de abordagem a ser escolhido para as atividades produtivas.

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