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TESE DE DOUTORAMENTO EM
Orientação:
Prof. Doutora Maria Elisa Preto Gomes
(Departamento de Geologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
Co-orientação:
Prof. Doutor Luís Manuel de Oliveira e Sousa
(Departamento de Geologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação não teria sido possível de realizar e concretizar sem a ajuda valiosíssima de
algumas pessoas e instituições, por isso aqui fica a minha eterna estima e perpétuo
agradecimento:
À Professora Doutora Elisa Preto Gomes, que continua a ser, pelo seu profissionalismo,
competência e sabedoria, uma referência na Geologia com a qual é um orgulho trabalhar.
Ao Professor Doutor Luís Manuel Oliveira Sousa, por ser exigente e rigoroso, mas também
disponível e amável.
À Professora Doutora Guilhermina Miguel da Silva Marques, por ser paciente e generosa a
ensinar, e dedicada e empreendedora no labor.
Ao Professor Doutor João Carlos Andrade Santos, pelas sugestões e revisão do texto.
À Diana e ao Lav Sharma, pelo seu contributo no trabalho laboratorial relativo à identificação
dos fungos.
i
AGRADECIMENTOS
À Universidade da Beira Interior, na pessoa do Professor Doutor Luís Manuel Ferreira Gomes,
pela cedência da unidade de medição das ondas P.
Este trabalho foi co-financiado, no que respeita à aquisição de alguns dados e impressão da
tese, pelo Estado Português através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia no
âmbito do projeto PEst-OE/CTE/UI0073/2011. Aqui fica o meu agradecimento.
Ao Sr. Padre José Manuel dos Santos Ferreira e ao Sr. Rogério Oliveira da Silva (sacristão)
pela forma prestável com que abriram as “portas” da Sé de Lamego a este estudo.
À Câmara Municipal de Lamego, em particular ao Eng. António José Macedo Pina, cuja
dedicação a esta investigação ultrapassou, demasiadas vezes, as suas competências
camarárias.
Ao Sr. Joaquim Bernardes, proprietário do “Eleclerc” de Lamego, pela oferta das amostras.
À empresa “José Miguel e António Dias Lourenço – extração de saibro, areia e pedra britada”,
(Valdigem), pela oferta das amostras.
À empresa “VR Granitos Unipessoal Lda.”, na pessoa do Eng. Pinto, pelo corte dos provetes.
À EDP, pela cedência da plataforma elevatória, em particular ao Sr. Vitor Ferreira e ao Sr.
Carlos Oliveira, por terem manobrado o aparelho.
ii
AGRADECIMENTOS
À Diretora da Escola Secundária de Arouca, Dr.ª Adília Cruz, pela forma como acolheu desde o
início este projeto e sempre se mostrou colaborante.
Aos colegas de profissão que me ampararam durante estes três anos e foram sempre uma
preciosa fonte de motivação. Agradeço particularmente aos colegas do Grupo Disciplinar 520 –
Biologia e Geologia da ESA, que participaram na oficina de formação e contribuíram
diretamente para a elaboração dos materiais didáticos aqui apresentados, e ao Tó Zé, que por
culpa das suas celestiais capacidades informáticas, foi incomodado inúmeras vezes.
Ao Silvino, à Aldina, à Catarina e ao Daniel, por me receberem na sua casa e acolherem nas
suas vidas. Sabe bem pertencer à família Santos.
À Raquel e ao Ricardo, por (tantas e tantas vezes) ouvirem, sem nunca protestarem.
iii
RESUMO
RESUMO
O estudo petrográfico revelou que todas as litologias em estudo apresentam alguns aspetos de
alteração hidrotermal e meteórica, com a presença de minerais secundários, de deformações
intercristalinas e de fissuras intra e intergranulares. A caracterização petrofísica e dinâmica
confirmou o estado de meteorização de todas as rochas e possibilitou o estudo do seu meio
poroso. Essa caracterização foi feita através da determinação de várias propriedades,
nomeadamente a densidade, a porosidade, a absorção de água por imersão à pressão
atmosférica, a capilaridade e a velocidade de propagação das ondas P.
No sentido de aferir a alterabilidade destes materiais pétreos foram ainda levados a cabo
ensaios de envelhecimento acelerado: ensaio de resistência à cristalização de sais, ensaio de
resistência ao envelhecimento por choque térmico e ensaio de alteração da cor.
No monumento em estudo é possível observar várias patologias, que são responsáveis, quer
pelos danos gravosos nalgumas alvenarias, quer pelo denegrir da sua beleza estética e
arquitetónica. A partir do mapeamento cartográfico concluiu-se que a colonização biológica é a
forma de alteração dominante, seguida de alterações cromáticas, pátinas, crostas negras,
placas, desagregação granular, filmes negros e fissuras.
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
ABSTRACT
The Cathedral of Lamego is one of the most emblematic monuments of the town. The building,
dating back to the twelfth century, underwent several interventions over the different dioceses,
which explains the current variety of styles. At least five granitic rocks that outcrop in the region
were used in its construction: granite from Lamego, granite from Várzea de Abrunhais, granite
from Valdigem, granite from Meadas and an aplite.
The petrographic study revealed that all these lithologies present some evidence of
hydrothermal alteration and also meteoric action, such as the presence of secondary minerals,
intercrystal deformations and intra and intergranular fractures. The petrophysics and dynamic
characterization confirmed the degree of weathering of all the rocks and allowed the study of
their porous network. That characterization was done through the determination of several
properties, namely: density, porosity, free absorption, capilar transmission, and velocity of the P
waves propagation.
In order to assess the alterability of these stones, accelerated weathering tests were also carried
out: resistance to crystallization of salts, resistance to ageing by thermal shock and a color
change testing.
The identification and chemical characterization of salt soluble minerals in the soluble extract of
25 samples taken at the surface of stones of the building revealed the predominance of
chlorides and nitrates, of calcium and sodium, and rare sulfates. Sodium chlorite crystalizes in
the form of halite and calcium sulfate in the form of gypsum. The origin of these salts is due
mainly to the underground waters that ascend by capillarity through the walls.
At the monument it is possible to observe several types of weathering forms which are
responsible, either for some significant damage in the masonry, or for denigrating their aesthetic
and architectural beauty. From the cartographic mapping it was possible to conclude that the
biological colonization is the dominant weathering form, followed by color changes, patinas,
black crusts, plates, granular disintegration, black films and fissures.
vii
ABSTRACT
In the mineralogical study of these weathering forms, using electronic microprobe, evidence of
the presence of soluble salts such as gypsum, calcite and halite, was found, making it also
possible to correlate the origin of black crusts and patinas with the deposition of pollutants due
to the observation of fly ash.
Safeguarding some of the historic, cultural and religious milestones of each territory should be
considered a preponderant civic role of youth. The concern for the irreparable loss of heritage
could be enhanced through the interest motivated by schools for the Geosciences. Teachers will
have to update their knowledge and practices - through training – so that they can translate
scientific information better and thus enable the achievement of this goal.
viii
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS i
RESUMO v
ABSTRACT vii
ÍNDICE GERAL ix
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 1
ix
ÍNDICE GERAL
2.1 Introdução. 11
2.2 O clima 15
2.3 A água 18
2.4 Os sais 19
2.5 Os contaminantes atmosféricos 21
2.6 Os seres vivos 23
2.6.1 Bactérias 24
2.6.2 Fungos 26
2.6.3 Líquenes 27
2.6.4 Plantas 30
2.6.5 Animais 31
x
ÍNDICE GERAL
4.1 Introdução 53
4.2 Granito de Lamego 54
4.3 Granito de Várzea de Abrunhais 57
4.4 Granito de Valdigem e granito das Meadas 61
4.5 Aplito 65
4.6 Cartografia das litologias na Sé de Lamego 67
5.1 Introdução 77
5.2 Metodologia 78
5.3 Propriedades petrofísicas 80
5.3.1 Densidade aparente, densidade real e porosidade aberta 80
5.3.2 Absorção de água por imersão à pressão atmosférica 86
5.3.3 Absorção de água por capilaridade 90
5.4 Propriedades dinâmicas 93
5.4.1 Velocidade de propagação das ondas P 93
6.1 Introdução
101
6.2 Metodologia
102
6.3 Ensaio de resistência à cristalização de sais
103
6.4 Ensaio de resistência ao envelhecimento por choque térmico
111
6.5 Ensaio de alteração da cor
118
xi
ÍNDICE GERAL
xii
ÍNDICE GERAL
BIBLIOGRAFIA 231
ANEXOS 259
xiii
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3.5: Percurso do rio Coura: a azul está representado o curso do rio a
descoberto e a vermelho o curso subterrâneo. No ponto 1 localiza-se a Sé de
Lamego e no ponto 2 localiza-se o Museu de Lamego. 38
xv
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3.9: Gráfico dos valores da humidade relativa (%) na cidade de Lamego,
entre março de 2011 e fevereiro de 2012 (Jan = janeiro; Fev = fevereiro; Mar =
março; Abr = abril; Mai = maio; Jun = junho; Jul = julho; Ago = agosto; Set =
setembro; Out = outubro; Nov = novembro; Dez = dezembro; HRmax = humidade
relativa máxima; HRmd = humidade relativa média; HRmin = humidade relativa
mínima). 42
xvi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3.14: Mapa geológico simplificado da região de Lamego, extraído das folhas
nº 2 e 4, da Carta Geológica de Portugal, escala 1:200 000, gentilmente cedido
pelo LNEG. 48
Figura 3.15: Excertos das Cartas Militares de Portugal, escala 1:25 000 (1984), a)
Folha 126 - Peso da Régua e b) Folha 137 - Lamego, com a localização dos
pontos de amostragem: 1 – Granito de Várzea de Abrunhais (GVA)
(41°4'35.08"N/7°46'32.18"W); 2 Granito de Valdigem (GV)
(41°6'7.79"N/7°49'38.55"W); 3 - Granito das Meadas (GM)
(41°7'59.82"N/7°47'1.78"W); 4 – Granito de Lamego são (GLS) e aplito
(41°5'9.66"N/7°47'37.47"W); 5 – Granito de Lamego alterado (GLA)
(41°5'16.60"N/7°48'7.53"W). 49
xvii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 4.6: Aspetos petrográficos do aplito: a) Feldspato potássico (Fk) com macla
em xadrez e plagioclase (P) com maclas polissintéticas (NX); b) Fraturas intra e
intergranulares preenchidas com óxidos de ferro (Ox) a afetar grãos de quartzo
(Q), feldspato potássico (Fk) e plagioclase (P) (N//); c) Plagioclase (P) com
inclusões de moscovite (Mo) e apatite (Ap) (NX); d) Imagem de eletrões
retrodispersados mostrando o preenchimento de fissuras intragranulares e
clivagens com óxidos de ferro (Ox) na moscovite zonada (Mo); e) Imagem de
eletrões retrodispersados mostrando a zinvaldite (Zi); f) Fosfatos secundários (F)
de Al, Fe e Mn, associados à alteração de apatite e plagioclase (NX). 66
xviii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 4.10: Cartografia das litologias presentes nos portais da fachada principal
da Sé de Lamego. 71
Figura 4.13: Cartografia das litologias presentes na fachada oeste dos claustros da
Sé de Lamego. 74
Figura 4.14: Cartografia das litologias presentes na fachada norte dos claustros da
Sé de Lamego. 75
Figura 4.15: Cartografia das litologias presentes na fachada sul dos claustros da
Sé de Lamego. 75
Figura 5.2: Gráfico do valor médio e desvio padrão da densidade aparente (ρb) das
rochas estudadas. 84
Figura 5.4: Gráfico da evolução do aumento de peso médio dos provetes, durante
o ensaio de absorção por imersão à pressão atmosférica (t0 = md). 89
xix
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 5.7: Gráfico da altura da franja capilar das rochas estudadas, registada no
ensaio de capilaridade. 92
Figura 5.9: Gráfico da relação entre a velocidade das ondas longitudinais (Vp) e a
porosidade aberta (P0) das rochas estudadas. 97
Figura 6.3: Gráfico da porosidade aberta (P0) das rochas estudadas, calculada
antes e após a realização do ensaio de resistência à cristalização de sais. 107
Figura 6.4: Velocidade das ondas P (Vp) das rochas estudadas, medida antes e
após a realização do ensaio de resistência à cristalização de sais. 108
xx
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 6.6: Gráfico dos valores médios da anisotropia total (∆M) das rochas
estudadas, após a realização do ensaio de resistência à cristalização de sais. 110
Figura 6.7: Gráfico dos valores médios do coeficiente de anisotropia (CA) das
rochas estudadas, após a realização do ensaio de resistência à cristalização de
sais. 110
Figura 6.9: Gráfico da porosidade aberta (P0) das rochas estudadas, calculada
antes e após a realização do ensaio de resistência ao envelhecimento por choque
114
térmico.
Figura 6.10: Gráfico da velocidade das ondas P (Vp) das rochas estudadas,
calculada antes e após a realização do ensaio de resistência ao envelhecimento
114
por choque térmico.
Figura 6.12: Gráfico dos valores médios da anisotropia total (∆M) das rochas
estudadas, após a realização do ensaio de resistência ao envelhecimento por
117
choque térmico.
Figura 6.13: Gráfico dos valores médios do coeficiente de anisotropia (CA) das
rochas estudadas, após a realização do ensaio de resistência ao envelhecimento
por choque térmico. 117
Figura 6.15: Aspeto das superfícies dos provetes, após exposição às condições
ambientais, pelo período de um ano. 122
xxi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 6.20: Porosidade aberta (P0) das rochas estudadas, calculada antes e após
a realização do ensaio de alteração da cor. 126
Figura 7.4: Cartografia das patologias presentes nos portais da fachada principal
137
(W) da Sé de Lamego.
Figura 7.7: Cartografia das patologias presentes na fachada oeste dos claustros da
Sé de Lamego. 140
xxii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 7.8: Cartografia das patologias presentes na fachada norte dos claustros da
Sé de Lamego. 141
Figura 7.9: Cartografia das patologias presentes na fachada sul dos claustros da
Sé de Lamego. 141
Figura 7.16: Filmes negros (F) na fachada oeste dos claustros da Sé de Lamego.
Observam-se ainda crostas (C) e alterações cromáticas (A). 149
Figura 7.17: Filmes negros (F) na fachada norte dos claustros da Sé de Lamego.
Observam-se ainda crostas (C), desagregação granular (D), placas (P) e
eflorescências (E). 149
xxiii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 7.28: Desagregação granular média localizada sob a cornija da janela norte
da fachada oeste da Sé de Lamego. 158
Figura 7.29: Perda de pormenor (a) e escamas (b) nas pedras do portal norte da
fachada oeste da Sé de Lamego. 159
xxiv
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 7.32: a) Placa a afetar quase a totalidade da pedra; b) Placa com mais do
que uma geração. Os dois silhares encontram-se afetados por crostas. 161
Figura 7.33: Placas nos claustros da Sé de Lamego cobertas por pátinas, filmes e
crostas (a e b). Nas duas situações regista-se a presença de filmes negros (F) e
pátinas (P). 162
168
Figura 7.36: Colocação do emplastro para recolha da amostra La8.
Figura 7.39: Diagrama ternário (relações em mg/L) - Ca2+, Na+ e K+, relativo ao
173
extrato solúvel de algumas das amostras estudadas.
xxv
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 7.47: Halite: a) cristal cúbico perfeito; b e c) cristal cúbico com os bordos
arredondados; d, e e f) agregados de halite com figuras de dissolução. 184
xxvi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 7.57: Gráfico da relação entre a dureza de Schmidt (R) e a densidade dos
granitos estudados. 194
xxvii
ÍNDICE DE TABELAS
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 4.1: Composição modal (%) e índice de cor médios (adaptado de Martins,
1997). 54
Tabela 4.2: Análises químicas (% peso) de alguns minerais das rochas graníticas
estudadas. 55
Tabela 5.2: Valor médio e desvio padrão da densidade real, densidade aparente e
porosidade aberta das rochas estudadas. 83
xxix
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 6.1: Identificação dos provetes utilizados nos ensaios de alteração artificial. 103
Tabela 6.4: Valores médios iniciais dos parâmetros cromáticos (L*, a* e b*) das
rochas estudadas. 120
Tabela 6.5: Valores médios iniciais dos parâmetros L*, a* e b*, obtidos para cada
uma das 5 faces das rochas estudadas. 121
Tabela 7.5: Equilíbrio da humidade relativa de alguns sais (%) (adaptado de Arnold
& Zehnder, 1987). 166
xxx
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 7.7: Teores de sais solúveis (mg/L) no extrato solúvel de algumas das
amostras estudadas. 171
Tabela 7.11: Valor médio e desvio padrão da dureza de Schmidt (R) calculados a
partir das 10 medições de valor mais elevado obtidos em cada um dos 24 silhares. 192
Tabela 9.1: Conteúdos das diferentes disciplinas relativos aos materiais rochosos. 217
Tabela 9.2: Distribuição por ano, disciplina e unidade didática, dos materiais
elaborados pelos formandos na oficina de formação. 221
xxxi
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE ABREVIATURAS
Ab - Absorção
AP – Aplito
Ap – Apatite
B – Biotite
CA – Coeficiente de anisotropia
Fk – Feldspato potássico
G - Granada
GV – Granito de Valdigem
xxxii
LISTA DE ABREVIATURAS
IC – Índice de cor
Mo – Moscovite
N - Norte
Op – Opacos
P0 – Porosidade aberta
Pl - Plagioclase
Q - Quartzo
R - Dureza de Schmidt
RH – Humidade relativa
S - Sul
T - Turmalina
W – Oeste
xxxiii
LISTA DE ABREVIATURAS
Zi – Zinvaldite
ρb – Densidade aparente
ρr – Densidade real
∆M – Anisotropia total
xxxiv
I - INTRODUÇÃO
I. INTRODUÇÃO
São muitos os monumentos emblemáticos e peças de arte simbólicas que foram edificadas em
pedra ao longo da história do Homem. A sua conservação suscita, desde sempre, um grande
interesse, muitas vezes difícil de tratar pela complexidade e desconhecimento de determinados
fenómenos a que está sujeita (Mishra et al., 1995).
1
I - INTRODUÇÃO
Sykorová et al., 2011), Sérvia (Grbic & Vulkojevic, 2009; Grbic et al., 2010) e Turquia (Topal,
2003; Zorlu, 2008).
A tradição do uso do granito como material de construção de edifícios vários é quase milenar no
nosso país (Vasconcelos et al., 2003). Em monumentos, esta rocha é usada em estruturas,
como colunas e pilares, em paredes e pavimentações, e ainda em elementos ornamentais
(altares e pedras tumulares) (Frascá & Yamamoto, 2006).
2
I - INTRODUÇÃO
Os edifícios históricos têm uma identidade única, que não deve ser alterada, e não pode ser
substituída e/ou replicada, por isso a escolha de instrumentos e métodos para uma apropriada
conservação do património requer a elaboração de um projeto que mantenha a autenticidade e
integridade do monumento (Carta de Cracóvia, 2000). As fachadas dos monumentos, para além
de constituírem um dos seus mais importantes aspetos arquitetónicos, assumem muitas vezes
um papel de destaque na valorização do espaço envolvente. Como tal, a sua desvalorização
estética, em consequência do aparecimento de patologias, diminui gravemente o seu valor
patrimonial.
3
I - INTRODUÇÃO
1.2 Objetivos
A consecução desta dissertação teve por base o objetivo geral de contribuir para o
conhecimento do estado atual de conservação da Sé de Lamego. Nesse âmbito, foram
definidos os seguintes objetivos específicos:
1.3 Metodologias
Este ponto do programa de trabalhos centrou-se, particularmente, nas várias visitas que foram
realizadas ao monumento em estudo. Estas deslocações foram dedicadas primariamente à
identificação e caracterização macroscópica das litologias utilizadas na construção do edifício e
das patologias que afetam as pedras da sua fachada principal e dos claustros. Estas visitas ao
4
I - INTRODUÇÃO
monumento permitiram ainda o registo fotográfico dos aspetos mais relevantes. Este
procedimento foi determinante para a elaboração dos mapas cartográficos.
De seguida, foi feito o reconhecimento geológico dos locais de origem das pedras, nas
imediações da cidade de Lamego, com subsequente recolha de amostras das 5 litologias
identificadas, para estudo petrográfico e caracterização petrofísica e dinâmica.
Foram também recolhidas 25 amostras de minerais de sais solúveis nas pedras do monumento,
através da técnica do emplastro, para análise química do extrato solúvel, bem como 25
amostras de material desagregado para estudo mineralógico ao microscópio eletrónico de
varrimento (MEV).
A 28 de fevereiro de 2011 foi montada uma estação meteorológica automática (EMA) nos
jardins do antigo Mercado Municipal de Lamego. Esta estrutura permitiu que durante um ano
fossem recolhidos dados meteorológicos da cidade, nomeadamente a temperatura, a humidade
relativa, a orientação e velocidade do vento e a precipitação. Por forma a determinar a
influência dos fatores climatéricos nas pedras através da ocorrência de alterações cromáticas
nas suas superfícies, foram também colocados provetes das 5 litologias em estudo, durante um
ano (entre 6 julho de 2011 e 6 julho de 2012), neste local.
5
I - INTRODUÇÃO
Esta fase metodológica iniciou-se com o estudo das 5 litologias, em amostras de mão e em
lâminas delgadas e polidas, que foram elaboradas no Departamento de Geologia da UTAD. O
seu estudo foi efetuado ao microscópio petrográfico Leitz Ortholux II Pol-Bk, equipado com
câmara de video Leica DC100 e ligada a computador com software para aquisição de imagem
Leica IM50 V1.20, e na microssonda eletrónica JEOL JXA-8500F do Laboratório Nacional de
Energia e Geologia (LNEG), em S. Mamede de Infesta, tendo-se operado, genericamente, com
um potencial de aceleração de 15 kV e uma corrente de feixe de 10 nA. A metalização das
lâminas polidas foi feita com fio de grafite, tendo sido utilizados os seguintes padrões: ortóclase
(Si-Kα, Al-Kα e K-Kα), MnSiO3 (Mn-Kα), TiO2 (Ti-Kα), Fe2O3 (Fe-Kα), MgO (Mg-Kα), apatite (Ca-
Kα, P-Kα), CaF (F-Kα), albite (Na-Kα), barite (Ba-Kα), Cr2O3 (Cr-Kα) e vanadinite (Cl-Kα,
Sphalerite (Zn-Kα). As contagens foram efetuadas durante 20 segundos. O método de correção
utilizado foi o método Armstrong. A precisão dos dados é, em geral, melhor do que 2 % e o
limite de deteção é variável de acordo com o elemento analisado. Para a aquisição de imagens
de contraste de número atómico, na microssonda eletrónica, foi também utilizada uma tensão
de aceleração de 15 kV.
A partir das amostras recolhidas foram ainda obtidos provetes (cubos de 5x5x5 cm 3) para
realização dos ensaios de caracterização petrofísica e dinâmica e os ensaios de alteração
artificial. O corte dos provetes foi efetuado na empresa VR Granitos Unipessoal Lda. (Vila Real),
e os ensaios realizaram-se no Centro de Investigação e Desenvolvimento da empresa
Transgranitos (Vila Pouca de Aguiar), no Departamento de Geologia da UTAD e no
Departamento de Geologia da Universidade de Oviedo (Espanha).
A análise química do extrato solúvel dos sais recolhidos foi levada a cabo no Laboratório de
Química Analítica do Departamento de Química da UTAD, pelas seguintes técnicas:
condutividade por eletrometria; SO42-, Cl- e NO3-, por Cromatografia Iónica; Ca2+ e Mg2+ por
Espectrofotometria de Absorção Atómica com Chama; e K+ e Na+ por Fotometria de Chama de
Emissão.
6
I - INTRODUÇÃO
Por fim, procedeu-se à identificação dos fungos, obtidos a partir de amostras de pedras da Sé
de Lamego colonizadas por líquenes. Este trabalho foi realizado no Laboratório de Micologia e
Microbiologia do Solo do Departamento de Agronomia da UTAD. A identificação implicou o
cultivo dos fungos associados aos líquenes, para posterior identificação. Essa identificação só
foi possível após realização de vários procedimentos experimentais, a saber: extração do DNA,
eletroforese I, amplificação do DNA, eletroforese II, purificação dos produtos PCR,
sequenciação e análise das sequências.
Foi levada a cabo, na Escola Secundária de Arouca (ESA), entre os dias 9 de novembro de
2011 e 19 de maio de 2012, uma oficina de formação (50 horas), intitulada “Alteração e
alterabilidade das rochas graníticas – um contributo para o ensino da Geologia”. Participaram
7
I - INTRODUÇÃO
nesta oficina 8 docentes do Grupo Disciplinar 520 – Biologia e Geologia. O objetivo principal
desta oficina foi contribuir para a atualização de conhecimentos e das suas práticas
pedagógicas, culminando na elaboração de materiais didáticos que pudessem constituir
exemplos para a lecionação dos conteúdos programáticos das várias disciplinas onde a
temática é abordada.
Ao longo destes dois anos todas as metodologias de índole técnica, científica e de investigação
foram acompanhadas por uma intensa pesquisa e análise bibliográfica. Esta foi aliás, o fio
condutor sem o qual seria impossível substanciar esta dissertação.
8
I - INTRODUÇÃO
No âmbito científico-didático foi desenvolvida uma oficina de formação que permitiu a aplicação
do presente estudo em contexto sala de aula. A contextualização e estrutura dessa oficina
encontra-se no Capítulo IX.
9
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
2.1 Introdução
A utilização de rochas como material de construção de monumentos foi uma constante ao longo
dos tempos. As rochas sedimentares, como o calcário e o arenito, dada a sua elevada
abundância relativa à superfície da Terra, bem como a facilidade no corte, foram as mais
utilizadas. No entanto, o granito, sendo um material nobre e duradouro, acabou por ser, grande
parte das vezes, a opção escolhida para garantir um maior tempo de vida à obra (Delgado
Rodrigues & Costa, 2002). A abundância desta matéria-prima, um pouco por todo o território
português, mas sobretudo no norte do país (Vasconcelos et al., 2003), também determinou esta
escolha.
Apesar de serem materiais rígidos e aparentemente estáveis, há muito que as rochas deixaram
de ser consideradas estruturas inalteradas. Atualmente, tem-se verificado que a deterioração do
património edificado sofreu uma aceleração, por culpa das mudanças ambientais, de natureza
antropogénica, registadas nos últimos anos. Essa aceleração é mais significativa nos ambientes
urbanos (Smith et al., 2008).
11
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
Para além dos fatores intrínsecos, a capacidade de um material rochoso resistir à meteorização
durante a sua vida útil depende também de fatores de alteração. A rocha sai da pedreira e sofre
primariamente uma modificação devido à descompressão. Seguem-se os constrangimentos
relativos à extração e talha das pedras, até que estas passam a ser parte integrante de um
edifício, estando aí sujeitas à ação dos agentes meteóricos – precipitação, temperatura,
humidade, exposição solar, vento - à precipitação de sais, à poluição, à ação dos seres vivos e
à ação do Homem (Salavessa, 1996; Antão & Rodrigues, 2000; Almeida & Begonha, 2008). O
resultado desta combinação será sempre superior ao efeito de cada um desses fatores
isoladamente (Smith et al., 2008).
O facto das zonas de fraqueza, resultantes quer da extração, quer do corte das pedras, estarem
preferencialmente expostas aos fatores de deterioração, irá acelerar o seu processo de
12
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
decaimento (Delgado Rodrigues & Costa, 2002; Alemany, 2007; Almeida, 2009). Esta narrativa
culmina no aparecimento das chamadas “doenças da pedra” ou patologias (Aires-Barros, 2001),
que no fundo constituem a resposta das pedras às novas condições impostas pelo ambiente
local onde estão inseridas: o edifício em si, a sua construção, a arquitetura e orientação (Simão,
2003; Smith et al., 2008), bem como a posição ocupada pela pedra no edifício (Veniale et al.,
2008; Sequeira Braga & Begonha, 2010). Dado que um monumento pode sofrer alterações
várias ao longo da sua história, é importante salvaguardar que apenas são consideradas
patologias as transformações do estado inicial da pedra que não são provocadas
intencionalmente pelo Homem (Alves et al., 2002).
Desta forma, conclui-se que a alterabilidade – suscetibilidade à alteração de uma dada rocha
(Begonha, 2001) - depende das condições em que decorreu a sua génese, da sua composição
mineralógica, e consequentemente da sua heterogeneidade (abundância relativa de cada
mineral), da sua textura e do grau de fissuração. No que se refere à composição mineralógica, é
sabido que a alterabilidade é inversamente proporcional à estabilidade geoquímica dos minerais
estabelecida pela Série de Goldich (1938). A microclina é mais resistente que a ortóclase, a
anortite altera-se mais facilmente que a albite, e a moscovite é mais estável do que a biotite.
Ollier (1975) faz referência a estudos que estabeleceram a sequência da figura 2.1.
13
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
sua permeabilidade (Bland & Rolls, 1998). Vasconcelos (2005) refere ainda que quanto maior
for o número de fronteiras entre grãos, maior é o número de planos de fraqueza que conduzem
à abertura de fissuras, como tal, a resistência da rocha diminui à medida que diminui o tamanho
do grão.
A expansão dos materiais rochosos devido, quer aos efeitos térmicos (por ação da insolação ou
do gelo), quer à descompressão (por libertação de tensões), é o principal mecanismo que
conduz à alteração mecânica, sendo necessário considerar também a ação haloclástica dos
sais solúveis (Alemany, 2007). A alteração física potencia a alteração química, pois facilita o
14
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
acesso da água, e a alteração química potencia a alteração física das rochas, por
desagregação destas (White & Brantley, 1995; Bland & Rolls, 1998). Ou seja, os fenómenos
mecânicos e químicos não são isolados, coexistem e são muitas vezes as causas uns dos
outros, e consoante as condições específicas do meio, um pode prevalecer em relação aos
restantes (Smith & Prikryl, 2007).
