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Apostilas de Filosofia
FILOSOFIA NO ENSINO M ÉDIO
Filosofia - Apostila 1
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Introdução:
Cada pessoa, em algum momento de sua vida, ou em todos, pergunta a si próprio: Como
será o mundo no futuro? Em prazos curtos ou longos, todos imaginam. A injustiça social
existirá eternamente? A natureza será esmagada pelo homem? E será que o homem
tem uma natureza esmagadora? Saídos do colo de nossos pais, para o colo da cultura,
abraçamos um mundo de dúvidas, espantos e admirações. Temos muito o que perguntar
sobre: a alegria, a tristeza, a saudade, a beleza, a feiúra, a vaidade, a mídia, a Internet, a
aids, o sexo, o namoro, a prostituição, o casamento, o amor, a amizade, as drogas, o real,
a profissão, a política, a violência, a música, a moda... Filosofar é, de certa forma,
aproximar-se desta postura, de seguir perguntando. É investigar deixando de lado o
medo, a arrogância e o preconceito. É estar pronto para enfrentar um debate rico e
respeitoso sobre nossas vidas, sobre coisas muito importantes. Coisas que, por engano,
achamos não ter importância alguma, que podem estar tão próximas e às vezes parecem
tão distantes.
Estas e outras questões, vamos conversar, ler e escrever no decorrer do ano, procurando
conhecer um pouco o filosofar. Evidentemente não pretendemos estudar os 26 séculos
de história da Filosofia, mas apenas espiar alguns momentos importantes para nossas
reflexões no presente.
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A disciplina que durante anos esteve impedida, agora pede licença para ocupar seu
espaço de aula, convidando a todos para uma viagem intelectual, cujo passaporte é a
curiosidade. Na bagagem, apenas o necessário: análise, reflexão e crítica. Vamos
filosofar?
Análise
Decomposição de um todo
Reflexão
Crítica
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Mesmo sem o contato com esta disciplina, todos já ouviram, leram ou até falaram: Minha
filosofia de vida é...; A filosofia do nosso time...; Nossa filosofia de trabalho...; Cheio das
filosofias!!! Filosofia de botequim. Expressões como estas, diariamente são reproduzidas
em todos os lugares, fazendo-nos pensar que todos, em qualquer situação, “precisamos”
ou “padecemos” de uma filosofia, e de que toda crença é filosofia. As expressões filosofia
de botequim e cheio das filosofias, servem para identificar o discurso de um bate-papo
descontraído, ou de animados pelo álcool, ou ainda daquele chato que complica a
cantada na menina. Estas formas de inclusão da palavra, são geralmente carregadas de
um profundo desconhecimento, levando-nos a enxergar filósofos em sujeitos falantes e
misteriosos, que só argumentam coisas “sem pé nem cabeça”.
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Afinal de contas, o que é Filosofia? O que é ter uma visão filosófica? Quantas filosofias
existem? Somos todos filósofos, ou somente os “estranhos” são? Precisamos realmente
de filosofias? Qual a utilidade de seu estudo?
Existem várias definições para a filosofia, tão variadas quanto o número de filósofos.
Grandes pensadores marcaram épocas, trabalhando conhecimentos naturais e históricos,
fundando e destruindo conceitos, pela fala e pela escrita. Uma definição clássica,
bastante aceita no decorrer dos séculos, é do filósofo grego Platão. Em sua obra
Eutidemo, encontramos Filosofia como o uso do saber, o mais válido e mais amplo
possível, em proveito do homem.
Hoje, o filósofo, vivo ou morto, encontra-se em livros, também publicados em CDs. Para
ver um, teremos que lê-lo. Para ser um, teremos que escrevê-lo. De modo geral a filosofia
está em toda a parte. Desde que o pensamento reflexivo se faz presente, o ser humano
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filosofa. No entanto, saber o que é filosofia lendo o que foi escrito e escrevendo o que
ainda não foi, é o caminho mais especial, seguro e verdadeiro para a questão.
“...não só ‘pensa’ com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de
sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, sabe
explicar o desenvolvimento que o pensamento teve até ele e é capaz de retomar os
problemas a partir do ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais
variadas tentativas de solução.”
- afirmando e negando.
- investigando e compreendendo.
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Filosofia não é religião, política e ciência. Porém, todas tiveram seu momento filosófico
inaugural, e sustentam-se em idéias e regras específicas, fundamentadas em filosofias.
Hoje, a Filosofia “visita” estas áreas, analisando, refletindo e criticando. A mais visitada
é a ciência, que somente no século XVII separou-se da Filosofia, e desde então caminha
em seus campos particulares, como a Sociologia, a Química, a Biologia, a Psicologia,
etc. Todas as áreas sustentam e desenvolvem seus conhecimentos específicos, e a
Filosofia “fica de olho”.
Assim, por exemplo, o médico e o biólogo, tratando de seus assuntos, fazem juízos de
realidade. O filósofo faz juízo de valor. Uma célula cancerígena ou um buraco na camada
de ozônio, exigem estudos que identificam reais conseqüências no organismo vivo. A
Filosofia, tratando da Medicina e da Biologia, pode pensar acerca da eutanásia (morte
concedida àqueles que encontram-se acometidos por doenças incuráveis), da felicidade,
e da ética na tecnologia.
Utilidade da Filosofia:
Sua utilidade é muito questionada. Qual o resultado do olhar filosófico? Para que serve o
ensino de Filosofia hoje, se a ciência caminha sozinha? Responder estas questões, é
filosofar acerca do útil. É pensar a utilidade e suas relações. Refletir as diversas ocasiões
em que a utilidade faltou ou sobrou.
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Inútil? Útil?
O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que e para quem algo
é útil? O que é o inútil? Para que e para quem algo é inútil?
O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e
riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando
utilidade e a famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a
Filosofia é inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil.
Platão definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício
dos seres humanos.
Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para
saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade
humana.
Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo
e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria
justiça, abundância e felicidade para todos.
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Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser
percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.
(CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 5. ed. São Paulo: Ática, 1995. p.18.)
1 – Defina a Filosofia?
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3 - Onde está a utilidade da Filosofia para Marilena Chauí? Escreva sobre o útil e o inútil
na sociedade.
1 - Descreva alguma situação que faz parte do seu cotidiano, e depois tente adotar uma
atitude filosófica diante da mesma.
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Mýthos, do verbo mythéomai, significa: dizer, conversar, contar, anunciar, nomear. Num
período longo da história grega, a sabedoria foi exclusivamente construída em conversas
e narrações mitológicas. A teogonia e a cosmogonia eram as duas formas de
pensamento que sustentavam a narrativa mítica. Theogonía, palavra composta de théos
(deus, divino) e de gónos (ação de engendrar, procriar);e a Kosmogonía, também
composta de gónos, apresenta Kósmos (princípio ordenador do mundo).Então, a
theogonia narrava o nascimento dos deuses, dos heróis, dos homens e da natureza,
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como fruto das relações sexuais dos próprios deuses; e a cosmogonia narrava a
geração da ordem do mundo a partir das relações sexuais entre o concreto e o divino.
Alguns historiadores afirmam que o nascimento da filosofia teria partido de um sistema
de explicação do mundo, não necessitando inventar um novo sistema. É verdade que os
primeiros filósofos partiram das mesmas inquietações mitológicas, e muitos continuaram
se valendo de explicações mitológicas. Porém, o que fazem de fundamental, é substituir
os elementos divinos por elementos da natureza. Como veremos mais detalhadamente,
os pré-socráticos teriam extraído das narrativas mitológicas a relação entre o caos e a
ordem do mundo, substituindo deuses por homens, ou por formas da natureza, como o ar,
a terra, a água, o fogo, etc.
A guerra de Tróia, segundo Homero, começou por causa do rapto da bela Helena pelo
troiano Páris, filho do rei Príamo. Neste relato, o fado ou destino “a parte que cabe a
cada um” desempenha um papel principal: a todo momento, os deuses impõem uma
série de obstáculos aos heróis, mas jamais conseguem modificar, com seus atos
arbitrários, o curso do destino.
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Nascimento da Filosofia:
A filosofia nasceu na Grécia, numa forte tensão entre mito e razão. A narrativa mágica deu
lugar aos poucos à explicação racional. Contudo, acrescentamos que não só os gregos
buscavam a sabedoria a partir do mito ou da razão. Povos de todo o mundo, em todos os
continentes, tão ou mais antigos que os gregos, produziram conhecimentos e construíram
diversificadas culturas. Assim foram as nações indígenas, que antes da colonização
européia, possuíam um vasto campo de conhecimento nas Américas. Da mesma forma
os egípcios, os chineses, os árabes, os africanos, e muitos outros.
- desenvolvimento da navegação.
- invenção do calendário.
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- invenção da moeda.
- escrita alfabética.
- invenção da política.
Fonte da imagem:
http://meditacaofilosofica.blogspot.com.br/
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Domínio dos aqueus, dórios e jônios sob Creta, Micenas e Tróia. Inicialmente viviam
num regime patriarcal e pastoril , e durante quatrocentos anos estabeleceram uma
economia doméstica e agrícola, substituindo mais tarde por uma economia urbana e
comercial. Este período encontramos registrado nas narrativas do poeta Homero, nos
poemas Ilíada e Odisséia.
Atenas tornou-se a cidade mais importante da Grécia, expandindo seu império marítimo e
seu poderio militar e comercial. Época em que se desenvolveu a democracia, e atingiu-se
o apogeu da vida urbana, intelectual e artística.
- pré-socrático ou cosmológico.
- socrático ou antropológico.
- sistemático.
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- helenístico ou greco-romano.
2 – Leia o texto abaixo e escreva, no mínimo trinta linhas, outro exemplo de mito, podendo
ser pura imaginação sua ou algo escutado de alguém, retirado de jornal, revista, Internet,
televisão, etc.
Mitos de Hoje
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Você já ouviu falar em boitatá? Na antiga Desterro (atual Florianópolis), os nativos não
só ouviam, como também viam (alguns ainda vêem) o boi-ta-tá. O professor e artista
Franklin Cascaes, que durante muitos anos pesquisou o imaginário da população
descendente dos açorianos, escreveu:
Eles falavam que viam sempre um fogo, um facho de fogo. Esse facho de fogo, para eles,
se mostrava com várias formas do mundo objetivo. Por exemplo, diziam: ah, eu vi um
monstro semelhante a uma batina de padre, eles viam a saia do padre. Outras vezes se
apresenta que nem um pássaro, outras vezes que nem uma vela, uma lanterna. Outras
vezes parecia ser um bicho, um gambá, uma coisa qualquer. Eles olhavam e observavam
essa forma. E contavam depois isso para mim.
Como artista eu estudei o caso. O dia em que eu descobri esse tal de boitatá, conhecido
nesse mundo inteiro e no Brasil como “Mboy-Tatá”, nome indígena que significa “cobra de
fogo”. Os indígenas já conheciam este ente desde a mata, esta forma espiralada, eles
diziam que tinha uma forma comprida, quase que nem cobra, eles falavam muito isso. É
justamente quando o fogo, o “fátuo” começa a soltar; depois é a aragem, o vento que dá
as diversas formas. Formas e cores. O apronta para dar o bote neles. Daí o “mboy”. Já o
português disse “boitatá”, boi de fogo. Também disseram “baitatá”, baita é uma coisa
grande, “tatá” é fogo, o que dá um animal muito grande em forma de fogo. Depois, ainda
batizaram de “bitatá”. Bita, é cabra. Aí eu recriei em cima de tudo isso. De acordo com as
histórias que escutei, que eu vi, é que eu começo a trabalhar a minha arte e as minhas
histórias.
Aí eu fui dar formas, conhecidas dentro do mundo objetivo, não é? Para as palavras que
eu ouvi dessas pessoas que avistavam os elementos e criavam no pensamento, com o
medo, com o susto que eles levavam, todas aquelas figuras. Eles viam o boitatá e se
escondiam, com as mãos no bolso, por causa da eletricidade, e para evitarem que o fogo
fosse atraído pelos dedos e aí queimassem as pessoas, queimasse a roupa. Aí, eles até
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chegaram a inventar uma história e diziam: “fulano, corre depressa, vai buscar a corda
do sino para amarrar o boitatá”. Sempre que eles avistavam o boitatá, eles gritavam pelo
nome de uma pessoa qualquer: fulano, corre depressa, vai buscar a corda do sino para
amarrar o boitatá. Isso é para espantar o boi.
Como já vimos, em comum com a Filosofia, o mito tem o objetivo de explicação da vida,
dos fenômenos naturais e humanos. A diferença é que no mito as contradições e
irracionalidades fundamentam a argumentação, e na Filosofia as contradições e os
mistérios são afastados pelo uso da razão. O mito justifica-se nas crenças, e a Filosofia
fundamenta-se na razão. O exemplo do “boitatá” é apenas um caso, não muito atual, de
como o pensamento mítico se manifesta na sabedoria popular, representando o lendário
e irreal, a ficção e a mentira. Explicações míticas são utilizadas em ambientes lúdicos e
educativos, para crianças no despertar da imaginação, para o entretenimento dos adultos
e também, como veremos adiante estudando ideologia, na manutenção do preconceito e
da opressão.
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“Tudo era um caos até que surgiu a mente e pôs ordem nas coisas.”
Anaxágoras
Na época da Grécia arcaica ou dos sete sábios, as colônias da Jônia e da Magna Grécia
foram berços dos primeiros filósofos, os chamados pré-socráticos. Veremos rapidamente
apenas oito deles: Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro, Pitágoras, Zenon,
Xenófanes, Parmênides e Heráclito.
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Veremos rapidamente alguns dos pré-socráticos, o que pensavam sobre o princípio das
coisas e do universo, ou seja, sobre o que os gregos entendiam como Arkhé (o que está
à frente). Para compreender os pré-socráticos, assim como toda a história da filosofia,
exige-se que relaxemos intelectualmente, deixando de lado a arrogância baseada na
crença de que nossos conhecimentos não têm história. Estes primeiros pensadores,
filosofando há mais de dois mil e seiscentos anos, começaram decidindo não aceitar o
óbvio mítico.
A água, para este filósofo, por acaso aquele do poço, é o elemento primordial na origem
do universo e de tudo que existe. Esteve no Egito e na Babilônia, onde havia uma grande
escola de Astronomia. Como vimos anteriormente, foi o primeiro dos filósofos. Para ele, a
Terra é um disco que flutua sobre a água. (foto/água)
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O ar é o elemento que dá origem a tudo. Para ele, os corpos mais sólidos e flácidos
originam-se do movimento de condensação e rarefação. A Terra, segundo este filósofo, é
um plano sustentado pelo ar. (desenho/sopro)
A água, o ar, a terra e o fogo compunham o universo. Mas havia um elemento fundamental
para este filósofo, o ápeiron. Palavra formada pelo prefixo negativo a e pelo substantivo
peras (limite, extremidade), ápeiron significa ilimitado, infinito, ou interminável, de onde
decorre o quente, o frio, a terra e o ar. Para Anaximandro, a Terra é um cilindro achatado
e os astros são luzes de fogo que se entrevêem através dos furos de tubos de névoa do
céu. (foto /desenho p.25)
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Este afirmava que o movimento é impossível, e que é uma ilusão de nossos sentidos.
Define o espaço como infinito e acredita que os corpos não se movem, pois teriam que
atravessar partículas infinitas. Assim, uma flecha partindo do ponto A nunca atingiria o
ponto B posto que entre estes há um espaço infinito. Percebe-se, por este raciocínio, o
seu idealismo em contradição com a realidade. (desenho do famoso “paradoxo de Zenão
/ Aquiles e a tartaruga, p31)
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Afirmava que o ser é imóvel, eterno e infinito. Para ele as coisas não mudam, apenas
aumentam em quantidade e repetem-se infinitamente. O movimento só existe no mundo
sensível, e a percepção causada pelos nossos sentidos é ilusória. Para ele, só o mundo
inteligível é verdadeiro, pois a certeza surge através de meios lógicos e dedutivos, como
fruto da razão. O conhecimento adquirido pelos sentidos é classificado apenas como
opinião. Esse pensamento, que veremos mais adiante, inaugura a metafísica e a lógica.
