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a Trincas ~ a aT a ae em Edificio: causas, prevencao 2 recupera eng. Ercio Thomaz Le SRR Ee Lae LU co-edicao IPT/EPUSP/PIN| ieee TRINCAS EM EDIFICIOS causas, prevengao e recuperacao ©COPYRIGHT EDITORA PINI LTDA. Todos os direitos de reprodugao ou tradugio reservados pela Editora Pini Ltda. Dados Internacionais de Catalogacdo na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Thomaz, Ercio, 1949 — Trincas em edificios : causas, prevengao e recuperagao / Ercio Thomaz. - Sao Paulo : Pini : Escola Politécnica da Universidade de S40 Paulo : Instituto de Pesquisas Tecnolégicas, 1989. Bibliogratia, ISBN 85-09-00047-6 1. Construgao - Falhas |. Titulo. 89-1506 CDD-690.26 indices para catélogo sistematico: 1. Ediffcios : Fissuras : Construgdes : Tecnologia 690.26 2, Edificios : Trineas : Construg6es : Tecnologia 690.26 3, Fissuras em edificios : Construgdes : Tecnologia 690.26 4, Trincas em edificios : Construgées : Tecnologia 690.26 Revisio editorial: Mariza Passos Produgo Gréfica: Carlos Mazetti Diagramagio: Sebastido Silva Secretaria editorial: Marcia Melkan Editora Pini Ltda. Rua Anhaia, 964 - CEP 01130-900 Sao Paulo, SP Fone: 011 3352-6400 - Fax 011 3224-0314 Intemet: www.piniweb.com - E-mail: manuais@pini,com. br Resumo/Abstract 2 ee Abordam-se, de maneira geral, as varias causas de formagdo de fissuras nos edificios: recal- ques de fundagao, deflexdes de componentes estruturais, movimentag6es higrotémmicas dos materiais e componentes dos edificios, atuagdo de sobrecargas, relragdo de secagem de argamassas € concretos, e também alguma coisa sobre alteragées quimicas dos materiais de construgao. Tenta-se analisar os mecanismos de formacao de fissuras, assim como fornecer alguns elemen- tos indispensaveis para a sua previsdo. Apresentam-se alguns detalhes visando a prevencao das fissuras e alguns métodos empregados na recuperagao de componentes trincados. The various causes of cracking in buildings are presented, such as: foundation settlements, deflections of structural components, hygrothermal deformations of building materials and com- ponents, action of overloads, drying shrinkage of mortars and concretes, and also some short comments on chemical modifications of building materials An attempt is made in order to analyse the crack mechanisms as well as to provide eed elements that are essential for their prediction, Some details aiming at the prevention of « and some methods applied in repairing cracked components are presented. i Apresentagdo Recordo-me de que a idéia inicial visando @ realizagao deste trabalho nasceu durante uma reuniao no IPT, no antigo Agrupamento de Componentes da Divisdo de Edificagées. Naquela ‘oportunidade, 0 Engenheiro Ercio Thomaz tomou a sia responsabilidade pela sua elaboracéo. Passando aigum tempo, apresentou-nos esta excelente monoaratia, hoje considerada de utllida- de inestimavel para a compreenséo dos fenomenos relacionados a trincas em edificios A sua publicagao, esforgo conjunto da EPUSP, IPT e Editora Pini, cerlamenie enriquecera 0 meio técnico voltado a construcdo civil. Desejamos nesta oportunidade parabenizar o Enge- nheiro Ercio Thomaz pela sua dedicagao e competéncia. Luiz Carlos Martins Bonilha Diretor-Superintendente do IPT Prefacio neers Fui convidado a preparar um prefacio para este livro_ Isto se deve principaimente ao fato Ge ter sido 0 orientador de mestrado do engenheiro Ercio Thomaz, na Escola Politécnica, @ dessa maneira ter podido conviver com a elaboragdo do texto durante alguns anos. Este texto se iniciou modestamente, em uma apresentacéo para uma das disciplinas de pés-gra- duagao, evoluiu para tema de semindrio de area, passou a ser parte integrante de uma discipiina sobre patologia das edificagoes para, finalmente, se converter em Dissertagdo de Mesirado, Paralelamente, passou pelo crivo de varios casos praticos, reais, nos quais o engenheiro Ercio Thomaz esteve envolvido, como consultoria que o IPT fornece sistematicamente a institul- goes e empresas. Como resultado, ao se apresentar a Dissertagéo 4 Banca Examinadora, ficou clara a neces- sidade de publica-la na forma de livro. Desta maneira ela sai das bibliotecas especializadas de pos-graduagao de engenharia para se transformar em uma publicagao de elevado interesse profissional, Sobre 0 autor, desejo destacar a seriedade com que se dedica ao trabalho. Durante esses anos todos que tive oportunidade de conviver com ele sempre admirei 0 seu esforco compe- Netrado para conduzir qualquer misao. Nessas missées 0 engenheiro Ercio Thomaz costuma se empenhar com dedicacao, profundidade, dai a sua competéncia, E facil avaliar o resultado de um trabalho, como o presente, quando se junta a seriedade a competéncia e os longos anos de maturagao de uma obra dessa profundidade. O livro foi escrito num estilo agradavel, organizado, didatico e logico. Essa |égica, entretanto, pode ser enganosa, O leitor nao deve encarar o trabalho como um manual de consulta, ‘onde encontrara uma resposta direla para a dificuldade que venha a encontrar na sua profissao_ Este livro 6, antes disso, um livro de formagao. E necessario uma visdo sistémica de todo 9 problema para se caminhar em diregéo a uma solugao. O leitor podera constatar, como acontece em engenharia, que uma causa pode ter diferentes efeitos e um efeito podera ter diferentes causas. A metodologia de andlise, nesses casos, exige uma visdo sistémica que, no caso de trincas, o profissional s6 obtém com uma formagao basica sdlida, partind de varias diregdes ao mesmo tempo, tentando uma convergéncia do raciocinio. Pelo ca desse raciocinio o profissional passa com frequéncia pela angustia da divida, pelo da inseguranga, pelo peso da responsabilidade, pela dor do erro. Este livro ajudara c a trilhar seu caminho com menos solidao. indice Capitulo 1. Introdugao Capitulo 2, Fissuras causadas por movimentagGes térmicas: mecanismos de formagao e configuracées tipicas 2.1. Mecanismos de formagao das fissuras 2.2, Propriedades térmicas dos materiais de construgao 2.3, Configuragées tipicas de trincas provocadas por movimentagées térmicas 2.3.1. Lajes de coberturas sobre paredes autoportantes 2.3.2, Movimentacées térmicas do arcabougo estrutural 2.3.3, Movimentagées térmicas em muros 2.3.4, Movimentagdes térmicas em platibandas 2.3.5, Movimentacoes térmicas em argamassas de revestimento 2.3.6. Movimentacées térmicas em pisos externos 2.3.7. Movimentacées térmicas em lajes de forro 2.3.8, Movimentacses térmicas em placas de vidro. 2.3.9. Fissuras provocadas por cura térmica do conereto Capitulo 3. Fissuras causadas por movimentagées higroscépicas: mecanismos de formagao e contiguragées tipicas 3.1, Mecanismos de formacao das fissuras 3.2, Propriedades higroscdpicas dos materiais de construgao 3.3. Configuragées tipicas de trincas provocadas por movimentagdes higroscépicas Capitulo 4. Fissuras causadas por atuagdo de sobrecargas: mecanismos de formagao e configuracées tipicas 4.1. Consideragées sobre a fissuragéo de componentes de concreto armado submetidos a flexao 4.2. Configuragées tipicas de fissuras em componentes de concreto armado, devidas a sobrecargas 4.2.1, Flexéo de vigas 4.2.2. Toredo de vigas 4.2.3. Flexao de lajes 4.2.4. Torgao de lajes 4.2.5. Trincas em pilares 43. ice carer oae sobre a fissuragdo das alvenarias submetidas a compressao: axial 4.4. Configuragées tipicas de {issuras em alvenarias, devidas a sobrecargas 4.5, Fissuragéo de telhas de fibrocimento causada pela concentragao de tensées nas regioes de fixagéo Capitulo §. Fissuras causadas por deformabllidade excessiva de estruturas de concreto armado: mecanismos de formagao e configuracdes tipicas 5.1. Consideragées sobre a deformabilidade de componentes submetidos a flexdo S288 B BE 8atess & Bs ae 5,2 Previsdo de flechas em componentes flatidos 5.3, Configuragoes tipicas de trincas provocadas pela llexAo de vigas e lajes Capitulo 6. Fissuras causadas por recalques de fundagao: mecanismos de formagao e configuragées tipicas 6.1. Consideraces sobre a defarmabilidade dos solos e a rigidez dos edificios. 6.2. Modelos para aestimativa de recalques 62.1. Recalques de sapatas apoiadas em argila 6.2.2. Recalques de sapatas apoiadas em areia 6.2.3. Recalques por adensamento de camadas profundas 6.2.4, Recalques em tubules 6.2.5. Recalques em estacas 6.2.6. Estimativa dos parametros elasticos do solo, 6.2.7. Estimativa dos recalques a partir de prova de carga 6.3. Configuragoes tipicas de trincas causadas por recalques de fundacéo Capitulo 7. Fissuras causadas pela retragao de produtos a base de cimento: mecanismos de formacao e configuragoes tipicas 7.1, Mecanismos da retracao 7.2, Mecanismos de formagao e configuracdes de fissuras provocadas por retragao 7.2.1. Retragao de vigas e pilares de concreto armado 7.2.2, Retracao de lajes de concreto armado 7.2.3 Retracao de paredes e muros 7.2.4, Retracao de argamassas de revestimento 7.2.5, Retracao de argamassas de assentamento de azulejos Capitulo 8. Fissuras causadas por alteragdes quimicas dos materials de construgao: mecanismos de formacao e configuracées tipicas 8.1. Hidratacao retardada de cales 8.2. Ataque por sulfatos 8.3, Corrosdo de armaduras Capitulo 9. Prevengao de fissuras nos edificios 9.1. Fundagoes 9.2, Estruturas de concreto armado. 93 Ligagées entre estrutura e paredes de vedagao 9.4 Alvenarias 95. Lajes de cobertura 9.6. Revestimentos rigidos de parede 9.7. Pisos ceramicos 9.8. Forros de gesso 9.9. Caixilhos e envidragamentos Capitulo 10. Diagnéstico das trincas Capitulo 11. Recuperagao de componentes trincados 11,1, Recuperacao ou reforgo de componentes de concreto armado. 11.2. Recuperagao ou reforgo de paredes em alvenaria 11.3, Recuperagao de revestimentos rigidos Capitulo 12. Consideragées finals Relacao de tabelas Relacao de figuras Referéncias bibliograticas 103 103, 107 107 109 109 115 117 119 119 120 122 127 127 131 136 138, 143 145, 146 148 149 151 159 160 165 170 Capitulo 1 ST Introdugao Dentre os inimeros problemas patoldgicos que atetam os edificios, sejam eles residenciais, comerciais ou institucionais, particularmente importante é o problema das trincas, devido a tfés aspectos fundamentais; 0 aviso de um eventual estado perigoso para a estrutura, 0 compro- metimento do desempenho da obra em servico (estanqueidade a agua, durabilidade, isola¢ao aotstica etc.), e 0 constrangimento psicolégico que a fissuracao do edificio exerce sobre seus usuarios. A evolugao da tecnologia dos materiais de construgao e das técnicas de projeto e execugao de edificios evoluiram no sentido de torna los cada vez mais leves, com componentes estruturais mais esbeltos, menos contraventados. As conjunturas socio-econémicas de paises em desenvolvimento, como o Brasil, fizeram com que as obras fossem sendo conduzidas com velocidades cada vez maiores, com poucos rigores nos controles dos materiais e dos servigos; tais conjunturas criaram ainda condig6es para que os trabalhadores mais qualilicados fossem paulatinamente se incorporando a setores industriais mais nobres, com melhor remuneragao da mao-de-obra, em detrimento da industria da construgao civil, Tais fatos, aliados a quadros mais complexos de formacao deficiente de engenheiros e arquite- tos, de politicas habitacionais e sistemas de financiamento inconsistentes e da inusitada fuga de recursos para alividades meramente especulativas, vém provocando a queda gradativa da qualidade das nossas construgées, até o ponto de encontrarem-se edilicios que, nem tendo sido ocupades, jd esto virtualmente condenados. Para a solugao de tals problemas, a experiéncia revela que as obras de restauragao ou reforgo sao em geral muito dispendiosas; € 0 que 6 0 mais grave... nem sempre solucionam o problema de forma definitiva. Os encargos decorrentes dessas reformas desnecessarias representam também um grande 6nus para a economia dos paises pobres, onde, via de regra, ha enorme caréncia de habitagées, de materials de construcao, de mao-de-obra especializada e de recursos de uma forma geral. Para o eng. Pfeffermann, consultor do Centre Scientifique et Technique de la Construction autor de diversos trabalhos sobre © assunto (1, 2, 3, 4), “as trincas podem nao constituir um defeito na medida em que sao a expressao, as vezes pode ser doloroso dizer-se, de uma nova era da construgao; mas serao, se cruzarmos os bragos sem nos esforgarmos para encontrar uma solugdo". No caso brasileiro, parece recomendavel a busca dessa sl pela classe dos engenheiros e arquitetos, pelos poderes constituldos e pela ‘ transferéncia aos usuarios dos edificios de problemas crénicos que repel Custos de manutengao; caso contrario, continuara a sociedade brasileira mall POUCOS recursos, construindo obras cada vez com pior padrao de qualid Partida, contribuindo para a formagao dos maiores especialistas do mu Entre os técnicos e empresarios aug atuam na constr motivo de grandes polémicas tedricas e de infindavei 16 - Trincas em edificios fechado os diversos intervenientes atribuem-se uns aos outros a responsabilidade pelo proble- ma, enquanto o dnus financeiro dele decorrente acaba sendo assumido quase sempre pelo consumidor final. "Aos olhos do leigo em construcao a fissura constitui um defeito cujo respon- sAvel 6 0 arquiteto, o engenheiro, o empreiteiro ou 0 fabricante do material. Entretanto... desde as origens da construgao, as fissuras sempre existiram, pois elas s40 consequéncias de fendmenos naturais." Essa afirmagao do arquiteto francés Charles Ramber,, citado por Pfeffer- mann“, parece querer explicar, de maneira relativamente singela, a origem do defelto; ao considerar-se entretanto que os ditos fenémenos naturais sao dados irrefutaveis da equagao, aantitese parece ser mais verdadeira As trincas podem comegar a surgir, de forma congénita, jogo no projeto arquitetnico da construgo; os profissionais ligados ao assunto devem se conscientizar de que muito pode ser felto para minimizar-se o problema, pelo simples fato de reconhecer-se que as movimen- tages dos materiais e componentes das edificagoes civis sao inevitaveis. Deve-se, sem duvida, dar importancia 4 estética, A seguranga, a higiene, a funcionalidade e ao custo inicial da obra; nao se deve esquecer, contudo, que projetar é também levar em conta alguns outros aspectos tais como custos de manutengao e durabilidade da obra, diretamente relacionados com o maior ou menor conhecimento que o projetista tem das propriedades tecnolégicas dos materiais de construgao a serem empregados. Do ponto de vista fisico um edificio nada mais ¢ do que a interligagao racional entre diversos materiais e componentes; é muito comum especificarem-se nos projetos componentes "bons e resistentes”, nao se dando maior cuidado aos elementos de ligagao e esquecendo-se, frequentemente, de que um sistema de juntas as vezes é indispensdvel para que os compo- nentes apresentem o desempenho presumido. Segundo Baker", 6 uma falacia muito comum referir-se a materiais de construgao como bons ou ruins, duraveis ou nao duraveis e resistentes ou no resistentes, como se essas fossem propriedades inerentes dos materiais. Na realidade, esses termos sao muito relativos: a durabilidade do material esta diretamente relacionada as condigoes de aplicacao e de exposicao, Por outro lado, nao existe nenhum material infinita- mente resistente; todos eles irdo trincar-se ou romper-se sob acéo de um determinado nivel de carregamento, nivel este que ndo devera ser atingido no caso de nao se desejar na edificagao componentes trincados ou rompidos. Incompatibilidades entre projetos de arquitetura, estrutura e fundagdes normalmente conduzem atensdes que sobrepujam a resisténcia dos materiais em segoes particularmente desfavoravels, originando problemas de fissuras. No Brasil é ainda muito comum a falta de didlogo entre 08 autores dos projetos mencionads e os fabricantes dos materiais e componentes da constru- go. Assim, projetam-se fundagdes sem levar-se em conta se a estrutura é rigida ou flexivel, Galculam-se estruturas sem considerarem-se os sistemas de vinculagdo e as propriedades eldsticas dos componentes de vedacao, projetam-se vedagdes e sistemas de piso sem a consideragao da ocorréncia de recalques diferenciados e das acomodagées da estrutura, Partindo-se muitas vezes de projetos incompativeis ou mal detalhados, considerando-se ainda a interferéncia de todos os projetos das instalagdes, as falhas de