2.2 O clima
O clima é o conjunto dos estados da atmosfera num determinado local, ou seja, constitui a
descrição estatística de variáveis meteorológicas, como a temperatura, a precipitação, o vento,
a humidade, etc., durante um período de tempo, que pode ir de meses a milhões de anos
(Peixoto, 1987, in Brandão, 2006; Braga & Pinto, 2009).
Peltier (1950, in Fowler & Petersen, 2004) definiu 9 regimes climáticos, correspondendo cada
um deles a uma zona climática do globo. Estes sistemas morfoclimáticos, que Ollier (1975)
considera serem apenas reinos hipotéticos, foram estabelecidos tendo por base os valores
médios anuais de temperatura e precipitação (figura 2.2), e caracterizam-se pelos seguintes
aspetos:
- Savana: baixa precipitação e temperaturas anuais variáveis (do muito frio ao muito quente);
15
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
-12 Glacial
Temperatura média anual (°C)
-7
-1
Boreal
4 Savana
10 Marinho
16 Moderado Semi-árido
21
27 Selva
Árido
O autor estabeleceu ainda a distribuição dos fenómenos de alteração por regiões, de acordo
com os dois parâmetros acima referidos (figura 2.3). A análise da figura 2.3 permite verificar que
nas zonas frias a alteração depende particularmente da temperatura, e nas zonas quentes é
função da pluviosidade. Por essa razão, a meteorização química ocorre quando a presença da
água e a temperatura promovem reações químicas, enquanto as regiões caracterizadas pelas
baixas temperaturas e pela fraca precipitação são dominadas pela meteorização física.
Como tal, nas regiões glaciares predomina a meteorização física, enquanto nas regiões
desérticas a meteorização química, apesar das altas temperaturas, é ligeira dada a quase
ausência de precipitação. Na savana e na selva, a ocorrência de precipitação e as temperaturas
quentes favorecem o crescimento de vegetação, sendo a meteorização química provocada
pelos agentes biológicos, o mecanismo de alteração mais comum.
16
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
Meteorização química
moderada com formação
de gelo
Meteorização
química
Meteorização
Meteorização moderada
física e
química intensa química
ligeira
A mudança climática prognosticada irá agravar os mecanismos de alteração das rochas. Fuente
et al. (2011) fazem referência ao Projeto Noah’s Ark - Global Climate Change Impact on Built
Heritage and Cultural Landscapes, cujo objetivo é prever os efeitos das alterações climáticas no
17
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
2.3 A água
A água é o principal meio de transporte de agentes agressores, sendo ela própria um deles
(Lourenço, 2003; Charola, 2004). É responsável por perda de coesão interna; recristalização de
soluções por evaporação; migração de sais; alternância de fenómenos de secagem/molhagem;
alternância de ciclos de gelo/degelo; e aparecimento de colonização biológica (Salavessa,
1996; Mosquera et al., 2000). O seu papel manifesta-se quer na alteração física, quer na
alteração química (Almeida, 2009).
Ao circular, a água transporta iões de um local para o outro, o que conduz a várias
combinações de reações, como a dissolução, a hidratação, a hidrólise, a carbonatação e a
oxidação. Estas têm uma tendência para aumentar com o aumento da temperatura (Ollier,
1975; Bland & Rolls, 1998; Pacheco, 2011). Assim, a alterabilidade de uma rocha aumenta com
o aumento do número de micróporos, mas também com o aumento da facilidade desta absorver
e reter água no seu interior (Prada et al., 1995).
As paredes secas também podem decair, pois se armazenarem no seu interior sais, a presença
de água potenciará a deterioração (Nappi & Lalane, 2010).
A água pode surgir sob a forma de vapor de água, entrando nos poros por absorção
higroscópica ou por condensação, ou infiltrar-se no estado líquido por ascensão capilar a partir
do solo, ou por absorção da água da chuva (retida em certas partes dos edifícios) (Charola,
2000). A condensação superficial é estimulada por humidades relativas altas e temperaturas
baixas, logo, irá ocorrer, preferencialmente, ao final da tarde ou durante a noite. A condensação
no interior da pedra (intersticial) poderá conduzir à formação de gelo se a temperatura for
suficientemente baixa. A água da chuva é forçada a penetrar no interior da pedra devido à
pressão do vento ou à sucção capilar. A presença de fissuras facilita este processo (Alemany,
2007). Importa também referir o papel dos chuviscos na ativação da acidez dos depósitos
18
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
secos, promovendo a corrosão das pedras (Salavessa, 1996), bem como a responsabilidade da
condensação na deposição de poluentes atmosféricos (Camuffo, 1995).
Quanto ao gelo, este forma-se quando a temperatura atinge os 0 ºC, ou menos. A mudança de
estado físico implica um aumento de volume de cerca de 9 %. De ressalvar que a presença de
sais reduz o ponto de congelação (Bland & Rolls, 1998).
2.4 Os sais
Apesar da fácil e recorrente conexão entre a aceleração da deterioração das pedras dum
edifício e as (mais recentes) alterações climáticas, um rápido decaimento está normalmente
associado ao mecanismo de cristalização de sais solúveis (Arnold & Zehnder, 1987). Há muito
que se conhecem as consequências deste mecanismo - Charola (2000) faz referência a Herrero
(1967), um autor que fez uma resenha sobre estudos publicados por volta de 1910 sobre o
tema.
Para causar danos os sais necessitam de se deslocar para o interior da rede porosa, processo
que exige a presença de água. Para além de se encontrarem dissolvidos nas soluções
circulantes, os sais podem ainda encontrar-se incorporados na constituição da própria rocha, ou
depositados na sua rede porosa (Nappi & Lalane, 2010).
A cristalização de sais sendo função da ascensão capilar de soluções salinas, sucede quando
as estruturas de alvenarias contactam com solos húmidos. Assim, para que a ascensão capilar
da água ocorra é necessária a presença desta, a existência de materiais de construção com
estrutura porosa, e o contacto entre ambos (Silva, 2002). A rede porosa dos granitos é do tipo
fissural, muito bem interligada, o que proporciona rápidas transferências capilares (Alves, 1997;
Begonha, 2001; Moutinho da Silva, 2005; Leite, 2008).
A ascensão capilar de água, por si só, apenas causa paredes húmidas e o cheiro característico
a bolor no interior dos edifícios, no entanto, quando combinada com a presença de sais causa
decaimento (Youg, 2008). Pode acontecer também que a porosidade diminua com a
19
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
Os fatores que condicionam a cristalização de sais no interior dos poros são a porosidade, o
tamanho dos poros, as propriedades do sal (solubilidade, expansão de volume e pressão de
cristalização), o transporte e grau de saturação da solução, o local de cristalização e a
resistência do material pétreo à pressão de cristalização (Rodriguez-Navarro & Doehne, 1999;
Benavente et al., 2007a; Yu & Oguchi, 2010) e a presença de outros sais (Charola, 2000; Aires-
Barros, 2005). A complexidade deste processo, que envolve as propriedades do material pétreo
e as características do meio envolvente a que este está exposto, é a razão para que este
mecanismo de decaimento esteja apenas parcialmente compreendido (Maurício et al., 2005).
Grossi e Esbert (1994) apresentam uma sinopse onde expõem as origens prováveis dos iões
que formam os principais tipos de sais.
Os danos provocados pela cristalização de sais são função do hábito do cristal e do tamanho
atingido, estando por isso intrinsecamente relacionados com as tensões provocadas pela
pressão de cristalização (Bland & Rolls, 1998; Theoulakis & Moropoulou, 1999). A ação de um
sal é tanto mais destrutiva quanto maior for a sua solubilidade e forças de cristalização
(Begonha, 2011). O gesso, por exemplo, pode precipitar à temperatura ambiente e aumentar
até 300 vezes o seu volume, provocando danos severos (Veniale et al., 2008).
As maiores pressões de cristalização ocorrem quando um sal cristaliza num poro de maior
tamanho, mas com acessibilidades reduzidas (Tsui et al., 2003; Benavente et al., 2006). Ou
seja, se o sal cristalizar num poro de grande tamanho e bem conectado, a sua cristalização e
expansão não irá gerar grandes tensões, e consequentemente, grandes danos (Benavente et
al., 2007a). Por seu turno, Rodriguez-Navarro e Doehne (1999) consideram que numa rocha
com grande porção de micróporos, ligados por poros de maior tamanho, estes funcionam como
reservatórios de solução, alimentando os poros de menor tamanho que, como atingem a
20
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
sobressaturação mais facilmente, acabarão por ser o local preferencial da cristalização de sais,
conduzindo à rutura.
Steiger (2005a) faz ainda referência ao facto de que cada sal poderá encontrar-se dentro do
poro sob uma pressão de cristalização anisotrópica devido ao contacto de cada face com
soluções com potenciais químicos diferentes.
21
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
No caso das rochas graníticas, se o SO2 se combinar com o cálcio das plagioclases poderá
formar gesso (Charola, 2004; Veniale et al., 2008). Schiavon (2007) comprovou, num estudo
realizado na Igreja de S. Jorge (Corunha, Espanha), que a caulinização dos feldspatos ocorreu
após a utilização da pedra granítica no monumento, e devido à presença de SO2 na atmosfera.
Este processo, segundo o autor, pode causar decaimento até 4-5 mm abaixo da superfície dos
silhares, a profundidades superiores do que os locais preferenciais de cristalização do gesso,
provocando por isso maiores danos.
A poluição do ar, se tiver compostos ácidos como os referidos, é muitas vezes considerada
como um dos principais fatores de deterioração da pedra (ver Alves & Sanjurjo-Sánchez, 2011,
e Sanjurjo-Sánchez & Alves, 2012), no entanto, ainda não há uma explicação clara
relativamente ao seu contributo nos processos de decaimento (Charola, 2004). Para além dos
riscos para com o património construído é necessário considerar os riscos para a saúde pública,
nomeadamente os efeitos carcinogénicos de alguns poluentes (Slezakova et al., 2011).
22
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
As pedras de uma alvenaria podem ser o habitat para inúmeros seres vivos se instalarem e,
direta ou indiretamente, provocarem alterações (Murillo, 2008). A colonização biológica é
frequentemente um marco no impacte visual de um monumento, dificultando a observação e
admiração de pormenores arquitetónicos e/ou decorativos (Mishra et al., 1995; Mouga &
Proença, 2002).
Segundo Guillitte (1995), citado por Prieto e Silva (2005), a biorecetividade define-se como
sendo o potencial de um determinado material pétreo em ser colonizado por um ou mais grupos
de organismos. Ou seja, corresponde à totalidade de propriedades do substrato que contribuem
para a colonização (Sáiz-Jiménez & Arino, 1995; Tiano, 2002).
A colonização biológica, sendo epilítica, diz respeito à colonização à superfície, por sua vez, a
colonização endolítica já se refere aos agentes biológicos que ocupam posições mais internas
nos materiais pétreos (Rios et al., 2004; Murillo, 2008).
23
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
Desta forma, pode dizer-se que os agentes biológicos podem provocar danos na pedra que
passam pela formação de biofilmes, pela promoção de reações químicas, pela produção de
pigmentos, pela penetração física no substrato e pela desagregação do material pétreo
(Warscheid & Braams, 2000). Os autores apresentam uma revisão onde destacam, para além
destes mecanismos de alteração biológica, os agentes envolvidos e as metodologias de
prevenção. De entre os organismos colonizadores mais comuns destacam-se as bactérias, as
algas, os líquenes, os fungos, as plantas e os animais.
2.6.1 Bactérias
Os microrganismos que se depositam nas superfícies das estruturas de alvenaria podem ter
origem variada, podendo ser provenientes do solo, ou ser transportados pelo ar, mais
concretamente pelo vento, ou por animais, como insetos e aves. A sua multiplicação dependerá
das condições climatéricas e da presença de nutrientes (Rosa & Martins, 2005).
24
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
As bactérias são seres vivos unicelulares, procariontes, que se encontram quer em ambientes
oxigenados, quer em condições de anarobiose, podendo ser auto ou heterotróficas. As
bactérias autotróficas, designadamente as bactérias nitrificantes, as sulfúricas e as férricas, são
as responsáveis pela meteorização das rochas. As bactérias heterotróficas estão envolvidas em
mecanismos de deterioração que implicam a produção de ácidos biogénicos, podendo causar
dissolução através da mobilização de catiões, tais como Ca2+, Fe3+, Mn2+, Al3+ e Si4+ (Aires-
Barros, 2001). O autor admite que 100 000 a 1 000 000 de microrganismos podem viver nas
superfícies internas de um centímetro cúbico de rocha alterada (cerca de 2 g). Rios et al. (2004)
observaram bactérias no seio de folhas de micas, que para além de serem responsáveis pela
sua separação, revelaram ser capazes de mobilizar elementos do substrato. Kiel (2005) isolou
bactérias em prédios históricos da cidade de Porto Alegre (Brasil) capazes, quer de acidificar,
quer de alcalinizar o meio. Papida et al. (2000) consideram que as bactérias preferem
substratos mais resistentes uma vez que estes oferecem, para além dos nutrientes orgânicos e
inorgânicos, um ambiente mais estável.
Sabe-se ainda que os biofilmes capturam partículas sólidas e esporos (Charola, 2004) e
contribuem indiretamente para o decaimento do material pétreo através da absorção de gases,
nomeadamente SO2, conduzindo à sulfatação da rocha e à precipitação de sais sulfatados
(Papida et al., 2000; Schiavon, 2002). Os seus principais efeitos prendem-se com a formação
de crostas, depósitos e pátinas (Gómez-Alarcón et al., 1995; Prada et al., 1995; Hall et al.,
2005; Schiavon, 2002; Krumbein, 2003), e com a retenção de água na superfície dos silhares
(Barrinuevo, 2004).
25
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
2.6.2 Fungos
Os fungos são seres vivos heterotróficos que se nutrem por absorção (Freitas, 2010). A maioria
são saprófitas alimentando-se de matéria orgânica morta, mas também existem espécies
parasitas (Howel et al., 2004) e fungos simbiontes, que vivem em associação com outro ser vivo
(Freitas, 2010).
O seu tamanho varia de poucos micrómetros a centenas de metros de extensão, por isso a
existência de várias morfologias deu origem a designações múltiplas, como leveduras, bolores,
mofo, cogumelos, etc., que se referem a estruturas vegetativas e reprodutivas.
A sua estrutura vegetativa denomina-se talo, sendo este formado por filamentos ou hifas nos
fungos filamentosos. As hifas podem ser septadas ou cenocíticas. Caracteristicamente
possuem uma parede celular rígida constituída por quitina e/ou celulose. Podem ser sexuados
ou assexuados, reproduzindo-se na sua maioria através de esporos, que se dispersam,
geralmente, através do vento (Freitas, 2010).
Estes seres vivos são encontrados em todos os locais - ar, água e terra, e muitos toleram
temperaturas elevadas e condições ácidas. Podem viver em tecidos, papel, couro e alvenarias,
podendo causar enormes prejuízos (Jones & Gaudin, 2000; Gadd, 2007).
26
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
A ação física dos fungos pode ocorrer de duas formas: pela à penetração das hifas (Lisci et al.,
2003; Rios et al., 2004) ou por expansão dos talos e das hifas quando absorvem água (Bland &
Rolls, 1998; Allsop et al., 2004; Schiovan, 2002; Rios & Ascaso, 2005; McNamara et al., 2010).
A profundidade da penetração depende do tipo de fungo e da natureza do substrato (Lisci et al.,
2003). Também ocorrem alterações físicas devido ao aumento de biomassa dos
microrganismos (Rios & Ascaso, 2005).
Para além dos danos mecânicos, é importante considerar a atividade bio-corrosiva dos fungos
devido à secreção de ácidos orgânicos (Hirsch, 1995; Gutarowska, 2010) e à oxidação de
catiões, como o ferro e o manganês (Felice et al., 2010). A produção de substâncias ácidas,
como o dióxido de carbono, também é potenciadora de danos, sobretudo em calcários (Lisci et
al., 2003). Gutarowska (2010) refere que fungos que se desenvolvem em materiais orgânicos
caracterizam-se pela libertação de enzimas, enquanto os fungos que proliferam em materiais
inorgânicos é comum produzirem ácidos orgânicos.
De referir ainda que a colonização de edifícios por microrganismos como bactérias, algas e
fungos, pode acarretar danos para a saúde das pessoas com potencial alérgico e
hipersensibilidade, devido à libertação de esporos (Kiel, 2005; Felice et al., 2010).
2.6.3 Líquenes
Os líquenes são organismos originados da associação simbiótica entre um fungo e uma alga ou
cianobactéria. O fotobionte realiza a fotossíntese e o microbionte contribui com a absorção de
água e os compostos minerais, sendo ainda responsável pela fixação do líquen ao substrato.
Cerca de 19 % das espécies fúngicas encontram-se nos líquenes (Kirk, 2001).
Normalmente, o talo do líquen é formado pelo fungo, ocupando a alga a camada mais
superficial. A morfologia do talo (figura 2.4) depende em parte dos parceiros fotobiontes a que o
fungo está associado e segundo Lisci et al. (2003) pode ser:
27
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
28
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
A sua reprodução pode ser vegetativa ou ocorrer por germinação de esporos. As condições
necessárias para ocorrer a germinação variam consoante a espécie, mas o fator mais
importante é a disponibilidade de água. São muito sensíveis à poluição atmosférica
representando um excelente papel como bioindicadores.
Cerca de 650 artigos científicos foram revistos em 2004 sobre a biodeterioração provocada por
líquenes (Piervittori et al., 2009). Tiano (2002) faz referência a estudos que isolaram os
principais géneros de líquenes colonizadores em monumentos, a saber: Protoblastenia,
Verrucaria, Caloplaca, Aspicilia, Lecanora e Xanthoria. Em Ascaso et al. (1998) também são
referidas as espécies mais comuns, nomeadamente, Squamarina crassa, Caloplaca aurantia,
Lecanora sp. e Xanthoria parietina. Silva et al. (1997), num estudo realizado no Centro de Arte
Contemporânea Galiciano (Santiago de Compostela, Espanha), identificaram os seguintes
géneros: Trapelia, Ulotrichales, Chlorococcales, Candelariella e Catillaria.
A ação destes organismos é sobretudo mecânica, devido à penetração das hifas dos fungos,
que provocam desintegração do material pétreo (Silva et al., 1999), como já foi
supramencionado. É comum que a proliferação se inicie nas argamassas, encontrando-se hifas
a profundidades de 1-1,5 cm (Sáiz-Jiménez & Ariño, 1995). Hall et al. (2005) observaram
pátinas em granitos em que a interface líquen-rocha atingia os 0,5 cm. No entanto, a sua ação
química também é conhecida. Chen et al. (2000) identificaram em rochas colonizadas por
fungos a precipitação de óxidos de ferro e a neoformação de minerais de argila.
29
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
2.6.4 Plantas
No que diz respeito às plantas superiores pode dizer-se que a sua ação se faz sentir sobretudo
através das suas raízes, que se instalam em zonas mais frágeis, como fissuras ou junções
entre pedras. Esta ocupação resulta, quer no aumento do diâmetro dessas aberturas, quer na
formação de novas fissuras. As plantas podem desenvolver-se ainda nas argamassas ou em
substrato formado a partir de poeiras atmosféricas (Mishra et al., 1995; Lisci et al., 2003).
Mishra et al. (1995) referem vários autores que levaram a cabo estudos de identificação de
plantas em monumentos. Lisci et al. (2003) apresentam uma extensa lista das principais plantas
que se desenvolvem em monumentos, distinguindo a sua colonização em relação à posição,
disponibilidade de água e do tipo de plantas que se sucedem umas às outras, e Freitas (2006)
desenvolveu um estudo onde identificou várias espécies de Angiospérmicas colonizadoras de
muros antigos na cidade de Braga.
30
II – ALTERAÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS EM MONUMENTOS – PRINCÍPIOS GERAIS
químico mais utilizado (e eficiente) para destruir ou impedir o crescimento da vegetação (Mouga
& Proença, 2002), mas existem ainda métodos físicos, como a remoção manual, e biológicos,
que envolvem a utilização de insetos (Mishra et al., 1995).
2.6.5 Animais
Quanto aos animais, há que distinguir a colonização por artrópodes (microfauna) que se
alimentam à custa de líquenes, contribuindo para a sua disseminação (Tiano, 2002), e a
colonização pela avifauna, cujas consequências se referem particularmente à acumulação de
dejetos, que gera soluções ácidas ricas em minerais de sais solúveis quando em contacto com
humidade e/ou águas de escorrência (Gómez-Heras et al., 2004).
31
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Foi na capela onde era venerado São Sebastião que, por iniciativa de D. Afonso Henriques, no
século XII, se ergueu, a sul do Castelo, no centro do povoado amuralhado, a Sé de Lamego
(Monterey, 1984) (figura 3.1). A torre quadrangular, de estilo românico, é hoje o único
testemunho (já modificado), das primitivas construções medievais (Correia, 1924; Monterey,
1984; Laranjo, 1989). As sucessivas alterações que o edifício original sofreu ao longo dos
tempos (séculos XV, XVI e XVIII) deveram-se sobretudo às necessidades relativas ao culto, e
às tentativas de sanar a degradação do imóvel (Laranjo, 1990).
33
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Na grande reforma do século XVI, promovida pelo bispo D. Manuel de Noronha, a torre foi
transformada em sineira (Guia de Portugal, 1995). Este bispo foi também o grande responsável
pela construção, em 1557, do claustro (figura 3.2a), onde estão situadas, no primeiro piso, as
preciosas capelas de Santo António e de São Nicolau (Monterey, 1984), esta última atualmente
designada de capela de S. João Batista dado o desaparecimento, no século XIX, da primeira
capela de S. João. O piso superior sustenta um alpendre sobre uma galeria de colunas simples.
No século XVIII foi reconstruída a parte interna da Sé, em estilo barroco. De realçar o corpo
principal subdividido em três naves, correspondendo cada uma destas à sua respetiva porta de
entrada (figura 3.2b). Nas paredes laterais abrem-se vários altares. As pinturas dos tetos são de
autoria do arquiteto-pintor Nicolau Nasoni (Monterey, 1984) (figura 3.3a). Por esta altura a Sé
abria-se para um amplo adro lajeado (http://www.infopedia.pt/$se-catedral-de-lamego [2010-09-
16]). Apenas a torre e a frontaria gótica, sobreviveram às profundas alterações a que a
estrutura do edifício foi submetida (Lima, 2000).
Refira-se ainda, que até ao bispado de D. Frei Feliciano de Nossa Senhora (de 1742 a 1771), a
torre serviu de “cárcere tenebroso” (Laranjo, 1990).
Assim, e depois das diversas alterações estruturais, encontramos hoje na fachada principal da
Sé de Lamego registos de três épocas: a parte siglada da torre, de estilo românico; as três
imponentes portadas, de estilo gótico; e a zona acima dos frisos das portadas, de estilo barroco
(Monterey, 1984).
34
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
a) b)
Na década de 30, do século XX, a Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais iniciou
uma intervenção no edifício com o objetivo de recuperar as coberturas, reconstruir parcelas do
claustro, que se encontrava em muito mau estado de conservação, e de definir a Zona de
Proteção da Envolvente (prevista na Lei 1700, de 1924). A torre, que esteve habitada até 1964,
foi restaurada após essa data. Simultaneamente, foi também substituído o altar-mor (Rosas,
2010) (figura 3.3b).
A última intervenção no edifício foi realizada em 2003, pelo Instituto Português do Património
Arquitetónico, e consistiu na reparação da torre sineira e na colocação de um para-raios
(http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6431 [06/10/2010).
A Sé de Lamego é Monumento Nacional desde 1910, e encontra-se hoje sob alçada da Direção
Regional da Cultura do Norte, delegação do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e
Arqueológico (IGESPAR).
35
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
a) b)
Localizado no distrito de Viseu (norte de Portugal), o concelho de Lamego, para além de fazer
fronteira a norte com o rio Douro, é ainda ladeado pelos concelhos de Tarouca, a sul; Armamar,
a este; e Resende, a oeste (figura 3.4a). O território concelhio estende-se por 151 km2 e possui
24 freguesias (figura 3.4b), sendo apenas duas delas – Almacave e Sé – de carácter urbano
(Vieira, 2006). Esta área encontra-se representada na Carta Militar de Portugal, escala 1:25
000, Folhas 126 – Peso da Régua e 137 – Lamego, publicadas pelo Serviço Cartográfico do
Exército.
36
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
a) b)
O maciço de Montemuro é separado da Serra do Marão (a norte) pelo rio Douro, de que são
tributários os cursos de água da zona (Teixeira et al., 1969). Para além deste curso que
apresenta o caudal mais volumoso, a destacar ainda o rio Balsemão, que atravessa todo o
concelho, e o rio Varosa (Barros, 2010).
Para o estudo em causa importa referir ainda a vizinhança do rio Coura à Sé de Lamego (ponto
1, figura 3.5). No século XVI este afluente do rio Balsemão tinha o seu percurso mais perto do
monumento, mas o bispo Dom Fernando de Menezes fez desviar ligeiramente o seu curso de
modo a que em frente do Paço Episcopal, que é hoje sede do Museu de Lamego (ponto 2,
figura 3.5), ficasse um grande largo. O rio passava a descoberto pela baixa da cidade até 1919,
altura em que foi iniciada a sua cobertura (figura 3.5).
37
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
1
Rio Coura
Fig. 3.5: Percurso do rio Coura: a azul está representado o curso do rio a
descoberto e a vermelho o curso subterrâneo. No ponto 1 localiza-se a Sé de
Lamego e no ponto 2 localiza-se o Museu de Lamego.
Os terrenos agrícolas ocupam 48,8 % do concelho, por sua vez os espaços florestais
correspondem a cerca de 26 % do seu território, estando localizados, preferencialmente nas
zonas oeste e sul, com predomínio do castanheiro, do carvalho e do pinheiro bravo (Barros,
2010). A exposição das rochas à superfície é mais escassa nas zonas de pasto, cultivo e
florestais, surgindo numerosos afloramentos rochosos nas áreas de relevo mais acidentado
onde predomina a vegetação do tipo arbustivo e rasteiro (Martins, 1997).
Atualmente, a principal via de acesso a Lamego é a A24, autoestrada que liga Vila Real a Viseu
e atravessa o concelho de norte a sul. A N2, que liga Castro Daire, Lamego e Régua, é a
estrada nacional de maior relevância. Existem ainda várias estradas municipais e vicinais, no
entanto, o acesso às zonas montanhosas é dificultado pela topografia acidentada.
38
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Da análise do Atlas Climático Ibérico (2011) pode concluir-se que a área climática em estudo
está classificada, segundo Koppen-Geiger, como fazendo parte do Clima Temperado tipo Csb
(temperado com verão seco e temperado).
39
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Tendo em consideração dados relativos à cidade de Viseu, entre 1971 e 2000, verifica-se que
as temperaturas máximas são alcançadas nos meses de julho e agosto, sendo o mês de janeiro
o mês mais frio (onde as temperaturas mínimas chegam a atingir os -7 ºC). Por seu turno, a
precipitação média mensal é de cerca de 98 mm, registando-se valores máximos no mês de
dezembro (195,4 mm), e valores mínimos no mês de agosto (17,9 mm). A consulta das Normais
Climatológicas (provisórias), de 1981 a 2010, permite confirmar estes dados, verificando-se que
o mês de julho, com temperaturas médias de 21,7 ºC, é o mês mais quente, e o mês de janeiro
o mês mais frio. Quanto à precipitação, julho apresenta-se como o mês mais seco, e em
dezembro, o mês mais chuvoso, a precipitação média é de 203,4 mm (Instituto de Meteorologia
de Portugal, 2012a).
40
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
A EMA permitiu o registo dos seguintes parâmetros climáticos: temperatura do ar (figura 3.8),
humidade relativa (figura 3.9), densidade de fluxo de radiação solar global (tabela 3.1), direção
do vento, velocidade do vento (figura 3.10) e precipitação. Devido a uma avaria não detetada no
sensor da precipitação, não é exequível considerar os dados relativos a este parâmetro.
41
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
35,0
30,0
Temperatura do ar (°C)
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
100,0
90,0
Humidade relativa (%)
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
42
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Radiação Radiação
Mês solar global Mês solar global
(MJ/m2) (MJ/m2)
6
Velocidade do vento (m/s)
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
VV VVmax
43
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Os dados recolhidos permitem verificar que a temperatura média anual foi de 14,5 ºC, tendo
sido o mês de janeiro, com temperaturas médias de 5,7 ºC, o mês mais frio, e o mês de agosto,
com temperaturas médias de 21,7 ºC, o mês mais quente. A menor temperatura (-4,5 ºC) foi
registada a três de fevereiro de 2011, e a temperatura máxima registou-se a doze de agosto de
2011 – 39,2 ºC. A amplitude térmica média anual é de 12,6 ºC, sendo mais notória nos meses
de verão.
5
4
Anomalia da Temperatura (°C)
3
2
1
0
-1
-2
-3
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
44
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
A humidade relativa varia de 55,2 %, registada no mês de julho, a 80,4 %, registada no mês de
novembro. A média anual deste parâmetro foi de 64,5 %. Os valores publicados pelo Instituto
de Meteorologia de Portugal (2012b) nos boletins meteorológicos mensais para a agricultura de
2011, relativos às cidades de Viseu e Vila Real, são muito semelhantes aos supracitados.
Quanto à radiação solar global (tabela 3.1), foi no mês de junho que se registou a maior
densidade de fluxo – 796 MJ/m2, enquanto em dezembro se assinalou o menor valor deste
parâmetro (174 MJ/m2). Estes valores são da mesma ordem de grandeza dos publicados pelo
Instituto de Meteorologia de Portugal (2012b) nos boletins meteorológicos mensais para a
agricultura de 2011, para as cidades de Viseu e Vila Real.
