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SAMUEL MURGEL BRANCO

Biólogo e professor titular de ecologia


aplicada, na Universidade de São Paulo.

EDUARDO MURGEL
Engenheiro mecânico pela Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo.
Consultor na área de engenharia ambiental e
especialista em poluição do ar.

POLUIÇÃO DO AR
Editora Moderna

Sumário
POLUIÇÃO DO AR.................................................................2

ntrodução...............................................................................................................................................3

Atmosfera e Suas Variações................................................................................................................5

2 16

Os Seres Vivos e o Ar........................................................................................................................16

4 34

As Fontes de Poluição do Ar............................................................................................................34


5 48

Os Efeitos da Poluição do Ar............................................................................................................48

6 60

Os Tóxicos Atmosféricos mais Comuns.........................................................................................60

7 75

Padrões de Qualidade do Ar..............................................................................................................75

Introdução

Todos os que moram em grandes cidades


convivem diariamente com a poluição do ar e
sofrem os efeitos desse grande mal. Olhos
irritados e lacrimejantes; o incômodo causado
por odores desagradáveis e, às vezes,
repugnantes; as tentativas de manter a casa
limpa daquele pó negro e oleoso, provocado
pela fuligem das chaminés das indústrias. Tudo
isso são problemas considerados normais na
vida dos habitantes dos grandes centros
urbanos. Mas nem sempre temos consciência
do verdadeiro risco que a nossa saúde está
correndo. Muitas vezes nos sentimos
incomodados, sem saber que somos os
verdadeiros culpados pela poluição do ar, pois
acabamos contribuindo para agravá-la.
A contaminação atmosférica é, hoje, um
problema urbano. Dessa forma, deve ser
encarada com a mesma importância que se dá,
por exemplo, à água potável, aos esgotos, à
habitação e ao transporte. Isso porque, antes
de mais nada, trata-se de uma questão de
saúde pública. Qualquer fator diretamente
relacionado à saúde da população é um item de
bem-estar social e, também, econômico. Um
problema de saúde pode resultar em vários dias
de trabalho perdidos, sem falar nas despesas
com remédios necessários a qualquer
tratamento.
Quando um rio está poluído, o efeito é visível e
imediato: a grande mortandade de peixes. A
água se torna escura e fétida e na sua
superfície forma-se espuma. Já com a poluição
do ar isso não acontece, pois seus efeitos não
são tão visíveis. Assim, as autoridades
governamentais muitas vezes não tratam a
poluição atmosférica com a devida prioridade.
Elas nem sempre são alertadas pela imprensa,
pela população e mesmo pelas entidades
ambientalistas no sentido de se buscar uma
solução eficaz para essa "poluição invisível".
Por outro lado, um fato óbvio, mas nem sempre
considerado, vem agravar essa falta de
prioridade para solucionar o problema da
contaminação da atmosfera: as pessoas (e
demais seres vivos) precisam respirar contínua
e ininterruptamente. Não podemos escolher o
ar que respiramos ou tratá-lo, como no caso da
água, antes de ser utilizado. E possível
passarmos várias horas sem beber água, mas
apenas alguns minutos sem ar são suficientes
para extinguir a vida em nosso planeta. Além
disso, é fundamental que ele seja de boa
qualidade. Por isso, as soluções indicadas para
o problema da poluição do ar devem ser
sempre dinâmicas e abrangentes. Medidas
muito localizadas ou de efeito temporário,
nesse caso, têm pouca valia.
O principal objetivo deste livro é o de procurar
transmitir a gravidade da questão do ar
poluído, alertando sobre problemas reais e, por
vezes, chamar a atenção para alguns mitos e
teorias bastante divulgados, mas que na
verdade são infundados e incorretos. Com isso,
pretende-se atingir um certo nível de
conscientização que permita ao leitor avaliar
por si mesmo os verdadeiros e mais
importantes problemas a serem enfrentados.
Principalmente, qual o grau de contribuição que
cada um de nós pode e deve dar para sua
solução.

1
ATMOSFERA E SUAS VARIAÇÕES

A MORTE VINDA DO AR

No início de uma noite calma e quente de


agosto de 1986, na cidadezinha de Nyos, nas
montanhas de Camarões, África ocidental, a
maior parte da população já se preparava para
dormir. Alguns gozavam o calorzinho, que já
anunciava a aproximação da primavera, pas-
seando e conversando pelas calçadas. Outros
saboreavam uma cerveja ou um copo de vinho
de palmeira no bar mais próximo. Subitamente,
uma nuvem baixa, vinda do belo Lago Nyos,
situado acima no morro, a pouco mais de 1
quilômetro de distância, avançou pelo vale. Ela
encobriu as bananeiras e a parte mais baixa
das árvores, espalhou-se pela cidade e invadiu
as casas. Em poucos minutos, a quase
totalidade dos habitantes estava morta,
asfixiada pelo gás contido na névoa. A nuvem,
prosseguindo em seu caminho destruidor, antes
de se dissipar, atingiu ainda outros dois
vilarejos: Cha, a oeste de Nyos, e Subrum, a
leste. Em menos de 1 hora mais de 1.200
pessoas morreram. Também foram encontrados
mortos cerca de 4 mil vacas, 550 cabras, 300
carneiros e mais de 3 mil aves domésticas.
Os poucos sobreviventes da catástrofe, após
terem permanecido inconscientes por várias
horas, defrontaram-se, ao amanhecer, com uma
inacreditável cena de horror e desolação. Ao se
espalhar a notícia, poucas foram as pessoas
das aldeias vizinhas que tiveram coragem de se
dirigir ao local a fim de prestar socorro. Apenas
um missionário católico, acompanhado de um
amigo, piloto de um helicóptero, e um geólogo,
que estudava a região. Chegando lá, iniciaram
imediatamente o transporte dos sobreviventes
para a cidade de Wurn, a cerca de 20 qui-
lômetros. Só 2 dias mais tarde é que um
contingente do exército foi destacado para
enterrar os cadáveres e tomar outras
providências. Ao mesmo tempo, foram iniciadas
as investigações científicas pelo Ministério de
Minas de Camarões, visando descobrir as
causas do acidente.
O Nyos é um lago natural, de origem vulcânica
(um vulcão extinto há mais de 100 mil anos),
com cerca de 2 quilômetros de comprimento e
uns 200 metros de profundidade. As pessoas
que sobreviveram à catástrofe contam que,
pouco antes de a nuvem mortífera descer,
ouviram um grande rumor vindo do lago. Foi
como se uma imensa onda se levantasse em
meio à calmaria e batesse de encontro aos
rochedos que circundam todo o corpo d'água.
Imediatamente foi levantada a hipótese de que
uma enorme bolha de gás, de origem vulcânica,
teria se desprendido subitamente do fundo do
lago. provocando a onda. Sendo mais pesada
que o ar, essa bolha espalhou-se por todo o
vale.
A hipótese foi confirmada parcialmente pelas
inúmeras missões científicas para lá
encaminhadas, uma semana depois, proceden-
tes de vários países, como Itália, França, Japão,
Nigéria, Suíça, Estados Unidos e Inglaterra. As
pesquisas realizadas evidenciaram que o gás
carbônico encontrado na água do lago possui
composição isotópica idêntica à do que se
forma a partir de lavas vulcânicas. Assim, esse
gás é proveniente de grande profundidade,
embora não se saiba, ainda, como atinge o
lago.
A conclusão da maior parte dos cientistas, pelo
menos até agora, é que se trata de um
fenômeno natural — embora nunca visto nessas
proporções — de uma turbulência súbita,
causada por diferenças de temperatura da
água. Isso acabou provocando a subida re-
pentina de gás carbônico aí acumulado durante
um longo período de estagnação, isto é, de um
período de ausência de circulação da água
entre superfície e fundo.
As chuvas copiosas que caem naquela região,
nesse período do ano, provocam um rápido
resfriamento da superfície, formando uma
camada de água mais fria. Embora mais pesada
(por ser mais fria), essa camada de água leva
muito tempo, em condições atmosféricas
normais, para se misturar às camadas
inferiores. Uma anomalia qualquer, como, por
exemplo, uma rajada de vento repentina,
poderia ler provocado o seu afundamento súbi-
to e o deslocamento de uma porção
considerável do gás acumulado sob pressão.
Segundo os cálculos dos cientistas, o volume de
gás desprendido atingiu a cifra de 300 milhões
de metros cúbicos!
Essa repentina turbulência, inteiramente
independente de qualquer interferência
humana, teria causado um dos maiores e mais
trágicos episódios de poluição do ar de que se
tem notícia na história da humanidade. De
certa forma, bem mais desconcertante que o
célebre soterramento da cidade de Pompéia
pelas cinzas do Vesúvio — uma catástrofe de
proporções bem maiores, porém acompanhada
de prenúncios, tremores, ruídos e outros efeitos
sensíveis que acompanham os cataclismos, em
lugar do sinistro e silencioso avanço de uma
simples neblina, aparentemente inofensiva e
corriqueira...
A característica sinistra e traiçoeira constitui,
em geral, a peculiaridade mais marcante da po-
luição atmosférica. Sendo causada por
modificações da composição do ar que nos
cerca e nos envolve — e do qual dependemos
vitalmente —, é, na maioria dos casos, invisível,
intangível e inevitável. Ela pode ser de origem
natural ou gerada pela atividade consciente ou
inconsciente do ser humano, esse incrível e
constante modificador da natureza terrestre.

O AR QUE NOS CERCA

A porção da Terra que permite a proliferação da


vida, desde a humana até a de seres
microscópicos, é denominada biosfera. É uma
estreita camada que recobre toda a superfície
do globo. A única exceção são as montanhas
muito elevadas e regiões polares, que estão
sempre cobertas de gelo e onde nenhuma
espécie de planta ou animal tem condições de
viver permanentemente. Comparando-se com
as dimensões da Terra, é de fato uma camada
muito estreita, pois não atinge os 7 quilômetros
acima do nível do mar, nas altas montanhas, e
dificilmente ultrapassa os 5 quilômetros de
profundidade. A não ser nas grandes fossas
oceânicas.
A biosfera estende-se por três camadas
distintas da superfície da Terra, ocupando-as
apenas parcialmente: a litosfera, a hidrosfera e a
atmosfera. A litosfera é a camada superficial
que recobre a Terra. É formada de solo e
rochas, em parte erodidas pela ação das águas
e dos ventos. A hidrosfera é a parcela líquida,
constituída por rios, lagos e oceanos, que
recobre cerca de dois terços do globo terrestre.
Finalmente, a atmosfera é a camada gasosa, o
ar que envolve e penetra parcialmente os dois
outros ambientes.
Não existem organismos que sejam habitantes
exclusivos da atmosfera, mas, direta ou
indiretamente, todos dependemos desse meio.
Os seres terrestres respiram diretamente o ar
atmosférico, enquanto os aquáticos utilizam
gases dissolvidos na água. Esses gases, por sua
vez, sofrem trocas com a atmosfera. Além de
fornecer componentes indispensáveis à sobrevi-
vência dos seres vivos, o ar também é um
importante meio de locomoção, seja para os
animais alados, seja para grãos de pólen,
sementes e microrganismos.

COMO É A ATMOSFERA
A composição da atmosfera varia muito em
função da parcela considerada. Na prática, ela
pode ser dividida em três porções principais: a
baixa atmosfera ou troposfera, que se estende
até 12 quilômetros de altitude, ultrapassando,
assim, os limites máximos atingidos pela vida
terrestre — essa é uma região onde ocorre
intensa movimentação dos componentes
gasosos —; a estratosfera, que pode atingir até
100 quilômetros de altitude; e, acima disso,
está a ionosfera, que recebe esse nome porque
nessa região as radiações ultravioleta da luz so-
lar, muito intensas, decompõem as moléculas
em átomos e íons. Apenas a troposfera tem,
pois, contato direto com os seres vivos. Ela é o
elemento básico para a sobrevivência dos orga-
nismos aeróbios, que utilizam oxigênio livre em
sua respiração. A troposfera serve também
como fonte de nitrogênio e umidade,
indispensáveis a todos os seres vivos. Assim
sendo, salvo questões muito específicas, como
a camada de ozônio na estratosfera, todos os
estudos sobre poluição do ar se referem às
regiões de baixa atmosfera.
A atmosfera, ao contrário do que parece à pri-
meira vista, não é composta apenas por gases.
Existe uma porção sólida, formada por poeira
em suspensão, pólen, microrganismos etc. Há,
ainda, uma porção líquida, composta de
gotículas resultantes da condensação do vapor
d'água, na forma de nuvens, neblinas e chuvas.
Mas, sem dúvida, a principal parcela é gasosa.
A porção sólida da atmosfera, chamada de
"material particulado", pode ser inorgânica ou
orgânica. Ela varia muito de um lugar para
outro, e a cada momento, conforme os ventos e
outros fenômenos naturais ou não. As
partículas inanimadas ou inorgânicas podem
ser formadas por grãos de terra e areia (que,
elevados e transportados vento, chegam a
atingir milhares de quilômetros), por material
de origem vulcânica (proveniente de erupções
que, por vezes, formam enormes "nuvens" que
se espalham por grandes regiões), bem como
pelos sais originados da espuma do mar, a
chamada "maresia" (que chegam a ser
encontrados a mais de 1.000 quilômetros da
costa e, às vezes, depositados em altas
montanhas). As partículas orgânicas são as de
origem vegetal (grãos de pólen, esporos de
fungos e bactérias) ou animal (pequenos
insetos, aranhas etc.).
A água é o elemento mais variável no ar, seja
como vapor (forma gasosa), seja na forma
líquida (nuvens, neblinas e chuvas). Em um
deserto, a porção de vapor d'água na atmosfera
é praticamente nula. Já em uma floresta
tropical úmida, existe cerca de 5% de água na
composição do ar. É justamente isso que torna
os ambientes tão distintos entre si. Seres adap-
tados, por exemplo, a lugares secos não
sobrevivem em regiões úmidas e vice-versa.
A porção gasosa do ar é composta de
aproximadamente 78% de nitrogênio (N 2 ) e
21% de oxigênio (O 2 ). Esses elementos pratica-
mente independem de tempo e localização. O
1% restante é formado por uma infinidade de
gases. Entre eles estão os poluentes
atmosféricos. Os chamados "gases nobres"
(argônio, neônio, hélio, criptônio e xenônio) são
inertes, isto é, não reagem quimicamente com
outras substâncias e respondem por 0,93% da
composição do ar natural. Cerca de 0,03% do ar
é constituído de dióxido de carbono, ou gás
carbônico (CO 2 ), e o restante é composto por
metano (CH 4 ), hidrogênio (H 2 ), óxido nitroso
(NO 2 ) e ozônio (O 3 ). Assim, em condições
naturais, podemos considerar que, para cada
10 mil moléculas de ar, temos
aproximadamente:

• 7.800 moléculas de nitrogênio;


• 2.100 moléculas de oxigênio;
• 93 moléculas de gases nobres;
• três moléculas de gás carbônico;
• quatro moléculas de outros elementos.

Embora de importância indiscutível, como será


visto mais adiante, o nitrogênio é tão abun-
dante que não desperta maior preocupação
ecológica. Sob esse aspecto, os dois
componentes mais importantes no ar são o
oxigênio e o gás carbônico, cuja proporção
atual se mantém em equilíbrio, sendo
interdependentes.

COMO SE FORMOU A ATMOSFERA


O gás carbônico originou-se da calcinação ou
"queima" de componentes das rochas
primitivas nas atividades vulcânicas. No
processo de formação da Terra, essas
calcinações foram muito freqüentes e intensas.
Elas acabaram gerando uma quantidade muito
maior de gás carbônico do que a existente na
atmosfera hoje.
A princípio, há aproximadamente 2 bilhões de
anos, não existia oxigênio na atmosfera
terrestre. Esse gás só foi formado no início da
atividade de fotossíntese pelos primeiros
vegetais que começaram a surgir. A
fotossíntese é um processo de nutrição que se
realiza pela assimilação do gás carbônico,
utilizando a energia da luz. O oxigênio é um
subproduto da fotossíntese e não tinha função,
uma vez que os seres vivos existentes reali-
zavam apenas a respiração anaeróbia, em que
não há consumo de oxigênio. Além disso, esse
elemento — tão essencial à nossa respiração e
à de um grande número de outros seres vivos
— é tóxico aos seres anaeróbios. Só muito mais
tarde é que surgiram os seres aeróbios, através
de adaptações que permitiram o uso do
oxigênio em sua respiração. Eles
desenvolveram um processo de respiração
muito eficiente. Esse ambiente permitiu o
desenvolvimento de organismos mais
complexos, que tornaram a vida na Terra mais
diversificada e ativa.
Estabeleceu-se, assim, um ciclo entre a
respiração aeróbia, que consome oxigênio,
produzindo gás carbônico, e a fotossíntese, que
faz a operação inversa, acumulando matéria
orgânica na forma de massa vegetal. Como
naquele período havia muito gás carbônico
disponível no ar, a atividade fotossintetizante
era bem mais intensa que hoje. Isso contribuiu
para o aparecimento de um grande número de
vegetais. Estes, quando soterrados em regiões
pantanosas ou no fundo dos mares, não se
decompunham. Ao permanecerem isolados da
atmosfera, fossilizavam-se, originando os
combustíveis que hoje conhecemos. Corno
conseqüência, houve uma grande redução da
concentração de gás carbônico no ar. Isso
ocorreu lentamente, de modo que há 20
milhões de anos a concentração de oxigênio
atingiu os níveis atuais, mantendo-se em
equilíbrio desde então. Atualmente, a queima
dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás
natural) pelo homem está restituindo à
atmosfera o carbono de que foram formados,
com tendência a desfazer o atual equilíbrio
entre gás carbônico e oxigênio.
Pode-se dizer, pois, que a atual composição da
atmosfera é resultante de um balanceamento
entre as atividades de fotossíntese e a reação
inversa, que é a da respiração aeróbia. Esse
equilíbrio dinâmico entre os seres vivos do
planeta mantém a atmosfera com sua
composição permanente, o que, por sua vez, é
essencial para a manutenção da vida, tal como
ela se apresenta.
Outro fenômeno importante para a manutenção
da vida, especialmente quando muitos seres
deixaram os mares, adaptando-se à vida na
Terra, foi o da transformação de parte do
oxigênio que se acumulava na atmosfera em
ozônio. Isso graças à intervenção das radiações
ultravioleta do Sol nas altas camadas da
atmosfera. Essas reações originaram uma
verdadeira barreira de ozônio, filtrando e
impedindo a penetração de quantidades
excessivas de raios ultravioleta, que são
nocivos à vida.

2
OS SERES VIVOS E O AR

A principal função ecológica da atmosfera é a


de ser uma espécie de reservatório dos
componentes indispensáveis à vida. Como
exemplo, podemos citar o oxigênio, utilizado na
respiração dos seres vivos; o dióxido de
carbono (ou gás carbônico), principal elemento
da fotossíntese; o nitrogênio, útil na
composição das proteínas. Não devemos
esquecer a água, pois dentro do seu ciclo
natural obrigatoriamente passa por uma fase
de vapor, que é transportado na atmosfera.
Para distribuir esses elementos básicos a todos
os recantos do planeta e propiciar o
desenvolvimento da vida aeróbia, o ar difunde-
se na água e nos interstícios entre as partículas
do solo.

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

Todos os elementos que se encontram no meio


ambiente e que, de alguma forma, são
aproveitados pelos seres vivos fazem parte de
um ciclo permanente. Sofrem uma série de
transformações bioquímicas, retornam ao seu
estado original e, por fim, são devolvidos ao
meio ambiente. Isso é necessário, pois, mesmo
quando abundantes, os elementos
indispensáveis à vida existem em quantidade
limitada. Caso não fossem continuamente
reciclados, se esgotariam em pouco tempo.
Esses elementos possuem o seu reservatório
básico na atmosfera, na litosfera ou na
hidrosfera e são continuamente transportados,
sofrendo alterações de um meio para o outro.
Os ciclos dos elementos componentes da
natureza são denominados biogeoquímicos, por
envolverem atividades biológicas, químicas e
fenômenos geológicos. Biológicas, porque
grande parte das transformações se sucedem
com a participação dos seres vivos; químicas,
porque consistem em reações que ocorrem
entre elementos químicos; e são também
fenômenos geológicos, visto que a origem pri-
mária de todos esses elementos está ligada à
composição básica da superfície do globo
terrestre. Por essas três características,
convencionou-se chamar os ciclos naturais dos
elementos químicos na biosfera de ciclos
biogeoquímicos.

CICLO DO CARBONO

Um dos elementos essenciais na composição da


matéria orgânica é o carbono. Ele integra quase
todas as moléculas dos organismos vivos. Sua
circulação pela biosfera é, portanto,
fundamental.
A principal fonte de carbono na Terra é
constituída pelos carbonatos dissolvidos na
água ou sedimentados na forma de rochas cal-
cárias. Ainda hoje, parte desse carbono é
desprendida na atmosfera, em forma de gás
carbônico, cada vez que um vulcão entra em
atividade. Nessa forma, o elemento encontra-se
disponível no ar, em quantidade suficiente para
sofrer todas as transformações bioquímicas do
ciclo do carbono.
O gás carbônico presente na atmosfera é
assimilado pelas plantas e algas que realizam a
fotossíntese. Essa é uma capacidade exclusiva
dos seres que contêm um pigmento verde,
denominado clorofila. Graças à clorofila, esses
seres tornam-se capazes de fixar a energia
presente na luz solar para a transformação de
gás carbônico e água em oxigênio e matéria
orgânica. O oxigênio é desprendido na
atmosfera, e a matéria orgânica é acumulada
para o crescimento e multiplicação desses
vegetais. Posteriormente, eles serão consu-
midos pelos animais herbívoros, e estes pelos
carnívoros, ou decompostos por
microrganismos.
Quase todo o oxigênio existente na atmosfera é
produzido pela reação de fotossíntese. Da
mesma forma, a quase totalidade do alimento
existente, para qualquer ser vivo, tem sua
origem primária na fotossíntese. Os organismos
aeróbios consomem oxigênio em sua
respiração, devolvendo à atmosfera o gás
carbônico resultante dessa reação. Trata-se,
pois, de uma reação de oxidação. Ela faz o
caminho inverso ao da fotossíntese. Utiliza
oxigênio e matéria orgânica (dos alimentos)
para produzir gás carbônico e energia,
empregada na locomoção e demais atividades
necessárias à sobrevivência em geral de
qualquer ser vivo. E dessa forma que se dá o
ciclo contínuo entre gás carbônico e oxigênio
na atmosfera e nos ambientes terrestres em
geral. Como as reações de fotossíntese e
respiração, em termos globais, são
equivalentes, a quantidade total de oxigênio e
gás carbônico presente no ar tende a se manter
constante.
O carbono que se acumula como matéria
orgânica nos tecidos dos seres vivos, animais
ou vegetais, após a sua morte, servirá de
alimento aos microrganismos decompositores,
aeróbios e anaeróbios. Estes, através da
respiração, restituem, também, o gás carbônico
à atmosfera.
CICLO DO NITROGÊNIO

O nitrogênio participa, obrigatoriamente, das


moléculas das proteínas e outros compostos
essenciais à vida. E, portanto, um dos
elementos mais importantes à constituição das
células e, conseqüentemente, dos seres vivos.
O principal reservatório de nitrogênio na
natureza é a atmosfera. A maioria dos seres
vivos não consegue absorver o nitrogênio mo-
lecular diretamente do ar. No entanto, existem
exceções. E o caso das bactérias no solo ou
fixadas nas raízes de algumas plantas
leguminosas, bem como várias espécies de
algas. Esses organismos são responsáveis pela
fixação do nitrogênio do ar, formando matéria
orgânica nitrogenada.
No solo e na água existem bactérias capazes de
transformar nitrogênio, resultante do processo
de decomposição de vegetais e animais mortos,
em compostos inorgânicos. Um exemplo desses
compostos inorgânicos são os nitratos, que
constituem a fonte de nitrogênio mais utilizada
na alimentação das plantas. Os vegetais
absorvem-nos para formar novos compostos
orgânicos, que servirão de alimento aos
animais. Fecha-se, assim, o ciclo. Mas há,
também, outras formas de reciclagem do
nitrogênio, fazendo-o retornar ao ar. Certas
bactérias podem transformar os nitratos do solo
ou das águas em nitrogênio puro, que é
devolvido à atmosfera. Finalmente, uma outra
forma de transferência de nitrogênio do ar para
os seres vivos se dá pela ação dos raios. Em
dias de tempestade, os raios provocam a
combinação do nitrogênio gasoso com o
oxigênio e a água, formando nitratos que se
precipitam sobre o solo.