planejamento, a caréncia de especificagées técnicas, a auséncia de mao-de-obra bem treinada, a deficiéncia de fiscali- zag4o e, muitas vezes, as imposigdes pollticas de prazos e pregos, chega-se finalmente execugao da obra, onde uma série de improvisagées e malabarismos deverao ser adotados para tentar-se produzir um edificio de boa qualidade. Nesse quadro, pintado é certo com um pouco de exagero, as ocorréncias de fissuras, destacamentos, inflltragdes de agua e outros males parecem ser fendmenos perfeitamente naturals, talvez mais naturais do que aqueles a que se referiu Rambert. No Brasil com excepao de alguns levantamentos preliminares efetuados pelo IPT-Instituto de Pesquisas Tecnoldgicas do Estado de Sao Paulo" em conjuntos habite No interior, nao se tem noticia da compilagao de dados sobre as ol Introdugao - 17 patolégicos nos editicios e sobre suas formas mais tipicas de manifestagao Na Bélgica, ‘segundo pesquisa desenvolvida pelo Centre Scientifique et Technique de la Construction”), com base na andlise de 1800 problemas patologicos chegou-se a conclusdo de que a maioria deles originava-se de falhas de projeto (46%), sequindo-se falhas de execugao: (22%) e qualidade inadequada dos materials de construgao empregados (15%). No tocante as fissuras, que em ordem de importancia perdiam apenas para os problemas de umidade, concluiu-se que as causas mais importantes eram a deformabilidade das estruturas e as movimentac6es térmicas, seguindo-se os recalques diferenciados de fundagées e as movimen- tagdes higroscdpicas A falta, entre nds, do registro e divulgagdo de dados sobre problemas patolégicos retarda 0 desenvolvimento das técnicas de projetar e de construir, cerceando principalmente aos profissionais mais jovens a possibilidade de evitarem erros que [A foram repetides indmeras vezes no passado. Com 0 atual trabalho, muito respaldado na experiéncia pratica, pretende-se indicar as configu- ragdes mais tipicas das trincas, os principais fatores que as acarretam e os mecanismos pelas quais se desenvolvem, Sao analisadas também algumas medidas preventivas e alguns Sistemas para recuperacao de componentes trincados. E dbvio que nado ha espago nem muito menos capacidade para produzir-se o “grande manual da construgao”, com todas as|eis do conhecimento; espera-se, entretanto, chamar para o problema a atengao dos profissio- nais envolvidos com a construcado civil e, na medida do possivel, desmistificar-se um pouco 0s conceitos relativamente fatalistas estabelecidos sobre o tema Toda énfase do trabalho ¢ dada aos mecanismos de formagéo das fissuras, elemento cuja compreensdo 6 substantiva para orientar decisoes concernentes a recuperacao de compo- nentes trincados ou a adocao de medidas preventivas, incluindo-se ai a elaboracao de projetos e a especificacao e controle de materiais e de servigos. Com esse enfoque, e levando-se em conta que as lissuras s4o provocadas por tensdes oriundas de atuagao de sobrecargas ou de movimentagdes de materiais, dos componentes ou da obra como um todo, $40 analisados 98 seguintes fendmenos — movimentagdes provocadas por variagdes térmicas e de umidade; — aluagdo de sobrecargas ou concentragao de tensdes; — deformabilidade excessiva das éstruturas; — recalques diferenciados das fundagoes; — retragao de produtos base de ligantes hidraulicos; — alteragdes quimicas de materiais de construgao. Por nao se coadunarem com 0 escopo pretendido, o trabalho nao abrange fissuras provenientes da ma utilizacao do edificio, de falhas na sua manutenc¢do ou de acidentes originados pelos mais diversos fatores como incéndios, explosdes ou impactos de veiculos. Néo sao abordados ainda temas muito especificos como vibragées, transmitidas pelo ar ou pelo solo, solicitagdes ciclicas e degradagées sofridas pelos materiais 6 componentes em fungdo do seu envelhe- cimento natural. Capitulo 2 Fissuras causadas por movimentag6es térmicas: mecanismos de formacao e configuragées tipicas 2.1 Mecanismos de formagao das fissuras Os elementos e componentes de uma construcao estao sujeitos a variagdes de temperatura, sazonais ¢ diarias. Essas variagdes repercutem numa variagao dimensional dos materiais de construgao (dilatagao ou contragao); os movimentos de dilatagao e contragao s4o restrin- gidos pelos diversos vinculos que envolvem os elementos e componentes, desenvolvendo-se Nos materials, por este motivo, tensdes que poderdo provocar o aparecimento de fissuras As movimentacées témicas de um material estao relacionadas com as propriedades fisicas do mesmo e com a intensidade da variagdo da temperatura; a magnitude das tensées desen- volvidas ¢ fungao da intensidade da movimentagao, do grau de restri¢ao imposto pelos vinculos a esta movimentacao e das propriedades elasticas do material. As trincas de origem térmica podem também surgir por movimentagées diferenciadas entre componentes de um elemento, entre elementos de um sistema e entre regides distintas de um mesmo material. As principais movimentagses diferenciadas® ocorrem em fungao de: — Jungao de materiais com diferentes coeficientes de dilatagao térmica, sujeitos as mesmas variagoes de temperatura (por exemplo, movimentagdes diferenciadas entre argamassa de assentamento e componentes de alvenaria); — exposicao de elementos a diferentes solicitag6es térmicas naturals (por exemplo, cobertura em relagao as paredes de uma edificagao);, — gradiente de temperaturas ao longo de um mesmo componente (por exemplo, gradiente entre a face exposta € a face protegida de uma laje de cobertura), No caso das movimentagées térmicas diferenciadas é importante considerar-se nao sé a amplitude da movimentacao, como também a rapidez Com que esta Ocorre. Se ela for gradual le lenta muitas vezes um material que apresenta menor resposta ou que é menos solicitado Tmentagoes mars intensas do que um material ou componente a ele justaposto; o mesmo pode nao ocorrer se a movimentagao for brusca. Por outro lado, alguns materiais também podem sofrer fadiga pela agao de ciclos alternados de carregamento-descarregamento ou por solicitagdes alternadas de tra¢do-compressao. Po- de-se equacionar o fendmeno da fadiga através de métodos muito sofisticados de calculo dinamico, devendo-se considerar, nesse caso, a frequéncia e a amplitude das tensdes solici- tantes; pela singularidade e complexidade do problema, como ja foi monconesa et SiR nao consideraremos o fendmeno da fadiga no presente estudo. As tenses altas advindas de mudangas bruscas de temperatura podem ser também rele para os materiais que se degradam sob efeito de choques térmicos; de acordo cor 20 - Trincas em edificios McCaviley ! a expressao “choque térmico" descreve uma situagéo em que um componente € submetido a uma variacao de temperatura de 100°F, em poucas horas. Segundo Marin("%), 0s materiais que mais resistem aos choques térmicos séo aqueles que apresentam boa condutibilidade térmica, baixo coeficiente de dilatagao térmica linear, baixo modulo de defor- magao e elevada resisiéncia a esforgos de tragdo; considerando-se esses parametros, a resisténcia ao choque térmico ¢ equacionada por ay Ea 0) () onde: A = coeficiente de condutibilidade térmica; fx = resisténcia caracteristica a tracao; E = modulo de deformagao longitudinal, a = Coeficiente de dilatagao térmica linear 2.2 Propriedades térmicas dos materiais de construgao Todos os materiais empregados nas construgées estao sujeitos a dilatagdes com o aumento de temperatura, e a contragéés com a sua diminuigao, A intensidade desta variacao dimen- sional, para uma dada variagao de temperatura, varia de material para material, podendo-se considerar, salvo algumas excegoes, que as movimentagdes térmicas dos materiais de constru- Gao sao praticamente as mesmas em todas as diregdes. Na Tabela 5, apresentada no capitulo seguinte, estado indicados os coeficientes de dilatacao térmica linear dos materiais de constru- Gao de maior uso. Considerando-se 0 caso mais comum das edificagoes residenciais, a principal fonte de calor que atua sobre seus componentes é 0 sol A amplitude e a taxa de variacao da temperatura de um componente exposto a radiagao solar ira depender da atuagao combinada dos sequintes fatores: ) intensidade da radiagao solar (direta e difusa); 'b) absorbancia da superficie do componente a radiagdo solar: quando um componente exposto a radiagao solar, a energia absorvida faz com que sua temperatura superfi superior a temperatura do ar ambiente. A absorbancia depende basicamente da ficie; as superficies de cores escuras apresentam maiores coeficientes de abs solar e, portanto, nas mesmas condig6es de insolagao, atingem temp que as superficies de cores claras; ¢) emitancia da superficie do componente: este fator 6 partic\ das coberturas; estas reirradiam oe ea tficle ee fongas, fora da faixa Movimentacées térmicas - 21 d) condutancia térmica superficial: as trocas de calor entre a superficie exposta de um compo- nente da construgao e o ar ambiente dependem nao sé da diferenga verificada entre as temperaturas dos mesmos, como também de outras condigées (rugosidade da superlicie, yelocidade do ar, posi¢ao geografica do edificio, orientagao da superticie etc.) A influéncia Conjunta desses fatores pode ser traduzida pelo coeficiente de condutancia térmica superficial; e) diversas outras propriedades térmicas dos materiais de construgao: calor especifico, massa especifica aparente e coeficiente de condutibilidade térmica Para quantificarem-se as movimentagées solridas por um componente, além de suas proprie- dades fisicas, deve-se conhecer 0 ciclo de temperatura a que esteve sujeito. Muitas vezes 6 suficiente determinarem-se os niveis extremos de temperatura deste ciclo; em alguns casos & necessdrio determinar-se também a velocidade de ocorréncia das mudangas térmicas, como no caso de alguns selantes que possuem pouca capacidade de acomodagao a movi- mentos bruscos. Segundo indicagées do Building Research Establishment ‘""), as amplitudes de variagdo das temperaturas dos componentes das edificagdes podem ser bastante acentuadas, variando em fungao de sua posicag no edificio, de sua cor e da natureza do material que os constitu, tais amplitudes, validas segundo essa instituigao para os paises do Reino Unido, séo indicadas a titulo ilustrativo na Tabela 1 a seguir Tabela 1 — Temperaturas de servi¢o, em funcdo da posigao, da cor e da nalureza do componente "9, ydlidas para paises do Reino Unido, Posigdo e/ou natureza do Cores do Temperaturas de servigo (C) ‘componente. ‘componente a ae arene Telhados, pisos e paredes cates mes ce oe externas escuras 25 80 105 Envidragamentos em fachadas slaras 08 46. ts escuras = 25 20 115 Estruturas de concreto claras =20 45 65 expostas escuras =20 60 80 Esiruturas metélicas expostas cares gee Sb 5 escuras =25) 65 90 Componentes internos em Rabitedos 0 30 20 ambientes: ‘ido habitados =5 35 40 De acordo com Latta "'”, sob efeito da radiagao direta do sol com pouca massa entra em equilibrio em per inferiores ¢ paredes muito pesadas este perlodo pode ultrapassar 24 horas. / fatura superficial da face externa de lajes e de paredes, & ser estimada em fungao da temperatura do ar ( i de acordo com a seguinte formulagao indicada na ¥ 22 - Trincas em edificios Tabela 2 — Estimativa da temperatura superticial de lajes e paredes expostas 4 radiagéo ‘), em°F Presence olnaode Cor da superficie exposta a radiagao isolagao térmica cores claras cores escuras tina = by + 100 a tra = 1.31, + 130 = t,- 20F trac= ty + 78.8 tax = ta + 1008 nig = te — 10°F No tocante ao coeficiente de absorgao solar, Latia |” a seguir sugere a adogdo dos valores indicados a) materiais nao-metalicos: « superficie de cor prela; a = 0,95 e superficie cinza-escuro: a = 0,80 superficie cinza-claro: a = 0,65 superficie de cor branca a = 0,45 b) materiais metalicos: ‘¢ cobre oxidado. a = 0,80 ¢ cobre polido: a = 0,65 @ aluminio: a = 0,60 ferro galvanizado: a = 0,90 2.3 Configurag6es tipicas de trincas provocadas por movimentagdes térmicas 2.3.1 Lajes de cobertura sobre paredes autoportantes Em geral, as coberturas planas estéo mais expostas as mudangas térmicas naturais do que 0s paramentos verticals das edificagaes; ocorrem, portanto, movimentos diferenciados entre os elementos horizontals e verticais, Além disso, podem ser mais intensificados pelas diferencas Nos coeficientes de expansao térmica dos materiais construtivos desses componentes, Segun- do Chand ‘'*), 0 coeficiente de dilatagao térmica linear do concreto é aproximadamente duas yezes maior que o das alvenarias de uso corrente, considerando-se ai a infiuéncia das juntas de argamassa Deve-se considerar também que ocorrem diferengas significativas de movimentagaéo- as superficies superiores e inferiores das lajes de cobertura, ‘sendo que normaimente as : ficies superiores sao solicitadas por movimentagoes mais bruscas e de maior int Outro aspecto importante a ser levado em conta é que mesmo aj os efeitos desses fendémenos'"” parte da energia ocomte Nn ‘para a laje, além de ocorrer através do atico tran: Caso, as movimentagoes térmicas de diversos outros fatores, tai Movimentagées térmicas - 23 Por estas razdes, e devido ao fato de que as lajes de cobertura normalmente encontram-se vinculadas as paredes de sustentacao, surgem tensées tanto no corpo das paredes quanto nas lajes; teoricamente ") as tensdes de origem térmica $40 nulas nos pontos centrais das lajes, crescendo proporcionalmente em diregao aos bordos onde alingem seu ponto maximo, conforme indicado na Figura 1 Figura 1 — Propagaedo das tensées numa laje de cobertura com bordos vinculados devida a efeitos térmicos A dilatagéo plana das lajes 0 abaulamento provocado pelo gradiente de temperaturas a0 longo de suas alturas (Figura 2) introduzem tensoes de tragao e de cisalhamento nas paredes das edificagoes; conforme se constata na pratica, e segundo observagoes de diversos autores (2 12 13185, as trincas se desenvolvem quase que exclusivamente nas paredes, apresentando tipicamente as configuragoes indicadas nas Figuras 3 e 4. PAREDE 2 PAREDE 1 PAREDE 1 Figura 3 — Trinca tipica presente no topo da parede paralela ao comprimento da fissuras, perpendiculares as resultantes de tracdo (a, ), indica o sentido da mov caso, da esquerda para a direita) 24 - Trincas em edificios = See ereeeTEED [aa ae eee! PAREDE 2 Figura 4 — Trinca tipica presente no topo da parede paralela a largura da laje; a trinca normaimente apresenta-se com tragado bem definido, realgando 0 efeito dos estorgos de tracao na face interna da parede Deve-se salientar ainda que, em fungao das dimensdes da laje e da nalureza dos materiais constituintes das paredes, nem sempre poder-se-ao observar configuragoes tao tipicas como aS apresentadas anteriormente; na maioria dos casos, contudo, as fissuras manifestam-se exalamente de acordo com a teoria, conforme ilusirado nas Figuras 5 e 6 A presenga de aberturas nas paredes, por outro lado, propiciaré 0 aparecimento de regides naturalmente enfraquecidas (ao nivel do peitoril e ao nivel do topo de caixilhos, por exemplo), desenvolvendo-se as fissuras preferencialmente nessas regides 9 ‘Assim, em fungao das dimensoes da laje, da natureza dos materials que constituem as paredes, do grau de aderéncia entre paredes e laje e da eventual presenga de aberturas, poder-se-do desenvolver trincas inclinadas proximas ao topo das paredes ‘"”), conforme ilustrado na Figura if Figura § — Parede com fissuras inclinadas, em forma de escama, evidenciando a dilatagao térmica da laje de cobertura Figura 6 — Fissura com abertura regular no topo da parede, resultante do abaulamento e da dilatac4o plana da laje de cobertura Figura 7 — Trincas de cisalhamento provocadas por expansdo térmica da laje de cobertura 2.3.2 Movimentag6es térmicas do arcabougo estrutural A exemplo do que foi exposto no item anterior, o arcabougo estrutural da edificagao estara sujeito a movimentagdes térmicas, principalmente em estruturas de concreto aparente. Deve-se salientar que, devido a insolagao direta, as temperaturas nas faces ornate cee Pegas de conereto poderdo atingir, segundo Serdaly ""’, valores da ordem de até 80° Essas movimentagées raramente causam dano a estrutura em si; normalmente mais solicitadas sao os encontros entre vigas, onde podem surgir fissuras, internas | 26 - Trincas em edificios de conereto, e por isso mesmo, nao detectaveis. A movimentagao térmica das vigas pode provocar, contudo, fissuragao aparente em pilares; este fato pode ocorrer principalmente quan- do a estrutura nao possui juntas de dilatagao ou quando as mesmas foram mal projetadas. Segundo Fabiani"), a dilatagao térmica de vigas pode provocar nas extremidades dos pilares fissuras ligeiramente inclinadas, conforme representado na Figura 8 Ena re 1 Ss Z +— S a Figura 8 — Pilar fissurado devido 4 movimentagao térmica das vigas de concreto armado Ja com maior probabilidade de ocorréncia, a movimentagao térmica da estrutura pode causar destacamentos entre as alvenarias e 0 reticulado estrutural "? * ", e mesmo a incidéncia de trincas de cisalhamento nas extremidades das alvenarias 2 © 1 As Figuras 9 e 10 ilustram, respectivamente, esses casos. Figura 9—Destacamento enire alvenaria e estrutura, provocado por movimentagées térmicas diferenciadas Movimentagées térmicas - 27 a “SS = . \ Figura 10 — Trincas ae cisalhamento nas alvenarias, provocadas por movimentacao lérmica da estrutura 2.3.3 Movimentagoes térmicas em muros: Os muros muito extensos geralmente apresentam fissuras devidas a movimentagdes térmicas, sendo essas fissuras, segundo Pleffermann, tipicamente verticals, com aberturas da ordem de 2a3mm_ Em fungao da natureza dos componentes de alvenaria, as fissuras manifestam-se a cada 4 ou 5 m, podendo ocorrer nos encontros da alvenaria com os pilares ou mesmo. no corpo da alvenaria, conforme ilustrado na Figura 11 Figura 11 — Trincas verticals causadas por movimentagdes térmicas: a) destacamento entre alvenaria e pilar, 0) trinca no corpo da alvenaria As fissuras provocadas pelas movimentag6es térmicas normalmente iniciam-se né muro, em razdo das restrigdes que a fundagdo oferece a sua livre movimentacao. da resisténcia a tragao da argamassa de assentamento e dos compone as fissuras poderdo acompanhar as juntas verticais de assentamento ou me através dos componentes de alvenatia (Figuras 12 e 13). 