O vento soprou de sudoeste (entre os 214,7 º e os 236,2 º), a uma velocidade média de 0,35
m/s. Os valores máximos de velocidade do vento registaram-se em junho e julho, verificando-se
uma menor velocidade (0,10 m/s) no mês de janeiro (figura 3.10).
Após análise do clima da região de Lamego, segundo as figuras 2.1 e 2.2, verifica-se que se
trata de uma zona dominada por mecanismos de meteorização química moderada. Tratando-se
de um clima do tipo Csb, moderado com verões secos e moderados, e sendo dezembro o mês
mais chuvoso, com temperaturas médias de 7 ºC, esses mecanismos ocorrerão
preferencialmente no inverno. No entanto, as amplitudes térmicas dos meses de verão (≈15 ºC)
– época caracterizada pela fraca pluviosidade, também devem ser consideradas no que
concerne a fenómenos de meteorização física.
45
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Para o estudo da geologia da região de Lamego foram considerados alguns trabalhos prévios
de índole geológica, nomeadamente os realizados por: Teixeira et al. (1967a, 1967b), Teixeira
et al. (1968), Teixeira et al. (1969), Sousa et al. (1987), Ferreira et al. (1987), Sousa e Sequeira
(1989), Ferreira e Sousa (1994), Martins (1997, 1998) e Simões (2000).
A região de Lamego insere-se, segundo Ribeiro (2006) no terreno Ibérico da Zona Centro-
Ibérica (ZCI) (figura 3.12), e compreende, genericamente, rochas do Complexo Xisto-
Grauváquico ante-Ordovícico (CXG) e séries metamórficas derivadas, rochas eruptivas, rochas
filonianas e depósitos modernos (Teixeira et al., 1969).
46
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Dispersas por numerosos afloramentos, são as rochas graníticas que dominam a área em
estudo. A classificação dos granitos tem sofrido várias alterações ao longo do tempo, sendo
utilizados diferentes critérios, como os petrográficos, os geoquímicos, os estruturais e os
geocronológicos. De referir as classificações de Chappell e White (1974), Ferreira et al. (1987),
Winter (2001) e Azevedo e Aguado (2006). Ferreira et al. (1987) considera que as rochas
granitóides que intruíram os metassedimentos nesta região pertencem ao grupo dos granitóides
sin-D3, e marcaram o início do magmatismo da terceira fase de deformação hercínica no norte
de Portugal, estando a sua instalação associada a zonas de cisalhamento dúctil
(nomeadamente o cisalhamento Vigo-Régua). Pode dizer-se que, no geral, se consideram dois
grandes grupos de granitos: a) granitos de duas micas, sin-tectónicos em relação a D3, tipo S; e
b) granitóides biotíticos e de duas micas, tardi a pós-tectónicos em relação a D3, tipo S, H e I
(figura 3.13), que se instalaram, respetivamente, no primeiro e segundo ciclo de atividade
magmática da orogenia Varisca no sector português da ZCI - a) ~320-310 Ma, e b) ~310-290
Ma. (Azevedo & Aguado, 2006).
Região de Lamego
47
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Martins (1997) distingue na região de Lamego, com base em critérios de campo e petrográficos,
dois grupos de granitóides, quanto à sua idade de instalação: o grupo dos granitos sin-
tectónicos em relação a D3 e o grupo dos granitos tardi-tectónicos. No grupo dos granitos sin-
tectónicos incluem-se granitos biotíticos e granitos de duas micas. Os granitos moscovíticos,
biotítico-moscovíticos, os granodioritos e os vosguesitos inserem-se no grupo dos granitos tardi-
D3.
Tarouca
5 km
Fig. 3.14: Mapa geológico simplificado da região de Lamego, extraído das folhas nº 2 e 4, da Carta
Geológica de Portugal, escala 1:200 000, gentilmente cedido pelo LNEG.
48
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
a)
5
4
1 b)
1 km
Fig. 3.15: Excertos das Cartas Militares de Portugal, escala 1:25 000 (1984),
a) Folha 126 - Peso da Régua e b) Folha 137 - Lamego, com a localização
dos pontos de amostragem: 1 – Granito de Várzea de Abrunhais (GVA)
(41°4'35.08"N/7°46'32.18"W); 2 Granito de Valdigem (GV)
(41°6'7.79"N/7°49'38.55"W); 3 - Granito das Meadas (GM)
(41°7'59.82"N/7°47'1.78"W); 4 – Granito de Lamego são (GLS) e aplito
(41°5'9.66"N/7°47'37.47"W); 5 – Granito de Lamego alterado (GLA)
(41°5'16.60"N/7°48'7.53"W).
49
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
O centro da cidade de Lamego assenta numa mancha de granito de grão médio, porfiróide,
biotítico, que Teixeira et al. (1969) denominam de Mancha de Lamego. Este granito forma um
corpo alongado que faz parte de um maciço de grandes dimensões – o maciço de Ucanha
(Ferreira et al., 1987). O granito de Lamego contacta a oeste, em parte, com o granito porfiróide
de grão grosseiro de Pretarouca, a sul com os terrenos do Ordovícico-Silúrico, e a este com o
granito de grão médio, não porfiróide (denominado granito de Várzea de Abrunhais).
Esta rocha apresenta foliação e lineação, conferidas pela orientação dos megacristais e pela
biotite da matriz. A anisotropia planar apresentada é bastante heterogénea, uma vez que por
vezes a foliação é incipiente noutras é bastante nítida (Martins, 1997; Simões, 2000).
50
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
São várias as manchas de granito não porfiróide de duas micas que surgem entre Lamego e a
Ribeira de Tarouca, sendo a maior, o afloramento localizado entre Várzea de Abrunhais e
Lamego, que se pode designar por granito de Várzea de Abrunhais. Este corpo, de contornos
sinuosos, contacta a norte com os metassedimentos do CXG e a oeste e sul com o granito de
Lamego.
Apesar da granulometria deste granito ser bastante heterogénea, neste corpo em particular
predominam as fáceis de grão médio, sendo raras as fáceis de grão fino ou grosseiro. Esta
rocha, que se apresenta em geral muito alterada, é um granito de duas micas, podendo
predominar uma ou outra das micas (Teixeira et al., 1969; Martins, 1997).
Quanto aos encraves, são numerosos os metassedimentares, mas possui ainda “schlirens”
biotíticos. A foliação aumenta de norte para sul, tornando-se cada vez mais penetrativa
(Martins, 1997).
51
III – ENQUADRAMENTO DO MONUMENTO EM ESTUDO
Por sua vez, na orla setentrional da Folha 14A - Lamego, abrangendo grande parte das serras
do Poio e das Meadas, situa-se um afloramento alongado, de contornos irregulares, de granito
alcalino, de grão médio, designado de granito das Meadas, que se prolonga para norte, para
além dos limites da referida carta.
São granitos moscovíticos, com porções de biotite diminutas, de grão médio, ligeiramente
porfiróides, devido ao desenvolvimento de pequenos fenocristais de feldspato potássico
(observando-se também por vezes megacristais de quartzo e albite). Como minerais essenciais
encontra-se o quartzo, a plagioclase, o feldspato potássico e a moscovite (Teixeira et al.,
1967a; 1969).
3.4.4 Aplito
São vários os filões pegmatíticos, aplito-pegmatíticos e aplíticos que cortam, quer os granitos,
quer os xistos, na região em estudo. Os filões de rocha aplítica que se encontram a cortar os
granitos moscovíticos diferenciam-se muitas vezes apenas pela granularidade (Teixeira et al.,
1967a; 1969). Por sua vez, ocorrem a cortar o granito biotítico de Lamego filões aplíticos com
turmalina (Teixeira et al., 1969).
No caso da rocha amostrada, trata-se de uma rocha de grão fino ou fino a médio, constituída
essencialmente por quartzo, plagioclase, feldspato potássico e moscovite. Regista-se ainda a
presença de apatite, turmalina e óxidos.
52
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
4.1 Introdução
Na análise da tabela 4.1, baseada no trabalho de Martins (1997), verifica-se que o granito de
biotítico de Lamego (GL) se caracteriza pela ausência de moscovite, pela maior proporção de
plagioclase e biotite, e menor proporção de quartzo. No granito de duas micas de Várzea de
Abrunhais (GVA) o teor de moscovite é variável, mas superior ao da biotite, enquanto nos
granitos moscovíticos – onde se inclui o granito de Valdigem (GV) e o granito das Meadas (GM)
- a biotite é rara.
No que diz respeito à cor, os granitos de Várzea de Abrunhais, Valdigem e Meadas são rochas
holo-leucocráticas, e o granito de Lamego classifica-se como leucocrata.
Na tabela 4.2 encontra-se a composição química média de alguns minerais analisados nas
rochas graníticas.
53
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
Tab. 4.1: Composição modal (%) e índice de cor médios (adaptado de Martins, 1997).
Amostras Q Fk Pl B Mo Ap Op IC
Granito biotítico (GL) 24,95 18,23 37,70 16,10 0,01 1,02 1,99 18
Granito de duas micas (GVA) 34,93 16,77 28,17 5,20 14,17 0,73 0,10 5
Granitos moscovíticos (GV e GM) 35,55 12,95 33,20 2,00 14,85 1,20 0,25 2
Q = Quartzo; Fk = Feldspato; Pl = Plagioclase; B = Biotite; Mo = Moscovite; Ap = Apatite; Op = Opacos; IC = Índice de cor.
O quartzo é anédrico, com extinção ondulante e bordos serrilhados, límpido e geralmente pouco
fissurado. São frequentes os agregados policristalinos de forma arredondada e dimensão
variáveis (figura 4.1a). Ocorre como inclusão nos megacristais de feldspato potássico e surge
também associado à plagioclase formando mirmequites.
54
Tab. 4.2: Análises químicas (% peso) de alguns minerais das rochas graníticas estudadas.
Amostras Minerais n SiO2 TiO2 Al2O3 FeOt MnO MgO CaO Na2O K2O P2O5 BaO F Or Ab Fe/(Fe+Mg) Total
Fk 3 63,64 0,06 18,50 0,06 - 0,03 0,02 0,70 15,90 0,03 0,99 - 93,60 6,30 - 98,94
Granito C 5 60,08 0,01 24,66 0,07 0,02 - 6,59 7,64 0,22 0,02 0,01 - 1,24 66,76 - 99,31
Pl
Biotítico B 3 65,07 - 21,46 0,02 0 0,01 2,62 10,3 0,06 0,03 0,06 - 0,34 87,36 - 99,66
Bi 6 36,26 2,86 16,58 19,99 0,28 9,39 0,02 0,047 9,77 - - 0,58 - - 0,54 95,83
Fk 3 63,62 0,01 18,54 0,06 0,01 - - 0,25 16,87 0,57 0,04 - 97,83 2,16 - 99,93
Pl 3 68,44 0,01 19,40 0,01 0,01 - 0,18 11,35 0,079 0,12 0,01 - 0,45 98,69 - 99,62
C 1 46,25 0,11 36,72 1,29 - 0,23 0,04 0,81 10,13 - - 0,18 - - - 95,77
P
Granito de Mo B 1 46,34 0,01 36,09 1,55 - 0,19 0,01 0,74 10,28 - - 0,21 - - - 95,43
duas micas S 2 47,03 0,03 35,06 2,14 0,01 0,16 - 0,21 10,27 - - 0,28 - - - 95,30
E 2 35,84 0,22 34,24 12,14 0,15 1,59 0,06 1,60 0,034 - - 0,01 - - 0,81 85,86
T
Cl 3 35,37 0,22 33,04 13,13 0,16 1,33 0,07 1,94 0,036 - - 0,57 - - 0,85 85,41
G 7 36,20 0,03 21,07 25,43 16,94 0,15 0,17 0,03 0,01 - 0,20 - - - 0,99 100,5
Fk 3 64,12 - 18,50 0,01 0,01 - 0,01 0,69 16,19 0,47 0,04 - 93,92 6,06 - 100,02
55
Pl 5 68,33 0,01 19,60 0,01 0,03 - 0,01 11,34 0,13 - - - 0,73 98,52 - 99,8
Sz 3 46,18 0,48 30,58 4,69 0,12 0,71 0,01 0,25 10,95 - - 2,70 96,67
Granitos P C 2 44,99 0,62 30,74 3,89 0,05 1,02 - 0,71 10,60 - - 1,30 - - - 93,89
Mo
moscovíticos B 2 45,43 0,63 28,66 5,6 0,12 1,16 - 0,29 10,90 - - 1,50 - - - 94,25
S 1 47,58 0,11 29,86 5,09 0,04 0,99 0,02 0,13 10,94 - - 2,26 - - - 97,02
Ap 1 - - 0,05 0,80 2,39 0,01 52,42 0,07 - 40,04 0,09 4,21 - - - 100,14
T 2 35,59 0,65 32,21 13,92 0,084 1,64 0,02 2,23 0,01 - - 0,85 - - 0,83 86,35
Fk 1 64,64 - 18,90 0,00 - - 0,03 0,53 16,20 0,71 - - 95,12 4,75 - 101,03
Pl 4 67,62 0,03 20,00 0,02 0,04 - 0,24 11,5 0,113 0,57 0,03 - 0,63 98,23 - 100,14
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
C 4 45,72 0,18 32,10 4,31 0,14 0,29 0,01 0,28 10,91 - - 2,68 - - - 96,63
Aplito
Mo B 2 46,165 0,20 31,55 4,73 0,20 0,30 0,01 0,26 10,78 - - 3,10 - - - 97,29
Zi 2 47,70 0,07 21,42 10,13 0,24 0,39 0,01 0,15 10,51 - - 8,69 - - - 99,29
Ap 2 0,02 - 22,17 18,64 10,45 0,21 0,15 0,01 0,02 31,97 - - - - - 83,68
Fk = Feldspato potássico; Pl = Plagioclase; Mo = Moscovite; Bi = Biotite; T = Turmalina; G = Granada; Ap = Apatite; P = Primária; C = Centro; B = Bordo; S = Secundária; Sz = Sem zonamento; E =
Zona escura; Cl = zona clara; Zi = Zinvaldite; n = número de análises.
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
A apatite é euédrica e surge frequentes vezes como inclusão na biotite, no feldspato potássico
e na plagioclase. Também possui inclusões, tendo sido identificadas a monazite, a torite e a
alanite.
A alanite é um mineral acessório referido noutros granitos biotíticos do norte de Portugal (Neiva
et al., 2000). Ocorre em secções pseudo-hexagonais, por vezes bem desenvolvidas, associada
à biotite. Apresenta forma euédrica a subeuédrica, com fraco pleocroísmo de castanho
amarelado a castanho e zonamento fino (figura 4.1e).
56
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
O quartzo é anédrico, com extinção ondulante e contactos endentados (figura 4.2a). Apresenta-
se fraturado, sendo as fraturas intra e intergranulares.
57
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
a) b)
I B
C
P A Ap
c) d)
e) f)
58
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
Quanto aos minerais acessórios, a granada surge na matriz sob a forma de grãos arredondados,
incolores, com relevo alto e bastante fraturados (figura 4.2e). Análises na microssonda
permitiram concluir que pertence à série Almandina (60 %) – Sepersatina (40 %)
[Fe1,8;Mn1,2;Al2(SiO4)3.
59
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
a) b)
c) d)
e)
Ox
f)
60
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
Trata-se de granitos de grão médio, com textura hipidiomórfica, e tendência porfiróide devido à
presença de fenocristais de feldspato potássico. No granito de Valdigem é possível distinguir-se
também ocelos de quartzo e plagioclase. Como minerais essenciais observa-se o quartzo, o
feldspato potássico, a plagioclase, a moscovite e a biotite. São minerais acessórios a turmalina, a
apatite, o rútilo, o zircão e a monazite, observando-se como minerais tardi a pós-magmáticos a
moscovite, a clorite, a caulinite, os fosfatos de alumínio e ferro e os óxidos de ferro.
O feldspato potássico está presente na matriz, sob a forma de cristais anédricos, observando-se
também microfenocristais de carácter subeuédrico. Apresenta macla de Carlsbad
frequentemente e, por vezes, macla em xadrez difusa (figuras 4.3a e 4.3b). Observam-se
inclusões de plagioclase, quartzo, apatite e rara biotite. É micropertítico e surge moscovitizado,
sendo ainda evidente a presença de óxidos de ferro a preencher as fissuras intra e
intergranulares (figura 4.4b). No granito das Meadas observa-se intensa caulinização (figura
4.3c). O teor de Or é 94 %.
A plagioclase é a albite (granito de Valdigem - An0-1 e granito das Meadas - An0-2). É subeuédrica
a anédrica, com maclas polissintéticas, sendo mais frequente a macla segundo a lei da albite
(figura 4.3d). O feldspato potássico e o quartzo são as inclusões mais frequentes, tendo sido
ainda identificadas inclusões de epídoto, fluorite, moscovite, rútilo, monazite e zircão (figura 4.5a
e 4.5b). Caracteriza-se pela intensa fissuração, microclinização e moscovitização, sendo a
intensidade da alteração variável (figura 4.3d).
61
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
A biotite é muito rara, subeuédrica a anédrica, com extinção radial em algumas secções. Possui
inclusões de apatite e rútilo. Apresenta-se intensamente cloritizada e moscovitizada (figura 4.3c).
Este processo inicia-se com a descoloração do mineral, que adquire coloração verde-pálida.
A apatite surge na matriz com aspeto diferente do habitual, fraturada transversalmente e com
óxidos a preencher as fissuras (figura 4.3e). As análises da microssonda revelaram ser rica em
fluor e manganês (tabela 4.2). Para além da apatite, Cotelo Neiva (1984), e Ferreira e Sousa
(1994) registaram a presença de outros minerais fosfatados, nomeadamente a lazulite (mineral
fosfatado de cor azul), pertencente ao grupo da childrenite-vauxite. Por sua vez, Sousa e
Sequeira (1989) observaram na região de Tabuaço, manchas azuladas e esverdeadas,
resultantes da alteração de um fosfato, que poderá ser a schorzalite.
62
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
a) b)
c) d)
e) f)
63
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
Ox
Fk
P Q
Q Ox
Mo
a) b)
Zr
P Ep
Mo P
Fl M
R
a) b)
64
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
4.5 Aplito
Trata-se de uma rocha de grão fino, equigranular. Os minerais essenciais são o quartzo, o
feldspato potássico, a plagioclase e a moscovite. A apatite é o mineral acessório mais frequente.
Os minerais secundários mais comuns são a caulinite, os óxidos de ferro e os fosfatos de
alumínio, ferro e manganês.
O feldspato potássico é subeuédrico. A presença de maclas é pouco comum, surgindo por vezes
a macla em xadrez (figura 4.6a). Apresenta-se fissurado (figura 4.6b) e caulinizado.
A plagioclase é a albite (An1-2). É subeuédrica, com macla da albite frequente, surgindo esta por
vezes com planos encurvados (figura 4.6a). Apresenta inclusões de moscovite e apatite (figura
4.6c), observando-se também óxidos de ferro a preencher as fissuras (figura 4.6b).
65
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
a) b)
c)
Ox
Mo
d)
f)
Zv
e)
Fig. 4.6: Aspetos petrográficos do aplito: a) Feldspato potássico (Fk) com macla em
xadrez e plagioclase (P) com maclas polissintéticas (NX); b) Fraturas intra e
intergranulares preenchidas com óxidos de ferro (Ox) a afetar grãos de quartzo (Q),
feldspato potássico (Fk) e plagioclase (P) (N//); c) Plagioclase (P) com inclusões de
moscovite (Mo) e apatite (Ap) (NX); d) Imagem de eletrões retrodispersados mostrando
o preenchimento de fissuras intragranulares e clivagens com óxidos de ferro (Ox) na
moscovite zonada (Mo); e) Imagem de eletrões retrodispersados mostrando a zinvaldite
(Zv); f) Fosfatos secundários (F) de Al, Fe e Mn, associados à alteração de apatite e
plagioclase (NX).
66
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
Numa primeira fase (figura 4.7), e após seleção do monumento, é necessário proceder ao estudo
da sua história e do meio em que este se localiza. De seguida, decorre a fase de diagnóstico,
relativa quer ao tipo de material de construção (suas características e estado de deterioração),
quer ao reconhecimento dos principais fatores e processos de decaimento. (Prada et al., 1995;
Fitzner, 2002; Fitzner & Heinrichs, 2002; Fitzner et al., 2002; Fitzner, 2004).
Este reconhecimento é um processo moroso, mas de grande utilidade, pois permite avaliar o
estado de conservação do imóvel e caracterizar a distribuição das patologias, conduzindo à
interpretação de fenómenos responsáveis pelo decaimento da pedra e identificação das zonas
mais suscetíveis à deterioração (Siedel et al., 2011).
67
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
1. Seleção do monumento
- Localização geográfica;
- Idade e estilo artístico;
- Intervenções prévias de restauro;
- Caracterização climática da região.
2. Diagnóstico
- Identificação e caracterização do material pétreo;
- Identificação e caracterização das patologias;
- Identificação e caracterização dos danos;
- Reconhecimento dos fatores e processos de decaimento;
- Delineação de mediadas de preservação.
68
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
O levantamento foi realizado tendo por base as seguintes etapas (Aires-Barros, 2001; Begonha,
2001; Siedel et al., 2011):
4. Amostragem.
Por culpa do estado de alteração de algumas pedras, não foi possível identificar a litologia
presente. Alguns silhares não foram delimitados por ser impossível visualizar corretamente nos
registos fotográficos as suas arestas. As alvenarias cartografadas nos claustros são
representativas de cada uma das fachadas dessa estrutura do edifício.
A análise da figura 4.9 permite verificar que na fachada oeste da Sé de Lamego é possível
encontrar todas as litologias estudadas. O granito de Várzea de Abrunhais é a rocha dominante,
no entanto há a registar uma percentagem significativa de silhares de granito de Valdigem, com
destaque para os dois cruzeiros. Quanto aos portais (figura 4.10), a sua construção foi levada a
cabo com granito de Valdigem, tendo-se aplicado a mesma litologia nos pilares. É nestas
estruturas arquitetónicas que se encontram concentrados os silhares talhados com maior
pormenor. Foi possível ainda identificar nesta área da fachada oeste algumas pedras de granito
de Várzea de Abrunhais e de granito das Meadas.
Na torre, quer na fachada oeste (figura 4.11), quer na fachada sul (figura 4.12), domina o granito
de Lamego. O cruzeiro da fachada oeste foi, como os dois já mencionados, executado em
granito de Valdigem. No caso da fachada sul deste testemunho medieval, a homogeneidade
pétrea da alvenaria foi comprometida pela recente aplicação de granito das Meadas no espaço
antes ocupado por uma entrada, verificando-se uma evidente incompatibilidade estética entre
esta litologia e o fundo antigo.
No que concerne aos claustros, podem-se encontrar as 5 litologias estudadas, dominando nas
fachadas oeste (figura 4.13) e norte (figura 4.14) o granito de Várzea de Abrunhais, e na fachada
sul (figura 4.15) o granito de Lamego. O granito de Valdigem é muito escasso nestas alvenarias,
tendo-se identificado várias pedras de granito das Meadas de carácter mais grosseiro.
69
70
1,75 m
Granito de Várzea de Abrunhais Granito de Valdigem Aplito Litologia não identificada
Fig. 4.10: Cartografia das litologias presentes nos portais da fachada principal da Sé de Lamego.
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
72
IV – CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E QUÍMICA MINERAL
Granito de Várzea de Granito de Valdigem Granito das Meadas Litologia não identificada
Abrunhais de grão grosseiro
Fig. 4.13: Cartografia das litologias presentes na fachada oeste dos claustros da Sé de Lamego.
75
0,95 m 0,80 m
5.1 Introdução
Avaliar a ação dos agentes externos de alteração numa rocha implica avaliar a quantidade de
poros e fissuras, a sua forma, tamanho e distribuição no interior da rocha (Esbert et al., 1997;
Begonha & Sequeira Braga, 2002; Benavente et al., 2004a). O estudo da rede porosa de uma
rocha pode ser feito por métodos (microscópicos) diretos, ou indiretamente através da
determinação das suas características físico-mecânicas (como a densidade real e aparente, a
porosidade, a absorção de água por imersão à pressão atmosférica e a capilaridade). Estas
ferramentas de investigação permitem estimar o estado de alteração do material de construção
e prognosticar o comportamento das pedras in situ e in tempo (Frascá, 2003; Gómez-Heras &
Fort, 2007).
Um material poroso, que absorve maior quantidade de água, é mais suscetível à alteração, pois
esta facilita vários mecanismos de decaimento (Mosquera et al., 2000; Benavente et al., 2004a;
Martínez-Martínez, 2008; Tomasic et al., 2011), nomeadamente a dissolução de minerais e o
crescimento de espécies biológicas. A água é ainda o agente responsável pelo stress interno
provocado pelos ciclos de gelo-degelo e pela hidratação e cristalização de sais solúveis.
O meio poroso é caracterizado tendo em conta a geometria e dimensão dos poros, bem como a
tortuosidade da rede porosa. São estas características que vão condicionar o fluxo, por
transferência capilar, das soluções salinas, nomeadamente a sua velocidade, quantidade e
distância percorrida no interior das pedras. É desta forma que são definidos os locais
preferenciais de evaporação das soluções e de cristalização de sais no interior dos poros
(Benavente et al., 2004b).
A área de superfície específica (SSA) é equivalente à área de superfície dos poros por unidade
de massa. Quando maior for esta variável, maior probabilidade de decaimento terá a rocha. A
77
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
5.2 Metodologia
Para a caracterização petrofísica e dinâmica das rochas em estudo foram utilizados provetes
cúbicos (5x5x5 cm3) obtidos por corte de amostras representativas das cinco litologias em
estudo. Na tabela 5.1 encontra-se discriminada a identificação e quantidade de provetes
utilizados em cada ensaio, bem como o local onde estes foram realizados.
A determinação dos diferentes parâmetros teve por base as recomendações das seguintes
normas: Norma ISRM – “Suggested methods four determining water content, porosity, density
and related properties, and swelling” (1979); Norma UNE-EN 1925 – “Métodos de ensayo para
piedra natural: Determinación del coeficiente de absorción de agua por capilaridad” (1999);
78
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Norma UNE-EN 1936 – “Métodos de ensayo para piedra natural: Determinación de la densidad
real y aparente y de la porosidad abierta y total” (2007); Norma UNE-EN 13755 – “Métodos de
ensayo para piedra natural: Determinación de la absorción de agua a presión atmosférica”
(2008); e Norma UNE-EN 14579 - “Métodos de ensayo para piedra natural: Determinación de la
velocidad de propagación del sonido” (2005).
Antes de se iniciar os ensaios, os provetes foram secos em estufa, a 70 °C, até se obter uma
massa constante.
Provetes Ensaios
Propagação das
Capilaridade (c)
Porosidade (a)
Densidade (a)
Absorção (b)
ondas P (b)
GLS GLA GVA GV GM AP
C8 D4 A1 F9 E6 B3
C16 D5 A6 F11 E9 B6
C17 D6 A11 F17 E11 B15
C18 D9 A12 F19 E17 B17
C20 D10 A17 F20 E19 B18
C1 D3 A9 F2 E7 B2
C2 D7 A10 F5 E13 B4
C6 D11 A13 F7 E14 B5
C19 D17 A14 F12 E15 B9
C28 D18 A20 F13 E18 B10
C4 D12 A3 F10 E5 B1
C5 D13 A5 F15 E4 B7
C11 D14 A7 F17 E19 B16
C7 D1 A4 F3 E1 B11
C10 D8 A8 F4 E2 B12
C12 D15 A16 F8 E3 B14
C14 D19 A18 F18 E6 B20
C3 D2 A2 F1 E9 B6
C9 D4 A15 F6 E15 B8
C13 D7 A17 F14 E17 B9
C15 D16 A19 F16 E18 B17
GVA = granito de Várzea de Abrunhais; GV = granito de Valdigem; GM = granito das
Meadas; GLS = granito de Lamego são; GLA = granito de Lamego alterado; AP = aplito; a)
Ensaio realizado no Centro de Investigação e Desenvolvimento da Transgranitos; b)
Ensaio realizado no Departamento de Geologia da UTAD; c) Ensaio realizado no
Departamento de Geologia da Universidade de Oviedo.
79
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
A densidade aparente (ρb) é a relação entre a massa do provete seco (md), e o seu volume
aparente (Vb). Este corresponde ao volume limitado pela superfície externa do cubo, incluindo
por isso, os espaços vazios (Norma UNE-EN 1936, 2007). A densidade aparente permite avaliar
o volume de poros a preencher (Salavessa, 1996), e depende diretamente do empacotamento
dos minerais. Variações neste parâmetro refletem diferentes estados de meteorização dos
materiais (Rahardjo et al., 2002).
A densidade aparente (em kg/m3) pode calcular-se através do método geométrico (Norma
ISRM, 1979) ou através da aplicação da seguinte equação (Norma UNE-EN 1936, 2007):
md
b 1000
m s mh (1)
No cálculo da densidade aparente através do método geométrico é necessário medir cada face
várias vezes, de forma a encontrar mais corretamente a média das 3 dimensões (L1, L2 e L3).
Após o cálculo da massa do provete seco, utiliza-se a fórmula:
md
b 1000
Vb
80
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
sendo:
Vb L1 L2 L3
O volume da parte sólida corresponde à diferença entre o volume aparente e o volume dos
espaços vazios (abertos e fechados), sendo a densidade real (ρr) a relação entre a massa do
provete seco e o volume da sua parte sólida (Norma UNE-EN 1936, 2007). Segundo Carmichel
(1989), a densidade real expressa-se em kg/m3 e pode calcular-se a partir da equação:
md
r 1000
md m s
A porosidade aberta (P0) traduz-se na relação entre o volume de poros abertos (logo,
acessíveis) e o volume aparente do provete. Por sua vez, a porosidade total (P) equivale à
relação entre o volume total de poros (abertos e fechados) e o volume aparente do provete. Os
valores de porosidade total e porosidade aberta nas rochas graníticas são, normalmente, muito
aproximados.
