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Novas exigências no consumo energético das bombas

Com a Directiva 2009/125/EC, em 21 de Outubro de 2009, o Parlamento Europeu e o Conselho da União


Europeia estabeleceram a criação de um quadro que definisse os requisitos de concepção ecológica dos
produtos relacionados com o consumo de energia, que é hoje conhecida como ErP (Energy-related Products)

.
Fig.1: Simbologia KSB para produtos que cumprem a directiva
O propósito desta regulamentação é o de atingir os objectivos “20/20/20” do protocolo de Kioto até 2020 (20 % menos de
gases com efeito de estufa, 20 % mais de energias renováveis e 20 % menos de consumo energético).

Estudos mostram que as bombas consomem 10% da electricidade mundial [1] e dois terços de todas as bombas consomem
até 60% de energia desnecessária [2].
Assim, se a globalidade dos sistemas de bombagem fossem convertidos para alta eficiência, teríamos uma poupança de 4%
no consumo global de energia, o que seria comparável ao consumo residencial de mil milhões de pessoas (quase a
população total da China) !!!

As bombas que não cumprirem não podem ser vendidas


Desde o início de 2013 só bombas que cumpram os requisitos mínimos desta directiva ErP podem ser produzidas. Isto quer
dizer que após o fim dos stocks ainda existentes deixará de ser possível fornecer bombas que não cumpram os requisitos.

Estes requisitos construtivos serão ainda mais apertados em 2015, tanto para bombas como para os motores eléctricos que
as accionam, e em 2017 a fasquia volta a subir para os motores.

Além de todos os produtos KSB aos quais se aplica esta directiva já cumprirem com as exigências ErP 2013, muitos já
cumprem neste momento também as exigências de 2015, como as bombas de água do tipo normalizado (Etanorm) ou os
circuladores (Rio-Eco). O nosso motor eléctrico SuPremE, mais eficiente do mundo (em motores síncronos livres de ímanes
permanentes aplicados a bombas), atinge mesmo a classificação IE4, excedendo assim já as exigências ErP de 2017 !!!

As etiquetas de classificação energética da UE (D, C, B, A, A+...) que todos conhecemos de alguns electrodomésticos, como
os frigoríficos, e que eram usadas voluntariamente na classificação de circuladores desde 2005, terminaram no final de
2012, já que na prática todos os circuladores teriam de passar a ter classificação A ou A+ (e isto só face à ErP 2013).
Não existem requisitos de simbologia na directiva ErP, pois só existem exigências mínimas, mas na KSB estes produtos
podem ser identificados pela simbologia “ErP 2013”, “ErP 2015” ou “ErP 2017” (ver fig. 1), através de etiqueta aposta no
próprio produto. Por outro lado, também o certificado de conformidade CE implica o cumprimento da ErP, pelo que o
utilizador/consumidor pode também garantir que os produtos estão a cumprir a legislação, através deste certificado.

Legislação, exigências e aplicabilidade


Relativamente às bombas, foram até ao momento elaborados três regulamentos resultantes da Directiva ErP. Estes aplicam-
se obrigatoriamente a todos os países da União Europeia, Suíça, Noruega e Turquia, e sobrepõem-se a qualquer lei nacional,
sendo que a responsabilidade de garantir a sua implementação cabe às entidades fiscalizadoras de cada país.

O primeiro destes três regulamentos é o 2009/640/EC, que se refere aos motores eléctricos e estipula requisitos mínimos
através de novos métodos e nomenclaturas para as classes de rendimento, baseando-se na norma IEC 60034-30 da
Comissão Electrotécnica Internacional.

Comparando com a legislação anterior (ver fig. 2) a antiga classe EFF2 corresponde à nova IE1(eficiência standard) e a
antiga classe EFF1 corresponde à IE2 (eficiência elevada), que desde 16 de Junho de 2011 é também o requisito mínimo
para comercialização na UE. Existem ainda as classificações IE3 (eficiência premium) e IE4 (eficiência super premium),
abrangendo agora motores de 6 pólos entre 0,75 e 375kW, para além dos de 2 e 4 pólos anteriormente abrangidos.