28 - Trincas em edificios JS al Figura 13 — Trinca vertical: a resisténcia 4 tragao dos components de alvenaria é igual ou inferior a resisténcia a tracdo da argamassa 2.3.4 Movimentag6es térmicas em platibandas As platibandas, em fungao da forma geralmente alongada, tendem a comportar-se como 08 proprios muros de divisa; normalmente surgirdo fissuras verticals regularmente espagadas, caso nao tenham sido convenientemente projetadas juntas ao longo da piatibanda, As movimen- tagdes térmicas diferenciadas entre a platibanda e 0 corpo do edificio poderao resultar ainda no destacamento da platibanda e na formagao de fissuras inclinadas nas extremidades desse corpo, conforme 0 ilustrado na Figura 14. Figura 14 — Trincas inclinadas no topo da parede (em ambas as extremidades) @ destacamento da Platibanda causados por movimentagoes térmicas 2.3.5 Movimentagoes térmicas em argamassas de revestimento j As fissuras em argamassas de revestimento, provocadas por movimentagées térmicas das paredes, irao depender sobretudo do modulo de deformagao da argamassa, sendo : desejavel que a capacidade de deformagao do revastimento supere com boa fol dade de deformagao da parede propriamente dita Movimentagoes térmicas - 29 Em nosso pais, tomando-se janeiro e julho como épocas tipicas do ano, dados do Servigo Nacional de Meteorologia revelam que, para um periodo de 24 horas, a temperatura do ar pode apresentar variagoes com amplitudes de 14°C e 20°C respectivamente. Essas variagées, além da elevada temperatura superficial que os revestimentos podem apresentar por efeito da insolagdo direta, conforme exposio no item 2.2, podem provocar 0 aparecimento de fissuras Nos teveslimentos, devidas as movimentagées diferenciadas que ocorrem entre esses @ as bases de aplicagao As fissuras induzidas por movimentacdes térmicas no corpo do revestimento geraimente sao regularmente distribuidas e com aberturas bastante reduzidas (espécie de gretagem), asseme- hando-se, conforme Joise| “"!, as fissuras provocadas por relragao de secagem, 0 que sera analisado no Capitulo 7, Fissuras com aberturas maiores paderdo aparecer, entretanto, nos encontros entre paredes ou em outras jungées 2.3.6 Movimentacdes térmicas em pisos externos As movimentagées térmicas em pisos externas representam um fator preponderante no desen- volvimento de fissuras ou destacamento do revestimento, particularmente no caso de pisos com grandes areas, com formas muito alongadas ou com cores muito escuras'" 2) Na fase de aquecimento o revestimento do piso (lajotas, ladrilhos etc) dilata-se, sendo o material solicitado 4 compressao, por efeito de sua vinculagéo com a base. Na fase de resfria- mento 0 material é solicitado a tragao, criando-se, na medida em que é ultrapassada a resis- téncia a tragao do revestimento ou da propria base, fissuras regularmente espagadas, conforme ilustrado na Figura 15 Figura 15 — Fissuras regularmente espagadas em piso externo, devidas a movimentaces térmicas do piso No caso de pisos com bordas vinculadas (presenga de paredes, muros eic.), com impossi- bilidade de movimentarem-se livremente, é bastante frequente o destacamento do revestimento, equivalendo-se nesse caso a expanséo térmica do piso ou a contragao térmica da es! a uma ago de compressao no piano do revestimento (Figura 16). Os destacamentos pc ainda ser causados pela propria contragao térmica das placas isoladas, nesse caso a tensao de aderéncia entre a placa de revestimento e a argamé 30 - Trincas em edificios 2.3.7 Movimentagoes térmicas em lajes de forro Sob agao das temperaturas que se desenvolvem nos aticos, considerade o efeito da reirradiagdo da cobertura para suas superticies internas, as lajes de forro apresentam dilatagoes e contra- goes que podem produzir fissuras nas arestas constituidas entre os foros e os paramentos das paredes. Tais fissuras geralmente sao perceptiveis quando nao é adotado nenhum detalhe de acabamento (moldura de gesso, por exemplo) na unido parede-forro. Em lajes mistas, constituidas por vigotas pré-moldadas de concreto e componentes ceramicos vazados, observam-se com alguma frequéncia fissuras longitudinais nas regides de encontro vigota-componentes ceramicos; essas fissuras, representadas na Figura 17, devem-se a movi- mentacoes diferenciadas entre vigotas subsequentes e mesmo a movimentagoes diferenciadas entre 0 concreto armado e a ceramica Figura 17 — Fissuras provocadas por movimentacdes térmicas em forro constituido por laje mista 2.3.8 Movimentacées térmicas em placas de vidro Embora todos os vidros expandam com o aumento da temperatura, os especiais, como os coloridos e os absorvedores de calor, apresentam expansdes consideravelmente maiores com a incidéncia da radiagao solar. As folgas entre as placas de vidro desses tipos @ a caixilharia devem ser, por esta razao, bem maiores em relagao ds obedecidas para os vidros comuns. Além do problema da expansao por efeito da temperatura, as placas de vidro podem tr devido ao sombreamento excessivo de suas bordas, criado por detalhes arquitet fachadas ou mesmo pelos caixilhos. A trinca ocorre porque o sombream diferenga de temperatura entre a regio central e as bordas do vidro, ‘significativa por ser o vidro, de forma geral, um mau condutor de cal Movimentagées térmicas - 31 REGIAO SOMBREADA | REGIAo ExposTA & RADIAGKO DIRET: Figura 18 — Trina presente na placa de vidro, proveniente do gradiente de temperatura causado pelo sombreamento Além das irregularidades pre: das placas de vidro, com entalhes onde haverd concentragao natural de tensdes, estas poderao ser também introduzidas pela presenca de corpos sdlidos na folga exisiente entre a placa e 0 caixilho, tais como cabegas de parafusos, restos de argamassa eic As tensoes introduzidas nas placas pela dilatagao térmica poderao somar-se ainda tensdes oriundas das préprias deformacées da estrutura A Figura 19 ilustra o trincamento de uma placa de vidro, {4 retirada do caixilho, num caso em que as foigas existentes entre os caixilhos e as placas de vidro eram praticamente inexis. tentes. Pode-se observar nitidamente que a trinca iniciou-se na borda da placa, mais precisa- mente a partir de um entalhe bastante pronunciado Figura 19 — Trinca presente na placa de vidro, a partir de entalhe resultante da operagdo de corte 82 - Trincas em edificios 2.3.9 Fissuras provocadas por cura térmica do concreto Um Ultimo caso que se pode analisar, em relagao 4s movimentagées térmicas, s4o as fissuras. resultantes do resfriamento relativamente brusco do concrelo apos processo de cura térmica Passando de temperaturas da ordem de 50 ou 60°C alé a temperatura ambiente, o concreto sofre uma contragao térmica que padera induzir a formagéo de fissuras, facilitadas pela resis- téncia relativamente pequena do material nas primeiras idades. O problema é mais grave em pecas esbeltas, nao armadas, como no caso de paredes monoliticas constituidas por conereto auto-adensavel (sistemas Outinord, Precise etc ), conforme ilustrado na Figura 20 Figura 20 — Microfissura na regido central de parede monolhtica de concreto com 7 cm de espessura, observada na desforma, logo apés a cura térmica Capitulo 3 —_—<—<—<—<—<—_—_— — Fissuras causadas por movimentagoes higroscopicas: mecanismos de formagao e configuragées tipicas 3.1 Mecanismos de formagao das fissuras As mudangas higroscépicas provocam variagdes dimensionais nos materiais porosos que integram os elementos e componenies da construgao, 0 aumento do teor de umidade produz uma expansao do material enquanto que a diminuigéo desse teor provoca uma contragao. No caso da existéncia de vinculos que impegam ou restrinjam essas movimentagoes poderao ocorrer fissuras nos elementos e componentes do sistema construtivo A umidade pode ter acesso aos materiais de construgao através de diversas vias a) Umidade resultante da producao dos componentes Na fabricagéo de componentes construtivos a base de ligantes hidrdulicos emprega-se geral- mente uma quantidade de agua superior a necessaria para que ocorram as reagdes quimicas de hidratagao. A agua em excesso permanece em estado livre no interior do componente @, ao se evaporar, provoca a contragao do material b) Umidade proveniente da execugao da obra E usual umedecerem-se componentes de alvenaria no processo de assentamento, ou mesmo paingis de alvenaria que receberao argamassas de revestimento; esta pratica é correta pois visa impedir a retirada brusca de agua das argamassas, 0 que viria prejudicar a aderéncia com os componentes de alvenaria ou mesmo as reagées de hidratagdo do cimento. Ocorre que nesta operacao de umedecimento poder-se-4 elevar 0 teor de umidade dos componentes de alvenaria a valores muito acima da umidade higroscépica de equilibrio, originando-se uma expansao do material; a agua em excesso, a exemplo do que foi dito na alinea anterior, tendera a evaporar-se, provocando uma contragao do material. c) Umidade do ar ou proveniente de fenémenos meteorolégicos O material podera absorver agua de chuva antes mesmo de ser utilizado na obra, durante © transporte até a obra ou por armazenagem desprotegida no canteiro. Durante a vida da dades consideraveis de agua de chuva ou, em algumas regides, até mesmo de neve. a umidade presente no ar pode ser absorvida pelos materiais de construgao, quer forma de vapor, quer sob a de agua \iquida (condensagao do vapor sobre as supé sHficies Mais frias da construgao). d) Umidade do solo A agua presente no solo podera ascender por cat que os diametros dos poros capilares e 0 niv a6 e 34 - Trincas em edificios havendo impermeabilizacao eficiente entre o solo e a base da construgao, a umidade tera ‘Acesso aos seus Componentes, podendo trazer sérios inconvenientes a pisos e paredes do andar terreo. 3.2 Propriedades higroscopicas dos materiais de construgao ‘A quantidade de agua absorvida por um material de construgao depende de dois fatores: porosidade e capilaridade. O {ator mais importante que rege a variagao do teor de umidade dos materiais € a capilaridade. Na secagem de matenais porosos, a capilaridade provoca 0 aparecimento de forgas de suc¢do, responsaveis pela condugdo da 4gua até a superficie do componente, onde ela sera posteriormente evaporada Deve-se considerar também que estas forgas de sucgao sdo inversamente proporcionais 4s aberturas dos poros; desta maneira, quando dois materiais diferentes s40 colocados em Contato, 0 material de poros mais fechados, teoricamente, absorverd agua do material com poros mais abertos. Na pratica, os materiais normalmente contém poros de variadas aberturas, sendo o sentido de percolacao da agua através dos mesmos determinado pela diferenga do teor de umidade dos materiais em contato; variando a sucgao por capilaridade com o teor de umidade do material, torna-se extremamente dificil estabelecer-se 0 sentido da perco- lagao da agua entre os materiais Se um material poroso € exposto por tempo suficiente a condi¢des constantes de umidade: e temperatura, gracas ao fenomeno da difusao, seu teor de umidade acabara estabilizando-se; atinge-se entao a umidade higroscépica de equillbrio do material. Esta umidade depende da nalureza e quantidade de capilares presentes no material, assim como da temperatura e umidade do meio ambiente. Na Tabela 3 estao indicados alguns valores de umidade higros- cépica de equilibio, determinados a partir de experimentos efetuados na Holanda” Tabela 3 — Umidade higroscdpica de equilibrio para alguns materiais de construcao Umidade higrosedpica de equilibrio (%) em Material {ungao da umidade relativa do ar UR. = 40% UR. = 65% UR, = 95% Madeira 8 12 22 Ceramica 0 0 1 Gonereto normal 3 4 8 Concreto celular 2 3 2 Corti¢a 4 12 20 As variagdes no teor de umidade provocam movimentagées de dois tipos: irreversiveis e teversiveis. As movimentacdes irreversiveis s4o aquelas que ocorrem geralmente logo apés — a fabricagao do material e originam-se pela perda ou ganho de agua até que se ; umidade higroscopica de equilibrio do material fabricado. As movimentagoes reversiv rem por variagées do teor de umidade do material, ficando delimitadas a um cen mesmo no caso de secar-se ou saturar-se completamente o material. Por exemplo, para o concreto ocorre uma contragéo inicial por perda | utilizada na sua fabricagao (esta contragéo nao deve ser contundid das reagdes quimicas que ocorrem entre o cimer ‘ inicial, 0 material, sujei liferentes teores d ei itadas dentro de um c ipletamente, ele jame + ao ey Movimentag6es higroscépicas - 35 Movimentagdo (%) movimentagdo irreversivel Figura 21 — Movimentagoes reversiveis e irreversiveis para um concreto, devidas a variagdo do seu teor de umidade Para os materiais de construgao que apresentam contracao inicial por secagem, de forma geral os movimentos irreversiveis sao bem superiores aos reversiveis. O mesmo jA nao ocorre para as madeiras, que sao suscetiveis a grandes variagoes dimensionais em funcao dos feores de umidade As movimentacdes higroscépicas dos produtos a base de cimento ocorrem basicamente em fungao da qualidade do cimento e dos agregados, da dosagem da mistura e das condig6es de cura do produto; através dos valores apresentados na Tabela 4 pode-se constatar que, para os concretos celulares, 0 processo de cura exerce grande influéncia nas movimentagoes originadas por variagdio de umidade Tabela 4 — Contragéio de argamassas e concretos em funcéo do teor de umidade: dados do Building Research Station Material Contragao irreversivel (%) ‘Argamassa (0.07 Concreto 0.05 Conereto celular 0.90 (cura ao ar) Conereto celular (cura em autoclave) qui tu ‘de grande int le. Essa: lem proces 9S argilominers geral que a grande parte de meiros meses de idade; a duraca 36 - Trincas em edificios ndo $6 as propriedades do corpo ceramico mas também as condig6es de umidade a que estara submetido. Pesquisas desenvolvidas na Africa do Sul revelam que a expans4o de tijolos ceramicos pode variar de 0,04% a 0,12%, sendo que metade da expansdéo 6 verificada nos primeiros seis meses de idade. Nessas pesquisas concluiu-se ainda que os tijolos mal queimados apresentam dilatacdo bastante superior aos bem queimados; todavia, o modulo de deformacao dos tijolos mal queimados @ geralmente pequeno, 0 que Ihes confere maior poder de acomodagao Tabela 5 — Propriedades higrotérmicas de alguns materiais de construcao — BRE (1?) | | vido & umidade Coel, de dila- Movin? device SIGS Médulo de | taco termica Irreversivel deformagao Material linear (C.10%) | Reversivel (+) expansao (kNimme) (-) contragao Rochas naturals | Granito 810 | | 