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Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ADMINISTRAÇÃO OU GESTÃO ESCOLAR: QUAL A VISÃO E
PRÁTICA DOS MEMBROS DOS SEGMENTOS DA GESTÃO?
Resumo:
Sabe-se que a gestão não é neutra. Por ela perpassam questões de ordens sociais,
políticas e pedagógicas que se disseminam em várias outras. Diante disso
pesquisou-se a administração/gestão escolar. Nas primeiras leituras, constatou-se
que os conceitos de administração e de gestão escolar vêm sendo empregados
como sinônimos quando se trata da condução dos trabalhos do diretor escolar. No
entanto, ao se aprofundar nos estudos dos dois conceitos, percebeu-se
empiricamente que eles são diferentes, mas o fato de serem diferentes não significa
que são totalmente desconectados. Pelo contrário, eles são intimamente ligados e
mantêm estreita relação. Sendo assim, este trabalho visou explanar sobre a
questão: Há diferença entre os processos de administração e de gestão escolar no
campo da pesquisa? Como metodologia, na fase de “Implementação PDE” foi
desenvolvido um Caderno Temático como instrumento para dialogar com os atores
do campo da pesquisa, versando com maior profundidade sobre a fundamentação
teórica do tema, objetivando maiores esclarecimentos para os diretores escolares e
demais membros dos segmentos da gestão, em relação aos preceitos da gestão,
com foco nas práticas sociais, políticas e pedagógicas. Baseando-se num dos
objetivos do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, articulação da
teoria com a prática no contexto do ambiente de pesquisa, principalmente voltado
para a realidade escolar, o citado conteúdo foi implementado ao público alvo:
diretores, pedagogos e demais interessados, por meio de um curso de 32 horas, no
formato de grupo de estudos, nos quais ocorreram momentos de discussão e
execução das atividades propostas, no Caderno Temático.
Palavras-chave:
1
Professora PDE – Núcleo de Curitiba – Turma 2014.
2
Professor Orientador – Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral.
1. INTRODUÇÃO
2. ASPECTOS TEÓRICOS
Entretanto, é inegável que este modelo de regime acaba por ser efetivo, não
do enfoque da participação coletiva, mas da organização, disciplina e cumprimento
de metas. Russo (2004, p. 37), baseado em Paro, discorre sobre o assunto:
Almeida (2009, p. 25), por sua vez, conceitua gestão escolar como sendo:
[...] constitui uma franca contradição, uma clara incoerência, uma prática
educativa que se pretende progressista, que é realizada, porém, dentro de
modelos tão rígidos, verticais, nos quais não existe lugar para a menor
possibilidade de dúvida, de curiosidade; de crítica, de sugestão, de
presença viva, com voz, de professores e professoras que devem ficar
submissos aos ‘pacotes’; dos alunos, cujo direito se resume ao dever de
estudar sem indagar, sem duvidar, submissos aos professores; dos
zeladores, dos cozinheiros, dos vigilantes, que, trabalhando na escola,
também são educadores e necessitam ter voz; dos pais, das mães, que são
convidados a visitar a escola ou para festas nos fins de semestres ou para
receber queixas sobre seus filhos ou para encarregar-se dos consertos, das
reparações do prédio escolar ou até para ‘participar’ dos pagamentos do
material escolar, etc. Nos exemplos que dou, temos por lado, a proibição ou
inibição de participação; de outro, a falsa participação.
O mesmo autor (2003, p. 126) defende ainda que para se reforçar o processo
democrático de gestão, possibilitando a existência de um diretor que atue como:
Portanto, refletir sobre a gestão democrática da educação, faz com que seja
necessário repensar suas características, as quais são complexas em virtude da
pluralidade que pode propiciar possíveis disputas e até mesmo interesses opostos,
levando-se em conta que não é o processo de escolha de diretores pela comunidade
que em si democratiza a escola, mas sim, o entendimento de todos de que esse
procedimento é apenas uma parte do processo de participação da comunidade.
Sendo assim, há que se considerar uma forma de gestão que vise evolução
da administração para a gestão escolar, não ignorando os possíveis conflitos que
poderão advir de opiniões diversas dos componentes da comunidade escolar,
antagonismos estes que deverão ser bem geridos pelo diretor e pelo pedagogo para
que se garanta a transformação de possíveis embates em novas possibilidades.
Gerando assim, uma escola que forme cidadãos críticos, socialmente ativos e
comprometidos com suas ações e decisões, assim como, capazes de tomarem
decisões pautadas em conhecimentos aprendidos durante sua estada na instituição
escolar de forma participativa, criativa e bem sucedida.
Segundo Kuenzer (2014), infelizmente, perdura na educação a dificuldade em
se ouvir os estudantes. Eles geralmente são afastados dos momentos de discussão
e decisões coletivas sobre os planos da escola, tanto no sentido estrutural como
curricular. Porém ao agir assim, a escola perde a oportunidade de trabalhar junto
aos estudantes os aspectos de auto-organização, autogestão, de que construam sua
personalidade de forma autônoma.
Afinal, se o jovem aprender durante o processo educacional a ser autônomo
em sua formação geral e integral, ele vai se encontrar mais preparado para as
questões de fora da escola, do mundo lá de fora. Ser autônomo por um lado e
entender a construção coletiva por outro, isso leva a propiciar a gestão democrática
verdadeira e por consequência, a formação e promoção da cidadania.
Durante o estudo procurou-se traçar um paralelo entre as nomenclaturas –
Administração e Gestão Escolar, demonstrando através da pesquisa, a transição do
entendimento dos conceitos.
Klaus (2011) em sua tese de doutorado, efetuou extensa pesquisa histórica
para encontrar o ponto focal da alteração da visão administrativa para a visão de
gestão sofrida pela educação em nosso país, demonstrando que historicamente, os
termos administração e gestão escolar vêm sofrendo alterações, sendo que se
evidencia principalmente entre as décadas de 30 a 70 uma visão estritamente
administrativa da educação, demarcando a necessidade de controle e disciplina. De
1930 até 1945, aproximadamente, houve um momento educacional bem demarcado,
período em que foi focada a contabilização da população educável.
A lógica piramidal foi primordial nesta época. O que se visava eram a
linearidade, a rotina e o planejamento da educação.
Assim, a educação vai evoluindo e ao longo das décadas de 70 e 80, o
enfoque passa a ser reestruturação econômica e o ajuste político e social. Porém, o
viés administrativo continuava bastante ativo, até mesmo na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação 5692/71, o termo administração era utilizado, reforçando as
condições de amplo controle das ações da escola por parte do administrador que
devia centralizar o poder, bem como, as decisões.
Ao longo dos anos, com a queda da Ditadura Militar, os marcos econômicos,
sociais e políticos se alteraram e houve um avanço no significado das ações
educacionais. O neoliberalismo se assentou no cenário nacional e com sua
conjuntura as concepções mudaram, trazendo o termo gestão que passa a ser
utilizado por ser considerado mais amplo.
Dessa forma, foi possível ao diretor de uma escola abarcar e realizar as
várias tarefas, sozinho ou em conjunto com sua equipe diretiva. Essa questão foi
abordada na Constituição Federal de 1988 e na atual Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – 9394/96, já citadas neste Caderno.
Neste sentido, Kuenzer (2014, p.1) aborda com precisão a mudança
epistemológica ocorrida:
O que deve ficar claro para o gestor escolar é que o administrativo deve
estar a serviço do pedagógico, isto é, deve servir de suporte para a
consecução dos objetivos educacionais da unidade escolar. Entretanto, na
gestão de uma escola, a preponderância dos aspectos pedagógicos sobre
os aspectos administrativos ainda é, para muitos gestores, um grande
desafio a ser vencido. Isso se dá devido à forma como a gestão das escolas
públicas está estruturada. O papel que o diretor deve ocupar, nesse
momento, difere, em muito, daquele burocrata, centralizador do poder, que
está a serviço da burocracia e do Estado ou do Município. Ao diretor, cabe
romper com essa postura autoritária e de passividade diante das
orientações vindas de cima para baixo, como se fosse um funcionário
burocrático do sistema. Esse diretor, aqui entendido como sinônimo de
gestor deve enxergar em si mesmo um representante de um projeto político-
social de educação que passa pela ruptura com um sistema seletivo,
excludente, e forjar uma gestão escolar mais aberta, arejada para os
anseios populares.
Portanto, o diretor cada vez deve que ter uma postura agregadora que
possibilite o sucesso no processo ensino aprendizagem a todos, e não apenas
garantir o acesso e a permanência dos alunos na escola. Nossa sociedade está em
constante evolução e alteração, o que exige constantes atualizações de
pensamentos e de ações pedagógicas.
Como resolução dessa questão é possível investir na formação continuada
em serviço, a ser ofertada aos diretores. Isso certamente viria ao encontro dos
anseios de vários profissionais que ainda têm muitas dúvidas acerca de suas
funções e atividades possíveis de serem executadas, pois Alonso (2004, p. 7), afirma
com propriedade que: “Os gestores, por sua vez, nada mais são do que educadores
que, em dado momento, se tornaram responsáveis pela condução desse processo.”
Sendo assim, nada mais justo que ao longo de seu mandato ele receba
informações e bases teóricas que venham a sustentar suas ações práticas como
dirigente da escola, pois segundo Russo (2004, p. 34):
[...] a teoria, ao mesmo tempo que reflete a realidade, da qual se nutre para
isso, tem de servir de guia orientador das ações que se realizam na prática
com vistas ao seu aperfeiçoamento, segundo uma opção axiologicamente
determinada. Essas transformações que, orientadas pela teoria, introduzirão
mudanças na realidade, precisam ser reincorporadas por ela para que
possa continuar refletindo a nova realidade daí resultante. Por sua vez, a
teoria modificada orientará novas transformações, criando-se, assim, um
movimento circular de etapas sucessivas, de idas e vindas entre teoria e
prática que, combinado com o movimento permanente da transformação
qualitativa de ambos, resultará num movimento espiral.
4. CONSIDERACÕES FINAIS
Brasil. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional : Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional [recurso eletrônico]. – 8. ed. – Brasília:
Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2013. 45 p. – (Série legislação; n. 102)
Atualizada em 8/5/2013. ISBN 978-85-402-0101-9 (e-book), disponível em
https://www.google.com.br/search?q=ldb+atualizada&oq=ldb+&aqs=chrome.2.69i57j
0l2j5.6119j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF, acessado em 08/08/2014.
SOUZA, Angelo Ricardo de. 2006. O Perfil da Gestão Escolar no Brasil. Tese de
Doutorado (Educacao: Historia, Politica, Sociedade). Sao Paulo: PUC-SP.