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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007

Proposta de um método para avaliação de procedimentos e tecnologias


utilizadas na movimentação de cargas, baseado no valor do tempo.
Paulo André Marques Lobo ( FIC ) pam.lobo@gmail.com

Resumo
Este artigo visa apresentar um método que permita avaliar como a implementação de
tecnologias e procedimentos como o intercâmbio eletrônico de dados e os sistemas de
gerenciamento de armazém influenciam na redução de custos de armazenagem e transporte,
por intermédio da redução dos tempos de movimentação.Para tal foram empregadas a
análise de variância e o modelo de regressão linear.
Palavras chave : Logística, movimentação, métodos quantitativos.

1- Introdução

O nível de serviço ao cliente, em logística, em geral é determinado pela combinação de níveis


de atributos como prazo de entrega, confiança do tempo de entrega, flexibilidade,
disponibilidade e preço. Os valores destes atributos dependem da eficiência dos processos em
relação ao tempo; a flexibilidade como capacidade de variar o atendimento à demanda, num
curto intervalo de tempo, a disponibilidade como capacidade de atender á demanda no
momento em que ela se manifesta ou mesmo o preço, entendido ( em parte ) como resultado
do custo relativo ao uso do tempo(BALLOU, 2001).
Entretanto, grande parte das escolhas de tecnologias, materiais e processos utilizados em
logística são realizadas a partir de uma visão puramente operacional em relação à variável
tempo. Índices de desempenho de equipamentos, como capacidade de carga ou elevação em
empilhadeiras, limites de alcance de equipamentos RFI, ou a capacidade de processamento de
bits por segundo, em sistemas de informação, tornam-se os parâmetros de escolha diretos na
determinação de investimentos. Contudo é o tempo por processo a medida que melhor indica
a eficiência logística. Entretanto, embora a capacidade de otimizar a utilização do tempo seja
reconhecidamente uma grande vantagem competitiva num sistema logístico, não há vasta
literatura acerca de procedimentos dedicados à avaliação do impacto das alternativas
tecnológicas na redução dos tempos de movimentação de cargas.Este trabalho propõe um
método para identificar e medir a influência da utilização de diferentes combinações de
tecnologias na redução dos tempos de movimentação de cargas fracionadas num centro de
distribuição ou armazém( doravante denominados armazém) através da análise dados
quantitativos.
As etapas do método são, respectivamente o levantamento de dados; identificação da
associação de efeitos entre as variáveis relevantes no processo, através da análise de variância;
regressão linear tendo como variáveis dependentes os tempos de movimentação e como
variáveis independentes as tecnologias adotadas no armazém.

2- As tecnologias empregadas e o tempo de movimentação

Segundo Bowersox & Clos (2001) a tecnologia de manuseio de materiais deve prover
continuidade de movimento e economia de escala na movimentação. Para conseguir ambos há
de se coordenar fluxos de materiais e informações no intuito de otimizar o tempo, evitando a

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ociosidade do sistema de manuseio bem como evitando filas. Hoje há diversas alternativas
disponíveis para melhorar o desempenho da movimentação e o EDI, RFI ,as docas de
recebimento e expedição, o arranjo físico planejado e os equipamentos mecânicos de
movimentação, que são objetos de estudo neste trabalho, estão entre os mais difundidos.

2.1 – Tecnologias empregadas na movimentação e armazenagem ( variáveis explicativas)

Intercâmbio eletrônico de dados ( EDI - eletronic data interchange ) : é um meio de


