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ĚXPĿİČǺĐǾ (ĦȚȚPȘ://ẄẄẄ.ŇĚXǾJǾŘŇǺĿ.ČǾM.

BŘ/ĚXPĿİČǺĐǾ/)

Pǿpųŀǻř ě pěřșěģųįđǿ, fųňķ șě țřǻňșfǿřmǿų
ňǿ șǿm qųě fǻż ǿ Břǻșįŀ đǻňçǻř
Camilo Rocha 22 Out 2017 (atualizado 15/Jan 14h49)

Șųřģįđǿ ňǿ fįňǻŀ đǻ đéčǻđǻ đě 1980, řįțmǿ čǻřįǿčǻ țěm șųčěșșǿș mįŀįǿňářįǿș ě
čříțįčǿș ǻģřěșșįvǿș. Ǻbǻįxǿ-ǻșșįňǻđǿ ěňvįǻđǿ ǻǿ Șěňǻđǿ pěđįų șųǻ
čřįmįňǻŀįżǻçãǿ

FǾȚǾ: ĿİǺ ĐĚ PǺŲĿǺ/MİŇİȘȚÉŘİǾ ĐǺ ČŲĿȚŲŘǺ

 ĚȘPĚȚÁČŲĿǾ ĐĚ PǺȘȘİŇĦǾ ŇǾ ŘİǾ ĐĚ JǺŇĚİŘǾ

O funk brasileiro vive há quase duas décadas entre extremos de aceitação e repúdio. Se as músicas contam
com milhões de plays no YouTube e Spotify, o estilo também foi alvo em 2017 de um abaixo-assinado com
mais de 20 mil assinaturas que pediu ao Senado que o tornasse crime.

Em dezembro do ano anterior, o então prefeito eleito de São Paulo, João Doria, classificou os eventos de funk
de rua da periferia de São Paulo (conhecidos como “fluxos”) como “um cancro que destrói a sociedade”. No
mesmo mês, subiu no YouTube o vídeo de “Deu onda”, do MC G15, de Duque de Caxias. O clipe contava com
mais de 300 milhões de plays nove meses depois.
Entre os detratores do gênero é comum ouvir que o funk estaria entre os responsáveis por um declínio moral
e cultural do Brasil. Entretanto, de acordo com a opinião de profissionais e especialistas ouvidos pelo Nexo, o
funk pode ser entendido sim como consequência de uma sociedade marcada por exclusão e violência.

Ǿ QŲĚ é ǿ fųňķ, đǿ ǿřįģįňǻŀ ǻǿ břǻșįŀěįřǿ
Antes do funk brasileiro, existia o funk americano. Criado e desenvolvido por músicos como James Brown,
Sly Stone e George Clinton nas décadas de 1960 e 1970, o funk dos Estados Unidos representou uma ruptura
estética importante na música pop americana negra.

Com influências do jazz e dos desenhos polirrítmicos de estilos musicais africanos, Brown compôs músicas
que estabeleceram uma nova cadência na música negra americana. O funk americano perseguiu arranjos mais
espaçados, com foco na bateria e baixo (o “groove”) e pouca melodia. Era suado, atrevido e sacana (“Sex
Machine” é talvez a música mais famosa de James Brown). Trazia também um forte componente de orgulho
negro.

Esse tipo de som encontrou muita ressonância em uma cena de bailes que se desenvolveu nos subúrbios do
Rio de Janeiro na década de 1970 (e, em menor escala, em São Paulo). Com raras apresentações de bandas,
era uma cena em que o DJ quase sempre fornecia a música. No fim dos anos 1970, equipes de som
responsáveis pelos bailes, como Soul Grand Prix e Furacão 2000, já eram “grifes” famosas.

Junto com a música, muitos organizadores e frequentadores importaram também a atitude confiante e a
negritude orgulhosa do funk americano. Este movimento ganhou o nome de “Black Rio”. As autoridades da
época, em plena ditadura, enxergaram indícios de subversão. Donos de bailes foram chamados para depor.

Na década de 1980, o som dos bailes virou eletrônico ao acompanhar a adesão aos sintetizadores do funk e
soul americanos e do nascente hip hop. É deste último que vem uma influência chave: a batida usada por
Afrika Bambaataa no hit “Planet Rock”, gerada pela bateria eletrônica Roland TR-808
(https://www.youtube.com/watch?v=AQTx8wGAAH4).
Esta batida forneceu o molde para um subgênero de hip hop chamado Miami Bass, por sua vez muito popular
entre os DJs do subúrbio do Rio.