CICLO DA ÁGUA

A água é, quantitativamente, o elemento mais


abundante na constituição dos seres vivos.
Cerca de 70% do peso do homem e 90% do
peso de alguns animais aquáticos é formado
por água. Em vista disso, a massa de seres
vivos existente em qualquer parte da superfície
terrestre é proporcional à disponibilidade de
água. Isso significa que em regiões de fortes
chuvas a vida é muito mais exuberante e in-
tensa do que em áreas desérticas.
Pesquisas geológicas têm revelado a existência
de enormes reservas de água entre as rochas
que constituem o manto, situado abaixo da
crosta terrestre. No entanto é a água presente
na litosfera, na hidrosfera e na atmosfera que
garante a vida no planeta. Ela participa do
chamado "ciclo hidrológico".
A maior parte da água da atmosfera está na
forma gasosa, ou seja, de vapor. E quando ela
se acumula em grande quantidade, ao sofrer
um resfriamento, condensa-se, dando lugar à
formação das nuvens.
Nessa fase, há uma enorme mobilidade das
reservas de água em função dos ventos. Isso
faz com que uma nuvem formada em um deter-
minado ponto venha a se precipitar na forma de
chuva, a uma longa distância do ponto de
origem.
Essa quantidade de água existente na
atmosfera não é muito grande. Se todo o vapor
de água fosse condensado e espalhado na
superfície da Terra, resultaria uma camada de
apenas 3 centímetros de espessura. Mesmo
assim, todo o ciclo da água está fundamentado
nesse pequeno volume.
Com a precipitação na forma de chuvas, grande
parte da água que estava na atmosfera cai
diretamente nos oceanos. A outra parcela vai
para os continentes. Dessa parcela, uma parte
substancial é infiltrada no solo. O restante
escoa superficialmente em direção aos pontos
baixos. Isso contribui para a formação de
córregos, rios e lagos que, por sua vez, escoam
para o oceano. Já a porção infiltrada renova as
águas subterrâneas, ou seja, o lençol freático,
um depósito de água disponível para a vege-
tação. O excedente de água dos lençóis pode
retornar à superfície na forma de nascentes ou
rios.
O retorno da água dos oceanos, rios e lagos (ou
mesmo diretamente do solo) para a atmosfera
dá-se por evaporação. Além da evaporação,
grande parte dessa água volta à atmosfera
através da transpiração das folhas dos vegetais.
Como a superfície total das folhas de uma
árvore é muitas vezes superior à área do solo
que ela ocupa, os vegetais têm um importante
papel multiplicador do fenômeno de evaporação
da água. Além disso, eles exercem enorme
influência na manutenção da umidade do ar e
nas precipitações pluviométricas. A soma da
evaporação direta do solo, da água, e da
transpiração vegetal dá-se o nome de
"evapotranspiração".

A RESPIRAÇÃO

Na respiração aeróbia, a obtenção de energia, a


partir dos alimentos, é feita por intermédio de
uma reação de oxidação, com consumo de
oxigênio, como já foi visto. Dá-se, assim, uma
troca permanente de oxigênio e gás carbônico
entre o meio externo (a atmosfera ou a água) e
o meio interno (as células). Essa troca de gases
exige em muitos animais sistemas inter-
mediários de transporte (o sangue circulante) e
órgãos especiais para absorção do oxigênio do
ar (pulmões — ou, no caso de organismos
aquáticos, brânquias).
No homem — assim como nos demais
mamíferos —, nas aves e nos répteis e anfíbios,
em geral, a respiração é pulmonar. Esse
processo ocorre por movimentos de expansão e
retração da caixa torácica. O ar, contendo
oxigênio, entra na inspiração e sai na expiração
(pelas narinas e através da traquéia). Assim, é
garantida de forma contínua a presença do ar
atmosférico nos pulmões. Estes são formados
por alvéolos, que constituem uma fina membra-
na onde se dá a troca de gases entre o sangue
(ou as células sangüíneas) e o ar que está no
interior dos pulmões. Em uma pessoa adulta, a
superfície total dos alvéolos é de cerca de 70
metros quadrados. Isso permite a entrada de
uma grande quantidade de oxigênio no sangue
e a saída da mesma quantidade de gás
carbônico.
Ao entrar em contato com os alvéolos
pulmonares, o sangue torna-se saturado de
oxigênio, que é fixado no organismo pelas
hemácias ou glóbulos vermelhos. Pelo sistema de
artérias, veias e capilares, esse oxigênio atinge
todas as células do corpo. Essas células, ao
mesmo tempo que utilizam o oxigênio,
produzem gás carbônico, o qual é levado pelas
próprias hemácias de volta até os pulmões e,
posteriormente, expelido para a atmosfera.
Ocorre então uma nova troca de gases e o
processo é reiniciado.
Um homem adulto, em repouso, realiza de
quinze a dezesseis inspirações por minuto. No
entanto, após exercícios vigorosos, essa
freqüência pode chegar a trinta, quarenta ou
mais inspirações por minuto. Em média, uma
pessoa requer diariamente cerca de 15
quilogramas de ar (contendo 20% de oxigênio,
aproximadamente). Isso equivale a um volume
aproximado de 15 mil litros.

3
O que é a Poluição do Ar

Até o início deste século, a atmosfera era


considerada ilimitada, e não merecia maiores
considerações. O homem conhecia as agruras
da falta de água potável, de alimento, mas
julgava que o ar utilizado para sua respiração e
de outros seres vivos nunca deixaria de estar
disponível.
De fato, sempre existirá na atmosfera, em
qualquer ponto, uma "mistura de gases". No
entanto, essa mistura pode não ser adequada à
manutenção da vida em condições ideais. E o
que ocorre, por exemplo, quando o ar está
poluído. O problema básico da poluição do ar é
a existência de substâncias estranhas à
composição do meio, ou em quantidade muito
elevada.
Entende-se como poluição do ar a mudança em
sua composição ou em suas propriedades, cau-
sada por emissões de poluentes, tornando-o
impróprio, nocivo ou inconveniente à saúde, ao
bem-estar público, à vida animal e vegetal e,
até mesmo, a alguns materiais. As emissões de
certas substâncias são ainda consideradas
poluentes se forem prejudiciais à segurança, ao
uso e gozo da propriedade ou impedirem a
execução dos afazeres normais da população.
Oficialmente, o Conselho Ambiental da Europa,
em 1967, definiu a poluição do ar da seguinte
maneira: "Existe poluição do ar quando a
presença de uma substância estranha ou a
variação significativa na proporção dos seus
constituintes é suscetível de provocar efeitos
prejudiciais ou originar doenças, tendo em
conta o estado dos conhecimentos científicos
do momento".
A poluição do ar só foi relacionada à saúde em
meados deste século. De qualquer maneira,
mesmo antes da Revolução Industrial, por volta
de 1700, já havia uma certa preocupação em se
controlar os poluentes emitidos na atmosfera.
Na França, em 1382, um édito do rei Carlos VI
proibiu a emissão de gases fétidos. Na
Inglaterra, no século XVII, uma disposição real
proibia acender fogo durante as sessões do
Parlamento de Westminster. Já no Direito
romano, havia referências a certas normas
relativas à quantidade de substâncias que cada
vizinho podia queimar dentro de sua casa.

HISTÓRIA DA POLUIÇÃO DO AR

No momento em que o homem descobriu o fogo


teve início a poluição do ar. Naturalmente, a
atividade do homem primitivo não pode ser
comparada à atual. Porém, não resta dúvida
que muitos de nossos antepassados remotos
tiveram problemas ao acender uma fogueira em
uma caverna mal ventilada.
As queimadas — feitas propositalmente em
matas e campos naturais, a fim de limpar a
terra para o cultivo — também constituem uma
das mais antigas fontes de poluição do ar
provocadas pelo homem. Quando a sociedade
passou a se organizar em cidades, começaram
a surgir problemas mais sérios de
contaminação atmosférica, em geral, ligados ao
olfato. Os fossos, que cercavam os castelos da
Idade Média, por exemplo, além de sua
finalidade de defesa, recebiam os esgotos
produzidos no seu interior. Isso os tornava
extremamente fétidos. Também não havia qual-
quer sistema de recolhimento de lixo. Os
detritos eram simplesmente lançados na rua,
onde se decompunham, produzindo odores
bastante desagradáveis. Havia, ainda, os
matadouros e curtumes, onde não prevalecia
qualquer preocupação de ordem higiênica. Eles
também representavam grandes fontes produ-
toras de odores fétidos, bem como os currais e
cavalariças, sempre localizados dentro das
cidades.
Hoje, nos grandes centros urbanos, embora
tenhamos de respirar um ar bastante
contaminado, responsável por muitos
problemas de saúde, conseguimos eliminar em
parte muitos dos problemas que existiam nas
primeiras formações urbanas dos séculos
passados. Podemos dizer que respirar numa ci-
dade moderna é mais perigoso, mas menos
desagradável que numa cidade da Idade Média.

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A poluição do ar passou a ser considerada um


problema mais abrangente, ligado à saúde
pública, a partir da Revolução Industrial,
quando teve início o sistema urbano atual. Nos
séculos XVIII e XIX, desenvolve-se a técnica
industrial, inicialmente na Inglaterra, e, depois,
em outros países. Essa técnica toma impulso a
partir de 1769, com a invenção da máquina a
vapor. O homem finalmente consegue obter
energia mecânica para movimentar os mais
variados artefatos, sem ter de recorrer à força
animal. Julga- se poderoso com isso, e passa,
então, a usar indiscriminadamente essa nova
técnica, através da queima de grandes
quantidades de carvão, lenha e, depois, óleo
combustível. Com isso, a atmosfera dos centros
industriais que vão se desenvolvendo torna-se
insalubre, perigosa para a saúde. Havia uma
grande quantidade de fuligem em suspensão e
compostos de enxofre, nocivos ao sistema
respiratório e à saúde em geral.
Em 1829, surge a primeira locomotiva e, com
ela, as estradas de ferro. A partir daí, para se
chegar ao sistema de transportes atual, foi uma
contínua evolução tecnológica. Nasce, então,
um grande grupo de poluidores do ar, os veí-
culos automotores.
A POLUIÇÃO DO AR É PERIGOSA?

Embora muito desagradáveis, os odores


existentes nas cidades medievais não eram, por
si só, tóxicos. Com a intensificação da queima
de combustíveis, no entanto, começaram a ser
lançados elementos muito nocivos à saúde.
Com isso, a poluição do ar deixou de ser um
problema básico de bem-estar, passando a
representar, também, um risco real à
população.
No início, esse risco estava quase limitado aos
trabalhadores locais, como, por exemplo, os
operários das minas de carvão. Eram fre-
qüentes entre esses operários, mortes em
acidentes de trabalho ou intoxicações pelo ar
insalubre do interior das minas. Com a
intensificação da atividade industrial, esses
episódios deixaram de ser localizados, tendo,
assim, uma abrangência maior, e passaram a
atingir toda a população das cidades.
Já neste século, os centros urbanos adquirem
um novo panorama. Tornam-se cada vez maio-
res e mais populosos. A utilização de veículos
automotores é crescente. Com isso surgem os
chamados episódios críticos de poluição do ar, em
diversas partes do mundo, alguns dos quais
fazem muitas vítimas.
O mais antigo episódio crítico de poluição do ar
conhecido ocorreu muito antes da Revolução
Industrial, no ano de 1283. Nessa época, em
algumas cidades da Inglaterra, a lenha tornou-
se escassa. A fim de substituí-la era comum o
uso de carvão mineral para aquecimento.
Acontece que, ao ar livre, esse combustível
fóssil não atinge uma queima completa,
produzindo grande quantidade de fuligem. Na-
quele ano, na cidade de Nottingham, a
quantidade de fumaça negra era tão grande
que a rainha, Eleanor de Castela, esposa do rei
Eduardo I, se viu obrigada a abandonar a
cidade. O rei Eduardo decretou, então, leis que
proibiam a queima de carvão mineral. Consta
nos arquivos históricos que um homem chegou
a ser decapitado por desobedecer a esse édito
real.

EPISÓDIOS CRÍTICOS DE POLUIÇÃO DO AR

Apesar das referências históricas a algumas leis


de controle atmosférico, só muito recentemente
é que surgiu a preocupação generalizada com a
poluição do ar. A partir de alguns acidentes
ocorridos, vários deles com vítimas fatais, a po-
pulação vem progressivamente se
conscientizando de que a poluição do ar é um
problema real. Os governantes sentiram que
devem existir (e ser cumpridas) normas rígidas
de controle da poluição. O meio científico
também decidiu estudar mais profundamente
esse fenômeno, até então pouco conhecido.
O primeiro desses acidentes ocorreu na Bélgica,
no vale do Rio Meuse, de 1º a 5 de dezembro de
1930. Uma espessa névoa cobriu essa zona
industrial e a população foi acometida por
sintomas como tosse, dores no peito,
dificuldade em respirar, irritação na mucosa
nasal e nos olhos. Ao final de 5 dias, cerca de
sessenta pessoas haviam morrido, a maioria
idosos ou com doenças cardíacas ou pulmo-
nares. Centenas de outras pessoas ficaram
enfermas. Tudo isso como decorrência da
combinação de vários poluentes gasosos, asso-
ciados à alta umidade relativa do ar. Eles
formaram substâncias altamente tóxicas, como
por exemplo o ácido sulfúrico, gerado pela
combinação do dióxido de enxofre (emitido em
altas concentrações) com a água da atmosfera.
Em 1948, na cidade de Donora, nos Estados
Unidos, cerca de 43% da população
(aproximadamente 4 mil pessoas) foi acometida
de uma enfermidade caracterizada por irritação
nos olhos e mucosas das vias respiratórias. A
presença conjunta de material particulado e
dióxido de enxofre, de origem industrial, foi
responsável por esse fenômeno, que durou 5
dias, deixando vinte mortos.
No Brasil, o caso mais célebre foi registrado em
Bauru, Estado de São Paulo, em 1952. Uma
indústria extrativa de óleos vegetais lançou
grande quantidade de pó de mamona no ar,
provocando o registro de 150 casos de doenças
respiratórias agudas (bronquites e afecções
alérgicas), com nove óbitos.
Também no ano de 1952, em Londres, houve
um fato que se tornou muito famoso pela sua
gravidade. Esse fato decorreu da ação com-
binada de partículas em suspensão de dióxido
de enxofre. No intervalo de 4 dias, entre 5 e 8
de dezembro, a cidade se viu coberta por uma
névoa mais espessa e escura que a habitual. A
principal causa foram as chaminés das
indústrias locais. Esse episódio ficou conhecido
como "Névoa Negra". Aparentemente não
estava acontecendo nada de diferente. Os
londrinos contraíram algumas moléstias,
principalmente aqueles que já sofriam de
problemas pulmonares ou circulatórios. Ao
final, porém, analisando as curvas de
mortalidade na cidade, os funcionários do
Registro Civil constataram que, na semana que
se seguiu ao episódio, ocorreram 4 mil mortes a
mais do que o esperado. A constatação se deu
pela comparação com os anos anteriores, no
mesmo período. A curva de mortalidade só veio
a se normalizar 2 meses depois, quando já se
havia acumulado um total estimado de 8 mil
mortes além do esperado.
Ainda na década de 50, aconteceram outros
fatos de certa gravidade. Eles contribuíram
para que, enfim, surgisse uma preocupação real
com a contaminação atmosférica. Nos Estados
Unidos ocorreram incidentes em Nova Iorque
(1953), Nova Orleans (1955) e Mineápolis
(1956). Há ainda o caso de Poza Rica, no
México, em 1955, provocado pelo lançamento
acidental de uma grande quantidade de gás
sulfídrico por uma indústria. O episódio durou
25 minutos, mas foi o suficiente para deixar
320 pessoas hospitalizadas e causar 22 mortes.
Em 1986 houve a explosão acidental do reator
nuclear da Usina de Chernobyl, na Ucrânia
(antiga República Soviética). Ela provocou o
maior acidente nuclear do gênero. No momento
da explosão, ocorreram 31 mortes. Porém,
cerca de duzentas pessoas foram, poste-
riormente, contaminadas pela poluição
atmosférica, na forma de uma nuvem de
radiação, que estendeu seus efeitos a enormes
distâncias. Os 135 mil habitantes da região
tiveram de sair de suas casas por tempo
indeterminado. Formou- se uma imensa nuvem
radioativa que cobriu todo o centro-sul da Eu-
ropa, nas semanas seguintes, causando danos
incontáveis à economia. A produção
agropecuária dessa região foi a que sofreu
maiores danos com a contaminação.
Além dessas ocorrências, muitos outros
períodos de altos índices de poluição têm sido
verificados em algumas grandes cidades do
mundo. Destacam-se a Cidade do México, Los
Angeles, Detroit, São Paulo, Londres, Tóquio e
Osaka, entre outras. Nessas metrópoles,
mesmo quando não são registrados episódios
indiscutivelmente críticos, com ocorrência
comprovada de mortes, os índices de qualidade
do ar são geralmente tão ruins que seus
habitantes se encontram, permanentemente,
sujeitos a uma maior freqüência de doenças
cardiorrespiratórias. Embora seja difícil de com-
provar, é certo que os moradores dos grandes
centros urbanos têm uma expectativa de vida
menor, especialmente aqueles já propensos às
doenças cardiorrespiratórias.
Para amenizar esse mal, nos períodos mais
críticos, as autoridades governamentais se
vêem forçadas a tomar atitudes radicais de
controle. É o que ocorre, por exemplo, no inver-
no, na cidade de São Paulo, onde
eventualmente é proibido o tráfego de veículos
particulares na área central. Na Cidade do
México, em 1992, o governo obrigou cerca de
1,2 milhões de automóveis a permanecer na
garagem. Mais de duzentas indústrias foram
forçadas a reduzir sua atividade em 75%, como
medida emergencial, a fim de minimizar a
concentração de ozônio na atmosfera, que se
tornou bastante alarmante.

4
AS FONTES DE POLUIÇÃO DO AR

Grande parte das atividades do dia-a-dia nas


grandes cidades gera poluição do ar. Mas as
pessoas não se dão conta disso. Ao fazer um
churrasco, dirigir um automóvel ou pintar uma
casa, qualquer um de nós está contribuindo
para a contaminação da atmosfera. Embora a
contribuição individual pareça ter importância
muito menor que a poluição causada por uma
grande indústria, isso não acontece. Tomemos
o exemplo de um automóvel. Se pensarmos que
em uma grande metrópole existem alguns
milhões de veículos, para centenas (ou no
máximo milhares) de indústrias, poderemos
notar que pequenas e numerosas fontes de
poluição podem adquirir a mesma importância
das fontes de maiores proporções, embora
isoladas. Além disso, as indústrias podem estar
localizadas em lugares distantes, enquanto os
veículos tendem a concentrar-se nas áreas de
maior densidade populacional.
Finalmente, diferentes fontes de poluição do ar
produzem poluentes com características
também distintas. E possível, portanto, a
classificação de contaminantes conforme a sua
origem.

A QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS

Sem dúvida alguma, a principal origem dos


contaminantes atmosféricos está na queima de
combustíveis: fósseis (petróleo, gás natural e
carvão mineral) ou recicláveis (lenha, álcool
etc.).
Qualquer que seja o combustível orgânico
utilizado, os produtos finais da combustão
serão sempre dióxido de carbono (CO 2 ) e vapor
de água. No entanto, para se obter a queima
total de algum elemento, são necessárias
algumas condições ideais (como a disponi-
bilidade de oxigênio), que nem sempre ocorrem
na prática, nas indústrias e nos motores dos
veículos.
Não havendo a combustão completa, acabam
sobrando alguns subprodutos que vão constituir
perigosos poluentes atmosféricos. Uma
categoria desses poluentes é representada
pelos álcoois, aldeídos, ácidos orgânicos e
hidrocarbonetos. Em conjunto, eles recebem a
denominação genérica de hidrocarbonetos (HC),
isto é, compostos orgânicos voláteis que não
contêm nitrogênio. Esses resíduos são, na
verdade, uma parte da molécula do
combustível original. Assim, por exemplo, na
queima completa de uma molécula do gás
propano, são consumidas cinco moléculas de
oxigênio, transformando-o em gás carbônico e
vapor de água. Se, entretanto, a oxigenação
não for completa, ou não havendo tempo
suficiente para se completar a reação, poderão
formar-se vários outros compostos, além do gás
carbônico, tais como o eterno, aldeídos ou
álcoois. Ao se desprender na atmosfera, eles
constituem poluentes importantes.
Um composto altamente nocivo, resultante da
queima incompleta de combustíveis, é o
monóxido de carbono (CO). Extremamente
tóxico, ele se forma em lugar do gás carbônico
(CO 2 ). O monóxido de carbono também é um
resíduo do combustível que não se queimou
inteiramente. Mas não pode ser chamado de
hidrocarboneto, pois não tem hidrogênio na sua
composição, além de possuir propriedades
bastante distintas.
Quando se queimam combustíveis fósseis,
principalmente aqueles mais pesados, como
carvão e óleo combustível, também são quei-
mados

Uma das maiores fontes


emissoras do perigoso
monóxido de carbono são os
motores a gasolina.

compostos de enxofre, que são impurezas


desses combustíveis. O carvão mineral, por
exemplo, possui às vezes mais de 3% do seu
peso em enxofre, e o petróleo tem uma média
de 0,05% desse elemento em sua composição.
Quando se utiliza o combustível, essa parcela
de enxofre também se oxida, formando o
dióxido de enxofre (SO 2 ) e outros óxidos
sulfurosos (SO, SO 3 ).
O oxigênio necessário para qualquer
combustão, via de regra, é extraído do próprio
ar atmosférico. Nele existem mais de três
moléculas de nitrogênio para cada uma de
oxigênio. Quando submetido a uma condição de
alta temperatura e pressão, uma pequena
parcela do nitrogênio molecular tende a se oxi-
dar, formando óxidos de nitrogênio (NO, NO 2 ,
NO 3 ), que são, também, poluentes. Essa
condição favorável à oxidação do nitrogênio
ocorre nos motores de combustão interna,
principalmente os do tipo diesel.
Todos os poluentes que são lançados
diretamente pelas indústrias, veículos ou
operações de queima são denominados
poluentes primários. A partir deles, ocorrem
reações na atmosfera, segundo determinadas
condições de temperatura, umidade e radiação
solar. Formam-se, assim, novos poluentes, que
são denominados secundários.

CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES

Classificar os poluentes, segundo a sua origem,


é útil quando a finalidade é conhecer as fontes
de poluição, para controlá-las. Mas, se o
objetivo é estudar o efeito desses poluentes
sobre as pessoas ou ambientes naturais, é
necessário classificá-los de acordo com sua
composição química.
A seguir fornecemos uma relação dos principais
compostos químicos presentes no ar das cida-
des mais comprometidas pelas atividades
industriais e pelos veículos automotores. Isso
independentemente dos efeitos nocivos que
essas substâncias possam produzir sobre os
organismos animais e vegetais. Esses efeitos
serão considerados no próximo capítulo.
COMPOSTOS SULFUROSOS

Os compostos sulfurosos (que contêm enxofre),


como já foi visto, podem ser originados pela
queima de combustíveis fósseis, formando-se
óxidos de enxofre (particularmente o SO 2 ).
Ativado ao absorver a radiação solar, o SO 2
(dióxido de enxofre) transforma-se em SO 3
(trióxido de enxofre), que, por sua vez, em
ambientes de alta umidade, passa a H 2 S0 4
(ácido sulfúrico), que é fortemente corrosivo e
tóxico.
O gás sulfídrico (H 2 S), de um modo geral, tem
origem na atividade biológica de decomposição
de matéria orgânica por processo anaeróbio. É
o que acontece, por exemplo, em rios
altamente poluídos por esgotos domésticos.
Uma vez na atmosfera, o gás sulfídrico, em
combinação com o ozônio, pode ser oxidado a
SO 2 , constituindo, também, uma fonte desse
poluente.

COMPOSTOS NITROGENADOS

Os óxidos de nitrogênio (NO, monóxido; NO 2 ,


dióxido) são formados pelas reações de
combustão em alta temperatura. Geralmente
em motores de combustão interna. Por efeito
de intensa radiação solar, o NO oxida-se a NO 2 ,
sendo que, na ausência dessas radiações, a
reação pode ser reversível.
Outra classe de compostos nitrogenados que
freqüentemente contamina a atmosfera das
cidades é a amônia (NH 3 ), bem como seus
derivados. Ela pode ser obtida por ação
biológica de decomposição ou por processos da
indústria química e de fertilizantes.

COMPOSTOS ORGÂNICOS

Os compostos orgânicos são genericamente os


hidrocarbonetos, álcoois, aldeídos, ácidos
orgânicos e muitos outros elementos que pos-
suem carbono como elemento básico de suas
moléculas. Suas características variam muito
de acordo com sua origem.
A queima parcial de combustível é responsável
por apenas uma parcela desses compostos. A
evaporação de combustíveis e solventes
representa, talvez, a segunda maior fonte de
compostos orgânicos, que podem resultar em
subprodutos da indústria química e
farmacêutica.
A decomposição de resíduos orgânicos
acumulados em depósitos de lixo ou em rios
com grande carga de esgotos leva à formação
de metano (CH 4 ). Trata-se de um
hidrocarboneto pouco tóxico, mas que serve de
base para a formação de poluentes
secundários, por reações atmosféricas.
ÓXIDOS DE CARBONO

O produto final de toda combustão é o gás


carbônico (CO 2 ). Embora não-tóxico, esse gás
traz problemas ambientais (o efeito estufa, por
exemplo) que serão vistos adiante.
Entretanto, quando o oxigênio necessário à
combustão é insuficiente, o resultado é a
formação, como já foi mencionado, do monó-
xido de carbono (CO). Além de ser um dos mais
perigosos tóxicos respiratórios, é um dos
poluentes gasosos mais comumente
encontrados nas grandes cidades. Sua principal
fonte são os motores dos veículos em atividade.
Além disso, o CO também possui origem
secundária. Nesse caso, por ação do ozônio (O 3 ),
o metano ao ser oxidado dá lugar à formação
do formaldeído. Por sua vez, ao ser decomposto
por ação da luz, o formaldeído origina o monó-
xido de carbono.

OXIDANTES FOTOQUÍMICOS

Na atmosfera, a presença da luz solar em


elevada intensidade e, principalmente, de
radiações ultra-violeta provoca reações
químicas denominadas fotoquímicas. Essas
reações ocorrem na presença de alguns
poluentes, tais como óxidos de nitrogênio e hi-
drocarbonetos. Assim, elas vão dar origem a
uma série de outros compostos, entre os quais
o ozônio (O 3 ). Esses compostos de origem
fotoquímica têm como característica, em geral,
uma elevada capacidade oxidante, sendo por
isso denominados oxidantes fotoquímicos.
A presença do ozônio pode ser benéfica ou
nociva, dependendo do lugar em que se
encontre. Nas altas camadas atmosféricas,
onde não há o contato com seres vivos, ele é
benéfico, pois retém a maior parte dos raios
ultravioleta do Sol. Isso impede que essas
radiações cheguem até nós em elevada inten-
sidade, o que seria nocivo à vida terrestre em
geral. Porém, quando acumulado junto à
superfície, como resultado da poluição e das
reações fotoquímicas, o ozônio é prejudicial à
saúde e à conservação de certos materiais,
como será visto no próximo capítulo.

Material Particulado

Toda emissão atmosférica não-gasosa é


genericamente denominada material particulado.
Ele pode, portanto, ter as mais diversas
origens. A mais elementar fonte de material
particulado é a simples suspensão de poeira
por ação do vento ou do tráfego de veículos em
vias não pavimentadas.
A queima de combustíveis, como óleo e carvão,
também produz grandes volumes de partículas
de carbono, que podem ou não carregar
consigo outros elementos: hidrocarbonetos,
metais etc.
Muitas indústrias — como as de cimento,
fertilizantes e siderúrgicas — lançam no ar
partículas tóxicas ou inertes.
Matérias em estado líquido, como, por exemplo,
as gotículas de água que formam as nuvens e
nevoeiros, também podem manter-se em
suspensão no ar. Elas constituem, assim, uma
forma de material particulado que recebe a
denominação específica de aerossóis. Em muitos
casos esses aerossóis estão associados a
materiais de origem industrial, bem como a
processos de combustão em geral ou, ainda, à
aplicação de agrotóxicos nas plantações.
Nesses casos, as gotículas líquidas poderão
conter partículas de carbono ou substâncias
tóxicas diversas e, até mesmo, microrganismos
patogênicos.

A S FONTES NATURAIS DE POLUIÇÃO

Foram citadas diversas fontes de poluição entre


as atividades do homem moderno. No entanto,
existem fontes naturais de poluição do ar. São
processos que ocorrem sem a interferência
humana, mas que contribuem para alterar as
características da atmosfera em uma dada
região, dificultando a manutenção da vida em
condições normais.
A quantidade de poluentes emitidos pelas
fontes naturais é enorme, podendo estender-se
a grandes áreas da superfície da Terra. Porém,
ao contrário da "poluição artificial", ela não é
normalmente gerada em áreas de grande
concentração humana, como ocorre nas
cidades.
A mais genérica fonte natural de poluição do ar
é o vento. Ele suspende partículas do solo ou
gotículas de água salgada do mar. Esse
material inerte pode provocar desde pequenos
incômodos e irritações no sistema respiratório
até riscos reais à sobrevivência. Um exemplo
são as temíveis tempestades de areia, que por
vezes assolam regiões desérticas como o Saara.
Também são transportadas pelo vento
partículas ditas viáveis, isto é, capazes de
manter-se vivas. É o caso dos grãos de pólen;
microrganismos, como bactérias e fungos
(mofos); pequenas sementes e insetos. Essas
partículas, quando aspiradas, causam muitos
problemas ao organismo, principalmente em
pessoas mais sensíveis. São exemplos disso a
febre do feno, uma terrível reação alérgica ao
pólen; a asma brônquica, as infecções micóticas
e as mais variadas enfermidades bacterianas
ou viróticas transmitidas através do ar.
Charles Darwin, em seu famoso livro Viagem de
um naturalista ao redor do mundo, relata que em
pleno Oceano Atlântico ocorrem nuvens de
poeira vindas do continente africano. Elas
chegam a escurecer o espaço, dificultando a
navegação e produzindo irritação nos olhos.
Essa poeira é, em grande parte, formada por
microrganismos.
Restrita a acontecimentos isolados, mas sem
dúvida a mais perigosa, é a contaminação do ar
provocada pelas erupções vulcânicas. Com
grande área de abrangência, a atividade
vulcânica emite gases altamente tóxicos,
compostos de enxofre, e imensa quantidade de
partículas em suspensão (cinzas).
Pela emissão de gases tóxicos, um vulcão pode
provocar a morte de pessoas e animais que es-
tejam próximos à sua área de atividade. As
cinzas, ao se espalharem, cobrem as
imediações com camadas que, às vezes,
atingem vários metros de espessura. O mais
famoso caso de erupção vulcânica ocorrido na
história teve como cenário o Vulcão Vesúvio, no
antigo Império romano, na cidade de Pompéia.
Ao entrar em erupção ele cobriu totalmente a
cidade com suas cinzas. Muitos séculos depois,
ao se realizarem escavações no local,
descobriu-se que Pompéia estava quase
intacta, inclusive com impressões deixadas
pelos habitantes, que morreram sufocados.
Exames permitiram constatar que, apesar da
grande quantidade de cinza que os soterrou, os
habitantes de Pompéia foram mortos pelos
gases tóxicos que antecederam a queda de um
inimaginável volume de partículas.
Vulcões em erupção podem provocar enormes
descargas de poluentes na atmosfera.

Caso de menor gravidade, mas não menos


importante, ocorreu em 1991, com a erupção
do Vulcão Hudson, na Cordilheira dos Andes,
em território chileno. O vento, que soprava
para leste, levou as partículas em direção à
Argentina. Essas partículas acabaram se
depositando numa região agrícola, nos Pampas,
destruindo grandes áreas cultivadas e
provocando a morte de milhares de cabeças de
gado, especialmente ovinos. Isso obrigou
centenas de pessoas a evacuarem a região.
Vimos que as grandes erupções vulcânicas,
mesmo quando não causam catástrofes ao seu
redor, lançam no ar uma quantidade enorme de
cinzas. Isso provoca a redução da transparência
da atmosfera, pois limita a penetração dos
raios solares. Além disso, há uma queda da
temperatura média da Terra. Hoje, existem
fortes evidências de que a enigmática extinção
dos grandes dinossauros do Jurássico, assim
como de grande parte da fauna e da flora
existentes na época, teve sua causa no
levantamento de uma nuvem ex-
traordinariamente grande de materiais
particulados da Terra. Isso aconteceu em
conseqüência do impacto de um meteoro ou
cometa contra a sua superfície. Essa nuvem,
entre outros efeitos, teria provocado a redução
da temperatura e o escurecimento do planeta.
Além disso, ela impediu a fotossíntese durante
um longo período de tempo.
Além dos fenômenos de vulcanismo, outras
ocorrências naturais podem estar associadas à
produção de substâncias que alteram a
composição normal da atmosfera. As descargas
elétricas dos raios constituem a principal fonte
de ozônio. Geralmente ele é formado nas altas
camadas da atmosfera, mas, muitas vezes, se
localiza nas áreas baixas, somando-se àquele
que foi gerado a partir dos poluentes artificiais.
A atividade biológica de decomposição
anaeróbia de matéria orgânica (que
normalmente ocorre em rios poluídos por
esgotos das cidades) pode também ter ocorrên-
cia natural, como, por exemplo, nos pântanos.
Nesse caso, são desprendidos gases, como o
gás sulfídrico (H 2 S) e o metano (CH 4 ). Mesmo o
monóxido de carbono (CO) também tem sua
origem natural — nesse caso nas águas
oceânicas — por decomposição muito rápida de
organismos marinhos nos momentos de maior
radiação solar.
5
OS EFEITOS DA POLUIÇÃO DO AR

Os efeitos da presença de poluentes na forma


de gases ou de partículas no ar atmosférico va-
riam muito, quer em qualidade, quer em
quantidade. Em geral, podemos classificar
esses efeitos em estéticos, irritantes e tóxicos.
Porém, um poluente atmosférico quase nunca
exerce apenas um desses inconvenientes. Um
mesmo gás pode ter efeito irritante e tóxico,
assim como um material particulado pode
exercer efeitos estéticos e irritantes.

EFEITOS ESTÉTICOS

São chamados "efeitos estéticos" as simples


alterações da aparência do ar que nos envolve.
Essas alterações são geralmente causadas pela
presença de vapores, fumaças, poeiras ou
aerossóis emitidos por ações naturais ou
humanas. Por extensão, incluem-se aí outros
efeitos que afetem negativamente os nossos
sentidos, como o mau odor produzido por
certos gases.
O efeito estético pressupõe que o homem
prefira o ar transparente e inodoro. Apesar
disso, os próprios fatores meteorológicos
freqüentemente deixam de proporcionar essas
condições desejáveis. Assim, a nenhum de nós
é agradável a visão de uma paisagem enfu-
maçada ou a presença de simples vapor de
água lançado em grande quantidade pelas
chaminés de uma fábrica. Também não nos é
agradável a neblina, que se forma natu-
ralmente por condensação do vapor
atmosférico, ou as nuvens densas de um dia
chuvoso.
Por outro lado, por mais que alguém goste de
perfumes, seria intolerável viver por muito
tempo em um local fortemente aromatizado,
como a vizinhança de uma perfumaria. Além
disso, o gosto estético é subjetivo, isto é, varia
muito de uma pessoa para outra, em uma
mesma comunidade. Mas há um padrão mínimo
que precisa ser respeitado. Assim, a fumaça e
os odores desagradáveis constituíram, desde
muitos séculos atrás, os primeiros efeitos da
poluição a serem controlados por lei. Em alguns
casos, aqueles que transgrediam essas leis
eram punidos com a morte.

A fumaça e o mau cheiro estão entre os efeitos


mais sensíveis da poluição atmosférica. Mesmo
não sendo os mais nocivos, costumam provocar as
maiores reações da população
O fato de o efeito estético estar relacionado aos
sentidos faz com que as pessoas dêem a ele um
valor muito maior do que a efeitos bem mais
nocivos, como são os efeitos tóxicos. E
desagradável para nós, por exemplo, a cena de
um caminhão lançando pelo seu escapamento
uma grande quantidade de fumaça negra. Isso
ocorre em conseqüência da falta de regulagem
— muitas vezes proposital — do seu injetor de
óleo diesel. No entanto, se considerarmos bem,
essa fumaça, constituída principalmente de
partículas de carbono inertes, é muito menos
prejudicial à saúde do que os gases invisíveis e
inodoros, como o monóxido de carbono. Essa é
uma das substâncias mais perigosas
encontradas no ar. Também ela é emitida pelos
motores a diesel e, em maior quantidade, pelo
automóvel a gasolina. É claro que esses efeitos
estéticos provocados pela fumaça dos
caminhões e das chaminés têm de ser
controlados, sob pena de vivermos em um
ambiente desagradável e sujo. Além disso, essa
fumaça pode prejudicar a visibilidade, causando
acidentes. E necessário que tenhamos em
mente uma escala de prioridades em que os fato-
res de nocividade à saúde devem ocupar o
lugar de destaque.
Alguns gases exalados por indústrias ou por
matérias em decomposição (como lixo, esgotos
e rios poluídos) podem ser fortemente in-
cômodos. Entre eles destacam-se o gás
sulfídrico ou sulfeto de hidrogênio e as
mercaptanas.
O gás sulfídrico tem como característica o forte
odor de ovos podres. Na verdade os ovos
quando apodrecem formam gás sulfídrico a
partir da decomposição de compostos
sulfurosos que possuem, assim como nos
esgotos. Nas águas poluídas, o gás sulfídrico é
formado por redução de sulfatos da água,
realizada por bactérias em ambiente sem
oxigênio. Pode-se dizer que essas bactérias,
não dispondo de oxigênio para respirar,
retiram-no dos sulfatos, reduzindo-os a sulfeto.
Uma peculiaridade do gás sulfídrico está no
fato de exercer efeito anestésico sobre as
células responsáveis pelo nosso olfato. Por isso,
só sentimos seu odor quando em concentrações
muito baixas. Nas altas concentrações, quando
ele é fortemente tóxico, isso não acontece, o
que o torna muito mais perigoso.
As mercaptanas são álcoois que contêm
enxofre em sua molécula. São as substâncias
de odor mais ativo que se conhece. Elas podem
ser sentidas mesmo quando em concentrações
ínfimas no meio ambiente. Esse odor é seme-
lhante ao de cebolas podres.
Alguns animais possuem glândulas que
produzem uma secreção contendo
mercaptanas, utilizada para afugentar os
inimigos. O gambá está entre esses animais. O
odor que ele emite quando perseguido é tão
forte que um cão caçador desiste de atacá-lo. É
fácil imaginar, pois, o incômodo provocado por
certas indústrias como, por exemplo, as
fábricas de celulose para a produção de papel.
Elas lançam pelas chaminés mercaptanas,
juntamente com outros gases, que poluem de
forma intensa o ambiente.
EFEITOS IRRITANTES

Todos nós, provavelmente, já sentimos os olhos


arderem quando diante de uma lareira ou uma
fogueira acesa com lenha não muito seca,
ainda verde. A diferença, nesse caso, entre a
fumaça exalada pela queima de madeira seca e
da lenha verde é que, na última, existem pe-
quenas quantidades de aldeídos,
principalmente o aldeído fórmico, também
conhecido por formol. Antigamente, quando
ainda não eram usadas as geladeiras
domésticas, era costume pendurar carnes e pei-
xes no fumeiro, sobre o fogão a lenha, para
serem defumados e, assim, conservados. O
formol produzido pela lenha verde é o mesmo
que, em solução líquida, é usado para a
conservação de espécimes vegetais e animais
nos museus e laboratórios de biologia.
Muitas indústrias, bem como automóveis em
atividade, emitem aldeídos juntamente com
outros gases resultantes da queima de lenha e
outros tipos de combustível. Os automóveis
movidos a álcool, por exemplo, apesar de
produzirem menos monóxido de carbono que os
carros a gasolina, emitem mais aldeídos. Assim,
embora os gases do escapamento de um carro
a álcool sejam menos tóxicos, eles são mais
irritantes para os olhos e vias respiratórias. Por
isso é que, em dias de pouca movimentação do
ar, em que os gases tendem a se acumular pró-
ximo à superfície do solo, sentimos os olhos
arderem e a garganta irritada. Essa irritação
pode estender- se aos brônquios, isto é, às vias
que conduzem o ar até os pulmões. Ela assume
um caráter mais grave principalmente nas
pessoas idosas ou naquelas que possuem
problemas alérgicos, afecções pulmonares,
bronquites ou asma.
O material particulado, isto é, o conjunto de
partículas sólidas e líquidas existente em
suspensão no ar, na forma de poeiras e
aerossóis, também pode exercer efeito irritante
sobre as mucosas que revestem as vias
respiratórias. Todos nós temos elementos e
mecanismos que nos protegem da ação dessas
partículas. Por exemplo, os pêlos que revestem
a mucosa interna do nariz, assim como o muco
secretado pelo revestimento das vias
respiratórias, bem como os cílios encontrados
no interior dos brônquios. Além disso, existem
no sangue células especiais que fagocitam, isto
é, envolvem as partículas, isolando-as do
organismo.
Esses mecanismos são necessários porque o ar
— mesmo nas regiões não poluídas — sempre
possui poeira, grãos de pólen, esporos (que são
as células reprodutoras de fungos e outros
microrganismos) etc. Sempre que a quantidade
de partículas no ar é muito grande, os
mecanismos de defesa tornam-se insuficientes.
Com isso, elas passam a exercer um efeito ir-
ritante, causando tosse ou agravando as
bronquites e outras afecções respiratórias.
Também nesse caso, as pessoas portadoras de
deficiências respiratórias ou alergias sofrem
mais seus efeitos, que podem causar doenças
graves.