intercambiar informações padronizadas entre processos. Um dos exemplos mais comuns de
uso do EDI é o registro e distribuição de informações de vendas, no momento em que os
produtos adquiridos pelo cliente são identificados pelo leitor de código de barras. As
informações relativas a estas vendas podem ser distribuídas para o marketing, controle de
estoques, setor de compras e outras áreas que necessitam de informações sobre baixas de
estoque, padrão de consumo e outras informações afins.Seu uso pode reduzir os tempos de
movimentação se for empregado para indicar o local exato de guarda de um determinado ítem
que chegou ao armazém, de acordo com a disponibilidade de espaço; também pode ser
empregado para, quando um ítem for solicitado pelo seu código de barras, indicar sua exata
localização, para recuperação e embarque( FIGUEIREDO, 2006).
Intercâmbio eletrônico de dados via rádio freqüência ( RFI ) : semelhante ao EDI, mas
realiza a troca de informação a partir de equipamentos remotos, via rádio freqüência,
permitindo sua utilização em equipamentos de transporte( caminhões, trens, etc) e
movimentação ( empilhadeiras, palleteiras etc). O RFI é utilizado, por exemplo, para enviar
informações de baixa do estoque de oxigênio de caminhões tanque, no momento em que o
produto é fornecido ao cliente( GAITHER & FRAZIER, 2004).
Docas de recebimento e expedição : são acessos ao local de armazenagem em cuja entrada
são realizadas as operações de carga e descarga dos equipamentos de transporte. As docas,
devem permitir o nivelamento do piso do armazém com o piso do equipamento de transporte,
facilitando a transferência da carga .
Software de gerenciamento de armazém ( WMS - warehouse management system. ) -
Sistema de informações que visa adquirir, integrar e distribuir as informações acerca dos
processos realizados no armazém.
Arranjo físico do armazém - refere-se á disposição dos diversos equipamentos de
armazenagem e movimentação. Arranjos físicos de armazéns apresentam similaridades, na
disposição de corredores, porta pallets, expedição, recebimento e regras de circulação. Os
princípios que regem os arranjos físicos visam a melhor utilização dos espaços de
armazenagem e circulação, um bom nível de segurança para pessoas e materiais e bons níveis
de seletivitade.
Equipamentos de movimentação : são utilizados para movimentar carga, horizontal e
verticalmente, no armazém. Reduzem a necessidade de esforço físico nas operações e aumenta
a velocidade média de movimentação.

2.2 - Tempos de movimentação em armazéns(variáveis resposta)

A movimentação de materiais engloba as atividades de recebimento, manuseio interno e


expedição, (BOWERSOX & CLOS ,2001). Cada uma destas três atividades consome tempo e
este tempo impacta diretamente no custo de armazenagem e transporte. O tempos gastos no
carregamento e descarregamento de um caminhão, acrescem os fatores Td ( tempo de

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descarga) e TC ao custo de ida e volta de uma rota, de acordo com o custeio baseado em
atividades,(FLEURY, ÁVILA & WANKE2001):
D
CR = D × CFUOp × (Tc + Td + ) + CVUOp × D + CF
Vm
Equação 1.
ou
D
CR = [ D × CFUOp × + CVUOp × D + CF ] + D × CFUOp × (Tc + Td )
Vm
Equação 2.

Onde:
- CR é o custo da rota, D é a distância percorrida ( ida e volta), CFUOp é o custo fixo unitário
operacional( dado em reais por hora de utilização do transporte), Tc é o tempo de carga, Td é
o tempo de descarga , Vm é a velocidade média do caminhão na rota, CVUOp é o custo
varíável operacional ( dado em reais por kilômetro percorrido ) e CF é o custo de frete ( custo
relativo á administração dos conhecimentos de frete.
Como todos os elementos da parcela D × CFUOp × (Tc + Td ) da equação 2 são positivos,
qualquer acréscimo em Tc ou Td aumentará o custo da rota, daí a necessidade de redução dos
tempos de movimentação, no que diz respeito aos custos de transporte.Isto se dá devido ao
fato de, durante a carga e a descarga, o caminhão ficar indisponível para utilização.
Por outro lado, o tempo de movimentação aumenta o custo de manutenção de estoques. Pois
enquanto os materiais estão sendo movimentados, os mesmos não podem ser transformados
ou colocados a venda. Quanto maior for o intervalo de tempo que um produto em estoque fica
em movimentação ou armazenado, maiores são os custos de armazenagem, devido ao custo do
espaço de armazenagem, depreciação do produto, etc.
Além da redução dos retrocitados custos, a redução dos tempos de movimentação também
impactam diretamente no nível de serviço ao cliente, pois permite menores prazos de entrega e
maior confiança no tempo de entrega, atributos de grande importância nas operações
logísticas(CEL, 2000)

3 – A aplicação do método

A pesquisa focou o tempo de movimentação em armazéns que trabalham com cargas


fracionadas e heterogêneas. A amostra contou com trinta e dois armazéns espalhados por três
regiões definidas : zona da mata de Minas Gerais(28 % da amostra ) , sul de Minas Gerais (
9% da amostra ) e região metropolitana do Rio de Janeiro ( 63% da amostra ). Foram visitados
centros de distribuição de supermercados, centros de distribuição de atacadistas,
hipermercados, supermercados, depósitos e centros de distribuição privados ( não são
proprietários do estoque ). Foram selecionados, dentre tempos computados entre agosto de
2005 e setembro de 2006, trezentos e quatorze observações de tempo de descarga e trezentas e
cinco observações de tempo de carga .

