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Algumas Possibilidades
Autoria: Patricia Kinast De Camillis
Marco Teórico
O referencial teórico trata essencialmente de conceitualizar elementos da Teoria Ator- Rede
(TAR), partindo da frase-orientadora “seguir os atores”. Segundo Latour (1999, p. 19), “os
actante atores sabem o que fazem e nós temos que aprender com eles não apenas o que eles fazem,
atores sociais - actantes mas também, como e por que fazem determinadas coisas”. Porém, quem são os atores para a
TAR? Esses atores não são os “atores sociais”, como a sociologia geralmente trata - pessoas
ou instituições formadas por pessoas – são, na verdade, actantes que possuem a propriedade
de produzir efeitos na rede, de ser “actante”. O autor ainda destaca que a palavra ator se limita
a humanos, por isso usar actant (actante), termo tomado à semiótica para incluir os não-
humanos na definição. Um actante deixa traço e só assim pode ser seguido na rede. Os
actantes produzem efeitos na rede, a modificam e são modificados por ela e são estes
elementos que devem fazer parte de uma descrição que se propõe trabalhar com a TAR.
Porém, não há como anteciparmos que atores (humanos e/ou não-humanos) produzirão efeitos
na rede, que atores farão diferença, senão acompanhando seus movimentos.(LATOUR, 2001).
REDE A “rede” não é a da cibernética, nem da internet, nem de esgoto ou trens, a noção de rede
remete a fluxos, circulações, alianças, deslocamentos, nas quais os actantes envolvidos
interferem e sofrem interferências constantes. (LATOUR, 1999). A rede heterogênea, é o
núcleo da Teoria Ator-Rede, é uma forma de sugerir que a sociedade, as organizações, os
agentes, as máquinas, são todos efeitos gerados em redes de certos padrões de materiais,
humanos e não-humanos (LAW, 1992). Conforme Latour (2005), um bom trabalho de campo
produz uma quantidade de novas descrições e para Teoria Ator- Rede, uma boa descrição não
precisa de explicação, por isso, escrever textos está relacionado ao método, entretanto, não se
está falando de uma “mera descrição” uma vez que, dependendo da maneira como o texto é
trabalhado, um actante e/ou uma rede poderão ser traçados. E ainda é preciso considerar a
afirmação de Law (1997), de que, utilizando-se a Teoria Ator-Rede, não há uma única
narrativa, pois não se consegue capturar todos os aspectos da realidade - que não está pronta e
acabada lá fora. Para Lee e Hassard (1999), a TAR é ontologicamente relativista, uma vez
que, ao utilizá-la como método de pesquisa, não devemos assumir, a priori, uma estrutura, um
modelo de análise que defina o quê e quais são as entidades e/ou elementos a serem
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observados no campo (LEE; HASSARD, 1999; LATOUR, 2005). Significa ainda, segundo
Mol (2002), não assumir a existência como dada, e sim, como algo que é construído –
(des)estabilizado - enactado, no sentido de ser sempre instável, por meio de práticas e
relações.
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organizando se faz presente e, algumas vezes, se deixa capturar. O resultado desse
pensamento é o entendimento de que enquanto fizermos afirmações de realidade na ciência,
nós estamos colaborando para que se tornem mais ou menos reais; e para Teoria Ator-Rede,
dizer que algo é real, é também dizer que é construído, conforme Mol (2002), é enactado
através de práticas materialmente heterogêneas. Para Mol (1999, p.74) “as condições de
possibilidades não estão dadas” e isso abre a possibilidade de pensarmos que as coisas, dentre
elas, a gestão, podem ser de outro modo. Latour (1999) e Mol (2002) destacam que as
realidades não são explicadas pelas práticas ou crenças, mas são produzidas nelas, por elas,
com elas. Desta forma, o(a) pesquisador(a) com seus medos, sentimentos, incertezas e
certezas, contribui para essa produção; não poderia ser diferente. Diante disso, a
Administração deve se questionar sobre o que e como está produzindo realidades.
Referências bibliográficas
LATOUR, Bruno. On recalling ANT. In: LAW, J.; HASSARD, J. Actor-network theory and
after. Oxford: Blakcwell Publishers, 1999, p.15-25. ; LATOUR, Bruno. Ciência em Ação:
como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora UNESP. 2000. ;
LEE, Nick; HASSARD, John. Organization Unbound: Actor-Network Theory, Reserch
Strategy and Institucional Flexibility. Organization. Vol. 6(3), 1999, p 391 – 404. ; LAW,
John. ‘Notes on the Theory of the Actor Network: Ordering, Strategy and Heterogeneity‘,
published by the Centre for Science Studies, Lancaster University, Lancaster LA1 4YN,
Disponível em :http://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/papers/Law-Notes-on-ANT.pdf 1992.
Acesso em 21.Jul.2009. ; MOL, Annemarie. The Body Multiple: Atherosclerosis in Practice.
Durham, NC: Duke University Press. 2002.