(retrato de Parmênides / p. 32)
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Estas três palavras acompanham os grandes temas da filosofia até os dias de hoje.
Metafísica (depois da Física) é uma palavra grega surgida no século I a.C., criada por
Andronico de Rodes ao classificar as obras de Aristóteles após as obras de Física.
Porém, este “após”, a partir do século V da nossa era, é considerado como “além” do
mundo sensível. A metafísica investiga o que está por detrás das coisas naturais e físicas,
que por vezes considera como meras aparências. O pensamento de Parmênides é
considerado fundador da metafísica, ao contrário de outros pensadores que buscavam o
princípio ( a arkhé) do universo em um dos seus elementos, como água ou ar.
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7 – O que é cosmologia?
8 – Com a turma dividida em oito grupos, cada equipe pesquisará um dos oito
pré-socráticos aqui estudados e, após pesquisa (sugestão: CHAUI, Marilena Introdução à
história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, volume1. 2º edição. São
Paulo:Brasiliense, 1994.), haverá um debate no qual se confrontarão os diversos
pensamentos dos primeiros filósofos gregos.
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Na época da Grécia arcaica (século VIII a.C.), avanços técnicos como a navegação e o
estabelecimento do poderio econômico e militar provocaram o surgimento da pólis
(cidade), onde exigiu-se a criação de instituições reguladoras. Este foi o período vivido
pelos pré-socráticos. Porém, somente na época clássica (século V a.C.), Atenas foi a
cidade mais importante da Grécia, expandindo seu império marítimo, militar e comercial,
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Sócrates
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verdades divinas. Além disto, era herói de guerra, e dizem que gostava de grandes
bebedeiras e que exercia o sexo viril dos gregos (naquela época era comum um homem
adulto ter amantes masculinos), gostando também do convívio com as prostitutas. O fato
de não ter escrito, o que faz alguns negarem a sua existência, muitos registros sobre sua
vida particular podem ser calúnias e, talvez, verdades.
Porém, o que mais nos interessa não é sua vida particular, e sim a força de seu
pensamento, que marcou decisivamente a cultura ocidental. O que se conhece da filosofia
socrática, deve-se a alguns de seus seguidores (discípulos), especialmente Xenofonte e
Platão.
Das obras que Xenofonte escreveu sobre este filósofo, tão discutido e até imaginado,
destacamos as Memoráveis. Obras onde Xenofonte mostra um Sócrates leal aos amigos,
piedoso e justo, preocupado com a ética.
Além destes dois, destacamos também Aristóteles, que apesar de não haver conhecido
o filósofo, responsabilizou-o pela criação da ciência. Em Aristóteles, Sócrates muda o
significado de logos grego e atribui “a razão que se dá de algo” ou o sentido de conceito.
Sócrates, autor da famosa frase sei que nada sei , criou um método para a procura do
saber. Utilizando a ironia (“perguntar fingindo ignorância”, eiróneia em grego), interrogava
homens, mulheres e escravos, sem se importar com a situação de cidadania de cada um.
Suas perguntas colocavam o interlocutor em tal situação que não havia saída senão
reconhecer a própria ignorância. Utilizava a maiêutica (“parto”, em grego), dizem que para
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homenagear o ofício de sua mãe, que paria corpos. Sócrates paria idéias,
demostrando que estas surgiam das pessoas interrogadas e não dele.
O tribunal dos heliastas, composto por cerca de 500 representantes sorteados entre as
dez tribos de Atenas, reuniu-se em 399 a.C., com o objetivo de julgar Sócrates por
diversos crimes: não-reconhecimento dos deuses do Estado; introdução de novas
divindades; e corrupção da juventude. Os acusadores: Meleto (poeta), Anitos (rico
curtidor de peles e influente orador e político) e um homem chamado Licão. A pena: tomar
um veneno chamado cicuta, extraído de uma planta.
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Sócrates e os Sofistas
Os primeiros sofistas não eram atenienses, e por isso não eram cidadãos. Eles vieram
da mesma região dos pré-socráticos, e trouxeram de lá um conjunto de técnicas de
linguagem – oratória e eloqüência –, que é a arte de bem falar, fazendo-se mestres e
professores. Historiadores da Grécia atribuem aos sofistas o título de fundadores da
pedagogia democrática. Os dois principais sofistas foram Protágoras (485 – 411 a.C.) e
Górgias (485-380 a.C.), e a interpretação que fazem deles difere muito. Se alguns os
defendem, outros os execram. Ficaremos com esta segunda interpretação, próxima a
Platão.
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não-cidadãos, exerciam uma influência periférica muito grande, pois ganhavam a vida
com aulas particulares, nas quais ensinavam a arte da retórica e da persuasão. Para
estes educadores do uso palavra, retórica é a arte de oferecer o logói, argumentos e
definições, de acordo com nossa utilidade. A persuasão se baseia na dialética (aqui
entendida como confronto de argumentos contrários) e por isso é praticada com opiniões.
Coube aos sofistas a justificação do ideal democrático, que muito interessava à
emergente classe dos comerciantes.
No próximo bimestre, lendo Platão e Aristóteles, teremos novos contatos com Sócrates.
Também retomaremos estes pensadores, quando entrarmos no terceiro bimestre, em
assuntos de moral, ética e política.
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4 – Procure um exemplo de argumento, ou invente um, que você considera bonito e falso.
Tente elaborá-lo da forma mais verdadeira possível, e depois escreva sobre a sua
inverdade.
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Bibliografia:
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ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. Introdução à filosofia. 2ª ed. São Paulo:
Moderna, 1993.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Col. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
1974.
CHÂTELET, F. et alii. História das idéias políticas. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1985.
36
Coleção História do Pensamento: das origens a idade média. volume 1 São Paulo: Nova
Cultural, 1987.
Filosofia - Apostila 2
Introdução:
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Assim não ficaremos assustados com algumas palavras e conceitos novos que aqui
enfrentaremos. Por exemplo: ontologia. Esta é uma palavra importantíssima na filosofia e,
apesar de familiar, não é a forma banguela de expressar a função do dentista
(odontologia); e não significa o estudo das flores ou a identificação de grandes coleções
poéticas (antologia). Também aprenderemos significados de palavras já conhecidas só
que utilizadas em sentidos bem diferentes da filosofia. Saberemos que materialista não é
a pessoa portadora de extrema ambição por bens materiais; mecanicista não é um
profissional de oficina mecânica; e idealista não é exclusivamente o camarada que segue
algum ideal.
Ao final desta apostila encontraremos a “galera” da filosofia reunida com dados de suas
vidas e algumas de suas realizações. Poderemos “visita-los” a qualquer momento,
principalmente quando algum for citado. Também para consulta, reproduzimos logo após
as biografias um “esquema filosófico” com todas as concepções, correntes e escolas da
filosofia desde a Antigüidade até a Idade Contemporânea. O esquema pode nos ajudar a
ter uma visão global do assunto que aqui trataremos. Com isso perceberemos a
diversidade e a extensão do conhecimento filosófico, impossível de ser aqui abordado na
sua totalidade. Vamos filosofar?
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Veremos que estas perguntas ocupam um lugar especial na filosofia e que situam-se na
delicada relação entre ser e pensamento, matéria e idéia, sujeito e objeto. Diversas
foram as perguntas e as respostas e suas repercussões. Por isso retomaremos o
pensamento dos gregos e estudaremos importantes pensadores da Idade Média,
Moderna e Contemporânea. Todos abrigados em inúmeras correntes na importante tarefa
do conhecimento.
Ser
Em português, ser traduz a expressão grega ta onta que significa os entes, os seres, as
coisas existentes. Como conceito filosófico, expressa a unidade da existência e da
essência. O ser denomina todas as coisas materiais que estão fora do pensamento:
natureza, realidade, fenômenos naturais, etc.. O ser é de natureza material.
Pensamento
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1 – Escreva sobre qualquer assunto de sua preferência, ocupando no mínimo vinte linhas.
No final elabore três frases afirmando e/ou negando as certezas existentes no assunto
escolhido.
Realismo
Idealismo
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No bimestre passado vimos que a palavra grega metafísica (depois da física) surge no
século I a.C., criada por Andronico de Rodes ao classificar as obras de Aristóteles após
as obras de Física. Aristóteles, bem antes da metafísica ter surgido como palavra,
entendeu-a como a ciência das primeiras causas e dos primeiros princípios. Porém,
antes deste, Platão apresentou a necessidade de uma ciência das ciências, após ter
concluído seus estudos em ciências particulares: aritmética, geometria, astronomia e
música. Em sua obra República ,admite o caráter supremo de uma ciência examinadora
de pontos comuns que revelam áreas intimamente interligadas. Platão e Aristóteles criam
e sustentam o caráter universal desta suprema ciência: a metafísica.
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A Ontologia Cristã
escola estóica: fundada por Zenão de Cício, exerceu influência no pensamento ocidental e
está fortemente presente em doutrinas modernas e contemporâneas. Um dos
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escola epicurista: fundada por Epicuro de Samos, elabora uma ética sustentada na
sensação como critério da verdade e do prazer.
escola ceticista: fundada por Pírron de Élis (pirronismo ou ceticismo) foi a que afirmou a
impossibilidade do conhecimento da verdade e da falsidade, do belo e do feio, do bom e
do ruim. É a decisão pela completa suspensão do juízo.
escola neoplatônica: fundada na Alexandria por Amônio Saccas, tem como maior
representante Plotino. Nesta escola a filosofia de Platão é utilizada para defender as
verdades religiosas no interior da consciência.
É neste cenário que surge um movimento social e religioso que se tornará a maior
expressão cultural da doutrina religiosa do ocidente: o cristianismo.
Com o fim do Império Romano o cristianismo se fortalece ainda mais. Através da Igreja
Católica os cristãos assumem a educação dos novos povos do norte europeu – invasores
do território romano e grandes responsáveis pela queda do seu Império – assumindo
também todo o poder político e religioso que irá se manter durante toda a Idade Média. A
partir daí muita lenha na fogueira da Santa Inquisição iria queimar junto com os infiéis.
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mundo deixa de ser eterno para ser criado e terminado; a razão passa a ser imperfeita
e limitada, não podendo alcançar a verdade se não recorrer à fé; Deus: imaterial e infinito,
é produtor de matéria e finitude.
Patrística
Agostinho ficou conhecido por "cristianizar" Platão, fazendo vários paralelos entre a parte
espiritualista Platônica e as sagradas escrituras. Agostinho faz a distinção entre o corpo
(sujeito à sorte do mundo) e a alma com a qual se pode conhecer Deus. Tentou provar
que sem a fé a razão não é capaz de chegar à felicidade. A razão para Agostinho serve
como auxiliar da fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos.
Escolástica
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São Tomás é conhecido por ter cristianizado Aristóteles, à semelhança do que fez
Agostinho com Platão. Apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, como
diz Tomás, e de sua obra ser original, autonôma e independente de dogmas, ele está em
harmonia com o saber contido na Bíblia. As observações sobre Aristóteles vão
permanecer em todas as suas obras. Tomás de Aquino afirma que podemos conhecer
Deus pelos seus efeitos, ele é o último em uma escala evolutiva, a causa de todas as
coisas.
A resposta está no que estas filosofias tinham em comum na pergunta pelo ser: O que é a
realidade? Ambas partiram do princípio de que a realidade existe e pode ser conhecida
e que a verdade é a correspondência entre as coisas e os pensamentos. Estes princípios
realistas se fundamentavam na existência de um ser infinito: a idéia ou Deus. Portanto a
filosofia, desde Platão e Aristóteles, adotou uma atitude realista mostrando que o sujeito
pode apreender o objeto na sua essência.
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Deus é retirado do centro da explicação do real e substituído pelo homem e pela natureza
física. As preocupações filosóficas voltam-se para as questões epistemológicas, na
tentativa de superar as ontologias clássica e medieval derrubando a ontologia como a
ciência das essências. Um saber diferente, paralelo à filosofia, é inaugurado: a ciência.
Esta apresentou a necessidade de um método matemático e experimental que rompeu
com a visão aristotélica. Destacam-se nesta tarefa os cientistas: Copérnico, Galileu,
Kepler e Newton.
O grande nome entre os filósofos deste época é Kant. A partir dele surge uma nova
ontologia. O problema ontológico não é mais realista e sim idealista. O que Kant fez foi
sintetizar o racionalismo e o empirismo, demonstrando que o sujeito do conhecimento é
uma estrutura universal, idêntica para todos, em todos os tempos e lugares.
Racionalismo
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vivos - é uma grande máquina. Mostra que podemos compreender o todo a partir de
suas partes. Este filósofo criou uma dúvida metódica estremecendo as bases do
conhecimento filosófico da época. Tal dúvida resultou na conclusão “Penso Logo Existo”.
Descartes procura reconstruir o edifício do saber, guiado pelo ideal de uma ciência
universal cujos conteúdos principais pudessem ser deduzidos das idéias inatas. Estas
idéias são inatas porque já nascemos com elas e independem de nossa experiência,
diferente das fictícias que são vindas da fantasia e das adventícias que vem de fora.
Assim, por exemplo, a idéia do quiliógono (polígono regular de mil lados) e do infinito são
inatas porque não são cabíveis na experiência, nas percepções.
Empirismo
O inglês Francis Bacon, cujo sobrenome lembra um gostoso lanche servido em Fast
Food, lembrará a partir de agora um frango congelado. Porquê? Por que este filósofo,
nascido em 1561, morreu em 1626 de bronquite, após ter recheado um frango com neve.
Tal experiência era para descobrir a relação da baixa temperatura com a putrefação dos
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No século XVIII Immanuel Kant representou para a filosofia uma revolução comparável à
de Copérnico na astronomia. Antes de Kant os filósofos ou consideravam importante a
atividade mental do sujeito ( racionalismo ), ou a determinação do objeto real exterior (
empirismo ). Com Kant, assim como Copérnico que “centraliza o sol” afirmando que a
terra gira em torno dele e não o contrário, a ontologia passa a centralizar no sujeito a
questão do conhecimento. Porém ele afirma não ser possível o conhecimento das coisas
como são em si. Somente podemos conhecer os fenômenos. A palavra fenômeno, que
etimologicamente significa, em grego, “o que aparece”, no esquema kantiano explica
perfeitamente a nossa participação na construção do mundo dos fenômenos, pois só
existe porque aparece para nós. A síntese ou conciliação entre sujeito e objeto, entre
empirismo e racionalismo, mostra que o conhecimento da realidade do mundo é uma
construção mental. Conhecemos a priori só o que nós mesmos colocamos na realidade.
Estas condições a priori do conhecimento Kant chamou de "transcendental" ( não é o
mesmo que transcendente) porque partem daquilo que é anterior a toda experiência. Para
conhecer as coisas é preciso obter a experiência sensível (empirismo), porém esta
experiência torna-se inválida se não contar com as formas a priori, anterior à experiência
(racionalismo).
50
O filósofo alemão Hegel (século XIX), pensador do idealismo romântico, elaborou uma
profunda crítica às soluções racionalista, empirista e kantiana, de onde observou que
todos deixaram de compreender uma questão elementar da razão: a história. Para Hegel
a razão é histórica e movida por contradição. Afirmar que é histórica não significa
reduzi-la a um simples relativismo, de onde a verdade jamais atingiria valores universais.