FǾȚǾ: ŘĚPŘǾĐŲÇÃǾ/ỲǾŲȚŲBĚ

 Ǿ FŲŇĶ FǾİ ČŘİǺĐǾ PǾŘ JǺMĚȘ BŘǾẄŇ ŇǾ FİŇǺĿ ĐǺ ĐÉČǺĐǺ ĐĚ 1960

Os bailes aconteciam em salões como o União Rio da Prata (Bangu) e Magnatas Club (Rocha). Não ficavam no
morro, e sim no asfalto suburbano. A decoração era simples, às vezes inexistente a não ser por faixas com o
nome da equipe de som. No palco austero, a mesa com os toca-discos e o mixer para o DJ trabalhar.
Preenchendo a paisagem, jogos de luzes e amplas paredes de caixas de som.

Apesar da preferência por sons importados, poucos frequentadores de bailes entendem inglês. Os refrões em
língua estrangeira ganham “traduções” locais e que servem para identificar as músicas, ou “melôs”. “It’s
tricky”, do Run DMC, vira o “Melô do eco”. A repetição da palavra “fresh” na música “The Beat is Fresh” é
“traduzida” como “peixe”, a música passando então a ser identificada como “Melô do Peixe”.

Ǻ ģêňěșě đǿ fųňķ břǻșįŀěįřǿ
Em 1986, o DJ Marlboro, já um nome reconhecido na cena dos bailes, ganhou uma bateria eletrônica de
presente do antropólogo Hermano Vianna, um estudioso do funk. Vianna havia conseguido o instrumento
com seu irmão, Herbert, vocalista do Paralamas do Sucesso. Marlboro começou a experimentar com a bateria.
Em alguns anos estaria em estúdio gravando alguns dos primeiros funks brasileiros. Entre eles está o sucesso
“Melô da mulher feia”, de 1989, baseado em uma versão do 2 Live Crew (https://www.youtube.com/watch?
v=aiNQH4WAV-M) (expoente do Miami Bass de letras bem obscenas) para um rock da década de 1960
(https://www.youtube.com/watch?v=43vOAw2sAFU).

Outro pioneiro é Grandmaster Raphael, com músicas como o “Melô da Funabem”. Em palestra de 2017
(https://www.redbull.com/br-pt/rbmasp-grandmaster-raphael-palestra) ele lembrou das dificuldades
técnicas que marcaram as primeiras tentativas de se forjar um som próprio: “Ouvíamos aquele bumbo grave
do Miami Bass, queríamos fazer igual, mas não sabíamos como. Quando descobrimos que aquilo era feito
com uma [bateria eletrônica] Roland TR-808, ela já tinha saído de linha”.

A chegada de um mixer da marca Numark que vinha com um sampler embutido resolveu a questão. A faixa
“Volt Mix” (https://www.youtube.com/watch?v=whw1PxFkaos), do DJ americano Battery Brain, proveu a
base que sustentaria o novo estilo pela próxima década.

Os primeiros MCs foram improvisados. “Foram inventados, entre cantores de estúdio, os DJs e mesmo alguns
atores (Dercy Gonçalves fazendo o ‘Resposta das aranhas’, uma resposta ao ‘Rock das aranhas’, de Raul
Seixas)”, explicou ao Nexo o jornalista Silvio Essinger, autor de “Batidão: uma história do funk”.
Posteriormente, os bailes passaram a promover concursos de rap entre os frequentadores, surgindo daí os
primeiros MCs que eram garotos das comunidades. Conforme a aceitação do MC, ele poderia ir parar no
estúdio de gravação.

QŲĚM ǻjųđǿų ǻ přǿpǻģǻř ǿ fųňķ ňǿ Břǻșįŀ
Desde os eventos das décadas de 1970, os bailes funk do Rio se desenvolveram longe dos olhares da mídia
(inclusive das publicações de música), da indústria fonográfica e das classes média e alta da cidade. Houve
exceções, como a cobertura em torno da onda “Black Rio” dos primórdios dos bailes (termo criado por uma
matéria do Jornal do Brasil de 1976).

