Mesmo que os livros do Tanach (A Torá e os Profetas)
devam ser entendidos de forma simples, ou seja, o entendimento em seu contexto simples é verdadeiro, no entanto, muitas outras informações se encontram “por trás” do texto. Por exemplo, toda história contada no Tanach é também uma alusão a um outro tema em um outro nível de entendimento (os dois temas estão relacionados, porém em outro nível).
Assim, vemos no Livro de Yona, que em seu contexto simples se
trata da história de um profeta que tenta fugir da ordem que recebeu de Hashem, e em um outro nível de entendimento este livro é uma alusão à uma pessoa que quer viver segundo os seus desejos, fugindo de suas responsabilidades, como vamos mostrar em seguida, segundo os comentários do livro “Aderet Eliahu” do grande sábio R. Eliahu de Vilna Z”l - R. Eliahu ben Shlomo Zalman - (mais conhecido como Hagr”ó ou Hagr”á).
O CORPO E A ALMA Comentário ao livro de Yona baseado no livro Aderet Eliahu
O livro de Yona é também uma alusão à alma de um ser humano
(como consta no Zohar), que foi enviada para ajudar a melhorar este mundo. Porém, uma vez que não o melhorou e, além disso, ainda prejudicou a si própria, ela foi depois reenviada, em uma reencarnação, para completar sua missão, o que fez com muito sofrimento, em virtude de sua má sorte, como vai ser explicado em seguida. As seguintes entidades da história, estão simbolizadas da seguinte maneira:
O profeta Yona- alusão à alma.
O barco- alusão ao corpo.
O mar- alusão a este mundo.
As ondas- alusão aos sofrimentos que a pessoa passa neste mundo. As outras importantes entidades da história, terão seus símbolos mencionados no decorrer do comentário.
Quando Yona entrou no barco e desceu para o mar, também está
sendo insinuado que, em outro nível, a alma da pessoa entrou dentro do corpo e começou a viver neste mundo. Em vez de Yona ir para Nineve, ele quis fugir para Tarshish, e isto também é uma alusão à pessoa que em vez de cumprir com a vontade de Hashem, resolveu seguir os seus desejos. Quando Yona paga o valor de todo o barco para ele partir imediatamente (ver cap. I, vers. 3), este ato também se refere à pessoa que está rendida aos seus desejos, ansiosa em os satisfazer logo, dando até "pagamentos", ou seja, comprando os prazeres para o seu corpo, sem levar em consideração se esses atos são permitidos, ou não. "E Yona se levantou para fugir da presença do Eterno" (cap. I vers. 3). Isto tambèm se refere à pessoa que pensa que pode fugir de Hashem. Então, “O Eterno fez soprar um grande vento sobre o mar” (cap. I, vers. 4), aludindo ao atributo da justiça de Hashem. No princípio foi decretado que esta pessoa ficaria doente, porém, em seguida foi decretado que ela deixaria este mundo. As pessoas têm a tendência de viver sentindo que a vida é eterna, porém quando a situação é delicada vem a consciência de que a vida pode terminar a qualquer momento, como está insinuado no cap. I, vers. 4: "e pensaram que o barco (que é uma alusão ao corpo) iria se romper".
Os marinheiros- simbolizam os elementos que dirigem o corpo,
como o cérebro, o coração e as demais forças. "Os marinheiros ... lançaram ao mar os utensílios que se encontravam no navio" (cap. I, vers. 5), pois uma pessoa doente retira de sobre o seu corpo todo o excesso de peso para não incomodar. "Yona desceu para extremidade (no fundo) do navio e deitou-se e adormeceu" (cap. I, vers. 5), também é uma alusão a alma que desceu para a parte inferior do corpo (“fundo do navio”) e deitou-se na cama, enferma, e adormeceu, como acontece, geralmente, no último dia de vida em que a pessoa é tomada pelo sono.