Isto porque a razão não ocupa um lugar na história, ela é a história O elemento
contraditório que determina o movimento da história é a dialética. Neste caso, Hegel
entende os conflitos filosóficos expressos pelas idéias inatas, empíricas e
transcendentais (kantianas), como parte do movimento da história. As duas primeiras, de
acordo com o filósofo, priorizaram o objeto e erraram por excesso de objetividade. A
última, a razão pura de Kant, priorizou o sujeito e errou por exagero de subjetividade.
Hegel compreende a razão dialética como uma síntese necessária do objetivo com o
subjetivo. Lembremos que no bimestre passado vimos a dialética em Platão como um
51
diálogo e nesta apostila, em Aristóteles, como simples retórica. Para Hegel a dialética
é a natureza do pensamento, e é inspirada no pré-socrático Heráclito:
“Aqui finalmente vemos terra: não há proposição de Heráclito que eu não tenha acolhido
na minha lógica”.
A dialética hegeliana opera através das tríades: tese, antítese e síntese. A antítese é a
negação da tese e a síntese é a unidade das duas (tese e antítese). Muitos se enganam
ao afirmar que este caráter triádico foi inventado por Hegel ou que este tenha retirado de
Heráclito. Na verdade, Hegel foi quem melhor o elaborou como um conceito abstrato,
porém foi o pensador Proclo quem inventou este esquema tríadico.
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Comte e o Positivismo
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Idealismo e Materialismo
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O Idealismo
O Materialismo
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Materialismo Mecanicista
Entre os atomistas o caráter mecanicista, como vimos anteriormente, pode ser sinônimo
de cosmológico. Explicando o mundo como uma grande máquina que comporta um
sistema de movimento dos corpos, este materialismo ganhou novos representantes a
partir do século XVII. O filósofo Hobbes (1588-1679) foi um grande exemplo desta
recuperação do materialismo mecanicista (ou metodológico), defendendo a noção de
movimento e de corpo como única forma de explicação dos fenômenos. Segundo o
filósofo, o conhecimento de alguma coisa sempre implica no conhecimento de seu
movimento. O conhecimento acerca da natureza considera seu “corpo natural” e da
sociedade um “corpo artificial”. Entre suas obras, destacamos “Sobre o Corpo”(1655)
onde trata do mecanicismo invadindo os domínios do espírito.
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Materialismo Dialético
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Marx contestou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticas:
o homem de Feuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade e da história, é pura
abstração. É indispensável segundo Marx, compreender a realidade histórica em suas
contradições, para tentar superá-las dialeticamente.
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Fenomenologia
Surgida no século XIX com o filósofo Franz Brentano, a fenomenologia representou uma
tentativa de “humanização” da ciência. À excessiva objetividade e pretensa neutralidade
da filosofia positivista, a fenomenologia direcionou sua principal crítica. O maior
representante da fenomenologia, também conhecida como filosofia da vivência, foi
Edmund Husserl. Segundo ele, as três funções principais da filosofia são: separar
psicologia e filosofia; manter o privilégio do sujeito diante dos objetos; e renovar o
conhecimento de fenômeno.
Vimos anteriormente que fenômeno, em grego, é o que aparece. Também vimos que o
agnosticismo de Kant negou a possibilidade de conhecer a essência das coisas
afirmando o conhecimento apenas do fenômeno. A fenomenologia, apesar de concordar
com Kant na importância do sujeito do conhecimento, discorda de seu agnosticismo.
Para Husserl, tudo o que existe é fenômeno e apresenta-se diretamente à consciência
que é sempre consciência de alguma coisa. Esta consciência de é o que o filósofo chama
de intencionalidade. Portanto a essência das coisas, ao contrário de Kant, podem ser
conhecidas. Toda a consciência é um ato intencional e esta intencionalidade é sua
essência.
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Genealogia
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Na filosofia, Nietzche foi visto como uma espécie de homem solitário e incompreendido.
Seu pensamento é interpretado para justificar diversas verdades. Após sua morte, por
iniciativa de sua irmã Elisabeth, foi utilizado para fundamentar o nazismo e o fascismo.
Mais acertadamente e extremamente fecunda, sua filosofia influenciou obras recentes de
pensadores como Foucault, Deleuze e Guattari. Ambos estão agrupados na corrente
identificada como arqueogenealogia. Também inflenciou algumas das principais
correntes de pensamento do século XX, como o existencialismo, a filosofia analítica e a
psicanálise.
O Marxismo
No sentido ontológico, o marxismo sustentou que o ser prima sobre a consciência. Esta
reflete a realidade material – que é o ser – e por isso não se enquadra em nenhuma das
formas idealistas já vistas na filosofia. O ser, ou realidade, de que o marxismo trata é
61
A Epistemologia
A Questão da Verdade
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A verdade existe e sempre foi perseguida. Em todas as idades, culturas e épocas, o ser
humano procura a verdade. O que move a filosofia e cria as diferentes formas de filosofar,
é o desejo do verdadeiro.
A filósofa brasileira Marilena Chauí nos lembra que a verdade pode ser entendida na
filosofia a partir de três concepções construídas em línguas diferentes: grego, latim e
hebraico.
Em grego, diz-se aletheia, que significa o não-escondido. O verdadeiro está nas próprias
coisas e plenamente visível à razão. O falso está escondido nas aparências e nunca é
como parece ser. Portanto, aletheia refere-se ao que as coisas são. Em latim, diz-se
veritas e refere-se ao rigor da afirmação. Diferente da aletheia, aqui a verdade não se
refere às coisas e sim ao enunciado, à linguagem. Referimos à veritas para os fatos que
foram. Em hebraico, diz-se emunah, que é uma palavra de mesma origem que amém, e
significa confiança. A verdade agora é fruto da espera e da confiança na palavra dada,
63
Axiológicas:. Semelhante a anterior (ambas derivam da raiz grega axios – o que tem
valor, estima, dignidade) é baseada em critérios convencionais. Porém, as convenções
aqui tratadas são as sociais e não as científicas. Divide-se em três:
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Fonte da imagem:
http://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com.br
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Lógica
Tudo que é verdadeiro é lógico. É lógico que estamos lendo esta apostila. É lógico que
para ler tenhamos que abrir nossos olhos. É lógico que um automóvel precisa de
combustível para andar. É lógico que eu preciso de dinheiro para tomar um ônibus. É
lógico que preciso caminhar se o automóvel não tiver combustível e eu estiver sem grana.
Porém posso aguardar uma carona e é lógico que não precise caminhar. É lógico, lógico,
lógico... Repetidas vezes pronunciamos esta palavra para expressar evidências. Na
filosofia é uma disciplina bastante estudada. Veremos aqui um pouco de sua história e de
seus procedimentos.
Vimos no bimestre passado que lógos, de onde deriva “Lógica”, é uma das palavras mais
importante da filosofia e que sua tradução não é simples. No português esta palavra de
origem grega possui sentidos múltiplos: conversa, pensamento, norma, regra, ser,
realidade, razão, linguagem, explicação, etc. Também vimos que os pré-socráticos,
opondo-se a narrativa mítica, começaram a estabelecer determinadas leis do
pensamento.
No início desta apostila reproduzimos a seguinte oposição para introduzir nossos estudos
em ontologia:
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Lógica Formal
Somente Aristóteles, apesar de nunca ter usado a palavra “lógica”, empregada séculos
depois pelos estóicos, foi quem sistematizou-a como um estudo preparatório da
investigação e do saber demonstrativos. Em vários textos que compõe sua obra Organon
(significa instrumento) o filósofo distingue dois tipos de discursos: o dialético que parte do
provável e termina no provável, e serve apenas como retórica, e o demonstrativo partindo
do verdadeiro e terminando no verdadeiro, é o argumento lógico por excelência. As
principais características atribuídas por Aristóteles à lógica ou analítica (assim ele
denominava) são:
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- Identidade:
- Contradição:
Quando é impossível afirmar A é A e não-A. Um ser não pode ser e não ser idêntico a si
mesmo ao mesmo tempo.
- Terceiro Excluído:
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Lógica Matemática:
A lógica matemática, que também é formal, inicia-se no final do século XIX com Frege.
No século XX seus maiores representantes são Whitehead, Russel e Wittgenstein. Esta é
a lógica que utiliza uma linguagem simbólica artificial, constituindo uma linguagem ideal
ou perfeita em substituição às ambigüidades de todas as outras línguas.
Para identificar as diferentes proposições eles utilizam as letras: p, q, r, p1, q1, r1 etc.
Quanto aos conectivos utilizam os seguintes sinais:
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p ______ q
____ p
_______________
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Lógica Dialética
Muitos estudiosos, inclusive na filosofia, afirmam não ser possível a inexistência de uma
lógica dialética. Segundo estes, o primeiro termo (lógica) já exclui o segundo (dialética).
Isto porque, no momento em que elaboramos os argumentos, nos sujeitamos às regras
imóveis do pensamento correto. Portanto, baseado nesta visão, a lógica dialética só é
possível como uma Teoria do Caos.
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A lógica dialética não é operatória no sentido formal. Sua abrangência operatória é global
e reivindica uma historicidade. Nem tampouco é um método científico e sim um raciocínio
filosófico. Um raciocínio que parte das determinação do ser que se constitui e se
transforma.
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Conclusão
O que é a realidade? Esta questão é mais do que presente. Diríamos que ela é também
passado e futuro. O problema da realidade, considerado fundamental para a filosofia,
poderia tomar conta de várias apostilas como esta e mesmo assim não se esgotaria.
Questões ontológicas e epistemológicas persistem na procura de uma solução definitiva
para a razão. Soluções, que preferimos aceitar como não definitivas, foram e continuam
sendo aceitas ou rejeitadas. Alguns filósofos e cientistas, contraditoriamente apoiados no
deslumbramento de suas épocas, sobretudo no séc. XXI em que a eficiência tecnológica
é tão homenageada, esqueceram que o conhecimento não tem limites e que a história
não tem fim.
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conhecimento, pois o ser humano possui razão para procurar a razão das coisas. A
investigação filosófica é constante e profunda, e mesmo que repouse na explicação ou
defesa de algum aspecto do conhecer e do agir, deverá sempre seguir seu rumo na
procura de questões e respostas novas para o ser e o pensamento. Sempre!
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Destacamos aqui uma resumida biografia de apenas alguns dos mais importantes
filósofos e de alguns cientistas, importante para a compreensão do assunto que tratamos
nesta apostila. Em cada biografia, colocamos o título de algumas obras do filósofo para
você procurar nas bibliotecas ou livrarias. Leve-os para sua casa e conheça melhor seus
pensamentos. Afinal para conhecer melhor sobre eles somente a partir deles.
Platão nasceu em Atenas ( 428-7 a.C.) e lá morre ( 348-7 a.C.). Seu nome é derivado de
seu vigor físico e da largueza de seus ombros (platos significa largueza). Com vinte anos
de idade entra em contato com Sócrates, tornando-se seu discípulo durante nove anos,
até quando seu mestre é condenado e bebe o cálice de cicuta. Em 387 a.C., num ginásio
que levava o nome do herói Academos, Platão funda a Academia, que podemos
considerar como a primeira universidade do ocidente, somente fechada definitivamente
após setecentos anos pelo imperador Justiniano. Na porta da “universidade platônica”
existia uma inscrição advertindo que ali não devesse entrar “quem não soubesse
geometria”, pois Platão considerava a matemática o modelo seguro para enfrentar o
relativismo e a diversidade de opiniões. Além de cartas Platão escreveu cerca de trinta
Diálogos. Suas obras contavam sempre com Sócrates como protagonista. O sistema
filosófico de Platão baseia-se na distinção de duas formas de conhecimento: o sensível e
o intelectual. O primeiro, como crença e opinião, só alcança a aparência das coisas; o
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76
Zenão de Licio: (335 a.C. – 263 a.C.) Filósofo grego, fundador o estoicismo.
Influenciou-se pela obra do Demócrito de Abdera. Estudou com afinco, quando jovem, a
obra dos socráticos. Posteriormente, transferiu-se para Atenas, cuidando dos negócios
paternos. Em 314, abandona tudo para dedicar-se apenas à Filosofia. Ficou mais de 20
anos estudando e pensando, antes de expor suas teorias e sistemas filosóficos,
deixando-se impresionar sobretudo pela obra de Demócrito de Abdera. Acaba por fundar
o estoicismo, pensamento moral que se baseia na ataraxia, buscando um espaço de
equilíbrio favorável à sabedoria. Disse, segundo Diógenes Laércio, a máxima: “Viver em
harmonia com a natureza.” Muitos acham que se suicidou após julgar terminada sua obra.
Epicuro: (341 ou 342 a. C. – 270 a. C.) Filósofo grego, fundador da escola filosófica
conhecida por Epicurismo. Os ensinamentos de Epicuro se baseiam no desprezo pelas
superstições e crenças e que o prazer é o sumo bem do homem. O prazer mencionado
por ele dizia respeito às coisas do espírito e nunca materiais. Entretanto , o
desvirtuamento dessa filosofia provocou a idéia falsa de sensualismo. Epicuro era,
sobretudo, virtuoso, sóbrio e profundamente moralista. Sua doutrina é fudamentalmente
ética e sustenta que a satisfação do indivíduo não deve levá-lo aos vícios. A maioria de
seus manuscritos foi copilada por Diógenes Laércio que formou o Livro X de vidas e
opiniões de filósofos célebres. A escola de Epicuro manteve-se em evidência até o final
do século III.
Santo Agostinho nasceu no norte da África, na cidade de Tagarte. Quando criança era
cristão, mas depois interessou-se por outras religiões, como a dos maniqueus, que
formavam uma seita, e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e
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Nicolau Copérnico
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Monge e astrónomo polaco (1473 - 1543). Autor de um livro, publicado pouco antes da
sua morte, onde defendia o movimento da Terra em volta do Sol. Esta tese contrariava as
crenças dominantes, de base aristotélica de que a Terra estaria no centro do mundo, com
o Sol e os restantes astros girando à sua volta.
Galileu: (1564 – 1642) Nasceu em Pisa, Itália e morreu em Arcetri, Itália. Matemático,
físico e astrônomo italiano condenado pela Inquisição. Construiu o primeiro telescópio e
inúmeros aparelhos de precisão, descobriu que a Terra gira em torno do sol e
estabeleceu as leis que ainda regem a Física e a Astronomia.
Harvey Willian: (1578 – 1675) Considerado por muitos com pai da medicina moderna.
Estudou por muitos anos o sistema de circulação. Em 1628 publicou uma obra sobre as
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Thomas Hobbes: (1588 – 1979) Filósofo inglês, empirista, desenvolveu uma filosofia
baseada no materialismo, um dos dos primeiros a propor o conceito do Estado
absolutista. Conviveu com Bacon, Bem Johnson, Galileu e Descartes. Segundo Hobbes,
“não existe outra coisa senão o movimento e a matéria; também os espíritos são
explicados pela dinâmica sutil, inatingível pelos sentidos.” Hobbes, mediante o
materialismo mecânico, explica também a vida psíquica, o conhecimento e o agir. Do
ponto de vista de moral e política, Hobbes conceituou a teoria do Estado Absolutista.
Algumas obras: Elementorum Philosophiae Sectio Tertia de Cive; Leaviathan;
Philosophiae sectio prima de corpore; e Elementorum philosophiae sectio secunda de
homine.
René Descartes
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David Hume
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Filósofo escocês ( 1711 - 1776), talvez o mais famoso filósofo empirista de todos os
tempos. Levando ao limite os pressupostos do empirismo, negou o conhecimento de
relações causais entre os fenómenos, assim como da existência de substâncias. Tudo se
resume a uma série de percepções unidas associativamente pela imaginação. Obras:
Investigação sobre o entendimento humano, Investigação acerca dos princípios da moral.
