Professional Documents
Culture Documents
Entrevistado Conteúdo
Seu Domingos Conta sobre a história dos aterrados Guató
e fala das constantes expulsões da terra as
quais sobreviveu (processo de
desterritorialização)
Seu Amâncio Conta sobre o uso de ervas medicinais
indígenas
Sr. Rondon Conta sobre a época de sua vida
trabalhado em fazendas, realidade comum
de muitos índios Guató, e aproveita para
dar explicações sobre a “religião” desses
índios, já que Pizzini mostrou-se bastante
interessado em assuntos de caráter
“espiritual”
Maria Rita (professora) Conta a sua longa relação de vida com os
Guató e o ensino de disciplinas escolares
Dona Leonilza Relembra cantigas e rezas de infância (em
português)
Dona Maria Oferece um depoimento sobre o motivo de
os índios não falarem mais a língua, bem
como diz em Guató algumas palavras e
sentenças das quais selembra
Vicente (atualmente último falante de Diz algumas sentenças em Guató na
Guató) presença de Dona Maria
Tabela 1. Entrevistados de Pizzini e resumo do conteúdo de suas entrevistas.
Arquivo 69:1
n-ógógɨ-̃ jo
IND-beber.água-1SG
‘eu bebi água’
Arquivo 70:
na-kí-ga-jo g-otý go-d͡ʒékɨ ̃
IND-pescar-PONT-1SG DET-piranha DET-rio
‘eu pesquei piranha no rio’
Arquivo 71:
na-kí-o go-d͡ʒékɨ ̃
IND-pescar-1SG DET-rio
‘eu pesquei no rio’
Arquivo 72:
na-kɨń i-o máké
IND-dormir-1SG ontem
Arquivo 73:
na-kɨń i-o gínɛ
IND-dormir-1SG aqui
‘eu dormi aqui’
Arquivo 74:
na-gũ-na-jo g-épago
IND-matar-?-1SG DET-bicho
‘eu matei bicho’
Arquivo 75:
na-gũ-ga-jo g-épago
IND-matar-PONT-1SG DET-bicho
1
Abreviação para glosas: 1 – primeira pessoa; 2 – segunda pessoa; SG – singular; DET – determinante;
PONT – pontual; DESC – descritivo; EP – epêntese; INTR – intransitivizador.
‘eu matei bicho’
Arquivo 76:
na-gũ-jo go-gáre-d͡ʒ-ajɛ́
IND-matar-1SG DET-branco(não-índio)-EP-ave
‘eu matei galinha (ave do branco, do não-índio)’
Arquivo 77:
na-gũ-jo go-gáre-d͡ʒ-ajɛ́ máké
IND-matar-1SG DET-branco(não-índio)-EP-ave
‘eu matei galinha ontem’
Arquivo 78:
dágwá nuni-gɨ-̃ rehe? (rehe pronunciado como rihe - fonética)
onde trabalhar-INTR-2SG
‘onde você trabalha?’
Arquivo 79:
dágwá nuni-gɨ-̃ rehe? (rehe pronunciado como rihe - fonética)
onde trabalhar-INTR-2SG
‘onde você trabalhou?’
Arquivo 80:
dágw(á) ógógɨ-̃ rehe?
onde beber.água-2SG
‘onde você bebe água?’
Imagem 1. A Dra. Bruna Franchetto apresenta itens lexicais aos Guató da TI Baía dos
Guató (MT), que os desenham.
Imagem 5. Corixo do Bebe, pequeno filete de água que leva à entrada da casa de encontro
da Aldeia Coqueiro. Tal como contam os registros históricos sobre os Guató (cf. Schdmit
1942[1905]), os Guató não possuiam aldeiamento fixo. Deste modo, a aldeia atual da TI
Baía dos Guató (MT) encontra-se espalhada em casas nas beiras dos rios do Pantanal da
região das cidades de Poconé e Barão de Melgaço.
