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O ciclo sono-vigília envolve uma complexa interação de circuitos neurais, sendo muitos
destes localizados no tronco cerebral. Em adultos humanos, existem cinco estágios do sono.
Normalmente, o sono começa com as de fase 1 a 4 do sono não-REM, sendo que estas fases
aprensetam um aumento progressivo da profundidade do sono. O sono não-REM (movimento
Não Rápido dos Olhos) é seguido pelo sono REM (movimento rápido dos olhos), sendo que
normalmente a maioria dos sonhos ocorre neste último estágio. O ciclo sono-vigília se repete
várias vezes durante a noite.
O sono REM é às vezes chamado de "sono parodoxal". Este nome é usado porque de
certa forma o sono REM é mais profundo do que o estágio 4, enquanto que por outros aspectos,
se assemelha ao estado de vigília.Por exemplo, o tonus muscular e a neurotransmissão
monoaminergica do tronco cerebral são mais baixos durante o sono REM do que durante
qualquer outra fase do sono. Por outro lado, o eletrencefalograma (EEG) durante o sono REM,
em alguns aspectos se assemelha ao do estágio de vigília, enquanto que os estágios 3 e 4 do
sono não-REM aproxima-se mais do EEG do coma. É também mais facil despertar um
indivíduo no estágio de sono REM do que nos estágios 3 ou 4 do sono não-REM.
O sono não é, como uma vez se pensou, simplesmente um processo passivo decorrente
da diminuição da estimulação do sistema nervoso. Vários circuitos neurais interagem para gerar
o sono. Curiosamente, experimentos de transecção em gatos ao nível do mesencéfalo
produziram coma, demonstrando a importância da formação reticular em manter o estado de
vigília. Transecção em niveis inferiores da ponte resultaram em acentuada redução do sono em
gatos, este resultado sugeriu a presença de regiões promotoras do sono no Bulbo. Essas regiões
foram posteriormente identificadas como sendo a formação reticular do bulbo e o núcleo do
trato solitário.
De fato, lesões em certas regiões do bulbo, assim como nas regiões anteriores do
hipotalâmo e prosencéfalo basal, podem reduzir signficativamente o sono. Por exemplo,
neurônio gabaminergicos do núcleo pré-óptico ventro-lateral (VLPO) da região anterior do
hipotálamo enviam projeções inibitórias para os neurônios histaminérgicos no hipotálamo
posterior, assim como para os sistemas excitatórios serotoninérgicos, noradrenérgicos,
dopaminérgicos e colinérgicos do tronco encefálico. O peptídeo galanina contribuí para esta via
inibitória juntamente com o GABA. Assim, o núcleo VLPO promove o sono não-REM ao inibir
o sistema ativador ascendente que direciona-se para o tronco encefálico.
Por volta da época da Primeira Guerra Mundial, houve uma epidemia única de
"encefalite letárgica", na qual pacientes dormiam por longos períodos, por vezes levando à
morte. Costantin Von Conomo examinou os cérebros desses pacientes e descobriu danos nas
áreas posteriores do hipotalamo. Mais recentemente, foram descobertos neurônios na area
postero-lateral do hipotalamo que produzem peptideos chamados orexinas ( também chamados
hipocretina. Em contraste ao núcleo pré-optico ventro-lateral, as orexinas promovem a ativação
das vias excitatórias do tronco encefalico e do hipotalamo sendo esta ação crucial para a
manutenção do estado de vigília. O núcleo pré-óptico ventro lateral é capaz de inibir os
neurônios liberadores de oxerinas, tornado a atividade destes reduzidas durante o sono e
deprimindo ainda mais as vias excitatórias do tronco encefálico e do hipotalamo.
Neurônios colinergicos do tronco encefálico também são capazes de ativar uma outra
classe de células “REEM-on” na ponte, podendo assim reduzir signficante o tonus muscular
durante o sono REM. Estas células REM-on glutaminérgicas, localizadas na formação reticular
pontina, atuam ativando circuitos envolvidos na transmissão inibitória glicinérgica no bulbo e
na medula espinhal. Como resultado, neurônios motores periféricos são inibidos causando
redução profunda do tônus muscular. Lesões ou degenerações deste sistemas (ex.estagios
prévios de parkinsonismo), suprimem a atividade inibitória motora normal durante o sono REM,
resultando em um complexo de atividade durante o sono REM denominada distúrbio
comportamental do sono REM. Embora a atividade muscular tônica seja inibida durante o sono
REM, há singelos movimentos fásicos durante o sono REM, tais como os movimentos rápidos
dos olhos e os movimentos fásicos breves dos membros. Estes movimentos fásicos também
ocorrem durante o estado de vigília e são ativados por neurônios localizados na formação
reticular pontina.
Saper e outros pesquisadores propuseram recente que as transições rápidas e completas
entre o sono e a vígilila, e o entre os estados de sono REM e não-REM ocorre através de um
comutador biestável ( “flip-flop switch”). Este termo, emprestado de circuitos eletrônicos,
descreve dois sistemas que inibem um ao outro . Estes circuitos mutuamente inibitórios
incluiem o VLPO , sistema monoaminergico e os neurônios REM-on e REM-off.
Distúrbios do sono
Distúrbios do sono podem ter um impacto significativo na nossa qualidade de vida, pelo fato de
gastamos cerca de um terço de nossas vidas dormindo. Estes distúrbios também são capazes de
afetar a maioria do que sentimos enquanto estamos acordados.