Segundo a Norma UNE-EN 1936 (2007), pode calcular-se a porosidade aberta (em
percentagem) através da seguinte equação:
m s md
0 100
m s mh
Para obtenção da massa dos provetes secos é necessário que estes sejam colocados
previamente no vazio (figura 5.1a). Após duas horas a uma pressão de cerca de 15 mmHg,
introduz-se a água destilada até todos os cubos ficarem completamente submergidos. De
seguida restabelece-se a pressão atmosférica, mantendo-se os provetes nestas condições
durante 24 horas. Por fim, obtém-se a massa dos provetes saturados e a massa dos provetes
submersos (figura 5.1b).
81
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
a) b)
Antes de serem pesados foi retirada a água em excesso dos cubos com o auxílio de um pano
húmido.
A análise da tabela 5.2 permite verificar que a diferença entre os valores de densidade aparente
e de densidade real é pouco significativa. Este facto assenta no pressuposto da não existência
de espaços vazios isolados em rochas densas e pouco porosas, como é o caso das rochas
graníticas.
A partir dos resultados da tabela 5.2 regista-se ainda que os valores de densidade aparente
estão compreendidos entre 2,53 g/cm3 e 2,70 g/cm3. Estes valores são ligeiramente superiores
aos publicados em trabalhos anteriores relativos a monumentos e edifícios históricos graníticos
do norte de Portugal (tabela 5.3). Os resultados contidos na tabela 5.3 expressam, dependendo
do autor, a média dos provetes obtidos a partir de várias amostras, ou a média dos vários
provetes obtidos a partir da mesma amostra.
82
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Tab. 5.3: Valores mínimos e máximos da densidade aparente de granitos de monumentos e edifícios
históricos do norte de Portugal.
Densidade aparente
Granito
(g/cm3)
Granito do Porto afetado por desagregação granular – Hospital de Santo
2,52 – 2,53
António (Begonha, 2001)
Granito do Porto afetado por placas – Hospital de Santo António (Begonha,
2,42 – 2,56
2001)
Granito de duas micas, de grão médio – Igreja de Santa Maria de Leça do
2,52 – 2,55
Balio (Moutinho da Silva, 2005)
Granito de duas micas, de grão médio – Igreja Matriz de Caminha (Fojo, 2006) 2,27 - 2,48
Granitos de duas micas, de grão médio a fino – Sé Catedral de Vila Real
2,48 – 2,51
(Machado, 2006)
Granitos de duas micas, de grão médio a grosseiro, porfiróides – Sé Catedral
2,52 – 2,56
de Vila Real (Machado, 2006)
Granito de duas micas, de grão grosseiro, com tendência a porfiróide,
2,53 – 2,57
meteorizado – Igreja de Santa Clara (Leite, 2008)
Granito de duas micas, de grão grosseiro, com tendência a porfiróide, muito
2,27 – 2,41
meteorizado – Igreja de Santa Clara (Leite, 2008)
Granito de duas micas, de grão médio a grosseiro – Igreja de S. Pedro de
2,39 – 2,54
Rates (Begonha, 2009)
Granito de duas micas, de grão médio a fino – Igreja de S. Pedro de Rates
2,42 – 2,53
(Begonha, 2009)
Granito de duas micas, de grão fino – Igreja de S. Gonçalo (Begonha, 2009) 2,49 – 2,52
Granito de duas micas, de grão médio a fino (GVA) – Sé de Lamego 2,61 – 2,59
Granitos moscovíticos, de grão médio a fino (GV e GM) – Sé de Lamego 2,53 – 2,58
83
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
2750
Densidade aparente (kg/m3)
2700
2650
2600
2550
2500
2450
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Densidade aparente (kg/m3) (Norma ISRM, 1979)
Densidade aparente (kg/m3) (Norma UNE-EN 1936, 2007)
Fig. 5.2: Gráfico do valor médio e desvio padrão da densidade aparente (ρb) das rochas
estudadas.
Na tabela 5.2 é ainda evidente a relação inversamente proporcional entre a densidade aparente
e a porosidade, exibindo as rochas menos densas, maiores valores de porosidade. Assim, o
granito de Lamego é o mais denso, apresentando o menor valor de porosidade (0,7 %), e o
granito de Valdigem é o menos denso (ρb = 2538 kg/m3), como tal, o mais poroso.
84
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Conforme se pode verificar na tabela 5.4, os valores de porosidade aberta obtidos nas rochas
em estudo são da mesma ordem de grandeza dos determinados noutros granitos portugueses.
De salvaguardar novamente, que os resultados contidos nessa tabela expressam, dependendo
do autor, a média dos provetes obtidos a partir de várias amostras, ou a média dos vários
provetes obtidos a partir da mesma amostra.
Tab. 5.4: Valores mínimos e máximos da porosidade aberta determinada em alguns granitos
portugueses.
Porosidade aberta
Granito
(%)
Granito de duas micas, de grão grosseiro, porfiróide – Guarda (Antão &
2,90 - 3,77
Rodrigues, 2000)
Granito de duas micas, de grão médio, não porfiróide – Guarda (Antão &
0,36- 2,56
Rodrigues, 2000)
Granitos de duas micas, de grão médio a fino – Vila Real (Machado, 2006) 5,38 – 6,98
Granito de duas micas, de grão médio a fino (GVA) – Lamego 2,09 – 2,65
Granitos moscovítico, de grão médio a fino (GV e GM) – Lamego 2,95 – 5,01
85
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Para a realização deste ensaio, obteve-se primeiramente o peso de cada provete seco (md’). De
seguida colocaram-se os provetes num recipiente, sobre uma rede, acrescentando-se água até
metade da altura dos provetes. Passados sessenta minutos, acrescentou-se água até alcançar
três quartos da altura dos provetes. Por fim, 120 minutos decorridos desde o início do ensaio,
acrescentou-se água até os cubos ficarem completamente submersos (figura 5.3).
86
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Os resultados obtidos neste ensaio para a absorção (tabela 5.5) são da mesma ordem de
grandeza dos obtidos por Grossi et al. (1998); Lima e Paraguassú (2004); Rojo et al. (2003);
Machado (2006); Rio et al. (2006); e Gárcia-del-Cura et al. (2008).
Tab. 5.5: Valor médio e desvio padrão da absorção, do conteúdo em água de saturação, e do
grau de preenchimento dos poros das rochas estudadas.
87
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Dado que o conteúdo em água de saturação é determinado quando os provetes são submersos
no vazio, tal permite a eliminação de praticamente todo o ar retido na rede porosa, sendo este
substituído pela água. No caso do ensaio de absorção de água à pressão atmosférica o ar fica
retido nos poros de mais difícil acesso, impossibilitando assim a entrada de água. Rochas com
maior número de microporos são mais suscetíveis à formação de bolhas no seu interior (Yu &
Oguchi, 2010).
A rocha que absorveu maior quantidade de água foi o granito de Valdigem (1,59 %), tendo o
granito de Lamego absorvido a menor quantidade de água (0,22 %). Estes resultados refletem
os resultados obtidos no ensaio anterior, uma vez que o granito de Valdigem é o mais poroso e
o granito de Lamego aquele em que se obteve o menor valor de porosidade aberta.
Na análise da tabela 5.5 verifica-se ainda que a absorção determinada por imersão à pressão
atmosférica apresenta valores inferiores ao conteúdo de água de saturação. O granito de
Valdigem, o mais poroso e com o valor mais elevado de conteúdo em água de saturação (1,85
%), foi aquele que registou o grau de preenchimento de poros mais baixo – 85,9 %. O aplito, foi
a rocha que registou um grau de preenchimento de poros mais elevado (97,2 %), seguido da
amostra GLA (95,8 %).
Estes resultados pressupõem uma maior tortuosidade da rede porosa no granito de Valdigem,
onde, provavelmente, predominam os espaços vazios de menor tamanho e de mais difícil
acesso, sendo o sistema poroso do aplito o melhor conectado. Yu e Oguchi (2010) consideram
que rochas com elevada porosidade e rápida capacidade de absorção, mas com um coeficiente
de saturação baixo, são mais resistentes à meteorização.
88
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Apesar de se tratar de percentagens muito baixas, que tornam as variações muito significativas,
pode acrescentar-se que, provavelmente, o grau de alteração da amostra GLA, observado no
estudo petrográfico e semelhante ao da amostra GLS, mas mais evidente, poderá implicar, a
existência de fissuras mais largas, preferencialmente inter e transgranulares, que permitem que
a água seja absorvida com maior facilidade.
As rochas podem ter valores semelhantes de porosidade, mas conter diferentes tipos de poros,
sobretudo no que diz respeito ao seu tamanho, distribuição espacial e conectividade (Tomasic
et al., 2011). Os resultados obtidos neste ensaio para o granito de Várzea de Abrunhais e para
o aplito, rochas com valores de porosidade muito semelhantes (2,5 % e 2,8 %, respetivamente),
comprovam esta afirmação.
Na figura 5.4 é possível verificar que na primeira pesagem após imersão (t0+48h), o granito de
Valdigem apresentou o aumento de peso mais significativo (seguido do granito das Meadas e
do aplito), enquanto o granito de Lamego (amostras GLS e GLA) manteve ao longo de todo
ensaio um peso quase constante, fruto da sua reduzida porosidade.
360
350
340
Peso (g)
330
320
310
300
t0 t0+48h t0+72h t0+168h
t (h)
Fig. 5.4: Gráfico da evolução do aumento de peso médio dos provetes, durante
o ensaio de absorção por imersão à pressão atmosférica (t0 = md).
89
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Para a realização deste ensaio, colocaram-se os provetes (depois de secos e pesados, até
atingirem um peso constante - md), num recipiente, sobre uma rede coberta com papel de filtro,
com a base submergida por cerca de 3 mm de água (figura 5.5a). Após secagem com um pano
húmido, foi registada a progressão da embebição da água nos seguintes intervalos: 1 min, 4
min, 9 min, 16 min, 25 min, 36 min, 49 min, 64 min, 81 min e 100 min. Sempre que necessário,
foi adicionada água em cada tabuleiro por forma a manter o seu nível constante.
Para os intervalos de tempo acima referidos foi ainda medida a altura da franja capilar (figura
5.5b).
a) b)
90
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
2500 2
GLS: y = 4,75x; r = 1
2
GLA: y = 4,72x; r = 1
2
2000 GVA: y = 14,98x; r = 0,96
Absorção de água (g/m2)
2
GV: y = 39,98x; r = 0,99
2
GM: y = 15,57x; r = 0,93
1500 2
AP: y = 24,53x; r = 0,97
1000
500
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
t (s0,5)
O granito de Valdigem, a rocha mais porosa, apresentou uma cinética de absorção de água por
capilaridade mais rápida, acabando por atingir a saturação aos 36 min. O aplito também saturou
por volta da sexta medição, tendo no entanto, absorvido menor quantidade de água por unidade
de superfície, em relação ao granito de Valdigem. Estes resultados confirmam, por um lado, a
boa conexão dos poros desta rocha, e por outro, o seu menor valor de porosidade.
Relativamente à figura 5.7, verifica-se que a franja capilar atingiu, no granito de Valdigem e no
granito de Várzea de Abrunhais, a altura máxima dos provetes (5 cm), aos 36 min e 81 min,
respetivamente, sendo que aos 9 min (terceira medição) a ascensão de água já tinha
ultrapassado metade da altura dos provetes no granito de Valdigem. A facilidade de sucção
destas duas rochas também reflete o seu grau de preenchimento dos poros, que é muito
91
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
similar. Recorde-se ainda que o granito de Valdigem é o mais poroso, bem como aquele que
absorveu mais água por imersão à pressão atmosférica.
6,00
Altura da franja capilar (cm)
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
t (s0,5)
Fig.5.7: Gráfico da altura da franja capilar das rochas estudadas, registada no ensaio
de capilaridade.
O granito de Lamego (GLS e GLA) apenas absorveu água até alturas próximas dos 2,3 cm. Nos
primeiros minutos do ensaio a subida da franja capilar foi mais rápida na amostra GLA do que
na amostra GLS, resultados que atestam que apesar de ambas as amostras apresentarem
porosidades e cinéticas de absorção semelhantes, a amostra GLA, por se encontrar mais
alterada, oferece menor resistência à entrada da água. A partir da quarta medição (aos 16 min)
a ascensão da franja capilar foi muito pouco significativa para ambas as amostras.
De referir também que, quer o granito das Meadas, quer o aplito, mostraram no final do ensaio
que ainda poderiam embeber uma maior quantidade de água, uma vez que a franja capilar não
estabilizou. O estudo petrográfico permitiu verificar que todos os minerais constituintes do aplito
se encontravam intensamente fissurados, como tal, e apesar desta rocha apresentar a segunda
cinética capilar mais rápida, é presumível que o tamanho dos seus poros tenha retido a água,
impedindo assim a subida da franja capilar. É possível admitir ainda que a existência de poros
92
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
de diferentes dimensões, distribuídos de forma heterogénea por todo o provete, também limite o
percurso da água até ao topo dos cubos (Rahardjo et al., 2002; Lindqvist et al., 2007).
As ondas sísmicas podem ser longitudinais (ondas P) ou transversais (ondas S). As ondas P
vibram na direção paralela à propagação da onda, sendo as primeiras a chegar. Por sua vez, as
ondas S, vibram num plano perpendicular à da propagação das ondas, chegando depois das
ondas longitudinais.
93
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Para a realização deste ensaio foi utilizado um equipamento de marca C.N.S. Electronics
ltd, Modelo PUNDIT (Portable Ultrasonic Non-Destructive Digital Indicating Tester), com
transdutores com frequências de ressonância de 54 kHz, que possui uma unidade de
calibração, ou seja, de ajustamento de tempo de percurso ou aferidor de velocidade (figura 5.8).
a) b)
Uma vez que se conhece o tempo de percurso das ondas entre o emissor e o recetor, e a
distância percorrida, é possível determinar a velocidade de propagação através da fórmula
(Norma UNE-EN 14579, 2005):
onde:
94
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Nas medições foi utilizado mel como interface devido à facilidade deste produto ser removido
durante a lavagem com água.
Para avaliar uma possível anisotropia de propagação das ondas longitudinais nas rochas
estudadas, mediu-se a Vp, em cada provete, segundo as três direções do espaço (L1, L2 e L3).
É necessário salvaguardar que as diferenças verificadas nos valores de Vp para cada direção,
bem como nos índices de anisotropia calculados, não são absolutos, pois a obtenção dos
provetes não obedeceu a quaisquer critérios de orientação, tendo sido apenas considerada a
direção do corte das placas a partir das quais estes foram talhados.
Os resultados obtidos encontram-se na tabela 5.6, tanto para a velocidade de propagação das
ondas P calculada a partir da média das três direções, como para a velocidade de propagação
das ondas P calculada para cada uma das direções consideradas separadamente.
Tab. 5.6: Valores médios e desvio padrão da velocidade de propagação das ondas
longitudinais das rochas estudadas.
VP VP’ VP’’ VP’’’
Rochas
(m/s) (m/s) (m/s) (m/s)
GLS 5196 ± 72 5168 ± 81 5278 ± 106 5143 ± 126
95
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
A velocidade de propagação das ondas P varia entre 5196 m/s, manifestada pela amostra sã de
granito de Lamego, e 2275 m/s, calculada para o aplito. Estes valores são consistentes com os
obtidos por outros autores em rochas graníticas, nomeadamente por: Sousa (2000); Begonha
(2001); Kahraman (2001, 2002, 2007); Begonha e Sequeira Braga (2002); Sousa et al. (2005);
Vasconcelos (2005); Rio et al. (2006); Alemany (2007); Chaki et al. (2008); Garcia-del-Cura et
al. (2008); Takarli et al. (2008); Vasconcelos et al. (2008); Gupta (2009); López-Arce et al.
(2008); Musa et al. (2010), Vázquez et al. (2010) e Sharma et al. (2011).
Delgado Rodrigues e Costa (2002) obtiveram valores de Vp entre 900 e 1400 m/s em colunas
graníticas do claustro do Mosteiro de São Salvador de Grijó em estado avançado de alteração,
e Begonha (2001) refere que em 25 tarolos de granito do Porto são (com porosidade entre 0,72
e 1,14 %), a velocidade dos ultrassons se situou entre os 5370 e os 6420 m/s. O valor de Vp
mais baixo obtido pelo autor foi de 1300 m/s em rochas com elevado grau de meteorização.
Assim, o granito de Lamego (GLS e GLA), mais denso e menos poroso, apresenta os maiores
valores de VP, e, por seu turno, o granito de Valdigem e o granito das Meadas, menos densos e
mais porosos, registaram os menores valores de velocidade dos ultrassons. Do mesmo modo
se pode dizer que as rochas mais alteradas (GV e GM) são aquelas que exibem menores
valores de velocidade dos ultrassons, enquanto o granito de Lamego, sendo o mais são, regista
os valores mais elevados.
A baixa velocidade dos ultrassons do aplito poderá ser explicada sobretudo pelo pequeno
tamanho do grão, e consequente maior área de superfície de contacto entre minerais, que
origina maiores perdas de energia ao longo da propagação da onda. Para além disso, como já
foi referido anteriormente, trata-se de uma rocha que se apresenta muito fissurada.
96
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
6000
GLS
5000 GLA
4000
Vp (m/s)
3000 GVA GM
AP GV
2000
1000
0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
P0 (%)
Fig. 5.9: Gráfico da relação entre a velocidade das ondas longitudinais (Vp) e a
porosidade aberta (P0) das rochas estudadas.
A partir dos valores calculados para as 3 direções medidas em cada provete, foi calculada a
anisotropia total (∆M) e o coeficiente de anisotropia (CA) das rochas estudadas.
O cálculo do índice de anisotropia realizou-se de acordo com a seguinte equação (Guyader &
Denis, 1986):
[ ]
97
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
onde:
Vp1, Vp2 e Vp3 = velocidades das ondas longitudinais segundo as 3 direções no espaço
(m/s).
Por sua vez, o coeficiente de anisotropia (CA), foi calculado segundo a equação definida por
Thill et al. (1973):
em que:
Os índices de anisotropia calculados apresentam valores muito diversos (tabela 5.7). A rocha
onde se verificou o maior valor de anisotropia total foi o granito de Valdigem (20,2 %), tendo-se
obtido para a amostra de granito de Lamego são, o menor valor deste índice – 2,6 %. Quanto
ao coeficiente de anisotropia, registou-se uma gama de valores num intervalo maior, entre 28,2
%, para o granito de Valdigem, e 3,1 % para a amostra GLS. A correlação positiva entre estas
duas variáveis encontra-se na figura 5.10, o que mostra que qualquer um dos índices permite
hierarquizar as rochas estudadas.
98
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
30,0
25,0
20,0
CA (%)
15,0
10,0
5,0
0,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0
∆M (%)
99
V – CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA DAS ROCHAS ESTUDADAS
Os resultados dos ensaios petrofísicos revelaram que o granito de Valdigem é a rocha mais
meteorizada, no entanto, a relação entre o estado de alteração e a anisotropia não é direta, pois
esta última propriedade depende da(s) direção(ões) da(s) família(s) de fissura(s) presente(s).
Podem ter sido inclusive famílias de fissuras com direção mais marcada a facilitar o processo
de alteração desta litologia.
100
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
6.1 Introdução
A realização de ensaios de alteração artificial tem como objetivo reproduzir de forma acelerada,
os lentos processos de meteorização a que as rochas estão sujeitas. Desta forma, é possível
tirar ilações sobre a resistência das rochas face à atuação dos agentes de alteração (como a
cristalização de sais e a oscilação da temperatura), e correlacionar a alterabilidade destas com
as suas propriedades petrofísicas e dinâmicas.
O ensaio de resistência à cristalização de sais utiliza-se para avaliar os danos provocados pelos
sais quando estes cristalizam no interior da rede porosa (Rivas et al., 2000). A elevadas
temperaturas a evaporação é mais rápida, cristalizando os sais no interior da rocha
(subeflorescências), por sua vez, à temperatura ambiente, a evaporação é mais lenta e conduz
à migração dos sais até à superfície, onde acabam por precipitar formando eflorescências
(Alonso et al., 2008).
101
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
A exposição às condições do meio é responsável pela alteração natural da cor das pedras,
essa alteração é função da sua composição mineralógica e/ou da presença de materiais
exógenos, como a humidade (Tiwari et al., 2005), os poluentes atmosféricos, a colonização
biológica, os consolidantes e/ou os agentes de limpeza (Iñigo et al., 1997; Fort et al., 2000;
Grossi et al., 2007).
Tiwari et al. (2005) concluíram, num estudo realizado na Porta da Índia (Mumbai, Índia), que a
medição da cor é uma técnica não destrutiva muito útil na aferição do estado de alteração do
material de construção.
6.2 Metodologia
Foram utilizados provetes cúbicos (5x5x5 cm3) obtidos, por corte, de amostras representativas
das 5 litologias em estudo. Na tabela 6.1 encontra-se discriminada a identificação e quantidade
de provetes utilizados em cada ensaio. No início e no final dos ensaios foram determinadas as
propriedades petrofísicas (densidade real, densidade aparente e porosidade), e dinâmicas
(velocidade de propagação das ondas P) de cada rocha.
102
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
Provetes Ensaios
Alteração da cor
Choque térmico
Cristalização
de sais
GLS GLA GVA GV GM AP
C8 D4 A1 F9 E6 B3
C16 D5 A6 F11 E9 B6
C17 D6 A11 F17 E11 B15
C18 D9 A12 F19 E17 B17
C20 D10 A17 F20 E19 B18
C1 D3 A9 F2 E7 B2
C2 D7 A10 F5 E13 B4
C6 D11 A13 F7 E14 B5
C19 D17 A14 F12 E15 B9
C28 D18 A20 F13 E18 B10
C4 D12 A3 F10 E5 B1
C5 D13 A5 F15 E4 B7
C11 D14 A7 F17 E19 B16
São vários os autores que nos últimos anos levaram a cabo a realização de ensaios de
resistência à cristalização de sais (Rivas et al., 2000; Flatt, 2002; Tsui et al., 2003; Maurício et
al., 2005; Laue, 2005; Benavente et al., 2006; Frascá & Yamamoto, 2006; Houck & Scherer,
2006; Yavuz et al., 2006; Angeli et al., 2007; Becerra-Becerra & Costa, 2007; Benavente et al.,
2007a; Gómez-Heras & Fort, 2007; Lubelli & van Hees, 2007; Ruiz-Agudo et al., 2007; Zedef et
al., 2007; Alonso et al., 2008; Angeli et al., 2008; Brea et al., 2008; López-Arce et al., 2008;
López-Arce et al., 2010; Yu & Oguchi, 2010).
Muitas vezes os resultados obtidos nos provetes são bastante diferentes dos encontrados nas
pedras. Isto sucede porque num edifício, para além da ação dos sais solúveis, contribuem para
o decaimento outros agentes de alteração que não são considerados nestes procedimentos
experimentais simplificados (Brea et al., 2008).
103
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
O sulfato de sódio é um dos sais mais agressivos na natureza, por isso o mais indicado para
realizar ensaios de envelhecimento acelerado. Este sal pode surgir sob a forma de duas fases
estáveis, a ternardite (Na2SO4) e a mirabilite (Na2SO4·10H2O), em função da temperatura e da
humidade. A ternadite cristaliza diretamente a partir da solução, a temperaturas superiores a
32,4 ºC, e a mirabilite cristaliza a temperaturas menores, condicionada pela humidade relativa
(Grossi et al., 1997). A dissolução da ternardite produz uma solução sobressaturada de
mirabilite (Flatt, 2002; Steiger, 2005a). A cristalização de mirabilite a partir dessa solução
implica um grande aumento de volume (superior a 300 %), sendo essa a principal razão para a
ação destrutiva deste sal (Bland & Rolls, 1998; Flatt, 2002). Assim, quanto mais rapidamente a
rocha secar, mais facilmente o sulfato de sódio irá cristalizar no seu interior (Angeli et al., 2007).
Para Rodriguez-Navarro e Doehne (1999) o grau de saturação da solução e o local de
cristalização são os principais factores que influenciam o decaimento provocado por este sal,
enquanto que outros autores (Flatt, 2002; Tsui et al., 2003; Steiger, 2005a) atribuem os graves
danos provocados, principalmente, à sua pressão de cristalização. Rochas com elevado
número de microporos, apesar de pouco porosas, são mais suscetíveis à cristalização de sais
(Steiger, 2005a, 2005b; Flatt, 2002; Yu & Oguchi, 2010). O tamanho dos poros que proporciona
maiores danos varia de autor para autor: 1 μm para Benavente et al. (2004), 0,05 μm para
Steiger (2005b) e de 0,1-5 μm para Yu e Oguchi (2010).
Scherer (2000) e Steiger (2005a) definiram uma abordagem teórica para o cálculo da pressão
exercida pelo sal quando cristaliza no interior de um poro, mas Rodriguez-Navarro e Doehne
(1999) consideram que um cristal poderá crescer dentro do poro até um determinado limite,
acabando por expandir-se para o poro seguinte sem causar danos.
104
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
Na execução deste ensaio realizaram-se 15 ciclos, compostos pelas seguintes etapas (figura
6.1):
Imersão – os provetes foram submergidos numa solução de sulfato de sódio (15 %),
durante 5 horas, à temperatura de 20 ºC;
Secagem – os provetes foram secos numa estufa, durante 16 horas, à temperatura de
105 ºC;
Arrefecimento – os provetes foram deixados a arrefecer, durante 3 horas, à
temperatura ambiente.
120
100
Secagem
80
Temperatura (°C)
60
40
20
Imersão Arrefecimento
0
0 5 10 15 20
Tempo (h)
Após a realização do ensaio os provetes foram colocados em água durante 24 horas, seguindo-
se a sua lavagem em água corrente (Norma UNE-EN 12370, 1999). Neste caso, os cubos
estiveram uma semana imersos em água, tendo esta sido substituída todos os dias.
Durante o ensaio observou-se a morfologia das superfícies dos cubos, tendo-se registado as
alterações ao nível da cor, do estado de coesão e do aparecimento de fissuras. As diferenças
encontradas no aspeto das superfícies dos provetes no final da realização dos 15 ciclos
prenderam-se, sobretudo, com o arredondamento das arestas (figura 6.2a) e o aumento do
105
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
número de fissuras, bem como da densidade das fissuras pré-existentes (figura 6.2b). A perda
de material foi intensa nalguns cubos (figura 6.2b). Como resultado da alteração física
provocada por este ensaio, as rochas atravessam um processo progressivo de perda de coesão
e fragmentação, que acontece, preferencialmente, ao longo das superfícies de anisotropia
(Benavente et al., 2007).
O granito de Valdigem, o mais alterado, foi aquele que manifestou diferenças mais relevantes,
tendo o granito de Lamego mostrado ser mais resistente à alteração.
a) b)
Fig. 6.2: Alterações provocadas na superfície dos provetes pelo ensaio de cristalização
de sais: a) arredondamento das arestas nos provetes E6 e E17 (granito das Meadas);
b) perda de coesão nos provetes F1 e F9 (granito de Valdigem).
A Norma UNE-EN 12370 (1999) sugere o cálculo da perda de massa (definida como a variação
percentual da massa depois dos ensaios em relação à massa inicial), no entanto, em rochas
pouco porosas como as estudadas (com porosidade inferior a 5 %), essa perda, ao longo de
apenas 15 ciclos, é muito pouco significativa (López-Arce et al., 2010).
Benavente et al., (2007b) referem ainda que a perda de peso acontece quando a pressão de
cristalização do sal ultrapassa o “limite de coesão da rocha”, o que nem sempre se verifica, uma
vez que as fissuras podem aumentar a sua densidade sem se registar perda de material.
Na tabela 6.2 encontra-se a caracterização inicial das rochas estudadas, obtida antes da
realização do ensaio. Foi possível caracterizar a alteração das amostras provocada pela ação
física imposta pelo procedimento experimental, através da correlação entre os valores de
106
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
porosidade e velocidade de propagação dos ultrassons obtidos antes e no final dos 15 ciclos.
Os resultados encontram-se ilustrados nas figuras 6.3 e 6.4.
Dos resultados obtidos, observa-se que a porosidade aumentou em todas as litologias, exceto
na amostra GLA. A variação desta propriedade é maior no granito de Valdigem (47 %), a rocha
mais porosa, logo mais alterada, e menor no granito das Meadas – apenas 6 %, rocha que
atingiu inicialmente o segundo maior valor de porosidade – 3,3 %. A amostra GLS registou um
aumento de porosidade de cerca de 14 %.
Rivas et al. (2000) comprovaram que as rochas mais porosas são mais suscetíveis à alteração
por haloclastia, pois o dano produzido pelo sal é diretamente proporcional à quantidade de sal
que cristaliza no seio da rede porosa. Assim, quanto mais elevada for a porosidade, mais fácil
será o acesso da solução ao interior do provete e maior poderá ser a alteração provocada pelo
ensaio. No caso do granito das Meadas, é possível que uma elevada densidade das fissuras
tenha permitido acomodar a precipitação do sal sem causar danos relevantes. Quanto à
amostra sã do granito de Lamego, pode dizer-se que a cristalização de sais conduziu à abertura
das fissuras preexistentes, provocando o aumento da porosidade.
107
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
5
P0 (%)
0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.3: Gráfico da porosidade aberta (P0) das rochas estudadas, calculada
antes e após a realização do ensaio de resistência à cristalização de sais.
6000
5000
4000
Vp (m/s)
3000
2000
1000
0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.4: Velocidade das ondas P (Vp) das rochas estudadas, medida antes e após a
realização do ensaio de resistência à cristalização de sais.