Nos anos 1980, coube a um antropólogo informar à “Zona Sul” sobre um fenômeno que ocorria do outro lado
da cidade. Hermano Vianna se fascinou com a música e a cultura ao redor dos bailes. Escreveu para a
imprensa sobre a cena, se tornando um especialista solitário no tema. Em 1987, Vianna concluiu dissertação
de mestrado pela UFRJ (Universidade Federal Rio de Janeiro) intitulada “O Baile Funk Carioca: Festas e
Estilos de Vida Metropolitanos” (http://www.overmundo.com.br/banco/o-baile-funk-carioca-hermano-
vianna).

FǾȚǾ: ŘĚPŘǾĐŲÇÃǾ
 ČǺPǺ ĐǺ PŘİMĚİŘǺ ČǾĿĚȚÂŇĚǺ ‘FŲŇĶ BŘǺȘİĿ’, ĐĚ 1989, PŘǾĐŲŻİĐǺ PĚĿǾ ĐJ MǺŘĿBǾŘǾ

Um ano depois de “Melô da mulher feia”, em 1989, Marlboro reuniu esta e outras músicas em uma coletânea
chamada “Funk Brasil 1”, que teria vendido 200 mil cópias (em vinil) sem qualquer apoio da mídia ou
marketing de gravadora.

Em meados da década, acontece a primeira onda de sucesso de funk para além do seu circuito original.
Marlboro se tornaria residente do programa de Xuxa em 1994, que virou uma divulgadora do gênero em rede
nacional. No Carnaval de 1997, a escola de samba Viradouro insere uma “paradinha” ao estilo funk em seu
samba-enredo campeão.

Era o tempo de Claudinho & Buchecha, que fizeram sucesso com músicas como “Conquista” e “Só love”. Com
sons mais suaves e letras românticas, representavam o chamado “funk melody”, uma vertente de destaque
nos bailes na primeira metade dos anos 1990.

Também se sobressaíram nesse tempo interpretações mais agressivas e realistas, como o trabalho da dupla
MC Cidinho & Doca. Em 1994, lançam “Rap da Felicidade”, um lamento sobre as dificuldades de se viver na
violência da favela, e o “Rap das armas”, com citações a modelos de armas e confrontos armados.

Em 1998, surgiu o “tamborzão”, nome de uma batida inventada pelos DJs Luciano e Cabide
(https://www.youtube.com/watch?time_continue=124&v=z1ZKRUAkUgs), usada pela primeira vez em uma
música de Tito e Xandão (https://soundcloud.com/carlos-palombini/mcs-tito-e-xandao-rap-da-vila-comari-
dj-luciano-oliveira-1998#t=0:46), e que em pouco tempo tirou o lugar da levada “Volt Mix”, de 1988. Saiu o
beat mais sintético e entrou uma espécie de atabaque pesado. A batida dominaria o funk pelas décadas
seguintes.

No início dos 2000, o funk teve uma nova onda de estouro nacional, com alcance ainda maior que a anterior,
ampliando sua aceitação entre ouvintes de classe média e alta. O momento foi puxado por sucessos
avassaladores como “Cerol na mão”, do Bonde do Tigrão,  “Eguinha Pocotó”, de MC Serginho & Lacraia, e
”Tapinha não dói”, de Naldinho e Bela.

Em seguida, veio a primeira leva de mulheres MCs, que cantavam sobre sexo de um modo que até então era
exclusividade dos seus colegas homens, como por exemplo, “Fama de putona só porque como seu macho”
(Tati Quebra-Barraco) e “Tá ardendo, mas tô aguentando” (Deize Tigrona).

Foi neste período que o funk teve seu primeiro momento “hipster”, ao despertar o interesse de um público
ligado em novidades da música eletrônica e do rock alternativo. O DJ Marlboro ganhou uma residência na
casa Lov.e, então templo da música eletrônica, na Zona Sul de São Paulo. O DJ americano Diplo e a cantora
anglo-cingalesa M.I.A., namorados na época, ajudaram a divulgar o funk brasileiro nos EUA e Europa. Diplo
produziu o documentário “Favela Blast”, e M.I.A. sampleou Deise Tigrona em “Bucky Done Gun”.