20.60 -Caicario 3.4 0.01 10-80 Arenito 7.12 0,07 3.80 ‘Compostos a base de gesso Gesso-estuque 16.18 15-4 Placas de gesso 1821 18 Compostos @ base de cimento Argamassa 10-13 0,02-0,06 0,04-0,10(-) 20-35 Concreto (seixo tolado) 1244 0,02-0,06 0,03.0,08(—) 15-36 ~ Gongreto (brita) 10.13 0,03-0.10 0,03-0,08(—) 15.36 Conereto celular 8 0,02.0,03 0107-0,.0(-) 14.3.2 -Cimenio com . Geng 712 0,15:0,25 0.07(-) 20:34 | -Cimento-amianto 8.12 0,10.0.25 0.08(-) 14:26 Tijolos ou blocos vazados Goncreto 612 0.02.0,04 0,02-0,06(~) 10-25 - Concrelo celular 8 0,02.0,03 0,05.0,03(-) 38 -Silico-caleario 814 0.01.0.05 0.01-0,04(=) 14.18 = Barro cozido 58 0.02 0,02.0.07(+) 4:26 Madeiras direeao das fibras 46 0.45.2,0" 55-1259 Leves lwansver salmente 30-70 0.6.2.6" 5512.5" diregao das fisras| 46 05-26" 721% Densas| transver samente 30.70 08.40" 721% Vasros Plano o11 70 AWveoiado 85 58 (1) para teores de umidade de 60% @ 90% (2) para teor de umidade de 12% Movimentag6es higroscépicas - 37 De uma forma geral, os materiais de construgdo movimentam-se com a variagao do teor de umidade; na Tabela 5 so apresentados alguns valores dessas movimentagoes, determi- nados pela BRE ‘'!) Na Tabela sao apresentados ainda valores de coeficiente de dilatagao térmica e médulo de deformagao, para diversos materials de uso corrente na construgao: cwil 3.3 Configuragoes tipicas de trincas provocadas por movimentagoes higroscépicas As trincas provocadas por variagao de umidade dos materiais de construgao séo muito seme- ihantes aquelas provocadas pelas variagdes de temperatura, conforme item 23. Entre um caso € oUIfo, as aberluras poderdo variar em fungao das propriedades higrotérmicas dos matetiais ¢ das amplitudes de variagao da temperatura ou da umidade. Stubbs e Putteril'®") registram a ocorréncia de alguns casos de trincas provocadas pela expan- 840 de tijolos ceramicos com elevada resisténcia a compressao, conforme Figuras 22, 23 e224 No caso do encontro entre paredes onde, para facilitar-se a coordenagao dimensional, os componentes de alvenaria foram assentados com juntas aprumadas (Figura 25), independen- temente da natureza do material constituinte dos blocos ou tijolos ocorrerao movimentagoes a — v — ie Figura 22 — Trincas horizontais na alvenaria provenientes da expansao dos tijolos: o painel & so 4 compressao na direeao horizontal ; 88 - Trincas em edificios Figura 24 — A expansao dos tijolos por absoreao de umidade provoca o fissuramento vertical da alvenaria, no canto do edificio Figura 25 — Canto externo de edificio com blocos estruturais assentados com juntas a prumo: destacamento entre paredes Movimentag6es higroscopicas - 39 higroscopicas que tenderao a provocar o destacamento entre as paredes. Tais destacamentos, que normalmente acorrem a despeito do emprego de ferros inseridos nas juntas de assenta- mento a cada duas ou trés fiadas, provocardo a penetragao de umidade para o interior do edificio, conforme ilustrado na Figura 26 Figura 26 — Vista interna do encontro entre as paredes: penetracdo de umidade em fungao do destacamento cecorrido Figura 27 — Trinca vertical no Wolos de solo-cimento 40 - Trineas em edificios Para tijolos macigos de solo-cimento, constata-se na pratica um tipo de fissura bastante caracte: nédio da parede (Figura 27) Essa trinca, Tistico, ou seja, fissura vertical que ocorre no terg alivamente longas (com cerca de 6 a 7 geraimente pronunctada, aparece em parede Mm) pode ser causada tanto pela contragao de secagem do produto quanto por suas movimen lagoes reversiveis, ress ) solo-cimento € um material altamente suscetivel as varia goes de umidade, particularmente quando a argila contiver argilominerais da familia d: morilonitas, Em estudo efetuado peio IPT-Instituto de Pesquisas Tecnologicas do Estado de Sao Paulo com biocos vazados de solo-cimento, pode-se constatar 0 aparecimento de microfissuras verticais nas paredes de blocos, apos a ocarréncia de chuvas que provocavam 0 umedecimento das paredes. Como os blocos haviam sido empregados na obra com idade superior a trés meses (a contracao inicial, portanto, deveria estar concluida), deduziu-se que as fissuras eram ocasionadas por movimentagoes reversivels originadas pela brusca variagao de umidade dos blocos Paredes monoliticas construidas com solo estabilizado (solo-cimento ou solo-cal) a0 altamente suscetiveis 4 formacao de fissuras, tanto pela retragao inicial quanto pelas movimentagées higroscépicas reversiveis do material. Ate mesmo a adigao de saibro a argamassa para a construgao de paredes monoliticas tem conduzido a experiéncias muito malsucedidas (Figuras 28 © 29), exatamente em fungao das grandes variacdes volumetricas que a argila apresenta ao variar seu teor de umidade. Figura 28 — Parede monolitica consiruida por argamassa de cimento, areia e saibro: as intensas ‘movimentagdes higrosedpicas do material provocam inicialmente o destacamenio e a fissuragdo do revestimento em argamassa normal ee : Movimentagoes higroscépicas - 41 Figura 29 — Os sucessivos ciclos de umedecimento e secagem do material constituido por solo, favorecidos cada vez mais pelos danos no revestimento, orovocam a gradativa desiruicdo da parede Movimentagées reversiveis ou irreversiveis podem originar também destacamentos entre com- ponentes de alvenaria e argamassa de assentamento (Figura 30). Esses destacamentos ocor- fem em fungao de inumeros fatores, sendo os mais importantes: aderéncia entre argamassa e componentes de alvenaria, tivo de junta adotada, modulo de deformagao dos materiais em contato, propriedades higroscépicas desses materials ¢ intensidade da variagao da umi- dade Figura 30 — Destacamentos entre argamassa e componentes de alvenaria 42 - Trincas em edificios Trincas horizontais podem aparecer tambem na base de paredes (Figura 31), onde a impermea- biliza¢éo dos alicerces foi mal-executada. Nesse caso, os componentes de alvenaria que estao em contato direto com o solo absorvem sua umidade, apresentando movimentagoes diferenciadas em relacao as fiadas superiores que estado sujeitas a insolagao direta e a perda de agua por evaporagao; essas trincas quase sempre sao acompanhadas por eflorescencias, © que auxilia 0 seu diagndstico. Outro tipo bastante caracteristico de fissura causada por umidade & aquele presente no topo de muros, peitoris ¢ platibandas que nao estejam convenientemente protegidos por rufos; aargamassa do topo da parede absorve agua (de chuva oumesmo do orvalno), movimenta-se diferencialmente em relagao ao corpo do muro e acaba destacando-se do mesmo. Figura 31 — Trinca horizontal na base da alvenaria por efeito da umidade do solo Os ciclos de umedecimento e secagem de argamassas de revestimento, co meabilizagao da superficie, assaciados as proprias movimentagées tert provocam inicialmente a ocorréncia de microfissuras na argamassa penetragoes de agua cada vez maiores, acentuando-se | © a consequente incidéncia de fissuras no revestimento eM pre hada, ¢ Movimentagées higroscépicas - 43 Figura 33 — Revestimento em argamassa em adiantado processo de degenera¢ao, devido 4 continua | presenea de umidade | Figura 34 — O fluxo de agua interceptado no peitoril da janela escorre lateralmente ao mesmo, provocando a fissuracéo da argamassa de revestimento 44 . Trincas em edificios Outro material que tambem apresenta movimentagoes higroscépicas acentuadas ¢ 0 gesso, no sendo por isso mesmo recomendavel 0 seu emprego em ambientes molhaveis do edificio e sobretudo em suas partes exiernas. Um problema tipico que se ten observado nos edificios 6 0 fissuramento de piacas de gesso consiituintes de forros, conforme ilustrado na Figura 36, pela inobservancia de juntas de movimentagdo entre as paredes € 0 forro. PLACA DE GESSO Figura 36 — Fissuraeao de placas de gesso em forro rigidamente encunhado nas paredes No tocante as variagoes higroscépicas, as madeiras sao indiscutivelmente os materiais de Construgao mais sensiveis, apresentando indices de movimentagao acentuadamente diferen- Clados em relacao a orientagao de suas fibras. A utilizacdo de madeira verde na construgao, com teor de umidade superior a 12 ou 13%, invariavelmente provoca problemas das mais diversas ordens, sendo os mais comuns o descolamento de tacos, o empenamento de tabuas de soalho e o mau funcionamento de caixilhos. As movimentagées reversiveis do madeiramento empregado nas coberturas determinam muitas vezes 0 aparecimento de fissuras horizontais no respaldo de paredes sobre as quais se apoia, particularmente quando essas paredes foram mal cintadas; tais movimentagdes sao. também responsaveis pelo desenvolvimento de fissuras em foros constituidos por estuque, tanto no corpo do forro quanto no encontro do estuque com o revestimento das paredes. am Capitulo 4 —_— Fissuras causadas pela atuagao de sobrecargas: mecanismos de formagao e configuragées tipicas A atuagao de sobrecargas pode produzir a fissuragdo de componentes estruturais, tais como: pilares, vigas e paredes. Essas sobrecargas atuantes podem ter sido consideradas no projeto esirutural, caso em que a falha decorre da execu¢ao da pega ou do proprio calculo estrutural, como pode também estar acorrendo a solicitagao da pega por uma sobrecarga superior Aprevisia Vale frisar ainda que nao raras vezes pode-se presenciar a atuagao de sobrecargas ‘em componentes sem fungao estrutural, géralmente pela deformagdo da estrutura resistente do edificio ou pela sua ma.utilizagao Assim sendo, para efeito deste trabalho, considera-se como sobrecarga uma solicitagao exter- a, prevista ou nao em projeto, capaz de provocar a fissuragao de um componente com ou sem fungao estrutural, com esse enfoque, sero consideradas apenas as sobrecargas verticais 4.1 Consideragées sobre a fissuragao de componentes de concreto armado submetidos a flexao ‘A atuagao de sobrecargas, previstas ou nao em projeto, pode produzir 0 fissuramento de componentes de concreto armado sem que isto implique, necessanamente, ruptura do compo- nente ou instabilidade da estrutura; a ocorréncia de fissuras num determinado componente estrutural produz uma redistribuigdo de tensdes ao longo do componente fissurado e mesmo nos componentes vizinhos, de maneira que a solicitagdo externa geralmente acaba sendo absorvida de forma giobalizada pela estrutura ou parte dela. Obviamente que este raciocinio nao pode ser estendido de forma indiscriminada, ja que existem casos em que é limitada a possibilidade de redistribuigdo das tensées, seja pelo critério de dimensionamento do compo- nente, seja pela magnitude das tensdes desenvolvidas ou, ainda, pelo oréprio comportamento conjunto do sistema estrutural adotado. Para 0s casos comuns de estruturas de concreto armado, os componentes fletidos sao em geral dimensionados prevendo-se a fissuragao do conereto na regio tracionada da peca, buscando-se tao somente limitar esta fissuragao em fun¢ao de requisitos esteticos fungao da deformabilidade e da durabilidade da estrutura. De acordo com a 6118! considera-se que "a solicitagao resistente com a qual havera uma grande prot de iniciar-se a formagao de fissuras normais a armadura longitudinal podera ser ca ‘com as seguintes hipdteses”: + a) adeformacaéo de ruptura a tragao do conereto é igual Sars do concreto a tragao; E, = mddulo de deformagao longitudinal d 46 - Trincas em edificios c) as segées transversais planas permanecem planas; d) devera ser sempre levado em conta o efeito da retragéo. Como simplificagao, nas condigdes correntes, este efeito pode ser considerado supondo-se a tensao de tragao igual a 0,75 & e desprezando-se a armadura Tem-se observado na pratica que este critério recomendado pela NBR 6118 é a favor da seguranga, isto é, as fissuras comegam a surgir com tensdes superiores a tensdo prevista por esse método. Branson '* relata que diversas entidades (LNEC, ACI, CEB etc.) adotam para previsdo do inicio do fissuramento em pegas fletidas um método baseado na teoria classica da resisténcia dos materiais, e que consiste no calculo do momento de fissuragao da pega de acordo com a seguinte formulagao: Ee Y (2) onde: M, = momento fletor de fissuragao) |, = momento de inércia da segao homogeneizada; Y, = distancia da linha neutra 4 fibra mais tracionada da pega: fig = MOdulo de ruptura do concreto (tensdo de ruptura 4 tragao na flexao) Através de ensaios efetuados pelo IPT”), pode-se constatar que este equacionamento produz valores bastante aproximados das solicitagées que, de forma real, provocam 0 aparecimento das primeiras fissuras nas secdes tracionadas das pegas de concreto armado. Na falta de dados sobre 0 médulo de ruptura do concreto, o American Concrete Institute @) recomenda a sua previséo através da sequinte formula forte = 0.0463 Vi. fex (3) onde: {,,~= médulo de ruptura do conereto (kgfiem?); ‘¥e= massa especifica aparente do concreto (kg/m*); f4= resisténcia caracteristica do concreto 4 compressao (kgf/cm?). A NBR 6118, em seu item 4.2.2, considera que a fissuri (possibilidade de corrosao da armadura) quando a concreto ultrapassar os seguintes valores; a) 0.1 mm para pegas nao protegidas. em meio ag Atuagao de sobrecargas - 47 ° ren ee 1 p/aalineaa — = (+45 1 sors Ee, G ) >4 2p/aalineab (4) 3p/aalineac sist >{ HRI onde: o, = tensdo na armadura; Q = diametro das barras (mm); e = taxa geométrica da armadura na segao transversal de concreto A, interessada pela fissuragao (p, = A,/ A,,); TN = coeficiente de conformagao superficial das barras da armadura, suposto igual a 1 para barras lisas (coeficiente de aderéncia); f, = resisténcia caracteristica do concreto a tracao; , = Médulo de deformacao longitudinal do ago. Levando-se em conta as tensdes de servico, os médulos de deformagao longitudinal do ago e do concreto, 0 coeficiente de conformacao superficial das barras de aco e diversas outras caracteristicas geometricas (diametro das barras tracionadas, cobrimento da armadura, taxa geométrica da armadura etc ) foram desenvolvidas diversas teorias com a finalidade de pre- ver-se 0 espagamento médio entre fissuras e suas aberturas mais provaveis em componentes de concreto armado submetidos 4 flexao ou a tragao pura; essas formulagdes tedricas, associa- das a coeficientes empiricamente determinados e a fatores probabilisticos, conduzem a estima- tivas bastante precisas do nivel de fissuramento das pecas. Ferry Borges“, levando em conta a grande relagao existente entre os médulos de deformagao longitudinal do ago e do conereto (E/E. = 10) que, a partir da primeira fissura, as tensoes de tra¢do sao transmitidas somente as armaduras, desenvolveu a seguinte formula para estima- ao das aberturas das fissuras em pegas solicitadas a tragao pura ou 4 flexao: m= Sim ~ Eom. (6) onde: w,, = abertura média das fissuras (mm); Sm = distanciamento médio entre as fissuras (mm); m1 = alongamento médio da ‘armadura tracionada (%). i - Shia 48 - Trincas em edificios onde: s,, = distanciamento médio entre as fissuras (mm); c cobrimento da armadura tracionada (mm), coeticiente de conformagao superficial da armadura; 4 % % in diametro das barras (mm), = taxa geométrica da armadura na segao de conereto A., « interessada na fissuragao (p, = A,/ Aca) > Montoya, baseado nos trabalhos do prof Ferry Borges e na teoria estatistica das probabil. dades, desenvolveu uma formulagao que permite a previsdo das maximas aberturas de fissuras em pegas submetidas a tragao ou a flexdo (simples ou composta) A formula indicada a seguir {A foi utilizada em experimentos efetuados no IPT”, com vigas retangulares, com forma de Té au com forma de U, sendo que as previsdes tedricas produzidas a partir da mesma mostraram-se bastante compativeis com os valores realmente observados tpg, = 018 y(iserk2) (,-* ) 10% (6) onde: @,,, = abertura maxima das fissuras (mm), com 95% de nivel de significancia, su- pondo-se que as aberturas das fissuras distribuem-se de maneira normal; © = cobrimento da armadura de tragao (mm); @ = maior diametro das barras tracionadas (mm) @, = tensao de trabalho do ago (kaf/em*); y = coeficiente de dispersdo, variando entre 1.1 ¢ 1,3: p, = taxa geométrica da armadura na segao de concreto A. q, interessada na fissuracao (p, = A,/ A. «) Ke K’ = constantes determinadas para barras de grande aderéncia (valores indicados fa tabela apresenta a seguir). Valores de K e K’ correspondentes 4 equagdo 8, validos para barras de grande aderéncia Tipos de pegas @ esforgos | Vigas Té e retangulares Atuagao de sobrecargas - 49 by = largura das