EFEITOS TÓXICOS

Numa certa região ao sul da Itália está


localizada uma caverna de origem vulcânica
chamada "Gruta do Cão". Esse nome surgiu de
um fenômeno muito interessante, mas trágico
para os cães. Em algumas ocasiões, essa gruta
é invadida por certa quantidade de gás
carbônico vulcânico. Como esse gás é mais
pesado que o ar, tende a se acumular junto ao
solo, formando uma camada de poucos centí-
metros de altura.
O gás carbônico não é propriamente venenoso,
mas ocupa o lugar do oxigênio. Dessa forma, se
uma pessoa ou animal ficar em um ambiente
que contenha uma grande quantidade desse
gás, certamente morrerá por asfixia, isto é, por
falta de oxigênio. Assim sendo, quando alguém
penetra na gruta, acompanhado de seu cão,
este, sendo mais baixo, começa a sentir-se mal.
Caso o animal não seja levantado do chão,
pode morrer em poucos minutos.
A catástrofe ocorrida há poucos anos na cidade
africana de Nyos, citada no início deste livro, foi
semelhante ao fenômeno da Gruta do Cão.
Como o Lago Nyos situa-se na montanha, em
um ponto mais alto do que a cidade, o gás car-
bônico que dele se desprendeu, juntamente
com vapor de água, sendo mais pesado que o
ar, desceu para o vale, asfixiando seus
habitantes.
Nem sempre, porém, o efeito de gases tóxicos
é assim catastrófico. Um grande número deles
é utilizado em operações industriais ou se
forma como resultado da combustão e outras
reações químicas. Assim, seja acidentalmente,
seja por emissão normal, através de chaminés
e tubos de escapamento, esses gases podem
estar presentes na atmosfera das cidades em
maior ou menor proporção.
A presença dessas substâncias nocivas em
baixas concentrações no ar que respiramos é,
de certo modo, mais perigosa, atingindo um
número muito maior de pessoas do que em
concentrações elevadas como nos casos
mencionados. A intoxicação causada por
substâncias dispersas no meio ambiente — ar,
para os seres terrestres, e água, para os de
respiração aquática — é diferente daquela
causada pela ingestão de um veneno. Nesse
último caso, a dose ingerida é a responsável
pelo efeito, enquanto no caso de poluição o
importante é a concentração do veneno e o seu
tempo de contato com o ser vivo. Assim, uma
substância tóxica, mesmo que esteja presente
em pequena proporção no ar, pode tornar-se
altamente perigosa pelo fato de as pessoas
estarem constantemente respirando nesse
ambiente.
Paracelso, famoso alquimista e médico suíço,
cujo nome verdadeiro era Philippus Aureolus
Teophrastus Paracelsus (1493-1541), disse em
um de seus livros que "a quantidade faz o
veneno". Assim como qualquer substância
absorvida em grande quantidade pode fazer
mal, uma substância conhecida como muito
venenosa, mas consumida em quantidade
muito pequena, não causa nenhum dano.
COMO SÃO ABSORVIDOS OS TÓXICOS DO AR

Normalmente, os poluentes atmosféricos


entram no organismo por via respiratória. Mas a
forma de penetração de uma substância gasosa
é diferente da penetração de partículas. Assim
como são diferentes, também, as formas de
defesa do organismo contra esses poluentes.
No processo respiratório normal, é nos alvéolos
pulmonares que ocorre a troca gasosa do oxi-
gênio por gás carbônico. Esses alvéolos são
constituídos de uma membrana semipermeável.
Ela permite a passagem de vapor de água e
outras substâncias, além do oxigênio e do gás
carbônico. Para que o ar que inspiramos atinja
os alvéolos em condições ideais de temperatura
e umidade, ele passa antes pelas vias aéreas
superiores.
As vias aéreas superiores, graças à densa rede
de capilares sangüíneos que as irriga, têm a
propriedade de aquecer rapidamente o ar, à
medida que ele é inspirado. Além disso, a
intensa secreção de muco aumenta o teor de
umidade desse ar inspirado. Uma grande parte
dos poluentes — principalmente os particulados
— fica retida nessas vias superiores, não
chegando a atingir os pulmões.
Para as substâncias em estado gasoso, a
eficiência desse sistema de retenção depende
de sua solubilidade. Se o gás for muito solúvel
em água, ele fica retido em maior proporção.
Caso essa solubilidade seja baixa, ele segue
diretamente até os pulmões, entrando em
contato com os alvéolos e o sangue. Mas isso
pode provocar lesões no organismo.
Curiosamente, as substâncias mais solúveis —
e, portanto, menos perigosas — são as mais
irritantes. Ao serem solubilizadas, elas não
penetram nos sistemas respiratório e
circulatório, sendo facilmente expelidas com o
muco. Apesar disso podem exercer ação
irritante local, pela formação de ácidos ou
álcalis. Um exemplo é o aldeído fórmico, já aqui
mencionado, que irrita muito o nariz e os olhos,
provocando um grande aumento de secreções e
causando espirros. Esse aumento das secreções
não só torna mais eficaz a retenção do
poluente, como também provoca desconforto,
servindo de alerta no sentido de prevenir o
organismo de que aquele ambiente não é muito
adequado à respiração.
Já as substâncias menos solúveis, como o gás
cloro, são mais perigosas, pois não são retidas
nas vias superiores. Assim, embora elas possam
ser inaladas sem causar mal-estar, provocam
irritações profundas ao entrar em contato com
áreas nobres do organismo, como os pulmões e
o sangue. Essas irritações chegam a causar até
mesmo a morte.
O material particulado também penetra no
organismo por caminho idêntico. Ele sofre as
mesmas ações de retenção já descritas. Nesse
caso, porém, não é a solubilidade que
determina seu grau de perigo, mas sim o tama-
nho das partículas. Uma partícula aspirada, ao
se chocar com a mucosa das vias superiores,
revestida de uma película de muco aquoso,
pode ficar ali retida, causando forte irritação.
Posteriormente ela é expelida através da tosse
ou do espirro. Quanto maior for a partícula,
mais facilmente ela será retida na mucosa e
maior será a irritação que ela produz.
Em geral, grande parte das partículas com
diâmetro superior a 8 micrometros (isto é, 8
milésimos de milímetro) fica retida nas vias
superiores, enquanto as menores chegam até
os pulmões. Assim, embora as partículas de
maior tamanho sejam mais irritantes, provo-
cando tosses e espirros, as menores, por sua
vez, são as mais nocivas, pois causam danos
aos alvéolos. As doenças causadas por
partículas de poeira sobre os alvéolos pulmona-
res recebem o nome genérico de
pneumoconioses.
Partículas muito pequenas, com diâmetro
inferior a 1 micrometro, são muito perigosas.
Elas se desprendem em um grande número de
operações nas indústrias de fundição em areia,
em fábricas de vidro ou de objetos de amianto
e, também, em atividades de mineração. Além
de permanecerem por muito mais tempo em
suspensão no ar, chegam com facilidade aos
pulmões. Elas são suficientemente pequenas
para atravessar os alvéolos e penetrar na
corrente sangüínea. Com isso, atingem pratica-
mente todos os órgãos, provocando diversos
tipos de enfermidade, conforme a sua
composição e poder tóxico. Seja qual for a
origem e natureza do poluente, se este não
puder ser impedido de penetrar no organismo
pelos mecanismos descritos, poderá atingir a
corrente sangüínea e ser levado ao sistema
nervoso central, fígado, medula óssea etc.,
onde cada agente tóxico exerce um efeito
distinto.

A AÇÃO TÓXICA

A ação tóxica exercida por um poluente


atmosférico pode ser local ou sistêmica.
E local quando se dá no ponto de contato do
poluente com o organismo. No caso de a ação
tóxica ser sistêmica, o poluente é distribuído
aos órgãos internos por via circulatória. São
exemplos de ação tóxica local: o cromo, que
destrói as mucosas nasais, e a silica, que pode
causar graves danos aos pulmões. O benzeno é
um exemplo de ação tóxica sistêmica. Ele atua
sobre as células sangüíneas e o cérebro. Todos
esses tipos de poluente têm origem, em geral,
no interior das indústrias de diversos produtos,
quando estas não são equipadas com sistemas
protetores adequados.
Os tóxicos sistêmicos, uma vez ocorrida a
absorção, passam a ser distribuídos aos
diferentes órgãos, através da circulação sangüí-
nea. Eles podem exercer ação asfixiante,
quando impedem a oxigenação das células, ou
podem ser inibidores enzimáticos, quando inter-
ferem no seu metabolismo. Muitas substâncias
gasosas que, essencialmente, não são tóxicas
ou venenosas podem, entretanto, substituir o
oxigênio do ar, dificultando ou impedindo a
respiração. Sempre que a proporção de
oxigênio do ar for inferior a 18%, há um risco
de asfixia. Assim, nos ambientes fechados, mal
ventilados ou com vazamento de gás de
refrigeração, no fundo de poços com produção
de metano ou outros gases não venenosos
ocorre uma redução do oxigênio, tornando-os
bastante perigosos. Isso acontece porque
nesses ambientes há uma alia porcentagem de
gás carbônico.

6
OS TÓ X IC O SATMOSFÉRICOS MAIS COMUNS

A seguir, estão relacionadas algumas das


substâncias que mais freqüentemente provocam
problemas de intoxicação em conseqüência do ar
poluído, bem como características e aspectos de
sua ação sobre o organismo humano.

Monóxido de Carbono

Em regiões de inverno rigoroso, era comum o uso


de fogareiros a carvão para o aquecimento das
casas. Em conseqüência disso, muitas pessoas
morreram intoxicadas pela "fumaça" expelida por
esse combustível, ao dormirem de janelas
fechadas. O gás provocado pelo escapamento de
um carro em funcionamento num ambiente
fechado (uma garagem, por exemplo) também
produz o mesmo efeito. Nesses dois casos, a
substância tóxica formada durante a combustão é
o monóxido de carbono (CO). Essa substância
desprende-se juntamente com o gás carbônico
(CO2), vapor de água (H2O) e fuligem, resultantes
da combustão de madeira, carvão mineral,
petróleo ou outro combustível orgânico.

São comuns os casos de pessoas que morrem


intoxicadas em ambientes fechados onde se
queima carvão
Numa combustão, o volume de monóxido de
carbono formado depende do volume de
oxigênio fornecido. As queimas com pouco
oxigênio geram maior quantidade não só de CO,
como de fuligem. É por isso que o motor
afogado produz mais fumaça, pois, para o mes-
mo volume de ar, a quantidade de combustível
é maior.
O monóxido de carbono é um gás invisível,
quase sem cheiro, e um pouco mais leve que o
ar. Ele é queimado quando se mistura ao
oxigênio. A partir daí produz uma chama de cor
azul, transformando- se totalmente em gás
carbônico. Quando o oxigênio é pouco, o mo-
nóxido de carbono não é completamente
queimado, escapando para o ar. No organismo
humano ele se combina rapidamente com a
hemoglobina do sangue, formando a
carboemoglobina, no processo de respiração.
Dessa forma, ao tomar o lugar do oxigênio que
deveria ser transportado pela hemoglobina até
às células, ele produz a asfixia.
Se uma pessoa respira por muito tempo o ar de
um ambiente que contenha 0,01% de monóxido
de carbono, passa a adquirir sintomas de
intoxicação. Caso a concentração seja de
0,02%, esses sintomas aparecem em poucas
horas. Com 0,04%, em duas ou três horas ela
estará com fortes dores de cabeça. Maiores
concentrações produzem palpitações cardíacas,
confusão mental e náuseas. Exposta a
concentrações de 0,20 a 0,25%, essa pessoa
ficará inconsciente em cerca de 30 minutos. O
efeito das altas concentrações é tão rápido que
a pessoa não chega a sentir nada antes de
perder a consciência.
Os gases expelidos pelos altos-fornos de
fundições contêm de 24 a 30% de monóxido de
carbono, antes de dissipar-se e diluir-se no ar
atmosférico. O gás emitido por um motor a
gasolina em marcha lenta pode conter desde
frações de 1 % até 7%, dependendo da mistura
com o oxigênio realizada pelo carburador. Daí a
importância da regulagem do motor na fábrica
ou da manutenção de veículos com maior
quilometragem.
Um carro a gasolina, numa garagem fechada,
pode produzir em qualquer pessoa efeitos letais
em apenas 5 minutos de funcionamento. Ela
perde a consciência antes mesmo de perceber
que está sendo intoxicada. Nas grandes ci-
dades, em ruas com tráfego congestionado, a
concentração de monóxido de carbono pode
atingir 0,01%. Como já vimos, essa con-
centração produz dores de cabeça e outros
incômodos para quem a respira. Esses
incômodos são inevitáveis para os que moram
ou que permanecem muitas horas em am-
bientes muito poluídos.
Alguns animais, como os canários, são muito
mais sensíveis que o homem aos efeitos tóxicos
do monóxido de carbono. Eles morrem na
presença de concentrações relativamente
baixas, que não chegam a causar maiores
danos aos seres humanos. A morte desses
animais pode, muitas vezes, representar um
"sistema de alarme", prevenindo as pessoas,
em certas situações, de que o ar é tóxico.
Com os fumantes ocorre um fenômeno
semelhante ao das pessoas que vivem em
ambientes altamente poluídos. Ao tragarem fre-
qüentemente a fumaça carregada de monóxido
de carbono dos cigarros, acabam tendo um
índice de carboxiemoglobina no sangue acima
do normal. Conseqüentemente, pequenos
aumentos nas quantidades deste poluente na
atmosfera já são suficientes para surgirem os
primeiros sintomas de intoxicação por
monóxido de carbono antes das demais
pessoas.

BENZENO

A destilação da hulha — ou carvão mineral —,


usada em várias atividades industriais, leva à
liberação dos chamados hidrocarbonetos
aromáticos ou gases anestésicos, pertencentes à
série do benzeno. Ao se desprenderem na
atmosfera, esses gases podem constituir fonte
de intoxicações graves.
O benzeno também é empregado como
matéria-prima em vários processos industriais
(como solvente de resinas, graxas e outras
substâncias). Além disso, faz parte das misturas
de combustíveis, das tintas para aviões, da
manufatura de anilinas, da fabricação de couros
sintéticos e participa de muitas outras
atividades. Por tratar-se de substância muito
volátil, há sempre desprendimento de vapores
no ar. Isso produz intoxicações, principalmente
em ambientes confinados ou em operários que
manipulam ou operam com tintas e solventes.
A inalação de altas concentrações de benzeno
causa uma rápida perda da sensibilidade,
seguida de morte por asfixia. Em caso de ina-
lação contínua de baixas concentrações,
ocorrem situações crônicas. Um exemplo disso
é a destruição dos órgãos hematopoéticos, ou
seja, dos órgãos formadores das células
sangüíneas: medula dos ossos e baço. Como
resultado, surge a anemia (causada pela falta
de glóbulos vermelhos), a redução da
resistência às enfermidades em geral (com a
perda dos glóbulos brancos) e hemorragias
(ocasionadas pela falta de plaquetas).

COMPOSTOS DE ENXOFRE

Os gases sulfurosos — ou compostos gasosos


de enxofre —, quando presentes em certas
concentrações no ar que respiramos, são
responsáveis por uma série de distúrbios
fisiológicos.
O dióxido de enxofre (SO 2 ) é um dos poluentes
mais comuns. Mesmo em concentrações muito
baixas, provoca espasmos passageiros dos
músculos lisos dos bronquíolos pulmonares. Em
concentrações mais altas, ocasiona inflamações
graves nas mucosas, bem como aumento das
suas secreções nas vias respiratórias
superiores.
Observa-se, ainda, a redução significativa do
movimento dos cílios nas vias respiratórias.
Com isso diminui-se também a capacidade que
esses cílios possuem de expulsar substâncias
estranhas ou mesmo o excesso de muco
formado. Todos esses sintomas são fortemente
agravados pelo frio e prejudicam muito a
função dos pulmões e vias respiratórias. Para
algumas pessoas a exposição contínua a esse
gás pode levar a uma resistência moderada à
sua ação. Já para outras o efeito é contrário,
isto é, há um aumento da sensibilidade de tipo
alérgico.
O SO 2 , formado pela combustão de substâncias
que contenham enxofre, tais como o petróleo
ou o carvão mineral, em geral, encontra-se
presente na atmosfera de regiões industriais.
Ele pode transformar-se, ainda, em SO 3 (uma
substância mais tóxica) na própria atmosfera,
por ação da luz solar. Uma outra fonte potencial
de SO 2 e, indiretamente, de SO 3 é o próprio gás
sulfídrico (H 2 S), emitido por reações biológicas
de decomposição. O forte cheiro de ovos podres
exalado por rios muito poluídos, como o Tietê,
principalmente nos dias mais quentes, é devido
a esse gás. Em altas concentrações, ele
também é tóxico, pois substitui o oxigênio na
molécula de hemoglobina de maneira
semelhante ao monóxido de carbono. Como já
vimos, em concentrações tóxicas não sentimos
o cheiro do gás sulfídrico, pois ele anestesia as
células sensoriais do nariz.

COMPOSTOS DE NITROGÊNIO

Compostos gasosos de nitrogênio são formados


durante as combustões. Porém, não a partir do
combustível, e sim do próprio nitrogênio do ar,
o que torna o seu controle mais problemático.
Em geral, esses compostos são encontrados na
atmosfera na forma de monóxido de nitrogênio
(NO) ou de dióxido de nitrogênio (NO 2 ). Esse
último é altamente tóxico, enquanto, com
relação ao primeiro, ainda não se tem provas
de que seja nocivo nas concentrações em que
pode ser encontrado na atmosfera das cidades.
O NO 2 , além de irritar olhos e mucosas em
geral, provoca um tipo de lesão denominado
enfisema pulmonar. Nos pulmões, ele é precur-
sor de certas substâncias consideradas
cancerígenas, como as nitrosaminas. Uma vez
transferido ao sangue, o NO 2 pode causar a
metaemoglobinemia, uma forma particularmente
grave de anemia.
Os óxidos de nitrogênio são componentes do
chamado smog fotoquímico, isto é, das névoas
químicas formadas por ação da luz solar sobre
os gases de combustão expelidos normalmente
pelos veículos automotores. Em dias de intensa
radiação solar, o NO é oxidado a NO 2
aumentando sua concentração em certas horas
do dia. Esse fenômeno pode, ainda, ser
fortemente agravado quando ocorre a inversão
das camadas atmosféricas, assunto que será
estudado a seguir.

OS OXIDANTES FOTOQUÍMICOS

Vimos que da combustão podem resultar alguns


compostos não totalmente oxidados. Eles
constituem no geral poluentes atmosféricos.
Isso acontece quando a combustão é
incompleta, isto é, quando o oxigênio é
insuficiente para que haja consumo total dos
compostos orgânicos existentes no combustí-
vel. Assim, por exemplo, a combustão
incompleta, causada por um caminhão mal
regulado, provoca a formação de fumaça negra.
Essa fumaça contém, além de partículas de
carvão, alguns compostos orgânicos, como os
hidrocarbonetos. A mesma coisa pode ocorrer
em uma fábrica ou em um simples forno de
padaria, sempre que se trate de combustão
incompleta.
Esses hidrocarbonetos, desprendidos na
atmosfera, têm a tendência de combinar-se
com os óxidos de nitrogênio, também liberados
da combustão. Isso dá origem, como já foi dito,
ao ozônio, por reações fotoquímicas. Muito mais
ativo quimicamente que o oxigênio "normal", o
ozônio permite reações com outras substâncias,
formando uma série de compostos tóxicos.
Além disso, o próprio ozônio é capaz de destruir
materiais como o couro ou a borracha, que se
tornam quebradiços, em conseqüência do seu
poder oxidante. O contato constante com altas
concentrações de ozônio pode, também, causar
câncer.
A INVERSÃO DAS CAMADAS ATMOSFÉRICAS

No inverno, a inversão da temperatura das


camadas atmosféricas é um fenômeno
meteorológico de ocorrência freqüente. O calor
da atmosfera é produzido pelas radiações
solares sobre o ar de forma indireta, ou seja,
pela reflexão dos raios quentes que atingem a
superfície terrestre. É por esse motivo que,
quanto mais distante estivermos do solo, mais
baixas serão as temperaturas atmosféricas,
apesar da proximidade com o Sol. O aque-
cimento contínuo do solo provoca, por sua vez,
o aquecimento do ar próximo à sua superfície.
Isso causa um fenômeno muito conhecido, o
movimento de convecção do ar. O ar aquecido,
ao dilatar-se, vai se tornando mais leve que o
ar de cima. Assim, ele tende a subir, enquanto
o ar frio desce, ocupando seu lugar até
aquecer-se do mesmo modo. Esse movimento
gera as correntes verticais (ascencionais) de ar.
É por isso que, em dias quentes e calmos, ve-
mos a fumaça das chaminés subir
verticalmente na atmosfera.
No inverno, porém, isso não acontece. Durante
a noite, a superfície do solo esfria-se muito, tor-
nando as camadas inferiores de ar mais frias do
que as camadas superiores. Isso estabelece
uma espécie de bloqueio do movimento
ascencional normal. Os raios solares, durante o
dia, sendo muito fracos no inverno, não
conseguem aquecer o
solo o suficiente para forçar a subida do ar. A
atmosfera fica, então, sem movimento. Nessas
condições, todos os gases formados e despren-
didos pelas chaminés de fábricas e
escapamentos de automóveis permanecem
rentes ao solo, em lugar de subir e dissipar-se.
Há, pois, acúmulo de gases nocivos nos
arredores das grandes cidades, gerando
episódios críticos de poluição do ar. Para
reverter essa situação, muitas vezes são
necessárias medidas drásticas, como evitar o
funcionamento de algumas indústrias
poluentes, bem como desviar o tráfego de
veículos do centro. E por esse motivo que, em
São Paulo, as indústrias localizadas em Cubatão
são obrigadas, durante o inverno, a usar óleos
combustíveis de menor teor de enxofre. Apesar
de muito mais caros, produzem gases tóxicos
em menor quantidade. Outra medida preven-
tiva é a utilização de caldeiras e fornos
elétricos, o que também resolve o problema de
emissão de gases nitrogenados.

Efeitos sobre Plantas e Animais

Os gases e a poeira, que exercem efeitos nocivos


sobre a vida humana, também são, em geral, no-
civos aos animais e às plantas. Os animais
superiores, especialmente os mamíferos e as aves,
vivendo nos mesmos ambientes ocupados pelo
homem, possuem, via de regra, adaptações
orgânicas e funcionais semelhantes às dos
humanos, principalmente em relação à com-
posição do ar. Isso significa que as variações de
composição do ar também afetam a saúde dos ani-
mais. Apesar disso, podem haver pequenas
diferenças em relação à tolerância, principalmente
por animais não acostumados ao ambiente das
cidades industriais.
Inversão das camadas atmosféricas.
Situação Normal Situação de
inversão

Em relação às plantas, as diferenças de


comportamento são maiores. Elas podem, por

exemplo, ser menos sensíveis aos fatores que


afetam a nossa respiração. Por não possuírem
hemoglobina, mostram-se quase indiferentes à
presença de monóxido de carbono. Assim, para
os vegetais, a toxicidade apresentada pelo gás
de iluminação está mais relacionada à presença
do etileno do que do CO.
Ao contrário dos animais, as plantas não são
muito sensíveis ao gás sulfídrico. Em
compensação, a sensibilidade em relação ao
cloro, ao SO 2 , e à amônia é bem maior que a
dos animais e do próprio homem. O SO 2 , além
de interferir no mecanismo da fotossíntese,
reduz significativamente a resistência do
vegetal ao ataque das pragas. O NO 2 , também
exerce efeito tóxico sobre plantas, porém muito
menor que os óxidos de enxofre. Entretanto, as
plantas podem ser fortemente danificadas pelas
chuvas e neblinas ácidas, as quais contêm
ácido nítrico ou sulfúrico. Estes são derivados
de combinações entre os óxidos de enxofre e
de nitrogênio com a umidade do ar, em
presença de radiações solares, como será visto
em outro capítulo deste livro.
As plantas também são muito sensíveis às
poeiras, que obstruem os poros e estômatos de
suas folhas, por onde normalmente são feitas
as trocas de umidade, oxigênio e gás carbônico
com a atmosfera. Poeiras contendo partículas
de flúor são bastante nocivas, ocasionando
lesões com o aspecto de queimaduras na
superfície das folhas.
Muitos vegetais também são empregados como
indicadores de poluição atmosférica. Várias
espécies de liquens que crescem sobre troncos
de árvores são particularmente sensíveis à
poluição em geral. Eles não se desenvolvem em
locais onde a poluição tem início. Aboboreiras e
plantas de cevada são também bons
indicadores, sendo colocadas pelos
pesquisadores em diferentes locais da cidade
para constatação de efeitos inibidores sobre o
seu desenvolvimento.
7
PADRÕES DE QUALIDADE DO AR

Um médico, ao examinar e interrogar seu


paciente, medir dados referentes ao estado e
funcionamento de um determinado órgão, está,
na verdade, procurando compará-lo com
organismos que se encontrem em perfeitas
condições de funcionamento. Na verdade ele
está confrontando seu paciente com um
organismo padrão ou com um padrão de saúde.
Da mesma forma, se quisermos saber se um
metro está medindo corretamente, teremos que
compará-lo a um metro padrão, encontrado nas
instituições que estabelecem as normas oficiais
de pesos e medidas. Pois bem, padrões de
qualidade são igualmente estabelecidos para a
água que bebemos e para o ar que respiramos.
Com a seqüência de episódios críticos de
poluição do ar, em várias partes do mundo,
começou a ficar claro aos governos e ao meio
científico que a contaminação atmosférica é um
problema concreto e que pode trazer
conseqüências muito graves. No entanto, sabe-
se que uma única fábrica ou um único au-
tomóvel em circulação não são suficientes para
prejudicar a saúde dos habitantes de uma
cidade. Surge então a dúvida: quanto é possível
lançar de poluentes no ar, sem que isso cause
mal a ninguém?
Para resolver essa questão, foram realizados
diversos estudos toxicológicos com pessoas e
animais. Através deles foram determinados os
vários níveis de exposição aos diversos
poluentes e seus respectivos efeitos sobre a
saúde. Dessa forma, estabeleceram-se os
Padrões de Qualidade do Ar (PQAR). Esses
padrões são representados pelas concentrações
máximas de cada poluente que podem existir
na atmosfera sem causar problemas à saúde
das pessoas mais sensíveis ou danos à flora, à
fauna ou a determinados materiais.