Denis Diderot
Filósofo francês (1713 - 1784) educado para o sacerdócio, optou pelo materialismo. Seu
pensamento integra conceitos das ciências biológicas, em detrimento da física,
entendendo a natureza organizada num sistema que compreende as formas primitivas e
complexas (homem) numa cadeia contínua. Obras: O passeio do cético, Jóias
indiscretas, Carta sobre os cegos,, A religiosa, O sonho D’Alembert.
Emannuel Kant
Filósofo alemão ( 1724 - 1804) influenciado por Hume, afirmou que todo o conhecimento
começa com a experiência, porém não deriva todo da experiência. O conhecimento conta
também com a contribuição da nossa faculdade de conhecer, que não tem um papel
apenas passivo. Daí decorre que o nosso conhecimento não representa as coisas tal
como elas são, mas sim como são para nós. A realidade em si é incognoscível, tal como
Deus, a imortalidade e a liberdade, dos quais apenas podemos ter uma certeza moral.
Obras: Crítica da razão pura, Fundamentação da metafísica dos costumes, Crítica da
razão prática, Crítica da faculdade de julgar.
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Filósofo francês positivista e inventor da lei dos três estados. Para C. a humanidade e o
pensamento passariam por três estados: o teológico, no qual as explicações da realidade
seriam baseadas nos seres sobrenaturais, deuses e demónios; o metafísico, em que os
seres sobrenaturais seriam substituídos por entidades abstractas; finalmente, o estado
positivo ou científico, em que o homem se limita a estudar as relações entre os
fenómenos, abandonando as pretensões metafísicas. Obras: Curso de filosofia positiva,
Sistema de política positiva, Catecismo positivista.
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Filósofo prussiano, colaborador financeiro e intelectual de Karl Marx, com quem escreveu
O manifesto do Partido Comunista e A ideologia alemã. Engels exerceu forte influência no
pensamento de várias gerações de operários e militantes socialistas. Obras:
Anti-Dühring, A dialética da natureza e A origem da família, da propriedade privada e do
Estado.
Filósofo alemão que rejeita qualquer distinção entre diferentes tipos de realidade, umas
mais reais do que as outras, representando de certo modo um retorno a Heraclito, com a
valorização do devir, da mudança, do sensível, da terra. Do mesmo modo que não existe
uma realidade inteligível, única e imutável, também não existe uma verdade necessária e
universal, mas apenas diversas perspectivas sobre um real em permanente
transformação. Nietzsche acabará, no entanto, por valorizar a perspectiva da vontade de
poder. É esta que permite ao homem ultrapassar-se a si mesmo, em direcção ao
sobre-humano. Obras: Origem da tragédia, Assim falava Zaratustra, Genealogia da moral,
O crepúsculo dos ídolos.
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Lógico, filósofo e ensaísta inglês. Célebre pelo seu monumental trabalho, em colaboração
com A. N. Whitehead, na fundamentação da lógica e da matemática, assim como pelo
inconformismo que o leva a pôr em causa todas as certezas estabelecidas e todos os
totalitarismos. Obras: Principia Mathematica (com Whitehead), Os problemas da filosofia,
História da filosofia ocidental, A minha concepção do mundo, Porque não sou cristão.
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Antonio Gramsci: (1891 – 1937) Filósofo italiano, foi um dos fundadores e dirigente do
Partido Comunista de seu país. Fez seus primeiros estudos no ginásio de Santo
Lussurgiu e depois no liceu de Cagliari. Aos 17 anos obteve, juntamente com Togliatti, seu
colega de estudos, uma bolsa da Universidade de Turim, onde estudou História, Filosofia
e Filologia. Todo o trabalho de Gramsci dirige-se para a criação de um partido
revolucionário da classe operária. Com o Partido Comunista sendo posto na ilegalidade,
Gramsci foi preso por ordem de Mussolini a 8 de novembro de 1926 e deportado para a
ilha de Ustica. Em 1928 foi condenado a 20 anos, 4 meses e 5 dias de prisão. Na prisão
entre 1929 e 1935, escreveu os Cadernos do cárcere. Morreu poucos dias depois de sua
libertação, ordenada por Mussolini, para que sua morte na prisão não abalasse o
prestígio do governo. Depois de sua morte, seus escritos foram divididos em 5 volumes:
O materialismo histórico e a Filosofia de B. Croce, Os intelectuais e a organização da
cultura, Notas sobre Maquiavel, A política do estado moderno, Literatura e vida nacional e
Cartas do cárcere.
Walter Benjamim: (1892 – 1940) Filósofo, crítico e ensaísta, deu novos contornos a
abordagem das obras literárias filosóficas e de arte. Autor extremamente complexo,
provocou uma reação contra a crítica tradicional, impressionista e historicista. Benjamim
era judeu e foi membro da Escola de Frankfurt. Com o nazismo chegando ao poder na
Alemanha, foge para a França. Lá vive até os nazistas invadirem o país. Quando é
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Um dos mais influentes filósofos do séc. XX. De início o seu pensamento está fortemente
ligado à lógica, sofrendo a influência de Russell e Frege. Considera que as proposições
lógicas revelam a estrutura da linguagem e esta a estrutura do mundo. O seu pensamento
irá evoluir no sentido de um pragmatismo cada vez mais acentuado, afirmando que a
formação dos conceitos e o estabelecimento de regras não é algo fixado por leis lógicas
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imutáveis, mas algo ligado a um costume, a uma prática social. Obras: Tractatus
logico-philosophicus, Da certeza.
Bibliografia:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. Introdução à filosofia. 2ª ed. São Paulo:
Moderna, 1993.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São
Paulo: Cultrix, 1996.
90
Dicionário Biográfico Universal Três. São Paulo: Três Livros e Fascículos, 1983.
LEFEBVRE, Henri. Lógica formal. Lógica Dialética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1975.
Filosofia - Apostila 1
91
Moral e Ética
Introdução
92
A moral, no sentido geral, é o universo de regras válidas para o indivíduo ou o grupo, cuja
conduta é orientada. Agimos moralmente, com consciência, quando reconhecemos
nossa conduta conforme as regras.
O agir moral divide-se em dois lados: o ato normativo e o ato fatual. O primeiro, como o
próprio nome indica, pertence às normas enunciadas. Exemplo: “Não roube”, “Não mate”,
“Não fume”. O segundo, fatual, refere-se a execução ou não da norma. Apesar de serem
diferentes, só atingem sentido de maneira associada, pois toda norma é designada à
prática, assim como toda a prática fatual só é moral afirmando ou negando as normas.
Todo o ato que entra em choque com a norma vigente é imoral. Chamamos de amoral,
todo o ato que desconsidera qualquer norma, desconsiderando até o próprio choque
com a norma. É o chamado “homem sem moral”.
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O aluno João Raposão tem aulas de filosofia. Ele não gosta da disciplina, mas recebe
sempre notas altas. Antes das provas faz resumos em pedaços de papel, com letras
pequeninas, mas conhecidos pelo o nome de “cola”. Com incrível habilidade, João
termina a prova antes de todos. O professor, equivocado atrás de suas grossas lentes de
miopia, convida-o para auxiliar na tarefa de olhar os colegas para que não colem.
* João não agiu conforme as regras comuns às provas sem consultas. Além disto,
aceitou a tarefa do professor. Sua hipocrisia (Etm.: grego hypokrisis, ação de
desempenhar um papel numa peça) foi assistida por todos os colegas. Sua atitude
chocou-se com a norma “não colar” e “não mentir”.
Porém, ele não foi amoral, do contrário nem estaria fazendo a prova e nem aceitaria o
convite. É errado dizer, neste caso, “O João não tem moral”. É certo dizer “O joão foi
imoral”.
*Aqui ética está compreendida nos limites das regras da profissão. É verdade que o Dr.
José não teve ética médica. Mas não podemos daí afirmar simplesmente que ele não tem
ética.
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Comercial e industrial
Geração coca-cola.
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Será só imaginação?
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Ficaremos acordados
Se é sem querer
Nos proteger?
Que responder
Eu e você?
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ESTUDO ERRADO
(Gabriel o Pensador)
Eu tô aqui Pra que? Será que é pra aprender? Ou será que pra aceitar, me acomodar e
obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater Sem recreio de saco
cheio porque eu não fiz o dever A professora tá de marcação porque sempre me pega
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Disfarçando espiando colando toda prova dos colegas E ela esfrega na minha cara
um zero bem redondo E quando chega o boletim la em casa eu me escondo Eu quero
jogar botão, video-game, bola de gude Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula" e
"estude" Então dessa vez eu vou estudar cumpádi Pra me dar bem e minha mãe me
deixar ficar acordado até mais tarde Ou quem sabe aumentar minha mesada Pra eu
comprar mais revistinha (do Cascão?) Não. De mulher pelada A diversão é limitada E o
meu pai não tem tempo pra nada E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa
pirralhada) A rua é perigosa então eu vejo televisão (Tá lá mais um corpo estendido no
chão) Na hora do jornal desligo porque não sei nem o que é inflação - Ué não te
ensinaram? - Não . A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil Em vão, pouco
interessantes eu fico pu.. Tô cansado de estudar , de madrugar, que sacrilégio (Vai pro
colégio!!) Então eu fui relendo tudo até a prova começar Voltei louco pra contar: Manhê!
Tirei um dez na prova Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova Decorei
toda lição Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa
filhão!) Quase tudo que aprendi amanhã, já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não
entendi Quase tudo que aprendi amanhã, já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não
entendi Decoreba: esse é o método de ensino eles me tratam como ameba e assim eu
não raciocino Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos Desse jeito
até história fica chato Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo Então
quando eu não entendo nada, eu levanto o dedo Porque eu quero usar a mente pra ficar
inteligente Eu sei que ainda não sou gente grande, mas eu já sou gente E sei que o
estudo é uma coisa boa O problema é que sem motivação a gente enjoa O sistema põe
um monte de abobrinha no programa Mas pra aprender a ser um ingonorante (...) Ah, um
ignorante, por mim eu nem saia da minha cama (Ah, deixa eu dormir) Eu gosto dos
professores e eu preciso de um mestre Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa
que preste - O que é corrupção? Pra que serve um deputado? Não me diga que o brasil
foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...) Vamos fugir dessa jaula "Hoje eu tô
100
feliz"(matou o presidente? Não. A aula. Matei a aula porque não dava Eu não
agüentava mais E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais Mas se eles fossem
da minha idade eles entenderiam (Esses não é o valor que um aluno merecia) Íííh... Sujô
(Hein?) O inspetor! (Acabou a farra, já pra sala do coordenador!) Achei que ia ser
suspenso mas era só pra conversar E me disseram que a escola era meu segundo lar E é
verdade, Eu aprendo muita coisa realmente Faço amigos, conheço gente, mas não quero
estudar pra sempre! Então eu vou passar de ano Não tenho outra saída Mas o ideal é que
a escola me prepare pra vida Discutindo e ensinando os problemas atuais E não me
dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais Com matérias das quais eles
não lembram mais nada E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada Manhê! Tirei
um dez na prova Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova Decorei toda
lição Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa filhão!)
Encarem as crianças com mais seriedade Pois na escola é onde formamos nossa
personalidade Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração
e a indiferença são sócios Quem devia lucrar só é prejudicado Assim cês vão criar uma
geração de revoltados Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio Agora me dá minha bola
e deixa eu ir embora pro recreio...
Proposta de Atividade
Qual a relação entre o texto A teoria de Piaget e a música Estudo Errado ? Você pode
criticar um ou outro, ou tentar concilia-los.
101
"O dedo pode apontar a lua, o sábio olha a lua, o tolo o dedo"
O provérbio acima, certamente elaborado muito antes do apogeu da Grécia antiga, é aqui
reproduzido para lembrar – como já observamos no primeiro bimestre – que povos
orientais, mais antigos que os gregos, produziram conhecimentos, construíram
diversificadas culturas, e portanto possuidores de uma moral e de uma ética. Porém,
como inicialmente optamos, rejeitamos a tese orientalista para o surgimento da filosofia,
atribuindo à Grécia o seu verdadeiro berço. E se promovêssemos aqui uma investigação
profunda acerca das culturas de todos os povos, constataríamos uma diversidade de
valores morais e éticos apontando o que é o certo e o errado, o permitido e o proibido, o
bem e o mal. Mais restritamente, se estudássemos apenas a cultura de um povo, também
iríamos perceber valores morais diferentes em cada grupo ou classe social. Conforme a
“moral” do adágio chinês acima, abandonemos o apontador e vamos ao apontado:
MORAL E ÉTICA
102
costumes
Algumas Definições •
103
BEM
PLATÃO (República)
“O bem [não e] essência, mas algo que ultrapassa de longe a essência em majestade e
potência.”
“Toda arte e toda busca, tanto quanto toda ação e toda deliberação refletida, tendem,
parece, na direção de algum bem: aquilo a que se tende em todas as circunstâncias.”
ESPINOZA
“Por bem entendo aqui todo gênero de Alegria e tudo o que, ainda, a isso conduz e,
principalmente, o que preenche a espera seja ela qual for.” (Ética, 3ª parte, Proposição
39, in (Euvres de Spinoza, t.3, p.173, Garnier-Flammarion.)
104
“Chamamos Bem tudo o que é apropriado para produzir em nós prazer e, ao contrário,
chamamos Mal o que é apropriado para produzir em nós a Dor.”
BOM
HOBBES
“O objeto, qualquer que ele seja, do apetite ou desejo de um homem é o que de sua parte
este chama bom; e chama mau o objeto de seu ódio e aversão” (Leviatã).
SPINOZA
“Entenderei por bom o que sabemos com certeza ser-nos útil.” (Ética).
HEGEL
“O bom é o conteúdo dos deveres, isto é, das determinações fundamentais que implicam
as relações necessárias entre homens; em outras palavras, o que estas relações
comportam de racional. (Propedêutica filosófica).
NIETZSCHE
105
“Os ‘bons’, eles próprios, isto é, os nobres, poderosos, mais altamente situados e de
altos sentimentos.” (Genealogia da Moral)
VIRTUDE
Etm.: lat. virtus, qualidades que constituem o valor do homem moral e físico,
A. Sentido primeiro: força, poder, eficácia. Propriedade de uma coisa (ex.: a virtude
dormitiva do ópio, a virtude de um medicamento).
B. Ética, moral: disposição habitual para perfazer o bem, para realizar um ato moral.
PLATÃO
ARISTÓTELES
“ A virtude é [...] uma disposição adquirida voluntária, consistindo, com relação a nós, na
medida, definida pela razão conformemente à conduta de um homem refletido[...]. Se,
segundo sua essência [...], a virtude consiste num meio termo justo, com relação ao bem e
à perfeição, ela coloca-se no ponto mais elevado.” (Ética)
106
“A virtude é esta disposição que nos torna capazes de colocar os melhores atos e nos
dispõe o melhor possível com relação ao que há de melhor, sendo o melhor e o mais
perfeito ‘o que é conforme à reta razão’, isto é, o meio-termo entre o excesso e a falta
com relação a nós.” (Ética a eudemo)
SÃO TOMÁS
(A-B) “A virtude implica a perfeição de uma potência[...]. [Ela] é um hábito bom e produtor
de bem.” (Suma teológica)
DESCARTES
SPINOZA
“Por virtude e potência entendo a mesma coisa: isto é, a virtude enquanto se relaciona
com o homem, é a essência mesma ou a natureza do homem enquanto ele tem o poder
de fazer certas coisas que se podem conhecer unicamente pelas leis de sua natureza.
(Ética)
107
KANT
“A virtude é a força das máximas do homem na realização de seu dever.” (Metafísica dos
costumes)
MAL
“Já que todo ser, enquanto tal, é bom, o mal, na medida em que existe, é do não-ser.”
SPINOZA (Ética)
“Por mal entendo todo gênero de Tristeza e principalmente o que frusta a espera.”
108
“O mal é o Outro [...]. resultante do medo que o homem comum tem diante de sua
liberdade, [ele] é uma projeção e uma catarse [...] o Outro diferente do Ser, o Outro
diferente do bem, o Outro diferente de si.”