vigas de seco retangular ou da nervura das vigas de segao Te: d= distancia entre o centro de gravidade da armadura e a fibra mais comprimida; x = distancia entre a linha neutra e a fibra mais comprimida; B, = area da secdo de concreto cobaricéntrica a area da armadura tracionada. © Comité Euro-Internacional du Beton @'*#) adota a mesma equagao 6 desenvolvida por Ferry Borges para calculo da abertura média das fissuras, introduzindo contudo o efeito da retragao do conereto (..); admite ainda que a abertura maxima das fissuras seja equivalente a 1,7 vezes a abertura média, ou seja; Wy = Sim (Em 1 €es) (9) Ora, = 167 Oy (10) Através do seu manual de calculo de fissuragdo e de deformagoes™ o CEB adota para concretos normais (excetuados portanto os concretos leves) a {6rmula abaixo indicada para determinagao da distancia média entre fissuras, em pegas calculadas no Estadio |i e com: estado de fissuracao estabilizado on 2 (c+ Jk, & = (11) onde: s,, = distancia média entre as fissuras (mm); c = cobrimento da armadura tracionada (mm); s = espagamento entre as barras tracionadas (mm); K, = influéncia das condigdes de aderéncia das barras K, = 0,4 para barras de grande aderéncia 0,8 para barras lisas; influéncia do tipo de solicitagao Kk, = 0,125 para flexdo pura K, = 0,25 para tragao pura; vigas | va da Area interessada na fi ) manu ciclicos na evolugao das | nos didmetros e maximo : armadura para combater-st 1¢40 de eslorgos de dif 50 - Trincas em edificios 4.2 Configuragoes tipicas de fissuras em componentes de concreto armado, devidas a sobrecargas As fissuras que ocorrem em pegas de concreto armado geralmente apresentam aberturas bastante reduzidas; o calculo no Estadio III de pegas fletidas leva em conta o aparecimento dessas fissuras, Segundo diversas fontes ‘7° -" 38 ¢ 9 varias so as formas dessas manifes- lagdes; a seguir serao analisados alguns casos tipicos 4.2.1 Flexao de vigas Os esforgos numa viga isosiatica submetida a flexao desenvolvem-se conforme esquema seguinte Figura 36 — Viga isostdtica submetida a flexao arco de compress isostaticas de Wracao As fissuras ocorrem perpendicularmente as trajetorias dos esforgos principais de tragao. Sao praticamente verticais no tergo médio do vao e apresentam aberturas maiores em diregao 4 face inferior da viga onde estao as fibras mais tracionadas. Junto aos apoios as fissuras inclinam-se aproximadamente a 45° com a horizontal, devido a infiuéncia dos esforgos cortantes (vide Figura 37). Nas vigas altas esta inclinagao tende a ser da ordem de 60°. Figura 37 — Fissuracao pica em viga subarmada baat ee a 1S deficienter uimaduras, po! Atuagao de sobrecargas - 51 Ae SS ZS Zs Figura 38 — Fissuras de cisathamento em viga solicitada flexdo No caso de vigas atirantadas ou mesmo de vigas altas, as fissuras geralmente ramificam-se em direcdo as fibras mais tracionadas, j que nesta regido ocorre uma redistribuigao de tens6es devida a presenga da armadura (Figura 39). Neste caso as fissuras ramificadas ocorrem em grande numero, com aberturas reduzidas. Figura 39 — amificacao das fissuras na base da viga, devida a presenca das armaduras de tagao Nocaso de vigas superarmadas, ou confeccionadas com concreto de baixa resisténcia, podem. surgir trincas na zona comprimida da viga, com cardter de esmagamento do concreto. A Figura 40 jlusira a ruptura por flexdo de uma viga superarmada. Nas estruturas correntes de concreto armado, as fissuras presentes nas bordas tracionadas de vigas fletidas sdo em geral imperceptiveis a olho nu. Em alguns casos, contudo, estas podem até mesmo ser fotografadas a distancia (Figura 41), sendo tais situagées anormais causadas mais comumente por falhas na construgao da viga (erro na bitola ou Ae oT fi de barras de ago), mau uso da obra (aplicagao de sobrecarga nao prevista em aaean ; descimbramento e/ou carregamento precoce da estrulura ae ef As fissuras também poderao ser introduzidas por erros de concep¢ao comportamento real da estrutura difere daquele idealizado no projeto. | ae 52 - Trincas em edificios Figura 40 — Ruptura por compresséo do concreto de uma viga superarmada solicitada a flexdo Figura 41 — Fissuras de lexéo em viga de concreto armado descimbrada e carregada precocemente estrutura “pilar-laje” foram projetadas para as fachadas paredes de vedagao em concreto armado, com 7 cm de espessura, com armaduras ancoradas nas lajes Como as lajes nao foram devidamente “avisadas de que nao paderiam descarregar suas cargas nas “paredes de vedagao'', estas acabaram na realidade trabalhando camo vigas alas (sem que estivessem dimensionadas para essa situagao), surgindo fissuras de flexdo e de cisalhamento (Figuras 42 @ 43) Aluagao de sobrecargas - 53 Figura 43 — Embora com abertura bastante reduzida (da ordem de 0,2 m viga alla permite a penetracao de agua para o interior do edificio 54 - Trincas em edificios 4.2.2 Torgao de vigas As trincas de torgdo podem aparecer em vigas de borda, junto aos cantos das construgées, por excessiva deformabilidade de lajes ou vigas que Ihe sao transversais, por atuagdo de cargas excéntricas ou por recalques diferenciados das fundagées. Podem ocorrer também em vigas nas quais se engastam marquises e que nao estejam convenientemente armadas A torgao. Esse tipo de trinoa raramente se manifesta nas estruturas de concreto armado; constitui entre- tanto um tipo caracteristico: as fissuras inclinam-se aproximadamente a 45° e aparecem nas duas superticies laterais das vigas, sequndo retas reversas (Figura 44) Figura 44 — Fissuras provocadas por toreao ———— face anterior face posterior A Figura 45 ilustra o fissuramento de uma viga deficientemente armada 4 torgao, sobre a qual apoiava-se uma laje excessivamente flexivel; como pode-se observar, a inclinagao das fissuras (""deitadas’ em diregao ao apoio) ¢ diferente da inclinagao das fissuras de cisalhamento, “deitadas” em diregao ao centro das vigas. 4.2.3 Flexao de lajes O aspecto das fissuras varia conforme as condigdes de contorno da laje (apoio livre ou: ae elas. entre comprimento e largura, 0 tipo de armagao e a natureza e | la solicitagao, Para lajes macigas com grandes vaos, os momentos: dades dos cantos da laje podem produzir fissuras triangulos aproximada ele na ruptura de uma laje sit uniformemente xiste ferray mo simp Atuagao de sobrecargas - 55 Figura 45 — Fissuras de toredo numa viga de concreto armado é \ X\ LA Face Superior Face Inferior Figura 46 — Fissuramento tipico de lajes simplesmente apoiadas iets Figura 47 — Trineas na face superior da laje devidas @ auséncia de armadura negativa 56 - Trincas em edificios 4.2.4 Torgao de lajes Por recalques diferenciados das fundages ou por deformabilidade da estrutura as lajes podem Ser submetidas a solicitacdes de toredo muito mais significativas do que aquelas que se Gesenvolvem nas lajes fletidas, as trincas nesses casos apresentam-se inclinadas em relagao aos bordos da laje (Figura 48), Figura 48 — Trincas inclinadas devidas a torgdo da laje 4.2.5 Trincas em pilares Sao bastante raros os casos de trincas em pilares; normalmente essas pegas trabalham com taxas de solicitacao que representam apenas pequenas parcelas das suas cargas resistentes Pela ocorréncia de falhas construtivas, contudo, podem ocorrer trincas de esmagamento do concreto, sobretudo nos pés dos pilares; nesse caso, os pilares deverao ser imediatamente reforgados j4 que a estabilidade da estrutura estara comprometida Ja ndo to raros so os casos de fissuras verticals nos corpos dos pilares, aproximadamente no terco médio das suas alturas (Figura 49), em fun¢ao da grande diferenga entre o modulo de deformagao do agregado grado e 0 médulo de deformagao da argamassa I esta apresentara deformagées bem mais acentuadas, criando-se superficies de cisalhamento | paralelas a direcao do estorgo de compressao, As fissuras verticais que se manifestam indicam, | _ portanto, que os estribos foram subdimensionados. a ie Atuagao de sobrecargas - 57 Podem manifestar-se também nos corpos dos pilares fissuras horizontals ou ligeiramente inclina- das. Elas sdo suscetiveis de ocorrer quando os pilares sao solicitados a flexocompressdo ‘ou, num caso bem mais grave, podem ser indicativas da ocorréncia de flambagem. Na constru- a0 com componentes pré-moldados (Figura 50), as solicitagées de flexocompressa0 podem ser provocadas inclusive por deficiéncia de montagem da estrutura (desaprumos, desalinha- mentos ete.) Tey Figura 50 — Trincas horizontais a meia altura de painel pré-moldado de concreto armado, submetido a flexocompresséo Ja nao t4o raras sao as ocorréncias de fissuras inclinadas ou lascamentos | de pilares pré-moldados (Figura 51), resultantes da concentragao de tensdes normé nessa regiao do pilar, no caso da inexisténcia de aparelho de 20 sua parcial ineficdcia; esse fendmeno foi devidamente core i da norma brasileira sobre estruturas de conereto pré-r eee uma armadura transversal ope amma na eee : de aparelho « de apoio adotado, §8 - Trincas em edificios Figura 51 — Fissuras inclinadas na cabeca do pilar provocadas por concentra¢ao de tensdes 4.3 Consideragoes sobre a fissuragao das alvenarias submetidas a compressao axial Nas alvenarias constituidas por tijolos macigos, em fungao de sua heterogeneidade (forma, composicao etc.) e da diferenga de comportamento entre tijolos e argamassa de assentamento, $40 introduzidas solicitacdes locais de flexdo nos tijolos, podendo surgir fissuras verticais na alvenaria, Ocorre também que a argamassa de assentamento, apresentando deformagoes transversais mais acentuadas que 0s tijolos, introduz nos mesmos tensdes de tragdo nas duas diregées do plano horizontal, 0 que também pode levar ao fissuramento vertical da alvenaria (Figura 52) No caso de alvenarias constituidas por blocos vazados, outras tens6es importantes juntar-se-4o as precedentes. Para blocos com furos retangulares dispostos horizontalmente, Pereira da Silva*) analisa que a argamassa de assentamento apresentara deformagées axiais mais acen- tuadas sob as nervuras verticals do bloco, introduzindo-se como consequéncia solicitagdes de fiexao em suas nervuras horizontais, 0 que podera inclusive conduzir a ruptura do bloco. Através da execu¢ao de ensaios de compressao axial em paredes constituidas por blocos ceramicos com furos verticais, Gomes" relata a ocorréncia de ruptura por tragao de nervuras internas dos blocos, provavelmente causadas pela deformacao transversal da argamassa. De maneira geral, a exemplo do que foi citado para os tijolos macigos, a fissuragao tipica das paredes axialmente carregada é vertical, salvo excegdes onde possam ocorrer 0 esmaga- mento da argamassa de assentamento, o esmagamento do tijolo macigo ou a fratura localizada de uma nervura muito esbelta de urn bloco com furos horizontais. Além da forma geométrica do componente de alvenaria, diversos outros fatores intervém na fissuragao e na resisténcia final de uma parede a esforgos axiais de compressao, fais como: resistencia mecanica dos componentes de alvenaria e da argamassa de assentamento; maddulos de deformagao longitudinal e transversal dos componentes de alvenaria 6 da i massa; rugosidade superficial e porosidade dos componentes de alvenaria; poder ae cia, retengao de agua, elasticidade e retragao da argamassa; espessura, regular de junta de assentamento e, finalmente, esbeltez da parede produzida Em trabalho efetuado sobre alvenarias de blocos silico-calcarios, Sabbatini™ racées de diferentes pesquisadores sobre essas fontes de vari das alvenarias, através das quais chega-se as seguintes conclu Atuagao de sobrecargas - 59 Figura 52 — Alvenaria (parcialmente encoberta por prancha de madeira) ensaiada a compressao axial: fissuragdo predominantemente vertical, causada pela deformacao transversal da argamassa de assentamento b) componentes assentados com juntas em amarragao produzem alvenarias com resisténcia significativamente superior aquelas onde os componentes sao assentados com juntas verticais aprumadas; c) a resisténcia da parede nao varia linearmente com a resisténcia do componente de alvenaria @nem com a resisténcia da argamassa de assentamento; d) a espessura ideal da junta de assentamento situa-se em torno de 10 mm. O principal fator que influi na resisténcia a compressdo da parede é a resisténcia a compressao do componente de alvenaria; a influéncia da resisténcia da argamassa de assentamento @, ao contrario do que se poderia intuir, bem menos significativa. Pesquisas desenvolvidas no BRE"), tomando como referéncia a resisténcia a compressao de uma argamassa 1:3 (cimento @ areia, em volume), revelam que 0 emprego de argamassas 90% menos resistentes que a de referéncia redundam em alvenarias apenas 20% menos resistentes que a de referéncia, assentada com argamassa 1:3, A Figura 53, a seguir, ilustra as variagoes observadas. Como regra geral, de acordo com Sahlin"®, a resisténcia da parede em situagoes n ficara compreendida entre 25% e 50% da resisténcia do componente de alvenaria Dive estudos experimentais ja foram desenvolvidos em varias partes do mundo, buscando-se c g0es entre as resisténcias mecénicas dos componentes de alvenaria, da argamassa de 60 - Trincas em edificios z S 3 = < e a CIMENTO. 1 1 1 1 ca ° V4 ’ 2 AREIA 3 3 6 9 12 nesist. ancawassa [JD] nesist. ALVENARIA Figura 53 — Resisténcia 4 compressdo da alvenaria em funedo da resisténcia a compressdo da argamassa mento e da parede acabada. Sahlin'® cita em seu trabalho varias formulagdes empiricas, aigumas delas indicadas a seguir: a) Formula de Haller fepa = OVA + 0,15 fey ~ 1) (8 + 0,048 fe) (12) onde: f,,, = resisténcia a compresséo da parede (kaf/em”); fe = resisténcia 4 compressao do bloco (kgf/cm?); ff ; fg = resisténcia a compressdo da argamassa (kgf/cm?). b) Formula de Hermann geralm ‘Atuagao de sobrecargas - 61 a esbeltez da parede, 0 pesquisador verificou uma compatibilidade bastante razoavel entre (0s valores estimados e os realmente obtidos em ensaios Considerando-se 0 coeficiente de seguranga y = 5, normaimente adotado pelas diversas normas para determinacao da tensao admissivel da alvenaria submetida a compressao axial, parece haver uma tendéncia internacional em estimar-se a resisténcia das alvenarias armadas e nao armadas a partir da resistencia a compressao de prismas, através da seguinte formula: Tom = 0,201 f-(q | (15) onde: f. = tensao admissivel da parede comprimida; h = altura da parede t = espessura da parede; f, = resisténcia média 4 compressdo de no minimo cinco prismas constituidos por dois blacos, assentados com a argamassa a ser empregada na obra; em fungao da relacao entre a altura (h) € a largura (d) dos prismas, 0 valor de ,, deve ser muttiplicado pelos sequintes falores © 0,86 para hid = 1,5 © 1,00 para hid = 2,0 © 1,20 para hid = 3,0 © 1,30 para hid = 4,0 © 1,37 para hid = 50 Conforme estudos de Pereira da Silva e Pfeffermann'*), a introdugao de uma taxa minima de armadura (0,2%) na alvenaria nao chega a aumentar significativamente a resisténcia a compressao da parede; entretanto, tal armadura melhora substancialmente o com da alvenaria quanto a fissuragdo, normalmente provocada por atuagao de cargas excénti ‘ocorréncia de recaiques diferenciados ou concentragao de tensdes. . No tocante a este ultimo fator, especial atengdo devera ser dada a pre de aberturas de portas e janelas, em cujos cantos ocorre acentuada conce pela perturbagao no andamento das isostaticas. Utku simul a de computador baseado na teoria te elementos finitos, a at horizon! ando 4 altura do oer lo de par jes CO tt an mi ce ne ere F 8 por exemplo, t regam a triplicar-se ou mesmo a quadrupli pe ores da. abertura, podendo duplicar-se na reg 5 40 apresentados alguns fatores de m através das quais poder-se-a vi 1anho em relagao ao tamanh 62 - Trincas em edilicios Figura 54 — Fatores de majoracdo das tensdes ao longo de janela presente numa parede (relagao entre comprimento e altura da parede — 1; relacdo entre comprimento da parede e comprimento da Janela = 2,9) fig BS Atuagao de sobrecargas -63 - Figura 56 — Fatores de majoragao das tensdes ao longo de uma porta (relacao entre comprimento e altura da parede = 1; porta no centro da parede) Figura 57 — Fatores de majoragdo das lensdes ao longo de uma porta (relaedo entre e altura da parede = 1; porta deslocada em relacdo ao centro da parede) —m trechos continuos de alvenarias dois tipos caracteristicos de trincas pod 64 - Trincas em edificios Figura 58 — Fissuracao tipica da