Insonia
Durante muitos anos, o objetivo da medicação para dormir era simplesmente ajudar as pessoas a
dormir. No entanto, se pensarmos sobre o objetivo final da medicação contemporânea
verificaremos que atualmente a demanda é para medicamentos que possibilitam as pessoas
estarem ativas no dia seguinte. Se um medicamento faz as pessoas dormirem por muito tempo,
mas produz uma ressaca de sonolência e dificuldade de concentração no dia seguinte, ele é pior
do que inútil. De fato. muitas drogas que são tradicionalmente utilizados para tratar a insônia
tem apenas o efeito hipinótico. Os pesquisadores reconhecem agora que a boa avaliação de uma
medicação para dormir está atrelada a vigília no dia seguinte, e as drogas "sem ressaca" estão
finalmente sendo desenvolvidas
Muitas pessoas passam grande parte do seu tempo em um estado de privação sono não porque
eles sofrem de insônia, mas porque as demandas de suas programações diárias leva esta a
ficarem acordadas até tarde ou acordar cedo (ou ambos), tendo uma quantidade de sono menor
do que a ideal. Privação de sono crônica pode levar a problemas graves de saúde, incluindo o
aumento do risco de obesidade, diabetes. e doenças cardiovasculares.
Uma forma particular de insónia é causada por uma incapacidade de dormir e respirar,
ao mesmo tempo. Os pacientes com esse distúrbio, chamado de apnéia do sono, adormecem e,
em seguida, deixam de respirar. Quase todas as pessoas, especialmente as pessoas que roncam,
têm episódios ocasionais de apnéia do sono, mas não ao ponto de que ela interfere com o sono.
Durante um período de apnéia do sono o nível de dióxido de carbono no sangue estimula
quimioreceptores (neurônios que detectam a presença de certas substâncias químicas) e a pessoa
acorda com falta de ar. O nível de oxigênio no sangue volta ao normal.a pessoa retoma sono e o
ciclo começa de novo. Em decorrência do sono interrompido, as pessoas com este transtorno
geralmente se sentem sonolentas e atordoadas durante o dia. Felizmente. casos alguns casos de
apnéia do sono são causados por uma obstrução das vias aéreas que podem ser corrigidas
cirurgicamente ou aliviadas por um dispositivo que se conecta a face do individuo com insônia e
fornece ar pressurizado que possibilita noites tranquilas..
Narcolepsia
A Paralisia do sono REEM as vezes ocorre em um momento em que a pessoas não está
submetida a um fator de stress, podendo ocorrer logo antes ou logo após o sono normal, quando
uma pessoa já está deitada . Este sintoma da narcolepsia, denominado paralisia do sono,
consiste na incapacidade de movimentação um pouco antes do início do sono ou ao acordar pela
manhã. Uma pessoa pode sair do estagio de paralisia do sono ao ser tocada por alguém ou ouvir
chamar seu nome. Às vezes, os componentes mentais de sono REM estão presentes na paralisia
do sono, fazendo com que a pessoa sonhe enquanto esta deitada acordada, paralisada. Estes
episódios, chamados de alucinações hipnagógicas, são muitas vezes alarmante ou mesmo
aterrorizante.
Narcolepsia é produzida por uma anomalia cerebral que perturba os mecanismos neurais
que controlam vários aspectos do sono e do despertar. Como vimos, os pacientes narcolépticos
têm dificuldade em ficar acordado, e aspectos do sono REM tornam-se presentes no estado de
vigília. Além disso, muitas vezes os pacientes pulam a etapa o sono de ondas lentas, que
normalmente inicia uma noite de sono e vão diretamente para o sono REM. Por fim, o sono é
muitas vezes fragmentado, interrompido por períodos de vigília.
Os sintomas de narcolepsia podem ser tratados com medicações. Ataques de sono pode
ser diminuída por estimulantes tal mtilfenidato (Ritalina), um agonista dos receptores alfa e beta
adrenérgico. Os fenômenos do sono REM (cataplexia, paralisia do sono, e alucinações
hipnagógicas) podem ser aliviado com medicamentos antidepressivos, que facilitam as
atividadea serotoninérgica e noradrenérgica. Como veremos no capítulo 16, anormalidades de
sono REEM são vistas em pessoas que sofrem de depressão. O fato de que drogas que reduzem
a depressão também suprimir os fenômenos do sono REEM provavelmente não é coincidência.
Mais recentemente, modanifil, uma droga estimulante cujo mecanismo de ação é desconhecido,
tem ser utilizada para o tratamento de narcolepsia. Um estudo realizado por Scammel et al
(2000) sugere que modafini atua, direta ou indiretamente, sobre os neurônios orexígenos. Os
pesquisadores descobriram que a administração de modafinil aumentou a expressão da proteína
FOS em neurônios orexigénos,, o que indica que os neurônios foram ativados.
Shenck et al. (1991) relataram dezenove casos de pessoas com histórico de comer
durante a noite, enquanto eles estavam dormindo, a qual chamaram Distúrbio Alimentar
Relacionado ao Sono noturno, relatando que em quase metade dos pacientes desenvolveram
excesso de peso devido ao hábito de comer à noite. Uma vez que os pacientes percebem que
estão comendo durante o sono, muitas vezes utilizam estratégias, tais como manter a sua comida
“a sete chaves” ou definir alarmes que irão despertá-los quando eles tentam abrir sua geladeira.
Transtornos alimentares relacionados com o sono geralmente respondem bem ao
agonista dopaminérgico topiramato, uma medicação anticonvulsivante, e pode ser provocada
por zolpidem, um agonista benzodiazepínico que tem sido utilizado para tratar a insônia
(Howell e Schenk, 2009). Um aumento na incidência de alimentação noturna em familiares de
pessoas com transtorno sugerem que a hereditariedade pode contribuir para o transtorno (De
Ocampo et al., 2002).