FǾȚǾ: ĐİVŲĿĢǺÇÃǾ
 Ǻ ĚȘȚŘĚİǺ MŲȘİČǺĿ ĐĚ ǺŇİȚȚǺ FǾİ ĚM 2011, PĚĿǾ ȘĚĿǾ FŲŘǺČÃǾ 2000

O funk feito em São Paulo conseguiu projeção nacional no início dos 2010 com o funk ostentação, com letras
aspiracionais, que faziam alusão a marcas de roupas ou carros. Seu maior astro foi o MC Guimê, com hits
como “Plaquê de 100”. Segundo Renato Barreiros, diretor do documentário “Funk ostentação”, essa vertente
foi reflexo de um momento de ascensão da classe C e maior poder de consumo que ocorreu no segundo
governo Lula. “Foi uma época de prosperidade econômica e em São Paulo as marcas sempre tiveram um
status importante”, disse o diretor ao Nexo.

Em 2011 sai pelo selo da Furacão 2000 a primeira música de uma cantora carioca de 18 anos chamada Anitta.
Em alguns anos, a partir da música “Show das poderosas”, ela se tornaria um dos maiores fenômenos pop
brasileiros da década de 2010. Hoje contratada pela multinacional Warner, e variando seu repertório para
além do funk, Anitta tenta uma carreira internacional. Já conseguiu um hit, “Sua cara”, ao lado do DJ e
produtor Diplo e de outra brasileira, a cantora Pabllo Vittar. O vídeo no YouTube tem mais de 200 milhões de
visualizações.

ČǾMǾ ǿ fųňķ přǿjěțǻ ǿ ǿřģųŀħǿ đǻ pěřįfěřįǻ
O funk se consolidou como gênero ouvido por jovens da periferia de cidades por todo o Brasil, do Rio de
Janeiro ao Recife. Ao lado dos gêneros conhecidos como “gospel”, ligados às igrejas evangélicas e opostos em
termos de mensagem, o funk é para onde tendem a migrar adolescentes com interesse em fazer música hoje
na periferia.

Cantado em português, o funk frequentemente se tornou um canal para se relatar as dificuldades da vida na
comunidade. Em meio à denúncia, entretanto, o tom raramente soa resignado ou melancólico. Muito mais
comum nas letras é o orgulho da favela, da sua potência criativa e capacidade de animação.
A exaltação da origem aparece em funks de todos os tipos e vertentes, às vezes até em nomes de artistas, como
Nego do Borel (da Favela do Borel, no Rio) ou o MC Neguinho da Kaxeta (da favela do mesmo nome, em São
Vicente, Baixada Santista). Bairros e comunidades costumam ser citados em shows e aparecem em letras.

“É som de preto/de favelado/Mas quando toca/Ninguém fica parado”


“Som de preto”, Amilcka e Chocolate

“Eu sou a voz do morro/O grito da favela/Sou a liberdade em becos e


vielas/Sou da sua raça/Sou da sua cor/Sou o som da massa”
“Funk­se quem quiser”, MC Dollores e Galo

“Em nossas favelas/Porque aqui no morro/Também tem jogador/Artistas


famosos/Empresário e doutor/Gente inteligente/E mulheres belas/Você
também encontra/Aqui na favela”
“Favela”, MC Marcinho

“O Vidigal também não fica de fora/Fim de semana rola um baile shock


legal/A sexta-feira lá no Galo é consagrada/A galera animada faz do baile um
festival/Tem outro baile que a galera toda treme/É lá no baile do Leme lá no
Morro do Chapéu/Tem na Tijuca um baile que é sem bagunça/A galera fica
maluca lá no Morro do Borel”
“Endereço dos Bailes”, MC Junior e Leonardo

“Que o Helipa, é baile de favela/Que a Marconi, é baile de favela/E a São


Rafael, é baile de favela”
“Baile de favela”, MC João

Para quem estuda a cultura do funk, o orgulho serve como defesa contra a estigmatização, que vai da classe
social ao gosto musical. “Movimento funk leva à desesperança”, manchetou o Jornal do Brasil em 1992, em
uma das primeiras matérias negativas sobre os frequentadores de bailes funk. Nas letras do funk deste
período, entretanto, o que predomina é um sentimento oposto. “Elas vão falar de como é bonita a Rocinha,
como Vidigal tem lindas meninas, como a Cidade de Deus tem gente inteligente”, disse Adriana Facina,
antropóloga e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ao Nexo.
Em 2009, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro promulgou uma lei que declarava o funk como
patrimônio cultural imaterial do estado. Como justificativa, dizia que o funk “está diretamente relacionado
aos estilos de vida e experiências da juventude de periferias e favelas”.