Fig.2: Comparação das classes de eficiência de motores


O diagrama da fig. 3 compara ainda a curva de eficiência de um motor KSB SuPremE (IE4) para uma potência de 7,5 kW e
1500 rpm, com a de um motor assíncrono IE3 de 2 pólos [3]. Através deste diagrama conclui-se que o motor KSB
SuPremE, associado ao variador de velocidade PumpDrive, permite uma elevadíssima poupança energética, especialmente
em regimes de carga parcial.
Fig.3: Eficiência a carga parcial, SuPremE vs IE3
O segundo regulamento, composto pelo 2009/641/EC + 2012/622/EC, estabelece um índice de eficiência energética para as
bombas circuladoras de rotor imerso (modelo Rio-Eco, da KSB).

O EEI (“Energy efficiency index”) é um número adimensional que relaciona a potência consumida pelo circulador com uma
potência de referência. Para esta referência foi escolhida a fronteira entre as classes D e E da etiqueta energética, classes
estas de baixa eficiência. Assim, um EEI de 0,27 significa que o circulador consome apenas 27% da potência de referência
(ou seja, de um circulador que esteja entre as classes D e E), sendo este valor (EEI=0,27) o mínimo exigido pela ErP 2013.
Actualmente o “benchmark” (o melhor da tecnologia) para este tipo de bombas é o EEI de 0,20, mas este valor não é ainda
exigido nem se prevendo que o seja a curto prazo. Mesmo assim, a grande maioria das bombas actualmente comercializadas
vai ser excluída do mercado, como se pode ver no gráfico da fig. 4.

Fig.4: Bombas circuladoras excluídas do mercado [4]


A principal causa desta enorme exclusão é o facto das bombas circuladoras sem variação de velocidade não cumprirem a
ErP 2013, pelo que desde 1 de Janeiro de 2013 que só podem ser comercializadas bombas circuladoras com variação de
velocidade.

O estudo preparatório para este regulamento revelou que são colocadas anualmente no mercado comunitário cerca de 14
milhões de bombas circuladoras, e que o seu principal impacto ambiental é o consumo energético (outros impactos menos
importantes são a produção e o desmantelamento da bomba), que ascendeu a 50 TWh em 2005, o que corresponde a 23
milhões de toneladas de CO2emitido para a atmosfera. Se não fossem adoptadas estas medidas, o consumo de electricidade
aumentaria para 55 TWh até 2020. Como o objectivo deste regulamento é reduzir esse consumo para 32 TWh em 2020, ele
vai conseguir uma poupança energética de 23 TWh (poupança de 42%), e evitar a emissão de 11 milhões de ton de CO2 para
a atmosfera (redução de 42%).
O terceiro e último regulamento, o 2012/547/EC, define um índice de eficiência mínimo para as bombas de água
normalizadas. São consideradas bombas de água normalizadas as bombas do tipo horizontal (modelos Etanorm, Etabloc e
Etachrom, da KSB), do tipo em linha/”in line” (modelo Etaline, da KSB), do tipo multicelular submersível (modelo UPA) e
do tipo multicelular vertical (modelo Movitec).

O MEI (“Minimum Efficiency Index”) é uma escala adimensional que especifica quantas bombas de água têm uma
eficiência inferior à da bomba em avaliação. Ou seja, uma bomba que tenha um MEI de 0.4, significa que 40% das bombas
disponíveis no mercado, têm uma eficiência inferior a esta, pelo que, quanto mais elevado for o MEI, melhor. Como se pode
ver na tabela abaixo, em 1 de Janeiro de 2013 foram excluídos do mercado os 10% de bombas com pior eficiência, e em 1
de Janeiro de 2015 serão excluídos os 40% com pior eficiência.

Por outro lado, este regulamento acrescenta uma nova exigência que é, como as bombas são muitas vezes utilizadas a carga
parcial, obrigar os fabricantes a produzirem bombas com bons rendimentos fora do ponto de melhor eficiência (BEP - Best
Efficiency Point), ou seja, com curvas de eficiência mais planas, em vez de tomarem a opção fácil de produzirem bombas só
com boa eficiência no BEP. Este objectivo é conseguido incluindo no cálculo do MEI, não só eficiências mínimas
requeridas para o BEP, mas também para os pontos de caudal 75% do BEP e 110% do BEP (ver fig. 5).

Fig.5: Representação gráfica do cálculo do MEI


O estudo preparatório para este regulamento, realizado a nível Europeu em 2010, mostra mais uma vez que o consumo
energético é o aspecto ambiental mais significativo do ciclo de vida das bombas, e que o consumo anual de electricidade das
bombas de água ascende a 109 TWh, o que corresponde a 50 milhões de ton. de CO2 emitido.