3.1 - Ordenação das variáveis explicativas.

Cada unidade visitada foi classificada de acordo com a utilização, ou não, das tecnologias a
seguir :

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Tabela1- Classificação dos atributos


3.2 - Cômputo dos tempos de movimentação .

O tempo de carga de um pallet foi considerado o intervalo entre o instante em que o


responsável pela recuperação do ítem armazenado ( operador de empilhadeira, colaborador,
etc) recebe a informaçao de que uma certa quantidade de ítens deve ser recuperada e o efetivo
embarque dos ítens nos caminhões. No caso em que a carga está muito fracionada e são
necessárias várias idas e voltas ao local de armazenagem, considerou-se o tempo médio de
movimentação por pallet. Portanto se uma carga, que poderia ser movimentada de uma só vez,
caso estivesse em condições ideais de unitização e guarda, necessitou de duas idas e voltas ao
local de armazenagem, para completar o equivalente a um pallet, foi considerado o tempo
total das duas idas e voltas.
Para o tempo de descarga considerou-se o intervalo entre o instante da informação de
descarga de determinada quantidade de itens e sua efetiva guarda no local apropriado de
armazenagem, levando-se em conta, como no tempo de carga, a média do tempo de descarga
por pallet.
Pela definição dos tempos de carga e descarga verifica-se que incluiu-se os tempos de
expedição, parte do tempo manuseio interno e o tempo de recuperação dos itens para
determinar o tempo de carga e os tempos de recebimento, parte do tempo de manuseio e o
tempo de guarda para o tempo de descarga.
Os tempos de carga e descarga foram classificados de 1 a 15 da seguinte forma :

Tempo de carga ou descarga 0<Tempo<= 2 2<tempo<=3 3<tempo<=4 ...........


Ordem 1 2 3 ........
Tabela 1- ordenação dos tempos de movimentação
3.3 – Pressupostos

Algumas simplificações foram feitas para permitir um maior número de amostras. As


diferentes dimensões dos armazéns, bem como os diferentes tipos de equipamentos de
movimentação não foram considerados variáveis relevantes, pois armazéns maiores, com
maiores corredores e avenidas a serem percorridos podem ser equipados com maiores e mais

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rápidas empilhadeiras, compensando o maior percurso de movimentação. Neste caso a


adequação de equipamentos foi entendida como natural na busca de maior eficiência. Os
possíveis desvios seriam absorvidos como flutuações aleatórias.

3.4 – Aplicação do método e resultados

1ª Etapa – verificação da amostra


A distribuição de probabilidades de ocorrência dos tempos de carga aproximaram-se de uma
poisson com média 6,79 minutos. O teste qui-quadrado mostrou haver aderência ao nível de
94,63%.

60

50

40

poisson
30
observações

20

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

t e mpo de c a r ga

Gráfico 1 - distribuição de probabilidade das observações dos tempos de carga

Já os tempos de descarga aproximaram-se de uma poisson de média 8,036 minutos. O teste


qui-quadrado indicou aderência aos 86 % de nível de confiança.
50

45

40

35

30 poisson
freqüência

observações
25

20

15

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
tempo de carga

Gráfico 2 - distribuição de probabilidade das observações dos tempos de descarga

2ª Etapa - Análise de variância e regressão linear :


Foi verificada a possível associação entre as variáveis explicativas ( EDI, RFI, Docas, etc) e as
variáveis resposta ( tempo de carga e descarga) através da análise de variância(SPIGEL,
1982).

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A análise de variância indicou haver associação entre o uso dos equipamentos e a redução dos
tempos de movimentação, como se vê nos quadros a seguir.

Tabela 2 - Resultados da análise de variância para tempos de carregamento ( SPSS )

Tabela 3 - Resultados da análise de variância para tempos de carregamento (SPSS )


Para determinar o peso de cada variável independente na variação dos tempos de
movimentação foi realizada uma regressão linear, obtendo-se os resultados a seguir.

