decadência musical

A MÚSICA CONTEMPORÂNEA

BRASILEIRA E SUA DISSIMINAÇÃO

MASSIFICADA, TEMPORAL E

DESTRUTIVA. A MÍDIA, CADA VEZ

MAIS CONTROLADORA, PERCEBE

SEU PÚBLICO CADA VEZ MAIS

SUGESTÍVEL E PASSIVO,
o
like planet rock
we just don’t
stop, we’re
gonna drive
you nuts
 editorial sumário

N esta edição da OUTSIDERLINES,

o fotógrafo Lucas Ferlin retrata a cidade
de São Paulo como um personagem.
Com um Olhar peculiar ele mostra tudo o
que acontece, desenvolve e empreende
simultaneamente nessa metrópole caótica
com tanta desigualdade social. O processo
capitalista promovido pela própria população
alimenta a cultura de massa. Prega-se
IDENTIDADE
6
meritocracia em famílias quatrocentonas.
Famílias que detém praticamente toda a
história dessa cidade. O sotaque, as velhas
casas na Mooca, Ipiranga, Aclimação, Vila
URBANA
Madalena. História de barões de café, O TRANSPORTE PÚBLICO E O QUE SE PASSA
oligarquias e aristocratas.
DESPERCEBIDO NO COTIDIANO RETRATADO NUM
Donos de hectares de terra. De muito ouro

20
TRABALHO DE OBSERVAÇÃO EXERCIDO DURANTE OS
e também escravos. O que poderíamos
esperar de quase 500 anos de influência DECADÊNCIA PRIMEIROS ANOS DE FOTOGRAFIA DO FOTÓGRAFO
dessa elite paulistana na mídia, nos jornais,
nas ruas, nos bairros, nas propagandas e na MUSICAL LUCAS FERLIN. TRATA-SE DE UM TRABALHO
vida de pessoas que não fazem parte dessas
HENRIQUE LUNA SOLTA A VOZ E FALA SOBRE INCESSÁVEL E UM PONTO DE VISTA SOBRE A
famílias? Desigualdade social.
E é isso que o fotógrafo mostra aqui, CIDADE E SUA ROTINA.
A MÚSICA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA E SUA
mas não somente da maneira negativa.
Mostrando também essa miscigenação e o DISSIMINAÇÃO MASSIFICADA, TEMPORAL E DESTRUTIVA.
povo tomando seu espaço na selva de pedra,
nas ruas, bancos de praça, metrôs, pontes e A MÍDIA, CADA VEZ MAIS CONTROLADORA, PERCEBE
marquises.
SEU PÚBLICO CADA VEZ MAIS SUGESTÍVEL E PASSIVO,