O TEMPO DE EXPOSIÇÃO

O efeito que um poluente provoca depende


basicamente da sua concentração, ou seja, da
proporção em que ele se apresenta no ar que
respiramos. A concentração é geralmente
expressa em µg/m 3 (microgramas por metro
cúbico ou 1/1.000.000 de grama do poluente
para cada 1.000 litros de ar) ou ppm (partes
por milhão), que é o número de partes de
poluente para cada milhão de partes de ar. O
uso de unidades tão diminutas permite-nos
concluir como são pequenas as quantidades de
poluentes que, existindo na atmosfera, podem
vir a causar problemas de saúde pública.
Tão importante como a concentração é o tempo
de exposição, isto é, o período em que a pessoa
fica respirando um ar que apresenta níveis de
toxicidade. Podemos suportar níveis
relativamente altos de determinados elementos
por alguns minutos, sem sofrer nenhum efeito.
Entretanto, valores até mais baixos, suportados
por dias seguidos, podem causar sérias
enfermidades.
Assim sendo, os Padrões de Qualidade do Ar
são sempre concentrações máximas de
poluente suportáveis por um dado intervalo de
tempo. Para o monóxido de carbono (CO), por
exemplo, o PQAR é de 9 ppm em média de 8
horas e de 35 ppm em média de I hora. Isso
significa que nenhuma pessoa sofre qualquer
efeito do CO se inalá-lo numa concentração
inferior a 9 ppm por um período de 8 horas
seguidas.
Da mesma forma, uma dose de 35 ppm também
não fará mal a ninguém que a respire por um
tempo máximo de 1 hora.
Para a avaliação da qualidade do ar em
ambientes de trabalho (fábricas, minas, túneis
em construção etc.) existem tabelas indicando
a concentração máxima de um dado poluente a
que os operários podem ficar expostos por um
período de 5, 10, 15 minutos, meia ou uma
hora, e assim por diante. Caso seja necessário
realizar um trabalho por apenas 10 minutos em
um ambiente contaminado, pode-se suportar
uma concentração de poluentes várias vezes
maior do que a aceitável por um período de
meia hora, sem causar danos à saúde.
PARA CADA POLUENTE, UM PADRÃO

Cada substância que contamina o ar possui


uma maneira distinta de agir sobre a saúde e
os seres vivos em geral. Algumas são
extremamente perigosas, mesmo em
baixíssimas concentrações, enquanto outras
são bastante toleráveis. Por isso, para cada
elemento existe um padrão específico de
qualidade do ar. Além disso, alguns poluentes
têm a característica de multiplicar os efeitos
isolados, como acontece com o material
particulado e o dióxido de enxofre. A inalação
do dióxido de enxofre, além de seu efeito
danoso específico, prejudica os mecanismos de
defesa do organismo contra o material
particulado, multiplicando, assim, seu efeito
contaminante.
Logo, um padrão de qualidade do ar é sempre
específico para cada poluente e para um
determinado tempo de amostragem, ou seja, o
tempo que se passa inalando o ar com aquelas
características. Assim sendo, temos, por
exemplo, um padrão de 40 mil µg/m 3 de CO
para a média de 1 hora, enquanto para os
oxidantes fotoquímicos é recomendável um
valor máximo de apenas 160 µg/m 3 para o
mesmo período. Quanto ao dióxido de enxofre e
às partículas em suspensão, é estipulado um
padrão máximo de 80 µg/m 1 para um ano em
média.
O S NÍVEIS DE QUALIDADE DO AR

Os padrões de qualidade do ar, como já foi dito,


referem-se a concentrações de contaminantes
que não devem ser ultrapassadas. Isso para
não causar danos à saúde pública e ao meio
ambiente em geral. Daí surge a dúvida: caso o
limite seja ultrapassado, o que acontece?
Obviamente, se o padrão de qualidade do ar for
ultrapassado, isso não significa que uma catás-
trofe terá início imediato, pondo em risco toda
a população. Na verdade, à medida que a
concentração de contaminantes aumenta,
lentamente irão surgindo os sintomas. Esses
sintomas atingirão inicialmente as pessoas
mais sensíveis, segundo diversas etapas de
gravidade da contaminação.
Em função dessas etapas, são determinados
para cada poluente os respectivos níveis de
qualidade do ar, bem como sua qualificação.
Tomemos como exemplo o monóxido de
carbono. O padrão para esse poluente é de 9
ppm. Até a metade desse valor (4,5 ppm), a
qualificação do ar é "boa", passando a "acei-
tável" entre 4,5 e 9 ppm.
Acima do limite estabelecido para o PQAR, a
qualificação é "inadequada". Nessa situação, há
um leve agravamento dos sintomas daqueles
que sofrem de doenças cardíacas ou
respiratórias.
A partir de uma determinada concentração (de
15 ppm para o caso do CO) passa a ser
decretado "estado de atenção", e é dada ao ar
a qualificação "má". Nesse caso, as pessoas
com enfermidades do coração e vias
respiratórias têm um decréscimo da resistência
física e um significativo agravamento dos
sintomas de sua doença. Essa população, bem
como os idosos, deve permanecer em casa,
além de reduzir as atividades físicas. Na
população sadia, começam então a surgir
sintomas generalizados.
Na próxima etapa, com qualificação "péssima",
é decretado o estado de "alerta". Com o CO,
isso ocorre a uma concentração de 30 ppm.
Nessa fase observa-se o aparecimento
prematuro de certas doenças, além de um
grande aumento dos sintomas nas pessoas
mais susceptíveis, que devem evitar qualquer
tipo de esforço físico. As pessoas sadias já
passam a sentir um decréscimo da resistência
física, devendo evitar as atividades exteriores.
Finalmente, a partir de um certo valor (de 40
ppm para o caso do CO) decreta-se estado de
"emergência". É quando a qualificação do ar é
considerada "crítica". Nessa situação adversa,
ocorre a morte prematura de idosos e doentes.
Mesmo a população saudável pode apresentar
sintomas que afetem a sua atividade normal.
Recomenda- se que também nesse caso todas
as pessoas permaneçam em casa, com portas e
janelas fechadas, minimizando as atividades
físicas.
8
Poluentes de Efeito Global

Até aqui, temos falado, principalmente, de


efeitos locais da poluição, seja numa pequena
área urbana ou sobre toda uma cidade.
Existem, porém, algumas substâncias que
produzem alterações na atmosfera. Essas
alterações podem se estender além dos limites
geográficos, produzindo efeitos nocivos a
grandes distâncias ou até sobre o planeta como
um todo. Falamos, então, de poluentes de efeito
global. Esses efeitos são, principalmente, as
chuvas ácidas, a destruição da camada de
ozônio e o efeito estufa.

CHUVAS ÁCIDAS

Ao norte dos Estados Unidos, junto à fronteira


com o Canadá, existe uma região considerada
por muitos como um verdadeiro paraíso
terrestre. Chama-se "Canoe Country", ou "Terra
das Canoas".
Esse nome teve origem no grande número de
pessoas que utilizam a canoa como principal
meio de transporte. Essa cidade fica quase
exatamente entre o Estado norte- americano de
Minnesota e o Estado canadense de Ontário, a
mais de 800 quilômetros de grandes cidades
industriais, como Chicago e Detroit. A
composição geológica dessas terras é
extremamente antiga. Data do início da
formação de nosso planeta. Suas extensas
florestas de pinheiros, ainda não destruídas
pela mão do homem, abrigam uma fauna
variadíssima. Canoe Country é cortada por
inúmeros caminhos estreitos e sombrios, que se
estendem ao longo de uma infinidade de
pequenos lagos. Interligados por milhares de
quilômetros de pequenos rios, esses lagos
formam como que um verdadeiro colar,
complexo e entremeado de corredeiras
espumantes, de águas incrivelmente
cristalinas.
Nas águas desses lagos, que facilmente se
deixam atravessar pela vista humana, é
possível ver as pedras e as areias de seu leito.
Apesar disso, as águas foram contaminadas por
uma doença grave e possivelmente incurável.
Já não se encontram peixes, que outrora eram
vistos em cardumes, deslocando-se
mansamente por entre os cascalhos. Também
não são mais vistas as libélulas, as lavadeiras e
outros insetos aquáticos que antes povoavam a
sua volta ou riscavam sua superfície espelhada,
bem como algas, moluscos, crustáceos ou
qualquer forma de vida. Nem mesmo as bac-
térias conseguiram sobreviver à insidiosa
moléstia. Em outros tempos, elas provocavam a
rápida decomposição dos resíduos orgânicos
que, vindos da floresta, mergulhavam nas
águas claras. As folhas, os pedaços de troncos
ou de ramos, e até uma ou outra folha de jornal
lançada ao lago por um visitante menos
cuidadoso lá se encontram, visíveis, sobre o
leito arenoso, não mais participando dos ciclos
de matéria e energia da natureza.
Todos esses efeitos são conseqüência das
chuvas ácidas. Elas já destruíram a vida em
mais de duzentos lagos nas Montanhas de
Andirondack, no Estado de Nova Iorque, e cerca
de outros 20 mil na Península Escandinava, ao
norte da Europa. São elas que, também,
corroem e desgastam as famosas estátuas
gregas, na Acrópole de Atenas, e milhares de
outros belos e antiqüíssimos edifícios e
monumentos, em todo o mundo! No entanto,
sua ação destrutiva é causada puramente pela
negligência do homem, pois há mais de um
século que seus efeitos e as suas causas são
conhecidos...
Em 1872, na Inglaterra, Robert Angus Smith,
um zeloso funcionário público, impressionado
com a rapidez com que se oxidavam e
desgastavam as peças de metal expostas ao
tempo na cidade de Londres, começou a fazer
experiências e investigações a respeito.
Concluiu que o fenômeno era causado pela
presença de ácido sulfúrico no ar. Esse ácido,
por sua vez, derivava de reações entre o ar e
os compostos de enxofre que se desprendiam
das chaminés domésticas e industriais, sempre
que era queimado carvão mineral em suas for-
nalhas e sistemas de aquecimento.
Esse brilhante químico demonstrou, ainda, que
a mesma acidez atmosférica provocava a ocor-
rência de chuvas ácidas. Isso causava alteração
das pinturas dos edifícios, desgaste das pedras
e a má qualidade da água consumida pelos
habitantes da cidade. A partir de suas
pesquisas, Robert Smith publicou um livro
intitulado Ar e chuva: fundamentos de uma
climatologia química. Ninguém, entretanto, deu a
menor importância a essa obra, que
permaneceu praticamente desconhecida por
todo um século.
Hoje, sabe-se que não só o ácido sulfúrico é
responsável por essa acidez das chuvas, como
também o ácido nítrico (formado a partir dos
óxidos de nitrogênio), ambos emitidos pelas
chaminés de fábricas, usinas termoelétricas e
motores de veículos. Os óxidos de enxofre e de
nitrogênio reagem com outros componentes do
ar, nas altas camadas da atmosfera,
misturando-se às gotículas de água que com-
põem as nuvens. Estas, deslocando- se por
dezenas ou centenas de quilômetros ao sabor
dos ventos, vão formar as neblinas e chuvas
ácidas, que se precipitam sobre regiões às
vezes muito distantes.
Mas não são só as estátuas e os lagos que
sofrem os efeitos das chuvas ácidas. As
florestas e as plantações também são sensíveis
às grandes mudanças de pH.
Localizada numa extensa área ao sudoeste da
Alemanha, entre os rios Danúbio e Reno, está a
famosa Floresta Negra. Nela predominam os
pinheiros, que estão morrendo em
conseqüência da acidificação progressiva do
solo, causada pelas chuvas ácidas. Elas
destroem os microrganismos responsáveis pela
sua fertilidade. Provavelmente, a destruição da
Mata Atlântica, em São Paulo, também se deve,
em parte, à acidez das neblinas que, quase
permanentemente, envolvem suas árvores.

A DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO

Já vimos como o ozônio pode formar-se sobre a


superfície da Terra, em conseqüência da polui-
ção. Trata-se de uma substância nociva, tanto
por sua alta capacidade de oxidar materiais,
como por constituir um indicador da atividade
fotoquímica. Essa atividade é responsável pela
formação de compostos tóxicos ao homem, aos
animais e às plantas. Entretanto, nas camadas
mais altas da atmosfera terrestre, existe,
naturalmente, uma camada de ozônio. Ela não
só é considerada benéfica, como tem sido
ultimamente objeto de enormes esforços para
preservá-la. Isso em face da ameaça de
destruição que paira sobre ela. E que a camada
de ozônio evita a passagem de grande parte
dos raios ultravioleta emitidos pelo Sol. Ela
constitui, assim, uma barreira à ação dessas
radiações prejudiciais à vida.
Temos aí um exemplo muito importante para
justificar a afirmativa de que a poluição é
resultante da presença de matéria e energia no
lugar errado. Muitas substâncias inócuas, e até
necessárias, podem tornar-se nocivas. Isso
acontece quando estão presentes em quanti-
dade excessiva ou em ambientes onde não
deveriam estar... O ozônio forma-se naquelas
altas regiões, a partir da decomposição do
oxigênio "normal" (do oxigênio cuja molécula é
constituída de dois átomos apenas) por
intervenção das próprias radiações solares. Ele
é, pois, um componente normal da estratosfera.
Quanto maior sua concentração, maior será a
retenção das radiações ultravioleta, isto é,
menor será a proporção dessas radiações na luz
que chega até nós.
Os raios ultravioleta são os responsáveis pelo
matiz moreno que adquire a pele clara, quando
exposta prolongadamente aos raios solares.
Porém, em quantidade excessiva, podem
tornar-se mortais.
Há muito que se conhece a ação destruidora
dos raios ultravioleta em bactérias e outros
microrganismos patogênicos. Por isso,
lâmpadas de ultravioleta eram usadas nos
corredores e salas de hospitais como medida
para evitar infecções. Até mesmo geladeiras já
foram produzidas com uma dessas lâmpadas no
compartimento onde eram acondicionadas as
verduras, a fim de esterilizá-las.
Hoje, porém, isso não é mais usado, desde que
se descobriu que a exposição muito freqüente e
prolongada ao ultravioleta pode produzir câncer
de pele.
Há cerca de vinte anos, alguns pesquisadores
descobriram, através de experiências de
laboratório, que os CFC, também conhecidos
como freons, são capazes de reagir com o
ozônio, destruindo-o. Esses freons são
compostos gasosos sintéticos, formados de
cloro, flúor e carbono. Desde que foram
descobertos, passaram a ter uma enorme
importância industrial, por não serem tóxicos,
nem inflamáveis, além de inodoros.
Os freons são, por exemplo, gases ideais para o
funcionamento de refrigeradores e sistemas de
ar- condicionado. Por serem inertes, substituem
os gases venenosos antes empregados. É o
caso da amônia, responsável por inúmeros aci-
dentes fatais, ao escapar de frigoríficos ou de
simples geladeiras para ambientes confinados.
Por serem praticamente inodoros e não-
inflamáveis, passaram, também, a ser
utilizados como propelentes. São os gases
mantidos sob pressão, no interior de latinhas de
inseticidas, perfumes, desodorantes e outros lí-
quidos utilizados na forma vaporizada de
aerossóis. Outro largo uso industrial dos freons
consiste na produção de espumas sintéticas,
tais como o "isopor" e os recheios de almofadas
e colchões.
Como quase sempre acontece, não foi dada
grande importância à descoberta da ação que
os freons possuem em destruir o ozônio.
Principalmente porque o abandono dos freons
causaria, certamente, enorme prejuízo aos
industriais, seus fabricantes. Porém, passados
cerca de 10 anos daquelas experiências de
laboratório, as medições realizadas na atmos-
fera sobre o continente Antártico
demonstraram que realmente estava ocorrendo
uma redução progressiva da concentração de
ozônio no ar. Determinações posteriores
comprovam que o mesmo fenômeno está
ocorrendo em outras regiões do globo terrestre.
Sob ação das próprias radiações ultravioleta, as
moléculas de freon, em grandes altitudes,
desprendem o cloro que, por sua vez, destrói o
ozônio.
Em função desses resultados, alguns acordos já
foram estabelecidos entre as nações do mundo,
no sentido de reduzir e, finalmente, banir o uso
e a fabricação dos CFC. Mas isso exige um
esforço para se descobrir substâncias que
possam substituí-los, sem causar os mesmos
inconvenientes. Algumas já foram sintetizadas
e se acham em fase de industrialização. Porém,
mesmo que hoje se abandone o uso dos freons,
a quantidade já acumulada na atmosfera
terrestre continuará provocando a redução das
concentrações de ozônio por vários anos ainda.
9
O Efeito Estufa

O mais conhecido efeito global da poluição é o


chamado "efeito estufa". Ele tem provocado acir-
radas discussões entre cientistas, técnicos,
políticos e industriais. Não que o seu efeito, ou as
suas causas, sejam mal conhecidas. Ao contrário,
sua teoria é bem fundamentada há muito tempo.
Diversas observações realizadas na Terra e em
outros planetas, como Vênus, confirmam-na
cabalmente.
O problema que dá ensejo às controvérsias
presentes nas colunas dos jornais tem origem
nas dificuldades encontradas na sua medição.
Principalmente na formulação de um modelo
capaz de permitir previsões a respeito de suas
conseqüências. Essas dificuldades decorrem
da enorme quantidade de fatores e fenômenos
intervenientes, conflitantes, ou somatórios,
que ocorrem de maneira simultânea, na
atmosfera terrestre, como será visto adiante.
Todos nós conhecemos, na prática, as grandes
dificuldades enfrentadas pelos
meteorologistas na avaliação e previsão do
tempo a longo prazo. Isso acontece porque
grande número de fatores em constante
modificação precisam ser considerados a um
só tempo. Principalmente se levarmos em
conta que, no caso do efeito estufa, além dos
fenômenos normais, dos quais depende o
nosso clima, intervém outros fatores. Eles
surgem da própria e variável atividade do ser
humano...
O efeito estufa é um processo de aquecimento
gradual da Terra. Ele aparece com o
enriquecimento progressivo da atmosfera, em
alguns gases como o dióxido de carbono (ou
gás carbônico), o metano (ou gás dos
pântanos) e outros. Sua teoria é uma das mais
bem estabelecidas nas ciências da atmosfera.
Data do início do século passado, com Sadi
Carnot e Joseph Fourier.
Carnot foi o físico que introduziu no mundo a
chamada "revolução termodinâmica". Seu
trabalho era voltado, inicialmente, para a
explicação do funcionamento das máquinas
térmicas em geral. Porém, estendeu-se, em
seguida, à cosmologia, à meteorologia e à
geofísica, assim como à fisiologia. Logo ficou
demonstrado que o mundo, nosso organismo e
os sistemas planetários não são apenas
"mecanismos de relógio", funcionando
permanentemente em regime de "moto-
contínuo". Pelo contrário, eles são
impulsionados por forças derivadas de
diferenças de temperatura, tal como o motor
de uma locomotiva ou de um automóvel.
Fourier, na mesma época, e seguindo os
passos de Carnot, afirmou, já em 1822, que
"todos os efeitos terrestres do calor do Sol são
modificados pela interposição da atmosfera e
pela presença da água". Por sua vez, ele
baseou-se nas experiências anteriores de
outro grande cientista, o suíço Horace
Bénédict de Saussure (1740-1799). Saussure
havia construído uma série de caixas de vidro,
umas dentro das outras. Cada qual estava
munida de um termômetro para demonstrar
que a temperatura originada das radiações so-
lares se elevava no ar contido dentro de
envoltórios transparentes.
Diante disso, concluiu Fourier: "A temperatura
aumenta pela interposição da atmosfera
porque o calor encontra menos obstáculos
para penetrar no ar, quando ele se encontra
em estado de luz, do que para sair, quando já
convertido em calor obscuro". Em outras
palavras, diríamos hoje: as radiações solares
incidentes, em forma predominante de luz,
atravessam facilmente o vidro, pois ele é
transparente. Porém, ao se refletir no interior
das caixas de vidro, transformam-se em radia-
ções caloríficas. Essas radiações dificilmente
retornam ao exterior, pois o vidro é isolante
térmico.
Em 1861, John Tyndall, outro grande nome da
física e da química, descobriu que o vapor de
água e o gás carbônico na atmosfera desem-
penham o mesmo papel que o vidro das caixas
de Saussure. Ambos são responsáveis pela
manutenção do calor que a Terra recebe do
Sol. Essa descoberta permitiu uma explicação
convincente para a observação dos geólogos
da época (principalmente Louis Agassiz) a
respeito da existência, no passado, das
chamadas "idades glaciais". A Terra teria
passado por períodos de resfriamento alter-
nados com períodos de forte aquecimento,
isso provocava grandes controvérsias entre os
cientistas. Não se podia compreender, até en-
tão, o porquê de tamanhas mudanças do clima
terrestre. Originou-se, assim, o que, bem mais
tarde, veio a ser chamado de "a teoria climáti-
ca do gás carbônico". Segundo ela os períodos
quentes corresponderiam a períodos de maior
concentração desse gás na atmosfera.
Finalmente, falta acrescentar a essa lista de
geniais descobridores o nome de Svante
Auguste Arrhenius, prêmio Nobel de química
em 1903. Ele confirmou as observações de
Saussure, Fourier e Tyndall sobre a teoria da
estufa quente. Esse nome surgiu da com-
paração com as estufas de vidro usadas na
Europa para proteger as plantas frutíferas e
ornamentais, durante o inverno. Diz ele: "Os
elementos da atmosfera que constituem as
causas desse fenômeno são o vapor de água e
o ácido carbônico existentes, embora em
pequena proporção, no ar. O ozônio e os
carbonetos de hidrogênio (como o metano)
produzem efeito análogo". E prossegue: "...eu
pude calcular que se o ácido carbônico
desaparecesse completamente da nossa
atmosfera — onde ele está presente apenas
na proporção de três décimos milésimos em
volume — a temperatura do solo seria
reduzida a 21 graus. Mas, por efeito desse
abaixamento, seria diminuída, também, a
quantidade de vapor de água, resultando novo
abaixamento de temperatura, quase tão
grande quanto o primeiro".
Arrhenius foi mais adiante. Ele previu que a
era industrial, gerando gás carbônico a partir
dos combustíveis fósseis, iria provocar
aumentos consideráveis da temperatura
terrestre. Mas não se preocupou muito com
isso. Sua preocupação maior, na época (isto é,
no início deste século), era com a próxima era
glacial. O grande cientista via nesse
aquecimento a maneira feliz de compensar o
efeito indesejável do resfriamento. Só não
podia supor que o desenvolvimento tec-
nológico se desse em tão larga escala e com
tamanha rapidez!
O PAPEL DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS

Qual a acusação que pesa sobre os


combustíveis fósseis?
De fato, a queima do petróleo, do carvão
mineral ou do gás natural gera gás carbônico,
da mesma forma que a queima de lenha,
papel ou álcool. Na verdade todos os combus-
tíveis orgânicos podem igualmente provocar o
efeito estufa! A diferença essencial é que a
lenha, o álcool e outros combustíveis gerados
a partir de matéria viva, ou biomassa viva, são,
essencialmente, recicláveis. Isso significa que
o gás carbônico emanado pela queima de
lenha pode ser reabsorvido pela mata em
crescimento, através do processo de
fotossíntese. O gás desprendido na queima do
álcool é retirado da atmosfera e reaproveitado
durante o desenvolvimento do canavial. E
quanto ao gás carbônico gerado pelo consumo
da biomassa fóssil?
A biomassa fóssil já foi, em outros tempos,
uma biomassa viva. Em períodos da evolução
terrestre (há milhões de anos), em que a
quantidade de gás carbônico era maior que a
de hoje, a atividade da fotossíntese
intensificou-se, dando lugar à formação de
extraordinária massa de matéria orgânica na
superfície do nosso planeta. Essa grande
atividade biológica era facilitada, também,
pela temperatura mais elevada, resultante do
efeito estufa provocado pelo gás carbônico e a
umidade do ar. Se todos os vegetais
produzidos tivessem sofrido os processos
normais de decomposição, eles devolveriam à
atmosfera de então a mesma quantidade de
gás carbônico que teriam consumido. Seria
mantida, assim, a reciclagem normal e, por
meio dela, as quantidades de gás carbônico e
oxigênio no ar.
Entretanto, algumas circunstâncias alteraram
os ciclos da Terra. Grandes mudanças do
relevo (que antes era mais uniforme) vieram a
causar o soterramento e o isolamento de uma
parte dessa abundante biomassa. As massas
soterradas eram constituídas não só de
grandes árvores terrestres, como também de
microrganismos aquáticos, além de restos
vegetais que ficaram imersos em pântanos.
Todo esse material permaneceu isolado dos
seres que normalmente causam a
decomposição. Por esse motivo passou a
sofrer transformações químicas muito lentas,
separadas da biosfera por muitos metros de
rochas sedimentares. O carbono na forma de
gás carbônico resultante dessas
transformações não pode ser devolvido à
superfície e à atmosfera.
Essa alteração dos ciclos normais, que se
operou várias vezes durante muitos milhões
de anos, ocasionou significativas mudanças no
ambiente terrestre. Em primeiro lugar, houve
um aumento gradativo do teor de oxigênio do
ar, uma vez que a decomposição sempre
provoca seu consumo. Esse aumento
provavelmente não foi muito significativo em
termos de disponibilidade de oxigênio para a
vida terrestre. Isso porque a proporção de
oxigênio no ar é muito maior que a do gás
carbônico. Uma elevação, por exemplo, de
0,03% da sua concentração pouca diferença
fará, uma vez que sua proporção atual é da
ordem de 22%. Já a correspondente redução
do gás carbônico (o qual existe, hoje, na
proporção de apenas 0,03% no ar), essa sim é
muito mais considerável. Já vimos, pelos
cálculos de Arrhenius, que o desaparecimento,
hoje, desses 0,03% de gás carbônico reduziria
para 21 graus a temperatura terrestre. Sem
contar a redução resultante da perda de umi-
dade atmosférica!
As reduções da quantidade de gás carbônico
tiveram como efeito a diminuição da
fotossíntese e a queda da temperatura a ní-
veis significativamente mais baixos. Esses
níveis permaneceram oscilantes, ao longo dos
tempos geológicos, em função de diversos
outros fatores que complicam muito a
interpretação da história do clima terrestre.
Parte do gás carbônico é absorvida pelos
oceanos, transferindo-se aos carbonatos dis-
solvidos e precipitados na forma de rochas.
Essa absorção é muito lenta porque depende,
fundamentalmente, do transporte efetuado
pelas correntes marinhas. Essas correntes
levam de 500 a 1.000 anos para renovar as
águas profundas, a partir da superfície. Por
outro lado, os fenômenos de vulcanismo
transformam grandes quantidades de rochas
calcárias (carbonatos) novamente em gás
carbônico, devolvendo-o à atmosfera. Assim,
ao longo do tempo, dependendo da
intensidade com que se realizavam esses dois
processos, a Terra passou por períodos de
maior calor ou maior resfriamento.
De qualquer forma, porém, uma parte
considerável do gás carbônico da nossa
biosfera ficou soterrada e armazenada na
forma de matéria orgânica fossilizada. E essa
parcela que o homem atual, principalmente no
início da era industrial, vem devolvendo à
atmosfera, através da queima de petróleo,
carvão e gás natural. E, o que é pior: mesmo
que a totalidade da vegetação terrestre fosse
completamente restaurada, através de
reflorestamentos sistemáticos, não teria
condições de absorver esse excesso. Seria
necessário sua volta à condição fóssil, o que
não é possível. Embora ocorra uma absorção
pelo oceano, ela é muito mais lenta que a
produção das fábricas, usinas termoelétricas e
veículos movidos a petróleo. Basta lembrar
que mais de 80% da energia hoje utilizada
pelo homem provém da queima de
combustíveis fósseis!

PREVISÕES DO EFEITO ESTUFA

Vimos que a construção de um modelo


adequado para a previsão dos efeitos do
aumento de concentração de gás carbônico na
atmosfera terrestre oferece inúmeras
dificuldades. Uma das causas refere-se à
quantidade de fatores que concorrem para
modificar sua ação. Vamos recapitular alguns
desses efeitos contraditórios, apenas para
exemplificar a natureza das dificuldades em
se estabelecer medidas de controle preventivo
ou corretivo sobre o problema do efeito
estufa.
Em primeiro lugar, não é só a composição
química da atmosfera a responsável por
grandes variações da temperatura terrestre.
Há, também, variações cíclicas, ocasionadas
pelos fenômenos astronômicos. Esses
fenômenos estão ligados, principalmente, à
distância entre a Terra (ou parte desta) e o
Sol. Como se sabe, além dos movimentos de
rotação (em torno de si mesma) e translação
(ao redor do Sol), a Terra executa outros
movimentos. Um deles é o movimento de
precessão. Ele faz com que os pólos
desenvolvam um círculo a cada 26 mil anos
(tal como a cabeça de um pião em movimen-
to). Além disso, a variação da inclinação da
eclíptica (a cada 40 mil anos) e do
comprimento dos eixos da órbita elíptica ao
redor do Sol (a cada 100 mil ou até 400 mil
anos) constituem outros movimentos que
produzem variações imperceptíveis das
distâncias entre o Sol e diferentes pontos da
Terra. A coincidência desses diferentes fe-
nômenos pode ser responsável por maiores
afastamentos de regiões da Terra — ou de
todo o globo — em relação ao Sol. Isso produz
períodos de grandes resfriamentos da
superfície terrestre ou, ao contrário, períodos
de maior proximidade, causando seu
aquecimento.
Além disso, o gás carbônico, tido como o
principal responsável químico pelo efeito
estufa, não varia apenas em função das
atividades desenvolvidas pelo homem.
Vulcões, como já vimos, produzem enormes
emissões desse gás. Ao contrário, os oceanos
absorvem lentamente quantidades extraordi-
nárias do CO 2 atmosférico, bem como cerca da
metade do calor adicional gerado pelo efeito
estufa. Como resultado, temos ligeiros
aquecimentos dos oceanos. Esses
aquecimentos têm sido utilizados ultimamente
na medida do efeito estufa, através de um
curioso método que se baseia na velocidade
de propagação do som na água: a
termoacústica.
Finalmente, não são apenas as variações de
concentração de gás carbônico que, na
atmosfera, regulam a retenção de calor na
superfície terrestre. A quantidade de vapor de
água, metano e outros gases também
funciona como reguladora. A evaporação da
água, por exemplo, exerce dois efeitos
antagônicos. Quando ela aumenta, em
conseqüência do próprio efeito estufa, o vapor
resultante produz um acréscimo desse
aquecimento, como previra Arrhenius. Porém,
sua condensação, que dá origem à formação
das nuvens, passa a refletir os raios solares
para fora da Terra. Assim, o efeito exercido é
contrário, isto é, de resfriamento. Esse mesmo
efeito de resfriamento pode ser causado por
poeiras, fuligem ou outras formas de matéria
particulada em suspensão na atmosfera.
O gás metano é considerado, hoje, o
responsável pelo efeito estufa mais poderoso
que o gás carbônico. Porém, sua concentração
no ar é bem menor. A elevação dessa
concentração se dá, principalmente, a partir
de regiões pantanosas e plantações de arroz.
É que esse gás é produto de fermentação
biológica em ambientes sem oxigênio. Além
do metano, alguns gases sintéticos, como os
clorofluorcarbonetos (CFC), também possuem
essa propriedade. Esses gases são chamados
de "freons" e usados em sistemas de
refrigeração.
A tudo isso deve ser acrescentado, ainda, o
fato de estarem ocorrendo nas grandes
cidades aumentos de temperatura. Esses au-
mentos, que todos nós sentimos, são medidos
ano a ano, mas não estão relacionados ao
efeito estufa. Eles são causados, sobretudo,
pelas grandes quantidades de energia, que
são empregadas na movimentação de
veículos, na iluminação e calefação das casas.
Sobretudo, nas atividades industriais. De
acordo com as leis da termodinâmica, sabe-se
que toda utilização de energia leva a um
aumento de temperatura. É isso que dá
origem aos aumentos mais imediatos das
temperaturas locais nas grandes cidades.

A S CONSEQÜÊNCIAS DO EFEITO ESTUFA

Um clima cuja temperatura se mantém


bastante elevada, acima dos padrões normais,
certamente acarretaria severas conseqüências
não só sobre a distribuição dos vegetais na
superfície da Terra, como também sobre a
agricultura. Isso acontece porque a
temperatura age sobre o metabolismo vegetal
e a evapotranspiração, isto é, a quantidade de
água que é evaporada pelo solo e pelas
plantas. Assim, há uma alteração na
disponibilidade de água necessária ao
desenvolvimento dos vegetais.
Cada espécie vegetal necessita de uma certa
quantidade de calor para seu crescimento e
para a produção de flores e frutos. Essa é a
razão pela qual, diferentes espécies
predominam em regiões distintas do planeta.
Plantas de regiões tropicais jamais se
desenvolvem em países onde cai neve. Da
mesma forma, as vegetações típicas de
regiões frias não cresceriam e produziriam
frutos se a temperatura média sofresse uma
elevação significativa. A mandioca, o cacau,
ou inúmeras espécies de orquídeas morrem se
plantadas na Europa. Cerejeiras, nogueiras e
outras plantas da Europa, por sua vez, não
crescem ou não produzem frutos na Amazônia.
Isso ocorre não só pela quantidade de calor
disponível, mas também pela distribuição
desse calor (como das chuvas) nas diferentes
épocas do ano.
O outro grave efeito previsto, relacionado à
elevação da temperatura global da Terra,
seria o do aumento do nível da água dos
oceanos. Isso fatalmente aconteceria em
conseqüência do derretimento parcial das
enormes massas de gelo que atualmente se
encontram acumuladas sobre os continentes,
nas regiões muito frias do norte e do sul do
planeta. Elevações de nível da ordem de 0,75
a 1,5 metros, como são previstas pelos mais
pessimistas, até o ano de 2050, causariam o
desaparecimento de muitas cidades como
Santos, Rio de Janeiro e várias outras em todo
o mundo. Porém, mesmo que essa elevação
venha a ser de alguns centímetros, isso já
será suficiente para ocasionar o bloqueio de
rios e inundações em todas as cidades
situadas à beira-mar.
A solução para o problema do efeito estufa é
das mais difíceis.
Implica na mudança radical da chamada
"matriz energética" de todo o mundo e nos
hábitos da população do planeta.
Principalmente nos países industrializados,
que são os maiores consumidores de combus-
tíveis fósseis.
Para evitar todas essas possíveis catástrofes,
diversos países vêm pesquisando, ativamente,
alternativas para a matriz energética. Embora
não se conte, ainda, com um modelo que
permita avaliar com exatidão a extensão e
intensidade do efeito estufa, o risco de
protelar medidas preventivas é muito grande.
As indústrias e centros de pesquisa vêm
buscando desenvolver veículos elétricos,
assim como sistemas aperfeiçoados de
aproveitamento direto e indireto da energia
solar, do vento, da energia subterrânea, da
energia das marés e das ondas do mar. No
Brasil, além do desenvolvimento
extraordinário da tecnologia do álcool, um
grande projeto está sendo desenvolvido, o
Projeto Floran. Esse projeto visa realizar
reflorestamentos em larga escala, para
intensificar a reciclagem do gás carbônico
originado da queima de florestas e do uso da
lenha e carvão vegetal como combustíveis.
Nessas duas atividades, o Projeto Floran e o
Proálcool colocam o Brasil entre os poucos
países que tomaram alguma medida prática e
eficaz no sentido de reverter o
desenvolvimento do efeito estufa.

10
As Indústrias

A "REVOLUÇÃO MECÂNICA"

A palavra indústria provém de um radical


latino, struere, que significa "empilhar
materiais, edificar". Esse mesmo radical deu
origem às palavras destruir, estrutura, instruir,
construir. O adjetivo industrius significa "ativo"
ou "zeloso". Foi daí que veio o significado
primitivo do termo indústria, que é o de
"atividade". Finalmente, do mesmo radical
provém, ainda, a palavra instrumento, que
muito caracteriza a atividade industrial
moderna, assim como todo o trabalho
humano.
A criação de instrumentos ou de ferramentas
de trabalho não é exclusividade do homem,
como, em geral, se admite. Ela pode ser ob-
servada em alguns animais mais primitivos,
como os chimpanzés. Eles são capazes de
utilizar pedaços de pau como armas de defesa
ou de ataque e, até, como alavancas para
deslocar pesos. Entretanto, foi essa
capacidade que melhor caracterizou o
desenvolvimento humano. Ela possibilitou ao
homem libertar-se das contingências
ambientais a que estão sujeitas todas as
demais espécies na luta pela sobrevivência.
Um outro vocábulo do nosso vernáculo,
máquina, vem melhor caracterizar esse
desenvolvimento. Essa palavra origina-se do
grego, mêkhanê, cujo significado é "invenção
engenhosa". Dela derivou o termo mecânica,
com o primitivo significado de "manual". Esse
termo passou a ser utilizado posteriormente,
já no século XVI, para tudo o que se relaciona
com movimento. E, no século seguinte, para o
que é "movido por arranjo artificial".
A mecânica, na verdade, é uma arte muito
antiga. O escritor holandês Hendrick Van Loon
diz em seu livro História da humanidade,
publicado em 1921: "O maior benfeitor da hu-
manidade deixou de existir há mais de meio
milhão de anos. Era um indivíduo cabeludo, de
fronte baixa, olhos fundos, mandíbulas
salientes e forte dentadura ferina. Não faria
boa figura num congresso de sábios mo-
dernos; contudo estes o honrariam como seu
antecessor, pois, valendo-se dum calhau para
quebrar uma noz e dum pau para erguer um
pesado bloco de pedra, inventara o martelo e
a alavanca, nossas primeiras ferramentas, e,
mais do que qualquer dos seus descendentes,
contribuíra para dar ao homem enorme
vantagem sobre os animais que com ele parti-
lham o planeta".
O outro gênio cabeludo, que deveria sentar-se
ao lado daquele descrito por Van Loon numa
academia moderna — onde figurariam
personalidades como Newton, Da Vinci,
Galileu e Einstein —, seria o que primeiro
soube utilizar o fogo. Graças a sua descoberta,
foi possível tornar comestíveis muitos pro-
dutos vegetais e animais que antes não
podiam ser utilizados. O fogo também abriu a
possibilidade do emprego dos metais e suas
ligas. A partir daí passaram a ser criadas
ferramentas mais elaboradas e eficientes.
Muito mais tarde, a utilização combinada dos
metais e do fogo veio a permitir a construção
de máquinas. Depois disso, a força humana e
a animal perderam, definitivamente, seu
significado como elemento produtor de
trabalho.
Essa substituição passou a ser fundamental,
sobretudo quando o homem não pôde mais
utilizar a mão-de-obra escrava.
As idéias relacionadas à energia mecânica
eram bastante antigas. Heron de Alexandria,
um século antes do início da era cristã,
descreveu vários engenhos mecânicos
movidos a vapor. Na Idade Média, chegou-se a
construir carros de guerra movidos por esse
processo. Mas foi somente no século X V I I I
que, na Inglaterra, o mecânico de Glasgow,
James Watt, idealizou e construiu uma bomba
movida por máquina a vapor. Ela era
destinada a remover a água que se acumulava
no interior das minas de carvão, o que antes
era feito por trabalho manual.
Iniciava-se, assim, a "era da fumaça". Nela a
realização de um trabalho passou a ser
acompanhada pela produção de resíduos
particulados e gasosos, contribuindo para a
poluição. Se antes os sistemas de
aquecimento doméstico e os fornos das
padarias emitiam fuligem, esta passou a ser
um componente obrigatório de todas as
regiões produtivas, desde que se substituiu a
força animal pela energia mecânica derivada
do calor.
Já em 1921, o mesmo Van Loon, em um outro
trecho de seu livro, dizia: "A não ser que me
engane, a máquina elétrica destronará
brevemente a máquina a vapor, como nos
tempos primitivos os animais pré-históricos de
organização mais completa iam eliminando os
seus semelhantes menos perfeitos. Quanto a
mim — declaro, porém, que nada entendo de
máquinas —, acolherei com júbilo o triunfo do
mecanismo elétrico. A eletricidade, que se
pode produzir com a força hidráulica, é um
auxiliar asseado e afável da humanidade,
enquanto as máquinas de combustão,
maravilha do século XVIII, são aparelhos rui-
dosos e sujos, que vivem a encher o mundo de
ridículos penachos de fumaça, de pó e de
fuligem e a consumir incessantemente rações
enormes de hulha extraída das minas com
grande inconveniente e sérios riscos para
milhares dos nossos semelhantes".
Van Loon estava certo em suas previsões. A
eletricidade tomou o lugar da energia de
combustão direta. Abriu, inclusive, pers-
pectivas imensas de progresso, através da
eletrônica. Não só substituiu vários processos
mecânicos de produção, como também abriu
campo para a informática. Isso possibilitou,
num curto espaço de tempo, o acesso aos
mais variados dados e informações,
indispensáveis ao rápido avanço tecnológico,
uma característica do nosso tempo. Porém, se
no terreno da tração mecânica a eletricidade
substituiu com sucesso os sistemas de
combustão no transporte de massas e de
cargas, ela não conseguiu o mesmo
desempenho em engenhos mais autônomos. E
o caso do automóvel, dos aviões e dos navios.
Além disso, dado o custo relativamente baixo
atingido pela exploração do petróleo, a com-
bustão é, ainda, utilizada na própria geração
de energia elétrica.

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Outro grande escritor e historiador de nosso


século, o inglês Herbert George Wells,
pondera em sua História universal que a Revo-
lução Industrial não deve ser confundida com
a "revolução mecânica". Embora os dois
processos tenham marchado juntos e,
freqüentemente, interagido um com o outro,
eles são fundamentalmente diferentes quanto
à sua origem e essência. A Revolução
Industrial foi eminentemente um fenômeno so-
cial, caracterizado pela divisão de trabalho e
não, propriamente, pela mecanização. Ela
teria ocorrido "mesmo que não houvesse
carvão de pedra, nem vapor, nem máquina".
Voltando à obra de Van Loon: "Na
Antigüidade, o trabalho universal era realizado
por artífices independentes, que instalavam as
suas modestas oficinas nas peças anteriores
das suas habitações, que possuíam
ferramentas próprias, que puxavam as orelhas
dos aprendizes e que, dentro dos limites
prescritos pela corporação à qual pertenciam,
geriam o seu negócio como bem lhes parecia.
Viviam simplesmente e eram obrigados a
trabalhar a maior parte do dia. Em
compensação, não tinham senhores; se, ao
despertar, a manhã se lhes afigurava linda
para pescar, iam sentar-se à beira do rio e
ninguém lhos podia impedir".
Suponhamos, a título de exemplo, um
fabricante artesanal de gaiolas para pássaros.
Ele produz cada uma delas com arte, carinho e
imaginação.
Imaginemos, agora, que por alguma
circunstância especial — algo ligado à cultura
nativa, como fundamento básico de toda
mudança social — passe a existir nessa
comunidade algum incentivo ou interesse na
criação de pássaros. Nosso artesão não
conseguirá atender à demanda. Necessitará
de auxiliares, seus discípulos, cada qual traba-
lhando como ele, com dedicação, amor e arte
à sua produção. Eventualmente, alguns desses
discípulos se desgarram, abrindo outras tantas
casas especializadas. Porém, se a população
local crescer muito, e com ela toda essa
incrível obsessão pela criação de pássaros,
haverá um momento em que o número dessas
casas artesanais ocupará um espaço
desproporcional. Isso porque essa atividade
será cada vez mais valorizada na comunidade.
Assim, o tempo necessário à fabricação de
todas as gaiolas demandadas será
insuficiente, por mais que se trabalhe, e o
número de pessoas com habilidade artesanal
será, também, insatisfatório.
Nesse instante, nasce a indústria de gaiolas. O
produto, naturalmente, será "padronizado" ou
"gabaritado". Ele será produzido segundo um
modelo fixo. Desaparece, então, a
versatilidade ilimitada de formas, a fantasia
criativa, o amor à obra. Mesmo porque não
existirá mais o artesão habilidoso, pois este
será substituído pelo operário. Com isso as
diversas etapas necessárias ao produto final
passam a ser divididas e o trabalho torna-se,
assim, mecânico. Eventualmente, esse
operário será substituído por uma máquina,
capaz de fabricar a mesma peça com muito
maior rapidez e precisão. Haverá, dessa
forma, enorme economia de espaço, tempo,
mão-de-obra e, finalmente, economia de
habilidades, de artes e de criatividade indi-
vidual. Foi essa repartição de tarefas, ou
divisão de trabalho, que, criando a
especialização, originou a chamada Revolução
Industrial, com todas as conseqüências sociais
que aqui não cabe descrever.
Como não podia deixar de ser, o processo
artesanal foi substituído pelo industrial, o que
levou a uma demanda cada vez maior de
máquinas. Assim, a energia muscular deu
lugar à combustão do carvão e do petróleo. Ao
mesmo tempo, uma quantidade cada vez
maior de matérias-primas passou a ser
consumida, manipulada nos processos
industriais, acrescentando às fuligens geradas
pelas máquinas os resíduos dessas
transformações.
Finalmente, o extraordinário progresso da
indústria química levou à criação de uma
grande quantidade de produtos da natureza
que ainda não eram conhecidos e de uma
infinidade de subprodutos, freqüentemente
tóxicos, que passaram a ser descartados para
o meio ambiente. Os impactos causados por
todos esses resíduos originados das fábricas
recebe a denominação genérica de poluição
industrial.