alvenaria causada por sobrecarga vertical Figura §9 - Trincas honzoniais na alvenaria provenientes de sobrecarga Além da fissuragao da parede carregada, outros fenémenos poderao ocorrer: no caso de alvenarias constituidas por blocos cerémicos esiruturais, com furos dispostos verticalmente, a deformacdo transversal da argamassa de assentamento podera provocar a ruptura por trago de nervuras internas dos blocos, conforme ja exposto anteriormente. Nessa hipotese, além de fissuras verticais, ocorrerao destacamentos de paredes externas dos biocos (Figura 60). A atuacao de sobrecargas localizadas (concentradas) também pode provocar a ruptura dos: Componentes de alvenaria na regido de aplicagao da carga e/ou o aparecimento de fi inclinadas a partir do ponto de aplicagao (Figura 61), em fungao da resisténcia dos componentes de alvenaria 6 que podera predominar uma ou outra das. Nos painéis de alvenaria onde existem aberturas as trincas formam-se a dessa abertura e sob o peitoril; teoricamente, em fungao do camin! de compressao, a configuracao das fissuras em uma | ' mavel 6 a apresentada na 1 ea eventual srturas), contude Atuagao de sobrecargas - 65 Figura 60 - Alvenaria de blocos cermicos estruturais solicitada & compressao: a deformagao transversal a argamassa de assentamento provoca a ruptura de nervuras internas e a expulsdo dos ‘tampos” de alguns blocos. Figura 61 ~ Fuplura localzada da alvenaria sob o ponto de aplcacao da carga © propagacdo def a partir desse ponto a inee 66 - Trincas em edificios Figura 62 — Fissuracao tedrica no entomo de abertura, em parede solicitada por sobrecarga vertical Figura 63 — Fissura¢ao tipica (real) nos cantos das aberturas, sob atuacéo de sobrecargas 4.5 Fissuragao de telhas de fibrocimento causada pela concentragao de tenses nas regides de fixacgao Além dos componentes em concreto armado e das alvenarias anteriormente analisados, diver- 80s outros Componentes das edificagdes estarao sujeitos a fissura¢ao devida a atuagao de sobrecargas ou concentragéo de tensdes (revestimentos de pisos, peitoris, placas de vidro etc.) Um caso interessante de se analisar, contudo, é a fissuragao de telhas ou canaletes de fibrocimento fixados através de parafusos ou ganchos metalicos; nas regides onde so instala- dos esses acessdrios de fixagao ocorrem concentragdes naturals de tensdo, por diversas Solicitag6es (agao do vento, movimentagdes higrotérmicas do fibrocimento etc.) Uma causa bastante comum da fissuragao desses componentes, entretanto, ¢ 0 excessivo aperto aplicado inadvertidamente pelo telhadista ao acessorio de fixagao, induzindo a formagao de fissuras a partir dele (Figura 64). Outro fenémeno que pode provocar a fissuragao de componentes de fibrocimento, no caso mais especifico de telhas onduladas, @ a movimentagao higroscdpica relativamente acentuada. do material (vide Tabela 5), Ao receber chuva ocorrerd absorgao de Agua a partir da superficie exposta da telha, criando-se ao longo de sua espessura um gradiente de umidé jue aprovocar o arqueamento da tena (superlcie expostarmais umida, malor expanéeo. tomate ~~ Atuagéo de sobrecargas - 67 Figura 64 — Fissura em canalele de fibrocimento provocada pelo excessive aperto do acessdrio de fixacdo Em fungao da intensidade da movimenta¢ao (regulada por propriedades fisicas como capilari- dade, porosidade etc ), da resisténcia mec4nica do fibrocimento, das dimensdes do compo- nente e do tipo de fixagao adotado, podera ocorrer a fissuragaéo da telha nas ondas de fixagao (onde se verificam as concentragées de tensdo anteriormente mencionadas) ou mesmo em ondas intermediarias. Capitulo 5 TT Fissuras causadas por deformabilidade excessiva de estruturas de concreto armado: mecanismos de formagao e configuragées tipicas 5.1 Consideragoes sobre a deformabilidade de componentes submetidos a flexao Com a evolugao da tecnologia do concreio armado, representada pela fabricagao de agos com grande limite de elasticidade, produgao de cimentos de melhor qualidade e desenvol- vimento de métodos refinados de calculo, as estruturas foram se tornando cada vez mais flexiveis, 0 que torna imperiosa a andlise mais culdadosa das suas deformagdes e de suas respectivas consequéncias. Nao se tém observado, em geral, problemas graves decorrentes de deformagoes causadas or solicitagées de compressao (pilares), cisalhamento ou torgao; @ ocorréncia de flechas em companentes fletidos tem causado, entretanto, repetidos e graves transtornos aos edificios, verificando-se, em fungao da deformagao de componentes estruturais, frequentes problemas de compressao de caixilhos, empogamento de agua em vigas-calha ou lajes de cobertura, destacamento de pisos ceramicos e ocorréncia de trincas em paredes. Vigas e lajes deformam-se naturalmente sob agao do peso proprio, das demais cargas perma- nentes € acidentais e mesmo sob efelto da retragao e da deformagao lenta do concreto. Os componentes estruturais admitem fiechas que podem nao comprometer em nada sua propria estética, a estabilidade e a resisténcia da construgao; tals flechas, entretanto, podem ser incompativeis com a capacidade de deformagéo de paredes ou outros componentes que integram os edificios A norma brasileira para projeto e execugao de obras de concreto armado estipula as madximas flechas permissiveis para vigas e lajes (alinea C, item 4.23 1): a) “as flechas medidas a partir do plano que contém os apoios, quando atuarem todas as agOes, ndo ullrapassarao 1/300 do vao tedrico, exceto no caso de balangos para os quais nao ultrapassarao 1/150 do seu comprimento tedrico"; ) “o deslocamento causado pelas cargas acidentais nao sera superior a 1/500 do vao tedrico e 1/250 do comprimento tedrico dos balangos” bie Ainda em seu item 4.2.3, a NBR 6118 estipula que no calculo das flechas de ‘em conta a retragao e a deformagao lenta do concreto; faz-se ums “no projeto, especial atengao deverd ser dada a verificagao da p estado de deformagao excessiva, a fim 2 que as deformag 4 estrutura ou a outras partes: da construgi ah i ae " ‘nao tem Fé Juentemente c strutural jime elastico, sem co 70 - Trincas em edificios a fissuragdo da pega e a deformagao lenta do concreto; nesse ultimo aspecto, normalmente 40 negligenciadas consideracdes sobre as propriedades reolégicas do concreto a ser empre- gado, as condigoes climaticas do local da obra e a idade em que a estrutura serd colocada em servigo. Diversas instituigdes de pesauisa tém estudado 0 fendmeno da deformagao lenta do conereto, considerando a influéncia dos fatores que foram mencionadbos. Tails influéncias s4o indicadas nas Figuras 65, 66 e 67 a seguir, conforme dados obtidos pelo Building Research Station”? para concretos com agregados normais, isto é, rocha britada CONSUMO DE _CIMENTO (kg /m3) 50%, CARGA AOS 28 DIAS ) RELAGAO A/c RELAGAO DEF LENTA / DEF ELASTICA (UR 1 02 08 4 08: 08 Or OB Figura 65 — Relacao entre deformagdo lenta e deformacao eldstica para concretas de diferentes dosagens'”” Deformabilidade das esiruturas - 71 dea aes Noe SBS 6 e eu Gia Goa go BEL op| geo Vs =z o4| gz age ecu as 7 4 28 90 308 IDADE DE CARREGAMENTO (DIAS) Figura 67 — Influéncia da idade de colocaedo em servico da estrutura na deformagao lenta do concrete” ‘Ao que tudo indica, as alvenarias sdo 0s componentes da obra mais suscetiveis 4 ocorréncia de fissuras pela deformagao do suporte. Pleffermann®*) realizou estudos com alvenarias de tijolos de barro (paredes com 7,50 m de comprimenio e 2,50 m de altura), constatando o aparecimento das primeiras fissuras na alvenaria quando a flecha da viga suporte era de apenas 6,54 mm, ou seja, 1/1.150. O autor cita ainda que tem constatado o aparecimento de fissuras nas alvenarias mesmo com flechas da ordem de 1/1 500 As prescrigdes belgas, bastante severas, recomendam que a flecha relativa instantanea de lajes sobre as quais se apoiam paredes nao ultrapasse a 1/2.500. Mathez, da "Comissao de Deformacoes Admissiveis” do Conseil International du Batiment, citado por Pfeffermann”, recomenda que a flecha maxima em lajes de piso nao ultrapasse a 1/1,000. Néo existe um consenso sobre os valores admissiveis das flechas, quer para vigas ou lajes onde serao apoiadas alvenarias, quer para lajes sobre as quais serao executados pisos cera- micos (a deflexao da laje pode provocar o destacamento dos ladrilhos). Os valores anteriormente comentados s40, contudo, muito inferiores aos de flechas admitidos pela NBR 6118. Existe, nna realidade, a necessidade de que sejam efetuados prolongados estudos praticos, através dos quais poder-se-Ao compatibilizar as deformacées das estruturas com as dos demais componentes da construcao. §.2 Previsdo de flechas em componentes fletidos O calculo exato das flechas que ocorrerao nos componentes estruturais é tarefa p impossive| de ser realizada devido aos inumeros fatores intervenientes, tal como do médulo de deformagao do concreto com o passar do tempo. Na um componente fletido é essencial, contudo, que sejam distinguidos: a) a parcela da flecha que se manifesta antes da fissuragao do conereto se manifesta apos a fissuragao; parcela da flecha que se manifesta imediatamente « e peace da fee que se manifestaré ao longs te 72 - Trincas em edificios fa qual varia em fungao da extensdo das fissuras. Para vigas de segao retangular, Franz) sugere a sequinte formulagao para determinagao dessa posigdo e para o célculo do momento de inércia da pega fissurada, considerando a segéo de concrelo que permanece Integra ea secao da armadura que compoe o tirante x=d/ene+ maleate) ee See eee (7) 6 onde: x = distancia entre 0 eixo neutro e a fibra mais comprimida; \ = momento de inércia da pega fissurada; d= altura util da viga: b = largura da viga; n= Telago entre os modulos de deformagao do ago e do concreto (E/E); p, = taxa geométrica de armadura; A, = area da armadura tracionada importantes formulagées tedricas, corrigidas por coeficientes obtidos em estudos experimen- tals, tém sido desenvolvidas ao longo do tempo para a previsdo de flechas em vigas fissuradas. de concreto armado, Branson) ¢ Pfeffermanr®) analisam diversas dessas formulagoes semi- empiricas, duas delas transcritas a seguir: a) Método de Jager: Antigamente adotado pelo CEB, basela-se num andamento bilinear para a curva mome atuante x flecha desenvolvida, com ponto de inflexao coincidente com o momento de fissura (M,) da viga; para taxas de armadura relativamente altas 0 método desconsiderava a i Mmencionada, resultando portanto as seguintes expressoes: a1) para p, = 0,005 (vigas de segao retangular) p, = 0,001 (vigas Té com byb, = 10) 1M, E,A,d? (1-2,67p + f= n bb, = 10) onde: f, so Eur m > Pe > b) Método de Rousseff 0 i i Deformabilidade das estruturas - 73° fiecha instantanea da viga fissurada, coeficiente elastico, fungao da natureza do carregamento € do tipo de apoio da viga; ‘ momento fletor de servio, momento de fissura¢ao; vao tedrico da viga; momento de inércia da segao homogeneizada, inércia da pega fissurada; largura da mesa de vigas Té largura da nervura de vigas Té, altura til da viga médulo de deformagao do concrete, médulo de deforma¢ao do ago; area da armadura tracionada; taxa geométrica de armadura, taxa mecanica de armadura A partir de uma série bastante grande de ensaios, Rousseff constatou que a. proposta por Jager subestimava as flechas realmente desenvolvidas, pri se ultrapassava 0 valor 0,5 M,. Em funcdo disso, 0 autor propés um ar para a curva momento atuante x fiecha no intervalo 0,5 M, a 1,5 M,, Nas seguintes expressoes: 6.1) 0,5 M, 350 kgf/cm’: fator multiplicativo = 2 A norma brasileira para célculo e execugdo de estruturas de concreto atmado ') admite que a flecha provocada pela detormagao lenta do conoreto pode ser avaliada como o produto da respectiva flecha instantanea (f) pela relagao das curvaturas final e inicial na segdo de maior momento em valor absoluto, supondo-se que o alongamento e, do ago permaneca constante © que 0 encurtamento do concrete quando da estabilizagao da deformagao lenta corresponda a trés vezes o seu encurtamento inicial e, Nessas condigées, a flecha total (f.) 6 calculada de acordo com a seguinte equacao dlelte tant if ne | (23) Levando em conta praticamente todos os fatores intervenientes na flexdo de vigas e lajes, o CEB apresentou mais recentemente ao meio técnico, através de seu “Manuel de Calcul: fissuration et deformations”), uma formulagao bastante refinada para o calculo de flechas, com possibilidade inclusive de levar-se em conta as parcelas resultantes da atuagao de esforcos cortantes e da deformacao de vigas perimetrais submetidas a torgao. Essa formulagdo, embora nao muito complexa, é relativamente extensa, apresentando diversos abacos e tabelas que auxiliam os calculos; por esse motivo, nao sera aqui apresentada 5.3 Configuragées tipicas de trincas provocadas pela flexdo de vigas e lajes Os componentes do edificio mais suscetiveis a flexéo de vigas e lajes sao, como ja foi dito anteriormente, as alvenarias Para paredes de vedagao sem aberturas de portas e janelas existem trés configuragoes tipicas de trincas, a saber: a) O componente de apoio deforma-se mais que o componente superior (Figura 69); ~ Tincas em pared do vedo: detomagto do i 7 ib 8 0 pain _ mente 4 0 1s parede: 76 - Trincas em edificios trinea horizontal; quando o comprimento da parede ¢ superior sua altura aparece 0 efeito de arco e atrinca horizontal desvia-se em diregao aos vertices inferiores do painel (normalmente © que se pode observar, contudo, 6 somente o trecho horizontal da trina). Para alvenarias com boa resisténcia a tragdo e ao cisalhamento, 0 paine| pode permanecer apoiado nas extremidades da viga (efeito de arco), resultando uma fresia entre a base da alvenaria e a viga suporte b) o componente de apoio deforma-se menos que o componente superior (Figura 70); Figura 70 — Trincas em parede de vedac4o: deformacao do suporte inferior & deformacdo da viga superior Neste caso, a parede comporta-se como viga, resultando fissuras semelhantes aquelas apre- sentadas para 0 caso de flexao de vigas de conereto armado (item 4.2.1). ¢)ocomponente de apoio e o componente superior apresentam deformagées aproximadamente iguais; Nessa circunstancia a parede é submetida principalmente a tens6es de cisalhamento, compor- tando-se 0 painel de maneira idéntica aquela comentada para vigas de concreto deficien- temente armadas contrao cisalhamento (item 4.2.1); as fissuras iniciam-se nos vertices inferiores do painel, propagando-se aproximadamente a 45°, conforme ilustrado na Figura 71. a de aberturas, as fi 0 da parede, da int aberturas; em aS na Figura 7% Deformabilidade das estruturas - 77 Figura 72 — Trincas em parede com aberturas, causadas pela deformagdo dos componentes estruturais A Figura 7 ilustra a ocorréncia de fissuras na parede de uma casa térrea, provocadas pela deflexdo da viga de fundagao (apoiada sobre brocas). Pade-se observar nas proximidades: da base da parede uma fissura horizontal, com tendéncias de desvio em diregao ao vertice inferior da parede, exatamente de acordo com 0 modelo tedrico representado na Figura 69; a partir do canto direito da janela observa-se ainda uma fissura inclinada, que aparecia aproxi- madamente rebatida no canto esquerdo, configurando perfeitamente o “afundamento” da viga de fundagao na regiao central da parede Figura 73 — Fissuragdo de uma parede com abertura de janela, causada pela deflexdo da viga de suporte No caso de paredes constituidas por painéis pré-fabricados, deflexdes de vigas ou lajes sobre as quais apoiam-se as paredes provocarao destacamentos e fissuras de cisalhamento entre os painéis, conforme ilustrado na Figura 74 Um caso bastante tipico de fissuragéo provocada pela falta de rigidez estrutural é aquele que se observa nas regides em balango de vigas, problema parlicularmente importante em edificios sobre pilotis, onde o balango é intencionalmente utllizado para allvio dos momentos 78 - Trincas em edificios Figura 74 — Cisalhamento entre painéis pré-fabricados, provocado pela deflexdo dos componenies estruturals positives. A deflexao da viga na regio em balango normalmente provoca o aparecimento de fissuras de cisalhamento na alvenaria e/ou o destacamento entre a parede e a estrutura, conforme indicado na Figura 75 a 2 Figura 75 — Trincas na alvenaria, provocadas por deflexao da regiao em balanco da viga A ocorréncia de flechas diferenciadas nos balangos das vigas de dois pavimentos sucessivos poderd introduzir