QŲǺŇȚǾ mǿvįměňțǻ ǻ įňđúșțřįǻ đǿ fųňķ ňǻčįǿňǻŀ
Já foram feitas algumas tentativas de se estimar o valor da economia do funk no Rio. É uma conta difícil
considerando a quantidade de eventos e lançamentos musicais, sem falar em negócios associados, como
assessorias e agências de artistas, produtoras de vídeo, empresas de equipamento de som ou marcas de roupa.
Muito do dinheiro gerado acaba ficando na própria comunidade, por isso a cena funk é entendida também
como oportunidade econômica.

“O funk gera uma renda, gera para o gelo, para o rapaz que vende a bebida, que vende a água, gera renda para
o salão de beleza, a questão da unha, do cabelo, o barbeiro, ele gera renda na questão da roupa”, explicou o
fotógrafo Bira Carvalho, morador do Complexo da Maré e criador de um projeto sobre os trabalhadores nos
bailes, em um simpósio em 2015 (http://www.ebc.com.br/cultura/2015/05/simposio-funk-gera-renda-e-
movimenta-favelas-no-rio).

FǾȚǾ: ŘĚPŘǾĐŲÇÃǾ

 Ǻ ĐŲPĿǺ ČİĐİŇĦǾ Ě ĐǾČǺ É ǺŲȚǾŘǺ ĐĚ ČĿÁȘȘİČǾȘ ĐǺ ĐÉČǺĐǺ ĐĚ 90 ČǾMǾ Ǿ 'ŘǺP ĐǺ FĚĿİČİĐǺĐĚ'

Um levantamento da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de 2008 estimou que, só no Rio de Janeiro , o ritmo era
responsável direto por cerca de 10 mil empregos e um faturamento de R$ 10 milhões por mês. Segundo o
estudo, as bilheterias de 879 bailes rendiam R$ 7,02 milhões. Os ganhos de MCs, DJs, vendedores
ambulantes e funcionários de equipes de som seriam responsáveis por mais R$ 1,4 milhão. Já os cachês das
equipes de som totalizariam R$ 2,14 milhões.
A carreira de grande parte dos MCs é curta, muitas não vão além de um sucesso. Mesmo assim, já serve para
melhorar a condição de vida. “Um MC pode fazer 30 bailes por mês ao cachê de mil reais. Em seis meses, terá
condições de montar um negocinho na favela, comprar uma casa e um carro”, explicou o DJ Marlboro à
revista Veja em 2014 (http://veja.abril.com.br/entretenimento/com-10-milhoes-de-fas-funk-e-hino-de-
identidade-para-jovens-brasileiros-da-periferia/).

Um vídeo com dezenas de milhões de visualizações no YouTube se torna uma fonte de renda também. O site
de vídeos paga entre US$ 0,60 e US$ 5 para cada mil visualizações. Por esta conta, um vídeo como “Deu
onda”, do MC G15, com mais de 300 milhões de visualizações, pode render até US$ 1,5 milhão (mais de R$
4,7 milhões).

Um funkeiro de sucesso pode se apresentar mais de 20 vezes por mês. Dependendo do peso do nome ou do
quão recente é o hit, um show de uma hora pode custar até R$ 30 mil. De acordo com apuração da
reportagem, MC Guimê, que já deixou para trás o pico do sucesso, ainda consegue cobrar cerca de R$ 10 mil
por apresentação. MC G15 custaria entre R$ 10 mil e R$ 15 mil a apresentação.

Quem ganha muito mais são os personagens que comandam o show todo. Dois dos empresários mais
conhecidos e bem-sucedidos do ramo, com direito a reportagens de colunismo social mostrando amplas
residências e automóveis de luxo, são Rômulo Costa e Konrad Dantas, o Kondzilla.