PRINCIPAIS TIPOS DE POLUIÇÃO INDUSTRIAL

Os tipos e modalidades de indústria existentes


no mundo são quase infinitos. Há, também,
várias maneiras de classificá-las, de acordo
com o objetivo que se tem em vista. Quanto à
natureza do produto gerado, podem, por
exemplo, ser citadas as indústrias de
alimentos, as químicas e farmacêuticas, as
metalúrgicas, as tecelagens etc. Entretanto,
essa classificação não as exclui do ponto de
vista das emissões de poluentes. Diferentes
tipos de indústria química (petroquímica,
tintas, agroquímicos etc.) ou de alimentos
(conservas, carnes, açúcar, bebidas etc.)
produzem os mais variados poluentes. Uma
classificação baseada no tipo de matéria-
prima empregado seria um pouco mais
satisfatória. Mas também ela está sujeita a
limitações, principalmente no que se refere às
diferenças de processamentos utilizados na
elaboração dos produtos ou de fontes de
energia (elétrica, carvão ou petróleo, lenha).

As indústrias produzem grandes quantidades de


subprodutos que, se não controlados, causam
poluição do solo, das águas e do ar.

Nos estudos sobre poluição atmosférica,


consideram-se em geral os seguintes grandes
grupos arbitrários de atividades industriais: as
indústrias do aço e derivados, as
petroquímicas, as de produtos químicos, em
geral, e as de fertilizantes.
As substâncias e compostos poluentes,
particulados ou gasosos, podem provir, em
geral:
• da matéria-prima empregada. Por exemplo,
as poeiras de fosfatos, impregnadas de flúor,
geradas no processo de trituração da rocha
fosfática, nas fábricas de fertilizantes ou os
produtos da destilação do carvão mineral,
empregados como fonte de carbono nas in-
dústrias do aço.
• do combustível utilizado. A fumaça produzida
nas chaminés dos mais variados tipos de
indústria.
• de subprodutos derivados de reações
características do processamento, como os
inúmeros gases tóxicos produzidos pelas
indústrias químicas.
• do próprio produto gerado que, acidental ou
normalmente, é em parte perdido na
atmosfera, como o cloro nas fábricas etc.
Além disso, como já foi visto, substâncias
nocivas podem ser geradas na própria
atmosfera, em conseqüência de reações
fotoquímicas ocorridas a partir dos poluentes
emitidos, como é o caso do ozônio.

11
Os Veículos

Como já foi visto nos capítulos anteriores, os


veículos constituem uma importante fonte de
poluição do ar nas grandes cidades. Entende-
se por veículos, ou fontes móveis, todos os
meios de transporte automotor. Inclui-se aí os
automóveis, motocicletas, caminhões, ônibus,
trens, barcos, aeronaves etc.
Os trens do passado, as chamadas marias-
fumaças, representavam um grave problema
ao meio ambiente, pois emitiam uma grande
quantidade de fuligem. Essa fuligem era
originada nas antigas caldeiras, alimentadas
com lenha ou carvão. Hoje, os trens não po-
dem mais ser considerados fontes
significativas de poluição do ar. Os primeiros
metrôs — incluindo o de Buenos Aires — eram
movidos, também, a vapor. Para tanto usava-
se carvão como combustível. Mas, desde que
as antigas locomotivas a vapor foram substi-
tuídas pelas atuais máquinas elétricas ou
diesel-elétricas, o problema da poluição
causada por elas cessou quase que por
completo. Mesmo as atuais locomotivas diesel-
elétricas emitem poluentes em quantidade
relativamente pequena. Como em um centro
urbano o número de trens é desprezível em
relação ao total de veículos em circulação,
pode-se desconsiderar essa fonte de poluição
atmosférica. Os trens, hoje. representam
basicamente uma fonte de poluição sonora.
Ela é bastante crítica nas vizinhanças das
linhas de maior movimento.
Os aviões, pelos mesmos motivos, também
representam muito mais uma fonte de
poluição sonora do que um agente
preocupante de contaminação do ar. Dadas as
características de funcionamento das turbinas,
eles emitem principalmente hidrocarbonetos.
Como o fluxo de aeronaves é bastante res-
trito, e o lançamento de poluentes se dá em
pontos distantes das pessoas (ou no ar, ou na
pista de um aeroporto), os aviões também
podem ser desconsiderados como fontes
significativas de poluição do ar.
Dessa forma, quando se fala em fontes
móveis, está se referindo basicamente a
automóveis, ônibus e caminhões.

COMO OS VEÍCULOS POLUEM

Qualquer que seja o combustível utilizado por


um veículo (gasolina, álcool, diesel ou gás), os
poluentes são sempre gerados pelas mesmas
fontes: escapamento, sistema de alimentação
de combustível, cárter, desgaste de pneus e
freios.
Um motor de combustão interna aspira um
certo volume de ar, que é misturado com o
combustível vaporizado. Essa mistura entra
em combustão no interior do motor, gerando
uma explosão que movimenta os pistões. Por
uma série de mecanismos (virabrequim,
câmbio, diferencial) os pistões imprimem
movimento rotatório às rodas.
A mistura ar-combustível deve ter uma
relação adequada, a fim de que o oxigênio
presente no ar seja suficiente para provocar a
queima completa do combustível. Os produtos
da combustão são expelidos pelo tubo de
escapamento, atingindo a atmosfera.
Os combustíveis são compostos orgânicos
constituídos por uma cadeia de carbono e
hidrogênio (hidrocarbonetos ou HC), no caso
da gasolina, diesel e gás natural, e também
por oxigênio, no caso do álcool. A combustão
é uma reação de oxidação. Nela o combustível
(composto por carbono, oxigênio e hidrogênio)
reage com o oxigênio do ar (O 2 ), resultando
gás carbônico (CO 2 ) e vapor de água (H 2 O),
sempre que a queima for completa. No
entanto, isso é teórico e só ocorre em condi-
ções ideais. Na prática são formados outros
subprodutos, que constituem os poluentes
expelidos pelo escapamento, como será visto
a seguir.

Os automóveis emitem vários tipos de poluente e


não apenas monóxido de carbono. O motor (1)
também lança hidrocarbonetos na atmosfera; os
pneus e freios (2), partículas sólidas; o tanque de
combustível (3), hidrocarbonetos; e o
escapamento (4) expele monóxido de carbono,
hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio e
partículas.
A relação ideal ar-combustível nem sempre
pode ser mantida em todos os regimes de
funcionamento do motor. Se houver excesso
de ar, diz-se que a mistura está pobre. Como
há menos combustível que o ideal, gera-se
menos energia e o motor perde potência. Por
outro lado, quando existe falta de ar (mistura
rica), não há oxigênio suficiente para a
oxidação de todo o combustível. Resta, assim,
uma parcela desse combustível, que é
parcialmente queimada ou não. Além disso, a
mistura não é homogênea em toda a câmara
de combustão, sendo que, em certas porções,
é rica e, em outras, pobre.
Como decorrência da queima incompleta de
combustível, podem ser gerados diversos
poluentes. Eles são compostos intermediários
entre o combustível original e o gás carbônico
(CO 2 ). Os mais comuns são o monóxido de
carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), álcool,
aldeídos e material particulado. Esse último é
composto basicamente por partículas de
carbono (carvão) ou por elementos metálicos
utilizados como aditivos do combustível. O
chumbo misturado à gasolina é um exemplo.
Normalmente, quando o motor está frio, uma
parcela do combustível vaporizado condensa-
se nas paredes do cilindro e não se queima.
Essa parcela é, então, lançada na atmosfera
em sua forma natural, constituindo mais uma
fonte de hidrocarbonetos ou álcool, de-
pendendo do combustível utilizado.
Nos combustíveis de origem fóssil (gasolina e
diesel), o enxofre (S) está presente como
impureza, em quantidade variável, conforme a
origem do petróleo. Embora o objetivo do
motor não seja queimar o enxofre, ele
também é oxidado quando se dá a explosão,
resultando em óxidos de enxofre (SO, SO 2 ,
SO 3 ), que são genericamente denominados de
SO x .
Como se sabe, a maior parte do ar atmosférico
é constituída por nitrogênio (N 2 ), que
obviamente é aspirado para a câmara de
combustão juntamente com o oxigênio. Lá
dentro, com o aquecimento e o aumento da
pressão decorrente da explosão, uma pequena
parcela desse nitrogênio é também oxidada,
formando óxidos de nitrogênio (NO, NO 2 , NO 3
ou genericamente NO x ).
Com a alta pressão no interior do cilindro,
parte do combustível ou dos gases resultantes
da combustão escapam para o cárter (onde é
colocado o óleo lubrificante) e, através de um
respiro, vão para a atmosfera. Logo, os
mesmos elementos que são emitidos pelo
escapamento também são lançados pelo
respiro do cárter, mas em menor quantidade.
O sistema de alimentação de combustível é
responsável pelo que é chamado de "emissão
evaporativa". Ela é constituída pela parcela do
combustível que evapora quando o veículo (e
o combustível) é aquecido por estar em
funcionamento ou mesmo estacionado ao sol.
Com o aumento da temperatura, o
combustível tende a se evaporar, atingindo a
atmosfera através do respiro do tanque,
carburador, juntas e conexões mal vedadas.
Além disso, quando o combustível do tanque
se esgota, este está cheio de vapor. Ao
reabastecer o veículo, esse combustível é
expulso do reservatório na forma gasosa para
dar espaço ao líquido que é colocado. Logo,
sempre que se reabastece um veículo, o
mesmo volume que se coloca de líquido é
expelido para o ar na forma gasosa.
Finalmente, a outra fonte de poluição dos
veículos são os pneus e freios. Ao se
desgastarem, eles vão se transformando em
matéria particulada muito fina, que
permanece em suspensão no ar. Quanto às
lonas e às pastilhas de freios, muitas vezes
são compostas por amianto, material fibroso
que pode causar uma série de doenças
quando inalado.

QUAL O COMBUSTÍVEL QUE POLUI MAIS?

São freqüentes os comentários de que um


veículo a diesel polui muito mais do que
aqueles movidos a gasolina. Que carros a
álcool não são poluidores. No entanto, essas
afirmações não são válidas. Embora todos os
veículos com motor a combustão lancem
gases na atmosfera, há uma produção em
maior quantidade de um ou de outro
elemento, dependendo do combustível
utilizado. Assim, é impossível uma
comparação, pois, se o uso de um combustível
alternativo diminui a emissão de um
determinado poluente, pode, em certos casos,
aumentar a produção de um outro.
Os motores a diesel, em que a ignição ocorre
por compressão dos gases, possuem como
característica distinta dos motores a álcool ou
a gasolina (denominados "ciclo Otto") uma
pressão e temperatura internas muito mais
elevadas. Além disso, funcionam normalmente
com excesso de ar. O combustível, por sua
vez, possui uma cadeia carbônica mais longa,
mais difícil de queimar, e um teor de enxofre
mais elevado que a gasolina.
Recordemos, agora, como se formam os
poluentes nos motores. O monóxido de
carbono é produzido se o ar não for suficiente
para sua total combustão. Como o motor a
diesel funciona com excesso de ar (mistura
pobre), a produção de monóxido de carbono é
menor do que nos outros tipos de motor. A
emissão de hidrocarbonetos depende da
relação ar-combustível, mas é função também
das características do combustível. Se por um
lado o excesso de ar tende a diminuir a pro-
dução de hidrocarbonetos, as longas cadeias
carbônicas características do óleo diesel
provocam um aumento da emissão desses
elementos. Com isso, a produção de hidro-
carbonetos em um motor a diesel é da mesma
ordem de grandeza que nos demais. Essa
mesma característica do diesel, de queima
mais difícil, é responsável pela formação de
partículas de carvão, que formam a conhecida
"fumaça preta" emitida com freqüência pelos
ônibus e caminhões.
Por possuir como impureza um teor de enxofre
mais elevado, o óleo diesel queimado gera
uma maior quantidade de óxidos de enxofre.
Ao mesmo tempo, a característica de maior
pressão e temperatura na câmara de
combustão implica uma maior produtividade
de óxidos de nitrogênio.
Logo, em relação aos motores à álcool e a
gasolina, os movidos a óleo diesel são mais
poluidores em termos de material particulado
(que é visível) e óxidos de enxofre e ni-
trogênio. Por outro lado, emitem menos
monóxido de carbono.
Comparando-se os automóveis movidos a
álcool e a gasolina, as diferenças são mais
sutis. O princípio de funcionamento dos dois
motores — ignição por centelha — é idêntico.
Por isso as alterações nas emissões de
poluentes ocorrem apenas naquelas
diretamente relacionadas às características do
combustível. O álcool (etanol) possui uma
cadeia carbônica mais curta que a gasolina. O
resultado é uma maior facilidade de queima
completa. A emissão de monóxido de carbono
e material particulado é, assim, um pouco
menor. O álcool não possui enxofre como
impureza e nem aditivos (como o chumbo).
Dessa forma, os motores alimentados com
esse combustível não emitem tais elementos.
Como o princípio de funcionamento dos
motores é o mesmo, não há diferença na
produção de óxidos de nitrogênio.
A maior diferença entre os motores a álcool e
a gasolina diz respeito ao combustível que não
é queimado ou é parcialmente queimado. A
gasolina é uma mistura de hidrocarbonetos.
Portanto, a parcela que é parcialmente
oxidada resulta basicamente em outros hi-
drocarbonetos e uma pequena quantidade de
aldeídos. No caso do álcool (que já possui
oxigênio em suas moléculas), a emissão de
hidrocarbonetos é bem menor e nos álcoois e
aldeídos a produção é muito maior. No que se
refere à mistura de álcool na gasolina, são
claros os benefícios. Há uma menor emissão
de monóxido de carbono e o uso do chumbo
como aditivo é dispensado, eliminando esse
perigoso poluente. A utilização do metanol
misturado ao etanol, para alimentar os
veículos a álcool, ocorre de forma a não
provocar alterações na emissão usual desses
motores. Portanto, isso não implica qualquer
alteração ambiental.

O CONTROLE DAS EMISSÕES

Vimos que grande parte dos poluentes


gerados em um veículo origina-se da
combustão incompleta. Os agentes
responsáveis pela queima são a relação ar-
combustível e a correta ignição. Logo, uma
adequada regulagem e manutenção do motor,
segundo as especificações de seu fabricante
— mantendo as condições originais de
funcionamento do carburador (ou sistema de
injeção), distribuidor, velas etc. —, promoverá
a mais baixa emissão possível para aquele
veículo em particular.
Além disso, o modo de dirigir também influi na
produção de gases poluentes. Acelerações
bruscas e desnecessárias, assim como todos
os maus hábitos de dirigir, implicam aumento
do consumo de combustível. Isso provoca
também um acréscimo na produção de
poluentes. Cuidados na condução do veículo e
sua correta manutenção são os pontos de
responsabilidade do motorista. Eles podem
significar reduções nas emissões da ordem de
40%. O fabricante também deve ter sua
parcela de responsabilidade, melhorando o
projeto de um determinado veículo como um
todo.
Esses melhoramentos de projeto são bastante
amplos. Até mesmo a forma da carroceria, o
sistema de suspensão e os pneus têm
influência na formação de poluentes. Assim,
quanto mais leve e aerodinâmico for o veículo,
menor será a resistência ao movimento.
Conseqüentemente, será menor a solicitação
do motor. Trabalhando com uma menor potên-
cia, ele gerará menos poluentes.
As principais regulagens a serem feitas são
mesmo no motor. Elas vão desde o
redimensionamento de câmaras de combustão
e velas até a instalação de sistemas
eletrônicos de injeção direta de combustível e
conversores catalíticos.
O sistema de injeção direta, que substitui o
carburador, possui sensores eletrônicos que
avaliam a quantidade exata de combustível
necessária a cada instante, injetando-a
diretamente e com precisão. Mantém-se,
assim, com muito mais exatidão, a relação ar-
combustível ideal em todos os regimes de fun-
cionamento do motor.
O conversor catalítico ou catalisador tem o
aspecto externo de um silenciador de
escapamento. Internamente possui uma
estrutura de cerâmica muito porosa, por onde
passam os gases de escape. Ao contrário do
que se pode pensar, não é um filtro. A
cerâmica é revestida com uma finíssima ca-
mada de uma liga metálica de platina e ródio.
Ela tem a capacidade química de reduzir os
óxidos de nitrogênio, resultando em nitrogênio
molecular (N 2 ), como o que existe
naturalmente na atmosfera. Com os átomos
de oxigênio que sobram, a liga catalítica
promove a oxidação do monóxido de carbono,
aldeídos e hidrocarbonetos. O resultado é a
formação de gás carbônico e vapor de água.
Em muitas cidades, os veículos automotores
constituem a principal fonte de poluição do ar.

Uma das maiores dificuldades para o uso de


catalisadores está na composição da gasolina.
Caso haja chumbo como aditivo, a tendência é
a de que ele se deposite na superfície
cerâmica, inutilizando o equipamento. Além
disso, a presença de enxofre leva à formação
de gás sulfídrico, se o motor não estiver em
boas condições de regulagem. Isso gera um
odor desagradável, como o de ovos podres.
O sistema combinado de injeção eletrônica e
catalisador proporciona uma redução de mais
de 90% na emissão dos principais poluentes.
Para o controle das emissões do carter, já
mencionadas, o melhor método é ligar o
respiro à entrada de ar do motor. Dessa for-
ma, todos os gases que seriam lançados na
atmosfera são redirecionados para o motor,
onde serão novamente queimados. Para o
controle da emissão evaporativa, todas as
saídas possíveis de vapor são ligadas a um
filtro de carvão ativado. Esse filtro tem a
capacidade de reter os vapores, evitando que
cheguem à atmosfera.
Desde 1986, está em vigor no Brasil uma
legislação específica para o controle da
poluição do ar pelos veículos automotores, o
Proconve. Atualmente, todos os carros novos
devem sair de fábrica com sistema de controle
de emissão do cárter e evaporativa. Além
disso, devem obedecer a limites de emissão
de escapamento. Esses limites são
decrescentes ano a ano. Com essas medidas,
até 1997, os veículos brasileiros, em termos
de emissão de poluentes, deverão estar no
mesmo nível daqueles fabricados nos países
mais avançados tecnologicamente.

O TRÁFEGO

Qualquer medida que traga economia de


combustível reduzirá a emissão de poluentes.
Um aumento na velocidade de tráfego, por
exemplo, que implique em redução do tempo
de viagem, irá diminuir a emissão de
monóxido de carbono e hidrocarbonetos. Por
outro lado, um veículo parado em um
congestionamento, com o motor em marcha
lenta, emite altas concentrações de monóxido
de carbono, hidrocarbonetos e aldeídos.
Por isso, o correto gerenciamento de tráfego,
com construção de vias expressas, semáforos
sincronizados, pavimentação de vias, enfim,
toda medida que diminua os
congestionamentos e aumente a velocidade
de tráfego trará um efeito ambiental positivo.
Os dados demonstram que uma redução na
velocidade média de tráfego na cidade de São
Paulo, de 31 para 19 quilômetros por hora,
provocou um aumento da ordem de 25% na
emissão de monóxido de carbono e 20% na
emissão de hidrcarbonetos.
Ao mesmo tempo, a implantação de um
eficiente sistema de transporte coletivo nas
áreas centrais dos grandes centros urbanos,
que chegue a incentivar o uso do sistema
público em detrimento do automóvel
particular, apresenta-se como a melhor
maneira de solucionar, em um só golpe, os
problemas de tráfego e de poluição. Se o
coletivo for de propulsão elétrica (trolebus,
metrô etc.), o ganho ambiental é total. Mas
mesmo a simples substituição de vários auto-
móveis por um único ônibus a diesel traz
benefícios inegáveis. No entanto, isso só é
possível se o sistema coletivo apresentar
níveis de conforto e confiabilidade compa-
ráveis aos do veículo particular.
12
O Controle da Poluição do Ar

A MEDIDA DA POLUIÇÃO

O controle da qualidade do ar nas grandes


cidades é feito, em geral, através de uma
medida rotineira de seis parâmetros principais
à saber: partículas, hidrocarbonetos totais,
oxidantes totais, óxidos de nitrogênio,
monóxido de carbono e dióxido de enxofre.
Como já vimos, embora essas substâncias não
sejam as únicas que possam causar danos à
vida em geral, elas constituem indicadores
potenciais da alteração da composição do ar
em uma região. Sugerem a necessidade de
correção ou, eventualmente, de análises mais
detalhadas da situação. Os parâmetros
formam, pois, medidas indiretas do estado
geral do ambiente onde vivemos.
E possível se fazer uma analogia com um
procedimento muito conhecido de todos nós, o
do médico clínico em seu consultório. Depois
de interrogar o paciente sobre o que está
sentindo, e sobre o histórico de sua suposta
doença, o clínico inicia uma série de obser-
vações aparentemente desconexas, que nada
têm a ver com o caso em questão. Mesmo que
se trate de uma dor abdominal, uma cefaléia
ou um entorse no tornozelo, ele irá medir a
temperatura, a pressão, a pulsação, além de
auscultar o tórax e outros órgãos do cliente.
Os parâmetros assim obtidos permitirão ao
médico uma avaliação geral sobre o estado de
saúde apresentado. Nenhum deles, em si mes-
mo, constitui ou indica uma doença específica.
Uma temperatura elevada, por exemplo,
significa uma anomalia no estado geral. Da
mesma forma, o número de pulsações ou a
pressão abaixo ou acima da normal, a
presença de ruídos diferentes no tórax ou,
ainda, uma alteração da resistência à pressão
sobre diferentes partes do abdome também
podem indicar alguma irregularidade.
Qualquer dessas anomalias, isoladamente ou
em conexão com outras, indicará que o
organismo do paciente está padecendo de al-
guma deficiência ou ação estranha. Nesse
caso, o médico aconselhará a realização de
exames específicos, em função do histórico e
do que ele próprio observou. Poderá mandar o
cliente fazer um exame de sangue ou de
urina, um eletrocardiograma ou uma
radiografia, dependendo do caso. Um mau mé-
dico, ao contrário, prescreverá a realização
imediata de todos os exames possíveis de
laboratório, antes de proceder a um diagnósti-
co prévio, baseado nos parâmetros mais
evidentes. Muitas das análises seriam
desnecessárias, e o custo, evidentemente,
muito menor.
Em uma grande cidade industrial, as análises
de qualidade do ar têm de ser feitas, às vezes,
a cada minuto. A finalidade dessas análises é
a de constatar o estado anômalo da qualidade
do ar, além de fornecer uma informação sobre
sua possível gravidade (tal como uma febre
alta no exemplo do médico).
Além disso, as medidas realizadas são
comparadas com os dados históricos e com as
"queixas do paciente", na forma de indústrias
presentes e situações anteriores já
verificadas. Finalmente, os resultados das
análises poderão recomendar a realização de
outros estudos ou, de imediato, a paralisação
das indústrias do local, em casos muito graves
(uma espécie de internação em UTI).
Vejamos, agora, cada um dos seis parâmetros
mencionados. Como são medidos e qual seu
significado. Com isso será fácil reconhecer
todas as possibilidades de anomalias ou de
"sintomas gerais" que ocorrerem no ar,
relacionadas a qualquer introdução
significativa de um poluente específico.