A fim de obter mais dados para compor o acervo digital Guató, em Outubro de
2016, Gustavo Godoy foi ao Morro do Caracara, na barra do Rio São Lourenço (MT),
pois soubera que lá vivia um falante idoso do Guató. Gustavo encontrou-o. Ele se chama
Vicente e atualmente pode ser definido como um “lembrante” de sua língua, uma vez que
não faz mais uso dela diaramente, logo, alguma parcela de seu conhecimento gramatical
sobre o Guató foi perdido. Apesar disso, Vicente é um falante bem “fluente”, no sentido
de que Godoy conseguiu registrar frases e palavras com ele durante dois dias. No terceiro
dia, foi expulso por Vicente, sem motivo aparente. Vicente simplesmente se irritara com
sua presença. Tal comportamento arisco já é conhecido por todos que com ele tiveram
contato, de modo que algumas pessoas suspeitam um pouco de sua saúde mental.
Hermitão, vive sozinho e assim evita contato com outras pessoas, por mais que uma vez
por mês vá à cidade de Corumbá (MS) para receber sua aposentadoria.
Ao voltar para Corumbá (MS), Godoy soube, através do Sr. Porfírio, filho da
falecida Francolina Rondon, que era falante de Guató, que em Corumbá (MS) existia
ainda outra falante da língua, a Dona Eufrásia Ferreira. Sem conhecê-la, Godoy foi atrás
dela. Encontrou-a vivendo numa região pobre de Corumbá (MS), próximo à Avenida
Gonçalves Dias, uma das principais da cidade. Eufrásia Ferreira vive atualmente com seu
marido Seu Geraldo, que é cego, e os dois filhos dele. Tem também problemas de saúde:
a pressão às vezes sobe e, para piorar, pouco escuta em um de seus ouvidos graças a um
acidente pelo qual passou faz alguns anos. Mesmo com essa situação triste, Eufrásia
colaborou imensamente com Godoy, tentando lembrar o que pudesse de sua finada língua,
de modo que Godoy saiu de lá com a promessa de retornar para realizar novas gravações.
No geral, a visita resultou em depoimentos gravados sobre a vida dessa senhora e
conteúdo linguístico inédito. Tais gravações também fazem parte do acervo digital Guató.
Imagem 8. Dona Eufrásia Ferreira e Gustavo Godoy em Corumbá (MS), Rua Goiás.
Em 20 de fev. 2017.2
(1)
dúni g-opíga a-d͡ʒɯ́-ɾu mani go-gɯ̃
dois DET-onça 1SG-ver-1SG esse DET-água
Literalmente: minha visão é de duas onças na água
‘eu vi duas onças na água’
(2)
dúni gwa-dúníhi
dois 2SG-irmão
‘você tem dois irmãos’
(3)
go-ped͡ʒeo ͡tʃéne-gɯ̃ go-tagáho
DET-marido um-RES DET-violão
‘meu marido tem só um violão’
(4)
g-évɯ́ dúni e-bɯ́ mani i-pána g-ikó
DET-mulher dois 3SG-assar esse 3SG-rabo DET-jacaré
‘a mulher assou dois rabos de jacaré’
(5)
dúni g-ókwé ̃ gwa-bɛ-ɾo mani i-d͡ʒé g-adá
2
Abreviação para glosas: 1 – primeira pessoa; 2 – segunda pessoa; 3 – terceira pessoa; SG – singular;
DET – determinante; PONT – pontual; PROG – progressivo; IPFV – imperfectivo; PER – permansivo;
IND – indicativo; DESC – descritivo; RES – restritivo; INTS – intensificador.