MALDADE
KANT
“A Maldade [...] ou, se preferir, a corrupção [...] do coração humano, é a tendência do livre
arbítrio a máximas que fazem passar o motivo da lei moral depois de outros (que são
morais).” (A Religião nos Limites as Simples Razão, 1ª parte, §2, p.50, Vrin.)
MALDOSO
HEGEL
109
ÓDIO
SPINOZA
“O ódio nada mais é do que uma Tristeza que acompanha a Idéia de uma causa exterior
[...] aquele que odeia se esforça por afastar e destruir a coisa da qual ele tem ódio.”
(Ética)
SARTRE
FELICIDADE
Na filosofia antiga, o objetivo da vida humana é a felicidade, fim perfeito e Soberano Bem.
O pensamento do sec. XIX bem como a reflexão moderna oferecem-nos, muito
freqüentemente, uma visão muito mais pessimista das coisas.
110
ARISTÓTELES
“Se é verdade que a felicidade é a atividade conforme à virtude, é evidente que a mais
perfeita é aquela conforme à virtude, isto é, a mais elevada da parte do homem[...]. É a
atividade desta parte de nós mesmos(divina), atividade conforme a sua virtude própria,
que constitui a felicidade perfeita.” (Ética a Nicômaco)
KANT
HEGEL
“A felicidade não é apenas um prazer singular mas um estado durável, por um lado, do
prazer afetivo e, por outro, também das circunstâncias e meios que permitem, à vontade,
provocar prazer.” (Propedêutica filosófica)
111
SCHOPENHAUER
AMIZADE
Inclinação ou sentimento recíproco entre duas pessoas, que não se funda numa atração
sexual.
KANT
AMOR
112
PLATÃO
“Toda aspiração em geral na direção das coisas boas e na direção da felicidade, eis o
Amor muito poderoso.” (O Banquete).
DESCARTES
“O amor é uma emoção da alma causada pelo movimento dos espíritos que a incita a
unir-se voluntariamente aos objetos que lhe parecem convenientes. (As paixões da Alma).
SPINOZA
“O Amor [...] não é outra coisa senão uma Alegria acompanhada pela idéia de uma causa
exterior, [...] quem ama se esforça necessariamente por ter presente e conservar a coisa
que ama.” (Ética).
113
LIBERDADE
Liberdade, uma palavra com múltiplos sentidos que “exerceu todas as profissões”
(Valéry). No plano filosófico puro, existem duas orientações principais que dizem respeito
à liberdade como uma faculdade ligada à inteligência e à razão (o Estoicismo, p.ex.) e a
que a considera como um poder perpétuo de dizer “sim” ou “não” (Sartre p.ex.).
A. Moral: obediência da vontade a uma lei moral que ela própria se prescreve; liberdade =
autonomia (Kant).
B. Política:
a) estado de um grupo humano que se governa com toda soberania (liberdade política).
b) Poder de agir sob a proteção das leis, direito de fazer o que as leis permitem
(liberdade civil).
SPINOZA
“Os homens enganam-se ao acreditarem-se livres; e esta opinião consiste no fato de que
têm consciência de suas ações e são ignorantes das causas pelas quais eles são
114
determinados; o que constitui, pois, sua idéia da liberdade é que não conhecem
nenhuma causa de suas ações.” (Ética).
MONTESQUIEU
(D-b) “Num Estado, isto é, numa sociedade em que há leis, a liberdade só pode consistir
em poder fazer o que se deve querer e em não ser de maneira alguma coagido a fazer o
que não se deve querer.
HUME
“Por liberdade [...] só podemos entender um poder de agir ou de não agir, segundo as
determinações da vontade: isto é, se escolhemos permanecer em repouso, podemos; se
escolhermos movimentar-nos, também podemos.” (Investigação sobre o Entendimento
Humano).
ROUSSEAU
115
“Não há, pois, liberdade sem Leis, nem onde alguém esteja acima das Leis: no estado
mesmo de natureza, o homem só é livre pelo favor da Lei natural que comanda a todos.
Um povo livre obedece, mas não serve: há chefes e não senhores: ele obedece às Leis,
mas obedece apenas as Leis e é pela força da leis que não obedece aos homens.”
(Cartas escritas da montanha).
HEGEL
“A liberdade política de um povo consiste em que este povo forma um Estado próprio,
sendo decidido o que vale como querer nacional universal ou pelo povo inteiro ou pelos
homens que fazem parte deste povo e, já que qualquer outro cidadão possui os mesmos
direitos que eles, este povo pode reconhecer como seus.” (Propedêutica filosófica).
ENGELS
(B-b) “A liberdade não está numa independência sonhada com relação às leis da
natureza mas no conhecimento dessas leis e na possibilidade dada, por isso mesmo, de
pô-las em obra metodicamente para fins determinados[...]. a liberdade da vontade não
significa, pois, outra coisa senão a faculdade de decidir com conhecimento de causa.”
(Anti-Dühring).
SARTRE
“Ser, para o para-si, é nadificar o em si que ele é. Nestas condições, a liberdade não
poderia ser outra coisa senão esta nadificação.” (O Ser e o nada).
116
“A liberdade coincide, em seu fundo, com o nada que está no coração do homem. (O
Ser e o nada).
LIVRE-ARBÍTRIO
KANT
“Na medida em que a [faculdade de fazer ou não fazer segundo sua vontade] está ligada
à consciência da faculdade de agir para produzir o objeto, ela chama-se arbítrio[...]. o
arbítrio que pode ser determinado pela razão pura chama-se o livre-arbítrio.” (Metafísica
dos costumes).
NIETZSCHE
“O que se chama o livre-arbítrio é esse estado muito complexo do homem que ‘quer’, isto
é, que ordena e, executando suas próprias ordens, goza ao triunfar sobre todas as
resistências e julga que é sua vontade que triunfa sobre essas resistências.” (A Vontade
de potência).
PAIXÃO
Etim.: lat. passio, ação de suportar, de sofrer, de pati, padecer, suportar, sofrer.
117
DESCARTES
SPINOZA
“ Entendo por Afeições as afeições do Corpo, pelas quais a potência de agir deste Corpo
aumenta ou diminui, é secundada ou reduzida, e, ao mesmo tempo, as idéias destas
afeições.
Quando podemos ser a causa adequada de alguma destas afeições, entendo, pois, por
afeição uma ação; nos outros casos, uma paixão.” (Ética)
KANT
118
“A inclinação que a razão do sujeito não pode dominar ou só pode com pena é a
paixão.” (Antropologia do ponto de vista pragmático)
HEGEL
“Dizemos, pois, que nada se faz sem sustentar-se pelo interesse dos que colaboraram
nele. Chamamos esse interesse paixão, quando, reprimindo todo os outros interesses ou
objetivos, a individualidade inteira projeta-se num objetivo com todas as fibras interiores
de seu querer e concentra nesses objetivo suas forças e todas suas necessidades. (A
Razão na história).
TRABALHO
Etim.: lat. tripalium, de tripaliare, torturar com o tripálio, aparelho formado de três pés, que
serve para sujeitar e imobilizar certos animais (cavalos, principalmente) para ferrá-los.
Termo marcado pela tradição religiosa – que privilegiou freqüentemente na sua definição
a idéia de coerção penosa – mas que passa, no contexto filosófico moderno, a partir do
séc. XIX (Hegel, Marx, etc.) a designar a atividade transformadora da natureza destinada
119
B. Sentido ordinário, com uma nuança herdada das tradições bíblica, cristã, etc.:
atividade penosa e constrangedora, que exige um esforço doloroso.
HEGEL
MARX
120
As forças de que seu corpo é dotado [...], eles as põe em movimento a fim de
assimilar matérias dando-lhes uma forma útil para sua vida.” (O capital).
MENTIRA
KANT
“A maior transgressão do dever do homem face a ele próprio considerado como ser
moral (face à humanidade na sua pessoa) é o contrário da veracidade: a mentira.”
(Metafísica dos costumes).
VERGONHA
No séc. XIX, esta noção ambígua, ao mesmo tempo negativa e positiva, é analisada de
uma perspectiva histórica por Marx e Engels, que exaltam as virtudes edificadoras da
121
Recurso à força, para submeter alguém (contra sua vontade); exercício da força, praticado
contra o direito.
SPINOZA
“A Vergonha é uma Tristeza que acompanha a idéia de uma ação que imaginamos ser
censurada por outros.” (Ética).
SARTRE
“A vergonha é sentimento de queda original, não pelo fato de que eu teria cometido tal ou
tal falta, mas simplesmente pelo fato de que ‘caí’ no mundo, em meio às coisas, e que
necessito da mediação de outrem para ser o que sou.” (O ser e o nada).
VIOLÊNCIA
ENGELS
122
“[A violência é] a parteira de toda velha sociedade de que carrega uma nova em seus
flancos.” (Anti-Dühring).
SARTRE
“A violência não é um meio entre outros para atingir o fim, mas a escolha deliberada de
atingir o fim por qualquer meio. É por isso que a máxima da violência é ‘o fim justifica os
meios’.” (Cadernos para uma moral).
“A violência[...] não pode definir-se sem relação com as leis que ela viola (leis humanas ou
naturais). Representa a suspensão dessas leis, a ‘vacância da legalidade’. Ao contrário, a
opressão pode ser institucional.” (Cadernos para uma moral).
Vício
C. Lógica: o que, pela negação das regras ou formas lógicas, torna um pensamento
defeituoso.
123
DESEJO
ARISTÓTELES
DESCARTES
“A paixão do desejo é uma agitação da alma causada pelos espíritos que a dispõem a
querer no futuro as coisas que ela representa como sendo adequadas. Assim, não se
deseja somente a presença do bem ausente, mas também a conservação do presente.
(As paixões da alma).
SPINOZA
124
HEGEL
SARTRE
“Se o desejo deve poder ser para ti mesmo desejo, é preciso que seja a própria
transcendência, isto é, que seja por natureza fuga de si na direção do objeto desejado [...].
o desejo é falta de ser; e perseguido no seu ser mais íntimo pelo ser do qual é desejo.” (O
Ser e o nada).
PRAZER
ARISTÓTELES
“O prazer perfaz o ato, como o faria uma disposição imanente ao sujeito, mas como uma
espécie de fim advindo por acréscimo, tal como aos homens na força da idade vem
acrescentar-se a flor da juventude[...]. o prazer [reside] no ato.” (Ética a Nicômaco).
125
EPICURO
“Quando, pois, dizemos que o prazer é nosso objetivo último, não entendemos com isso
os prazeres dos libertinos nem os que se vinculam ao desfrute material[...]. o prazer que
temos em vista se caracteriza pela ausência d sofrimentos corporais e perturbações da
alma.” (Carta a Meneceu).
HOBBES
LEIBNIZ
NIETZSCHE
“O prazer, impressão agradável da sensação de potência, que supõe sempre uma coisa
que resiste e é preciso superar.” (A Vontade de potência).
FREUD
126
TEMPERANÇA
PLATÃO
Escolha pelo menos cinco termos, destes conceituados pelos filósofos acima, e pergunte
para cinco pessoas diferentes seus significados.
127
No ocidente o responsável pelo início da filosofia moral, ou ética, foi Sócrates. Platão e
Aristóteles encarregaram-se, através de diversas obras, de registrar este título ao
pensador. O pensamento socrático serviu de modelo à maioria das escolas gregas de
filosofia moral. A idéia de virtude é produto da razão controladora das paixões e dos
desejos, através da reflexão e da sabedoria. A virtude socrática é a característica comum
predominante na filosofia moral grega.
128
“Para Sócrates, o bem consiste no proveito de todos. O homem, agindo pelo interesse
comum, ganha também a própria felicidade, que reside precisamente na consciência do
agir de acordo com a justiça, no domínio de si mesmo e dos próprios impulsos. O sábio é
pois justo, forte e temperante. Só assim a vontade particular do homem pode coincidir
com a lei moral e o bem de cada um com o de todos. Para Sócrates, é virtuoso quem é
sábio: pratica o bem quem o conhece: virtude é saber (intelectualismo ético). De outro
lado, quem conhece o bem não pode não fazê-lo, pois só quem é virtuoso é feliz; e todos
os homens aspiram à felicidade; portanto, é impossível que quem conhece o bem faça o
mal, fazendo assim também o seu próprio mal. Ninguém, portanto, é malvado
voluntariamente; aqueles que praticam o mal o fazem por ignorância: a culpa e o vício são
erros de juízo.”
129
Platão e a Caverna
O filósofo Platão nasceu em Atenas ( 428-7 a.C.) e lá morre ( 348-7 a.C.). Seu nome é
derivado de seu vigor físico e da largueza de seus ombros (platos significa largueza).
Com vinte anos de idade entra em contato com Sócrates, tornando-se seu discípulo
durante nove anos, até quando seu mestre é condenado e bebe o cálice de cicuta. Em
387 a.C., num ginásio que levava o nome do herói Academos, Platão funda a Academia,
que podemos considerar como a primeira universidade do ocidente, somente fechada
definitivamente após setecentos anos pelo imperador Justiniano. Na porta da
“universidade platônica” existia uma inscrição advertindo que ali não devesse entrar
“quem não soubesse geometria”, pois Platão considerava a matemática o modelo seguro
para enfrentar o relativismo e a diversidade de opiniões. Além de cartas Platão escreveu
cerca de trinta Diálogos. Suas obras contavam sempre com Sócrates como protagonista.
Também estudamos que o sistema filosófico de Platão baseia-se na distinção de duas
formas de conhecimento: o sensível e o intelectual. O primeiro, como crença e opinião, só
alcança a aparência das coisas; o segundo, como raciocínio e intuição, alcança a
130
essência das coisas, as idéias. Portanto, o Ser verdadeiro somente é alcançado pelo
conhecimento intelectual.
No livro VII da República Platão expõe o mito da caverna, obra bastante reproduzida até
hoje, onde compara a condição ignorante dos homens à de escravos presos numa
caverna. Esta, numa parede ao fundo, apresenta somente as sombras das coisas e dos
seres iluminados pelo sol lá fora, visão que os escravos consideram a verdadeira. Assim,
a filosofia consistia no esforço de libertação das aparências, de saída da caverna para
encarar as coisas verdadeiras. Para Platão, o autor de tal esforço é o sábio virtuoso de
Sócrates. O sol, visto fora da caverna, é a idéia do Bem.
Nasceu em 384 a.C. em Estagira, cidade pertencente aos domínios da Macedônia. Com
dezoito anos Aristóteles chegou em Atenas para estudar. Lá encontra duas instituições de
ensino: a de Isócrates, seguidor do pensamento dos sofistas, que ensinava política como
emissão de opiniões prováveis sobre coisas úteis; e a Academia platônica. O filósofo
escolhe a Academia e permanece até a morte de Platão. Convidado pelo imperador
Filipe da Macedônia para educar seu filho Alexandre, Aristóteles sai de Atenas e só
retorna quando Alexandre, no lugar do pai que fora assassinado, começa a construção de
seu grande império na conquista do Oriente, o que provoca um afastamento entre os dois.
Aristóteles discorda da fusão da civilização grega com a oriental por considerar a
primeira uma comunidade perfeita e bastante peculiar, impossível de ser transmitida a
outros povos: os bárbaros. Retornando para Atenas funda uma escola, o Liceu, que iria
rivalizar com a Academia. O Liceu, ao contrário das investigações matemáticas da
Academia de Platão, transformou-se num grande centro de estudos voltados
especialmente às ciências naturais.
131
Aristóteles classificou as virtudes. Mais adiante, veremos que os valores morais decorrem
dos costumes e promovem a política.
Hedonismo e Estoicismo.
