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Unidade I

ANÁLISE DO DISCURSO

Profa. Márcia Selivon


Objetivos

Objetivos gerais
 Levar o aluno ao desenvolvimento e ao
aperfeiçoamento da competência sócio-
discursiva.
 Desenvolver o senso crítico com a
capacidade de análise de diferentes
discursos, observando as diversas
possibilidades de gêneros discursivos e
suas relações intra e interdiscursivas.
Objetivos

Objetivos específicos
 Desenvolver a habilidade de observação
e de análise das estruturas discursivas e
seus processos formadores, a partir de
categorias teóricas específicas.
 Capacitar o aluno na análise dos
processos discursivos orientados pelos
pressupostos teóricos da Análise do
Discurso Francesa.
Saussure e a linguística

 No século XX a linguística passou a ser


considerada uma ciência.
Saussure:
 Pretendia estudar a língua enquanto
sistema convencionado na e pela
sociedade, sob o ponto de vista
sincrônico e ponto de vista unidisciplinar
(a língua pela língua, sem relação com
outras ciências.)
Origem da análise do discurso

 Por volta dos anos 1960, houve


insatisfação quanto ao ponto de vista
unidisciplinar.
 Com o intuito de ampliar os estudos
referentes à língua, observaram também
a necessidade dessas pesquisas
relacionarem-se a outras ciências.
 Surge a Análise do Discurso :
complementa as pesquisas linguísticas.
Análise do discurso: objeto de
estudo

 A expressão análise do discurso:


 não analisa apenas as palavras e o
significado delas em um texto.
 não é apenas verificar a manifestação
do pensamento humano na língua.
 observa os elementos constitutivos do
processo de produção de um texto.
 O texto é uma forma de representação do
que se pretende dizer, ou seja, as coisas
não têm uma relação direta com as
palavras.
Texto e discurso

 Nessa concepção de linguagem:


 Discurso: um conceito que não tem uma
única definição, mas que devemos
entender como a parte mais abstrata de
análise.
 Texto: a materialidade do discurso,
organizado por palavras.
Discurso: cena enunciativa

 O discurso relaciona-se ao processo da


comunicação humana (enunciação), e
não ao produto dela.
 Cena enunciativa:
 Sujeitos inscritos em:
a) estratégias de interlocução
b) posições sociais
c) circunstâncias históricas.
 Importante:
p analisar o discurso não é
 fazer análise de um texto do ponto de
vista gramatical, lexical ou semântico.
Pragmática: linguagem como ação

 A linguagem é concebida como forma de


ação, em que os sujeitos interagem por
meio do texto. Os estudos pragmáticos
consideram a língua em seu uso efetivo.
 Os sujeitos se manifestam de acordo
com o lugar do qual falam. Esse lugar
não é físico, geográfico, mas um espaço
de enunciação em que o sujeito se
constitui de acordo com as regras
determinadas por ele.
Interatividade

Assinale a alternativa correta em relação ao


objeto de estudo da Análise do Discurso:
a) Articulação das frases em um texto.
b) Seleção de palavras em um texto.
c) Processo de produção de um texto
texto.
d) Organização dos parágrafos em um
texto.
e) Função sintática das palavras em um
texto.
Elementos do espaço enunciativo

 Espaço enunciativo:o eu fala para um tu,


de um lugar e em um determinado
tempo.
Elementos que definem uma cena
enunciativa:
 Eu
 Tu
 Aqui
 Agora
Exemplo de enunciado (situação de
enunciação)

Diálogo:
 Carlos: Você deu uma olhada nesse
negócio?
 Laura: Qual?
 Carlos: Esse!
 Laura: ainda não.
Condições de produção do discurso

 A encenação ou “cenografia” determina


as condições de produção do discurso e
está relacionada a uma determinada
prática social.
Exemplo: uma mesma pessoa pode falar
do “lugar” de pai, ou de médico, ou de
cliente , de acordo com cada prática
social.
 (como personagens representando
papéis em determinados cenários
sociais).
Constituição do sujeito no discurso

 O sujeito não é a pessoa, o homem no


mundo, mas ele se constitui conforme a
prática discursiva em que se
circunscreve.
 formação discursiva ( Focault):o sujeito,
ao mesmo tempo em que se constitui em
seu discurso, é assujeitado pela
instituição social que representa.
O “eu” dirige-se ao “tu” de acordo com
as condições de produção que limitam
uma determinada prática discursiva.
Ideologia e discurso

 Ideologia: todo discurso é investido de


valores sociais de determinados grupos.
Conforme Bakhtin (1929),
 “todo signo está sujeito aos critérios de
avaliação ideológica (...). O domínio do
ideológico coincide com o domínio dos
signos: são mutuamente
correspondentes. Ali onde o signo se
encontra, encontra-se também o
ideológico”.
Cena enunciativa e ideologia

A cena enunciativa consiste em um sujeito


que:
a) Manifesta-se em uma comunidade
discursiva;
b) Pertence a uma Formação Discursiva,
assumindo a voz da ideologia do grupo
que representa.
 Segundo Bakhtin (1928), discurso é a
estratégia de como dizer o que se
pretende, daí seu caráter ideológico
Sujeito e enunciadores

 É necessário, ainda, analisar as múltiplas


vozes que se encontram cruzadas no
interior de um discurso.
O sujeito assume o “papel” de
representar o “que se quer dizer” por
meio do “como se diz”, ou seja,
expressa-se pela voz de enunciador(es)
em uma alteridade, em que o outro está
na voz do “eu”.
Importantes elementos do discurso

Desse modo, Bakhtin aponta nos


discursos:
a) “horizonte ideológico”, que subjaz à
construção do discurso;
b) um diálogo entre textos (dialogismo);
c) contexto histórico-social no qual se
situam os sujeitos produtores da
comunicação.
Interdiscurso e intertexto

 Com a pragmática, entende-se que o


discurso é uma prática social que está
em interdiscursividade com outros
 campos discursivos e que o texto é um
tecido de vozes e de intertextos.
Enunciador , enunciatário e gêneros
do discurso

 Na medida em que o “eu” enuncia,


dirige-se ao “tu”, há interação.
O enunciador fala a um enunciatário de
um lugar determinado, instaurado pela
prática social discursiva.
 Os vários gêneros do discurso
relacionam-se a essas condições de
produção do texto para a manifestação
do(s) discurso(s).
Interatividade

Assinale a alternativa incorreta:


a) Os gêneros textuais estão relacionados
ás várias práticas sociais.
b) O sujeito do discurso constitui-se de
acordo com as várias práticas sociais.
c) Bakhtin tratou do dialogismo do
discurso.
d) Na pragmática a linguagem é
considerada uma forma de ação.
e) Os valores dos diversos grupos sociais
não se relacionam ao discurso.
Heterogeneidade discursiva

 O sujeito enunciador representa uma


heterogeneidade de vozes no interior do
texto.
 A heterogeneidade pode trazer marcas
explícitas de outros enunciadores.
 A “heterogeneidade manifesta”
apresenta-se nas manifestações
explícitas, que podem ser recuperadas a
partir de várias fontes de enunciação.
Heterogeneidade explícita:
intertextualidade

 Entre essas manifestações está a


intertextualidade, definida por
Maingueneau como o tipo de citação que
uma formação discursiva determina
como legítima.
Ex: Segundo Mondada, a referência é um
tema clássico da filosofia da linguagem
 Mondada afirma:” A referência é um
tema clássico da filosofia da linguagem.”
Heterogeneidade discursiva:
implícita

Heterogeneidade”(implícita):
interdiscursiva e/ou intertextual.
Exs:
 Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorgeiam
Não gorgeiam como lá.
(Gonçalves Dias)
Heterogeneidade implícita
(paráfrase e paródia)

 Meus amores ficam lá!


_ Onde canta nos retiros
Seus suspiros,
Suspiros o sabiá!
(Casimiro de Abreu)

 Minha terra tem macieiras da Califórnia


Onde cantam gaturamos de Veneza
Eu morro sufocado em terra estrangeira
(Murilo Mendes)
Heterogeneidade discursiva (outra
classificação)

Aos mesmos fatores, Koch (2009) dá a


classificação de: intertextualidade em
sentido restrito e intertextualidade
emsentido amplo. De modo restrito, a
intertextualidade pode ocorrer explícita ou
implicitamente; é explícita quando se pode
resgatar a fonte, já a implícita não
possibilita muitas vezes essa identificação.
Polifonia e intertextualidade

É preciso, ainda, relacionar essa


intertextualidade e/ou interdiscursividade à
noção de polifonia. Para tanto, deve-se
retomar a teoria de Ducrot (1984):
Teoria polifônica: Ducrot

 A partir do conceito de polifonia de


Bakhtin, Ducrot formula a sua teoria
polifônica.
 Ducrot transpõe para o
 nível linguístico ( perspectiva da
semântica da enunciação), e
 mostra que em um mesmo enunciado
ressoam várias vozes.
Teoria polifônica: locutor e
enunciador

 Há necessidade de se diferenciar locutor


de enunciador, devido às múltiplas vozes
existentes em um discurso
 Ducrot diferencia o locutor propriamente
dito do responsável pela enunciação,
pois este é o ser empírico, origem do
enunciado.
Outras vozes do discurso

 A polifonia é, portanto, a incorporação


das vozes de outros enunciadores, isto
é, do(s) interlocutor(es), terceiro(s), a
opinião pública em geral ou o senso
comum.
Isso é feito no próprio discurso, de modo
a se apresentar como o coro de vozes
que se manifesta em cada discurso, na
medida em que o pensamento do outro é
constitutivo do “eu”.
Produção de sentidos e alteridade

 Logo, a produção de sentidos está


condicionada pela alteridade.
O locutor, por meio do enunciado, dá
existência aos enunciadores (que
correspondem aos pontos de vista
presentes no texto).
 Em síntese, para Ducrot, o enunciador
está para o locutor assim como a
personagem está para o autor.
Linguagem e polifonia

 A heterogeneidade do discurso
postulada por Maingueneau tem relação
com a polifonia de Ducrot, e ambas
noções têm como princípio norteador o
conceito de dialogia de Bakhtin.
 Pode-se dizer que linguagem é um
fenômeno essencialmente polifônico
Interatividade

Assinale a alternativa correta em relação á


heterogeneidade discursiva:
a) A polifonia incorpora vozes de outros
enunciadores.
b) Pode-se
Pode se afirmar que a polifonia não faz
parte da linguagem.
c) A heterogeneidade implícita manifesta-se
no texto.
d) Para Ducrot, não há diferença entre
locutor e enunciador.
enunciador
e) A produção de sentidos não está
condicionada pela alteridade.
A teoria dos atos de fala

 A teoria dos atos de fala, dos filósofos


de Oxford, como Austin e Searle, postula
que:
 o locucional diz respeito ao
 locutor;
 o ilocucional relaciona-se ao
interlocutor;
 o perlocucional, no efeito produzido pelo
ato de fala, não está centrado nem no
locutor nem no interlocutor
Searle e os atos ilocutórios

 Em relação aos atos ilocutórios, a


contribuição de Searle (1969) propõe
isolar o componente ilocutório ao se
definir as condições
 de emprego dos atos de linguagem,
postulando a existência de três atos:
 enunciação
 proposicional
 ilocutório
Força ilocutória e contexto

Dessa forma, dois enunciados diferentes


podem ter o mesmo conteúdo
proposicional, mas valores ilocutórios
distintos.
Ex: A Terra é redonda (afirmação ou
pergunta).
 O contexto é que permitirá estabelecer a
força ilocutória da enunciação,
A argumentação como ação sobre o
outro

Visando à argumentação como forma de


ação sobre o “outro”, Brandão parte da
noção de adesão elaborada por Perelman e
postula a existência de dois movimentos na
articulação de um discurso argumentativo:
 construção/ deconstrução, que
objetivam uma transformação.
Argumentação: movimento de
negação

 Nessa perspectiva,postula-se o
movimento de negação existente na
argumentação, sob o enfoque de ao
mesmo tempo em que a argumentação
está voltada para o “outro”, o percurso
argumentativo está bem marcado por
uma anulação desse “outro”, pois visa à
afirmação de seu próprio discurso..
Discurso: interação e dialogia

 Como a argumentação, segundo


Brandão, está centrada no discurso, esta
é sóciointeracional: ela é feita por um
sujeito e dirigida a outros sujeitos que
também estão em ação.
 Assim sendo, a noção de dialogia é a
base da argumentação.
Interdiscursividade e alteridade

 Já no que diz respeito à


interdiscursividade, Maingueneau (1987)
postula que, por haver heterogeneidade
e polifonia, um discurso não pode ser
autofundado, nem ser definido como
uma única formação discursiva
discursiva.
 Relação de alteridade:
 Um discurso sempre está em relação
com outros discursos.
Afirmação do “eu”(subjetividade)

 No que diz respeito à teoria da


enunciação, por haver polifonia, há uma
dispersão de “eu”, porém este luta pela
monofonização realizada por ele, assume
a posição de sujeito de intenções,
deixando no texto enunciado as marcas
de sua subjetividade (cf. Kerbrat-
Orecchioni, 1980).
Ideologia e “topoi”

 O conceito de “topoi” está relacionado à


noção de ideologia, uma vez que os
“topoi” apresentam princípios gerais e
concorrentes mobilizados nos
enunciados quanto à intenção
argumentativa do locutor (cf
(cf. Brandão
Brandão,
1997).
 A intenção argumentativa em relação aos
“topoi” é a de modificar crenças na
comunidade discursiva.
Interatividade

Assinale a alternativa incorreta em relação


ao ato de argumentar:
a) Argumentar é interagir com o outro.
b) Argumentar relaciona-se ao dialogismo.
c) Argumentar é procurar modificar crenças
estabelecidas.
d) Na argumentação só há uma formação
discursiva.
e) Argumentar é manifestar um ponto de
vista.
ATÉ A PRÓXIMA!

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