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Resenha Crítica

CARDOSO, Fernando Henrique. (1975). Autoritarismo e democratização. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 1975. 240 p. - Estudos Brasileiros, 3 - Introd: O autoritarismo e a
democratização necessária.

Autoritarismo e Democratização, é uma obra de Fernando Henrique Cardoso, nascido


no Rio de Janeiro e licenciado em sociologia pela USP, sofreu perseguição após a
instauração do regime civil-militar de 1964, ficou exilado no Chile e na França e retorna
ao Brasil em 1969, quando sofreu aposentadoria compulsória e teve seus direitos
políticos cassados pelo AI-5, ainda nesse ano em colaboração com outros professores
cassados criou o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Em sua introdução, o autor primeiro trata de fazer um delineamento de seus principais


objetivos com o livro, divididos em analítico e valorativo; o primeiro tem a ver com a
caracterização das formas predominantes de autoritarismo e as formas que se organiza a
acumulação capitalista e o segundo visa delinear as insuficiências das soluções
autoritárias e compreender como são possíveis alternativas democráticas e igualitárias.
Um destaque interessante, é que o autor faz questão de ressaltar sua formação
“empírico-histórico-estrutural” e apontar Florestan Fernandes como uma de suas
referências, direcionando seu método a um modo puramente científico, e na tentativa de
uma lucidez, sobre a temática abordada. Sua análise estrutural pretende visualizar a
estrutura e também captar a negação da mesma. É interessante dizer também, que
Cardoso passa a se interessar mais pela natureza do Estado a partir da década de 70,
como o objetivo de caracterizar o autoritarismo brasileiro da época, ele indica essa
mudança do seu objeto na introdução e a partir desse momento (de análise da natureza
do Estado) o patrimonialismo brasileiro é tido como consequência da herença do
patrimonialismo Ibérico no processo de colonização. Ele afirma que o desenvolvimento
econômico brasileiro é baseado em uma estrutura política não-democrática, formada em
solo Ibérico e transplantada sem traços europeus para o Brasil (p.12), mas que o
autoritarismo que se instala a partir de 64 é um autoritarismo diferente daquele
tradicional, seria um autoritarismo corporativo.

Nesse texto ele chama atenção que para entender a dinâmica de um tipo de
autoritarismo é necessário compreender os conflitos que contornam a economia e a
sociedade. Para chegar nesse contorno seria necessário saber como se dá a acumulação,
ele lança o questionamento “quem tira quanto, que quantos e de que maneira?” e
apresenta duas formas que normalmente respondem essa pergunta, “apologeticamente”
que minimiza os aspectos sociais e políticos do crescimento do capitalismo e atribui
tudo à visão técnica e guiada do investidor; e em contraponto a tese da “super-
exploração” que supõe que a acumulação é resultado direto da coação dos
trabalhadores. O autor, mais uma vez em posição cientificista, busca um espaço entre as
duas interpretações para fazer seus ensaios em caráter científico e com sobriedade,
refutando mas não anulando totalmente as duas teses. Cardoso apresenta na introdução
algumas categorias analíticas que ele usará ao longo do livro, entre elas está
desenvolvimento dependente-associado que é como ele caracteriza o desenvolvimento
econômico que houve na instituição do regime militar, tendo como desenvolvimento a
acumulação, deixando claro que a ascensão do capitalismo não tem a ver como
diminuição das desigualdades sociais, e afirmando que este não estava fadado à
estagnação, mas que ele requer abertura para o mercado internacional, contudo essa
acomodação ainda prevaleceria na forma de organização e controle econômico,
sobrando espaço para os capitais locais e estatais se desenvolverem nesse
desenvolvimento; burguesia de Estado que seriam os grupos privados que se apropriam
do controle das empresas estatais, eles seriam dirigentes não-burocráticos, no sentido de
que suas decisões ultrapassariam o quadro da empresa, e as políticas permitem uma
solidariedade de grupo; o conceito de autoritarismo é um dos pontos mais discutidos
sobre o texto, mais especificamente à preferência que o autor faz pelo termo
autoritarismo ao referir-se ao regime brasileiro, em detrimento do termo fascismo, pode
parecer à primeira vista uma defesa da ditadura, mas a distinção conceitual apresentada
pelo autor é bastante coerente em ressaltar que o fascismo está ligado a uma época
específica, e que várias das caracterizações do fascismo não estiveram presentes na
ditadura, mas deixando claro que o regime autoritário que se estabelece no país faz uso
de métodos de tortura e outras formas de repressão violenta à oposição política.

Há quem enxergue nessa introdução uma defesa ao regime civil-militar, principalmente


pelo autor descaracterizar o regime enquanto fascista, quando na realidade se apresenta
uma leitura muito sóbria sobre o contexto da época, fazendo as devidas críticas, mas
evitando exageros, logo depois ele indica que a oposição deveria exercer uma tarefa de
insistir em direito à participação, crítica e ao controle dos planos da sociedade, e diante
de um aumento da participação do estado na economia seria melhor buscar agora
mecanismos que assegurem informações sobre as decisões, ampliação do debate dentro
do âmbito estatal e pensar formas de participação nessas decisões, tanto dos que estão
diretamente trabalhando nas organizações estatais quanto por parte do público.

A obra de Cardoso continua sendo um material interessante para estudantes de ciências


humanas, ela está imersa em um período da história brasileira e nos ajuda na
compreensão mais ampla do período e das implicações econômicas do regime militar, e
militantes, independente do posicionamento político, deveriam ter essa leitura como
clássico, mesmo para discordar, ela traz um panorama interessante do posicionamento
de alguém liberal daquela época, e que inclusive foi acusado de ser marxista, na internet
se pode acessar uma análise feita da obra onde acusa FHC de ser um doutrinador
marxista, ou seja, tira-se disso o tamanho da inquietação sobre as coisas ditas no livro.

UFBA- FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Componente Curricular: Pensamento Político no Brasil 2017.2

Docente: Paulo Fábio Dantas Neto

Discente: Lidia Ribeiro Bradymir dos Santos

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