Apesar de em termos do conjunto bomba + motor este regulamento prever uma melhoria da eficiência energética na ordem
de 20% a 30%, a poupança energética prevista com a aplicação deste regulamento é de 2% (3 TWh, de 136 TWh previstos
para 2020 se estas medidas não fossem aplicadas, para 133 TWh), pois este regulamento apenas se aplica à componente
bomba, onde a tecnologia de ponta actual está perto dos seus limites.
A implementação temporal destes regulamentos é a seguinte:

* Excepção: Bombas circuladoras especialmente concebidas para circuitos primários de sistemas solares térmicos ou integradas em
bombas de calor. Estas podem ser controladas pelo equipamento onde serão incorporadas e assim obter uma correcção da velocidade
específica.
Toda a legislação pode ser consultada em http://eur-lex.europa.eu/pt/index.htm. De notar que toda esta legislação não
tem aplicação retroactiva, pelo que não é obrigatório reconverter sistemas existentes.

A ErP na prática: um exemplo concreto


Produzir bombas gasta energia, mas uma análise típica dos seus Custos do Ciclo de Vida mostra que 95 a 97% do impacto
ambiental se deve ao consumo de energia durante o funcionamento da bomba. No início, devido ao seu mais elevado
investimento inicial, podem existir resistências à aquisição de um sistema de bombagem de elevada eficiência, mas é
preciso considerar que o tempo médio de retorno do investimento se situa entre 1 a 5 anos. Para além disto, a poupança na
factura da electricidade é imediata.

Se tomarmos como exemplo [5] um circuito fechado de um sistema de ar condicionado para refrigeração de uma unidade de
produção fabril (ver fig. 6), e introduzirmos como medida de optimização energética, a substituição de uma das bombas
instaladas pelo seguinte sistema KSB com variação de velocidade:
Bomba de água normalizada monobloco, modelo Etabloc, de 18.5kW, com motor síncrono KSB SuPremE® + variador de
velocidade PumpDrive + sensor diferencial de pressão inteligente PumpMeter

Obtém-se uma redução no consumo de energia de 500 para 129 kWh.

Para o perfil de carga desta instalação, a essa redução no consumo corresponde uma poupança de energia de aprox. 371
kWh/dia.

Para o nº de horas de funcionamento desta instalação, e considerando um custo de electricidade de 9 cêntimos por kWh,
temos uma poupança de € 15,700/ano, que significa a uma poupança energética de 75%

A redução emissões de CO2 neste caso é de 1.900 ton/ano, da mesma ordem de grandeza que a poupança energética (75%).
São boas notícias para o ambiente e para a sua empresa.

Fig.6: Distribuição dos custos do ciclo de vida da bomba industrial do exemplo


Conclusão
A concepção ecológica das bombas e dos motores constitui um elemento essencial para a poupança de energia e redução
das emissões de CO2 a nível global. Esta nova legislação representa uma abordagem preventiva, que pretende optimizar o
desempenho ambiental dos produtos, sem prejudicar a sua funcionalidade, e apresenta novas e efectivas oportunidades de
melhoria para o fabricante, para o consumidor, para as indústrias e para a sociedade em geral.
Estamos convictos que esta nova legislação vai contribuir de forma decisiva para um melhor futuro do nosso planeta, e que
a fundamental cooperação de todas as partes envolvidas, sejam utilizadores/consumidores, instaladores, entidades
fiscalizadoras, distribuidores ou fabricantes, irá torná-la um verdadeiro sucesso.

Rui Figueiredo, Depto. Edifícios


[1] IEA Report 2009, IEA Statistics, CO2 Emissions from fuel combustion
[2] Almeida, Anibal T. et al; EuP Lot 11 Motors Final Report, Universidade de Coimbra, Dezembro 2007, p: 68
[3] Dipl.-Ing. M. Wiele, Dr.-Ing. Peter F. Brosch, Hannover University of Applied Sciences. Perfil de carga de acordo com os
requisitos da etiqueta de eficiência energética “Blue Angel”.
[4] Europump, 2009
[5] Estudo realizado na Continental ContiTech Vibration Control GmbH, Alemanha

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