132
133
Aristóteles:
A maioria das pessoas parecem, devido à ambição, preferir ser amada a amar. E é por
isso que os homens, em geral, amam a lisonja. Com efeito, o lisonjeiro é um amigo em
posição inferior, ou finge ser tal ao mesmo tempo que simula amar mais do que é
amado; e ser amado parece ter bastante semelhança com ser honrado, e isso é o que a
maioria das pessoas ambicionam (...).
(...) O ser amado, por outra parte, é deleitável em si mesmo, e por isso afigura-se
preferível ao ser honrado; e a amizade parece digna de ser desejada por si mesma. Mas
dir-se-ia que ela reside antes em amar do que em ser amado, como mostra o deleite que
as mães sentem em amar; pois algumas mães entregam os filhos a outros para serem
educados, e, enquanto conhecem o destino deles, amam-nos sem procurar ser amadas
em troca (se não lhes são possíveis as coisas), mas parecem contentar-se em vê-los
prosperar; e amam os seus filhos mesmo quando estes, por ignorância, não lhes dão
nada do que se deve a uma mãe.
134
E assim, como a amizade depende mais do amar que do ser amado, e são louvados,
o amar parece ser a virtude característica dos amigos, de modo que só aqueles que
amam na medida justa são amigos duradouros, e só a amizade desses resiste ao
tempo(...).
(...) A amizade com vistas na utilidade parece ser a que mais facilmente se forma entre
contrários, como, por exemplo, entre pobre e rico, entre ignorante e letrado; porque um
homem ambiciona aquilo que lhe falta e dá algo em troca. Mas nesta classe também se
poderia incluir amante e amado, belo e feio. É por isso que os amantes parecem às
vezes ridículos, quando pretendem ser amados em troca; quando ambos são igualmente
dignos de amor a pretensão talvez se justifique, mas é ridícula quando não tem nenhuma
qualidade própria para despertar o amor(...).
(...) A própria amizade dos familiares, embora seja de várias espécies, parece depender
em todos os casos da amizade paterno-filial; porquanto os pais amam os filhos como
partes de si mesmos, e os filhos amam os pais por serem algo que se originou deles. Ora
, os pais conhecem os filhos melhor do que estes se conhecem como seus filhos, e o
procriador sente os filhos como seus mais do que os filhos sentem os pais como seus,
pois o produto pertence a quem o produziu (como, por exemplo, um dente, um fio de
cabelo ou qualquer outra coisa pertence ao seu dono), mas o produtor não pertence ao
seu produto, ou pertence em menor grau. E finalmente, o tempo decorrido contribui para o
mesmo resultado: os pais amam os filhos desde que estes nascem, mas os filhos
começam a amar os pais só depois de algum tempo, quando adquiram entendimento ou
o poder de discriminação pelos sentidos. Por isso tudo se evidencia também a razão de
ser o amor das mães maior que o dos pais (...).
135
que os filhos dos mesmos pais, tendo crescido juntos e recebido a mesma educação,
têm maior semelhança de caráter; e no seu caso, a prova do tempo foi aplicada de
maneira mais completa e concludente.
Entre outros graus de parentesco as relações amigáveis são encontradas nas proporções
correspondentes. Entre marido e mulher a amizade parece existir por natureza, pois a
espécie humana se inclina naturalmente a formar casais mais do que a formar cidades, já
que a família é anterior à cidade e mais necessária do que esta, e a reprodução é
comum aos homens e aos animais. Entre os outros animais a união vai apenas até esse
ponto, mas os seres humanos vivem juntos não só para reproduzir-se, senão também
para os vários propósitos da vida. E desde o começo são divididas as funções, diferindo
entre si as do homem e as da mulher, e ajudam eles um ao outro fazendo capital comum
de seus dotes individuais. Por tais motivos, tanto a utilidade como o prazer parecem ser
encontrados nessa espécie de amizade. Pode ela, no entanto, basear-se também na
virtude, se as partes são boas; pois cada uma possui a sua virtude própria, e ambas se
deleitam nisso. E os filhos constituem um laço de união (motivo pelo qual os casais sem
filhos separam-se mais facilmente); porquanto os filhos são um bem comum a ambos, e o
que ambos possuem em comum os conserva unidos.
Como devem portar-se um para com o outro marido e mulher, e, de um modo geral,
amigo com amigo, parece ser a mesma questão que a de determinar qual seja a sua
conduta justa, porque um homem não parece ter os mesmos deveres para com um
amigo, um estranho, um camarada e um condiscípulo(...).
(...)
136
Mas a amizade que se baseia na utilidade é repleta de queixas; porquanto, como cada
um se utiliza do outro em seu próprio benefício, sempre querem lucrar na transação, e
pensam que saíram prejudicados e censuram seus amigos porque não recebem tudo o
que “necessitam e merecem”; e os que fazem bem a outros não podem ajudá-los tanto
quanto eles querem.
Ora, é de supor que, sendo a justiça de duas espécies, uma não escrita e a outra legal,
haja também uma espécie moral outra legal de amizade baseada na utilidade. E assim,
as queixas surgem principalmente quando os homens não dissolvem a relação dentro do
espírito do mesmo tipo de amizade em que a contraíram.
137
O tipo legal é aquele que assenta sobre termos definidos. Sua variedade puramente
comercial baseia-se no pagamento imediato, enquanto a variedade mais liberal dá uma
certa margem de tempo, mas estipula uma troca definida. Nesta variedade a dívida é
clara e não ambígua, mas a sua protelação contém um elemento de amizade; e por isso
alguns Estados não admitem ações judiciais em torno de tais acordos, mas pensam que
os homens que transacionaram numa base de crédito devem aceitar as consequências.
O tipo moral não assenta em termos fixos. Faz uma dádiva, ou o que quer que seja, como
se fosse a um amigo; mas espera receber outro tanto ou mais, como se não tivesse dado
e sim emprestado; e, se a situação de um deles é pior após dissolver-se a relação do que
antes de havê-la contraído, esse homem se queixará. Isso acontece porque todos os
homens ou a maioria deles desejam o que é nobre mas escolhem o que é vantajoso; ora,
é nobre fazer bem a um outro sem avisar a qualquer compensação, mas receber
benefícios é que é vantajoso.
138
Nas amizades que se baseiam na virtude, por outro lado, não surgem queixas, mas o
propósito do benfeitor é uma espécie de medida; pois no propósito reside o elemento
essencial da virtude e do caráter.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. In: Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p.
147-154
139
Marilena Chauí nos indica duas concepções primárias, que foram decisivas na construção
da ética ocidental:
1 – “...a idéia de que a virtude se define por nossa relação com Deus e não com a cidade
(a polis) nem com os outros. Nossa relação com os outros depende da qualidade de
nossa relação com Deus, único mediador entre cada indivíduo e os demais. Pôr esse
motivo, as duas virtudes cristãs primeiras e condições de todas as outras são a fé (...) e a
caridade (...).” ( CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 5ª Ed. São Paulo: Ática, 1995. p.
343)
2 – “... a afirmação de que somos dotados de vontade livre – ou livre arbítrio – e que o
primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o mal e para o pecado, isto é, para a
transgressão das leis divinas. Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o bem
(obediência a Deus) e o mal (submissão à tentação demoníaca). Em outras palavras,
enquanto para os filósofos antigos a vontade era uma faculdade racional capaz de
dominar e controlar a desmesura passional de nossos apetites e desejos, havendo,
portanto, uma força interior (a vontade consciente) que nos tornava morais, para o
cristianismo, a própria vontade está pervertida pelo pecado e precisamos do auxílio
divino para nos tornar-mos morais.” (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 5ª Ed. São
Paulo: Ática, 1995. p. 343 )
O cristianismo, ao introduzir estas duas novas concepções éticas, associa duas novas
idéias morais que irão permanecer na moral ocidental até hoje: a idéia do dever e a idéia
da intenção.
O dever é o que faz um sentimento ser moral. Deus, com suas vontades e leis, promete a
salvação em troca do dever do cumprimento moral, ou o castigo diante da desobediência.
140
A intenção é uma espécie de ação invisível que presta contas ao olhar divino e não
humano. A filosofia moral grega, diferentemente, considerava apenas as ações visíveis
passíveis de julgamento.
Os dois principais filósofos cristãos foram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Santo Agostinho nasceu no norte da África, na cidade de Tagarte. Quando criança era
cristão, mas depois interessou-se por outras religiões, como a dos maniqueus, que
formavam uma seita, e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e
matéria. Foi influenciado pelos estóicos e os neoplatônicos, e também aderiu ao
ceticismo. Conheceu a palavra do apóstolo Paulo convertendo-se à fé cristã. Fundou uma
comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente a fé, como foi comum na
Idade Média. Vira vigário aos trinta e seis anos, e mais tarde bispo de Hipona. Algumas
obras: Contra Academicos; As Confissões; De Trinitate; e a Cidade de Deus.
Conforme já vimos, Agostinho "cristanizou" Platão, fazendo vários paralelos entre a parte
espiritualista Platônica e as sagradas escrituras. Fez a distinção entre o corpo (sujeito à
sorte do mundo) e a alma com a qual se pode conhecer Deus. Tentou provar que sem a fé
a razão não é capaz de chegar à felicidade. A razão para Agostinho serve como auxiliar
da fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos.
141
compõe a sua obra: A Suma contra os gentios e a Suma teológica. Trata de Deus e
suas obras, da fé no mistério a santíssima trindade, da encarnação, dos sacramentos e
da vida eterna. Afirma que o homem possui uma capacidade, passada por Deus, de
distinguir naturalmente o certo e o errado. Este filósofo faz uma exposição completa da
religião católica, identificando o que há de verdade nela. Acerca das mulheres, como
Aristóteles, que dizia ser o homem ativo, criativo e doador de energia vital na concepção,
enquanto a mulher é receptora e passiva, Aquino encontra justificativas com a afirmação
da Bíblia que a mulher deriva de uma costela do homem.
São Tomás “cristianizou” Aristóteles, à semelhança do que fez Agostinho com Platão.
Apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, como diz Tomás, e de sua
obra ser original, autonôma e independente de dogmas, ele está em harmonia com o
saber contido na Bíblia. As observações sobre Aristóteles vão permanecer em todas as
suas obras. Tomás de Aquino afirma que podemos conhecer Deus pelos seus efeitos, ele
é o último em uma escala evolutiva, a causa de todas as coisas. Aquino fundamentou na
lógica aristotélica os conceitos de Agostinho de pecado original e do perdão por meio da
graça divina.
142
alemão Emmanuel Kant (1724-1804), são alguns dos principais filósofos que
pensaram a ética no Iluminismo. Porém, cabe ressaltar, a importância do filósofo italiano
Nicolau Maquiavel (1469-1527), que ainda na Idade Média causou uma verdadeira
revolução na ética, repelindo as filosofias morais grega e cristã. Definindo a ética cristã
como “efeminada”, ele busca um modelo moral baseado nos antigos romanos. Maquiavel
influenciou muitos pensadores modernos, principalmente Hobbes e Spinoza.
Conheceremos melhor este filósofo no próximo capítulo quando tratarmos de política.
Emannuel Kant
Sem nunca ter saído de sua cidade natal, este filósofo alemão desenvolveu um
pensamento extremamente variado, que ultrapassou continentes e séculos. Muitas
reflexões dos séculos XIX e XX brotaram da filosofia kantiana. A variedade de seu
pensamento pode ser resumida em torno de duas grandes questões: o conhecimento e a
moral.
143
Foi tratando da dimensão prática que Kant elaborou sua teoria moral contrariando a
concepção cristã e questionando a filosofia moral grega baseada na felicidade. O
importante na moral kantiana é a liberdade pautada pela razão universal, necessária e
autônoma. Desta forma, expôs em duas grandes obras – Crítica da razão prática e
Fundamentação da metafísica dos costumes – o agir de acordo com a razão. Porém, o
agir de Kant só é moral quando regido por imperativo categórico.
Os Imperativos de Kant
É um imperativo condicionado.
144
É um imperativo condicionado.
Devemos agir de alguma forma que a causa nos levou a agir possa ser transformada em
lei universal. Por conter a forma da razão pura, o imperativo categórico entrega ao homem
a lei moral, tendo como singular princípio a autonomia da vontade.
145
Após a leitura do texto abaixo, faça uma redação abordando “A liberdade e seus limites”.
Monografias do CAB
Preâmbulo.
Poucos problemas abrangem tantos aspectos quanto o da eutanásia, tema cujo debate
parece condenado ao emocionalismo, seja qual for a posição dos interlocutores; e disto
decorre o fato de tal questão suscitar, a fim de que se proceda uma lúcida análise do
tema, uma rigorosa adequação jurídica, moral e médica concomitantemente.
146
A palavra eutanásia tem origem grega e significa morte serena, morte suave, sem
sofrimento ou dor hodiernamente, entretanto, o termo é usado para referir-se à morte
concedida àqueles que encontram-se acometidos por doenças incuráveis e/ou sofrem de
angústia e dores insuportáveis; é uma prática, destarte, utilizada em benefício(?) dos
enfermos e tem por finalidade ab-rogar a agonia demasiado longa e dolorosa daqueles
que, por ventura, desejam por termo às suas vidas.
A eutanásia, dentro dos parâmetros acima traçados, pode ser tipificada em passiva ou
ativa. No primeiro caso, consiste em permitir que alguém morra, isto é, em não prestar o
adequado tratamento médico necessário ao prolongamento da vida do moribundo; já no
segundo, resume-se a matar alguém de forma rápida e indolor.
(...)
147
148
149
150
(...)
Logo, o homem tem que usar todas as suas faculdades para enfrentar, superar ou
conviver com seus problemas. Deste modo, tendo-se novamente em vista o caso de
alguém que não possa se locomover em função de ser tetraplégico, corroboramos a
afirmação de que uma pessoa, em tal situação, terá uma vida relativamente limitada, haja
vista não lhe ser exeqüível a satisfação de todos os seus mais caros desejos, como
patinar no gelo, dirigir um automóvel, ou exercer algum trabalho prolífico que lhe exija a
utilização de suas mãos. Entretanto, asseveramos que de modo algum sua vida torna-se
vá, pois permanece a possibilidade de instrumentalização de todo o seu potencial
intelectual e emotivo no sentido de galgar a felicidade. E, considerando que alguém que
tenha consciência de si a ponto de poder optar pela manutenção de sua vida ou pelo fim
da mesma, poderá , qualquer que seja sua limitação física, ser enquadrado no âmbito
destas reflexões, este indivíduo, sendo psicologicamente ajustado, esforçar-se-á para
superar ou conviver com suas licitações, procurando desenvolver suas potencialidade
remanescentes. Do contrário, esta pessoa será desajustada e não poderá racionalmente
deliberar sobre questão tão significativa, como é aquela concernente à conservação da
vida ou à morte.
151
autoriza a morte não está, não pode estar na integridade de seu entendimento. O
apego à vida é um sentimento tão forte todas as dores e todos os calvários à mais suave
das mortes".
Tal asserção adquire mais força perante a impugnação dos desarrazoados princípios
utilitaristas que orientam os "caritativos advogados do exício digno" pela concepção de
dignidade do indivíduo que fundamenta a filosofia moral do homem de Könnigs Ler.
152
Com maestria, ensina-nos Wilhelm Wundt que "o imperativo categórico manifesta-se em
nós diretamente, como 'voz da consciência', na qual se exprime um dever incondicionado,
por trás do qual 'se calam todos os impulsos sensitivos'. Portanto, não é o 'bem-estar',
que permanece sempre em bem exterior, senão o chamamento ao dever, o que constitui
o mais alto bem". Se os valores são associados às inclinações subjetivas, sustenta Kant,
ainda que sob a forma genérica de "felicidade", eles não são definidos pela razão, e, se
os homens deixam-se orientar por eles, não são livres.