dois DET-bugio PROG-3SG-comer esse 3SG-fruta DET-árvore
‘dois bugios estão comendo fruta da árvore’
Em 21 de fev. 2017
(6)
aɾio-díxúmu-gɯɾɯ mani gwa-d͡ʒɯ́ g-ókwé ̃
DESC-ser.pouco-INTS esse 2SG-ver DET-bugio
‘você viu pouquíssimo bugio’
(7)
ohe ma-gwa-ɾo maku g-ogwákwá
você IPFV-2SG-comer todo DET-pacu
‘você comeu todo (completamente) pacu’
Em 22 de fev. 2017
(8)
g-évɯ́ ma-e-dóki dúni go-t͡ʃãpokɯ mani go-gɯ̃
DET-mulher IPFV-3SG-trazer dois DET-pinga esse DET-água
‘a mulher trouxe duas garrafas de pinga’
(9)
aɾio-fɛ́ mani gwa-ofɯ́
DESC-ser.grande esse 2SG-chapéu
‘teu chapéu é grande’
(10)
na-d͡ʒɯ́-ga-i ͡tʃúmu g-ógwa mani g-afó
IND-ver-PONT-1SG três DET-sangue esse DET-chão
‘eu vi três sangues (pingos de) no chão’
(11)
aɾio-pṹ g-ogwákwá mani g-odá aɾio-pého
DESC-ser.muito DET-pacu esse DET-cesta DESC-estar.cheio
mani g-odá g-ogwákwá
esse DET-cesta DET-pacu
Literalmente: o pacu na cesta é muito, a cesta está cheia de pacu’
‘tem muito pacu na cesta e ela (a cesta) está cheia de pacu’
(12)
aɾio-pṹ mani g-ikó tokugwa-ni mahĩ go-pɯ́
DESC-ser.muito esse DET-jacaré estar.deitado-PER lá DET-calor
Literalmente: os jacarés são muitos, eles estão deitados lá no calor
‘tem muito jacaré deitado lá no calor (no sol, tomando sol)’
(13)
gwa-gí ma-t͡ʃógá go-ta
2SG-mãe IPFV-morrer DET-fogo
‘sua mãe morreu no fogo (se queimou)’
Em 23 fev. de 2017
(14)
ma-d͡ʒɯ́-jo dúni go-vɛ
IPFV-ver-1SG dois DET-chuva
Literalmente: eu vi duas chuvas
‘choveu duas vezes’
(15)
͡tʃúmu gwa-dóki mani go-tí
três 2SG-trazer esse DET-farinha
‘você trouxe três farinhas (pacotes de)’
(16)
ohe ma-gwa-dóki mani go-ɾɯ ma-gwa-góhɛ dúni... dúni go-ɾɯ
você IPFV-2SG-trazer esse DET-carne IPFV-2SG-fritar dois... dois... DET-carne
‘você trouxe carne e fritou as duas carnes’
(17)
ohe na-tá-piná-he
você IND-querer-urinar-2SG
‘você quer urinar’
(18)
aɾio-dít͡ʃúmu gwa-piná
DESC-ser.pouco 2SG-urinar
Literalmente: tua urina foi pouca
‘você urinou pouco’
(19)
ma-kɯnia-he
IPFV-vomitar-2SG
‘você vomitou’
(20)
͡tʃúmu a-d͡ʒɯ́-ɾu mani go-kɯnia
três 1SG-ver-1SG esse DET-vômito
‘eu vi três vômitos (poças de)’
Na viagem, Alves e Godoy também conversaram com alguns Guató que vivem na
periferia de Corumbá (MS), próximos a Eufrásia. Infelizmente, eles não deixaram gravar
suas conversas, mas os pesquisadores anotaram em caderno de campo o necessário para
saber mais sobre o processo de desaparecimento da língua. Todas as informações
coletadas, juntas com outras que já tinham sido obtidas pela equipe da UFRJ no
subprojeto, serviram de base para um dos produtos consequência do trabalho de criação
do acervo digital, isto é, de documentação da língua Guató. Este produto foi um artigo
escrito pela Dra. Bruna Franchetto em parceria com Gustavo Godoy intitulado “Primeiros
passos da revitalização da língua Guató: uma etnografia”, publicado na Revista
LinguíStica (UFRJ), em que os autores contam a experiência do até então levantamento
de dados étnicos e linguísticos sobre os Guató, bem como o contato com Vicente e
Eufrásia. Detalham também as relações de parentesco desses últimos falantes a fim de
traçar os últimos vestígios existentes da língua que outrora dominou as terras baixas do
Pantanal.
