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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007

A qualidade dos calçados de Franca-SP: uma análise da


responsabilidade empresarial sob a óptica das certificações sócio-
ambientais
Camila do Nascimento Cultri (UNESP) milacultri@gmail.com
Jair W. de Sousa Manfrinato (UNESP) Email: jwsouza@feb.unesp.br

Resumo
Este trabalho verificou as contribuições dos selos e certificações sócio-ambientais para a
efetividade da responsabilidade empresarial na indústria calçadista de Franca-SP. Com a
necessidade de agregar valor aos calçados, algumas articulações emergem aliando estratégia
organizacional com bem-estar social e ambiental. Neste sentido, evidenciou-se que o uso destes
instrumentos como estratégias mercadológicas devem ter caráter inédito, para que o
consumidor escolha e compre os chamados “produtos corretos”. Sob a reflexão desse estudo,
ficou evidente que a indústria calçadista de Franca tem potencial para assumir mais
responsabilidade perante a comunidade, uma vez que os exemplos nos revelam que menos de
10% do total das 760 empresas cadastradas no Sindicato da Indústria Calçadista de Franca
tem selos ou certificações sócio-ambientais que realcem a responsabilidade empresarial do
setor.
Palavras-chave: Calçados, Qualidade, Certificações Sócio-Ambientais.

1- Articulações da qualidade organizacional com o bem-estar social e ambiental


Na economia globalizada, as corporações posicionam-se de modo estratégico,
inovando suas técnicas de gestão para atender as exigências legislativas, dos grupos formadores
de opinião, da mídia e dos compradores que, cada vez mais, detém poder de compra, exigindo
produtos que agreguem atribuídos de qualidade que possa ser percebidos através das
certificações sócio-ambientais.
O conjunto de alterações do micro e macro-ambiente influenciam a administração
das organizações, e para tanto, algumas empresas do setor estão fortalecendo a marca dos
calçados com certificações sócio-ambientais, envolvendo todo o planejamento estratégico
corporativo adaptado às novas tendências globais no intuito de permanecerem competitivas no
mercado e conquistarem os consumidores mais exigentes. Apontada a tendência de que os
cidadãos passarão a ser consumidores responsáveis e atribuirão importância aos produtos com
marcas e certificações que indiquem a responsabilidade sócio-ambiental corporativa, algumas
empresas calçadistas consideram a ecologia e o social como ações para agregar valor à marca.
No setor calçadista brasileiro emergem algumas articulações que aliam estratégia
organizacional com bem-estar social e ambiental. Com intuito de agregar valor nos calçados,
algumas empresas do setor calçadista estão buscando certificações que comprovem uma nova
cultura corporativa fortalecida pela marca dos selos e certificações conhecidas como
“socialmente e ecologicamente corretas”. No entanto, o setor coureiro-calçadista ainda encontra
grandes desafios para conquistar selos e certificações sócio-ambientais.
Neste sentido, serão apresentadas a seguir as características da indústria calçadista
brasileira e os aspectos do pólo industrial calçadista de Franca-SP para contextualização da
gestão sócio-ambiental no setor. Em seguida, serão abordadas as expressões da
responsabilidade empresarial nos selos e certificações sócio-ambientais.

2- A indústria calçadista brasileira e as características do pólo industrial de Franca-SP


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O setor calçadista nacional é formado por mais de 7 mil indústrias produzindo em


2005, cerca de 725 milhões de pares de calçados, sendo que em 2006, foram 164,92 milhões
destinados à exportação (Abicalçados, 2006). Os calçados brasileiros atingem diversos
mercados em todo o mundo, exportando grande quantidade de sapatos de couro, componente
que por muito tempo foi e ainda continua sendo a principal matéria-prima. As indústrias
empregaram 312,58 mil pessoas em 2004 e o faturamento do setor no país já superou
U$1.700,00 milhões de dólares.
A produção industrial de calçados tem a peculiar característica de se instalar em
determinadas regiões geográficas do Brasil, tanto que o principal pólo produtor nacional é
denominado de Vale dos Sinos e está localizado no estado do Rio Grande do Sul. Em seguida, o
estado de São Paulo constitui-se como o segundo mais importante produtor, que devido às
concentrações de empresas fabricantes de componentes até prestadores de serviços de
exportação nos municípios de Franca, Birigüi e Jaú favorecem o saldo da balança comercial
brasileira e fortalecem a economia do estado.
Em 2005, os Estados Unidos foram os principais compradores do calçado brasileiro,
comprando 75.378.568 pares ao preço U$946.386.978, o que corresponde a 50,2% do total
exportado (ABICALÇADOS, 2006). No entanto, este fato revela uma preocupação que carece
estratégias para diversificação das exportações, uma vez que depender de apenas um comprador
torna-se arriscado. Ao passo que o setor já está desenvolvendo um projeto para ampliação do
percentual de vendas para países da América Latina e Oriente Médio.
Em mercados competitivos como segmento calçadista, os empresários buscam
ganho de produtividade, com novas técnicas de produção para obter vantagens competitivas
“[...] sob pena de ficar marginalmente na rabeira do processo de globalização” (FARAH
JÚNIOR, 2000, p.52). Nesta via de competição, à produção ecologicamente e socialmente
correta começam a despontar como uma estratégia de valor, tanto que Tachizawa (2000) e
Barbieri (2004) reconhecem que a implementação de ações de responsabilidade é capaz de
motivar uma mudança nos valores da cultura empresarial, incentivando parcerias na ideologia
da sustentabilidade ecológica contribuindo para maximizar os benefícios dos valores humanos.
A concentração industrial, desde a fabricação dos componentes até a exportação de
calçados, no pólo calçadista de Franca-SP, possui relevância no comércio nacional e
internacional. De acordo com dados do Sindicato das Indústrias Calçadistas de Franca
(Sindifranca, 2006), em Franca, a produção de calçados masculinos está em torno de 84%, de
calçados femininos de 14% e de calçados infantis de 2%. A fabricação local corresponde por
cerca de 71% da produção interna e 29% das exportações totais, gerando empregos e
desenvolvimento ao município. O setor possui 760 Industrias de Calçados com uma capacidade
de produzir 37,2 milhões de pares de calçados por ano, sendo predominante à confecção de
sapatos de couro, e também, de botas de couro, tênis de couro, lona e náilon. Entretanto,
produziu 27,9 milhões de pares em 2005 utilizando somente 75% de sua capacidade, deixando
parte da produção ociosa devido às dificuldades econômicas e externas de negociação.
As dificuldades para exportar o calçado nacional com preço competitivo e garantia
de margem de lucro, requer cada vez mais esforços dos empresários que devem investir em
novas estratégias para a melhoria da qualidade, de maior produtividade e atratividade aos olhos
dos consumidores externos. Assim, oscilações econômicas são sentidas pelos empresários
locais, refletindo na diminuição do volume de calçados exportações se comparado com os anos
anteriores. Deste modo, se faz premente para as empresas calçadistas, tanto do atacado como do
varejo, uma gestão servida de flexibilização dos padrões de qualidade, inovação tecnológica e
eficiência nos procedimentos.
No processo de fabricação de sapatos o curtimento do couro representa uma fase
altamente poluente à natureza, porém a elaboração do produto final requer também a utilização
de outras matérias-primas com potencial poluidor como borracha, cola e plástico. Isto, de uma
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certa forma, reflete na cadeia produtiva como um todo, exigindo inovações e constantes
aperfeiçoamentos de técnicas que agreguem valor ao calçado, tal como a gestão de
responsabilidade social e ambiental que possibilitam a normalização para diversas certificações,
como a ISO 9000 referente à qualidade, a ISO 14001 sobre meio ambiente e a SA 8000 de
responsabilidade social.
Alguns produtos com certificações podem ultrapassar as barreiras de exportação, no
caso da exportação de calçados em couro, sofrem com barreiras ambientais dos importadores do
produto. Com isto, as organizações estão buscando selos e certificações sócio-ambientais,
adotando novas políticas para realizar transações no comércio internacional. De acordo com as
especificações do Inmetro (2005), a Comunidade Européia restringe a entrada de artigos
acabados com têxteis e/ou couro, em quaisquer partes tingidas com corantes azóicos, que por
clivagem redutora de um ou mais grupos azo (-N=N-), que possam liberar determinadas aminas
aromáticas, detectáveis em concentrações superiores a 30 ppm (partes por milhão), conforme
métodos de ensaio estabelecidos. Esta diretriz tem como principal objetivo proteger a saúde da
população européia que, numa exposição prolongada a estas substâncias, se tornaria suscetível a
contrair doenças cancerígenas. Com esta limitação os exportadores brasileiros solicitaram às
empresas produtoras de corantes e pigmentos, uma documentação de conformidade para que
suas marcas de produtos e pudessem ser apresentadas aos clientes importadores no ato de
negociação comercial, neste caso, as certificações facilitariam tanto aos clientes quanto aos
empresários.
Nesta via, o planejamento estratégico da gestão sócio-ambiental na indústria de
calçado deve conter características singulares do setor com estratégias e efetivas ações para
afrontar-se aos fatores do micro e macro-ambiente. Assim, conquistar consumidores mais
exigentes requer a conquista de selos e certificações que enalteçam a qualidade e a
responsabilidade sócio-ambiental.

3- Expressões da qualidade nas certificações de calçados


Selos e Certificados de conformidade são indispensáveis na elevação do nível de
qualidade dos produtos, serviços e sistemas de gestão. Muitas vezes apresenta-se como a
identidade exposta para ser vendida melhorando a imagem da empresa, e principalmente,
servindo de instrumento facilitador na decisão de compra dos consumidores.
As atividades de certificação são diversas, envolvendo análise de documentação,
auditorias/inspeções na empresa, coleta e ensaios de produtos no mercado e/ou na fábrica, com
o objetivo de avaliar a conformidade e sua manutenção. Assim, o processo de certificação de
produto ou de toda a empresa não pode ser visto como uma ação isolada e pontual, ele é um
processo contínuo sempre em busca pela qualidade. De acordo com informações da Associação
Nacional de Normas Técnicas (ABNT,2006), certificação é “um conjunto de atividades
desenvolvidas por um organismo independente da relação comercial com o objetivo de atestar
publicamente, por escrito, que determinado produto, processo ou serviço está em conformidade
com os requisitos especificados”.
De acordo com o Instituto Ethos (2006), a certificação pode apresentar várias
vantagens para as partes interessadas, que inclui os colaboradores, administradores,
fornecedores, clientes, fornecedores e comunidade em geral. Dentre benefícios da certificação
estão o aumento da satisfação do cliente e mais facilidade de venda de produtos em novos
mercados, evita a competição desleal com os produtos de má qualidade, evita o estabelecimento
de controles obrigatórios desnecessários e, por outro lado, pode auxiliar o desenvolvimento de
políticas de proteção ao consumidor.
As certificações sócio-ambientais, nacionais e internacionais representam
diferenciadores de credibilidade e facilitam a aceitação do consumidor para o consumo de
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produtos responsáveis. Para efeito de algumas certificações, a organização deve obedecer aos
padrões estabelecidos pelos órgãos de regulamentação, e se possível, implementar um modelo
capaz de suportar informações sobre o desempenho organizacional. O Sistema de Gestão
Ambiental (SGA) representa um desses modelos, pois ele envolve o “[...] conjunto de
atividades administrativas e operacionais inter-relacionadas para abordar problemas ambientais
atuais ou para evitar o seu surgimento” (BARBIERI, 2004, p.137).
Algumas rotulagens que expressam a Responsabilidade Ambiental através das
embalagens dos produtos, desse modo, empresas do mundo inteiro que conquistam essa
certificação pode ser reconhecida por qualquer mercado consumidor. Em 1994, cada país
estabeleceu as chamadas rotulagens ambientais, de acordo com as normas mundiais, para serem
comercializadas nos negócios verdes. As principais rotulagens ambientais são as seguintes:
Blue Engel (Alemanha), Environmental Choice Program (Canadá), EcoMark (Japão), Conselho
Nordico (Nordicswan, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia), Environmental Choice (Nova
Zelândia), EcoMark Program (Índia), NF-Environmente (França), Umweltzeichen (Austrália),
Eco Label (União Européia e Coréia), Stichting Milieukeur (Países Baixos), Green Label
(Cingapura), Environmentally Friendly (Croácia), Environment Friendly Prouduct (República
Tcheca), Green Mark (Taiwan) e ABNT – Qualidade Ambiental (Brasil).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas, órgão reconhecido
internacionalmente, credencia as entidades que vão exercer a responsabilidade de emissão dos
certificados para as empresas ou produtos avaliados. Credenciada pelo INMETRO (Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), a associação fundada em 1940,
possui acordo de reconhecimento com os membros do IAF (International Acreditation Forum)
para certificar Sistemas da Qualidade (ISO 9000) e Sistemas de Gestão Ambiental (ISO 14001)
e diversos produtos e serviços.
As certificações somente são emitidas após aprovações de testes de ensaios e/ou
auditorias que comprovem o status de qualidade. Para padronizar os procedimentos de
fabricação de produtos e serviços existem algumas normalizações, assim, todas as atividades
empresariais devem seguir a normalização referente à sua prática industrial. Segundo definição
do Instituto Ethos (2006), normalização se refere à “atividade que estabelece, em relação a
problemas existentes ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva com
vistas à obtenção do grau ótimo de ordem em um dado contexto”. A normalização está presente
em todos os procedimentos desde à fabricação de produtos até a comercialização e é composta
de objetivos econômicos, comunicativos, de segurança, de proteção ao consumidor e de
eliminação de barreiras técnicas e comerciais, conforme descrito a seguir:

Economia Proporcionar a redução da crescente variedade de produtos e


procedimentos
Comunicação Proporcionar meios mais eficientes na troca de informação entre o
fabricante e o cliente, melhorando a confiabilidade das relações
comerciais e de serviços
Segurança Proteger a vida humana e a saúde
Proteção do Consumidor Prover a sociedade de meios eficazes para aferir a qualidade dos
produtos
Eliminação de Barreiras Evitar a existência de regulamentos conflitantes sobre produtos e
Técnicas e Comerciais serviços em diferentes países, facilitando assim, o intercâmbio
comercial
Quadro 1 - Objetivos da Normalização
Fonte: Inmetro (2006)

Cada categoria de produto tem sua classificação de acordo com o órgão


regulamentador. O calçado tem o índice de conforto emitido pela ABNT – Associação
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Brasileira de Normas Técnicas, que através da norma NBR 14834 busca estabelecer os
requisitos necessários para a avaliação dos calçados quanto ao seu índice de conforto. Esta
certificação condiciona a emissão do Selo Conforto, visando atendendo “à demanda da
indústria do calçado, que buscava qualidade do produto e, por conseqüência, a fidelidade dos
consumidores às marcas do mercado” (ANBT, 2005), tanto a nível nacional quanto
internacional.
A norma brasileira NBR 14834 avalia o conforto dos calçados nacionais, mediante
métodos de ensaios, os quais determinam a massa do calçado, distribuição da pressão plantar,
temperatura interna, comportamento da componente vertical de força de reação ao solo, ângulos
de pronação do calcâneo durante a marcha e níveis de percepção do calce. O Selo Conforto é
uma marca de conformidade auferido ao calçado que atender aos requisitos preestabelecidos e
aprovado nos testes de ensaios específicos, sendo válido somente os ensaios realizados em
laboratórios credenciados ao Inmetro. Deste modo, para ter o selo Conforto é preciso atender as
seguintes normas:

Norma Especificidade
NBR 14835 Determinação da massa;
NBR 14836 Determinação dinâmica da distribuição da pressão plantar;
NBR 14837 Determinação da temperatura interna;
NBR 14838 Determinação do comportamento da componente vertical da força
de reação do solo;
NBR 14839 Determinação dos ângulos de pronação do calcâneo durante a
marcha;
NBR 14840 Determinação dos níveis de percepção do calce.
Quadro 2 - Normas para o Selo Conforto de Calçados
Fonte: ABNT (2006). Modelo adaptado pelos autores.

No âmbito da qualidade, o selo Conforto do Calçado é concedido aos produtos que


atingirem o índice "Confortável" ou "Muito Confortável", de acordo com os requisitos da NBR
14834. O primeiro selo conforto do calçado emitido pela ABNT certificou a Linha Democrata
Air fabricados pela empresa Democrata, sediada em Franca-SP. No entanto, para conquistar
esse selo foram necessárias mudanças no produto e no processo produtivo envolvendo
investimentos em engenharia, materiais alternativos e novos modelos de embalagem. Dentre as
realizações foram firmadas novas parcerias entre a empresa e seus fornecedores, para o
fornecimento de componentes nacionais e importados, e dos novos maquinários adquiridos para
a linha de montagem (ABNT, 2006).
Além dos selos e certificações que atestam a qualidade do produto ou serviço, as
empresas também, podem receber certificações ambientais e sociais. Entre as conseqüências
assumidas pelas empresas que deseja agir como socialmente e ambientalmente responsável, está
os como benefícios com a imagem, vendas e participação no mercado, além de aumento na
produtividade e promoção do desenvolvimento sustentável (ASLHEY, 2001).
Na cidade de Franca, foi fundado em 1995, o Instituto Pró- Criança, que contou
com apoio de organizações como o Sindicato da Indústria de Calçados de Franca, Associação
do Comércio e Indústria, Delegacia Regional da CIESP/FIESP, Fundação Abrinq, UNICEF,
OIT/IPEC, Secretaria do Emprego e Relação do Trabalho do Estado de SP, Conselhos de
Direitos, Tutelares e ONGs. A prioridade de atuação do Instituto foi o combate ao trabalho
infantil no setor calçadista de Franca por meio do “Programa de Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil no Setor Calçadista”. O Instituto, também, criou o selo “Pró Criança”, que é
concedido as empresas participantes do projeto, este selo simboliza a responsabilidade social da
empresa que declara não utilizar mão-de-obra infantil. De acordo com o Centro de Estudos em
Administração do Terceiro Setor da FIA/USP (2006, p.01), “o Programa Pró-Criança envolve
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45 indústrias de calçados, entre as quais 44 estão localizadas em Franca, inclusive empresas de


outros setores. O programa também engloba a certificação de mais de mil microempresas e
indivíduos que atuam como fornecedores da indústria calçadista”.
Outro destaque no âmbito da responsabilidade social é a participação de empresas
desenvolvendo produtos para segmentos diferenciados do mercado. De acordo com a
Associação Nacional de Apoio aos Diabéticos (ANAD, 2005), os calçados da linha anti-stress
da empresa francana “Opanakein” são indicados pela associação por ser um produto que
previne os ferimentos do pé, não deformam, são anatômicos, macios, leves, flexíveis e
antiderrapante, fabricado com materiais inovadores como o couro de ovelhas que recebe um
curtimento especial. Com estes componentes a empresa fabrica calçados masculinos e
femininos atendendo um vasto mercado de clientes diabéticos contando, ainda, com o apoio da
ANAD que contribui divulgando estes produtos através da mídia e dando recomendações aos
seus associados.
Dentro de uma filosofia de considerar a ecologia como uma ação constante de
agregar valor à marca, algumas indústrias do setor calçadista orientam-se para a gestão
ambiental. Como observa Tachizawa (2002, p.75), “a Free Way Boots & Shoes trabalha com
uma linha de sapatos especial, com couro tratado com vegetal de tronco das árvores e sola de
látex puro da Amazônia”, e ainda, esta empresa “[...] realizou contratos de licença com o
Greenpeace, uma das organizações mais ativas do planeta”.
Neste sentido, o composto mercadológico dos calçados e das empresas com marcas
e certificações sócio-ambientais devem perpetuar na mídia contendo características inovadoras
para conquistar os mercados mais exigentes de consumidores. Portanto, os selos e certificações
sócio-ambientais são instrumentos capazes de agregar valor na cadeia produtiva de calçados, e
para isto, devem realmente simbolizar as efetivas ações sócio-ambientais.

4- Metodologia
Para a realização do presente trabalho, utilizou-se da metodologia de pesquisa
bibliográfica e exploratória, conforme classificação de Lakatos (2002, p. 71) “a pesquisa
bibliográfica, ou fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao
tema em estudo”. Foram realizados levantamentos em livros, periódicos, artigos, textos para
discussão e consultas, como por exemplo, Relatório Setorial Lafis, ABNT, Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, Instituto de
Pesquisas Econômicas e Sociais, entre outros, para obtenção de dados que sustentaram o
objetivo do trabalho, que pretendeu verificar as contribuições dos selos e certificações sócio-
ambientais para efetividade da responsabilidade empresarial na indústria calçadista de Franca-
SP. Neste sentido, buscou-se despertar que as empresas devem assumem publicamente a
responsabilidade pelo meio ambiente e pela sociedade através dos selos e certificados sócio-
ambientais.
A partir na noção bibliográfica que identifica relevância no composto
mercadológico, apresentando o fortalecimento de produtos com marcas e certificações sócio-
ambientais, procurou-se relatar as iniciativas observadas nas empresas do setor calçadista de
Franca e, num segundo momento, partiu-se para investigação qualitativa do significado dos
selos e certificações sócio-ambientais. E por fim, procurou se refletir os efeitos da utilização de
certificações como vantagem competitiva e como força motriz do desenvolvimento sustentável,
em prol do bem-estar social e ambiental.

5- Resultados
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Na proposta de verificar as contribuições dos selos e certificações sócio-ambientais


para efetividade da responsabilidade empresarial na indústria calçadista de Franca-SP,
evidenciou-se que o uso destas ferramentas como estratégias mercadológicas devem ter caráter
inédito, para que o consumidor escolha e compre os chamados “produtos corretos”. Este estudo
materializa a intenção de relacionarmos as principais experiências dos empresários calçadistas
de Franca que utilizam selos e certificações sócio-ambientais nos produtos, e que
responsavelmente assumem a gestão sócio-ambiental como ação para promoção do bem-estar
social e ecológico. A tendência das certificações sócio-ambientais nos calçados se confirma,
constatando que uma nova gestão empresarial ainda que preocupada em atender a legislação,
consegue gerar benefícios para o meio ambiente e promoção do bem-estar social. De acordo
com nosso levantamento, notou-se que a exigência do consumidor afeta diretamente as ações
empresariais; decorrente disto observa-se que das empresas locais do setor no município
somam-se quarenta e quatro com o Selo Pró-Criança licenciado para empresas que participam
do projeto de erradicação do trabalho infantil emitido pelo Instituto Pró-Criança; uma empresa
conquistou o Selo ANAD licenciado pela Associação Nacional de Apoio aos Diabéticos, uma
empresa tem autorização do Greenpeace para o uso de látex puro da Amazônia, e uma outra
empresa pertencente ao “Grupo Amazonas” está certificada pela norma ISO 9001 visando
qualidade no trabalho. Outras empresas como a Sândalo, a Agabê, a Tribo dos Pés e a
Amazonas estão disponibilizando, juntamente com os materiais de mídia, informações sobre
ações e políticas sócio-ambientais que estão sendo realizadas por elas na comunidade, para que
os chamados “consumidores virtuais” reconheçam os valores corporativos. No entanto, ainda é
pequeno o número de empresas que assumem publicamente a responsabilidade pelo meio
ambiente e pela sociedade através dos selos e certificados sócio-ambientais.

6- Considerações finais
Neste contexto, conhecer as estratégias locais de um grupo de empresários revelou o
potencial estratégico dos selos e certificações sócio-ambientais para a conquista de novos
mercados consumidores. Por conta da necessidade de agregar valor aos calçados, algumas
empresas tem-se servido dos selos e certificações sócio-ambientais para atrair diferentes grupos
de consumidores, e conseqüentemente, elevar a venda de produtos e serviços. Sob a perspectiva
teórica, foram identificadas algumas contribuições dos selos e certificações sócio-ambientais
que anunciaram a responsabilidade do empresariado calçadista de Franca-SP em promover
ações para o bem-estar social e ecológico. No entanto, ficou evidente que a indústria calçadista
de Franca tem potencial para assumir mais responsabilidade perante a comunidade, uma vez
que os exemplos nos revelam que menos de 10% do total das 760 empresas cadastradas no
Sindifranca, tem selos ou certificações sócio-ambientais. A partir da análise dos exemplos
encontrados na literatura, verificou-se que é possível aliar competitividade estratégica com
gestão sócio-ambiental, pois os selos e certificações estudados foram emitidos por órgãos
competentes como o Greenpeace, Instituto Pró-Criança e Associação Nacional de Apoio aos
Diabéticos. Portanto, tem-se a dizer de forma conclusiva que os selos e certificações sócio-
ambientais são instrumentos capazes de agregar valor à cadeia produtiva de calçados, mas para
isto, devem realmente simbolizar as efetivas ações sócio-ambientais.

7- Referências Bibliográficas
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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007

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