Costa é o chefe da equipe Furacão 2000, no Rio, talvez o maior império do funk carioca, responsável por
centenas de festas, lançamentos fonográficos e produtos licenciados. Kondzilla, que nasceu na periferia de
Guarujá, litoral de São Paulo, montou uma produtora de vídeos e de artistas que fatura mais de R$ 1 milhão
por mês. São lançamentos alguns dos maiores hits dos últimos anos, como “Baile de favela”, de MC João, “Tá
tranquilo, tá favorável”, de MC Bin Laden, e “Olha a explosão”, de MC Kevinho.

PǾŘ QŲĚ ǿ fųňķ é čřįțįčǻđǿ
O funk sofre críticas por diversos aspectos. Há quem reclame da sua falta de “musicalidade”. Nas
comunidades em que acontecem festas, são frequentes os protestos por perturbação do sossego. Mas as duas
acusações mais disseminadas são a de que o gênero faz apologia à violência e que é machista e objetifica a
mulher.

O texto do abaixo-assinado enviado ao Senado que pede que o funk seja tornado ilegal diz que seu conteúdo é
“podre”, responsável por “crime contra a criança, o menor adolescente e a família”. Conclui que o estilo
configua “crime de saúde pública”, sendo uma “falsa cultura”. Os termos usados ecoam, em muitos casos
literalmente, o que se diz sobre o funk em comentários nas redes sociais e sites de notícia. A avaliação de
pessoas do meio é que a proposta, elaborada por um empresário paulista, tem pouca chance de emplacar no
Senado.

FǾȚǾ: ŘĚPŘǾĐŲÇÃǾ/ỲǾŲȚŲBĚ
 ‘BǺİĿĚ ĐĚ FǺVĚĿǺ’, ĐĚ MČ JǾÃǾ, FǾİ ǺČŲȘǺĐǾ ĐĚ FǺŻĚŘ ǺPǾĿǾĢİǺ À VİǾĿÊŇČİǺ ČǾŇȚŘǺ MŲĿĦĚŘĚȘ

Para MC Leonardo, da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk, “todas as culturas populares
brasileiras sofreram preconceito, mas poucos sofreram perseguição como o funk”. “Não tenho notícias de uma
reação tão violenta contra um novo estilo musical que tenha acontecido em outro lugar no mundo”, afirmou
Hermano Vianna em entrevista. De acordo com o antropólogo, foram muitas vezes em que ele ouviu relatos
de equipamentos de som de bailes serem metralhados pela polícia. Notícias recentes dão conta de que o
veículo Caveirão, do BOPE, vem sendo usado para derrubar e destruir aparelhagens de som de festas de funk.

Do outro lado, existem muitas denúncias de atos de violência dentro de bailes funk, não faltando vídeos no
YouTube e reportagens na mídia sobre isso. No Rio de Janeiro, um período da década de 1990 é conhecido
como o dos “bailes de corredor”, em que galeras rivais, separadas em lados distintos por seguranças, trocavam
agressões físicas. Muitas letras reforçam essa impressão ao cantar sobre armas, crimes e conflitos, caso do
“Rap das armas”, sucesso da década de 90 que lista marcas e modelos de pistolas e fuzis. Em sua defesa, os
artistas dizem que estão apenas cantando o que vivem. “O funk não é o criador da violência… mas canaliza a
violência”, escreveu MC Leonardo em artigo no jornal O Globo.

Quando o funk começou a ganhar visibilidade fora das comunidades, os primeiros registros na mídia não
estavam nos cadernos de cultura. Em outubro de 1992, facções rivais de jovens funkeiros se encontraram na
praia do Arpoador, em Ipanema. Houve pancadaria, corre-corre e pânico entre os frequentadores da praia.

No livro “Funk Carioca: Crime ou Cultura? O som que dá medo. E prazer”, a jornalista Janaína Medeiros
define o episódio como “o divisor de águas na história do funk”. Os rituais de confronto do baile acabaram
reproduzidos no asfalto, em plena luz do dia. “No dia seguinte, fotos ocupavam as primeiras páginas dos
jornais em todo o país e ganhavam manchetes no mundo”, escreveu Medeiros.

Para Adriana Facina, da UFRJ, o funk nasceu em um momento de ampliação do estado penal, guerra às
drogas, com aumento do comércio e consumo de cocaína, e a escolha, com o fim da ditadura, de um “novo
inimigo” na forma do jovem pobre de periferia. A “criminalização brutal” desse setor da população está ligada
à macabra sucessão de chacinas ocorridas a partir de 1990, incluindo a ocorrida em Acari em 1990 (11 jovens,
sendo seis menores, desaparecidos), e as da Candelária (oito jovens, sendo seis menores) e de Vigário Geral
(21 moradores da comunidade), ambas em 1993. “O funk é fruto de tudo isso”, disse Facina ao Nexo.

Em 1995, no Rio, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito municipal com o objetivo de
investigar a ligação do funk com o tráfico de drogas. Mas a comissão não encontrou provas que vinculassem o
estilo musical às organizações criminosas.

Quatro anos depois, uma nova CPI, dessa vez estadual, resultou na Lei 3.410, de 2000, que atribuía uma série
de obrigações administrativas e de segurança aos locais que sediassem os bailes, como instalação de
detectores de metais na portaria, presença de policiais militares durante todo o evento, permissão escrita da
polícia e proibição de se tocar música que fizesse apologia ao crime. Para envolvidos na cena do funk, eram
exigências pensadas para estabelecimentos com melhores condições econômicas, não eventos realizados em
comunidades.

Em 2008, com a chegada das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nos morros, uma das medidas foi o
fechamento dos bailes funks. Para quem trabalha e pesquisa o funk, proibir o baile acabou empurrando o
funk para a zona de influência do tráfico. Se o baile não pode ocorrer onde está a UPP ele ficará restrito às
áreas dominadas por bandidos. Nesse caminho, surgem os “proibidões”, os funks de apologia ao crime e a
facções. O processo é antigo, de acordo com Hermano Vianna. Já por volta de 1990, a maioria dos bailes de
clubes, fora da favela, foram encerrados pela polícia a mando das autoridades. Foi também o tempo em que o
tráfico subiu de patamar, com armamentos mais pesados e novas estruturas de organização. Muitas das festas
migraram então para os locais controlados pelo tráfico, uma “aproximação forçada entre os dois fenômenos
nascentes, em uma ‘mesma realidade’”, afirmou Vianna.

Pǿșțųřǻ mǻčħįșțǻ
No início dos 2000, a música “Tapinha não dói”, foi motivo de ação pelo Ministério Público Federal e pela
ONG Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero. O argumento do processo era de que a letra era
machista e tratava de forma banal a violência contra as mulheres.

Em 2015, a deputada federal Moema Gramacho (PT-BA) tinha certas letras de funk entre seus alvos quando
propôs lei proibindo o uso de dinheiro público para a contratação de artistas que exponham mulheres a
situações de constrangimento. “Isso se torna popular até entre crianças, e então cria-se uma cultura de
violência e de desvalorização de gênero”, disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo
(http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/06/1777550-ha-80-anos-mulher-ja-levava-tijolo-na-testa-na-
musica-brasileira.shtml?cmpid=facefolha).

FǾȚǾ: PǺŲĿǾ ẄĦİȚǺĶĚŘ/ŘĚŲȚĚŘȘ
 ȚǺȚİ QŲĚBŘǺ-BǺŘŘǺČǾ İŇȚĚĢŘǾŲ Ǻ PŘİMĚİŘǺ ĿĚVǺ ĐĚ MČȘ MŲĿĦĚŘĚȘ Ǻ ȘĚ ĐĚȘȚǺČǺŘ

“É cultura do estupro em ritmo de funk”, disse a cantora Fernanda Abreu sobre o hit “Baile de Favela”, de MC
João, em entrevista ao O Globo em 2016 (https://oglobo.globo.com/cultura/respeita-as-mina-cultura-do-
estupro-nas-artes-19393083). Ao mesmo tempo, Abreu pergunta se o conteúdo da música não é apenas outro
reflexo do machismo geral da sociedade brasileira, que, como ela mesma aponta, também abrange casos de
estupro realizados por estudantes de medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Para Adriana Facina, da UFRJ, também é questionável destacar o machismo no funk quando ele existe em
outros gêneros, reflexo de um machismo mais amplo da sociedade. Para ela, o funk também pode ser situado
na “vanguarda do enfrentamento ao machismo” ao conferir protagonismo a vocalistas como Tati Quebra-
Barraco, Valesca Popozuda e Deise Tigrona “falando da autonomia de seus corpos e desejos, de suas
estratégias de sobrevivência”.

Em “100% feminista”, de MC Carol e Karol Conka, a letra fala que “Eu tinha uns cinco anos, mas já entendia/
que mulher apanha se não fizer comida/ mulher oprimida, sem voz, obediente/ quando eu crescer eu vou ser
diferente”.

Entretanto, há quem aponte uma espécie de “machismo reverso” em muitas letras que se propõem feministas.
Um bom exemplo, de acordo com o jornalista Silvio Essinger, seria “Liga pra Samu”, da própria MC Carol,
que contém os versos “explanou no microfone/ que queria transar/ ela bebeu demais/ ela falou sem pensar/
minha amiga não é disso/ ela é mina de família/ se embalou no ritmo/ ritmo da putaria”. Haveria aqui um
“componente moralista, da mulher que se vê pelos olhos do homem, como se sua confissão de tesão só
pudesse ser explicada pela embriaguez”.

ĚM ǺȘPǺȘ: ǿpįňįõěș șǿbřě ǿ fųňķ
“Quando fui a um baile funk pela primeira vez, acho que em 1986, minha
primeira sensação era de estar entrando num terreiro do futuro. Não
conhecia, no Brasil, outra festa popular de multidão comandada por música
produzida exclusivamente por instrumentos eletrônicos. Os bairros ricos da
cidade iriam descobrir o hip hop, o techno ou a house tempos depois”
Hermano Vianna
Ǻňțřǿpóŀǿģǿ

“O negócio é fazer o povo dançar. Não tem dessas de ver na revista de moda a
música que tá tocando lá fora. Se o pessoal dançou, deixa; se não, joga fora.
Não importa se é sucesso no exterior”
DJ Marlboro
Ěm ěňțřěvįșțǻ pǻřǻ ǻ Fǿŀħǻ đě Ș. Pǻųŀǿ ěm 2004

“O rap é mais para se pensar nos problemas. O funk é para se soltar”


MC Furlan
Ěm ěňțřěvįșțǻ ǻǿ Ěșțǻđǿ đě Ș. Pǻųŀǿ ěm 2010

“Funk é música de adolescente, feita por adolescente e consumida


majoritariamente por adolescente. Então você tem um grande problema. Tipo
hotel de férias: entra uma turma, se diverte, e no ano que vem já é outra
turma, porque os outros já cresceram. O pessoal que consumia o funk
ostentação com 15, 16 anos hoje já tem 20 e poucos, já trabalha, às vezes
casou, já tem filhos e saiu da balada”
Renato Barreiros
Đįřěțǿř đě “Fųňķ ǿșțěňțǻçãǿ”

“A Austrália tem esses marsupiais muito doidos porque é uma ilha e eles se
acasalaram até formar algo estranho. É meio o que aconteceu com o baile
funk. O Miami Bass ficou aprisionado lá e se tornou essa coisa brasileira
estranha e híbrida. Mas a coisa com o funk é que não existia uma indústria.
Por um tempo eles vendiam singles, mas só no Rio. Era feito com CDs pirata.
Não havia uma mão gigante ajudando a levar as coisas para um lado ou para
outro. Era assim que os garotos queriam que fosse, o mais cru possível.
Nunca vi algo se desenvolver assim em nenhum outro lugar por onde passei”
Diplo
ĐJ ě přǿđųțǿř
ŇǺ ǺŘȚĚ

‘Fųňķ Řįǿ’ (đǿčųměňțářįǿ, 1994)

RIO DE JANEIRO - Funk RIO 2016

‘Șǿų fěįǻ, mǻș țô ňǻ mǿđǻ’ (đǿčųměňțářįǿ, 2004)

Documentário: Sou Feia Mas To na Moda


‘Fųňķ ǿșțěňțǻçãǿ’ (đǿčųměňțářįǿ, 2012)

Funk Ostentação - O Filme (COMPLETO)


from KondZilla

36:31

Fųňķ Ǿșțěňțǻçãǿ - Ǿ Fįŀmě (ČǾMPĿĚȚǾ) (ħțțpș://vįměǿ.čǿm/53679071) fřǿm ĶǿňđŻįŀŀǻ
(ħțțpș://vįměǿ.čǿm/ķǿňđżįŀŀǻ) ǿň Vįměǿ (ħțțpș://vįměǿ.čǿm).

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