108
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
A média geral da velocidade de propagação das ondas P, 3358 m/s, diminuiu para 2795 m/s
depois do ensaio, facto que se justifica pela tendência da diminuição desta propriedade com o
aumento da fissuração (Sousa, 2000). A rocha mais alterada, o granito de Valdigem, é aquela
que registou a maior variação desta propriedade, cerca de 45 %, enquanto que nas amostras
com porosidades inferiores a 1 % (GLS e GLA) não houve grandes alterações, apesar do
aumento da porosidade na amostra sã do granito de Lamego. No final do ensaio continua
também a verificar-se a relação inversamente proporcional entre a porosidade e a velocidade
de propagação das ondas P, como tal o granito de Valdigem manifestou a maior variação
destas duas propriedades, e o granito de Lamego (amostras GLA e GLS) a menor variação
(figura 6.5).
1200,0
GV
1000,0
800,0
GM
∆Vp (m/s)
600,0 GVA
GLS
400,0 AP
GLA
200,0
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
∆P0 (%)
Fig. 6.5: Gráfico da relação entre a variação da velocidade das ondas longitudinais
(∆Vp) e variação da porosidade aberta (∆P0) das rochas estudadas, após a
realização do ensaio de resistência à cristalização de sais.
No sentido de avaliar a influência da cristalização de sais nos índices de anisotropia, foi medida
a velocidade dos ultrassons nas 3 direções do espaço, tendo-se calculado posteriormente a
anisotropia total (∆M) e o coeficiente de anisotropia (CA) das rochas estudadas. Os resultados
encontram-se nas figuras 6.6 e 6.7.
109
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
25,0
20,0
15,0
∆M (%)
10,0
5,0
0,0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.6: Gráfico dos valores médios da anisotropia total (∆M) das rochas
estudadas, após a realização do ensaio de resistência à cristalização de sais.
30,0
25,0
20,0
CA (%)
15,0
10,0
5,0
0,0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig 6.7: Gráfico dos valores médios do coeficiente de anisotropia (CA) das
rochas estudadas, após a realização do ensaio de resistência à cristalização de
sais.
110
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
O granito de Lamego foi a rocha onde se verificou o aumento dos índices de anisotropia mais
relevante. A amostra GLS aumentou em 67 % a sua anisotropia total e em 74 % o seu
coeficiente de anisotropia. Estes resultados corroboram o supra citado aumento da porosidade
desta amostra, salvaguardando-se contudo, que pequenas variações em valores mais baixos
podem-se refletir em grandes aumentos em percentagem.
111
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
A temperatura à superfície depende do albedo, que determina a quantidade de calor que chega
à superfície por radiação e permanece disponível. O granito possui um albedo de 18 % (Bland
& Rolls, 1998). Esta propriedade é função da cor e do tamanho dos minerais (Gómez-Heras et
al., 2006). Os minerais mais escuros absorvem mais calor que os minerais mais claros (Ollier,
1975; Frascá & Yamamoto, 2006). Gómez-Heras et al. (2008) comprovaram que encraves de
cor mais escura que o granito hospedeiro eram mais suscetíveis à alteração por termoclastia.
A realização deste ensaio implicou a repetição de 20 ciclos, constituídos por duas etapas (figura
6.8), a saber:
120
100
Aquecimento
Temperatura (°C)
80
60
40
20
Imersão
0
0 5 10 15 20
Tempo (h)
112
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
Importa referir que este ensaio apresenta uma importante limitação, pois não é possível
reproduzir a fadiga termal da rocha, dado que o stress imposto por algumas horas de
sobreaquecimento/imersão, não é o mesmo que se gera quando o aquecimento/arrefecimento
são contínuos (Ollier, 1975; Gómez-Heras, 2006; Smith & Fort, 2006).
Na tabela 6.3 encontra-se a caracterização inicial das rochas estudadas, obtida antes da
realização deste ensaio. Relacionar a porosidade e a velocidade de propagação das ondas P
obtidas antes e no final do ensaio permitiu avaliar os danos ocorridos por choque térmico nas
rochas em estudo (figura 6.9 e 6.10).
Tab. 6.3: Caracterização das rochas estudadas antes da realização do ensaio de choque
térmico.
ρr ρb P0 Ws VP
Rochas
(kg/m3) (kg/m3) (%) (%) (m/s)
GLS 2721 ± 13 2703 ± 13 0,6 ± 0,1 0,24 ± 0,03 2589 ± 62
113
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
4
P0 (%)
0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.9: Gráfico da porosidade aberta (P0) das rochas estudadas, calculada antes e
após a realização do ensaio de resistência ao envelhecimento por choque térmico.
6000
5000
4000
Vp (m/s)
3000
2000
1000
0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.10: Gráfico da velocidade das ondas P (Vp) das rochas estudadas, calculada
antes e após a realização do ensaio de resistência ao envelhecimento por choque
térmico.
114
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
Pode começar por dizer-se que o aumento médio da porosidade (≈2 %), bem como a
diminuição média da velocidade da propagação dos ultrassons (≈11 %) foram muito inferiores
comparativamente aos verificados no ensaio de cristalização de sais.
600,0
500,0 GLS
GLA
400,0
∆Vp (m/s)
GM
300,0 GVA
200,0
AP GV
100,0
0,0
0,00 0,10 0,20
∆P0 (%)
Fig. 6.11: Gráfico da relação entre a variação da velocidade das ondas longitudinais
(∆Vp) e variação da porosidade aberta (∆P0) das rochas estudadas, após a realização
do ensaio de resistência ao envelhecimento por choque térmico.
115
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
A rocha onde se observou uma maior variação foi o granito das Meadas (12 %), seguido do
granito de Várzea de Abrunhais (11 %) e da amostra sã do granito de Lamego (10 %). O granito
de Valdigem e o aplito foram as rochas onde a velocidade de propagação das ondas
longitudinais mostrou o menor valor (figura 6.10). Voltou a verificar-se a relação inversamente
proporcional entre a porosidade e a velocidade de propagação das ondas P.
De salientar ainda que a qualidade dos granitos mais sãos após este ensaio, analisada em
termos de velocidade de propagação das ondas P, é superior à qualidade dos granitos mais
alterados, mesmo antes destes serem submetidos ao choque térmico.
O granito de Lamego foi a rocha onde se verificou o aumento dos índices de anisotropia mais
significativo (figuras 6.12 e 6.13). No caso da amostra GLS registou-se um aumento de 83 %
para a anisotropia total e 74 % para o coeficiente de anisotropia. No granito das Meadas
observou-se um aumento de 15 % da anisotropia total e um aumento de 19 % do coeficiente de
anisotropia. O aplito manifestou novamente diminuição dos valores dos índices de anisotropia.
116
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
20,0
15,0
∆M (%)
10,0
5,0
0,0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.12: Gráfico dos valores médios da anisotropia total (∆M) das rochas
estudadas, após a realização do ensaio de resistência ao envelhecimento por
choque térmico.
30,0
25,0
20,0
CA (%)
15,0
10,0
5,0
0,0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.13: Gráfico dos valores médios do coeficiente de anisotropia (CA) das
rochas estudadas, após a realização do ensaio de resistência ao
envelhecimento por choque térmico.
117
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
A cor é influenciada pela distribuição natural dos minerais (textura) e pelo estado de alteração.
As irregularidades e imperfeições nas rochas, resultantes, por exemplo, de variações no
tamanho do grão, ou da presença de manchas de oxidação, são responsáveis por variações
nas suas tonalidades (Grossi et al., 2007). A rugosidade das superfícies também é um dos
factores a considerar (Benavente et al., 2003; Simonot & Elias, 2003; Sousa & Gonçalves,
2010), sobretudo quando se fala de materiais de construção e rocha ornamental (Fioretti, 2007;
Sanmantín et al., 2011; Sousa & Gonçalves, 2011).
A determinação desta propriedade é mais fácil nos granitos de grão fino, sendo imprescindível
realizar um maior número de medições em granitos de grão grosseiro para obter dados mais
íntegros (Sousa & Gonçalves, 2011), ou seja, o número de medições deve aumentar com o
aumento da heterogeneidade do material pétreo (Concha-Lozano et al., 2012). Por outro lado, o
número de medições necessárias também aumenta com a diminuição do diâmetro da área de
medição (Prieto et al., 2010).
Esta propriedade foi avaliada em todas as rochas estudadas, antes e após os provetes terem
sido colocados em exposição às condições ambientais, durante o período de um ano (entre 6
de julho de 2011 e 6 de julho de 2012), nos jardins do antigo Mercado Municipal de Lamego
(figura 3.7). Apesar de ser um espaço com acesso condicionado, ocorreu o desaparecimento
dos provetes A5 e A7, e D12 e D14, como tal, não foi possível determinar a sua cor no final do
ensaio.
A cor das rochas foi determinada com a ajuda do colorímetro X-Rite 360 (modelo 964) (figura
6.14a), com geometria 45/0, utilizando o iluminante D65 e a abertura 8 mm, e foi expressa no
sistema CIEL L*a*b*, sistema amplamente utilizado no estudo desta propriedade,
nomeadamente na aferição da influência das altas temperaturas (Hajpál & Torok, 2004; Torok &
Hajpál, 2005), da poluição (Benavente et al., 2003; Grossi et al., 2007a), e da nébula salina
(Tiwari et al., 2005) no estado de alteração das rochas, bem como na avaliação da eficácia de
118
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
técnicas de limpeza (Fort et al., 2000; Grossi et al., 2007b; Urones-Garrote et al., 2011) e da
aplicação de tratamentos de conservação (Iñigo et al., 1997; Rivas et al., 2011).
Foram realizadas 20 medições em 5 faces de cada cubo. A face número um (figura 6.14b) foi
orientada para norte, a face número dois foi orientada para este, a face número três foi
orientada para sul, a quarta face foi orientada para oeste e a quinta face foi orientada para o
nadir. A sexta face não foi considerada devido ao seu emprego na identificação dos provetes.
Para cada litologia selecionaram-se 3 provetes, o que resultou na obtenção de 300 medições
(antes e após um ano de exposição), à exceção do granito de Várzea de Abrunhais (GVA) e do
granito de Lamego (GLA) pelo motivo atrás referido. Nestas duas rochas os resultados são
referentes apenas a um provete.
Foram também calculadas as diferenças na cor (∆L*, ∆a*, e ∆b*), e a mudança total de cor
a) b)
119
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
Rochas L* a* b*
Tal como o previsto os resultados são consentâneos com as características das rochas em
estudo, que apresentam cor clara pois possuem uma maior proporção de minerais félsicos
(quartzo, feldspato e moscovite). O valor de L* variou de 65,0 a 81,9, sendo que o granito de
Lamego apresenta o menor valor deste parâmetro devido ao predomínio da biotite, mineral de
cor escura. Quanto maior for a concentração de mica preta na rocha, menor será o valor de L*
(Sousa & Gonçalves, 2011). O parâmetro a* variou de -0,6 a 2,6, com predomínio do
componente vermelho, e o parâmetro b* variou de -0,5 a 10,2, prevalecendo por isso o
componente amarelo. Rochas com tonalidade mais amarelada possuem valores de b* maiores
que a* (Grossi et al., 2007a). Os maiores valores obtidos no parâmetro b* para o granito das
Meadas confirmam a sua tonalidade mais amarelada em relação às restantes litologias.
Os resultados obtidos em cada parâmetro (L*, a* e b*), para cada uma das 5 faces dos provetes
das cinco rochas estudadas, encontra-se na tabela 6.5. As amostras de grão mais grosseiro
(GLS, GLA, GVA e GM), e por isso mais heterogéneas, registaram desvios padrão mais
elevados no parâmetro L*, enquanto o granito de Valdigem e o aplito, rochas de carácter mais
fino, apresentaram os menores desvios padrão.
Pode verificar-se também, analisando a tabela 6.5, que a face 4 da amostra GLS é mais escura
que as restantes, o que se deve a uma maior concentração de biotite. Dado que as faces
possuem uma área restrita, não é possível que sejam abrangidas todas as variações texturais.
Na amostra alterada de granito de Lamego (GLA) a face 3 é mais clara que as restantes, e a
face 1 é a que possui um tom mais amarelado. No granito de Várzea de Abrunhais, as faces 1 e
120
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
Tab. 6.5: Valores médios iniciais dos parâmetros L*, a* e b*, obtidos para cada uma das 5 faces
das rochas estudadas.
L* 65,5 ± 4,8 66,9 ± 5,0 64,7 ± 6,0 60,3 ± 6,5 65,4 ± 5,9
GLS a* -0,5 ± 0,3 -0,7 ± 0,3 -0,6 ± 0,4 -0,7 ± 0,3 -0,6 ± 0,4
b* -0,8 ± 0,9 -0,3 ± 0,7 -0,4 ± 0,8 -0,5 ± 0,9 -0,4 ± 0,8
L* 63,2 ± 5,5 64,4 ± 5,6 70,3 ± 5,9 61,0 ± 6,6 65,9 ± 5,2
GLA a* -0,3 ± 1,3 -0,7 ± 0,3 -0,8 ± 0,3 -0,8 ± 0,2 -0,8 ± 0,3
b* 1,8 ± 4,4 -0,3 ± 0,9 -0,1 ± 1,0 -1,0 ± 1,0 -0,2 ± 1,1
L* 75,7 ± 5,5 78,3 ± 5,2 81,1 ± 4,8 74,5 ± 5,7 79,0 ± 4,9
GVA a* 2,0 ± 1,1 0,6 ± 0,3 0,4 ± 0,3 1,5 ± 1,0 0,7 ± 0,5
b* 9,5 ± 2,2 6,2 ± 1,2 5,7 ± 1,3 8,7 ± 2,7 6,3 ± 1,7
L* 82,5 ± 3,2 82,4 ± 2,4 82,9 ± 2,2 79,8 ± 4,9 82,0 ± 2,4
GV a* 0,9 ± 0,3 1,0 ± 0,3 0,9 ± 0,2 1,1 ± 0,4 1,1 ± 0,3
b* 5,8 ± 0,8 6,3 ± 0,8 5,9 ± 0,8 5,9 ± 0,8 6,9 ± 0,9
L* 72,1 ± 4,0 72,1 ± 3,4 72,8 ± 3,4 70,3 ± 3,4 71,9 ± 3,4
GM a* 2,9 ± 1,2 2,3 ± 1,2 2,4 ± 1,1 2,5 ± 1,2 3,1 ± 1,3
b* 11,0 ± 3,1 9,9 ± 2,6 9,5 ± 2,7 10,2 ± 3,0 10,6 ± 3,0
L* 81,1 ± 1,8 81,5 ± 1,8 80,6 ± 1,7 78,7 ± 2,4 81,5 ± 2,1
AP a* 1,0 ± 0,3 1,1 ± 0,3 1,2 ± 0,3 1,1 ± 0,3 1,1 ± 0,3
b* 7,9 ± 1,1 8,5 ± 1,1 8,7 ± 1,0 8,0 ± 0,8 7,8 ± 1,2
121
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
-1,0
-2,0
-3,0
-4,0
-5,0
-6,0
-7,0
122
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1,0
123
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
No que concerne ao parâmetro L*, todas as litologias apresentaram menores valores, sendo
que a maior diferença a assinalar (-6,8) se verificou no granito de Várzea de Abrunhais. Em
média, a diminuição de L* foi de 4. Quanto ao parâmetro a*, a amostra GVA voltou a evidenciar
a maior diferença, mas o granito de Valdigem também apresentou um ∆a* significativo – 0,5 –
quando comparado com as restantes amostras. A amostra GM registou a alteração positiva
menos evidente (0,2). Em média este parâmetro aumentou aproximadamente 0,3 nas rochas
estudadas. Relativamente ao parâmetro b*, registou-se um aumento nos granitos de Lamego,
Várzea de Abrunhais e Valdigem. Na amostra GM e no aplito este parâmetro diminuiu. As
diferenças assinaladas, à exceção da amostra GLA, são pouco expressivas, sendo mais
evidentes no granito de Várzea de Abrunhais (∆b* ≈ 0,8) e no aplito (∆b* ≈ -1,0).
Posto isto, pode dizer-se que no geral, com a exposição às condições ambientais, a
luminosidade das rochas em estudo diminuiu, embora de forma pouco considerável,
sucedendo-se uma alteração positiva do verde para o vermelho nas 5 litologias, bem como uma
alteração positiva do azul para o amarelo nos granitos de Lamego, Várzea de Abrunhais e
Valdigem. O aumento do parâmetro b* deve-se, na maioria dos casos, à presença de minerais
ricos em ferro (Torok & Hajpal, 2005). Para além dos fenómenos de oxidação há ainda a
considerar a ação dos raios ultravioleta e da sujidade, que contribuem mutuamente para o
escurecimento do material pétreo. Fort et al. (2000), realizaram um estudo na Catedral de
Nossa Senhora da Assunção (Valladolid, Espanha) que atestou o papel da sujidade (de origem
poluente) na alteração da cor.
Para todas as litologias foi ainda calculado o no final do ensaio. Essa estimativa foi feita
globalmente para cada litologia, bem como separadamente para cada uma das 5 faces
consideradas (figura 6.19). O valor de total varia entre 1,3 e 6,8. Para a mudança total da
cor ser percetível o terá que ser superior a 3 unidades CIELAB (Benavente et al., 2003;
Prieto et al., 2010), sendo que se trata de uma variação de cor significativa quando > 6
(Hardeberg, 1999). Desta forma, o granito de Lamego (GLS) foi o que revelou uma mudança de
cor menos expressiva ≈ 1,3). As mudanças de cor mais expressivas ocorreram na
amostra GVA, nomeadamente nas faces 1 e 5 ( ≈ 10,5 e ≈ 12,6, respectivamente).
124
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
∆E*ab 14,0
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
GLS GLA GVA GV GM AP
F1 F2 F3 F4 F5 Total
Em três das cinco rochas estudadas a face 5 foi a que manifestou valores de mais
elevados. Esta face, orientada para o nadir, encontrava-se mais próxima do solo e não exposta
à precipitação, como tal, é possível admitir que as mudanças de cor se devam à sujidade. Por
outro lado, tratando-se de uma face não exposta à insolação, a humidade fica retida por mais
tempo, o que poderá conduzir a um escurecimento das superfícies.
A rocha inicialmente mais porosa, e como tal, menos densa, foi o granito de Valdigem (tabela
6.6). O conteúdo em água de saturação varia entre 0,23 %, calculado para a amostra GLA, e
1,87 %, calculado para a amostra GV. Os resultados obtidos nesta caracterização são muito
semelhantes aos referidos no Capítulo V, tal como era esperado.
125
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
Após realização do ensaio, a porosidade aumentou em todas as rochas estudadas, exceto nas
amostras GLS e GM que apresentaram o mesmo valor (figura 6.20). A variação média desta
propriedade foi de 6 %. As variações na densidade e no Ws foram pouco expressivas (tabela
6.7).
4
P0 (%)
0
GLS GLA GVA GV GM AP
Rochas
Fig. 6.20: Porosidade aberta (P0) das rochas estudadas, calculada antes e após a
realização do ensaio de alteração da cor.
126
VI – ENSAIOS DE ALTERAÇÃO ARTIFICIAL
127
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
7.1 Introdução
O termo patologia deve ser utilizado para designar manifestações que prejudicam o
desempenho de um determinado edifício ao longo da sua vida útil (Chaves, 2009). Estas podem
ser congénitas, construtivas, adquiridas ou acidentais (Morais, 2007). Para o estudo em causa
importa sublinhar as patologias adquiridas, naturais e/ou antropogénicas (tabela 7.1), que
resultam, quer da exposição do monumento ao (micro)ambiente em que está inserido, quer de
possíveis intervenções de manutenção inadequadas.
Fitzner e Heinrichs (2002) apresentam uma classificação estandardizada das principais formas
de alteração, subdividida em 4 grupos:
129
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
- Precipitação
- Temperatura
Climáticas - Humidade
- Exposição solar
- Vento
Na fase de
- Má qualidade dos materiais
execução do
- Impreparação da mão-de-obra
Humanas projeto
Em cada um destes grupos de patologias, os autores fazem uma distinção pormenorizada das
diferentes tipologias de patologias, tendo em conta as suas características macroscópicas,
referindo ainda situações em que determinadas patologias evoluem para outras (muitas vezes
de maior intensidade). Esta classificação encontra-se também na Normal 1/88 (1990).
Mais recentemente, surgiu o Glossário Ilustrado ICOMOS-ISCS (2008) que está organizado em
5 categorias de patologias: fissuras, destacamento, perda de material, descoloração e
depósitos, e colonização biológica. Alves et al. (2002) mencionam que nem sempre os termos
utilizados pelos vários autores são sincrónicos, e nem sempre os significados desses termos
são claros e inequívocos.
130
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
O estudo das patologias presentes na Sé de Lamego iniciou-se pela sua cartografia. Na tabela
7.2 encontra-se sumariamente a classificação das tipologias de patologias que foi aplicada
neste estudo. Posteriormente, foram levadas a cabo várias diligências no sentido de tentar
compreender os mecanismos de causa-efeito do seu aparecimento.
Tab. 7.2: Tipologia de patologias aplicada na Sé de Lamego (adaptado de Normal 1/88, 1990; Alves et
al., 2002; Fitzner & Heinrichs, 2002; Moreno, 2000; ICOMOS-ISCS, 2008).
Formas de
Características macroscópicas Patologia
alteração
Alteração cromática
Alteração da cor natural da pedra.
Mancha
Depósitos finos de sujidade na superfície da pedra. Patina
131
*
132
* *
* *
* *
* * *
* * ** *
* ** *
****
* * * * *
* * ** * ** *
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
*
Fig. 7.1: Localização dos 37 pontos de amostragem/medição realizados na fachada principal (W) da Sé de Lamego (*Emplastro;
*Recolha de material desagregado; *Determinação da dureza de Schmidt).
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
De acordo com Viles et al. (1997), in Fitzner (2002), os danos causados pelo decaimento
podem ser classificados usando uma escala que se subdivide em quatro níveis: nanoescala,
microescala, mesosescala e macroescala (figura 7.2). Os parâmetros considerados permitem
avaliar o grau de deterioração das pedras.
Escala Parâmetros
Mesosescala
Danos visíveis Aparecimento de patologias
(cm a m)
Macroescala
Estabilidade do edifício e aparência
(toda a fachada ou
estética
edifício)
Fig. 7.2: Escala de deterioração das pedras de um monumento (adaptado de Fitzner, 2002).
133
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Tab. 7.3: Relação entre as cinco categorias de danos e a necessidade de serem estabelecidas medidas
de preservação (adaptado de Fitzner et al., 2002).
As diferentes tipologias de patologias podem ser representadas por cores, sendo recomendável
utilizar cores semelhantes para patologias com correlações genéticas e/ou analogias
morfológicas. Assim, selecionaram-se as cores amarelo, laranja e vermelho, para representar,
respetivamente, a desagregação granular fraca, intermédia e forte; o lilás para representar as
placas; e o azul para representar as fissuras. No caso do Grupo II de patologias
(descolorações/depósitos) optou-se pela seguinte coloração: o cinza claro para as alterações
cromáticas, o cinza escuro para as pátinas, o castanho para as crostas e o negro para os
filmes. Dado que algumas pedras se apresentavam completamente cobertas por depósitos de
pó (sobretudo nas alvenarias dos claustros), estes também foram representados com a cor
bege. A colonização biológica está mapeada com o mesmo tom de verde, independentemente
do tipo de organismo colonizador (tabela 7.4). Quando ocorrem várias patologias na mesma
134
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
pedra torna-se mais difícil a sua representação, utilizando-se uma linha na diagonal quando as
porções das patologias são semelhantes.
Descoloração/ Sujidade
depósitos Filmes negros
Crostas negras
Colonização biológica
O = nas estruturas e elementos ornamentais; P = nas paredes do edifício.
Siedel et al. (2011) referem que uma cartografia demasiado detalhada não melhora a
objetividade dos mapas cartográficos, uma vez que a utilização de um grande número de cores
e símbolos torna a visualização e interpretação da informação demasiado complexa. Por este
motivo, foram apenas representadas em cada silhar as patologias dominantes, num máximo de
3, no entanto, inúmeras pedras mostram sinais de estarem afetadas por mais do que 3
patologias distintas.
O mapeamento das patologias foi realizado nas mesmas áreas do monumento em que foi
efetuada a cartografia das litologias (figuras 7.3, 7.4, 7.5, 7.6, 7.7 e 7.8).
De seguida, apresenta-se uma descrição detalhada das patologias que afetam mais
significativamente o edifício da Sé de Lamego, com referência à sua localização preferencial.
135
.
136
1,75 m
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Pátina Crosta negra Desagregação granular fraca Desagregação granular forte Placa
Fig. 7.3: Cartografia das patologias presentes na fachada principal (W) da Sé de Lamego.
137
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Placa
Fig. 7.4: Cartografia das patologias presentes nos portais da fachada principal (W)
da Sé de Lamego.
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
138
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
2,00 m
Alteração cromática Depósito
139
140
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
1,00 m 1,45 m
Alteração cromática Filme negro Desagregação granular fraca Desagregação granular forte
Fig. 7.7: Cartografia das patologias presentes na fachada oeste dos claustros da Sé de Lamego.
141
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
0,95 m
0,80 m
Alteração cromática Depósito Crosta negra Alteração cromática Desagregação granular fraca
Depósito Placa
Fig. 7.8: Cartografia das patologias presentes na fachada norte dos
claustros da Sé de Lamego. Crosta negra Argamassa
A variação num dos parâmetros de definição da cor é designada alteração cromática (ICOMOS-
ISCS, 2008). Pode referir-se a uma zona ampla ou localizada, neste caso é preferível utilizar a
terminologia “mancha” (Normal 1/88, 1990).
A presença desta patologia provoca mudanças na cor das pedras, que na maioria dos casos,
parecem ser irreversíveis, como tal o seu estudo merece ser ponderado.
Para quem visita este templo pela primeira vez, e o observa no seu conjunto, esta patologia
será a primeira a provocar um forte impacto visual. Matias e Alves (2001) também consideram
que este tipo de patologia afeta grandemente o valor estético de monumentos em Braga.
142
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a)
b)
c) d)
Fig. 7.11: Alterações cromáticas, fruto de reações de oxidação, em pedras
dos claustros da Sé de Lamego: a), b) e d) fachada oeste; c) fachada norte.
143
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
7.2.2 Pátinas
Considera-se pátina um revestimento fino da superfície da pedra de origem diversa (Alves et al.,
2002; Alemany, 2007). É uma alteração que se restringe à superfície do material, percetível
inicialmente como se de uma alteração cromática se tratasse (Normal 1/88, 1990). O termo
pátina é muito ambíguo, e não reúne consenso na comunidade científica internacional,
abrangendo conceitos como crosta, filme, biofilme, depósito superficial (Oliveira, 2008; Sanjurjo-
Sánchez et al., 2011, 2012) e alteração cromática resultante do envelhecimento natural ou
artificial da pedra (ICOMOS-ISCS, 2008).
144
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Nas reentrâncias destes arcos pode observar-se também sujidade, pó, restos de solo e dejetos
de pombos (figura 7.15), cuja presença é um claro ultraje à beleza manuelina do edifício.
145
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
a) b)
c)
146
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
Fig. 7.15: Pátinas na fachada oeste da Sé de Lamego: a) sujidade e depósito - pó; b)
depósito – restos de solo; c) e d) depósito – dejetos. Em todas as figuras observam-se
pormenores arquitetónicos afetados por desagregação granular, registando-se perda
de material.
Fitzner & Heinrichs (2002) não consideram esta patologia na sua classificação, no entanto, a
identificação e caracterização de filmes negros surge nos trabalhos de Begonha (2001, 2011),
Machado (2006), Oliveira (2008), Almeida (2009), Sequeira Braga e Begonha (2010) e Sanjurjo-
Sánchez et al. (2012), bem como no ICOMOS-ISCS (2008). Na Normal 1/88 (1990) também
não surge a designação filme negro, mas sim a designação “película”, caracterizada como
sendo um cobrimento superficial homogéneo, de espessura muito reduzida, constituído por
substâncias distintas do substrato.
147
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Para Begonha (2001), Almeida (2009) e Oliveira et al. (2009), os filmes negros são formações
superficiais muito finas, de cor negra ou castanha muito escura, que recobrem e aderem
fortemente à superfície dos silhares, mantendo a rugosidade superficial do material pétreo. De
salvaguardar, que a presença desta patologia não impede o destacamento e queda das placas.
A sua fina espessura e forte aderência tornam muito difícil a sua remoção, prova disso são os
filmes negros observados na fachada principal da Sé Catedral de Vila Real (Machado, 2006),
cuja inestética presença é bem evidente, mesmo depois da intervenção levada a cabo pelo
Instituto Português do Património Arquitetónico, em 2004, no edifício. No estudo conduzido por
Oliveira (2008), na Igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco (Porto) foi impossível
separar e individualizar da rocha granítica amostras desta patologia.
A génese deste tipo de decaimento está associada a zonas expostas, mas não sujeitas a
ventos chuvosos ou episódios de escorrência, a zonas expostas diretamente à chuva, e a
zonas de cota inferior, expostas a salpicos de chuva a partir do solo (Begonha, 2001).
Na base da sua formação dos filmes negros estarão os poluentes atmosféricos, o gesso
(Begonha, 2001; Oliveira, 2008; Oliveira et al., 2009), e os microrganismos colonizadores
(Oliveira, 2008; Oliveira et al., 2009), o que explica a sua cor negra. Oliveira (2008) refere que a
cor escura dos filmes provém do contributo conjunto de cinzas volantes e fungos, encontrando-
se o material exógeno ao material pétreo cimentado por uma matriz amorfa de composição
aluminossilicatada, de origem biogeoquímica.
No monumento em estudo esta patologia surge maioritariamente nos claustros, e afeta diversos
silhares (figura 7.16). Trata-se de zonas de cota acima de 1,5 metros, sombrias e não expostas
diretamente à chuva, associadas à presença de pátinas, placas e, mais raras vezes,
eflorescências. Aliás, estas últimas apenas surgem no monumento nos dois pontos assinaladas
na figura 7.17. Os filmes negros são baços, homogéneos, duros e muito aderentes.
Na fachada oeste foram assinaladas somente duas pedras afetadas por esta patologia (figura
7.18).