esforgos de flexao nas paredes de fachada, apoiadas et ne or sua vez apoiadas nas extremidadas das vigas em balanco, situagao er aparecem fissuras horizontais na altura dos peitoris das janelas (regiao da pela inseredo das aberturas). Tais flechas poderao ainda pr ar a de vedagao apoiadas sobre as vigas perimetrais, conforme il 0 da par Deformabilidade das estruturas - 79 Figura 76 — A flexdo da viga em balango (4 direita, no canto superior da foto) comprime a parede de vedaedo, que apresenta esmagamentos localizados no encontro com a viga perimetral Ainda para as alvenarias estruturais ha um risco tans da si bilidade de vigas de fundagao e de transigao (nos -de edificios em alvenaria sstrutural sobre p na ao que pode: zida: le 80 - Trincas em edificios “y — Figura 78 — Fissura horizontal na base da parede, provocada pela flexdo da laje da garagem na diregao perpendicular a parede Figura 79 — Fissura vertical em alvenaria estrutural de blocos silico-calcarias, motivada pela flexao da viga de lundagdo Deformabilidade das estruturas - 81 Um ultimo caso que se pode comentar, relativo a deformabilidade das estruturas, é a fissuragao Ou © destacamento de pisos ceramicos ou mesmo de outros pisos rigidos, em fungao da excessiva deformagao de lajes sobre as quais se assentam. Ocorrendo significativa deflexao dalaje, 0 piso passa a trabalhar como capa de compresséo da mesma, produzindo-se fissuras, lascamentos e destacamentos no piso, conforme representado na Figura 80 Figura 80 — Destacamento de piso ceramico devido a excessiva deformacao da laje Capitulo 6 Fissuras causadas por recalques de fundagao: mecanismos de formagao e configuragées tipicas 6.1 Consideragdes sobre a deformabilidade dos solos e a rigidez dos edificios Até ha pouco tempo as fundagdes dos edificios eram dimensionadas pelo critério de ruptura do solo, apresentando as construgdes cargas que geralmente nao excediam a 500 Tf. Ao mesmo tempo que as estruturas iam ganhando esbeltez, conforme enfocado no capitulo ante- rior, os edificios iam ganhando maior altura, chegando-se em nossos dias a obras cuja carga total sobre o solo ja chegou a atingir 20.000 Tf. Dentro desse quadro, é imprescindivel uma mudanga de postura para o calculo e dimensionamento das fundagdes dos edificios De acordo com Vitor Mello*!, apenas em argilas de baixa plasticidade o critério de calculo condicionante € 0 de ruptura (principalmente perante carregamentos rapidos como os verifica- dos em silos, descimbramento de pontes etc ); ja em argilas de alta plasticidade os recalques acentuam-se, passande em geral a ser condicionante 0 critério de recalques admissiveis Em siltes e areias, solos com significativos coeficientes de atrito interno, 0 eritério de ruptura s6 pode ser condicionante para sapatas muito pequenas, em construgdes de maior porte automaticamente passa a ser condicionante o critério de recalques. A capacidade de carga e a deformabilidade dos solos nao sdo constantes, sendo funcao dos seguintes fatores mais importantes") — tipo e estado do solo (areia nos varios estados de compacidade ou argilas nos varios estados de consisténcia); — disposigao do lengol freatico; — intensidade da carga, tipo de fundagao (direta ou profunda) e cola de apoio da fundaco; — dimensées e formato da placa carregada (placas quadradas, retangulares, circulares); — interferéncia de fundagées vizinhas. Os solos sao constituidos basicamente por particulas sdlidas, entremeadas por agua, nao raras vezes material organico. Sob efeito de cargas externas todos os oe em | Ou menor proporgao, se deformam. No caso em que estas deformagdes sejam diferenc ao longo do plano das fundagdes de uma obra, tenses de grande intensidade serao zidas na estrutura da mesma, podendo gerar o aparecimento de trincas. Se o solo for uma argila dura ou uma areia compacta, os do solo. No caso de solos fofos e moles os re sua redugao de volume, |4 a ee esent 4 percolar para regides su de deformagées por mudanga de forma, fungao da ue atuant suite del 84 - Trincas em edificios Denomina-se “consolidagao” ao fenémeno de mudanga de volume do solo por percolagao da dgua presente entre seus poros. Para os solos allamente permeaveis como as areias, a consolidagao e, portanto, os recalques acontecem em periodos de tempo relalivamente curlos apds serem solicitados; j4 para os solos menos permedveis, como as argilas, a consoli- dagao ocorre de maneira bastante lenta, ao longo de varios anos, Mesmo camadas delgadas de argila entre macigos rochosos estardo sujeitas a esse fendmeno. Para as fundagoes diretas a intensidade dos recalques dependera nao s6 do tipo de solo, mas também das dimensoes do componente da {undacao. Para as areias, onde a capacidade de carga e o médulo de deformagao aumentam rapidamente com a profundidade, existe a tendéncia de que os recalques ocorram com mesma magnitude, tanto para placas estreitas quanto para placas mais largas (Figura 81) Para os solos com grande coesdo, onde os parametros de resisténcia e deformabilidade ndo variam tanto com a profundidade, pode-se raciocinar hipoteticamente que uma sapata com maior area apresentara maiores recalques que uma outra, menor, submetida a mesma pressao, pois 0 bulbo de pressdes induzidas no terreno na primeira sapata aleanga maior profundidade. Na Figura 81 representa-se esse comportamento hipotético através de graficos pressao x recalque para placas com diferentes dimensGes. PRESSOES PRESSOES Q o Cr. ° sapara ESTREITA RECALQUES RECALQUES ARGILA Figura 81 — Graficos tedricos pressdo x recaique de sapatas apoiadas em argilas e areias“” Na realidade, segundo Bowles, o médulo de deformagéo Bee solo ea propr de influéncia da fundagao variam com uma série de propriedades do solo, com a estratificagao de camadas, a massa especifica do solo e eventuais | samento. Em razdo disso, a predigéo do verdadeiro médulo de defo ott sequéncia, a avaliagao do recalque real que ocorrera na sapal fic Para as fund recal Recalques de fundagao - 85 sados esses pequenos limites havera uma grande probabilidade de ocorrerem recaiques intensos Um outro fator importante que regula 0 comportamento das fundagées profundas € 0 atrito negativo; nas construcées que se assentam sobre se¢es misias de corte e aterro este fendmeno pode dar origem a recalques diferenciados de consideravel intensidade. Quando as estacas atravessam uma camada de solo em vias de adensamento ¢ apoiam-se em terrenos subjacentes pouco compressiveis”, elas ira recebendo, 4 medida que se processa o recaique daquele solo, um acréscimo de carga proveniente do peso do solo em movimento descendente, tradu- Zido por tensées de atrito ao longo das paredes das estacas (Figura 82) © adensamento da camada de argila pode provir, além do langamento de aterros, de outras fontes: construgao de novos edificios adjacentes a estacaria e apolados em fundagdes rasas, acréscimo de pressdes efetivas devido a um rebaixamento do lenco freatica etc. Convem {risar ainda que mesmo sem qualquer desses carregamentos externos, o simples amolgamento provocado pela prépria cravagao das estacas pode ser responsavel pelo atrito negativo, Visto que as argilas pouco consistentes tornam a adensar sob seu peso proprio apés amolgadas EWN Sy ARGILA MOLE ~ Sek SG AREIA COMPACTA Figura 82 — Atrito negativo em estacas, pelo amolgamento da camada de argila mole O comportamento do edificio ante a ocorréncia de recalques diferenciados depende de intera~ G6es extremamente complexas entre sua estrutura, a estrutura da fundagdo e o solo de Suporte. Nesse sentido, uma estrutura podera ter comportamento flexivel quando apoiada sobre um solo pouco deformavel, ao passo que tendera a comportar-se Como UM Corpo rigido se apoiada em solo muito deformavel. Em geral, ante a acao de recalques diferenciados, ha grande probabilidade das estruturas lineares desempenharem-se de maneira flexivel, predo- minando nas paredes de fechamento tensdes de cisalhamento, enquanto que as alvenarias portantes, nado armadas, apresentam comportamento muito mais proximo da rigidez Assumindo comportamento elastico para uma alvenaria ndo armada, presumindo fund: constituida por sapatas corridas e adotando modelos lineares e nao-lineares oO MacLeod e Abu-El-Magd”” analisaram as tenses e deformagées que ocor 1 mi em edificios com quatro pavimentos (relagéo comprimento/altura = 2 | to/altura = 5), em fungao dos recalques desenvolvidos. Conelulram ser im quantitativa das tens6es e das fissuras is ee Gaservolvenamnge gies idéntica a que chegaram Bowles™ e Perloff"). hs , ponto de vista qualitative, algumas conc S508 oatudo, A soguralgum Sela . uN 86 - Trincas em edilicios —a falta de homogeneidade do solo ao longo de edificios muito extensos, com carregamento uniformemente distribuido, 6 provavelmente o fator mais importante na ocorréncia de recalques diferenciados que provocarao a fissuragdo das paredes —em paredes com altura “h” e comprimento "b" entre contraventamentos, providas de janelas com altura "h,” © comprimento "b,"’, relacdes h,/h > 0,4 ou b,/b > 0.4 fardo com que 08 trechos de alvenaria sobre as aberturas comportem-se francamente como vigas, predomi- nando as tensGes de tragao no centro das aberturas e as tensdes de cisalhamento nas proximi- dades dos apoios — para essa configuragdo de aberturas, em edificios uniformemente carregados apoiados sobre solos homogéneos, as tensoes maximas ocorrerdo nas "vigas’ superiores, nas extremi- dades da obra (regides onde aparecem os maiores esforgos cortantes), se o edificio apresentar um carregamento maior na sua regiao central, as tensoes maximas desenvolver-se-do nas *vigas" centrais, — 0 comportamento do editicio s6 se torna mais flexivel, propiciando, portanto, melhor absoreao das tens6es introduzidas pelos recalques, mediante o aumento do seu comprimento; a adogao de aberturas com grandes dimensoes (h,/h > 0,4 ou b,/b >0,4), 0 que aparentemente diminui a rigidez da obra, toma-a ainda mais suscetivel ds tensdes de cisalhamento que se desenvolvem ao redor das aberturas — a introdugao de armaduras na alvenaria pode melhorar sensivelmente seu comportamento frente ds tensoes de ttagao e de cisalhamento, mesma conclusao a que chegaram Pereira da Silva, Gomes” e Pfeffermann) através de estudos experimentais De acordo.com Bjerrum, exatamente em fungao da dificuldade de prever-se a real distribuigao de pressdes num solo constituido por camadas compressiveis heterogéneas, a previsdo correta dos recalques diferenciados so podera ser feita por meio de intensas observagdes de campo. Analisando diversos casos de recalques ocorridos em edificios uniformemente carregados, apoiados sobre camadas de solo com alturas bem regulares, Bjerrum verificou que, para as arelas, os recalques diferenciados sao da mesma ordem de grandeza dos recaiques absolu- tos; ja para as argilas este comportamento é distinto, traduzindo 0 autor o resultado de suas investigagdes no grafico apresentado na Figura 83. f: 5 20 — = 8 ESTRUTURAS FLEXIVEIS Yip £ a 3 10 = — E. =— | eernvrunas niaioas 3 Cag sein ois =a Recalques de fundagdo - 87 6.2 Modelos para a estimativa de recalques A estimativa dos recaiques absolutos que ocorrerao numa fundagao é tarefa extremamente dificil, constituindo ainda hoje um dos grandes desafios para a Mecanica dos Solos. A rigor, estimativas razoavelmente precisas sé poderiam ser estabelecidas através da execugao de provas de carga, ainda assim apenas para 0s recalques imediatos, Como no caso das trincas o interesse recai quase que invariavelmente nos recaiques diferen- ciados, parece valida, na falta de indicagdes mais precisas, a tentativa de quantitica-los admi- tindo para o solo parametros elAsticos com valores aproximados; nessa circunstancia, supde-se que os erros cometidos na previsao dos recalques absolutos seriam aproximadamente os mesmos, podendo-se entao ter uma idéia do risco da ocorréncia de recalques diferenciados na obra 6.2.1 Recalques de sapatas apoiadas em argila O modelo classico da teoria da elasticidade, para sapatas rasas apoladas em solos coesivos saturados, é: (24) onde: AH = recalque; p = pressao de contato da sapata; B = menor dimensao em planta da sapata; E, = médulo de deformagao do solo; = Coeficiente de Poisson do solo; C, = coeficiente de forma e rigidez da sapata, apresentado na Tabela 6. Diversos autores ja propuseram modificagées para essa formula classica, em fungao da senga de camada indeformavel na zona de infiuéncia do bulbo de pressdes, da di estratificada das camadas de solo, do recalque lento que ocorre em razao da co! do solo coesivo e da cota real de apoio da sapata. Neste Ultimo », cont de Bowles, Fox propde que o recaique imediato, calculado pela equagao 24, | por um coeficiente multiplicativo F,, que pode ser obtido pelo grafico apresen Figura as apoladas em areia onsiderar quas« Em sua formul que a profundidade do bulbo dh 0 valor da largura da sapata f 88 - Trincas em edificios Tabela 6 — Coeticiente de forma e rigidez C, para sapatas (Perlott — referéncia 52) ors Compr. (L) Sapata floxivel Sapaia Largura (B) centro canto média rigida circular 5 1,00 0,64 085 0.79 quadrada = 112 0,56 095 099 15 1,36 0,67 1,15 1,06" 2 ne 076 1.30 1,20" 3 1,78 0.88 1,62 eal fetangular 5 210 4,05 1,83 1,70" 10 2.53 1,26 2.25 2,10" 700 4,00 2,00 370 3.40" [o00 547 275 515 = (") de acordo com Bowies FATOR DE PROFUDIDADE F3 56 78910 20 30 40 50 Too RELAGAO 0/B Figura 84 — Corregéo do recalque eléstico AH em funcao da cota de assentamento e da largura da sapata (recalque real = AH.F,) deformagao do solo ocorre para uma profundidade B/2 a pen determinando para essa profundidade um fator de deformagao indicado na Figura 85. vente area ee bul ‘ou distintas, e toman are fator de deformagé Orecalque Recalques de fundagao - 89 Figura 85 — Fator de deformagado |, em fun¢ao da profundidade do bulbo de pressdes (Schmertmann) onde, AH, = recalque total apés t anos; Ap = p:p, (acréscimo de presséo efetiva devido a sapata); Pp = pressao aplicada pela sapata, p, = 71h (allvio de pressao devido a escavagao do terreno); ; = fator de-deformagao do solo na camada i (Figura 85); —,, = médulo de deformagao do solo na camada i; 4, = altura da camada |; = numero de anos; 1S stituidas por arg ser estimé largura 2b, uma camada de argila ¢ 90 - Trincas em edificios b PLANTA b Figura 86 — Recalque de solo compressive! em camada profunda De acordo com Terzaghi, 0 recalque Ah da camada profunda de argila sera expresso por: A Cy eg Leta Ape Ree (oa) +e) onde: C = indice de compressao da argila; P, = (2—2,)y = pressdo na cota z, devida ao peso do solo sobreposto; y = massa especifica aparente do solo sobreposto; 4p = acréscimo de pressdo na cota z, devida a pressdo p de con altura da camada de argila compressivel; Indice de vazios da argila. Recalques de fundagao - 91 De acordo com Vargas “!, 0 coeficiente de compressao do solo poderd ser grosseiramente estimacio em fungao de correlagdes estatisticas com 0 limite de liquidez (LL) da argila, citando dois exemplos dessas correlagoes: a) C, = 0,009 (LL - 10): Skempton, argilas de Londres, b) C, = 0,004 LL : IPT, argilas terciarias da cidade de Sao Paulo © acréscimo de pressao A, provocado pela carga do edificio devera ser calculado pela teoria da elasticidade. De maneira prdtica poderdo ser empregados os graficos de Newmark (apresentados na referéncia 54) obtendo-se 0 coeficiente de disiribuigdo de pressdo o,, em fungao das dimensoes em planta do edificio (vide Figura 86) e da profundidade z da camada compressivel Os acréscimos de pressao Ap, e consequentemente os recalques, poderao ser estimados em varias posigdes do prédio, a saber a) centro do prédio (en) -Ap= 4ipvout (oy determnedo arctica ae z z b) ponto médio do comprimento (28) Ap = 2p. 0,5 (0, determinado para m = 4 en= 28 i c) ponto médio da largura 29) AP= 2p os (7,adeterminado param = 2 en = 22) d) cantos do prédio (80) Ap =p _@, (o,.determinado param = 22 en = 22 i Os citados graficos de Newmark permitem a determinagdo de a, para placas de retangular ou circular. Os coeficientes de distribuigaéo de pressao poderao ser estat para sapatas isoladas ou para radiers. Caso a soma das areas das sapatas e a pro da camada compressivel sejam relativamente grandes, poder-se-4 admitir a fundagao sendo um radier. 6.2.4 Recalques em tubulées Os recalques em tubules poderao ser calculados de maneit para sapatas, desconsiderando-se, nesse caso, o ‘atta lateral de do-se, consequentemente, os feces -estimagao mals envol sc 92 - Trincas em edificios Tabela 7 — Atrito lateral em tubuldes concretados em argilas, segundo Tomlinson! Tao a pee de concreto, sem | O- 37 0-34 camisa, em contato a= 75 34-50 com argila 75 — 147 50 — 64 6.2.5 Recalques em estacas Para a previsdo de recalques em estaca Poulos e Davis‘! desenvolveram um modelo baseado no modulo de deformacao do material constituinte da estaca, no médulo de deformagao do solo e na geometria da secdo transversal da estaca, calculando assim o recalque basico (AH,) de uma estaca isolada em semi-espaco infinito, perfeitamente elastico, com coeficiente de Poisson w = 0.5. A partir do recalque basico, os autores desenvolveram extensa formulacao, adotando fatores de corregdo para as diversas variavels envolvidas (coeficiente de Poisson real, camada finita de solo, resisténcia de ponta da estaca etc ) A partir do recalque calculado para a estaca individual, Poulos e Davis"! desenvolveram um método iterativo de calculo para a determinagdo da influéncia que estacas vizinhas exercem umas sobre as outras, produzindo-se assim a formulagao que parece ser hoje a mais eficiente para a predicao do recalque de estacas agrupadas, a extensdo dessa metodologia, baseada num numero muito grande de dbacos, impede sua apresentagao nesse trabalho. 6.2.6 Estimativa dos parametros elasticos do solo Como ja se pdde notar, todos os modelos analllicos desenvolvidos baselam-se nas proprie- dades elasticas do solo (E,e y), de dificil quantificagéo. © método que parece estimar com maior precisdo 0 valor do médulo de deformagao do solo é aquele que se baseia no ensaio triaxial em amostras indeformadas e que conduz, segundo Bowles™, a valores que podem set 1 a 1,5 vezes inferiores ao valor real do médulo de deformacao do solo, O autor fornece ainda a ordem de grandeza do médulo de deformacao e do coeficiente de Poisson de diferentes solos, conforme a Tabela 8. Tabela 8 — Médulo de deformacao e coeficiente de Poisson para diferentes solos, segundo Bowles Coeficiente de Poisson Médulo de deformagao E, (MPa) Acgila Agila = muito mole ~ salurada - mole = nao saturada -média - arenosa ~ dura - siltosa ~arenosa a Ai Areia ~densa - fofa’ e grossa -fota* e Atela/pedragulho | -fota Recalques de fundagao - 93 Em fungao da inexatidao dos valores obtidos através do ensaio triaxial, e também porque © custo desse ensaio é relativamente elevado, vem-se tentando estabelecer o médulo de deformagao dos solos a partir de correlagdes com valores obtidos em ensaios de penetragao dinamica (SPT) ou ensaios de penetragao de cone (R, - "deepsounding"). Bowles") da indica- goes de algumas dessas correlages, apresentadas na Tabela 9 Tabela 9 — Médulo de deformacao do solo, em tungao de SPT ou R, — Bowtes!* Médulo de deformagao do solo (E.) ieedteece = 1(SPT): em KPa E,=1(R, na unidade de R, Area 500 (SPT + 15) €,=2a4A, = 18,000 + 750 SPT E,=2(1+D2)R, Areia argilosa 320 (SPT + 15) E,-3a6R, Ateia sillosa 300 (SPT +6) =1a2h, Ateiaipedreguiho 1200 (SPT + 6) e Argila mole £,=6a8R, (*) segundo Vesic (7) segundo D’Appolonia O emprego dessas correlagdes deve ser efetuado com cuidado, verificando-se, em fungao de dados locais, qual a que produz melhor ajuste. Mello“ considera bastante promissor © emprego de R, para estimativa do médulo de deformagéo do solo, advertindo contudo sobre 0 perigo de empregarem-se “pseudocorrelagdes”. Outra maneira de estimar-se 0 valor do médulo de deformacao do solo é a partir do coeficiente de reagao K,, obtido em prova de carga direta, Nessa circunstancia, pela teoria da elasticidade, E, seria expresso por: E,=K,.D(1- a). Cy (31) onde: £, = méddulo de deformagao do solo; K, = coeficiente de reagao do solo; Mw = coeficiente de Poisson (estimado); D = didmetro da placa de ensaio; C, =coeficiente de forma e rigidez da placade ensaio (valores apresentados na Tabela 6). k 94 - Trineas em edificios 2 AH = AH, ( 2 ) (32) 8 +B, onde: AH = recalque do componente de fundagao; AH, = recalque da placa; B = largura do componente de {undagao B, = largura da placa (normaimente 0,3 m), » Outros autores sugerem ajustes distintos daquele acima indicado, que normalmente subestima 0 valor do recalque real, princioalmente quando é grande a relagao B/B,, Bond, citado por Bowles), propée a seguinte equagdo para célculo do recalque real a partir da prova de carga’ AH =AH, (2 Ne (33) p onde: 4H, AH, , B e B, séo os mesmos simbolos da equagao 32; 1 = coeficiente que depende do tipo de solo; na falta de dados locais, podem ser assumidos os seguintes valores: = 0,03 a 0,05 (argila); 1 = 0,08 a 0,10 (argila arenosa); n= 0,40 a 0,50 (areia compacta); n= 0,25 0,35 (areia medianamente compacta), 1 = 0,20 a 0,25 (areia fofa). 6.3 Configuragées tipicas de trincas causadas por recalques de fundagao De maneira geral, as fissuras provocadas por recalques diferenciados sao inclinadas, con ino -se as Vezes com as fissuras provocadas por deflexao de componentes estru Em relacéo as primeiras, contudo, apresentam aberturas geralmente maiores, “de em dire¢ao ao ponto onde ocorreu o maior recalque. Outra caracteristica das | cadas por recalques 6 a presenga de esmagamentos locali em dando indicios das tensdes de cisalhamento que as provocaram; recalques sAo acentuados, observa-se nitidamente uma | nana srfeitar mprimento da ¢ 1, confarme | Recalques de fundagao - 95 ey j T1111 Figura 87 — Fundagoes continuas solicitadas por carregamentos desbalanceados 0 irecho mais carregado apresenta maior recalque, originando-se trincas de cisalhamento no paine! Figura 88 — Fundagdes continuas solicitadas por carregamentos desbalanceados: sob as aberturas surgem trincas de flexdo Figura 89 — Fissuras de Nexo na alvenaria, provocadas pelos recalques corrida nas regides vizinhas a janela (regides mais carregadas) Hi 96 - Trincas em edificios Para edificios uniformemente carregados, o Centre Scientifique et Technique de la Construc- tion ®? aponta diversos fatores que podem conduzir aos recalques diferenciados e, conse- quentemente, a fissuragao do edificio. Nas Figuras 90, 91, 92, 93 € 94 sao ilustrados alguns desses casos. Figura 90 — Recalque diferenciaco, por consolidagées distintas do aterro carregado Recalques de fundagdo - 97 Figura 93 — Recalque diferenciado, por falla de homogeneidade do solo princi duo ¢ 98 - Trincas em edificios t Figura 95 — Diferentes sistemas de fundagdo na mesma construgdo: recaiques diferenciados entre 0s sistemas, com a presenca de trincas de cisalhamento no corpo da obra de recalques localizados. Segundo o BRE), estes recalques, bastante da saturagao do solo pela penetragao de agua de chuva nas vizin! também ocorrer pela absorgdo de 4gua por vegetagao localiz’ ilustrado na Figura 97. Recaiques de fundagao - 99 Figura 97 — Trinca provocada por recalque advindo da contragao do solo, devia a retirada de agua por vegetacao préxima ee eee ee oni vertical: as partes aaccnNee dh a aa ualmente como ey ee 100 - Trincas em edificios Figura 99 — Fissura de recalque horizontal: ocorreu praticamente ruptura da fundagao do pilar localizado entre as duas aberturas Como regra geral, as aberturas das fissuras provocadas por recalques seréo diretamente proporcionais a sua intensidade, a estruturagao do edificio e todas as demais condigdes de contorno, entretanto, tém influéncia também direta na dimensao da fissura e na extensdo do problema, No caso comentado a seguir, por exemplo, ocorreram recalques bastante signifi- cativos num conjunto de sobrados geminados, com juntas de movimentagao a cada trés sobrados, Numa das ocorréncias mais expressivas (Figuras 100 e 101), 0 sobrado em processo de recalque praticamente encostou no sobrado vizinho, 0 que limitou a gravidade do problema Figura 100 — Giro do sobrado no sentido anti-hordrio, contido pelo sobrado vizinho: fissuras com inclinagao pica @ aberturas pronunciadas; emperramento dos caixilhos do pavimento térreo Recalques de {undagao - 101 Figura 101 — Vista interna da parede fissurada, podendo-se registrar a passagem de luz através da fissura que acompanha as juntas de assentamento da alvenaria ‘Alem de todos os falores geotécnicos anteriormente apontados como provaveis causadores de recalques diferencias (consolidacoes distintas de aterros, interferéncia em bulbo de tensoes etc.), pode-se acrescentar um fendmeno geoldgico que, senao muito importante, é pelo menos muito curioso. Trata-se de alundamentos localizados do terreno (“doiinas”, de acordo com 98 gedlogos), que em geral vao se processando lentamente com 0 passar dos anos, causados por falhas no subsolo (cavernas, criundas regularmente da lixiviagdo de caleario localizado em camadas profundas). Nas regides sujeitas a esse tipo de fendmeno podem ocorrer fissura- Goes generalizadas das edificacoes, além de outros fatos caracteristicos, como a inclinagao de postes e torres em direcao ao epicentro da dolina. Com um certo ineditismo, ocorreu no municipio paulista de Cajamarno ano de 1987 0 verdadeiro rompimento de uma grande caverna, localizada aproximadamente 40 m abaixo da superficie do terreno; a camada de argila acima da do calcario foi em parte tragada pela caverna, resultando um grande buraco ("buraco de Cajamar’) que, por sua vez, tragou para © seu interior um sobrado completo (Figura 102) ‘A equipe do IPT que acompanhou o agontecimento (0 buraco foi aumentando de tamanho ao longo de quase quatro meses) pode constatar, em diferentes localidades do sitio atingido, ocorréncias bastante originals de recalquese respectivos estados de fissuragdo das edifi atingidas. Uma dessas ocorrénicias, que alias comprova intelramente em verdadeira grandeza um dos modelos tedricos anteriormente apresentados, é ilustrada na Figura 103. 402 - Trincas Figura 102 — “Recaique” do sobraco para o interior do “buraco de Cajamar Figura 103 — As tadas de tijolos indicam claramente a posieto do recalque: a fissura principal que se desenvolveu na parede incina-se em diregao ao ponto de maior recalque Capitulo 7 Fissuras causadas pela retragao de produtos a base de cimento: mecanismos de formacao e configuragées tipicas 7.1 Mecanismos da retragao A hidratagao do cimento consiste na transfarmagao de compostes anidros mais soliveis em composts hidratados menos soliveis, ocorrendo na hidratagao a formagao de uma camada de ge! em torno dos graos dos compostos anidros. De acordo com Helene™!, para que Ocorta a reagao quimica completa (estequeometrica) entre a agua e os compostos anidros € necessdrio cerca de 22 a 32% de agua em relacao 4 massa do cimento, Para a constituigao do gel é necessaria uma quantidade adicional em torno de 15 a 25%. Em média, uma relagao Agua/cimento de aproximadamente 0,40 é suficiente para que 0 cimento se hidrate comple- tamente £m funcdo da trabalhabilidade necessaria, os concretos e argamassas normalmente sao prepa- rados com agua em excesso, 0 que vem acentuar a retragao. Na realidade, é importante distinguir as trés formas de retragao que acorrem num produto preparado com cimento, ou seja: a) retragao quimica: a reagao quimica entre o cimento e a agua se dé com reducao de volume, devido as grandes forgas interiares de coesdo, a agua combinada quimicamente (22 a 32%) sofre uma contracao de cerca de 25% de seu volume original; b) retragdo de secagem: a quantidade excedente de agua, empregada na preparacao do conoreto ou argamassa, permanece livre no interior da massa, evaporando-se posteriormente: tal evaporagao gera forgas capilares equivalentes a uma compressao isotropica da massa, produzindo a redugao do seu volume; ¢) retragdo por carbonatagao: a cal hidratada liberada nas reagdes de ee do ciment feage com o gas carbénico presente no ar, formando carbonato de ey cuneate em aa de tempo relativame inte I mM quarto tipo de retragao, que ocorre com a janie 8 a pega ou da percola ia o nr jas, eee alee nento das junt |M-C¢ e a c Has re a ot ne ade “s, ira do cimento: sloretos (CaCl,") amo aditivo ac 104 - Trincas em edificios b) quantidade de cimento adicionada a mistura: quanto maior 0 consumo de cimento, maior a retragao, ¢) natureza do agregado: quanto menor 0 médulo de deformagao do agregado, maior sua suscetibilidade a compressdo isotropica anteriormente mencionada e, portanto, maior a retra- 40; maior retragdo também para os agregados com maior poder de absorgao de agua (basalto e agregados leves, por exemplo); d) granulometria dos agregados: quanto maior afinura dos agregados, maior sera a quantidade necesséria de pasta de cimento para recobri-los e, portanto, maior sera a retragao, ) quantidade de agua na mistura: quanto maior a relagéo agua/cimento, maior a retragao de secagem: f) condigées de cura: se a evaporagdo da agua iniciar-se antes do término da pega do agiomerante, isto é, antes de comecarem os primeiros enlaces entre os cristais desenvolvidos com a hidratacao, a retracéo poderé ser acentuadamente aumentada Desses seis fatores distinguidos como principais, a relagdo agualcimento é sem duvida o que mais influencia a retragdo de um produto constituido por cimento, sobrepujando inclusive a propria influéncia do consumo de cimento. A Figura 104 jlustra a importancia relativa do consumo de cimento e do consumo de agua na retragdo de coneretos, conforme estudos éfetuados pelo LNEC, citados por Helene! -3) 08 RETRACAO (10 o6 4 0,0. 200 280 300 360 400 450 500 580 600 650 700 CONSUMO DE CIMENTO (kg / m3) Fgura 404 — Retrapto do conereio 9m tneao co connec canto oct aeeda aplivemer 9 Outro fator fundamental na magnitude da retragdo desenvolvida é a umid (UR) do local em que a pega concretada ficard exposta Em rel 50%, normalmente adotada para a determinagao em laboratori @ argamassas, 0 BRS”) faz a seguinte projecao para retragées « Retragdo - 105 aites sis o4 oe 3 F g fe 3 % 3 IE Yoo 30 20 70 60 30 UR) Figura 105 — Retracdo de concretos em fun¢ao da umidade relativa do ar — BRS'*” A retragao de um conereto ou argamassa, mantida constante a umidade relativa do ar, € bem mais acelerada nas primeiras idades, atingindo-se cerca de 50% da retragao total com ‘apenas sete dias de condicionamento Além dos fatores internos 4 massa (relagdo agua/ci- mento, granulometria do agregado etc.) e das condigées ambientais, de acordo com 0 BRS“? a forma geométrica da peca infiui decisivamente na grandeza da retragao, assim € que, quanto maior a relaco area exposta da pega/volume da pega, maior a retragao a ser desen- volvida Considerando todos os fatores intervenientes na retragao, e tomando por base resultados de experiéncias laboratoriais, Joisel® estabeleceu a seguinte formulagao analltica para a determinagao aproximada da retracao de conerelos e argamassas: — uR)9? 4 Peep Unt ole [* ] (34) a (Gita? te x) 1.0828! onde: «¢ = retragdona pega, ands t dias; e, = retragéo em corpo de prova de argamassa normal (trago 1:3 em peso, relagao a/c = 0,5), medida em laboratério com UR = 50%, no minimo apds 90 dias de expc = tempo em dias; stabelecer a. umidade r 106 - Trincas em edificios D = diametro maximo caracteristico do agregado empregado na produgao da pega (em mm); n = fator que depende da distribuigao granulométrica dos agregados, podendo-se adotar N= 0,4: para uma boa distribuigdo granulométrica 1 = 0,3: composigao média 1 = 0,2: composigao com muitos vazios. Como indica a equagao 34, para um tempo"t” muito grande (t=), a retragao final e, independe das dimensées da pega, obtendo-se, portanto, a sequinte expressao. eer z ieee el (35) po De acordo com Meseguer'®”), os alongamentos de ruptura por tracao (1, /.,), verificados para Qs concretos normaimente dosados, atingem cerca de 0,03% a 0,04% para carregamentos lentos, ¢ cerca de 0,01% a 0,015% para carregamentos instantaneos, como @ 0 caso da retragao. As fissuras de retracao, portanto, comegarao a surgir no concreto sempre que for atingida a relagao f e, = = 36) Ea 8) onde: 2, = retrag4o do concreto; fg = fesisténcia a tragao do conereto (normalmente admitida como a décima parte da resisténcia a compressao); = modulo de deformagao do concreto 4 tragéo (normalmente admitido como a metade do médulo de deformagao 4 compressao). A introdugao de armaduras no concreto, representando vinculos internos que se op livre retragao, poderao reduzi-la em niveis varidveis, desde uns 10% (para d de armaduras) até aproximadamente 50% (para altas taxas de armadura). Se @ retragao desenvolvida numa pega de concreto armado pode ser expressa p.

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