Levanta-se um questionamento: É isso ENTORPECENDO A PROGRAMAÇÃO COM

que queremos pra nós mesmos? Continuar
sob influência de meios de comunicação CONTEÚDOS QUE NADA DIZEM, MUITO
que são tendenciosos e expôe opiniões
MENOS CRITICAM.
violentas sobre outro grupo, ou queremos
sair da nossa zona de conforto e conhecer a
metrópole, quem são as pessoas que sofrem
na pele essa desigualdade, ajudá-las e ter
uma opinião para poder mudar tudo isso?
 IDEN
TI
DA
DE
UR
BA
NA
Tomei a liberdade de escolher o transporte público, e o
que se passa despercebido no cotidiano, para retratar
neste trabalho, pois o mesmo oferece, não só pra
quem trabalha nele, mas para todos que passam, um
desenvolvimento capitalista e pessoal. Seja ele grandioso,
ou pequeno. Desde o índio vendendo seu CD, o hippie
seu artesanato, até o box que vende carregadores, fones,
capas para celular e geladeira com snacks e Coca-Cola.
Todo e qualquer tipo de consumo diário, para atender
a demanda da maioria que passa, está presente nesses
ambientes que cercam metrôs e terminais de ônibus.
Porém com a rotina, horários, e pressas, não nos damos
conta da grandiosidade de linhas, curvas, simetrias,
diversidades e formas que esses lugares tem.
A monetização de nossas próprias ações nos impedem
de ver a beleza e a imparcialidade que muitas vezes está
diante dos nossos olhos, com tantas pessoas indo pro
trabalho, chegando em casa, simultaneamente acontece
a entrada de capital, a prestação do serviço do transporte
público e a banalização de cenas para o nosso “bem
estar” cotidiano, que para muitos, pode significar colocar
uma máscara ou ser mais um no anonimato.
A rotina de São Paulo e de grandes metrópoles forçam nosso cotidiano realmente se encontra. Há 50 anos
um olhar cinza, sem detalhes. Nada mais é arte, tudo é atrás um monotrilho em cima de uma avenida, não
repetição e padrões que se restam em um loop, como seria estético e incomodaria muita gente. Entretanto,
um “bom dia” quase retórico. devido a globalização, além de ter se tornado um fator
de extrema importância para a vida das pessoas pelo
Nesse tipo de ambiente público, podemos ver um fato de carregá-las pra casa depois de um longo dia
certo tipo de inércia, mas a proposta é que: O que se cansativo de trabalho, se tornou fator estético que
deselvonve é o próprio ser humano, e tudo acontece combina com essa loucura, com os arranha céus e
simultaneamente, enquanto um é enquadrado pela com o desenvolvimento do próprio ser humano que
polícia, outro come um pão na padaria antes de ir cada dia se encontra mais perdido achando que tem o
ao trabalho, enquanto alguém é mais uma vítima controle de tudo.
da estatística de suicídio. Atráves desse ambiente,
Fazendo uso de novos gadgets e tecnologias, com
o tempo, pensamos nos tornar mais sociáveis e
comunicativos, quando na realidade estamos presos
ao próprio ego, afim de existir somente para os outros,
se preocupando com “o que vão pensar”.
A proposta aqui é demonstrar a capacidade da
miscigenação, velocidade e inércia de informações e
transformações, que a todo tempo chegam, se alteram FOTOS E TEXTO LUCAS FERLIN
e que podem nos afetar diretamente ou indiretamente.
A dialética que se cria é a partir da insanidade e
a loucura em que realizamos e percebemos onde
TRANSPORTE|inércia CIDADES|PESSOAS
 DECADENCIA
MUSICAL
Ele conhece de perto e sabe que Infelizmente a música
brasileira não possui mais conteúdo, mensagens, poesias
ou rebeldia com justa causa. As músicas dificilmente são
mais utilizadas para defenderem ideais.
A culpa em parte é da indústria cultural da música, que
passou a produzir dois tipos de cantores: o comercial e o
artista. Sendo que o primeiro é bom porque faz um hit que
estoura nas paradas de sucesso.
Só que essa música, por ser um produto descartável, não
será relembrada por muito tempo. O segundo tipo é composto
por aqueles que realmente possuem talento, que são raros.
Aqui entra a parcela dos maiores culpados: A sociedade e o
senso comum, em outras palavras: consumidores!
Percebendo que o público está cada vez mais passivo e
sugestionável diante de suas armações, a podre mídia
anaboliza sua programação com nomes e programas
descartáveis, subcelebridades e modismos cretinos que
tomaram conta do sistema nos últimos anos.
Ele, Henrique Luna, guitarrista, vocalista, pianista e
compositor, solta a voz na OUTSIDERLINES expressando o
que sente provavelmente da maneira mais esporádica.

FOTOS LUCAS FERLIN

TEXTO HENRIQUE LUNA
 a vida é uma obra de arte
se você acha ela bela ou feia
é uma questão de ponto de vista

eu tenho um ponto de vista sobre arte diferente

pra mim Arte é qualquer coisa.
É tudo e nada ao mesmo tempo
é Deus e Alá
e os outros deuses tabém
é a inexistencia deles e a existencia...
é a dúvida
é a certeza
é o claro e escuro
é todas as coisas, está em todos os lugares.

Eu sou arte
voce é
a conversa é
o facebook é
o coco de cavalo
é tambêm...
Da pra ficar mais profundo ainda...
E as histórias que acontecem entre as pessoas então?

isso é o ápice da arte

os planetas girando em torno das grandes estrelas...

nossa...
Aí

OBRA DE ARTE
é quando voce pega algo
que está inserido nisso

que é a ARTE
e faz uma obra que você vai apresentar...
faz um trabalho em cima
isso pode ser música, foto, vídeo, pintura
qualquer coisa
mesmo que seja uma coisa que está dentro do seu imaginário
totalmente psicodélica

VOCE E ARTE TAMBEM

logo:

o seu imaginario tAMBEM E arte!

‘‘Quando você está deitado na cama e não consegue dormir, você
se vira de um lado para outro. O que há com você? Você está
envolvido pelo blues. Cedo, quando você acorda e se senta na
cama, seus familiares ou amigos estão próximos a você; mas sem
saber por que, você não quer falar com ninguém. O que há com
você? Você está possuído pelo blues. Quando você se senta para
o almoço, a comida está sobre a mesa; mas você se levanta e vai,
dizendo 'Deus, tenha pena de mim, em não consigo dormir e nem
comer; o que é que há comigo?' Você está envolvido pelo blues.’’

dispersem no ar feito fumaça’’

‘‘Uma pena que bons momentos se

girando era a terceira voz.’’

pação um diploma não é um músico.’’
‘‘Um músico que tem como maior preocu-

2 pessoas conversando, e eu comecei

no onibus essa hora?’’. Ai me dei conta

quando comecei a achar que a catraca

da insanidade que eu estava pensando
a pensar ‘’Porra, contra ponto a 2 vozes
‘‘Eu tava meio com sono no onibus, ai tinha

‘‘a maioria das pessoas tem dificuldade em assimilar

as complicações que a vida coloca no caminho de
cada um. Quanto mais se vive, mais se percebe que
ninguém é digno de receber ajuda, porque se você o
faz, todo o estresse que aquela pessoa está carre-
gando vai vir com todos os extras e créditos no seu
nome. Somos todos uma grande foz em potencial
para todos os rios de culpa de todos os problemas
que as pessoas carregam’’

‘‘Mano
sabe o que eu queria?
um dia encontrar uma
nasce e morre sozinho.’’

galera muito louca, que

tocasse pra caralho, pra
‘‘Rock N Roll é saber que você

fazer jam sessions no

meio do nada
sem publico
tipo, tocar no deserto
sem avisar ninguem
simplesmente ir e tocar lá
alto pra caralho e tal
Haja alguéns na vida, hein?’’

só ir quem realmente vai

‘‘Quando você se preocupa em

ajudar no bagulho
ser ‘’alguém na vida’’, você só se

no maximo fotos ta ligado

igualou a uns 4 bilhões de pessoas.

mas acho que nem isso...

música para o universo’’
O PAPEL DO ARTÍSTA na sociedade nem sempre foi o mesmo, 12 horas por dia, como era feito comumente por qualquer músico
e arte nem sempre foi um mercado generalizado e acessível para até os anos 60. Pode-se pensar que é triste que o valor das artes
todas as classes. A música, singularmente, teve uma evolução esteja se perdendo em meio ao universo consumista, mas talvez
lenta, e o seu processo de desenvolvimento foi longo e cheio seja o inicio de uma nova época em que o significado das artes é
de indas e vindas. Do periodo medieval nao restaram muitas outro, e todas as artes se resumem a uma só: conquistar publico.
evidencias de como era a música popular daquela época, Não importa o que você faça, você pode ficar famoso de qualquer
existe muito mais material escrito de música sacra, pois foi forma se você souber o que fazer. Quem é o músico que se atreve
nesse periodo que a escrita musical começou a se desenvolver, a ser um compositor que agrade tanto aos ouvidos exigentes
assim como a teoria musical. A música era escrita por músicos quanto aos amantes da música pop? Porque ninguém foi capaz
contratados da igreja, que dedicavam a sua vida inteira a religião de fazer isso até agora? Talvez porque não tenham considerado
emúsica. No renascimento houve uma conhecida revolução isso uma possibilidade. O que falta na música, e nas artes, é o
no mundo das artes, filosofia e ciência, e a música não ficou de mesmo que falta em todos: Mais aceitação sobre a realidade
fora, mas a situação ainda era a mesma: havia divisão entre a
música erudita [sacra] e a música trovadoresca [popular] Nesse
periodo a música começou a ganhar maior sentido artistico, e já
não pensavam apenas em fazer música para o evento religioso,
mas sim em expressar emoções e sentimentos. Passando do
periodo barrocoa até o romantismo, a música vai ir tomando seu
rumo até se tornar uma arte realmente livre, desvinculada da
religião. Mas ainda existe uma separação entre música erudita e
a música popular [de rua]. Em todo o tempo a música popular
sobre influencia da música erudita, e vice versa, no século XX
houve uma grande evolução na forma de escrever as letras para
as músicas. Também foi quebrada a divisão entre música erudita
e popular, que hoje já nao é mais tão rigorosa, apesar de ainda
serem nichos distintos. A acessibilidade a música muda muito ao
longo desse tempo, e hoje a música é um produto acessível para
todos. Existem muitos tipos de música, e a acessibilidade de certos
estilos não é compativel com o que a maior parte das pessoas
espera de um produto. E é por isso que existem estilos que fazem
mais sucesso que outros. Discutir se uma música é boa ou ruim
é muito subjetivo. Hoje em dia é mais cabível discutir se a música
vai vender ou não. O que ocorre dentro desse processo é que
o músico passa a não se preocupar mais tanto com a música,
ou com a qualidade desta, e o foco passa a ser a vendabilidade.
Muitos músicos se preocupam muito mais em manter uma boa
aparencia do que em manter uma boa sonoridade. Mas não estou
expondo isso de forma negativa, apenas é uma realidade. Além
disso vivemos em uma sociedade que nos cerca de distrações
e obrigações, que impedem estudantes de música de estudarem
 quiet!

know y o u r pl a c e
shut you r fa c e !