De assinalar por fim, que a grande maioria das pedras que apresentam filmes negros são de
granito da Várzea de Abrunhais.
148
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
F F F
A
F
C
A
C
F F
E
F
E
C
D P
C
149
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
As crostas negras são depósitos com espessura inferior a 2 mm que cobrem a superfície das
pedras (Almeida, 2009). A sua composição e morfologia é distinta do material pétreo onde se
desenvolvem (Normal 1/88, 1990), e geralmente, não acompanham a rugosidade superficial
das pedras (Begonha, 2001).
A sua cor escura varia do negro, ao cinza, podendo surgir ainda em tons acastanhados, em
função da sua génese (Fitzner & Heinrichs, 2002; Sanjurjo-Sánchez et al., 2009, 2011, 2012). É
também possível encontrar crostas de cor clara (ICOMOS-ISCS, 2008). A presença destas foi
observada por Aires-Barros e Dionísio (2002), na Sé de Lisboa, por Moutinho da Silva (2005) na
Igreja de Santa Clara do Mosteiro de Leça do Balio, e por Machado (2006), na Sé Catedral de
Vila Real.
Segundo Aires-Barros (2001) a origem desta patologia está associada à poluição atmosférica,
sendo que Fitzner e Heinrichs (2002) sugerem ainda como causa processos de precipitação de
minerais de sais solúveis, ferro, manganês, entre outros. No ICOMOS-ISCS (2008) e em Alves
e Sanjurjo-Sánchez (2011) também é referido que a composição deste tipo de patologia
150
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
consiste em partículas da atmosfera aprisionadas numa matriz de gesso. Quanto mais porosa
for a rocha, mais esta matriz se poderá desenvolver, o que culminará numa maior extensão de
crostas negras no edifício (Mérillou et al., 2010), por sua vez, quanto maior for a quantidade de
gesso e partículas poluentes, maior é a consistência das crostas (Camuffo, 1995; Slezakova et
al., 2011).
No ICOMOS-ISCS (2008) é feita a distinção entre crosta negra e “incrustação”, sendo que esta
última é uma crosta muito aderente resultante da infiltração de água.
No caso da Sé de Lamego as crostas apresentam cor negra, cinza e acastanhada (figura 7.19).
São duras e compactas, mas o seu grau de aderência é variável. Verifica-se frequentemente
perda de material paralelo à superfície devido ao seu destacamento (figuras 7.17, 7.20 e 7.21).
As zonas destacadas apresentam sinais de desagregação granular.
A sua espessura é em média 2 mm, sendo que nas crostas mais espessas se verifica que nem
sempre acompanham a rugosidade superficial do substrato. Begonha (2001) assinalou a
presença de crostas negras com 1 a 2 mm de espessura (podendo estas atingir os 5 mm), já
Moutinho da Silva (2005) assinala espessuras que não ultrapassam os 0,5 mm. As crostas
amostradas no Mosteiro da Serra do Pilar exibiam espessura entre os 3 e os 7 mm (Slezakova
et al., 2011), e as crostas observadas na Igreja da Lapa (Porto) possuem espessura entre os 2
e os 7 mm (Begonha, 2011).
151
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a)
b) c)
Fig. 7.19: Crostas na fachada oeste da Sé de Lamego: a) negras; b) cinza; e c)
castanhas. Em a) observa-se o arredondamento das arestas provocado pela
desagregação granular.
a) b)
152
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
Fig. 7.21: Crostas com sinais de destacamento nos claustros da Sé de Lamego (a e b).
A colonização biológica deve-se à presença de organismos na superfície das pedras (Fitzner &
Heinrichs, 2002). A existência de zonas com intensa ocupação biológica ladeadas por outras
zonas sem colonização denuncia a ocorrência de condições microclimáticas mais ou menos
favoráveis ao seu desenvolvimento (Delgado Rodrigues & Costa, 2002). Na proliferação
seletiva é necessário ainda considerar as variações da composição química e mineralógica, e
da textura da pedra (Ríos et al., 2004).
Esta é uma das patologias mais expressivas da fachada principal da Sé de Lamego bem como
das pedras situadas mais próximo do pavimento (0,5 m) na fachada norte (figuras 7.12 e 7.22).
Aliás, Sáiz-Jimenez (1997) refere que a presença de organismos fotoautotróficos é mais comum
nas fachadas norte dos edifícios.
Caracteriza-se pela presença de vários organismos, como líquenes (figura 7.23), musgos (figura
7.24a) e plantas superiores (figuras 7.24b e 7.24c), que se distribuem em função das condições
de humidade e insolação. Essa distribuição atinge inclusive, no caso da fachada oeste, o topo
do edifício.
153
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
No caso dos líquenes, encontram-se variedades incrustantes (que apresentam um elevado grau
de aderência à superfície dos silhares) e variedades folhosas. As cores variam do cinza ao
verde, existindo ainda organismos com coloração amarelada e alaranjada. O seu
desenvolvimento atinge zonas expostas, como as alvenarias da torre (figura 7.25), e
pormenores arquitetónicos.
As plantas e os musgos desenvolvem-se nas áreas mais húmidas e/ou sombrias, como fissuras
e juntas abertas, onde a escorrência e a permanência de água são maiores. As pedras abaixo
dos frisos das janelas também são locais preferenciais de propagação. Esta predominância
também foi observada por Begonha (2001), Leite (2008), Cardoso (2008) e Almeida (2009).
154
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
a) b)
Fig. 7.24: Colonização biológica na fachada oeste da Sé de Lamego: a) musgos; b)
plantas superiores.
155
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Segundo Begonha (2001, 2009) esta patologia resulta da ação da cristalização de minerais de
sais solúveis, sobretudo halite, mas também gesso, calcite e niter, no interior das pedras ou
próximo da superfície. Estes sais são responsáveis pela génese de tensões que provocam a
desagregação do material pétreo. A exposição a sul tende a aumentar o número de vezes que
o sal precipita (Delgado Rodrigues & Costa, 2002). A principal consequência deste processo é a
desintegração da rocha em pequenos fragmentos, seguida de queda de material (grãos ou pó)
(Normal 1/88, 1990; Aires-Barros, 2001; Alves et al., 2002; Fitzner & Heinrichs, 2002; Benzzi et
al., 2006).
156
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
acompanhado pela perda de pormenor de cantarias e esculturas (figura 7.15), e/ou em casos
mais severos, do desaparecimento de elementos arquitetónicos.
Geralmente o decaimento inicia-se à superfície, mas pode ocorrer em profundidade - esta varia
com o tipo de rocha (ICOMOS-ISCS, 2008). Aparece associada às seguintes áreas:
- Zonas húmidas localizadas nas áreas mais baixas, submetidas à ascensão capilar de
soluções salinas; (Begonha, 2008; Cardoso, 2008; Leite, 2008; Begonha, 2009; Lobo &
Almeida, 2010)
- Zonas expostas, sobretudo orientadas para ventos chuvosos (Begonha, 2008; Cardoso, 2008;
Leite, 2008; Begonha, 2009; Lodo & Almeida, 2010)
- Zonas sob cornijas, adjacente a juntas abertas (sem argamassa) onde há circulação de água
(Begonha, 2008; Leite, 2008; Begonha, 2009; Lodo & Almeida, 2010)
Pode ser classificada da seguinte forma: desagregação granular de intensidade fraca, com
perda de material muito pequena ou nula; desagregação granular de intensidade intermédia; e
desagregação granular de intensidade forte, com perda de material facilmente percetível ao
toque. Neste último caso é comum usar-se o termo arenização.
Por culpa desta patologia são já muitos os pormenores que desapareceram por completo
(figura 7.29a). A perda significativa de material pétreo que se verifica atualmente permite afirmar
que a extensão das áreas afetadas tende a aumentar. Na figura 7.29b, é possível observar
pedras que se encontram num estado de transição entre esta patologia e o desenvolvimento de
placas.
157
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
Fig. 7.27: Desagregação granular forte a afetar pedras da soleira da
porta de acesso aos claustros (a) e no portal norte da fachada oeste
(b) da Sé de Lamego.
158
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
Fig. 7.29: Perda de pormenor (a) e escamas (b) nas pedras do portal
norte da fachada oeste da Sé de Lamego.
a) b)
Fig. 7.30: a) Porta sul do altar-mor da Sé de Lamego; b) pedras
afetadas por desagregação granular forte (arenização).
159
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
7.2.7 Placas
As placas são formações pouco espessas que se caracterizam por acompanhar a superfície
exterior das pedras, sendo delimitadas por duas superfícies paralelas (Begonha, 2001; Fitzner
& Heinrichs, 2002). A sua espessura varia de milímetros a centímetros (ICOMOS-ISCS, 2008).
Resultam da cristalização de minerais de sais solúveis no interior das pedras num plano
paralelo à superfície. Hermo et al. (2010) atestam a relação direta entre a formação de placas
(plaquetas e escamas) e a presença de sulfato de cálcio.
No final da sua evolução, após se destacarem progressivamente da pedra, acabam por cair,
deixando uma chaga perfeitamente reconhecível. A face interior da placa que se destaca
apresenta aspetos de desagregação granular (Begonha, 2001). Apesar de na maioria dos
casos terem forma planar, no caso das colunas exibem formas cilíndricas ou troncocónicas.
Surgem, normalmente, no primeiro metro acima da superfície (Tomasic et al., 2011), em zonas
húmidas, não lixiviadas, submetidas a ascensão capilar de soluções salinas, normalmente
abaixo das pedras intensamente afetadas por desagregação granular (Begonha, 2001;
Cardoso, 2008; Leite, 2008).
160
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Morfologicamente pode dizer-se que são pouco duras e compactas, e é comum apresentarem a
face exterior coberta por pátinas. Este fenómeno também foi registado por Machado (2006) e
por Benzzi et al. (2006). Nos claustros encontram-se as placas de maior espessura e extensão,
quase na sua totalidade cobertas por crostas, filmes e pátinas, localizadas em zonas húmidas e
sombrias (figuras 7.32 e 7.33).
D
D
a) b)
Fig. 7.31: Placas a afetar o portal sul da Sé de Lamego. A análise comparativa de a) e
b) permite verificar que esta patologia é mais intensa no lado direito (sul), registando-
se situações de desagregação granular forte (D)
a) b)
Fig. 7.32: a) Placa a afetar quase a totalidade da pedra; b) Placa com mais do
que uma geração. Os dois silhares encontram-se afetados por crostas.
161
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
P
F
P
a) b)
Fig. 7.33: Placas nos claustros da Sé de Lamego cobertas por pátinas, filmes e crostas (a e
b). Nas duas situações regista-se a presença de filmes negros (F) e pátinas (P).
7.2.8 Fissuras/fraturas
Podem atravessar completamente todo o silhar, ou apresentar dimensões inferiores a 0,1 mm.
Por vezes estão associadas a planos de fraqueza, nomeadamente a planos de clivagem
(ICOMOS-ISCS, 2008).
As suas causas podem ser antropogénicas, quando produzidas durante a extração e talha e
derivadas dos esforços mecânicos das estruturas do edifício, ou inerentes à própria rocha
(Fitzner & Heinrichs, 2002; Alemany, 2007). No ICOMOS-ISCS (2008) são ainda referidas como
causas as vibrações sísmicas e o fogo.
Na Sé de Lamego encontram-se várias pedras alteradas por esta patologia (figura 7.34). As
fraturas surgem em cotas muito distintas (entre os 0,3 e os 4 m), iniciando-se sempre pelas
arestas dos silhares. Nalgumas situações atravessam completamente o silhar.
162
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
Fig. 7.34: Fraturas presentes na fachada oeste da Sé de Lamego (a, b, c e d). Em b) a
pedra apresenta ainda áreas afetadas por pátinas (P) e crostas (C), em c) a perda de
material ocorre também devido à desagregação granular (D), e em d) a alvenaria
encontra-se intensamente colonizada por líquenes.
Na generalidade, todas as paredes de qualquer edifício possuem sais, que podem surgir à
superfície das pedras, sob a forma de eflorescências, formar agregados invisíveis, em zonas
abaixo da superfície (subeflorescências), ou encontrar-se dissolvidos em solução (Arnold &
Zehnder, 1987; Nappi & Lalane, 2010; Tomasic et al., 2011), cristalizando no seu interior. A
cristalização de sais é por isso responsável pelo aparecimento de várias patologias, como a
desagregação granular, a arenização, as placas, as crostas e os filmes negros. O aparecimento
de patologias associadas à cristalização de sais, a sua tipologia, intensidade e consequências,
dependem de vários fatores, nomeadamente da pressão de cristalização, da distribuição
dimensional do sal, e das condições de controlo do balanço hídrico (Alves et al., 2003).
163
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
M+ + A- MA
[M+] x [A-] = K
onde:
M corresponde ao catião;
A corresponde ao anião;
Assim, a sobressaturação ocorre quando [M+] x [A-] = IAP (produto da atividade iónica), sendo
IAP K.
164
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Cristalização espontânea
Concentração
Cristalização impossível
Temperatura
Fig 7.35: Cristalização a partir de uma solução em
função da concentração e temperatura (adaptado de
Bland & Rolls, 1998).
Cada fase salina é caracterizada por um valor de equilíbrio da humidade relativa (tabela 7.5), no
entanto, como uma solução raramente possui apenas um sal, o equilíbrio da humidade relativa
para esse sal em solução é meramente um indicador das condições em que esse sal poderá
cristalizar. Um dos sais mais sensíveis à presença de outros sais é o gesso, cuja solubilidade
aumenta consideravelmente em soluções contendo cloretos e nitratos, de sódio, potássio e
magnésio (Charola et al., 2007). Estes autores apresentam um estudo muito completo acerca
da meteorização induzida pela cristalização de gesso e suas diferentes fases.
165
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Tab. 7.5: Equilíbrio da humidade relativa de alguns sais (%) (adaptado de Arnold & Zehnder, 1987).
Sal 0 ºC 5 ºC 15 ºC 25 ºC 30 ºC
Muito solúvel/
Muito higroscópico Cloreto de cálcio hidratado
41 37,7 28,6 22,4
CaCl2 . 6H2O
Carbonato de potássio hidratado
43,1 43,1 43,2 43,2 43,2
K2CO3 . 2H2O
Nitrato de cálcio hidratado
59 59,6 54 50,5 46,8
Ca(NO3)2 . 4H2O
Halite
75,5 75,7 75,6 75,3 75,1
NaCl
Epsomite
88,3 88
MgSO4 . 7H2O
Natron
96,5 88,2 83,2
Na2CO3 . 10H2O
Pouco solúvel/ Niter
Pouco higroscópico 96,3 96,3 95,4 93,6 92,3
KNO3
Genericamente, pode dizer-se que quando a humidade relativa do ar é mais baixa do que a
humidade relativa de equilíbrio de uma solução saturada de um sal, esse sal precipita, por outro
lado, o aumento da humidade relativa do ar conduz à dissolução de sais já cristalizados por
absorção higroscópica (Arnold & Zehnder, 1987; Aires-Barros, 2005).
Assim, quando o sal cristaliza por reação higroscópica com a humidade do ar, aplica-se a
equação (Arnold & Zehnder, 1987):
PH 2Os
100 RH eq
PH 2Ow
onde:
166
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
A cristalização de sais transportados por ascensão capilar nas paredes de um edifício respeita,
normalmente, uma sequência estabelecida por Arnold (1982), citado por Arnold e Zehnder
(1987), composta por 4 zonas: a Zona A, situada mesmo acima do nível do solo, onde se
encontram os sais menos solúveis, como o gesso, e que apresenta níveis de deterioração
menos significativos; a Zona B (localizada acima da Zona A) onde surgem patologias devido à
presença de sais menos solúveis (sulfatos e carbonatos) como o niter e a epsomite; a Zona C
(localizada acima da Zona B) caracterizada pela presença de cloretos e nitratos,
nomeadamente a halite e o nitrato de sódio; e a Zona D (localizada acima da Zona C), não
afetada por este fenómeno. Assim, quanto maior for a solubilidade do sal, maior distância este
irá percorrer sendo transportado em solução desde a sua fonte (Moreno et al., 2006). Esta
distribuição depende da mistura de sais presente na alvenaria e da sua origem (Charola, 2000).
Análises realizadas ao extrato aquoso de amostras de perfis verticais permitiram concluir que os
sais se acumulam preferencialmente na zona entre os 0,5 metros e os 1,5/3 metros acima do
solo, o que corresponde à Zona C (Young, 2008). O autor também refere que a evaporação
começa a partir dos 0,5 metros porque o ar próximo do chão é mais húmido e desloca-se muito
lentamente. Nem sempre a maior acumulação de sais na Zona C se traduz em maiores danos,
dado que para tal necessário que se coadunem as condições necessárias que conduzam à sua
precipitação.
167
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Num total de 25 amostras de sais, foram recolhidas pela técnica do emplastro sete amostras
nos claustros, duas amostras na fachada norte, treze amostras na fachada principal (W) - dez
das quais nos portais e uma na torre, e duas amostras no interior do edifício (tabela 7.6).
Relativamente às litologias, foram recolhidas dez amostras em pedras de granito de Várzea de
Abrunhais, onze amostras em pedras de granito de Valdigem, duas amostras em pedras de
granito das Meadas e uma amostra em granito de Lamego. Foram abrangidas todas as
patologias referidas em 7.2. A amostra La8 (figura 7.36) ficou danificada, como tal não foi
analisada.
2. Aderir, um a um, lenços de papel, molhando-os repetidas vezes para garantir uma
melhor adesão;
168
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Tab. 7.6: Amostras de sais recolhidas na Sé de Lamego, sua localização, cota acima do pavimento,
litologia e patologia.
Cota acima
do
Amostra Local/Orientação Litologia Patologias
pavimento
(m)
La1 Fachada N 0,50 GVA Colonização biológica
GVA’ = Granito da Várzea de Abrunhais de grão fino; GM’ = Granito das Meadas porfiróide.
169
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Tab. 7.6: Amostras de sais recolhidas na Sé de Lamego, sua localização, cota acima do pavimento,
litologia e patologia.
Cota acima
do
Amostra Local/Orientação Litologia Patologias
pavimento
(m)
La22 Fachada W/ Portal S 1,90 GV Placa
A análise química do extrato aquoso dos lenços de papel dos emplastros realizou-se no
Laboratório de Química Analítica do Departamento de Química da UTAD. Na tabela 7.7
encontram-se os teores de sais mais significativos obtidos. Os resultados da amostra designada
por Branco referem-se à análise realizada à água destilada utilizada para embeber um lenço de
papel limpo.
A amostra La7 foi aquela que revelou os teores de sais mais elevados, bem como o valor mais
elevado de condutividade (7910 µS/cm, a 20 °C), seguida das amostras La16int. e La2 (tabela
7.7). No geral, as amostras dos sais colhidas nos claustros – La2, La3, La4 e La7, exibem maior
quantidade e diversidade de sais (figura 3.37), o que reflete a multiplicidade de patologias que
várias pedras das suas alvenarias apresentam. A ocorrência de maiores quantidades de sais
em zonas mais abrigadas também foi observada por Moreno et al. (2003).
Os sais solúveis predominantes no edifício são os cloretos e os nitratos (figura 3.38), de cálcio,
sódio e potássio (figura 3.39), e mais raros os sulfatos (figura 3.38). Estes sais encontram-se
nas soluções que ascendem por capilaridade, a partir do solo, sendo a sua frequência mais
comum a cotas entre os 0,5 e os 1,5 metros. Os ciclos de migração destas soluções e secagem
das pedras, como já foi supramencionado, são responsáveis pelo desenvolvimento de formas
de deterioração, como a desagregação granular e as placas.
A estatística sumária do estrato aquoso (figura 3.40) denota que os iões K+ e PO43- são os que
apresentam maior amplitude de valores. As maiores medianas foram obtidas para o Ca 2+ e para
o PO43-. Os iões Mg2+ e SO42- evidenciam um intervalo interquartílico bastante estreito. No caso
do SO42- tal deve-se à elevada percentagem de teores nulos (0,0 mg/L).
170
Tab. 7.7: Teores de sais solúveis (mg/L) no extrato solúvel de algumas das amostras estudadas.
Fachada Fachada W
Localização/ Claustro Altar-mor
Branco N Portal N Portal central Portal S Torre
Amostras
La2 La3 La4 La7 La10 La14 La16 La18 La19 La20 La21 La23 La16int La17
Clˉ (mg/L) s.a. 31,2 21,4 236,0 490,0 58,7 181,7 5,1 37,3 83,6 31,4 24,5 30,3 559,6 72,7
NO3- (mg/L) s.a. 50,4 20,2 1423,4 2533,5 0,6 0,8 0,2 3,5 74,7 0,0 0,5 0,8 1610,3 27,9
SO42- (mg/L) s.a. 5,3 437,8 0,0 93,9 0,0 0,04 0,11 0,0 0,0 12,5 0,0 0,0 0,0 8,3
PO43- (mg/L) s.a. 3385,3 913,4 393,0 230,3 152,3 92,5 31,6 11,1 49,5 38,8 63,4 11,5 812,9 15,2
171
Ca2+ (mg/L) 46,3 117,1 188,2 585,5 805,6 64,0 116,6 108 25,4 105,6 49,6 3,9 29,8 204,7 19,4
Mg2+ (mg/L) 2,6 8,7 4,3 71,5 19,4 4,7 3,2 6,7 2,9 7,1 3,6 0,4 2,9 6,7 3,2
Parâmetros
+
K (mg/L) 10,0 288,5 134,6 286,7 270,7 14,6 11,4 0,5 19,9 55,6 25,6 6,7 10,5 282,7 34,6
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Na+ (mg/L) 61,5 46,4 35,6 129,4 537,8 78,2 32,1 5,3 40,2 83,9 39,4 31,5 21,3 649,9 163,2
Condutividade
s.a. 1091 1138 4630 7910 662 487 11,9 378 372 499 195 s.a. 5480 1186
(μS/cm, a 20ºC)
s.a. = sem amostra
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
172
Percentagem de iões (%)
20%
10%
0%
La2 La3 La4 La7 La10 La14 La16 La18 La19 La20 La21 La23 La16int La17
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Amostras
Fig. 7.37: Gráfico da percentagem de iões (%) obtida no extrato solúvel de algumas das amostras estudadas.
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
173
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
Cl NO3 SO4 PO4 Ca Mg K Na
O gesso poderá ter origem na sulfatação das plagioclases, nas argamassas, em antigos
revestimentos, na poluição atmosférica, na atividade dos seres vivos (Hermo et al., 2010), ou na
água da chuva (Sousa e Begonha, 2011; Slezakova et al., 2011).
Nas amostras La7 e La16int. destacam-se os elevados teores de nitrato - 2533,5 mg/L e 1610,3
mg/L, respetivamente, cálcio e potássio, que poderão corresponder à presença de niter (KNO 3)
e soda niter (NaNO3). Uma vez que as cotas a que foram colhidas estas amostras se situam
entre os 0,5 e os 0,85 metros, é de admitir que estes sais ascendem do solo devido à
decomposição de matéria orgânica.
174
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
No portal norte registou-se a presença de teores mais elevados de halite na amostra La14 do
que na amostra La16, colhidas em silhares homólogos, estando o primeiro afetado por
desagregação granular fraca e o segundo por desagregação granular forte. Estes resultados
poderão advir, quer das diferentes condições de exposição solar e ao vento, quer da mistura de
sais resultante da presença no portal de outras patologias.
Uma atenta comparação entre os teores de sais obtidos nas amostras La16int. e La17, colhidas
nas ombreiras simétricas das portas do altar-mor da Sé de Lamego (porta sul e porta norte,
respetivamente), a 0,85 metros de altura, permite verificar que os teores de cloretos, fosfatos e
nitratos são muito superiores na amostra La16int., correspondente a uma pedra afetada por
desagregação granular forte. Os valores de cálcio e sódio são respetivamente, cerca de dez e
quatro vezes, superiores.
175
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Tab. 7.8: Amostras de material desagregado recolhido na Sé de Lamego, sua localização, cota
acima do pavimento, litologia e patologia.
Cota acima do
Amostra Local/Orientação Litologia Patologias
pavimento (m)
Desagregação granular forte e
Pó LA1 Fachada N 1,70 GVA
escamas
Pó LA2 Claustro/Fachada N 1,30 GVA Filme negro e alteração cromática
Tab 7.9: Composição do material desagregado, observado por MEV, amostrado na Sé de Lamego.
Patologia Composição
Desagregação granular Halite + gesso + apatite
Placas Gesso + calcite + caulinite + apatite
Filmes Negros Gesso
Crostas Negras Gesso + cinzas volantes esféricas lisas + calcite
Pátina Cinza volante esférica porosa
176
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Tab. 7.10: Composição do material desagregado observado ao MEV por diferentes autores, em
patologias de monumentos graníticos.
177
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Face a estes resultados é possível constatar que o modelo de zonamento em altura proposto
por Arnold e Zehnder (1987) não se verifica. A ausência deste zonamento foi igualmente
registada nos estudos de Begonha (2001), Moutinho da Silva (2005), Cardoso (2008) e Leite
(2008).
Na amostra Pó La25, colhida numa pedra afetada por desagregação granular fraca (homóloga
às amostras Pó La9 e Pó La23), não foi registada a presença de qualquer tipo de mineral de sal
solúvel.
No que diz respeito às amostras de placas, o gesso foi o mineral de sal solúvel observado, tal
como tinha sido referido no ponto 7.3.1, o que certifica a sua responsabilidade na formação
desta patologia. Foi ainda registada a presença de um fosfato de alumínio e cálcio, cuja
composição química exata não foi possível determinar (figura 7.41).
Fig. 7.41: a) Minerais de sais solúveis de fosfato de alumínio e cálcio (F); b) Espectro de F.
178
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Quanto às pedras afetadas por crostas, registou-se a presença de gesso e de cinzas volantes
esféricas de superfície lisa, ricas em silício e alumínio, com quantidades variáveis de Ca, K e
Mg (figura 7.42). O gesso também foi identificado nesta patologia por Aires-Barros (2001),
Begonha (2001; 2009; 2011), Esbert et al. (2001), Aires-Barros e Dionísio (2002), Begonha e
Almeida (2003), Prikryl et al. (2004), Baptista-Neto et al. (2006), Oliveira (2008), Almeida (2009),
Slezakova et al. (2011) e Sykorová et al. (2011), o que reforça a possível origem deste sal na
poluição atmosférica.
a) b)
d)
c)
Fig. 7.42: a, b e c) Cinzas volantes esféricas de superfície lisa, ricas em silício e alumínio, com
quantidades variáveis de Ca, K e Mg; d) Espectro das cinzas volantes esféricas de superfície
lisa.
179
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Foi ainda observada calcite em três amostras de crostas – Pó La12, Pó La15 e Pó La22. A
amostra La22 foi recolhida no mesmo local que a amostra Pó La12 (figura 7.1) sendo que a
análise do seu estrato aquoso revelou elevados teores de cálcio, fortalecendo assim a
possibilidade de formação deste mineral. A calcite exibe-se como agregados de cristais
subédricos (figura 7.43a e 7.343b), por vezes com figuras de dissolução (figura 7.42c).
a)
b)
d)
c)
A amostra Pó La2, colhida num filme negro, e a amostra Pó La3, colhida numa pedra afetada
por alteração cromática e fissuras, também continham gesso. Foram observadas cinzas
volantes esféricas porosas, ricas em carbono e enxofre, na amostra Pó La13, obtida a partir de
uma pátina do portal norte (figura 7.44). Magalhães (2000) também registou a presença de
cinzas volantes esféricas, lisas e porosas, em pátinas biológicas do Edifício do Largo do Paço.
180
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
Fig. 7.44: a) Cinza volante esférica porosa, rica em carbono e enxofre; b) Espectro da cinza
volante esférica porosa.
O gesso surge sob a forma de cristais isolados (figura 7.45a e 7.45b), de cristais agregados
subeuédricos a anédricos (figura 7.45c e 7.45d), de cristais lamelares (figura 7.45e e 7.45f), de
cristais tabulares em forma de ponta de lança (figura 7.45a e 7.45b), de cristais mais ou menos
isométricos (figura 7.46c e 7.46d) e no seio de folhas de moscovite (figura 7.46e).
A halite aparece sob a forma de cristais cúbicos perfeitos (figura 7.47a), ou com bordos
arredondados (figura 7.47b e 7.47c), de agregados de cristais com figuras de dissolução (figura
7.46d, 7.46e e 7.46f), e sob a forma de cristais subeuédricos (figura 7.48a). A ocorrência em
minerais de hábitos cristalinos distintos dos hábitos cristalinos atribuídos a esses minerais pela
cristalografia clássica, resulta da sua transformação ao longo do processo de envelhecimento
(Arnold & Zehnder, 1987).
181
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
e) f)
182
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
f)
e)
Fig. 7.46: Gesso: a e b) cristais tabulares em forma de ponta de lança; c e d) cristais lamelares
de bordos arredondados, com hábito pseudohexagonal, no seio de folhas de moscovite; e)
cristais mais ou menos isométricos; f) espectro do gesso.
183
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
b)
a)
c)
d)
e) f)
Fig. 7.47: Halite: a) cristal cúbico perfeito; b e c) cristal cúbico com os bordos
arredondados; d, e e f) agregados de halite com figuras de dissolução.
184
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
b)
a)
b)
a)
c) d)
Fig. 7.49: a) Figuras de dissolução na albite; b) fissuras preenchidas por óxidos no feldspato
potássico; c) espectro da albite; d) espectro do feldspato potássico.
185
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c)
d)
Fig. 7.50: Folhetos esfoliados de micas preenchidos por minerais de sais solúveis e
vestígios biológicos (a, b, c e d).
a) b)
186
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
b)
a)
Fig. 7.52: a) Apatite fissurada, observada numa amostra de desagregação granular forte de
granito de Várzea de Abrunhais; b) espectro da apatite.
