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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007
Controle próprio de atividades ou terceirização: Um estudo na indústria de confecções à luz da teoria dos custos de transação
Sergio Evangelista Silva (UEMG/Passos) silvaevangeista@passosuemg.br Flávio C. F. Fernandes (UFSCar) dfcf@power.ufscar.br 
Resumo
 Este artigo tem como objetivo analisar as decisões sobre a abordagem a se adotar nas atividades relacionadas ao processo produtivo de três manufaturas de confecções. As abordagens consideradas são manter a atividade sob responsabilidade própria, terceiriza-la ou integrá-la verticalmente. Esta análise é feita com o auxílio da teoria dos custos de transação. Os dados coletados nas empresas permitem perceber que não são apenas as decisões econômicas imediatas que influenciam a decisão de como realizar determinada tarefa, mas também aspectos relacionados ao risco envolvido na decisão; é possível a coexistência na indústria com diferentes níveis de eficiência, graças à complexidade do mercado; e que a posição de um determinado agente dentro de uma cadeia produtiva lhe  permite maior eficiência do que outros agentes de outras posições, não apenas pela sua especialização, mas também pela sua capacidade de melhor se relacionar com empresas de outros elos. Palavras-chave: Integração vertical; Terceirização; Custos de transação.
1.
 
Introdução
O atual ambiente competitivo faz com que as empresas busquem constantemente meios para o aumento da competitividade. Estes esforços muitas vezes se concretizam sob a mudança na organização das atividades produtivas, em que a empresa pode aumentar, ou diminuir sua responsabilidade sobre o controle de determinadas operações. O desafio encontrado pelo gestor nesta questão está em encontrar informações que permitam saber com  precisão qual a melhor alternativa a ser escolhida. Em relação ao controle das atividades  produtivas, a empresa possui duas alternativas extremas, transferir parte de suas atividades  para terceiros, o que é conhecido como terceirização, ou incorporar além das atividades que são responsabilidade direta da indústria, outras atividades normalmente responsabilidade de indústrias adjacentes; fenômeno conhecido como integração vertical. Um arcabouço teórico importante para se entender melhor os processos de integração vertical e terceirização é a teoria dos custos de transação, uma vez que permite compreender os elementos conceituais da formação de custos da empresa, e sua relação com o aumento ou diminuição da escala produtiva. Este artigo tem como objetivo analisar as decisões de manufaturas de confecções quanto à terceirização ou manutenção das atividades produtivas sob a própria responsabilidade à luz da teoria dos custos de transação. Foram investigadas três empresas fabricantes de confecções de pequeno e grande porte, localizadas no arranjo produtivo local (APL) de Passos, interior de Minas Gerais. A seção 2 apresenta uma revisão sobre a teoria dos custos de transação; na seção 3, é apresentada uma visão geral sobre a indústria de confecção e do APL de Passos; na seção 4 são apresentados os aspectos metodológicos da pesquisa; na seção 5 são apresentados os estudos de caso, com a análise de resultados realizada na seção 6;  por fim na seção 7 são apresentadas as conclusões e na seção 8 as referência bibliográficas.
 
III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007
2.
 
Revisão sobre a teoria dos custos de transação
A teoria dos custos de transação tem como um dos principais precursores Ronald Coase, que em seu artigo “
The Nature of Firm
” (COASE, 1937) lança os seus principais conceitos. Fiani (2002) afirma que a questão básica de Coase neste artigo é responder uma questão, que embora básica até aquele momento não tinha sido respondida pelos economistas. Porque as empresas existem? O próprio Coase apresenta as seguintes questões: Porque os indivíduos se organizam em empresas, em que uns se submetem ao comando de outros para a  produção de bens e serviços? Ele justifica que fora dos limites da empresa são os preços que dirigem a atividade produtiva, que é coordenada por uma série de relações de troca entre os agentes do mercado. O autor afirma que, portanto, deve haver um custo em se utilizar os mecanismos do mercado. Já dentro dos limites da empresa os custos de transação do mercado são eliminados, posto que a complexa estrutura de transações entre os agentes é substituída  por uma estrutura mais simples, de prazo mais duradouro sobre o comando do empreendedor, o que elimina os custos de contrato de curtíssimo prazo. Williamson (1981) afirma que a teoria dos custos de transação está relacionada às literaturas econômica, da organização empresarial e jurídica. De acordo com este autor os custos de transação surgem das fricções entre diferentes agentes econômicos quando estes realizam suas operações de compra e venda de bens e serviços. Estes custos podem ser mínimos quando as partes se relacionam de modo harmonioso, ou podem ser altos em situações em que os objetivos são conflitantes. Williamson (1981) afirma que diferente da visão do homem econômico, lançada por Adam Smith, que via o homem como um agente que tomava suas decisões sempre baseado no interesse próprio e com máxima racionalidade, a teoria dos custos de transação se apóia na racionalidade limitada, conceito este lançado  posteriormente a Coase (1937) por Herbert Simon em
 Administrative Behaviour 
” (ver SIMON, 1970), em que este autor reconhece uma série de fatores que restringem a racionalidade humana e conclui que os processos decisórios humanos têm sua eficiência limitada por vieses e imperfeições. Williamson (1981) afirma que a complexidade da realidade econômica, juntamente com as limitações da racionalidade, permite considerar a hipótese de que pelo menos alguns agentes agirão com oportunismo nas suas transações, ou seja, buscarão muitas vezes, à custa do prejuízo da outra parte, o máximo benefício próprio. Em um texto posterior Williamson (1985) afirma que a possibilidade de atitudes oportunistas, aliada a impossibilidade de se  perceber
a
 
 priori
 a intenção dos agentes, leva os agentes a buscarem estabelecer garantias que assegurem a correta execução da transação, o que inevitavelmente gera custos de contrato. Além da racionalidade limitada e dos oportunismos entre os agentes econômicos Fiani (2002) apresenta a especificidade dos ativos como importante fator de influência sobre os custos de transação. Esta especificidade ocorre quando ao mesmo tempo uma pequena quantidade de agentes está habilitada a fornecer e a adquirir determinado insumo, o que torna as duas partes dependentes entre si, em que atitudes oportunistas podem causar grandes danos sobre o desempenho da outra parte. Neste caso os agentes se esforçarão para estabelecer contratos que resguardem sua segurança no longo prazo, o que conseqüentemente aumentam os custos de transação. Azevedo (1998) afirma que o que determina o tamanho de uma empresa é a forma com que ela realiza as transações de modo alternativo ao mercado. Se à medida que aumenta o volume produzido, a execução das atividades intra-firma permite menores custos do que obtê-las do mercado, o tamanho da empresa tende a aumentar. Por outro lado se à medida que o volume aumenta os custos tornam-se maiores do que os da execução das atividades no mercado, estas atividades tenderão a ser transferidas para o mercado e conseqüentemente o tamanho da empresa tende a diminuir. Assim, a decisão de manter ou terceirizar uma atividade, considerada do ponto de vista estritamente econômico, deve-se levar em conta
 
III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007
 justamente a relação entre os custos de se realizá-la na empresa
versus
 a sua obtenção do mercado. Esta é a lógica empregada por Williamson (1981) num exemplo esquemático em que avalia a decisão de uma empresa em incorporar atividades a montante e a jusante da cadeia produtiva. Embora o estudo dos autores citados anteriormente permita compreender de forma lógica as situações que levam as indústrias a concentração ou a ocorrência de grande quantidade de agentes, torna-se necessário identificar os fatores levam a um ou outro estado. Uma análise inicial desta situação pode se basear nos seguintes fatores propostos: nível de incorporação de tecnologia ao longo do tempo; nível de ganho de eficiência pelo domínio do conhecimento da indústria ao longo do tempo; ganho de eficiência do uso de equipamento em relação ao uso de mão-de-obra; e nível de custo gerado por ações oportunistas de outros agentes. Industriais cujo desenvolvimento tecnológico próprio ou em indústrias adjacentes levam a ganhos de eficiência, certamente darão vantagem às empresas atuantes na indústria em relação a outras formas alternativas, o mesmo ocorre se à medida que opera no mercado a empresa adquire conhecimento e experiência que lhe permitem obter ganhos crescentes de eficiência, em que um novo entrante, ou outra forma alternativa de produção não seria capaz de adquirir. Estas propriedades estão particularmente presentes na indústria automobilística, como pode ser visto em Womack & Jones (1992) esta indústria possuía na Europa e EUA no início do século XX grande quantidade de agentes, e que graças aos ganhos de eficiência inerentes às atividades da indústria, fez com que aqueles mais eficientes levassem a indústria à concentração que ela se encontra atualmente. Tomando dois exemplos clássicos, as empresas Ford e General Motors, comandadas respectivamente por Henry Ford e Alfred Sloan se notabilizaram respectivamente por desenvolverem uma nova tecnologia de produção  – Henry Ford introduziu a produção do automóvel em alta escala, com grande número de divisões de tarefas, auferindo assim imensos ganhos de produtividade – e Alfred Sloan desenvolveu uma nova estratégia de relacionamento com o mercado, oferecendo ao cliente ampla variedade de produtos e inovação de modelos ao mesmo tempo. Desta forma, estes dois exemplos de empresas que dentre as muitas outras que existiam nos EUA do início do século XX, graças ao seu maior nível de eficiência conseguiram tirar do mercado ou incorporar as menos eficientes. Em indústrias em que o emprego de equipamentos permite ganhos superiores aos conseguidos pela mão-de-obra tenderão do mesmo modo à concentração. Isso pode ser observado em uma série de indústria de
commodities
 (ex. siderurgia, extração mineral, cimento, etc...). A situação contrária, em que não existem ganhos expressivos do uso de equipamentos em substituição a mão-de-obra, é altamente convidativa a livre iniciativa de novos empreendedores, como ocorre nas indústrias de confecção, calçadista, dentre outras. Indústrias em que o custo de ações oportunistas tende a ser extremamente  prejudiciais para os agentes contratantes também possuem forte incentivo à concentração, neste caso o que se encontra em jogo não é o custo de se realizar a atividade via empresa, ou outra forma alternativa de produção, mas sim o nível de risco ou incerteza envolvido na transação e as suas conseqüências, neste caso os agentes buscarão minimizar seus riscos executando as suas transações com agentes, cujo tempo de atuação e reputação no mercado são altos, o que certamente favorece a constituição da empresa em relação a outros tipos alternativos.
3.
 
Uma visão geral da indústria de confecções e do APL de Passos
Como afirmam Buxey (2005), Harfield & Hamilton (1997) dentre outros autores a indústria de confecções é uma indústria baseada em uso intensivo de mão-de-obra e tecnologia padronizada. A existência de tênues barreiras a entrada faz com que esta indústria

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