Tabela 4- Sumário do resultado da regressão linear tendo como variável dependente o tempo de
carregamento(SPSS )

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A tabela 4 indica que o modelo de regressão explica 93,7 % das variações( segundo o valor do
r quadrado ajustado).

Tabela 5 - Resultado da regressão linear tendo como variável dependente o tempo de carregamento (SPSS)

O modelo de regressão indica que um aumento nos níveis das variáveis RFI, EDI e Layout
provoca as maiores reduções nos tempos de carregamento ( coeficientes –1,16; -0,894 e –
1,553 respectivamente).
O modelo de regressão que teve o tempo de descarga como variável dependente explicou
91,8% das variações, como mostra a tabela a seguir.

Tabela 6- Sumário do resultado da regressão linear tendo como variável dependente o tempo de descarga (SPSS).

Tabela 7 - Resultado da regressão linear tendo como variável dependente o tempo de descarga (SPSS)

A tabela 7 indica que para os tempos de descarga a variável EDI com coeficiente –1,544 é
aquela que causa maior redução no tempo de descarga quando aumenta de nível.

Análise dos resultados .

Os resultados indicaram que para a redução do tempo de carregamento níveis mais altos nas
variáveis RFI, EDI e layout oferecem melhores respostas. As variáveis EDI e RFI em seus
níveis mais altos ( nível 2 ) indicam que o equipamento está interconectado a outros sistemas.
Portanto parece haver uma relação direta entre o nível de integração das tecnologias e a
redução do tempo de carregamento. De fato equipamentos de intercâmbio de dados são mais
eficientes quando trocam informações com outros sistemas, como o sistema de informação de

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preenchimento de pedidos, que pode antecipar informações quanto a uma carga que será
despachada futuramente. Esta informação, combinada com informações do sistema de
gerenciamento de armazém podem precisar a exata localização no armazém, dos produtos que
serão carregados, reduzindo o tempo total de movimentação no armazém. O valor da variável
layout pode ser explicado pelo fato de sistemas de movimentação automáticos, sistemas de
gerenciamento de armazéns e mesmo equipamentos de intercâmbio eletrônico de dados
necessitarem de um armazém adequadamente arranjado, com sistemas de armazenagem bem
localizados e sinalizados para poderem funcionar eficientemente. Já quanto à redução do
tempo de descarga, a variável que se mostrou mais relevante foi EDI; o que pode ser
explicado devido á agilidade que o equipamento de EDI proporciona na descarga, permitindo
que os itens transferidos do caminhão para o armazém sejam identificados, quantificados e
tenham sua localização de guarda determinada, sem necessidade de interferência do homem.

4 -Conclusão.

A decisão acerca da escolha de diferentes tecnologias empregadas nas operações logísticas,


geralmente leva em consideração apenas aspectos relativos ao desempenho operacional
individual de cada equipamento. Contudo, em geral quando uma organização adquire um
novo equipamento de movimentação, transporte ou armazenagem, o resultado que se espera
obter diz respeito ao desempenho do sistema logístico como um todo integrado. A análise dos
fatores tecnológicos relativos à armazenagem baseada na análise dos tempos de
movimentação mostra-se capaz de identificar a relevância das interações entre fatores
tecnológicos utilizados na movimentação logística, o que seria difícil de se fazer apenas a
partir da avaliação das características nominais dos equipamentos.

5 -Referências .

BALLOU, R.H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos Planejamento, Organização e


Logística Empresarial. Porto Alegre : Bookman, 2001.
BOWERSOX, D.J & CLOSS, D.J. Logística Empresarial. São Paulo : Atlas, 2001.
CEL. Logística Empresarial : A Perspectiva Brasileira. Rio de Janeiro : Atlas, 2000.
FLEURY, P. F. ; ÁVILA, M.G. ; WANKE, P . Em busca da eficiência no transporte
terceirizado: estrutura de custos, parcerias e eliminação de desperdício. Revista Gestão e
Produção, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 204-218, 1997.
FRAZIER, G. & GAITHER, N. Administração da Produção e Operações.São Paulo :
Thomson, 2004.
FIGUEIREDO,K. A logística Enxuta. 2006, CEL-COPPEAD: Rio de Janeiro.
SPIGEL, M.R. Estatística. São Paulo : McGraw-Hill, 1982.

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