PARTÍCULAS

A presença de altas concentrações de


partículas sólidas no ar, independentemente
da sua composição química, revela um estado
geral de turvação que, no mínimo,
compromete a estética da região. Tal fato
pode estar relacionado a inúmeros processos
industriais caracterizados pela combustão in-
completa; pela ação física de trituração (como
é o caso da trituração de rochas fosfáticas nas
indústrias de fertilizantes); pelo vento, que
eleva as partículas (em depósitos de carvão) e
a poeira (em áreas sem cobertura vegetal);
pela emissão de partículas ferruginosas em
altos- fornos de metalúrgicas.
Uma infinidade de sintomas e efeitos podem
ser causados pelas partículas sólidas em
suspensão no ar, dependendo de sua
composição química. Por isso, uma vez consta-
tado o excesso de material particulado, é
necessário verificar sua procedência, a fim de
se avaliar o real significado específico.
O processo mais empregado na medição de
partículas na atmosfera consiste no uso de
uma bombinha de ar, de funcionamento inter-
mitente. Ela absorve o ar ambiente numa
quantidade proporcional à que é aspirada em
1 dia pelos pulmões de uma pessoa normal. O
ar passa através de um filtro de fibras de vi-
dro que retém todas as partículas.
Diariamente, esse filtro é removido do
aparelho, pesado cuidadosamente e
substituído por outro filtro limpo. Pela
diferença de peso observada entre o filtro
limpo e o filtro usado, obtém-se a massa de
partículas, relacionada ao volume de ar
filtrado. O valor encontrado representa a
quantidade de material particulado retido ao
longo das vias respiratórias de uma pessoa
adulta, respirando no mesmo ambiente, no
período de 24 horas.
Existem, porém, processos mais sofisticados.
Eles permitem uma medição instantânea do
material particulado existente na atmosfera.
Nesse caso, o ar é succionado a cada minuto,
através de uma tira de papel especial. Com
isso é formada uma mancha que, em seguida,
é automaticamente medida por um feixe de
radiações que facilmente atravessa o papel.
As partículas permanecem retidas no papel,
de acordo com sua espessura. Quanto maior a
concentração de partículas, menor será a
quantidade de radiações que o atravessa, do
mesmo modo que em uma radiografia. Os
raios que atravessam o papel são processados
e transformados em impulsos elétricos.
Através de fios telefônicos, os impulsos são
imediatamente transmitidos a uma central
telemétrica que coleta instantaneamente esses
e outros dados.

HIDROCARBONETOS TOTAIS

Hidrocarbonetos são compostos orgânicos


relativamente simples, formados de átomos
de hidrogênio e carbono. De acordo com o
número de cada um desses átomos, e com o
seu arranjo na molécula, reconhecem-se
centenas ou milhares de hidrocarbonetos di-
ferentes. Cada um deles apresenta
propriedades químicas diversas e,
conseqüentemente, diferentes tipos de ação
sobre a saúde.
Muitos desses hidrocarbonetos encontrados no
ar têm origem na combustão do petróleo, do
carvão vegetal ou mineral ou, ainda, do álcool.
A medição contínua de cada um desses
compostos no ar é inviável, pois os gastos
para tal empreendimento seriam muito altos.
Além disso, nesse caso específico, o próprio
conhecimento detalhado de todos os
hidrocarbonetos resultantes de cada atividade
industrial — ou do funcionamento dos veículos
— não conduz à previsão segura dos com-
postos que poderão estar presentes no ar.
Simplesmente porque inúmeras reações
químicas podem se dar no próprio ar das
camadas mais altas da atmosfera, sob a
influência da luz solar transformando e
originando novos hidrocarbonetos. Esses hi-
drocarbonetos poderão ser mais ou menos
nocivos que os resultantes daqueles
processamentos.
Centro de controle de poluição da Cetesb, em São
Paulo.

Por um sofisticado processo denominado


ionização de chama, as estações automáticas
se limitam a medir a quantidade total de
hidrocarbonetos, independente da sua
composição e proporções específicas. Essa
medida reflete, assim, um potencial de
formação de compostos nocivos. Ela pode ser,
ainda, complementada por uma outra medida
(a de oxidantes totais). Ela reflete o potencial
de transformação fotoquímica que pode
ocorrer no ar e que será descrita a seguir.

OXIDANTES TOTAIS

Os hidrocarbonetos desprendidos na
atmosfera têm tendência a reagir com os
óxidos de nitrogênio, originando, entre outros
produtos, o ozônio. Este, por sua vez, é muito
mais ativo quimicamente do que o oxigênio
molecular normal. O ozônio é responsável por
reações de oxidação com outras substâncias,
formando compostos tóxicos. Em todas essas
reações, a luz solar intervém como fonte de
energia. Por isso se fala, de um modo
abrangente, em oxidantes fotoquímicos ou
oxidantes totais, para a quantidade total de
oxidantes (representados pelo ozônio)
existentes no ar. Sua presença é denunciadora
de ação fotoquímica que, potencialmente,
poderá dar origem a novos produtos nocivos.

ÓXIDOS DE NITROGÊNIO

Os óxidos de nitrogênio são bastante nocivos.


Provocam irritações das mucosas, que causam
afecções respiratórias, bem como alterações
sangüíneas. Em relação aos vegetais, são
conhecidos como inibidores da fotossíntese.
Também são causadores de lesões nas folhas.
Os óxidos de nitrogênio são medidos por
métodos analíticos especiais, após sua
dissolução em água, ou eletronicamente, com
emprego de raios infravermelhos.
MONÓXIDO DE CARBONO

No capítulo anterior, vimos como é perigosa


para a saúde a presença de monóxido de
carbono no ar que respiramos. Ele está
presente, em quantidades variáveis, nas
fumaças emanadas dos processos de com-
bustão, qualquer que seja o combustível
utilizado. Assim sendo, as medidas de sua
concentração, além de indicar certos tipos de
combustão, são importantes em si mesmas,
dado seu elevado potencial tóxico. Sua
medição é efetuada com emprego de
radiações infravermelhas.

DIÓXIDO DE ENXOFRE

Os óxidos de enxofre também são resultantes


dos processos de combustão. Os carvões
minerais encontrados no Brasil, por exemplo,
contêm altas concentrações de sulfeto de
ferro (pirita) e, ao serem queimados, dão lugar
à formação de gases sulfurosos. O petróleo
brasileiro, ao contrário dos importados, possui
muito menor teor de enxofre.
Já vimos, além dos vários problemas que
causam à saúde, como os gases de enxofre
podem provocar chuvas ácidas. Elas se es-
palham na atmosfera, atingindo áreas muito
grandes e distantes do ponto de emissão. Os
compostos de enxofre são medidos por
exposição ao ar de corpos impregnados de
peróxido de chumbo. Esse composto reage
com os gases sulfurosos, sendo depois feita a
análise dos sulfatos resultantes.
EXEMPLOS DE CONTROLE DA POLUIÇÃO

Para o controle da poluição por veículos,


outras medidas se fazem necessárias, além
daquelas já apontadas no capítulo anterior.
Algumas de caráter geral e outras específicas,
para diferentes fontes estacionárias, isto é,
fontes fixas. São exemplos dessas fontes as
indústrias, alguns estabelecimentos
comerciais e até instalações em residências.
Em primeiro lugar, é preciso partir do
princípio, universalmente aceito, de que os
equipamentos e dispositivos existentes para o
controle da poluição não se aplicam a todo e
qualquer tipo de poluente. Além disso, a
eficácia desses equipamentos não é sempre
absoluta. São necessárias medidas de
zoneamento das atividades poluidoras. Isso é
feito dentro de um planejamento regional. Ele
deve levar em conta o estabelecimento de
áreas de proteção sanitária, a direção de
ventos predominantes e outras características
meteorológicas da região. Assim, é possível se
conseguir a localização seletiva das indústrias
de acordo com o seu potencial poluidor.
Além disso, são recomendadas as seguintes
medidas de caráter geral:

•Uso de matérias-primas e combustíveis com


baixo potencial poluidor. A utilização de álcool
etílico ou metílico, carvão com pouca matéria
volátil ou combustíveis de baixo teor de enxo-
fre reduz as emissões de gases sulfurosos e
outros poluentes. Da mesma forma, a
intensificação do emprego de energia elétrica
(no transporte urbano, ou em fornos
industriais) ou de gás combustível, em lugar
dos combustíveis líquidos em geral, produz
grandes benefícios à qualidade do ar de uma
cidade.
• Projeto adequado de equipamentos básicos:
operação e manutenção conveniente de
equipamentos e processos, através do
controle da temperatura correta de fusão de
metais; perfeita relação ar-combustível em
equipamentos industriais; controle
meteorológico, parada ou redução das
atividades poluidoras durante as horas em que
as condições meteorológicas sejam
desfavoráveis ao transporte e dissipação de
poluentes.

Quanto ao controle específico das emissões,


as medidas são as seguintes:

• Diluição do poluente na atmosfera, mediante


o emprego de altas chaminés.
. Destruição ou coleta do poluente na fonte.
. Emprego de sistemas e equipamentos corretivos
para o controle de gases e retenção de material
particulado.

O S EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS ANTIPOLUIÇÃO


Existem dois grupos de equipamentos
destinados a reduzir a poluição provocada
pelas atividades industriais: os que controlam
a emissão de material particulado e os que
retêm gases e vapores. Em cada um desses
grupos existem várias alternativas,
representadas por inúmeros equipamentos,
aplicáveis a diferentes casos.
Para a remoção de partículas, são
empregados, em geral, sistemas de lavagem.
Neles, o material particulado é forçado a
atravessar uma camada de água, na forma de
gotículas. As partículas são, assim, arrastadas
por essa verdadeira "chuva", que é, em
seguida, recolhida pelo sistema de esgotos
industriais ou por filtração. Esse meio filtrante
é constituído de material granuloso, fibras ou
tecidos especiais. Existe, ainda, um outro
método, o de sistemas de deposição. Através
dele, as partículas são forçadas a depositar-se
ou precipitar-se, seja por simples redução da
velocidade do fluxo ou corrente do material
particulado, seja por processos especiais,
eletrostáticos ou centrífugos.
No caso dos sistemas de centrifugação, são
muito utilizados os chamados ciclones. O gás
carregado de partículas é, então, submetido a
um forte movimento giratório. Isso faz com
que as partículas aumentem muito de peso,
precipitando-se de maneira forçada. No caso
de precipitadores eletrostáticos, as partículas
carregadas de eletricidade encaminham-se
para o pólo elétrico contrário ao de sua carga.
Os materiais gasosos podem ser removidos
por absorção, adsorção, condensação ou queima.
A absorção é feita, em geral, pela passagem
do gás, através de uma camada de líquido.
Essa camada deve ter a propriedade de diluir
ou reagir quimicamente com as substâncias
ou compostos nocivos que se deseja eliminar.
A adsorção é uma propriedade que possuem
certas substâncias dotadas de grande superfí-
cie molecular. É o caso do carvão vegetal, do
carvão ativado, da sílica-gel ou da alumina
ativada. Todas essas substâncias mesmo em
estado sólido retêm certos tipos de molécula
com as quais mantêm contato. A condensação
é utilizada no caso de o poluente ser emitido
na forma de vapores, isto é, a temperaturas
elevadas. Nesse caso, ao se provocar a
redução da sua temperatura, o vapor é
condensado na forma líquida. Finalmente,
quando se trata de uma emissão de gases
inflamáveis, ou cuja composição química seja
alterada a altas temperaturas, eles podem ser
submetidos a um processo de combustão ou
queima, em queimadores de diferentes tipos.
Estes são muito usados para eliminar o mau
cheiro produzido por gases orgânicos.
13
Conclusão: O Papel da Natureza e o
Papel de Cada um de Nós

O AUTOCONTROLE DA POLUIÇÃO PELA NATUREZA

Assim como existem processos naturais de


autodepuração dos cursos d'água, que recebem
esgotos ou resíduos líquidos industriais,
também há na natureza recursos de que ela
se utiliza para proteger-se (e proteger-nos) da
poluição atmosférica. Só que, tal como
acontece na água, esses recursos são
limitados.
Os principais processos que atuam na
natureza, provocando a neutralização, a
diluição ou a eliminação dos poluentes
atmosféricos são: a dispersão, a precipitação,
as transformações químicas e a assimilação
biológica.

DISPERSÃO

Todo gás, por definição, tende a adquirir o


máximo volume, através do processo que os
físicos denominam expansão dos gases. Ao
contrário das substâncias sólidas e líquidas,
que manifestam sempre a tendência da
conservação do volume, os gases possuem
moléculas dotadas de grande mobilidade,
tendendo a afastar-se umas das outras. Por
isso, dizemos que, quando um gás é
desprendido no interior de um quarto, uma
sala, ou qualquer recipiente, em pouco tempo
suas moléculas ocupam todo o espaço
disponível. Essa dissipação do gás depende de
alguns fatores, entre os quais a temperatura e
a mobilidade do próprio ar onde ele se dissipa.
A temperatura tem, por efeito, acelerar o
movimento das moléculas. Elas se tornam
então muito mais rápidas em seu processo de
afastamento umas das outras.
Como o ar atmosférico é constituído de gases,
ele também está sujeito ao efeito da tempera-
tura. Graças a essa excitação molecular, o ar
aquecido pelos raios solares, que refletem
calor ao atingir o solo, tende a tornar-se
menos denso, isto é, mais leve, subindo para a
atmosfera. Isso provoca correntes
ascendentes. Essa movimentação do ar, bem
como os movimentos horizontais a que
denominamos vento, formam os principais
agentes aceleradores da dispersão.
Os poluentes atmosféricos, na forma de
emissões de chaminés, ou dos tubos de
escapamento dos automóveis, não são, como
já foi visto, compostos apenas de gases. Eles
freqüentemente possuem partículas em
suspensão. Essas partículas, sendo muito
leves, acompanham, porém, os movimentos
dos gases, principalmente quando o ar
atmosférico é muito móvel. Assim, elas ficam
sujeitas à dissipação e diluição no ar
ambiente.
A diluição resultante, tanto dos gases quanto
do material particulado, é benéfica. Ela reduz
a quantidade total de substância nociva que
os nossos pulmões recebem através da
respiração. Constitui um verdadeiro efeito
purificador do ar. Algumas vezes, um maior
efeito de diluição é conseguido mediante a
elevação da altura das chaminés das fábricas.
Com isso as emanações gasosas são lançadas
em um maior volume de ar ou a uma altura
onde a mobilidade atmosférica é mais efetiva.
Por outro lado, quando se trata,
principalmente, de material particulado, o
aumento da altura de lançamento pode
produzir um resultado negativo, o de ampliar
o raio de ação do poluente.

PRECIPITAÇÃO

No caso de matérias particuladas — ao


contrário das gasosas —, a ação da gravidade
desempenha um papel importante no processo
de depuração natural da atmosfera. Todos
sabem que depois de o vento elevar a poeira,
esta se deposita novamente no solo. Essa é a
origem do pó que recobre casas, móveis,
veículos e outros objetos. A mesma coisa
acontece com as partículas de carbono
lançadas ao ar por chaminés ou mesmo por
vulcões. Ao se depositar elas formam a
fuligem.
Além do carbono existem outras partículas
resultantes da combustão. São as cinzas.
Como a poeira, elas são espalhadas por
grandes superfícies e depositadas sobre o solo
e os objetos. Essa deposição de partículas
depende, também, da mobilidade do ar. Ela
constitui uma forma eficiente de limpeza da
atmosfera. Pela aderência ou dissolução das
partículas na água, em dias chuvosos, esse
processo de precipitação pode ser muito
acelerado, como se houvesse uma lavagem do
ar.
TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

A partir principalmente de reações


fotoquímicas, vimos que podem ser formadas
algumas substâncias na atmosfera que não
são diretamente lançadas pelas fontes
poluidoras, mas sim originadas a partir de
alguns de seus componentes químicos.
Em muitos casos, essas reações são nocivas.
Elas podem gerar compostos bem mais tóxicos
aos animais, às plantas e ao ser humano do
que aqueles originalmente expelidos.
Entretanto, é freqüente ocorrer o contrário.
Reações, principalmente as de oxidação,
anulam ou reduzem o efeito tóxico. Isso
acontece quando os compostos tóxicos são
transformados em compostos inertes. É o
caso, por exemplo, de alguns gases altamente
venenosos, como o monóxido de carbono, o
ácido cianídrico e outros. Lentamente eles vão
perdendo o seu efeito tóxico ao reagir com o
oxigênio do ar, transformando-se em gás
carbônico, vapor de água e outros compostos
não-tóxicos.

ASSIMILAÇÃO BIOLÓGICA

As plantas têm capacidade de absorver e


transformar algumas substâncias gasosas
nocivas existentes no ar. Em muitos casos,
embora isso constitua um processo de
depuração da atmosfera em relação à nossa
respiração, essas substâncias causam
intoxicação aos vegetais. Dependendo da
quantidade, podem levá-los à morte.
Existem situações, porém, em que isso não
acontece. Como já foi visto, o gás carbônico,
embora não seja propriamente tóxico, é absor-
vido em grandes quantidades pelos vegetais,
através do processo de fotossíntese, vital para
todas as plantas verdes. Elas participam,
assim, do equilíbrio entre as proporções de
oxigênio e gás carbônico. Esse equilíbrio é de
grande importância para todos os seres vivos.
Não só por produzirem o próprio oxigênio, mas
por consumirem proporção equivalente de gás
carbônico. Esse consumo tem grande
significado, como já vimos, em relação à
prevenção do efeito estufa, uma das mais
importantes conseqüências do enriquecimento
do ar em gás carbônico.
Por outro lado, a eficácia do processo de
remoção do gás carbônico e outros poluentes
pela fotossíntese não pode ser exagerada. Não
se deve supor que a simples arborização das
ruas de uma cidade seja suficiente para
eliminar todos os poluentes gasosos de origem
industrial. As indústrias precisam preocupar-
se com a instalação de aparelhos especiais de
remoção de poluentes. Um hectare de floresta
densa tem a capacidade de absorver cerca de
10 mil toneladas de carbono (ou 37 mil
toneladas de gás carbônico) por ano.
Ora, uma cidade como São Paulo emite, por
dia, cerca de 27 mil toneladas de gás
carbônico, só com os tubos de escapamento
dos veículos. Isso significa, 10 milhões de
toneladas por ano. Caso todo esse gás fosse
removido por fotossíntese, deveriam estar
plantados com grandes árvores cerca de 270
hectares. Só para compensar o CO 2 emitido
pelos automóveis e caminhões.
Além das plantas fotossintetizantes, inúmeros
microrganismos do solo e da água podem
desempenhar papel significativo na neutra-
lização dos poluentes atmosféricos. Embora
esse assunto não tenha sido, ainda, muito
pesquisado do ponto de vista da poluição do
ar, sabe-se que grande parte das bactérias
anaeróbias vivem perfeitamente bem em
ambientes contendo, por exemplo, altas
concentrações de monóxido de carbono ou
cianetos. Inclusive utilizando esses últimos
como alimento!
O PAPEL DE CADA UM DE NÓS

Se a natureza desempenha o seu próprio


papel — com relação à depuração do ar —, e
se esse papel é limitado, cada um de nós
poderá ajudá-la, arcando com uma parte da
responsabilidade pela poluição.
Em muitas de nossas atividades diárias
podemos adotar medidas que concorram para
evitar ou moderar a poluição de nossa própria
cidade, de nosso país e, até, do mundo, como
um todo! Podemos começar pela escolha do
nosso veículo. Como já vimos, o álcool, como
combustível, é preferível à gasolina, por ser
reciclável e por gerar menos poluentes. Além
disso, devemos tomar todas as providências
no sentido de que seu mecanismo seja
mantido perfeitamente regulado, para que
emita menos poluentes. E... que tal se
andássemos um pouco mais a pé, de bicicleta,
de metrô ou de ônibus em lugar de tirar o
carro da garagem toda vez que temos de nos
locomover a pequenas distâncias? Além de
gastarmos menos combustível e poluirmos
menos, estaríamos contribuindo para reduzir
os congestionamentos de tráfego e para
melhoria de nossa própria saúde...
da colheita. Essas queimadas, além de
produzirem enormes quantidades de gás
carbônico, fuligem e cinzas, concorrem para a
perda de fertilidade dos solos. Com isso são
eliminados os microrganismos que produzem o
húmus, principal fertilizante natural da terra.
As queimadas constituem uma grande perda
econômica, uma vez que destroem substân-
cias de grande valor como combustível ou
matéria-prima, como é o caso da palha da
cana.
Para finalizar, não podemos esquecer dos
industriais, que têm uma grande parcela de
responsabilidade, com relação à poluição do
ar. Na verdade, não falta tecnologia, mesmo
em nosso país, para resolver todos esses
problemas. Além disso, nem sempre a solução
do problema reside na instalação de um
equipamento muito caro. Na maior parte das
vezes, ele se resolve mediante simples
racionalização do processo industrial, isto é,
revisão do sistema produtor, no sentido de
torná-lo mais racional. Isso significa obter
maior quantidade de produtos utilizando a
mesma quantidade de matéria-prima. Sempre
que fizermos isso, a poluição será reduzida,
pois, como sabemos, a poluição é, quase
sempre, resultado de desperdícios, seja de
matéria, seja de energia!

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