O Capitão- simboliza o principal orgão do corpo, que lhe permite
continuar a viver, ou seja, o coração, o bom senso. Neste momento vem a voz do coração e fala “levanta-te e clama ao teu Deus”(cap. I, vers.6). “E (os passageiros) falaram entre eles: vamos fazer sorteios e saberemos quem é o responsável por todo este mal que veio sobre nós” (cap. I, vers,7), em outro nível isto alude ao Começo de uma investigação para saber o que foi que transgrediu e causou todo este mal, e qual foi o órgão de seu corpo responsável por esta transgressão... “E a sorte caiu sobre Yona”, ou seja, a alma da pessoa foi considerada culpada, pois, caso ela fosse boa, teria transformado todo o corpo para o bem. “E os homens sentiram um grande temor do Eterno” (cap. I, vers. 10), pois nesse momento a pessoa é julgada por todos os seus atos e recebe sobre si a justiça do Eterno. “E os homens remaram para retornar à terra..” (cap. I, vers.13). Isto denota o esforço para retornar ao bom caminho. Porém, a morte já tinha sido decretada, como está escrito em continuação: “e não podiam pois o mar estava cada vez mais violento”. “E pegaram Yona e o lançaram ao mar”(cap. I, vers.15), que se refere ao momento em que a alma foi retirada do corpo.
O peixe- alusão ao túmulo e também ao anjo encarregado dos
mortos.
"E esteve Yona nas entranhas do peixe três dias e três
noites”(cap.II, vers.1), pois todos os três primeiros dias, após a morte, a alma quer voltar para o corpo, enquanto se encontra sobre ele. Porém, depois de três dias quando a alma percebe que o corpo começa a se danificar, ela o deixa. No versículo 1 do cap.II a palavra “peixe” está escrita no gênero masculino (aludindo ao anjo encarregado dos mortos) e no versículo 2 está escrita no gênero feminino (aludindo ao local onde a alma será purificada). Pois no princípio o anjo encarregado dos mortos recebe a alma do falecido, e depois a leva para o local onde será purificada ("gueinom"), como está escrito no versículo 3: "das entranhas da tumba gritei", que é uma alusão à alma que se encontra no local em que está sendo purificada... “E eu falei fui ocultado diante de Teus olhos, porém eu tornarei a ver teu santuário” (cap.II, ver. 5), pois uma vez que a alma está sendo purificada ela sabe que isto é um sinal de que ela está sendo preparada para ter continuidade, ou seja, terá uma porção no mundo vindouro. “Quando minha alma estava aflita, eu me lembrei do Eterno ...” (cap. II, vers.8 ). Agora a alma começou a lembrar dos bons atos que fez antes de morrer. Embora o seu arrependimento não tenha sido completo, ele foi suficiente para que a alma se elevasse, após passar pelo processo de purificação. "E falou o Eterno ao peixe, e (o peixe) vomitou Yona na terra seca" (cap. II, vers. 11). Então Hashem fala ao anjo responsável das almas para que a traga de regresso, e o anjo a retorna ao "Gan Eden" (o mundo das almas). Em seguida, em uma alusão à reencarnação, Hashem envia esta alma de regresso para consertar o mal realizado e cumprir com sua função, como está escrito no Cap III, vers.1: "E esteve a palavra do Eterno novamente com Yona, falando: Levanta-te e vai à Nineve...". Este comando do Eterno a Yona alude à reencarnação. E nesta nova reencarnação esta pessoa conseguiu cumprir sua função, como está insinuado no vers.3: "E Yona se levantou e foi a Nineve, conforme a palavra do Eterno". Porém, uma vez que na vida anterior sua alma não viveu da maneira correta, ela teve que passar por dificuldades nesta nova vida, como está insinuado no cap. IV vers. 1: "E Yona se sentiu muito mal...", pois tinha sido decretado (nesta nova vida), dificuldades financeiras (e também dificuldades em outros aspectos de sua vida), como está escrito no livro do “Zohar”, a pessoa que viveu de forma errada em uma vida, na próxima passará por dificuldades, mesmo que ela seja justa. Na continuação do vers.1 do cap. IV,"...E ficou furioso" é uma alusão à inveja que começou a sentir das outras pessoas que tinham sucesso também no aspecto financeiro (uma vez que se encontrava em grandes dificuldades e, provavelmente, via no sucesso financeiro a redenção de suas dificuldades, que eram de outra ordem), “E rezou ao Eterno...” (cap. IV, vers. 2). “E falou o Eterno (a Yona): Por acaso ficaste assim tão furioso?”, ou seja, no outro nível, por acaso é bom ter inveja das outras pessoas? E Hashem não atendeu suas rezas, então a pessoa resolveu se afastar dos negócios, (uma vez que não tinha sucesso) e se dedicar exclusivamente ao estudo da Torá, conforme está insinuado no vers.5 :"E Yona saiu da cidade e fez para si uma cabana etc.". E ali continuou, no estudo da Torà, até que pudesse ver sua sorte mudar. E vivia sempre na expectativa de ter uma sorte melhor para os negócios, com está insinuado: "...até ver o que se passaria com a cidade", como está escrito na continuação do vers.5. Em seguida, Hashem quis mostrar a esta pessoa que o principal é o sucesso espiritual e não o material, conforme está insinuado: "E preparou o Eterno Deus o "Kikaion" (uma planta) que subiu por cima de Yona para fazer sombra sobre sua cabeça e salvá- lo de seu mal, e Yona sentiu uma grande felicidade por causa do “Kikaion” (cap. IV, vers. 6). Esta planta é uma alusão à riqueza e uma vez que esta pessoa recebeu o que desejava sentiu uma grande felicidade. Porém, Hashem continuou com o seu plano, e fez com que esta pessoa perdesse toda a sua riqueza e voltasse para sua situação anterior, para mostrar que este mundo não é o objetivo final, como está insinuado no vers, 7: "E preparou Deus um verme... que cortou a planta e ela secou". Na seqüência no vers.8, está escrito: "e pediu para sua alma (se separar dele para) morrer, e falou: " (Eu) prefiro a minha morte (mais do que) a minha vida", isto alude à pessoa que começou a ter sucesso nos negócios deixou de estudar Torá, e quando sua sorte voltou a piorar ficou sem os negócios e sem a Torá. Desta forma, Hashem fez com que ela entendesse que o principal não é o sucesso neste mundo passageiro, e sim o sucesso no aprimoramento pessoal e no crescimento espiritual (que são eternos). No caso desta pessoa o sucesso no aspecto material atrapalhava o seu desenvolvimento espiritual, e toda a sua má sorte nos negócios, na verdade, era para o seu próprio bem. E isto foi provado quando sua sorte mudou ao ele começar a investir, principalmente, para ter sucesso nos temas relacionados a este mundo passageiro, e deixou de lado o seu mundo eterno. Portanto, não havia nenhum motivo verdadeiro para que ele invejasse os seus companheiros. [para outras informações ver os comentários originais do livro Aderet Eliahu]. Para Pensar
Nossos sábios nos ensinaram (livro Michtav MeEliahu, parte IV,
página 120) que, hoje em dia, praticamente todos nós somos reencarnações, ou seja, já vivemos em outra (ou outras) vida (s) e regressamos para consertar o que não foi consertado e nos completar. Como poderemos saber o que viemos consertar e assim aproveitar esta nova oportunidade que nos foi dada?
Através de dois sinais nós podemos receber a resposta:
a) pensar em uma transgressão (ato proibido pela Torá) que nós cometemos muitas vezes [portanto temos que trabalhar nossas qualidades (características) para consertar este aspecto]. b) pensar qual é a transgressão onde o desejo de transgredir é muito forte, pois uma vez que a pessoa se acostumou com esta transgressão (na vida anterior), ela passou a fazer parte da sua natureza. Para permitir a pessoa consertar os erros cometidos em sua vida anterior ela será posta nesta reencarnação em provas referentes aos mesmos temas em que falhou anteriormente, e caso consiga passar pelas provas com exito, também consertará o que errou em sua vida anterior (Shaarei Emuná 170 comentário 10).