Para além da observação de minerais e sais, foram obtidas imagens de vestígios biológicos na
maioria das amostras, distinguindo-se a presença de bactérias, algas, fungos, pólen (figura
7.53) e microfauna (figura 7.54). Estes agentes biológicos foram observados em todas as
patologias em estudo e cobrem, frequentemente, total ou parcialmente os minerais constituintes
dos granitos e os minerais de sais solúveis. Imagens de vestígios biológicos também foram
obtidas por MEV por Magalhães (2000), Moutinho da Silva (2005), Cardoso (2008), Leite (2008)
e Begonha (2009).
187
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
e) f)
188
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
e) f)
189
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
O martelo de Schmidt é uma das ferramentas não-destrutivas, portáteis, mais usadas em testes
para atestar a resistência de rochas. Estes testes podem ser executados em laboratório ou no
campo, implicam custos pouco significativos, sendo bastante fácil o manuseamento do aparelho
(Yilmaz & Sendir, 2002; Basu & Aydin, 2004; Torabi et al., 2010; Siedel et al., 2011).
Esta técnica tem um alcance de aplicações muito variado, podendo ser dirigida para determinar
a força compressiva uniaxial (Katz et al., 2000; Yilmaz & Sendir, 2002; Kiliç & Teymen, 2008;
Ozkan & Bilim, 2008; Gupta, 2009; Yagiz, 2009; Torabi et al., 2010), para calcular o Módulo de
Young (Katz et al., 2000; Yilmaz & Sendir, 2002; Gupta, 2009; Yagiz, 2009), para estimar a
alteração do material pétreo (Ericson, 2004; Aydin & Basu, 2005; Vasconcelos, 2005; Kiliç,
2006), para inferir relativamente ao número e densidade de fissuras e/ou descontinuidades
(Kahraman, 2001), ou para prever a abrasividade de uma rocha (Yasar & Erdogan, 2004;
Shalabi et al., 2007; Kiliç & Teymen, 2008), etc.
Na análise dos resultados é importante considerar, para além do tipo de rocha, o tamanho do
grão, a densidade e a porosidade (Yasar & Ergodan, 2004; Vasconcelos, 2005; Shalabi et al.,
2007). Rochas de grão mais fino evidenciam uma dispersão de valores de dureza de Schmidt
(R) mais baixa (Aydin & Basu, 2005). Quanto mais densa for a rocha maior será a dureza de
Schmidt (Katz et al., 2000; Gupta, 2009; Yagiz, 2009), apresentando por isso esta variável uma
relação direta com a velocidade das ondas P (Vasconcelos, 2005; Gupta, 2009; Yagiz, 2009;
Sharma et al., 2011). Por sua vez, a presença de poros diminui a resistência da rocha, logo
uma rocha mais porosa deverá apresentar valores de R mais baixos (Yasar & Ergodan, 2004;
Vasconcelos, 2005; Kilic, 2006). A proximidade a fraturas também diminui os valores da dureza
de Schmidt (Katz et al., 2000) devido à grande dissipação de energia.
Yilmaz e Sendir (2002), Aydin e Basu (2005) e Buyuksagis e Goktan (2007) referem algumas
limitações relativas a este procedimento, nomeadamente o tamanho dos provetes/pedras, as
irregularidades da superfície do material, o seu teor de humidade, o espaçamento entre
medições, a direção do impacto e o tipo de martelo utilizado. Quanto ao estado de alteração do
190
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
material pétreo analisado, Siedel et al. (2011) apontam que esta ferramenta também não
fornece dados acerca da profundidade e do perfil da meteorização.
Em cada pedra obtiveram-se 20 medições. O cálculo da dureza de Schmidt (R) teve por base
as recomendações da Norma ISRM (1981). Segundo esta norma, devem ser desconsideradas
as 10 medições com valores mais baixos, calculando-se de seguida a média e o desvio padrão
dos restantes 10 valores. Nem todos os autores utilizam as recomendações da Norma ISRM
(1981) para minimizar a dispersão das medições obtidas. Aydin (2009), por exemplo, sugere
que nenhuma medição seja suprimida, uma vez que as diferenças encontradas refletem a
heterogeneidade do material. Gupta (2009) realizou 50 medições, tendo eliminado os 10
valores mais elevados e os 10 valores mais baixos, e Torabi et al. (2010) descartaram no seu
estudo apenas 5 medições, reforçando que os valores mais baixos podem dever-se às
propriedades do material e não a erros de impacto do esclerómetro.
191
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Tab. 7.11: Valor médio e desvio padrão da dureza de Schmidt (R) calculados a partir das 10 medições
de valor mais elevado obtidos em cada um dos 24 silhares.
Cota acima do
Medição Local/Orientação Litologia Patologias R
pavimento (m)
192
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
60
50
Dureza de Schmidt (R)
40
30
20
10
0
GL GVA GVA' GV GM GM'
Litologias
Fig. 7.56: Gráfico da dureza de Schmidt (R) dos granitos estudados, considerando a
média do total das medições e apenas a média das 10 medições mais elevadas.
O valor de R varia entre 23,7 e 52, 4 (tabela 7.11). O granito de Lamego (silhar MS4) registou a
dureza de Schmidt mais elevada, por sua vez o valor mais baixo de R foi obtido no silhar MS20,
localizado na fachada N dos claustros. Estes valores são da mesma ordem de grandeza dos
alcançados por outros autores em granitos, designadamente por: Sousa (2000), Ericson (2004),
Aydin e Basu (2005), Buyuksagis e Goktan (2007) e Gupta (2009).
O estado de alteração de uma rocha também conduz à diminuição dos valores de R (Sousa,
2000; Hall et al., 2005; Vasconcelos, 2005), sendo que a dispersão destes tende a ser maior
quanto maior for o estado de meteorização da pedra, sobretudo nas litologias de grão grosseiro
(Aydin & Basu, 2005). O granito de Lamego pesa embora ser a rocha de grão mais grosseiro, é
193
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
2720
2700
2680
2660
Densidade (kg/m3)
2640
2620
2600
2580
2560
2540
2520
0 10 20 30 40 50 60
Dureza de Schmidt (R)
GL GVA GV GM
Fig. 7.57: Gráfico da relação entre a dureza de Schmidt (R) e a densidade dos
granitos estudados.
Na figura 7.57 é possível verificar ainda que o granito de Valdigem, apesar de ser a rocha que
alcançou nos ensaios petrofísicos o maior valor de porosidade, e o menor valor de densidade,
apresenta valores de R superiores aos obtidos para o granito de Várzea de Abrunhais e das
Meadas. Esta aparente contradição reflete os diferentes graus de meteorização dos silhares
alvo de medição. O impacto do martelo na superfície influencia diretamente a dureza de
Schmidt, por isso quanto mais dura for a superfície maiores serão os valores de R (Aydin,
2009).
Desagregação granular forte < Placa < Crosta < Desagregação granular média < Pátina
194
VII – CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PRESENTES NA SÉ DE LAMEGO
Os resultados obtidos nas duas determinações realizadas no silhar MS20 comprovam que é
importante que o grau de alteração das amostras seja uniforme, pois diferenças neste
parâmetro irão influenciar o espectro das medições (Aydin, 2009).
195
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
LAMEGO
8.1 Introdução
Em todas as regiões climáticas do mundo existem rochas colonizadas por fungos. Em climas
moderados a húmidos as comunidades fúngicas são dominadas pelos géneros Alternaria,
Cladosporium, Epicoccum, Aureobasidium e Phoma. Em ambientes áridos a semiáridos
dominam as leveduras escuras e fungos microclonais, entre os quais, os fungos negros dos
géneros Hortaea, Sarcinocomyces, Coniosporium, Capnobotryella, Exophiala e Trimmatostroma,
que ocorrem geralmente associados a líquenes (Sterflinger, 2010).
A diversidade de fungos nas zonas urbanas é superior à encontrada nas zonas rurais (Sterflinger
& Prinllinger, 2001). Num estudo levado a cabo na cidade do México, Páramo-Aguilera et al.
197
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
(2012) atestaram que a atmosfera poluente era requisito fundamental para a sobrevivência das
espécies fúngicas presentes na superfície das pedras.
A análise do genoma total pode ser levada a cabo através da aplicação de metodologias de
hibridação de ácidos nucleicos, da técnica RFLP (Restriction Fragment Lenght Polymorphisms) -
por digestão do DNA com endonucleases de restrição de corte frequente com 4-6 pares de base,
e de PCR fingerprinting, que se baseia na amplificação de diferentes regiões do genoma por
PCR (Liew et al., 1998).
198
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
8.2 Metodologia
As amostras de rocha colonizadas por líquenes, para o isolamento de fungos foram colhidas em
duas fases de amostragem: a 22 de Junho de 2011 e a 15 de Janeiro de 2012, por raspagem
direta e pontual, utilizando-se espátulas esterilizadas. O material amostrado foi colocado
individualmente em caixas de Petri também esterilizadas, que foram imediatamente isoladas com
parafilme. Em todas as amostras foram feitas duas recolhas, uma da camada imediatamente
inferior nas zonas de ocorrência de líquenes, após raspagem da camada superior, e outra da
camada seguinte no material pétreo. A raspagem da superfície de material pétreo sob os
líquenes teve como objetivo garantir a amostragem de espécies fúngicas colonizadoras da
pedra, evitando assim a recolha de microrganismos contaminantes.
No total foram recolhidas 27 amostras, em 22 silhares, 13 das quais no Verão de 2011, e 14 das
quais no Inverno de 2011/2012 (figuras 8.1, 8.2 e 8.3). Os silhares alvo encontram-se
distribuídos por várias alvenarias, desde a fachada principal aos claustros, a cotas entre os 0,5 e
os 1,5 metros. Dado serem áreas do edifício intensamente colonizadas, não foi possível
estabelecer uma correlação entre a espécie liquénica amostrada e o tipo de substrato pétreo.
A grande maioria das bactérias (≈99 %) apresenta dificuldades em crescer em meio de cultura,
sendo muito difícil o seu isolamento, no entanto, estima-se que cerca de 70 % das espécies
fúngicas amostradas possam ser recuperadas em meio de cultura, o que torna os métodos
clássicos de cultivo extremamente úteis (Sterflinger, 2010). De salvaguardar que nem sempre foi
possível isolar os fungos associados a todas as espécies liquénicas, como o caso do
representado na figura 8.3h.
199
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
a) b)
d)
c)
e)
f) g)
h) i)
200
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
e) f)
201
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
e) f)
g) h)
202
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
1. A extração de DNA das espécies fúngicas baseou-se num protocolo adaptado de Gardes
et al. (1991) e envolveu as seguintes etapas:
- Crescimento dos fungos em meio de cultura PDA contendo à superfície uma membrana
de celofane esterilizada;
- Raspagem do micélio com bisturi esterilizado para um tubo eppendorf, ao qual foi
adicionado 600 μL de tampão CTAB 2X (Anexo A) pré-aquecido a 65 ºC;
- Incubação, com banho de água a 65 ºC, durante duas horas, após maceração com uma
vareta de vidro esterilizada;
- Precipitação do DNA após adição de 750 μL de isopropanol gelado (-20 ºC) e colocado a
20 ºC durante pelo menos 3 horas ou durante a noite;
3. A amplificação da região ITS fez-se com os primers universais ITS1 (5’- TCC GTA GGT
GAA CCT GCG G-3’) e ITS4 (5’- TCC TCC GCT TAT TGA TAT GC- 3’) (White et al., 1990). A
cada volume final de 25 μL por reação, adicionou-se 12,5 μL da solução do kit de amplificação
203
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
Desnaturação 94 1 min
Extensão 72 2 min
5. Quanto à purificação dos produtos de PCR para sequenciação dos mesmos, foi efetuada
com o Kit NucleoSpin® Extract II (Macherey-Nagel), segundo o protocolo do fabricante.
6. Os produtos de PCR purificados foram sequenciados nos dois sentidos, com os primers
ITS1 e ITS4, na Macrogen Europe (Holanda). À obtenção das sequências nucleotídicas para
esta região, seguiu-se o processamento das sequências.
204
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
A grande maioria dos fungos isolados foi amplificada por PCR com sucesso. Na figura 8.4
apresenta-se um dos géis obtidos no presente estudo. O tamanho da região ITS de todos os
fungos analisados variou de 500 a 700 pares de bases.
600 pb -
205
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
O9 ITS1
V9 ITS1
45 O15 ITS1
V15 ITS1
V20 ITS1
99 V19 ITS1
O2 ITS1
EU552164.1| Sphaeriothyrium filicinum CBS 123028
AJ279448.1| Epicoccum nigrum CBS 318.83
81
O23 ITS1
65 O7 ITS1
O19 ITS1
O16 ITS1
O24 ITS1
100 99
O14 ITS1
O17 ITS1
O25 ITS1
JF810528.1| Phoma herbarum CBS 567.63
97
AY293804.1| Didymella cucurbitacearum IMI 373225
O13 ITS1
92
O26 ITS1
41
100 99 O29 ITS1
O30 ITS1
100 V21 ITS1
EF452450.1| Pleospora herbarum var. herbarum CBS714.68
100 V2 ITS1
98 DQ323697.1| Lewia infectoria EGS27-193
V3 ITS1
65 O22 ITS1
V6 ITS1
100 V7 ITS1
V8 ITS1
AY751455.1| Alternaria tenuissima EGS34-015
100 O21 ITS1
89 AY128700.1| Pseudotaeniolina globosa CBS 109889
V1 ITS1
61 91 O3 ITS1
100 O12 ITS1
O5 ITS1
99 O6 ITS1
91
AB586985.1| Fusarium larvarum CBS 638.76
100 V16 ITS1
O11 ITS1
95
100 EU214565.1| Gibberella pulicaris NBAIM 455
V18 ITS1
HQ026740.1| Emericella nidulans ATCC 38163
100 EF652434.1| Emericella rugulosa NRRL 206
V5 ITS1
0.05
Fig. 8.5: Análise filogenética pelo método da Máxima Verossimilhança com um bootstrap de 200
replicações.
206
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
207
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
e) f)
208
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
a) b)
c) d)
e) f)
209
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
210
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
Tab. 8.3: Géneros e espécies fúngicas identificadas por diversos autores em monumentos.
Alternaria sp.
Aspergillus flavus
Aspergillus nidulans
Cladosporium cladosporioides
Monumento do Herói
Grbic & Vukojevic, Cladosporium sphaerospermum
Desconhecido Granito
2009* Cunninghamela echinulata
(Sérvia)
Drechlera dematoidea
Epicoccum purpurascens
Mucor sp.
Mycelia sterilia
Alternaria sp.
Aspergillus sp.
Cladosporium sp.
Igreja dos Terceiros
Oliveira et al., Epicoccum sp.
da Ordem de S. Granito
2009* Paecilomyces sp.
Francisco (Porto)
Penicillium sp.
Pithomyces sp.
Trichoderma sp.
Aspergillus terreus
Palazzo De Cladosporium sphaerospermum
Felice et al., 2010** Tufo vulcânico
Francesco (Itália) Penicillium brevicompactum
Penecillium purpurogenum
Alternaria sp.
Aspergillus flavus
Aspergillus versicolor
Cladosporium cladosporioides
Monumento do Herói
Cladosporium sphaerospermum
Grbic et al., 2010* Desconhecido Granito
Cunninghamela echinulata
(Sérvia)
Epicoccum purpurascens
Fusarium sp.
Mucor sp.
Mycelia sterilia
* Identificação através de métodos fenotípicos; ** identificação através de métodos moleculares
211
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
Tab. 8.3: Géneros e espécies fúngicas identificadas por diversos autores em monumentos.
Caloplaca decipiens
Castelo Medieval de Capnobotryella sp.
Hallmann et al.,
Burg Gleichen Várias litologias Cladosporium cladosporioides
2011a**
(Alemanha) Phaeococcomyces chersonesos
Sarcinomyces petrícola
Batcheloromyces sp.
Monumento
Hallmann et al., Sarcinomyces sp.
Gegendenkmal Mármore
2011b** Teratosphaeria sp.
(Alemanha)
Thelocarpon sp.
Aspergillus flavus
Aspergillus nidulans
Aspergillus terreus
Aspergillus niger
Aspergillus fumigatus
Bipolaris sp.
Beauvera sp.
Chaetomium sp.
Cladosporium sp.
Curvularia sp.
Pandey et al., Cochliobollus sp.
Gwalior Fort (Índia) Arenito
2011* Conidiobollus sp.
Chrysosporium sp.
Drechslera sp.
Exserohilum sp.
Fusarium sp.
Penicillium sp.
Scopulariopsis sp.
Sepedonium sp.
Torula sp.
Trichothecium sp.
Ulocladium sp.
Alternaria sp.
Aspergillus sp.
Cladosporium sp.
Castelo de Epicoccum sp.
Páramo et al., Chapultepec Rocha de origem Fusarium sp.
2012** (México) vulcânica Mucor sp.
Penicillium sp.
Pestalotiopsis sp.
Phoma sp.
Trichoderma sp.
* Identificação através de métodos fenotípicos; ** identificação através de métodos moleculares
212
VIII – IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES FÚNGICAS COLONIZADORAS DA SÉ DE LAMEGO
Mais se acrescenta, que Krumbein (2003) expõe um estudo realizado no Mosteiro de Saint
Trophime (França) onde surgiram, 3 meses após limpeza, pátinas devido à presença de colónias
de fungos. O autor incubou fungos em mármores e reproduziu, após 3 meses, pátinas laranja-
acastanhadas semelhantes às observadas em monumentos. Hallmann et al. (2011a) associaram
também o crescimento de fungos à formação de pátinas negras em rochas sedimentares
A maioria dos fungos identificados são fungos negros. Este tipo de fungos consegue penetrar em
profundidade no granito, formando lesões que podem chegar aos 2 cm de diâmetro, designadas
por “biopitting”. Devido à forte melanização das suas hifas, são microrganismos muito resistentes
aos tratamentos com biocidas (Saarela et al., 2004).
Nalgumas espécies a região ITS não apresenta variabilidade suficiente para inequivocamente se
identificar a espécie (Seifert, 2007). Com efeito, em espécies geneticamente muito relacionadas
a região ITS pode não ter a resolução necessária para diferenciar essas espécies (Lieckfeldt &
Seifert, 2000), exigindo estratégias alternativas que se baseiam na amplificação de várias
regiões genómicas independentes (Varga et al., 2007). Por outro lado, a homologia das espécies
isoladas neste estudo com alguns isolamentos desconhecidos, depositados no GenBank, é
justificado pelo facto de se estar a trabalhar em amostras ambientais, dado que um crescente
número de espécies de fungos tem vindo a ser caracterizada por métodos moleculares, sem a
correspondente caracterização morfológica e classificação taxonómica.
213
IX – APLICAÇÃO CIENTÍFICO – DIDÁTICA DA INVESTIGAÇÃO
9.1 Introdução
A formação contínua pressupõe uma mudança voluntária, quer por parte dos formandos, quer
por parte dos formadores (Santiago et al., 1997), por forma a minimizar o fosso entre o
conhecimento científico e a prática. O conhecimento científico, ou seja, o conhecimento relativo
às temáticas das diferentes especialidades, só se transforma em conhecimento pedagógico
quando é transmitido, aplicado e comunicado através de processos e técnicas (Tavares, 1997).
Num estudo apresentado por Flores et al. (2009), os professores portugueses selecionaram
quatro principais motivações para a formação contínua:
Os docentes têm intrínseca à sua prática uma tradição transmissiva de factos científicos,
negligenciando a forma como este conhecimento é construído (Galvão et al., 2011). Para que a
informação científica seja abordada com rigor e precisão é necessário otimizar materiais e
técnicas, e reforçar as competências profissionais para melhorar as práticas pedagógicas. Isto só
215
IX – APLICAÇÃO CIENTÍFICO – DIDÁTICA DA INVESTIGAÇÃO
Nas últimas décadas tem-se vindo a reduzir a presença da Geologia no ensino obrigatório na
maioria dos países ocidentais. Se por um lado esta situação se deve à inclusão de outras
matérias nos currículos (como a genética, a biotecnologia, as energias alternativas, a
sustentabilidade, etc.), por outro a Geologia é ensinada como muito abstrata e sem grande
utilidade para a vida futura do estudante. No sentido de desmistificar esta situação deve-se
construir uma proposta de ensino da Geologia assente em problemas do quotidiano, permitindo
assim trabalhar o conhecimento geológico, ao mesmo tempo que se comprova a sua utilidade
(Pedrinaci, 2009).
216
IX – APLICAÇÃO CIENTÍFICO – DIDÁTICA DA INVESTIGAÇÃO
A pertinência desta formação deve-se também à estreita ligação entre os conteúdos abordados e
as várias rubricas programáticas relativas às rochas, sua génese, meteorização e exploração,
que são abordadas em quase todos os anos de escolaridade, quer seja na disciplina de Ciências
Naturais (7º e 8º anos), na disciplina de Biologia e Geologia (10º e 11º anos), ou na disciplina de
Geologia (12º ano) (tabela 9.1). Mais se acrescenta, que a transversalidade desta temática
abrange ainda os currículos de outras disciplinas, como a Biologia, as Ciências Físico-Químicas,
a História e a Língua Portuguesa.
Tab. 9.1: Conteúdos das diferentes disciplinas relativos aos materiais rochosos.
Ano letivo/
Conteúdos
Disciplina
Dinâmica externa da Terra:
7º ano
- Rochas, testemunhos da atividade da Terra.
Ciências Naturais
- Rochas magmáticas, sedimentares e metamórficas: génese e constituição
217
IX – APLICAÇÃO CIENTÍFICO – DIDÁTICA DA INVESTIGAÇÃO
218
IX – APLICAÇÃO CIENTÍFICO – DIDÁTICA DA INVESTIGAÇÃO
219
IX – APLICAÇÃO CIENTÍFICO – DIDÁTICA DA INVESTIGAÇÃO
Tendo por base o cronograma da oficina, foi desenvolvido um percurso formativo constituído por
8 sessões. Na primeira sessão foi discutido o cronograma da oficina, foram apresentados os
conteúdos a abordar e as regras de funcionamento da oficina, nomeadamente a estrutura do
processo avaliativo. A última sessão foi dedicada à apresentação e discussão dos materiais
elaborados pelos formandos. Nessa apresentação, cada formando referiu as principais
dificuldades encontradas, quer na sua elaboração, quer na sua implementação. As restantes 6
sessões foram reservadas à atualização de conhecimentos, sendo a dinâmica do grupo
dominada pelas lacunas e/ou conhecimentos simplificados que os formandos possuíam acerca
das diferentes temáticas.
A avaliação dos formandos teve por base diferentes critérios (como a assiduidade, a
pontualidade, o interesse/participação, e o relatório reflexivo final), com destaque para a
elaboração sequenciada de 3 materiais didáticos:
A escolha destes produtos educativos prendeu-se com duas principais razões (Almeida, António,
2009): as atividades práticas facilitam a compreensão de conceitos científicos, e podem conduzir
ao seu aprofundamento, constituindo por isso momentos indispensáveis à aprendizagem efetiva
dos alunos, e a substituição das atividades de sala de aula por uma saída de campo permite
observar fenómenos com maior eficácia e pertinência.
Apesar da oficina se ter prolongado por quase todo o ano letivo, não foi possível, devido à
obrigatoriedade do cumprimento dos programas das disciplinas lecionadas, bem como da difícil
conciliação entre o cronograma da oficina e as planificações a longo e médio prazo, aplicar em
contexto sala de aula todos os recursos elaborados. Esta situação comprometeu a avaliação do
220
IX – APLICAÇÃO CIENTÍFICO – DIDÁTICA DA INVESTIGAÇÃO
De acordo com as disciplinas lecionadas pelos formandos, foram por eles elaborados recursos
no âmbito de 3 unidades didáticas (tabela 9.2). Esses materiais encontram-se em anexo (Anexo
IX.1, IX.2 e IX.3).
Tab. 9.2: Distribuição por ano, disciplina e unidade didática, dos materiais elaborados pelos formandos
na oficina de formação.
221
X - CONCLUSÕES
X. CONCLUSÕES
Lamego situa-se a norte de Portugal, no distrito de Viseu, e caracteriza-se por ser uma zona
montanhosa, dominada pelo maciço de Montemuro. O clima da região é temperado, com as
temperaturas mais altas a serem registadas nos meses de julho e agosto, altura do ano em que
as amplitudes térmicas são mais significativas. O mês de janeiro é tipicamente o período do ano
mais frio. No que concerne à precipitação, dezembro é o mês mais chuvoso e julho o mês mais
seco. A humidade relativa média anual é de 65 %, a densidade de fluxo de radiação solar atinge
o seu máximo em junho, e o vento sopra de sudoeste, a uma velocidade média de
aproximadamente 0,4 m/s.
Foram identificadas cinco rochas graníticas utilizadas na sua construção: granito biotítico de
Lamego, granito de duas micas de Várzea de Abrunhais, granitos moscovíticos de Valdigem e
das Meadas, e um aplito. Através da elaboração de mapas cartográficos destas litologias
concluiu-se que na fachada principal (W) do edifício domina o granito de Várzea de Abrunhais na
zona mais a norte, o granito de Valdigem nos três portais, e o granito de Lamego na torre. Aliás,
este elemento arquitetónico é o mais homogéneo no que diz respeito ao material pétreo aplicado
na sua construção. Nos claustros também é possível encontrar pedras de todas as rochas em
estudo, tendo-se identificado ainda uma percentagem significativa de silhares de granito das
Meadas de carácter mais grosseiro. O aplito é a rocha menos abundante em todas as alvenarias.
Alguns silhares não foram identificados devido ao seu intenso estado de alteração.
223
X - CONCLUSÕES
A caracterização físico-mecânica das rochas estudadas revelou que a porosidade varia de 0,7 %
a 4,7 %. A rocha menos porosa, logo, mais densa, é o granito de Lamego e o granito de
Valdigem revelou ser a rocha mais porosa, como tal, menos densa. Estes resultados
confirmaram as observações registadas no estudo petrográfico, concluindo-se que todas as
rochas se encontram algo meteorizadas.
O granito de Valdigem foi a rocha que absorveu maior quantidade de água por imersão à
pressão atmosférica, seguido do granito das Meadas e do aplito. Este último, apesar de pouco
poroso, apresentou o grau de preenchimento de poros (97,2 %) mais elevado, revelando possuir
uma rede de poros bem conectada. Esta conclusão foi também retirada dos resultados do ensaio
de absorção de água por capilaridade. O granito de Valdigem apresentou a cinética de absorção
de água mais elevada, admitindo-se que nesta rocha os poros estejam distribuídos de forma
homogénea, o que possibilita uma rápida ascensão da franja capilar.
As amostras GLS e GLA (granito de Lamego são e granito de Lamego alterado, respetivamente)
registaram valores de densidade e porosidade semelhantes, verificando-se contudo diferenças
ao nível da absorção de água, do grau de preenchimento dos poros e da subida da franja capilar.
Os maiores valores obtidos nestas propriedades para a amostra GLA confirmam algumas
diferenças no seu estado de alteração, relativamente à amostra GLS, diferenças essas que
foram assinaladas aquando da sua caracterização petrográfica.
O granito de Lamego, mais denso e menos poroso, foi a rocha que manifestou maior valor da
velocidade de propagação das ondas P. Os resultados obtidos para as rochas mais
meteorizadas (granito de Valdigem e granito das Meadas) também confirmaram a correlação
negativa entre a porosidade e a velocidade dos ultrassons. Os valores de anisotropia total e de
coeficiente de anisotropia mais elevados registaram-se no granito de Valdigem (20,2 % e 28,2 %,
respetivamente). Estes resultados permitem concluir que neste granito existem famílias de
fissuras que poderão influenciar diretamente a alterabilidade da rocha.
224
X - CONCLUSÕES
Os ensaios de alteração artificial foram realizados no sentido de aferir acerca dos efeitos dos
agentes de alteração. No final do ensaio de resistência de cristalização de sais foi visível a
alteração física provocada, particularmente no granito de Valdigem. A grande maioria dos
provetes manifestou perda de material e perda de coesão devido, quer ao aumento do número
de fissuras, quer ao aumento da densidade das fissuras pré-existentes. A porosidade aumentou
em todas as litologias, excetuando-se a amostra GLA. A maior variação desta propriedade foi
registada no granito de Valdigem, comprovando-se que rochas mais porosas são mais
suscetíveis à alteração por haloclastia. O incremento no número de fissuras também teve
consequências diretas na velocidade dos ultrassons, que diminuiu em todas as rochas, mais
significativamente na amostra de granito de Valdigem.
O ensaio de resistência ao envelhecimento por choque térmico teve como principal objetivo
prever os efeitos das amplitudes térmicas nas rochas. Para além dos provetes apresentarem,
após a realização dos quinze ciclos, uma coloração mais amarelada, não se registaram
variações macroscópicas significativas. A porosidade aumentou ligeiramente no granito de
Várzea de Abrunhais, no granito de Valdigem, no granito das Meadas e na amostra GLS,
mantendo-se constante no granito de Valdigem e na amostra GLA. No final do ensaio verificou-
se novamente a relação inversamente proporcional entre a porosidade e a Vp, tendo o granito
das Meadas registado a maior variação nesta propriedade (12 %). O granito de Valdigem, rocha
mais porosa, mostrou o menor valor de velocidade dos ultrassons, o que denota que as suas
fissuras acomodaram as tensões provocadas pela expansão/contração dos minerais. Por outro
lado, foi no granito de Lamego que se obteve um aumento dos índices de anisotropia mais
relevante, atestando-se o pressuposto que as diferenças no tamanho do grão das rochas
porfiróides conduzem a uma maior expansão termal. Sendo um granito biotítico, de cor mais
escura que as restantes litologias em estudo, esta rocha também possui maior capacidade de
absorver mais calor, o que se traduz em maiores danos por choque térmico.
O ensaio de alteração da cor implicou a avaliação desta propriedade, em todas litologias, antes e
após os provetes terem sido colocados, pelo período de um ano, em exposição às mesmas
condições ambientais a que está exposta a Sé de Lamego. Dado que as rochas em estudo
apresentam cor clara, o valor médio de L* foi de cerca de 88, registando-se o valor mais baixo no
granito de Lamego. Os maiores desvios-padrão neste parâmetro foram obtidos nos granitos de
grão mais grosseiro, ou seja, mais heterogéneos. Verificou-se ainda um predomínio do
componente vermelho e do componente amarelo. Apesar de não se terem registado
225
X - CONCLUSÕES
aparentemente diferenças no aspeto dos provetes após os 365 dias de exposição, as rochas
manifestaram menores valores de L* e maiores valores de a*. No que concerne ao parâmetro b*,
o componente amarelo diminuiu no granito das Meadas e no aplito. O escurecimento das
amostras poderá dever-se à ação dos raios ultravioleta, à sujidade e à humidade, e a alteração
positiva do azul para o amarelo à presença de minerais ricos em ferro.
No monumento em estudo podem observar-se crostas de cor negra, cinzenta e castanha. Apesar
de se mostrarem duras e compactas, o seu grau de aderência é variável, conduzindo ao
aparecimento de pequenas áreas de destacamento. Localizam-se preferencialmente em zonas
abrigadas, como é o caso dos portais da fachada principal e das alvenarias dos claustros. A sua
espessura média é de cerca de 2 mm.
226
X - CONCLUSÕES
Os filmes negros têm pouca relevância neste estudo. São baços, homogéneos, duros e muito
aderentes, impedindo por isso, na maioria dos casos, a identificação das litologias. A fachada
oeste dos claustros é a mais afetada por esta patologia. Trata-se de uma zona húmida, mas não
sujeita a ventos chuvosos ou escorrência.
As fissuras são pontuais e surgem em pedras localizadas em áreas e cotas muito distintas.
Normalmente iniciam-se nas arestas dos silhares, ocorrendo situações em que os atravessam
por completo.
A análise química do estrato solúvel das amostras com os teores de sais mais significativos,
revelou que os emplastros amostrados nos claustros apresentam maior quantidade e diversidade
de sais. Os sais predominantes são os fosfatos, os cloretos e os nitratos, de cálcio e sódio. O
227
X - CONCLUSÕES
cloreto de sódio cristaliza sob a forma de halite e o sulfato de cálcio sob a forma de gesso. Numa
amostra recolhida nos claustros aferiu-se ainda a presença de sulfato de magnésio (epsomite) e
duas amostras (La7 e La16int.) revelaram elevados valores de nitrato. Considerando a
temperatura e humidade relativa médias para a cidade de Lamego (14 ºC e 65 %,
respetivamente), estão reunidas as condições para a precipitação de halite, epsomite e niter
durante todo ano, mas particularmente nos meses de verão.
Uma vez que a presença de minerais de sais solúveis está na base do aparecimento de várias
patologias pode concluir-se que a forte desagregação granular observada nos portais da fachada
principal resulta da conjugação de dois fatores: por um lado a ascensão de soluções salinas –
com elevados teores de cloretos, nitratos e sulfatos, e por outro, as condições particulares
relativas aos locais estreitos sujeitos a fortes correntes de ar que propiciam a rápida evaporação
de água, e consequentemente a repetida cristalização/deliquescência dos minerais de sais
solúveis. No caso dos silhares da porta sul que ladeia o altar-mor, com evidentes sinais de
arenização, o domínio da presença de halite, sal muito solúvel, atesta as suas elevadas pressões
de cristalização.
Os minerais de sais solúveis quando cristalizam no interior da rede porosa estão sujeitos a
condicionalismos espaciais e ao contacto com soluções com diferentes potenciais químicos, o
que conduz a uma diversidade de formas de cristalização. O gesso surge sob a forma de cristais
isolados, mas também em agregados de cristais lamelares ou tabulares (em forma de ponta de
lança). É frequente encontrar-se no seio de folhas de micas, contribuindo para o seu afastamento
e fissuração. A halite forma cubos perfeitos, mas também com arestas arredondadas,
aparecendo ainda sob a forma de agregados de cristais com figuras de dissolução. A calcite
também apresenta, por vezes, figuras de dissolução, tendo sido observada em agregados de
cristais subédricos.
228
X - CONCLUSÕES
Para além de minerais de sais solúveis foi ainda observada ao MEV a presença de cinzas
volantes esféricas lisas aluminossilicatadas, com teores de Ca, K e Mg variáveis, em amostras
de crostas, e de cinzas volantes esféricas porosas carbonatosas, ricas em enxofre, na amostra
Pó La13, obtida numa pátina.
Nas amostras analisadas por MEV foi comum observarem-se várias formas biológicas,
nomeadamente bactérias, algas, fungos, pólen e microfauna. Este procedimento permitiu ainda
registar alguns aspetos de alteração dos minerais constituintes das rochas, como a presença de
caulinite – mineral secundário, e a fissuração do feldspato potássico, da plagióclase e da apatite.
229
X - CONCLUSÕES
230
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257
ANEXO A
ANEXO A
259
Soluções Composição e preparação
2% CTAB (p/v); 100 mM Tris-HCl (pH 8); 1,4 M NaCl; 20 mM
EDTA (pH 8). Adicionar CTAB à água Milli-Q e dissolver em
Tampão CTAB 2X
banho de água quente. Adicionar os restantes componentes
e misturar bem. Esterilizar por filtração.
Solução de deposição
Efetuar uma diluição de 1/5 em água destilada.
(solução trabalho)
ANEXO B
ANEXO B
263
I – DINÂMICA EXTERNA DA TERRA
Conteúdos Pré-requisitos Objetivos específicos Estratégias
Rochas, Rocha Reconhecer a existência de uma grande Trabalho individual para a realização de um Pré-Teste.
testemunhos da Mineral diversidade de rochas.
atividade da Terra. Propriedades Conhecer as diferenças quanto à génese e Observação macroscópica de amostras de rochas e
Cor textura entre rochas magmáticas, sedimentares minerais para introdução ao tema.
Textura e metamórficas. Discussão alargada à turma da Apresentação I.
Dureza Reconhecer que as rochas são constituídas Distribuição da Folha Síntese.
Utilidades das por minerais. Trabalho individual para a resolução do exercício do
rochas Conhecer métodos de identificação de manual – pág. 197.
minerais e de rochas; Síntese, no quadro negro, das propriedades físicas dos
Relacionar entre os diversos tipos de rochas minerais.
e o seu modo de formação. Trabalho de pares para a resolução dos exercícios do
Distinguir os diferentes tipos de rochas e manual – pág. 201 (consolidação).
seus constituintes, através das suas
propriedades (fratura, clivagem, cor, dureza,
fragmentação e brilho).
Discussão alargada à turma da Apresentação II.
Compreender da génese dos diferentes tipos
Trabalho individual para a resolução da Ficha de Trabalho
Rochas de rochas.
nº 1.
magmáticas, Reconhecer que as rochas magmáticas
Realização da atividade prática: “À descoberta dos
sedimentares e resultam da consolidação dos magmas.
minerais do granito”.
metamórficas: Compreender que as rochas sedimentares,
Discussão alargada à turma da Apresentação III.
génese e podem dividir-se em várias categorias.
Trabalho de pares para a resolução do exercício do manual
constituição; ciclo
– pág. 211.
das rochas.
Síntese, no quadro negro, das etapas de formação das
rochas sedimentares.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE AROUCA
CIÊNCIAS NATURAIS – 7º ANO
1. Introdução:
O estudo de rochas e minerais com o microscópio petrográfico é
um procedimento importante para quase todos os tipos de
trabalho do geólogo. Só desta forma, é possível observar aspetos
que, devido à reduzida dimensão, passam despercebidos em
observação de amostras de mão, como por exemplo, minerais
microscópicos. Assim, propomos-te com esta atividade prática,
que vistas a t-shirt de geólogo e te dediques ao estudo macro e
Fig. 1: Paisagem granítica da
microscópio do granito, que é, como já aprendeste, uma rocha Serra da Freita.
plutónica muito abundante na crusta continental (figura 1).
Esta atividade prática tem como objetivos:
Identificar o granito através da observação das suas propriedades;
Identificar os minerais principais do granito;
Reconhecer o microscópio petrográfico como importante instrumento de estudo das rochas;
Utilizar corretamente chaves dicotómicas.
2. Material:
Mineral que se separa em sucessivos planos paralelos e de cor escura (preto) -- Biotite
C
Mineral que se separa em sucessivos planos paralelos e de cor clara ou incolor Moscovite
Cor
Rochas
– cor intermédia (15% a 40% de minerais máficos)
mesocratas
Rochas
– cor escura (> 40% minerais máficos).
melanocratas
Tabela II (continuação) – Classificação das rochas quanto à cor e textura.
Textura
Aspeto geral das rochas de acordo com às dimensões, forma e arranjo dos minerais que as
constituem.
Grãos minerais todos visíveis a olho nu; textura característica das rochas
Fanerítica
plutónicas (granularidade grosseira, média ou fina)
Grãos minerais não visíveis a olho nú; textura característica das rochas
Afanítica
vulcânicas
Eu explico…
Às vezes, nem sempre é fácil ou mesmo possível, reproduzir alguns fenómenos do domínio da
Geologia. Isto porque, a maioria dos fenómenos geológicos têm uma duração e uma dimensão
que não são compatíveis com o tempo de uma aula nem com as dimensões do laboratório.
Contudo, é possível criar alguns modelos desses fenómenos que nos permitem compreender
melhor alguns desses fenómenos.
1. Introdução:
Ao admirar uma paisagem granítica, é possível observar grandes blocos graníticos dispostos de
forma desordenada – caos de blocos. Estes blocos libertaram-se do maciço devido à alteração
física e química do granito, causada sobretudo pela acção da água mas, muitas vezes também
devido à intervenção de seres vivos por colonização da rocha. Analisando atentamente uma
rocha, é possível detetar descoloração e perda do material, aparecimento de patologias e, em
laboratório, analisar a alteração das propriedades das rochas (composição, textura e porosidade).
Assim, alteração de uma rocha consiste na modificação da mesma quando os seus minerais
constituintes se adaptam às condições da superfície. Esta alteração pode ser:
Física ou mecânica – ação de grandes amplitudes térmicas Fragmentação progressiva
da rocha
Química – reações nos minerais (por ação da água)
Biológica – ação dos seres vivos (microrganismos, fungos, plantas)
2. Material:
1. Pesa 5 provetes.
2. Coloca os provetes na estufa a 40ºC;
3. Pesa até atingir um peso constante - massa do provete seco;
4. Coloca no fundo do tabuleiro, uma rede;
5. Coloca os provetes no tabuleiro, sobre a rede, separados uns dos outros cerca de 1 cm;
6. Cobre os provetes com água destilada (que vais adicionando sempre que necessário);
7. Pesa os provetes nos seguintes intervalos: 10min, 30min, 1h, 4h, 8h, 24h, 48h;
8. Regista os resultados na tabela que se segue;
1. Pesa 5 provetes.
2. Coloca os provetes na estufa a 40ºC;
3. Pesa até atingir um peso constante - massa do provete seco;
4. Coloca no fundo do tabuleiro, uma rede e cobre com uma folha de papel de filtro;
5. Coloca água no tabuleiro até atingir 3 mm de altura;
6. Coloca os provetes verticalmente num tabuleiro;
7. Seca parcialmente cada provete com um pano húmido;
8. Pesa os provetes em intervalos de tempos previamente selecionados (1 min, 2 min, 4
min, 8 min,16 min, 32min, 1h, 24 h, 48 h…).
9. Mede as franjas para os mesmos intervalos de tempo;
10. Regista os resultados nas tabelas que se seguem;
TEMPO PESO PROVETES
Provete A Provete B Provete C Provete D Provete E Média
0 min
1 min
2 min
4 min
16min
32 min
1h
24h
48h
Saída de Campo
Estudo da deterioração do granito em monumentos
Calvário de Arouca
Os granitos (rochas ígneas) são rochas que, pela sua dureza, têm sido, sempre que
possível, preteridas em favor de rochas mais brandas e mais facilmente trabalháveis como
os calcários, mármores e arenitos. No entanto, em regiões onde o granito é a rocha
dominante, nomeadamente no Norte e Centro de Portugal, muitos monumentos são
constituídos essencialmente por este tipo de rocha (Begonha, 1997).
Um pouco de história…
O Calvário de Arouca (figura 1) é um monumento de estilo maneirista em que os cruzeiros
apresentam motivos geométricos na base. Encontra-se situado no centro histórico da vila de
Arouca, sobre uma imensa massa granítica, composto por diversas cruzes, sobressaindo na
sua parte mais elevada 3 cruzes, das quais a central data de 1627, um púlpito datado de
1643 a encimar todo o conjunto e umas “alminhas”. Todos os elementos estão esculpidos
em granito e protegidos no topo por um muro tosco (de igual pedra), sob o olhar
apaziguador de um sobreiro centenário.
Enquadramento Geográfico
O concelho de Arouca abrange uma área aproximada de 328 km2 integrada na sub-região
de Entre Douro e Vouga, na região Norte de Portugal continental. Localiza-se no extremo
nordeste do distrito de Aveiro, encontrando-se dividido em vinte freguesias. O Calvário de
Arouca está situado a Norte do centro da vila e do Mosteiro, no cimo da antiga rua d'Arca e
actual Figueiredo Sobrinho (figura 2).
Fig. 2. Localização geográfica, via satélite da Escola Secundária de Arouca e do monumento a visitar
(imagem do Google Earth).
Enquadramento geológico
A vila de Arouca assenta numa mancha de quartzodiorito (figura 3), uma rocha cuja génese
lhe confere grande resistência e durabilidade e, por isso, muito usada na construção de
alguns monumentos locais, nomeadamente o Mosteiro de Santa Maria de Arouca e o
Calvário de Arouca.
A geologia de Arouca é, na sua maioria, constituída por rochas que, vulgarmente, são
designadas xistos e granitos. O maciço de Arouca é composto por um quartzodiorito
biotítico, cuja mineralogia principal é plagióclase, quartzo e biotite (figura 4).
Fig. 3. Mapa geológico simplificado do concelho de Arouca baseado nas folhas 13-B, 13-D, 14-A e
14-C da Carta Geológica de Portugal à escala 1:50 000 (http://geologia.aroucanet.com/).
a) b)
Tipo de patologias
Linhas de Animais,
Desagregação rutura plantas,
Placas
granular fungos,
bactérias
Destacamento de
porções de
Destacamento
material paralelo à
de grãos,
superfície da
seguido de
pedra.
queda de
material sob a
forma de pó. Pátinas Crosta Filmes Eflorescência
negros ss
Objetivos
Ao longo desta saída de campo, vão ser propostas atividades que deverás realizar com o
teu grupo de trabalho. Lê com atenção as tarefas, regista cuidadosamente os dados e faz o
registo fotográfico.
longo do percurso.
-
-
constituído por várias estruturas. Faz uma visita breve por todo o monumento e regista
4. Observa com atenção toda a estrutura do monumento que o teu grupo escolheu e
Legenda:
Desagregação granular
Placas
Pátinas
Crosta
Filmes negros
Eflorescências
Fissuras
Colonização biológica
Legenda:
Desagregação granular
Placas
Pátinas
Crosta
Filmes negros
Eflorescências
Fissuras
Colonização biológica
CARTOGRAFIA DAS PATOLOGIAS
Legenda:
Desagregação granular
Placas
Pátinas
Crosta
Filmes negros
Eflorescências
Fissuras
Colonização biológica
ANEXO C
ANEXO C
289
I – A GEOLOGIA, OS GEÓLOGOS E OS SEUS MÉTODOS
Conteúdos Pré-requisitos Objetivos específicos Estratégias
A Terra e os seus Sistema (aberto e Conhecer a conceito de sistema aberto e Trabalho individual para a realização de um Pré-
subsistemas em fechado) fechado. Teste.
interação. Mineral Compreender a Terra como um sistema
- Subsistemas Cor fechado onde existem numerosos subsistemas Discussão alargada à turma da notícia: “Cancro a
terrestres (geosfera, Textura em interação e interdependência. céu aberto – toneladas de arsénio -pirite próximas
atmosfera, Dureza da zona de turismo”.
hidrosfera e Rocha magmática Trabalho de pares para realização da ficha de
biosfera). Rocha sedimentar trabalho com base na notícia apresentada.
- Interação de Rocha Discussão alargada à turma para identificação de
subsistemas. metamórfica sistemas abertos, fechados, subsistemas
Ciclo das rochas terrestres e suas interações a partir de exemplos
Fóssil solicitados aos alunos e/ou apresentados pelo
manual.
As rochas, Identificar rochas magmáticas, Trabalho individual para construção de um mapa
arquivos que relatam sedimentares e metamórficas com base nas de conceitos relativo ao conceito de sistema e aos
a História da Terra. características macroscópicas e algumas subsistemas terrestres e sua interação a partir
- Rochas propriedades. das situações.
sedimentares. Reconhecer que as rochas são arquivos de
- Rochas informação sobre o passado da Terra. Discussão alargada à turma da Apresentação I.
magmáticas e Compreender o conceito de estrato. Realização da atividade prática: “Efeitos da
metamórficas. Compreender as inter - relações entre os intervenção humana na Geosfera (I)”.
- Ciclo das rochas. diferentes processos envolvidos no ciclo
Realização da atividade prática: “Efeitos da
geológico.
intervenção humana na Geosfera (II)”.
Discussão alargada à turma da apresentação I
(cont.).
ESCOLA SECUNDÁRIA DE AROUCA
ATIVIDADE PRÁTICA
Efeitos da intervenção humana na Geosfera (I).
INTRODUÇÃO:
MATERIAL:
Minerais identificados
Ampliação: Ampliação:
Aspetos
petrográficos
em nicóis paralelos
Ampliação: Ampliação:
Aspetos
petrográficos
em nicóis cruzados
DISCUSSÃO:
4. Explica de que forma pode o homem contribuir para o incremento da alteração das rochas,
quer no seu ambiente natural quer em construções (“pedra”).
ESCOLA SECUNDÁRIA DE AROUCA
ATIVIDADE PRÁTICA
Efeitos da intervenção humana na Geosfera (II).
NOTA INTRODUTÓRIA
O aumento da acidez da água que contacta com as rochas contribui para o aumento das
reações de hidrólise e de dissolução, contribuindo, assim, para a alteração da rocha.
A poluição do ar causada pela combustão de combustíveis fósseis é a maior causa da chuva
ácida.
O grau de alteração de uma rocha provocado pelo pH da água pode ser estudado pela
medição da condutividade elétrica, quando a energia elétrica é conduzida através de uma
amostra de rocha previamente moída e colocada em solução de pH previamente definido. Neste
caso, a condução é eletrolítica e não metálica porque os transportadores de carga não são
eletrões mas iões positivos e negativos resultantes da alteração dos minerais da rocha. A uma
condutividade elevada corresponde uma elevada concentração de eletrólitos e,
consequentemente, uma maior alteração da rocha.
A água destilada apresenta uma baixa condutividade porque é devida, unicamente, à
presença dos iões H+ e OH- produzidos quando algumas moléculas de água se dissociam. No
entanto, o número de moléculas de água que se dissocia é praticamente considerado
desprezável, tornando a água destilada num fraco condutor de eletrões.
É objetivo desta atividade, reconhecer os efeitos da água acidificada (chuvas ácidas) na
alteração das rochas.
MATERIAIS:
Amostras de quartzodiorito
Oito gobelés
Água destilada
Solução de ácido sulfúrico
Estufa
Aparelho de medição do pH
Aparelho de medição de condutividade elétrica
PROCEDIMENTO:
1º SEMANA
Após 24 horas
Água destilada Solução ácida
Após 48 horas
Condutividade elétrica (µScm-1)
Água destilada Solução ácida
2º SEMANA
Após 24 horas
Água destilada Solução ácida
Após 48 horas
Condutividade elétrica (µScm-1)
Água destilada Solução ácida
3º SEMANA
Após 24 horas
Água destilada Solução ácida
Após 48 horas
Condutividade elétrica (µScm-1)
Água destilada Solução ácida
3º SEMANA
Após 24 horas
Água destilada Solução ácida
Após 48 horas
Condutividade elétrica (µScm-1)
Água destilada Solução ácida
DISCUSSÃO:
S
A
Í
D
A
D
E
C
A
M
P
O
Biologia e Geologia
10º ano de escolaridade
A- Objetivos gerais
Conhecer a principal rocha aflorante na vila de Arouca.
Reconhecer a importância dos recursos geológicos na construção da paisagem
humanizada.
Reconhecer a ação humana como um dos fatores de formação de patologias da
pedra dos edifícios.
Promover atitudes de respeito pelo património histórico.
Promover o contacto direto com a paisagem humanizada e a sua contemplação.
Fomentar o trabalho em equipa.
Promover um espaço de convívio entre alunos e professores.
B- Objetivos específicos
Verificar a presença de esfoliação no granitoide do Calvário.
Observar a disjunção esferoidal no afloramento do quartzodiorito junto da “rotunda
das trilobites”.
Identificar os minerais essenciais das rochas graníticas.
Identificar manifestações humanas relacionadas com a litologia da região.
Identificar patologias nas pedras de diferentes edifícios.
Identificar fatores inerentes à formação de patologias da pedra.
C- Material necessário
Guia de campo
Caderno de campo
Lápis e borracha
Máquina fotográfica
D- Percurso a realizar
A saída de campo é composta por 5 paragens. A localização de cada uma delas está
assinalada na figura 1. Em cada uma das paragens terás que realizar as atividades que te
são propostas, efetuando, devidamente, todos os registos. Sempre que te surjam dúvidas
deves solicitar ajuda ao professor.
As atividades serão realizadas em grupos de 2 a 3 elementos. Deves ter sempre
presente que cada local que visitas e as pessoas com quem contactas merecem o máximo
respeito. Segue as instruções dadas pelo professor.
D
E C
Paragem A
Estás sobre um dos monumentos classificado como Imóvel de Interesse Público desde
1960. Constitui um símbolo do final da via-sacra de Cristo.
Paragem B
Aqui podes observar um afloramento do quartzodiorito de Arouca que surge sob a forma
com uma forma arredondada, fruto de um fenómeno conhecido por disjunção esferoidal da
rocha. Esta resulta da fragmentação em camadas concêntricas, da periferia para o centro,
resultando daí a denominada disjunção em casca de cebola. Ao longo do temo, o bloco
torna-se mais pequeno e arredondado, com a progressiva libertação das escamas mais
externas.
Paragem C
Junto à Câmara, vira à tua esquerda. Desce a Rua Dr. Teixeira de Brito. Procura a porta
16B.
4. Observa com atenção as pedras que fazem parte dos edifícios e compara as que
estão mais na base com as que estão colocadas nos pontos mais altos.
5. Repara na pedra escura junto do caixote do lixo. Porque será que se apresenta
mais escura que todas as outras?
Paragem D
Estás junto da Casa Grande dos Malafaias. A Casa Grande dos Malafaias está situada na
Rua Dr. Figueiredo Sobrinho em Arouca. O material usado na sua construção incidiu no
granito da região e calcário. A construção data do século XVIII.
1. Uma vez que a pedra usada não tem sofrido limpeza é possível detetar algumas
patologias da pedra.
1.1 Identifica, com ajuda do professor, algumas dessas patologias.
4.1 Compara o lado virado norte do cruzeiro com o lado virado a sul.
.
Paragem E
Volta atrás e recomeça ao longo da Rua Agualva. No edifício do Geoparque de Arouca
podes encontrar várias patologias da pedra.
ANEXO D
309
IV – A GEOLOGIA, PROBLEMAS E MATERIAIS DO QUOTIDIANO
Conteúdos Pré-requisitos Objetivos específicos Estratégias
Processos e Mineral Conhece a classificação das rochas Trabalho individual para a realização de um Pré-Teste.
materiais geológicos Propriedades magmáticas com base no ambiente de Discussão alargada à turma da Apresentação I.
importantes em dos minerais consolidação dos magmas. Realização da atividade prática: “Estudo macro e
ambientes Magma Reconhece as características que microscópico das rochas magmáticas”.
terrestres. Rocha distinguem os diferentes tipos de rochas Trabalho individual para realização da ficha de trabalho
- Magmatismo. magmática magmáticas propostas, especialmente no que nº1 (consolidação).
Rochas magmáticas. Meteorização respeita à cor, à textura e à composição Realização da atividade prática: “Absorção livre de
mineralógica. água por rochas sãs e alteradas”.
Discussão alargada à turma da Apresentação II.
Realização da saída de campo: “Visita ao Mosteiro
de Santa Maria de Arouca”.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE AROUCA ESCOLA SECUNDÁRIA DE AROUCA
Atividade prática
Estudo macroscópico e microscópico de rochas magmáticas
Introdução
Esta atividade pretende conhecer alguns dos critérios usados na classificação das rochas
magmáticas, realizar o seu exame macroscópico e identificar algumas das suas características. Tendo
consciência que só por exame microscópico a classificação mineralógica poderá ser mais fiável,
proceder-se-á a um trabalho prático de observação de lâminas delgadas, ao microscópio petrográfico,
para observar as propriedades e identificar os minerais constituintes das rochas magmáticas.
Material
Procedimento
3. A partir dos aspetos identificados anteriormente, elabore uma lista com alguns
critérios de análise de rochas magmáticas.
Resultados
- Aspetos/características observadas:
Conclusões
- Com os aspetos identificados, elabore uma lista com alguns critérios de análise de
rochas magmáticas.
Material
Resultados
Textura: grau de
Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Classificação
cristalinidade
Mais de 90% em volume de
Holocristalina
cristais
Vidro e cristais inferiores a 90% Hialocristalina
Mais de 90% em volume de
Holohialina
vidro
Quadro 3: Classificação em função do tamanho dos cristais
Conclusão
Amostra 1- ___________________
Amostra 2- ___________________
Amostra 3- ___________________
2 – Composição mineralógica de rochas magmáticas
Minerais Feldspato
Quartzo Biotite Moscovite Plagioclase Acessórios
Rocha potássico
A 19,9 29,0 14,6 4,3 30,4 0,9
B 27,1 26,1 14,0 3,1 28,3 1,4
3 - Exame microscópico
Material
- Microscópio petrográfico;
- Fichas de identificação.
Procedimento
Resultados
Legenda:
Ampliação: _____ X Nicóis:
- Paralelos ____
- Cruzados ____
Minerais:
ESCOLA SECUNDÁRIA DE AROUCA ESCOLA SECUNDÁRIA DE AROUCA
Atividade prática
Introdução
A rocha magmática que existe na vila de Arouca é o quartzodiorito, que se formou a grandes
profundidades e, atualmente, encontra-se em afloramentos expostos à ação dos agentes de
meteorização.
- Estufa
- Balança
- Placa de vido
Procedimento
2. Pese os 5 provetes;
3. Coloque os provetes na estufa a 40°C, e pese até que seja atingido um peso
constante (massa do provete seco – Pse);
4. Coloque os provetes na tina de vidro com a face identificada para cima, isolados
do fundo por uma rede;
5. Cubra os provetes com água destilada (que terá de ser adicionada sempre que
necessário);
Psa
Pse (g)
(g)
Amostra
sã
Ab
(%)
Psa
Pse (g)
(g)
Amostra
alterada
Ab
(%)
Psa Pse
Ab 100 (1)
Pse
Em que:
1. Indique por que motivo os provetes devem estar no interior da tina de água
cobertos por uma placa de vidro.
SAÍDA DE CAMPO
Guião do aluno
Duração: 60 minutos
Objetivos:
- Desenvolver nos alunos uma atitude crítica face à degradação dos monumentos;
- Bússola;
- Máquina fotográfica.
Organização:
Faz parte da aula de campo uma única paragem, junto ao Mosteiro de Santa Maria
de Arouca. Nesse local, terá de realizar as atividades propostas neste guia. Sempre que
surgirem dúvidas, deve solicitar esclarecimentos junto da professora.
INTRODUCÃO:
O Mosteiro de São Pedro data do século X. No ano de 1210 foi legado a D. Mafalda,
por seu pai, D. Sancho I, rei de Portugal. Nos séculos XV e XVI foram realizadas obras de
ampliação do mosteiro, datando o imponente edifício, tal como o vemos hoje, dos séculos
XVII e XVIII. Alberga no seu interior, entre outras estruturas, a igreja matriz.
ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO:
Do ponto de vista geológico, a área de visita situa-se na Zona Centro Ibérica (ZCI),
umas das zonas internas do Maciço Ibérico. As rochas metamórficas e graníticas que
afloram na região são o resultado dum conjunto de processos geológicos que
acompanharam a formação duma cadeia montanhosa durante o Paleozoico Superior—
Cadeia Varisca (Cadeia Hercínia).
Esta localidade é abrangida pelas cartas geológicas de Castelo de Paiva – folha nº13B
(escala 1/50000) e de Oliveira de Azeméis – folha nº 13D (escala 1/50000).
PERCURSO – PONTO DE PARTIDA ATÉ À CASA DOS MALAFAIAS
2 - Registe:
__________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
2 - Registe:
3 - Posicione-se em frente à porta principal do mosteiro. Indique qual a sua orientação. ____
4 - Observe com atenção as pedras que se encontram a constituir este edifício. Descreva-as
macroscopicamente preenchendo o quadro seguinte:
Minerais
Pedra Cor Granulometria Textura
constituintes
5 - Aproxime-se da porta principal da igreja. Tateie com a ponta dos dedos a superfície de
várias pedras que ladeiam esta entrada. Registe os factos que ocorrerem.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
8.1 - Considera que o tipo de pedra desta estrutura é igual a que analisou anteriormente? __
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
8.2 - Verifique se existem pedras de granolumetria diferente. No caso de existir faça a sua
distinção e o registo fotográfico.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
2 - Registe:
- a textura. ___________________________________________________________
- a cor. ______________________________________________________________
5 - Identifique as patologias observáveis neste maciço rochoso.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
5.1 - Discuta com os colegas sobre as possíveis causas do aparecimento destas patologias.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
AVALIAÇÃO: