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HEMATOLOGIA
hemorragia e síndrome anêmica. Esplenomegalia e linfono-
pois, somente com suporte hemoterápico e antibiótico, a
domegalia não estão associadas à patologia.
mortalidade chega aos 70% em 12 meses.
No sangue periférico, encontra-se pancitopenia ou dimi-
d) AA muito grave: tratamento indicado imediatamente
nuição de ao menos 2 séries celulares, com reticulocitope-
pelos mesmos motivos já citados.
nia (tendo em vista que não existe stem cell para produção
de elementos figurados do sangue). Geralmente, a anemia B - Tratamento da AA idiopática
é normocítica e normocrômica, mas pode ser macrocítica
(com VCM <115). São critérios indicativos de AA: hemoglo- Os casos de AA não graves, sem necessidade transfu-
bina <10g/dL, contagem de plaquetas <50.000/mm3, conta- sional, não necessitam de tratamento, apenas de acompa-
gem de neutrófilos <1.500/mm3 e reticulocitopenia. nhamento periódico. Por sua vez, para os pacientes com
Indica-se a biópsia de medula óssea (exame que confir- AA grave ou muito grave, o tratamento de escolha para pa-
ma o diagnóstico) para avaliar a celularidade global na me- cientes com menos de 40 anos, quando houver doador HLA
dula óssea. Neste exame, encontra-se uma medula óssea compatível disponível, é o transplante alogênico de células
hipocelular, com predomínio de tecido gorduroso, em que tronco hematopoéticas, Porém, em razão das dificuldades
as células hematopoéticas restantes são morfologicamente de encontrar doadores, pode ser necessária terapêutica
normais, e não há infiltração medular por outras células. medicamentosa.
A análise do cariótipo é importante para descartar sín- Indica-se o uso de globulina antitimocítica (ATG) asso-
drome mielodisplásica hipoplásica, e a pesquisa do aumen- ciada à ciclosporina e corticoide, para bloquear a ação ci-
to de quebras cromossômicas induzidas pelo DEB é impor- totóxica dos linfócitos T. A resposta é esperada em 4 a 12
tante para afastar anemia de Fanconi (principalmente em semanas, podendo ser apenas parcial. Espera-se resposta
crianças, adolescentes e adultos jovens). em aproximadamente 60% dos pacientes.
É importante a avaliação com citometria de fluxo para pes- Se a neutropenia é severa, pode-se utilizar GCSF (fator
quisa de hemoglobinúria paroxística noturna, pois até 30% dos de crescimento granulocítico) associado à terapia imunos-
pacientes podem apresentar concomitância das 2 doenças. supressora para estimular exclusivamente essa população,
na tentativa de diminuir eventos infecciosos.
A transfusão de hemocomponentes deve ser evitada
sempre que possível, estando indicada somente quando há
sintomas (anemia sintomática, sangramento de mucosas)
ou risco de sangramento (procedimentos invasivos, trau-
mas, plaquetopenia <10.000/mm3), pois, se o paciente for
candidato ao transplante de células tronco, o número de
transfusões estará relacionado à redução na sobrevida.
Existe risco de progressão para outras doenças clonais he-
matológicas, como mielodisplasia, leucemia aguda e hemoglo-
Figura 1 - Medula óssea hipocelular, com aumento do tecido gor-
duroso, ausência de células anômalas ou tecido fibrótico B – clas- binúria paroxística noturna, mesmo após o tratamento.
sificação da AA idiopática O prognóstico da doença tem relação direta com a seve-
ridade da doença e relação inversa com a idade do paciente.
Tabela 1 - Critérios diagnósticos de anemia aplásica
- Celularidade de medula óssea <25 a 30% ou
até 50% com menos de 30% de células-tronco
3. Síndromes mielodisplásicas
hematopoéticas; As síndromes mielodisplásicas (SMD) constituem um
Anemia aplá-
- Ao menos 2 dos 3 critérios a seguir: grupo de doenças hematológicas clonais malignas caracte-
sica severa
· Neutrófilos abaixo de 500; rizadas por alterações displásicas das células da medula ós-
· Plaquetas abaixo de 20.000; sea, hematopoese ineficaz e citopenias. Podem acontecer
· Reticulócitos abaixo de 20.000. por mutação genética “de novo” ou em consequência da
Anemia aplá-
- Idêntico à anemia aplásica severa, porém com
exposição a agentes mutagênicos (alquilantes, radiação). A
sica muito doença é frequentemente progressiva, com evolução para
neutrófilos abaixo de 200.
severa leucemia aguda em cerca de 30% dos pacientes. A sobre-
Anemia vida mediana após o diagnóstico é de cerca de 2 a 3 anos,
- Pacientes que não preenchem nenhum dos cri-
aplásica não sendo a morte secundária a complicações relacionadas à
térios anteriores.
severa leucemia aguda ou à falência medular. Embora ocorra na
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HEMAT OLOG I A
infância, a maioria dos pacientes é idosa, apenas 25% têm Tipo Sangue periférico Medula óssea
idade inferior a 65 anos. Citopenia
Um dos aspectos mais importantes observados nas Refratária - Displasia em 2 ou mais
SMDs é a hematopoese ineficaz. Apesar da celularidade com Displasia - Bicitopenia ou linhagens;
abundante e do alto turnover celular, a apoptose intrame- Multilinhagem pancitopenia; - <5% blastos;
e Sideroblas- - <1% blastos. - >15% de sideroblastos
dular aumenta, em razão da displasia, resultando nas cito- tos em Anel em anel.
penias encontradas. (CRDMSA)
Anemia Re-
A - Classificação das síndromes mielodisplásicas fratária com - Bicitopenia ou - Displasia uni ou multili-
(classificação OMS) Excesso de pancitopenia; nhagem;
Blastos - 1 - <5% blastos. - 5 a 9% blastos.
(AREB-1)
a) Classificação FAB
- Bicitopenia ou
- Anemia Refratária (AR): a mais frequente, acontece, Anemia Re-
pancitopenia;
fratária com - Displasia unilinhagem ou
em geral, acima dos 50 anos. Não há neutropenia, pla- - Blastos de 5 a
Excesso de multilinhagem;
quetopenia nem blastemia (menos de 1% no sangue 19%;
Blastos - 2 - 10 a 19% blastos.
- Monócitos
periférico e menos de 5% na medula óssea). Costuma (AREB-2)
<1.000/mm3.
ser uma doença de melhor prognóstico;
Síndrome - Neutropenia ou
- AR com excesso de blastos (AREB): na medula, há de 5 mielodisplá- plaquetopenia; - Displasia unilinhagem;
a 19% de blastos e menos de 1% no sangue periférico. sica inclassifi- - Blastos raros ou - Blastos <5%.
Há plaquetopenia, granulocitopenia e oligocitemia; cável ausentes.
- Megacariócitos em nú-
- AR com sideroblastos em anel (adquirida): semelhan- Síndrome
- Anemia, plaque- mero normal ou elevado,
te à AR, porém com mais de 15% de sideroblastos em mielodis-
tas normais ou com núcleos unilobula-
plásica com
anel na medula óssea quando corados para ferro me- elevadas; dos;
deleção (5q)
dular; - <5% blastos. - <5% blastos;
isolada
- 5q-.
- Leucemia mielomonocítica crônica (LMMC): é seme-
lhante à AREB, mas tem aumento significativo de mo- Pela classificação da OMS, existe outra classe de doen-
nócitos, com disgranulocitopoese importante. Mono- ças: as mieloproliferativas/mielodisplásicas, em que há tan-
citose >1.000/mm3 no sangue periférico; to o componente proliferativo quanto o displásico. Nessa
- AR com excesso de blastos em transformação (ARE- nova classificação, incluem-se leucemia mielomonocítica
crônica (LMMC), leucemia mieloide crônica atípica e leuce-
BT): caso mais raro, é a clássica pré-leucemia. Há de 21
mia mielomonocítica juvenil. Vale ressaltar que, pela antiga
a 30% de blastos na medula e mais de 5% no sangue classificação FAB, não mais utilizada atualmente, estas do-
periférico. enças pertenciam ao grupo das mielodisplasias.
b) Classificação OMS
B - Quadro clínico e diagnóstico
Tabela 2 - Classificação das síndromes mielodisplásicas A síndrome mielodisplásica é geralmente assintomáti-
Tipo Sangue periférico Medula óssea ca e pode manifestar sintomas relacionados a citopenias,
- Displasia apenas na linha-
sendo mais comuns as queixas relacionadas à síndrome
gem eritroblástica <5% anêmica, como fadiga, intolerância ao exercício, tontura ou
Anemia Refra- - Anemia; déficit de atenção. Raramente, pode apresentar fenômenos
blastos;
tária (AR) - Blastos <1%. autoimunes como manifestações paraneoplásicas (artrite,
- < 15% sideroblastos em
anel. pleurite, vasculite, miosite).
Anemia Re- - Displasia apenas na linha- Há alteração importante da imunidade por vários mo-
fratária com - Anemia; gem eritroblástica; tivos: neutropenia, disfunção de neutrófilos, linfopenia e
sideroblas- - Ausência de - <5% blastos; hipogamaglobulinemia. Pode ocorrer hipergamaglobuline-
tos em anel blastos. - >15% de sideroblastos mia poli ou monoclonal.
(ARSA) em anel. No exame físico, a única situação em que se encontra
Citopenia esplenomegalia é na LMMC (que, por sua vez, como já dito,
Refratária - Bicitopenia ou - Displasia em 2 ou mais pertence às doenças mieloproliferativas/mielodisplásicas),
com Displasia pancitopenia; linhagens; podendo apresentar inclusive hepatomegalia e linfonodo-
Multilinhagem - <1% blastos. - <5% blastos. megalia; as demais classes não apresentam outras altera-
(CRDM)
ções ao exame físico além da palidez cutâneo-mucosa e, a
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PANCITOPENIAS
depender da plaquetometria, petéquias e equimoses. nóstico internacional (IPSS), que divide as mielodisplasia em
O diagnóstico é realizado por meio de vários exames. Os risco alto, intermediário 2, intermediário 1 e baixo, por meio
principais são: da pontuação de fatores como porcentagem de blastos na
a) Hemograma: podem-se encontrar anemia (macrocíti- medula, alteração citogenética e número de citopenias.
ca, normocítica ou microcítica) e leucopenia à custa de neu-
HEMATOLOGIA
Tabela 3 - Sistema de escore prognóstico internacional (IPSS) para
tropenia e/ou plaquetopenia. As alterações podem afetar mielodisplasia
apenas 1 ou 2 das séries, ou todas, e as alterações morfoló- Escore 0 0,5 1 1,5 2
gicas dos eritrócitos variam. Na LMMC, há leucocitose com
% blastos na 20 a 30%
monocitose (>1.000/mm3). <5% 5 a 10% - 11 a 19%
medula óssea (leucemia)
b) Mielograma: as alterações morfológicas podem afe- Interme-
tar 1 ou mais séries, com aparecimento de eritroblastos com Cariótipo* Bom Ruim - -
diário
falhas de hemoglobinização, elementos megaloblastoides, Citopenias** 0a1 2a3 - - -
presença de pontes internucleares, granulócitos com fa- * Cariótipo:
lhas na segmentação nuclear (formas pseudo-Pelger-Huet), - Bom: normal, - Y, del (5q), del (20q);
hipogranularidade, megacariócitos com núcleos hipolo- - Ruim: complexo (acima de 3 anormalidades) ou anormalidade
bulados e outras aberrações, além da presença de células do cromossomo 7;
imaturas (blastos). A coloração para ferro medular (Perls) - Intermediário: qualquer outra anormalidade.
é fundamental para a distinção dos sideroblastos em anel. ** Citopenias:
- Hb <10g/dL;
- Neutrófilos <1.800/mL;
- Plaquetas <100.000/mL.
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HEMAT OLOG I A
4. Resumo
Quadro-resumo
Anemia aplásica
- Diminuição da quantidade das células-tronco hematopoéticas, com
substituição de grande parte do tecido hematopoético por tecido
gorduroso.
Fisiopatologia
- Ativação de linfócitos T e liberação de citocinas, capazes de ini-
bir e induzir a apoptose das stem cells.
Critérios indicativos
- Hemoglobina <10g/dL;
- Contagem de plaquetas <50.000/mm3;
- Contagem de neutrófilos <1.500/mm3;
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