Durante a primeira metade de 2017, o trabalho de Alves e Godoy centrou-se em
armazenar o material linguístico obtido com Eufrásia em campo e transcevê-lo para que
pudessem estudar os assuntos gramaticais que tinham interesse. Abriu-se, logo assim,
uma nova possibilidade de viagem, agora mais longa, para a TI Baía dos Guatós e,
novamente, para Corumbá (MS). O novo objetivo da viagem, sendo esta a quarta da
equipe da UFRJ e que aconteceu nos meses de Julho e Agosto de 2017, era de realizar
uma segunda Oficina de Revitalização da Língua Guató. Essa oficina aconteceu na TI
anteriormente visitada em Mato Grosso e na cidade de Corumbá (MS).
Na TI Baía dos Guató (MT), a oficina ocorreu dos dias 10 a 15 de julho. Nela,
foram trazidas novas palavras para os índios canoeiros: um léxico para comida, bebidas
e objetos relacionados a eles. Foram exploradas também expressões para convidar alguém
para comer e foram lembrados so nomes de animais aprendidos na primeira oficina.
Ainda, foram feito uso de cartões ilustrados com os nomes dos animais para que fosse
possível realizar um jogo da memória com as crianças. Os cartões foram desenhados por
uma amiga de graduação de Alves, que se chama Beatriz Alves. Os numerais não foram
esquecidos, tendo sido apresentados por Alves no penúltimo dia da oficina.
Em Corumbá (MS), o objetivo da oficina foi diferente. Este era de capacitar os
professores indígenas sobre aspectos da gramática da língua. Os temas ensinados foram:
pronomes pessoais; marcadores possessivos e léxico para partes do corpo; léxico para
relações de parentesco, que em Guató se beneficiam dos marcadores possessivos; verbos
descritivos, transitivos e intransitivos; a morfologia do aumentativo e diminutivo dos
nomes; composição de palavras; partículas temporais; termos para cores.
Os termos para cores do Guató vieram de Eufrásia Ferreira, pois foram elicitados
por Kristina Balykova, que desta vez acompanhou Alves e Godoy durante a quarta
empreitada Guató. Isso se deu porque Balykova tinha interesse particular em termos que
modificam nominais, tais como as palavras para cores, quando se diz ‘o cachorro preto
mordeu a galinha branca’ (termo para cor em posição adjetiva) ou ‘o cachorro é branco e
a galinha é preta’ (termo para cor em posição predicativa).
A seguir, algumas fotos que registram momentos da segunda Oficina.
Imagem 10. Alves, Godoy e Balykova durante a oficina na TI Baía dos Guatós (MT).
Alves fala.
Imagem 11. Balykova coordena jogo da memória com cartões ilustrados e que contém o
nome de animais em Guató.
Na nova visita a Eufrásia, Alves e Godoy continuaram a elicitar termos para
numerais em sentenças. Procuraram também sentenças com verbos descritivos. Termos
para cores também se fazem presente. Algumas sentenças elicitadas em alguns dos dias
desta viagem seguem. Vale dizer que essas sentenças e as outras aqui não reproduzidas
estão todas salvas para serem parte do acervo digital Guató.
Em 21 de julho. 20173
(1)
dúni-gɯ̃ mani a-ɾo-ɾu go-ma
dois-RES esse 1SG-comer-1SG DET-mandioca
‘eu comi só duas mandiocas’
(2)
dúni ditɛ́ aɾio-fɛ́ gw-itɛ́
dois abóbora DESC-grande 2SG-abóbora
‘duas abóboras, tuas abóboras grandes’
(3)
dúni iku goma
dois pedaço DET-mandioca
‘dois pedaços de mandioca’
(4)
͡tʃéne-gɯ̃ mani go-kádidiá mateɲo gínɛ it͡ʃa g-óvɯ
um-RES esse DET-menino entrar aqui dentro DET-casa
‘só um menino entrou dentro da casa’
(5)
aɾio-fɛ́ mani go-dɛ́ i-óvi iá mani g-évɯ́
DESC-grande esse DET-homem 3SG-perna COMP? esse DET-mulher
‘a pernado homem é grossa e a da mulher também’
(6)
aɾá-kwó mani go-ve g-áɾót͡ʃa aɾ-ákó-d͡ʒĩ
DESC-ser.branco esse DET-cachorro DET-gato DESC-ser.branco-GEN
‘o cachorro e o gato são brancos’
(7)
mani g-évɯ́ ma-e-ɾo mani go-ma iá mani
esse DET-mulher IPFV-3SG-comer esse DET-mandioca COMP? Esse
3
Abreviação para glosas: 1 – primeira pessoa; 2 – segunda pessoa; 3 – terceira pessoa; SG – singular;
DET – determinante; PONT – pontual; PROG – progressivo; IPFV – imperfectivo; PER – permansivo;
IND – indicativo; IMP – impererativo; DES – desiderativo; DESC – descritivo; RES – restritivo; GEN –
generalizador; COMP – comparação.