153
Assim como Kant, Hegel foi idealista. Seu idealismo, no entanto, refletiu uma profunda
crítica às soluções kantianas, assim como às teses racionalistas e empiristas. Observou
que todos deixaram de compreender uma questão elementar da razão: a história.
Em sua crítica à razão pura de Kant, apontou que este errou por exagero de subjetividade
na prioridade que deu ao sujeito, da mesma forma que os empiristas e racionalistas
erraram priorizando o objeto. Hegel compreende a razão dialética como uma síntese
necessária do objetivo com o subjetivo. Ele entende a razão histórica movida por
contradição. No pensamento hegeliano, a razão não ocupa um lugar na história, é história.
Portanto, para este grande filósofo dialético, o agir ético e livre estabelece-se na relação
entre a vontade objetiva histórica e a vontade subjetiva individual, de onde surgem as
instituições (família, sociedade civil, Estado) com suas regras morais orientadoras da
conduta. Segundo Hegel, toda vez que esta relação vê-se abalada, através das
contestações aos valores morais da sociedade, presenciamos o anúncio do nascimento
de um novo período histórico.
Karl Marx
154
Como vimos anteriormente, Marx colocou a dialética hegeliana de “pernas para o ar”
e causou uma significativa virada na interpretação da história.
Segundo ele, a moral numa sociedade onde vivem exploradores e explorados, é a moral
da classe dominante. Os valores, como liberdade, racionalidade e felicidade, são
hipócritas porque são irrealizáveis numa sociedade fundada na divisão do trabalho. Desta
forma, falar em moral universal (tarefa ideológica), ou racionalismo humanista, é
completamente falso; é camuflar os interesses antagônicos das classes para manter a
dominação de uma sobre a outra. Somente poderá existir uma moral verdadeira, quando
vivermos numa sociedade sem Estado e sem propriedade privada.
Friedrich Nietzsche
155
Para Nietzsche, a moral racionalista tem por objetivo a repressão e não a liberdade.
Transgredir as regras estabelecidas é expressar a verdadeira liberdade, que só os
homens fortes são capazes de fazer. A moral racionalista é inventada pelos fracos e
ensina o temor à vida, ao corpo, ao desejo e às paixões. Ele propôs uma ética baseada
na vontade de potência, onde ergue-se moral dos senhores oposta à moral dos escravos
(ética racionalista). Pôr fim, valoriza a perspectiva da vontade de poder, que permite ao
homem ultrapassar-se a si mesmo, em direcção ao sobre-humano.
156
- Super-Homem
157
A moral negativa e decadente do homem fraco, cujos valores são: humildade, piedade,
amor ao próximo e bondade. Aqui a consciência do pecado, que inibe a ação, volta-se
contra si mesmo. Um homem que desconfia de seus instintos, que vive envenenado pela
inveja e pelo ódio à própria impotência. O homem-fera vira um animal doméstico. Este é
o homem, que começa com sócrates e atinge seu extremo no cristianismo.
158
Nietzche sempre foi visto como uma espécie de homem solitário e incompreendido.
Apesar de se opor aos movimentos nacionalistas e racistas da época, após sua morte,
por iniciativa de sua irmã Elisabeth, foi utilizado para fundamentar o nazismo. Sua
filosofia, no entanto, teve o grande mérito de criticar a moral hipócrita, que agia com
preconceito e repressão. Desta forma, influenciou obras recentes de pensadores como
Foucault, Deleuze e Guattari, e algumas das principais correntes de pensamento do
século XX, como o existencialismo, a filosofia analítica e a psicanálise.
159
PALAVRAS
HORIZONTAIS
1- Palavra em latim que significa a oposição ao bem, às normas e aos valores morais.
160
origem especificamente sexual que pode causar uma preocupação obsessiva acerca
do ...
16- Palavra que expressa a tristeza acompanhada da idéia de uma causa exterior,
identificada por um filósofo do séc. XVII.
18- Imersão parcial ou total do corpo em água salgada, especialmente para fins lúdicos.
20- Nome de um herói grego, em quem Platão se inspirou para denominar sua Academia.
21- Estrela que torna a imersão do corpo em água salgada mais prazerosa.
161
VERTICAIS
2- Escola fundada por Aristóteles após a morte de Platão. Ao contrário das investigações
matemáticas da Academia de Platão, esta escola transformou-se num grande centro de
estudos voltados especialmente às ciências naturais.
162
11- Para Schopenhauer é um sentimento negativo e não durável. Para Kant, ao contrário,
é o contentamento pelo estado em que nos encontramos acompanhado da certeza de
que ele é durável. Para o estudante de filosofia, é o que se sente após saber que tirou
uma boa nota na prova.
163
Filosofia - Apostila 4
164
Introdução
165
Ele não sabe que o custo de vida , o preço do feijão , do frango , da carne ,
166
O analfabeto politico é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia
política .
Não sabe o imbecil , que da sua ignorância política nasce a prostituta , o menor
abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos , que é o político vigarista e
pilantra . "
167
168
uma causa exterior, [...] quem ama se esforça necessariamente por ter presente e
conservar a coisa que ama.” Sobre o ódio, o mesmo filósofo define: “Tristeza que
acompanha a Idéia de uma causa exterior [...] aquele que odeia se esforça por afastar e
destruir a coisa da qual ele tem ódio.” E a política? Devemos amá-la ou odiá-la? Uma
frase muito interessante, cujo autor desconhecemos, nos responde com sabedoria: “a
infelicidade dos que odeiam a política é serem governados pelos que a amam”.
Geralmente quem divulga seu ódio pela política – e não são poucos –
demonstram, além de uma grande insatisfação, uma completa incompreensão acerca
dos fenômenos políticos que atuam em nosso cotidiano. Desconhecem seus próprios
potenciais transformadores, e por omissão colaboram com a manutenção daquilo que
tanto reprovam: injustiça, corrupção, desigualdade, etc.. Este pensamento, equivocado e
tendente ao conformismo, resume a política nos espaços onde transitam senadores,
deputados, vereadores, prefeitos, governadores e presidentes. Por isso, é comum
odiarem a política quando se odeiam as atitudes de parlamentares e chefes do executivo,
dividindo erroneamente a sociedade em políticos e não políticos. O grande poeta Alemão,
Bertold Brecht (xxxx-14/08/1956), escreveu “o analfabeto político” e criticou os não
participantes dos “acontecimentos políticos”, só que não resumiu esta participação no
voto. Apenas, o poeta quis destacar um ódio ignorante, favorecedor das causas do
próprio ódio.
169
O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
170
A poesia do nosso grande poeta, Manuel Bandeira, continua mais real do que
nunca. No mundo, dados da ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de um bilhão
e duzentos milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia. Destes, mais de
oitocentos e oitenta milhões são desprovidos de qualquer serviço de saúde. Quarenta
milhões de seres humanos morrem de fome todos os anos. Uma em cada quatro crianças
no planeta é desnutrida, e duzentos e cinqüenta milhões delas não podem brincar, apenas
trabalham. E os números não param, a cada dia apontam uma absurda e crescente
concentração de renda. Além da desigualdade social, a saúde do planeta está
comprometida e apresenta um quadro bastante pessimista. A vegetação original e a
água potável estão desaparecendo. De acordo com o Greenpeace, uma respeitada
171
IV - promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.”
172
Política é politicagem?
173
1 - Sugestão de atividade:
- peça para o primeiro aluno de cada fileira destacar uma folha em branco;
174
- cada um deles deverá escrever uma frase (reflexão qualquer), dobrar a folha
suficientemente para tapar o que escreveu, e passar a folha para o colega de trás, que
fará a mesma coisa sem saber o que foi anteriormente escrito, e assim sucessivamente;
- recolha todas as folhas e leia para a turma a obra coletiva, ou leve para casa e elabore
uma ordem que julgar mais lógica.
2 - Após cantar – ou somente ler – as músicas abaixo, você poderá elaborar uma nova
música, ou poesia, com os mesmos temas. Depois, faça uma dissertação (pode ser uma
música ou um poema), abordando a relação entre: política, desigualdade, miséria e
violência:
A NOVIDADE ¯
(Gilberto Gil)
175
O MEU GURI
176
Chico Buarque
Meu rebento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Ele a me levar
Um dia me disse
Que chegava lá
E ele chega
Chega no morro
Com o carregamento
177
Pneu, gravador
Cá no alto
Tá um horror
Pra me ninar
De repente acordo
E o danado
Já foi trabalhar,
Olha aí olha aí
E ele chega
Chega estampado
E as iniciais
Eu não entendo
178
O guri no mato,
De papo pro ar
Seu moço
É o meu guri
179
(que humilhação)
Se a injustiça é a premissa da
O máximo da hipocrisia
180
Do trabalhador, da família
como a corrupção
Na politicagem e no banditismo
De um capitalismo selvagem
Perfeição
Renato Russo,
181
As crianças mortas
182
(A lágrima é verdadeira)
A intolerância e a imcompreensão
183
ARCKHÉ
COM ANDO
AUTORIDADE
MAGISTRATURA
POR EXTENSÃO
184
GOVERNO
REINO IMPÉRIO
COMANDO POLÍTICO
KRATOS
PODER
185
Invenção da Democracia
Na Grécia arcaica (século VIII a.C.), a pólis (cidade) surgiu resultante de vários
avanços técnicos, como a navegação, e a partir do estabelecimento do poderio
econômico e militar. Este foi o período vivido pelos pré-socráticos. Porém, somente na
época clássica (século V a.C.), Atenas foi a cidade mais importante da Grécia,
expandindo seu império marítimo, militar e comercial, e atingindo o apogeu da vida
186
DEMOCRACIA
DEMOKRATÍA
palavra grega
DÊMOS KRÁTOS
(O POVO) (O PODER)
O PODER POPULAR
187
“O homem é por natureza um animal político, de modo que quem vive fora da
cidade, naturalmente, por certo, e não pelo acaso das circunstâncias, é um ser
degradado ou um ser sobre-humano”
Política, Aristóteles.
188
Político, Platão.
CIDADE
189
“Toda cidade, vemos, é uma certa comunidade [...]. quanto à comunidade formada de
várias aldeias, é a cidade acabada que já atinge uma espécie de autarquia completa: sua
gênese se explica pelas necessidades vitais, mas, quando ela existe, ela permite, além
disso, uma vida feliz. É por isso que toda cidade é natural, como são as primeiras
comunidades que a constituem.”
(Aristóteles, Política)
CIDADÃO
(Aristóteles, Política)
190
FELICIDADE
“Se é verdade que a felicidade é a atividade conforme à virtude, é evidente que a mais
perfeita é aquela conforme à virtude, isto é, a mais elevada da parte do homem[...]. É a
atividade desta parte de nós mesmos(divina), atividade conforme a sua virtude própria,
que constitui a felicidade perfeita.” (Aristóteles, Ética a Nicômaco)
191
Porém, com maior rigor histórico que Platão e mais próximo à realidade
concreta, Aristóteles não se preocupa com uma forma ideal de Estado: "é preciso pensar
num governo não só perfeito, mas também realizável e que possa facilmente adaptar-se a
todos os povos". Ao ideal sensível platônico, ilusório e aparente, Aristóteles analisa um
mundo político onde o governante não é o homem filósofo, mas sim o homem prudente
possuidor do saber prático. Ao contrário de Platão, Aristóteles define a origem da pólis
de forma histórica e empírica. Para ele, o Estado é uma instituição decorrente da natureza
humana. Entendendo o bem comum como superior ao bem particular, Aristóteles defende
um Estado superior ao indivíduo. O homem, que “é por natureza um animal político”,
realiza sua perfeição e felicidade pertencendo ao Estado, que é uma categoria humana
auto-suficiente.
1 O GOVERNO DE UM SÓ,
O VALOR É A UNIDADE
A DEGENERAÇÃO É A TIRANIA
2 O GOVERNO DE POUCOS
192
VALOR É A QUALIDADE
DEGENERAÇÃO É A OLIGARQUIA
3 O GOVERNO DE MUITOS,
VALOR É A LIBERDADE
4 DEGENERAÇÃO É A DEMAGOGIA.
VALOR É A MEDIANIA
Aristóteles observa, na Política, que "a extrema pobreza diminui o caráter da democracia
e que, portanto, medidas devem ser adotadas para lhes proporcionar prosperidade
duradoura; e que é igualmente do interesse de todas as classes que os proventos das
receitas públicas devem ser acumulados e distribuídos entre os pobres, se possível em
193
TEXTO COMPLEMENTAR Nº 1
194
TEXTO COMPLEMENTAR Nº 2
Sò tinha palácios
Sòzinho?
195
Tantas histórias
Quantas perguntas
Bertold Brecht
196
Na história ocidental, denominou-se “moderno” o período que começou no séc. XVII, após
o Renascimento. Vimos no segundo bimestre, que o Renascimento (fins do séc. XIV até
fins do séc. XVI ) foi um movimento filosófico, literário e artístico, espalhado da Itália para
toda a Europa. Termo de origem religiosa e que durante a Idade Média designou o
retorno do homem a Deus, a partir do século XV Renascença representou a renovação
moral, política e intelectual. Com o Renascimento, surgiram pensadores que começaram
a tratar os fenômenos sociais numa perspectiva realista e não religiosa. Assim,
escrevem sobre a sociedade de sua época: Maquiavel, (considerado o primeiro cientista
político) em O Príncipe; Tomás Morus, em Utopia; Tommaso Campanella, em A Cidade
do Sol; Francis Bacon, em Nova Atlântida. Mais tarde, destacam-se Elogio da Loucura,
de Erasmo de Rotterdam, e Leviatã, de Thomas Hobbes.
197
Maquiavel
198
(O Príncipe)
Diferente das três formas de governo definidas por Aristóteles, Maquiavel definiu
apenas duas: principados e repúblicas. Estas estariam mais de acordo com a realidade
199
200
um monarca decidido e atuante, que defendesse o povo sem medir esforços, abrindo
mão de todos os escrúpulos. Maquiavel morreu antes da unificação da Itália e certamente
não imaginava o estrondoso sucesso que faria. Ele entrou para ficar na história política e
circula em todas as esferas da vida. O termo maquiavélico se popularizou e geralmente é
empregado de forma pejorativa. Filósofos e cientistas políticos de hoje, sustentam que
Maquiavel, fingindo ensinar aos governantes, ensinou também ao povo. Este filósofo
influenciou muitos pensadores modernos, principalmente Hobbes e Spinoza.
6 – Explique, de acordo com o texto nº2, como Maquiavel relaciona temor e ódio na
política?
7 – Por que sustentam que Maquiavel, fingindo ensinar aos governantes, ensinou também
ao povo?
9 - Sugestão de atividade:
201
Contratualismo
Você sabia ?
202
O filósofo inglês Thomas Hobbes, quando estudamos ontologia, foi visto como
representante do materialismo mecanicista, que teorizou a natureza considerando um
“corpo natural” e a sociedade um “corpo artificial”. Na galeria dos filósofos, mencionamos
sua teoria de Estado Absolutista. No início de sua vida intelectual, Hobbes traduziu
Tucídidas (historiador grego) , que detalhou a Guerra do Peloponeso. Por ocasião da
tradução, admitiu um caráter frágil e traiçoeiro da Democracia, tendo Atenas como o
exemplo histórico do desastre democrático.
Em sua maior obra, Leviatã (nome bíblico de um monstruoso peixe que protegia
os menores da gula dos peixes maiores), desenvolveu um aprofundado estudo filosófico,
afirmando a maldade humana e justificando a necessidade de um Estado forte e
repressor, o Absolutismo. O Estado, segundo o filósofo, é a única garantia do controle
dos sentimentos naturais do homem: a ambição, o egoísmo, a crueldade, e outros
similares. Isto, porque o estado de natureza (primitivo) era contaminado pela guerra
constante, pois o homem, escreveu Hobbes, é naturalmente “lobo do próprio homem”, e
somente a partir de um pacto social, orientado pela força da espada, o homem supera o
egoísmo e a guerra, impedindo a ferocidade do “lobo”. Para Hobbes, a propriedade
(bens móveis e imóveis) não existe no estado de natureza, pois foi criada pelo
203
Estado-Leviatã, e somente este, com poder absoluto, poderá acabar com o direito de
propriedade, quando necessário for.
Na obra Ensaio sobre o Governo Civil afirmou que o homem atribuiu ao Estado
apenas o papel de regulamentador da vida social, e que os direitos individuais são
intocáveis e indelegáveis. As liberdades fundamentais, como o direito à vida e à
propriedade, e todos os direitos comuns ao homem, são anteriores e superiores ao
Estado. Portanto, ao contrário de Hobbes, Locke observa que a propriedade é criação do
estado de natureza, e que o contrato social é um pacto de consentimento, onde o homem
busca no Estado, na sociedade civil e política, o reconhecimento e a proteção da
propriedade. Este pacto, quando desrespeitado, pode ser alterado e desfeito, assim
como faz-se em qualquer contrato, autorizando o homem a limitar o poder dos
governantes e de, inclusive, promover insurreições. A base principal da liberdade
burguesa, que nesse período era uma classe revolucionária, é a propriedade. E para
Locke, a liberdade está em função da propriedade.
204
Quem quer que seja senhor não pode ser livre, e reinar é obedecer.”
205
Liberalismo
O economista inglês Adam Smith (xxxx –xxxx), autor de A riqueza das nações, partiu do
princípio de que a natureza humana teria uma tendência para trocar uma coisa por outra.
Analisando a estrutura da sociedade capitalista, Adam Smith chegou a extraordinária
conclusão, para a sua época, da divisão da sociedade em classes. Para ele, três são as
classes fundamentais da sociedade capitalista: o operariado, os capitalistas e os
proprietários de terras. Salienta que, na sociedade capitalista, existe comunidade de
interesses, uma vez que os benefícios comuns resultam sobretudo do choque de
interesses das diversas classes sociais. Por isso defendia a livre concorrência.
206
207
Liberalismo Político:
- criação do voto;
- limitação de poderes;
Liberalismo Econômico:
208
Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para
que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a
opressão.
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos
humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos
dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores
condições de vida em uma liberdade mais ampla.
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta
importância para o pleno cumprimento desse compromisso,
A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido
por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da
sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da
educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
209
observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros,
quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição.
Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política, jurídica ou
internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território
independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de
soberania.
Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo V - Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa
perante a lei.
Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção
da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio
efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela
constituição ou pela lei.
210
Artigo X - Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por
parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do
fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a
sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe
tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não
constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais
forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar
ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à
proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado.
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.
Artigo XIV
1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros
países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por
crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
211
Artigo XV
Artigo XVI - Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de
iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
1. O casamento não será válido senão como o livre e pleno consentimento dos nubentes.
Artigo XVII
Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este
direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião
ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em
público ou em particular.
Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e
idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo XX
212
Artigo XXI
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por
intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em
eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente
que assegure a liberdade de voto.
Artigo XXII - Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à
realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional de acordo com a organização e
recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo XXIII
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
3. Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe
assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a
que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção de seus
interesses.
Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das
horas de trabalho e a férias periódicas remuneradas.
Artigo XXV
213
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família
saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os
serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença,
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em
circunstâncias fora de seu controle.
Artigo XXVI
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigratória. A instrução
técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no
mérito.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a
seus filhos.
Artigo XXVII
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as
artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de
qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.
214
Artigo XXVIII - Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os
direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo XXIX
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento
de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações
determinadas por lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e
respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da
ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente
aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou
praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui
estabelecidos.
215
10 - A Declaração Universal dos Direitos Humanos, feita pela ONU, estabelece critérios
quanto a maus-tratos cometidos por países contra seu povo. Este critério corresponde a
realidade atual?
11 – Sugestão de atividade:
216
¯
(A NOVIDADE, de Gilberto Gil)
217
Socialismo Utópico
Anarquismo
218
Socialismo Científico
219
220
Somente com Marx, o socialismo tornou-se objeto de análise científica. É isto que
veremos a partir de agora: Como que Karl Marx, o fundador do socialismo científico,
conseguiu criar uma teoria que apontasse efetivamente para a transformação da
sociedade?
221
REALIDADE
POLÍTICA E
SIMBÓLICA
SUPERESTRUTURA
JURÍDICO-POLÍTICA
SUPERESTRUTURA IDEOLÓGICA
INFRA-ESTRUTURA
Portanto a visão que temos do mundo e a nossa psicologia são reflexo da base
econômica de nossa sociedade. As idéias que surgiram ao longo da história se explicam
222
pelo desenvolvimento das sociedades. Elas são oriundas das necessidades das
classes sociais de cada tempo. Por isso a teoria marxista é materialista, porque
considera que as manifestações espirituais ( idéias/pensamentos) são determinadas
pela estrutura material da sociedade (superestrutura) , diferente dos idealistas para quem
as idéias movimentam o mundo. Segundo Marx, ao examinar-mos a maneira pela qual
os homens produzem os bens necessários à vida, podemos compreender as formas do
seu pensamento.
Assim escreveu Marx em Ideologia Alemã : “A classe que tem à sua disposição
os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção
espiritual, o que faz com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média, as
idéias daqueles aos quais faltam os meios de produção espirituais.”. Portanto a
representação ou idéia apresentada como racionais mas que exprimem os interesses da
classe dominante, Marx chama de ideologia. Devido à ideologia o proletário não percebe
a própria alienação e, portanto, não reconhece a exploração de que é vítima. Um operário
sem consciência de classe é um reprodutor das idéias dominantes, contrárias aos seus
próprios interesses. Para Marx, a ideologia surge das relações de produção que
determinam as contradições sociais. A realidade contraditória da sociedade é negada e
ocultada por falsas idéias, produzidas e divulgadas pela classe dominante. De acordo
com a teoria marxista, o operário, a classe social que vende sua força de trabalho para
viver, quando consciente de ser explorada, se destina a libertar-se e libertar toda a
humanidade na construção do socialismo.
223
sociedade seria baseada no bem coletivo dos meios de produção, com todas as
pessoas sendo absolutamente livres.
16 – O que é ideologia para Marx? De onde ela surge e qual sua função?
18 - Sugestão de atividade:
224
225
Neoliberalismo
226
227
funcionários. A Inglaterra, com a Sra. Margaret Tatcher, foi o primeiro país do ocidente
a empregar os princípios neoliberais. Ela aprovou leis que limitaram as atividades
sindicais e que diminuíram os impostos sobre as grandes fortunas, além disto privatizou
diversas empresas estatais, diminuindo a função pública do Estado. Nos EUA, o
presidente Ronald Reagan foi o precursor, e no Brasil o neoliberalismo começou com
Fernando Collor de Melo. Hoje, a ordem econômica que impera na esmagadora maioria
dos países é o neoliberalismo.
Globalização
228
liderança o império americano. A vida social, regida por um capital sem fronteiras,
comporta um cotidiano padronizado internacionalmente, expresso na música, na roupa,
nos meios de comunicações, nas relações de trabalho, na política, etc..
Democracia
ISTOÉ
14 de agosto de 1996
Desordem mundial
229
O economista Ignacy Sachs, 68 anos, tem tudo para se encaixar no figurino do indivíduo
globalizado. Nasceu na Polônia, estudou no Brasil, doutorou-se na Índia e foi morar na
França em 1968 no auge do movimento estudantil. Hoje, Sachs naturalizou-se francês,
mas visita o Brasil pelo menos três vezes por ano. Em Paris, dirige o Centro de
Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo na Escola de Altos Estudos em Ciências
Sociais. Apesar de ser um autêntico cidadão do mundo, quando o assunto é a
globalização, Sachs revela-se um crítico feroz. Ele acha que a abertura das economias
nacionais foi excessiva e aumentou o fosso entre ricos e pobres em todos os países.
Esse fenômeno foi batizado por Sachs de "terceiro-mundialização" do planeta. Segundo
ele, o processo de globalização está produzindo uma massa de excluídos, espalhada não
apenas pelas favelas e bairros periféricos das metrópoles do Terceiro Mundo mas
também pelas esquinas e becos de Paris, Nova York e Londres.
230
Casado, pai de três filhos e avô de cinco netos, Sachs orientou as teses de doutorado de
pelo menos 20 brasileiros, entre eles o governador do Distrito Federal, Cristovam
Buarque (PT). Conheceu o presidente Fernando Henrique Cardoso como acadêmico na
França no final da década de 60. Quando provocado para comentar o governo do seu
colega, Sachs é tão tucanoquanto diplomático. Evita as críticas, mas deixa insinuar uma
leve reprovação à timidez do projeto de reforma agrária. Falando um português fluente,
adquirido quando, entre os anos de 1941 e 1954, morou no Rio de Janeiro, onde cursou
economia na Faculdade Cândido Mendes, Sachs recebeu ISTOÉ na terça-feira 13, um
dia depois de dar uma palestra em Brasília sobre "Globalização sem exclusão:
possibilidade ou ilusão?"
Ignacy Sachs - A globalização não é só uma palavra da moda, mas uma expressão que
está sendo esticada para encobrir diferentes sentidos. Na medida em que aumentam os
fluxos de mercadorias e de capital, todos os países do mundo, em proporções diversas,
vão ser afetados por este processo. Mas a internacionalização da economia não data de
hoje. Já teve fases altas, como entre 1870 e 1913, que coincidiu com o auge do
imperialismo. Depois, houve uma grande retração e agora vive mais um período de
ascensão. Mas a globalização não andou tão depressa quanto se pensa. A liberalização
da economia foi que andou longe demais, depressa demais e produziu alguns efeitos
nefastos.
231
Sachs - Há 40 anos, pensava-se que exportar o modelo dos países ocidentais para os
países periféricos teria como consequência superar a pobreza estrutural desses países
periféricos, porque um setor moderno em expansão acabaria por exaurir toda a força de
trabalho no setor tradicional. A história nos pregou uma piada. Hoje estamos com
dualismo entre pobres e ricos em todos os países industrializados. Os mesmos modelos
utilizados para analisar a situação dos países pós-coloniais e periféricos estão sendo
utilizados para os países industrializados. Hoje a agenda dos países ricos inclui temas
como exclusão social e segregação.
232
ISTOÉ - O que países como o Brasil têm de fazer para ficar no rol dos ganhadores
dentro do processo de globalização?
ISTOÉ - O sr. acha que o governo do sociólogo Fernando Henrique está conseguindo
colocar em prática esse postulado?
Sachs - Olha, eu acho impossível formular juízos peremptórios sobre um governo e sobre
um processo tão complexo que leva anos como esse de adaptação à nova situação
mundial. Não posso honestamente como cientista social responder esta questão. Aliás,
fico chocado quando leio nos jornais declarações desse tipo que viajantes de outras
partes do mundo formulam, gerando polêmicas ocas. Não se pode julgar a atuação de um
governo frente a um problema estrutural que requer um longo prazo a partir de alguns
meses. O que se pode dizer é que o problema de fratura social provocada pelo
desemprego afeta o Brasil tanto quanto outros países e isso tem de ser equacionado.
233
Sachs - Está acontecendo um discurso sobre livre comércio. Por detrás deste discurso,
diferentes países praticam formas de protecionismo dissimulado. Embora da boca para
fora estejam sempre dizendo que a intenção é abrir, os blocos econômicos se fecham ao
mundo exterior. A União Européia faz o grosso do seu comércio no seu interior. Além
disso, é preciso lembrar que três quartos do fluxo de capitais, mercadorias e tecnologias
da economia internacional se passam na tríade composta pelos Estados Unidos, Europa
e Japão. Todo o resto do mundo é apenas um apêndice dessa tríade. Por isso, qualquer
análise prospectiva da economia mundial depende do que vai acontecer com essa tríade
e com que o economista Roberto Macedo chamou de "baleias". Existem quatro baleias
no oceano global: China, Índia, Rússia e o Brasil.
234
parceria com eles próprios, através de mutirões assistidos pelo poder público. É claro
que a demanda por investimentos de infra-estrutura é enorme, o problema é até onde se
pode avançar sem comprometer o equilíbrio fiscal.
ISTOÉ - O que o sr. está propondo é uma série de políticas públicas para combater o
desemprego. Mas com a globalização, os Estados Nacionais não estão ficando
impotentes diante dos problemas estruturais?
Sachs - Discordo frontalmente desta tese. É uma tese fácil porque os Estados falam que
não podem fazer nada diante desta força avassaladora. É verdade que estamos
atravessando um momento difícil e que não se trata de jeito nenhum de voltar aos
excessos do estatismo. Não é uma questão de mais Estado ou menos Estado. Isso é um
falso problema. Trata-se de discutir para qual desenvolvimento e com que métodos vai-se
regular uma economia que se baseia em grande parte no mercado, mas que comporta
uma função importante para o setor público e que contém no seu bojo uma economia fora
do mercado, a economia doméstica. Quando falo dessa economia, não estou me
referindo ao mercado informal. Estou falando das atividades domésticas que consomem
nas sociedades industrializadas, sobretudo no cotidiano das mulheres, mais da metade
do tempo total de trabalho e provavelmente aqui no Brasil mais ainda. Estado reformulado
é certamente um Estado enxuto, um Estado desprivatizado. Esta é a verdadeira reforma.
ISTOÉ - O sr. citou o desenvolvimento rural como um dos principais mecanismos para
gerar empregos. Um dos maiores problemas do Brasil é justamente a reforma agrária.
O sr. acha que o País tem condições de resolver esta questão?
235
Sachs - Não há dúvida de que existe uma crise da social democracia na Europa. Durante
três décadas, depois da Segunda Guerra Mundial, o capitalismo civilizado funcionou
relativamente bem, baseado no paradigma de uma economia propulsada pelas forças do
mercado e um Estado que assegurava a justiça social através da redistribuição da renda.
Hoje, esse esquema está se desagregando porque ficou impossível arcar com o seu
custo por causa do número de excluídos.
236
ISTOÉ - Uma crítica que se faz ao governo Fernando Henrique Cardoso é de que ele
estabilizou a moeda, mas não deu atenção à questão social. Isso não compromete o
discurso social-democrata?
Sachs - O México e a Argentina são antimodelos para o Brasil. Acho que o governo
brasileiro tirou algumas lições da crise mexicana. O presidente Fernando Henrique
Cardoso está consciente do perigo e está colocando a regulação dos capitais voláteis
como tema da agenda internacional. A economia não é uma ciência. A condução da
política de um país é uma arte que requer atenção a tudo.
ISTOÉ - O que o Brasil pode fazer para se vacinar contra esse perigo?
237
Sachs - O Chile pode ser um exemplo. Eles têm um mecanismo fiscal que
praticamente impede o capital volátil de entrar e sair. No Brasil, as reservas estão muito
altas e isso cria um certo clima de confiança. Mas há vulnerabilidades potenciais. A
conjunção de um real sobrevalorizado com taxas de juros escorchantes é uma
camisa-de-força para a economia, que terá de ser revista mais dia menos dia.
Sachs - Respondo dizendo: a razão é pessimista, mas a ação é otimista. Quanto mais
pessimista é a análise, tantas mais razões existem para se engajar na luta com o objetivo
de reverter as atuais tendências.
(TEXTO COMPLEMENTAR Nº7 “ Só vale fora daqui” / Revista Veja, ano 33,
nº 31, 02/08/00 p. 128)
19 – sugestões de atividades
238
PARTIDO LIBERAL - PL
239
PARTIDO VERDE - PV
- após ler a reportagem “ Só vale fora daqui”, elabore um texto à respeito da posição líder
dos Estados Unidos e dos efeitos da globalização em países pobres.
240
- O que é globalização?