go-dɛ́ ma-e-ɾo mani go-ma
DET-homem IPFV-3SG-comer DET-mandioca
(8)
na-gu mani go-gɯ̃ go-rákwá
IND-ter esse DET-água DET-gelado
‘tem água gelada aí’
(9)
͡tʃúmu-gɯ̃ go-xéváj mani gwa-ɾo
três-RES DET-prato esse 2SG-comer
Literalmente: tua comida foi de duas pratos
‘você comeu dois pratos (de alguma coisa)’
(10)
aɾo-did͡ʒáví mani i-ofá g-évɯ́
DECS-ser.pequeno esse 3SG-peito DET-mulher
‘o peito da mulher é pequeno’
(11)
aɾo-rákwá mani go-gɯ̃
DESC-estar.frio esse DET-água’
‘água está fria’
(12)
aɾio-pɯ́ mani g-ípɛ́
DESC-estar.quente esse DET-café
‘o café está quente’
(13)
ohe n-ípɛ́-he
você IND-ser.preto-2SG
‘você é preto’
(14)
n-ákwó ohe n-akwó-he
IND-ser.branco você IND-ser.branco-2SG
‘branco, você é branco’
(15)
ohe na-gwa-pó mani i-gɯ̃ go-gwád͡ʒá
você IND-2SG-tomar.baldo esse 3SG-água DET-banana
‘você tomou caldo de banana’
Em 28 de julho. 2017
(16)
ohe na-gwa-ɾo mani go-t͡ʃámo
você IND-2SG-comer esse DET-arroz
‘você comeu arroz’
(17)
dúni-gɯ̃ mani a-d͡ʒɯ́-ɾu go-t͡ʃéuvɯ́
dois-RES esse 1SG-ver-1SG DET-gente
‘eu vi só duas pessoas’
(18)
go-t͡ʃéne-ti gu-gwa-tóki ma g-égɯ̃tí
DET-um-? ?-2SG-trazer esse DET-peixe
‘me traz um peixe’
(19)
go-dúni-ti gu-gwa-tóki g-ogwákwá
DET-dois-? ?-2SG-trazer DET-pacu
‘me traz dois pacus’
(20)
ohe n-iadɛ́-he
você IND-estar.grávida-2SG
‘você está grávida’
Em 31 de julho. 2017
(21)
aɾa-tɔ́ mani g-ikwahu i-rɯ
DESC-ser.duro esse DET-senimbu 3SG-carne
‘a carne do senimbu é dura’
(22)
giri g-íbɔ́ ar-ákwó
este DET-pato DESC-ser.branco
‘este pato é branco’
(23)
dúní-hi go-t͡ʃéuvɯ́ mani gwa-bɛ-t͡ʃa g-íbɔ́ i-kɯ́
dois-? DET-gente esse PROG-3SG-limpar DET-pato 3SG-pena
‘duas pessoas estão limpando o pato (tirando as penas dele)
(24)
gadi-a-tá-ɾo-ɾu giri g-íbɔ́
NEG-DES-1SG-comer-1SG este DET-pato
‘eu não quero comer este pato’
(25)
aɾ-étɯvɯ mani g-ikã́ na áho
DESC-ser.bonito esse DET-aracuã cantar
‘o aracuã cantou bonito’
(26)
na-tá-ɾo-gadi mani g-ípí
IND-DES-comer-hab? Esse DET-tatu
‘eu quero comer tatu
Em 1 de agosto. 2017
(27)
͡tʃúmu-ti gu-gwa-tóki mani g-opíga go-did͡ʒáví
três-? ?-2SG-dar esse DET-onça DET-pequeno
‘eu te dou três onças pequenas’
(28)
tóheɾá gu-gwa-tóki mani go-t͡ʃéváj
cinco ?-2SG-trazer esse DET-faca
‘me traz cinco facas’
Em 2 de agosto. 2017
(29)
͡tʃógani o-tóki-ti mani go-gáɾe-d͡ʒ-ajɛ́
amanhã IMP-trazer-? esse DET-branco(não-índio)-EP-ave
‘amanhã me traz galinha (ave do branco, do não-índio)’
(30)
tóheɾáti gu-gwa-tóki mani hana-ti go-bɔ́
cinco-? ?-2SG-trazer esse comprar? DET-fumo
‘me dá cinco (reais) para comprar fumo’
Imagem 12. Caderno com anotações de palavras e frases em Guató. Entre tais conteúdos,
existe uma tradução feita por Dalva do português para o Guató do lema dos jogos
indígenas, da época em que esses índios participavam dos jogos.
Entrevistado Conteúdo
Manoel de Barros (escritor) Leitura de poema e infância com os Guató
Adair Pimentel Palácio (linguista) Comentário sobre a gramática Guató
Prof. Haas (na Alemanha) Leitura trabalho de Schdmit e explicação
sobre o conceito de colecionismo (em
espanhol)
Irma Ada (missionária) Fala da “descoberta” dos Guató e a morte
do militante indígena Celso
Dona Negrinha Conta o mito de formação das baías, fala
da relação dos Guató com a água e animais
(onça e cobra) e conta a história do
cachimbo e do feiticeiro. Também, depõe
sobre a época de trabalho escravo na
fazenda que frequentou
Seu Amancio História de vida
Seu Inocêncio História de vida. Diz que a mãe é “pura”
índia
Seu Zequinha (não Guató) Fala de sua história de vida, ensina a fazer
viola e comenta a morte do militante
indígena Celso. Também depõe sobre a
posse da Ilha Ínsua e sobre ter aprendido
com os índios a fazer chicha
Arqueólogo (provavelmente Jorge Fala de achados arqueológicos ligados ao
Eremites) Guató
Benedito Trata do esquecimento da língua
Cecília Conta seus sonhos e crenças
Sebastião Trata do esquecimento da língua
Veridiano (parente de Vicente, último Fala sobre o material da viola
falante da língua)
Zulmira Trata do esquecimentoda língua e conta a
história da piranha
Josefina (principal consultora do estudo Conta história de vida e fala sobre o
de Palácio) militante indígena Celso. Depõe sobre seu
aprendizado da língua, que foi com a avó.
Ressalta a importância de casar com índio
Severo (ex-cacique) Fala de hábitos alimentares do passado e
de agora e também da morte do militante
indígena Celso
Dona Maria Trata do esquecimento da língua e de sua
história de família
Filha de Dona Maria Fala de parentes que não conhece e
também instiga o filho a falar palavrinhas
em Guató
Marçal (desconhecido?) Fala sobre a questão da terra indígena e a
indignação dos índios nessa questão
Idelfonsa Conta a expulsão da Ilha Ínsua
Naelson Fala de seus sentimentos em relação à
morte do militante indígena Celso
Sr. Rondon Fala de Dona Negrinha
Tomas Fala da morte do militante indígena Celso
Índio bororo (não nomeado) e índio Guató Falam sobre ser indígena e a identidade
(provavelmente Seu Domingos) Guató, ressaltando que cada grupo
indígena tem o seu idioma
Eva Fala de vida após a morte (espiritualidade)
Noemia Trata da visão de grupos evangélicos
sobre os índios e fala da autoestima
indígena
Dona Dalva Maria (esposa do ex-cacique Fala sobre os Guató e a localização deles
Severo e militante da causa Guató)
Benedito Fala sobre Dona Zulmira, dizendo que ela
se lembra de algumas coisas da língua
Veridiano (parente de Vicente, último Fala sobre a caça de passarinho e sobre
falante Guató) pinturas rupestres
Vicente (último falante Guató) Fala sobre trabalho na roça, sobre onça e
sobre sua parente Dona Julia
Armando Fala sobre a pesca e os tipos de pena e
ponta usados
índio Guató (desconhecido) Fala do porquê não querer morar na Ilha
Ínsua
O mais incrível da nova leva de áudios fornecidos por Pizzini foi o grande teor de
dados linguísticos encontrados. Embora não sejam em sua maioria sentenças, muitos são
itens lexicais que ajudam a construir o vocabulário Guató. Mais incrível ainda foi ter
achado, entre tantos áudios, um canto em Guató realizado por Josefina e Dona Negrinha.
Este canto encontra-se em mais de um arquivo, tendo cerca de dois ou três minutos. Vale
dizer que muitos conteúdos dessa nova leva, linguísticos ou não, se repetem
frequentemente em diferentes árquivos de áudio, pois Pizzini realizou para a filmgem de
seu filme diversos cortes digitais nas gravações, o que ocasionou uma grande uma
existência de arquivos por vezes repetidos. Estes arquivos ainda merecem melhor
tratamento para o acervo digital Guató.
A seguir, uma tabela com os personagens que, nessa nova leva, produziram algum
conteúdo linguístico, em maior ou menor escala:
Imagem. 15. Eufrásia com a foto da avó. A fotografia foi revelada por Godoy e Balykova
e foi publicada originalmente no livro Na Rondônia Ocidental (1938) por Frederico
Rondon.
Membro Atividade
Bruna Franchetto Coordenação do subprojeto e orientação
acadêmica de todos os participantes da
equipe. Ministrou a Primeira Oficina da
Revitalização da Língua Guató junto a
Godoy. Publicação de artigo junto de
Godoy na Revista LinguíStica (UFRJ).
Walter Alves (bolsista PIBIC-UFRJ) Organização da cartilha de ensino Guató 1
e produção da cartilha 2, assim como
trabalho de escuta e organização de
arquivos de áudio e vídeo para
documentação linguística. Estudo dos
numerais Guató (monografia de conclusão
de curso), com consequente transcrição
fonológica de sentenças e palavras.
Análise morfológica do vocabulário de
Schdmit na tradução de Balykova.
Participou de duas viagens de campo,
onde elicitou dados linguísticos junto de
Godoy e Balykova. Ministrou, junto
destes, a Segunda Oficina de
Revitalização da Língua Guató.
Dayane Pontes (bolsista CNPQ) Trabalho de escuta e organização de
arquivos de áudio e vídeo para
documentação linguística. Estudo sobre os
tons do Guató.
Gustavo Godoy (doutorando e bolsista Coordenação dos alunos de graduação
CNPQ) para tarefas de escuta e organização de
áudios e vídeos. Arquivamento de
palavras no programa FLEX e realização
de transcrições fonológicas de senteças e
palavras do Guató. Análise morfológica
do vocabulário de Schdmit na tradução de
Balykova. Ajuda na revisão de texto da
tradução de Balykova. Realização, junto
dela e Alves, da Segunda Oficina de
Revitalização Linguística. Participação
em todas as viagens de campo, elicitando
dados linguísticos. Publicação de artigo
junto de Franchetto na Revista
LinguíStica (UFRJ).
Kristina Balykova (mestranda e bolsista Tradução crítica do capítulo “Guató: A
CNPQ) língua” da obra de Schdmit. Participou de
2 viagens de campo, elicitando dados
linguísticos. Desenvolve dissertação de
mestrado sobre propriedades adjetivas em
que o Guató é uma das línguas
protagonistas do estudo.
Observação: Não é membro da equipe de revitalização,
Chikinha Navantino Paresi (doutoranda mas ofereceu apoio logístico para a
UFRJ e bolsista CNPQ) realização das duas Oficinas de
Revitalização. Hospedou os viajantes de
campo em sua casa na cidade de Cuiabá
(MT) e mobilizou a SEDUC-MT para
fornecer apoio às tarefas da equipe.
Referências bibliográficas: