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Construção do acervo Guató, realizado a partir de maio de 2017 até fevereiro de

2018, por Dayane Pontes (Graduanda em Letras – Português/Literaturas pela UFRJ


e bolsista de IC - CNPQ), Gustavo Godoy (doutorando de Antropologia – PPGAS –
UFRJ e bolsista – CNPQ) e Walter Alves (Graduando em Letras –
Português/Italiano e bolsista de IC – PIBIC – UFRJ).

O projeto Línguas Indígenas Ameaçadas: Pesquisa e Teorias Linguísticas para a


Revitalização, sob a orientação da Professora Dra. Bruna Franchetto (Museu Nacional -
UFRJ), tem como objetivo a documentação de situações de crise linguística de línguas
indígenas brasileiras. Cada uma das línguas contempladas forma um subprojeto, sendo
elas o Yawanawa (família Pano), sob a responsabilidade dos linguistas Lívia Camargo e
Rafael Nonato; Patxohã (família Pataxó, atualmente reconstructed language), sob
responsabilidade da doutoranda indígena em Antropologia Social do Museu Nacional,
Anari Braz Bonfim; Guató (isolada), sob a responsabilidade da equipe de revitalização
Guató, formada por por alunos-pesquisadores da UFRJ, nomeadamente Dayane Pontes
(graduanda em Letras), Walter Alves (graduando em Letras), Kristina Balykova
(mestranda em Linguística) e Gustavo Godoy (doutorando em Antropologia Social).
O subprojeto Guató, da língua dos índios de tradição canoeira do Pantanal e que,
infelizmente, não é mais transmitida para novas gerações, teve início efetivo no final do
ano de 2015. Nesta época, o então bolsista de iniciação científica da Faculdade de Letras
da UFRJ, Wladimir Lamenha Lins, digitalizou material de áudio sobre a língua obtido
com o cineasta sul-matogrossense Joel Pizzini, que realizou, no ínicio dos anos 2000, um
longa-metragem sobre o reaparecimento da etnia Guató. Esta primeira parte do subprojeto
constitiu, portanto, em uma procura por qualquer informação bibliográfica ou midiática
que existisse sobre o Guató, a fim de elaborar a documentação dessa língua.
Foram contabilizadas um total de 28 fitas disponibilizadas por Pizzini e, após
serem digitalizadas por Lins, foram todas escutadas e anotadas por Walter Alves, que
substituiu Lins no trabalho de pesquisa sobre o Guató. As fitas contêm diversos arquivos
de áudio de gravação das cenas do filme “500 almas”, de Joel Pezzini, com entrevistas a
figuras relevantes da história da língua e da etnia Guató:

Entrevistado Conteúdo
Seu Domingos Conta sobre a história dos aterrados Guató
e fala das constantes expulsões da terra as
quais sobreviveu (processo de
desterritorialização)
Seu Amâncio Conta sobre o uso de ervas medicinais
indígenas
Sr. Rondon Conta sobre a época de sua vida
trabalhado em fazendas, realidade comum
de muitos índios Guató, e aproveita para
dar explicações sobre a “religião” desses
índios, já que Pizzini mostrou-se bastante
interessado em assuntos de caráter
“espiritual”
Maria Rita (professora) Conta a sua longa relação de vida com os
Guató e o ensino de disciplinas escolares
Dona Leonilza Relembra cantigas e rezas de infância (em
português)
Dona Maria Oferece um depoimento sobre o motivo de
os índios não falarem mais a língua, bem
como diz em Guató algumas palavras e
sentenças das quais selembra
Vicente (atualmente último falante de Diz algumas sentenças em Guató na
Guató) presença de Dona Maria
Tabela 1. Entrevistados de Pizzini e resumo do conteúdo de suas entrevistas.

Há também, no conteúdo das fitas obtidas com Pizzini para a realização do


presente subprojeto, uma entrevista ao arqueólogo Jorge Eremites de Oliveira, que
escreveu uma dissertação em 1995 pela PUC-RS sobre aspectos etnológicos e
arqueológicos dos Guató, intitulada “Os Argonautas Guató: aportes para o conhecimento
dos assentamentos e da subsistência dos grupos que se estabeleceram nas áreas inundáveis
do Pantanal Matogrossense”. Na entrevista, Eremites comenta hábitos Guató no utilizo
da terra.
Entre as diversas procuras por gravações que trouxessem dados etnológicos e
linguísticos sobre o Guató, a maior ambição do subprojeto em seu estado inicial foi a de
encontrar as fitas de gravação de elicitação de dados linguísticos com falantes idosos do
Guató da primeira linguista a estudar a sua gramática: Adair Pimentel Palácio. Seu estudo
resultou em uma tese de doutorado de 1984 pela Unicamp intitulada “Guató: A língua
dos índios de tradição canoeira do Rio Paraguai”. Infelizmente, as fitas de gravação de
Palácio desapareceram (não as encontramos na universidade em que Palácio trabalhou
como professora, a UFPE, nem onde se doutorou). Com felicidade, porém, algumas fitas
de Palácio, mesmo se desaparecidas, chegaram as nossas mãos através de Pizzini, pois,
para nossa surpresa, Pizzini havia colocado algumas fitas de elicitaçao de dados
linguísticos de Palácio em CDs para usá-la em seu filme na década de 2000. A quem teve
o prazer de assistir o filme do diretor sul-matogrossense encontrará, como pano de fundo
de algumas cenas, a voz de Palácio perguntando aos consultantes Guató palavras e frases
na língua e a pronta resposta deles.
As fitas de Palácio obtidas de segunda mão somam 7CDs do total de 28 CDs do
acervo de Pizzini. Todas as 7 fitas ou CDs foram escutadas por Alves, tal como aconteceu
igualmente com os 21CDs restantes, que continham as entrevistas aos Guató expostas
minimamente em tabela páginas atrás. O trabalho de escuta das 21 CDs terminou nos
meses finais de 2016. Os 7CDs de Palácio, especialmente, possuem inúmeros arquivos
de áudio de elicitação de dados linguísticos e foram durante os meses de maio, junho,
julho e agosto de 2016 trabalhados. Também, Alves organizou esses arquivos dos 7CDs,
editando as partes da gravações não corroídas pelo tempo de armazenagem das fitas. O
programa de editagem dos áudios foi o gratuito Audacity e tal trabalho resultou em 269
arquivos de qualidade boa ou média para a escuta. Os consultantes de Palácio nesses
arquivos foram Josefina, Francolina, Seu João Quirino e Cipriano. Áudios com a
consultante Estelita não foram encontrados. Os arquivos estão nomeados pelo código
‘GWAAPAM77(número do arquivo)’.
De qualquer forma, é importante salientar que os 269 arquivos editados,
proveniente de 7 CDs de Pizzini, não dizem respeito somente à questão da qualidade de
seus áudios (se possuem ruídos ou não, se são baixos ou altos demais, o chamado ‘estouro
de gravação‘), mas também dizem respeito à qualidade dos dados linguísticos coletados,
que são muito bons; afinal, os consultantes de Palácio, embora já idosos, se lembravam
bem da atual finada língua. Para dar um exemplo do tipo de conteúdo desses arquivos,
seguem abaixo algumas transcrições fonológicas feitas por Alves (embora todos os
arquivos tenham sido escutados, nem todas as transcrições deste material foram
realizadas, somente aquelas em que havia algum interesse de pesquisa mais imediato para
a equipe, ex: buscar o entendimento do tense ‘tempo’ Guató:

Arquivo 69:1
n-ógógɨ-̃ jo
IND-beber.água-1SG
‘eu bebi água’

Arquivo 70:
na-kí-ga-jo g-otý go-d͡ʒékɨ ̃
IND-pescar-PONT-1SG DET-piranha DET-rio
‘eu pesquei piranha no rio’

Arquivo 71:
na-kí-o go-d͡ʒékɨ ̃
IND-pescar-1SG DET-rio
‘eu pesquei no rio’

Arquivo 72:
na-kɨń i-o máké
IND-dormir-1SG ontem

na-kɨń i-ga-jo máké


IND-dormir-PONT-1SG ontem
‘eu dormi ontem’

Arquivo 73:
na-kɨń i-o gínɛ
IND-dormir-1SG aqui
‘eu dormi aqui’

Arquivo 74:
na-gũ-na-jo g-épago
IND-matar-?-1SG DET-bicho
‘eu matei bicho’

da-mũ-gɨrɨ g-épago mahĩ óvɨ-ru


DESC-ser.muito-INTS DET-bicho lá casa-1SG
‘eu tenho muito bicho lá em casa’

Arquivo 75:
na-gũ-ga-jo g-épago
IND-matar-PONT-1SG DET-bicho

1
Abreviação para glosas: 1 – primeira pessoa; 2 – segunda pessoa; SG – singular; DET – determinante;
PONT – pontual; DESC – descritivo; EP – epêntese; INTR – intransitivizador.
‘eu matei bicho’

Arquivo 76:
na-gũ-jo go-gáre-d͡ʒ-ajɛ́
IND-matar-1SG DET-branco(não-índio)-EP-ave
‘eu matei galinha (ave do branco, do não-índio)’

Arquivo 77:
na-gũ-jo go-gáre-d͡ʒ-ajɛ́ máké
IND-matar-1SG DET-branco(não-índio)-EP-ave
‘eu matei galinha ontem’

Arquivo 78:
dágwá nuni-gɨ-̃ rehe? (rehe pronunciado como rihe - fonética)
onde trabalhar-INTR-2SG
‘onde você trabalha?’

Arquivo 79:
dágwá nuni-gɨ-̃ rehe? (rehe pronunciado como rihe - fonética)
onde trabalhar-INTR-2SG
‘onde você trabalhou?’

Arquivo 80:
dágw(á) ógógɨ-̃ rehe?
onde beber.água-2SG
‘onde você bebe água?’

Em 2016, houve também a Primeira Oficina de Revitalização Linguística do


Guató, que ocorreu de 20 a 29 de Agosto na Terra Indígena Baía dos Guatós (MT). Essa
TI se localiza nos municípios de Poconé e Barão de Melgaço e para lá foram a Dra. Bruna
Franchetto e seu aluno de doutorado, Gustavo Godoy. Nos dias de incansável trabalho na
Oficina, foram trabalhados elementos lexicais recuperados na tese de Palácio e de Adriana
Postigo, outra linguista que estudou o Guató, tendo seu estudo resultado na dissertação
de mestrado “Fonologia da Língua Guató”, defendida na UFMS. Postigo também
ofereceu boa contribuição ao projeto de documentação linguística, uma vez que enviou
para a equipe da UFRJ através de um pendrive todas as gravações que fez com Francolina
Rondon, Josefina e Veridiano. Estas gravações também passaram a compor o acervo
digital Guató, contendo pouco mais de 400 arquivos de áudio de palavras soltas na língua.
Outras gravações dizem respeito a momentos comunitários estabelecido entre as pessoas:
almoços e ida ao culto religioso evangélico.
Além dos trabalhos das linguistas, houve também consulta à tradução da obra de
Max Schmidt “Indianerstudien in Zentralbrasilien. Erlebnisse und etnologische
Ergebnisse einer Reise in den Jahre 1900-1901”, feita por Catharina Cannabrava em 1942
e intitulada “Estudos de etnologia brasileira: peripécias de uma viagem entre 1900 e
1901”. A justificativa para a consulta de palavras e frases no trabalho Max Schdmit deu-
se pelo fato de este etnológo alemão ter realizado um dos estudos etnológicos mais
importantes sobre a etnia Guató, descrevendo seus hábitos canoeiros e de utilização de
aterros. Também, Schmidt descreveu artefatos usados por esses índios e, por isso, em sua
lista de palavras do Guató, encontram-se diversas palavras bem específicas para diversos
objetos da cultura material dessa sociedade.
A Oficina de Revitalização da Língua Guató teve um bom resultado entre os
indígenas, que, por sua vez, demandam a retomada de sua língua, pois já não mais a falam.
Eles tem bastante consciência de que a língua está ligada à identidade cultural de seu povo
e, por isso, a questão da língua virou para eles uma questão de autoestima. Foi deixado
na aldeia o acervo digital Guató montado até então, que consistia nos 269 arquivos de
áudio de elicitação de dados linguísticos de Palácio (na época da oficina, os outros áudios,
que eram de entrevistas aos Guató, ainda não tinham sido finalizados), o filme 500 almas,
textos escritos sobre a etnia e palavras gravadas por Postigo na época de seu mestrado.
Como um dos objetivos do projeto mestre de revitalização é obviamente propor
metodologias para a revitalização linguística, foi criada uma a Primeira Cartilha de Ensino
da Língua Guató, toda ilustrada com desenhos feitos pelos Guató da TI anteriormente
mencionada. A cartilha é centrada especialmente em elementos lexicais. A decisão de
investir no léxico de palavras veio sobretudo de conversas entre a Dra. Bruna Franchetto
e Luiz Amaral, da Universidade de Amherst, Massachussetts. Luiz Amaral é especialista
em comunidades linguísticas em situação de bilinguísmo e crise linguística e, sendo
assim, foi de grande valia para aconselhamento do subprojeto Guató no geral.
A seguir, alguns printscreens da cartilha:
Imagem 1. Capa da Primeira Cartilha de Revitalização da Língua Guató.
Imagem 2. Desenho com personagem que pergunta “o que você vê?” e resposta do
outro personagem com a resposta, que é uma palavra para animal ‘maky’ (capivara).
Imagem 3. Personagens retirados dos desenhos dos alunos da Oficina. As “carinhas”
foram usadas para a construção de diálogos para falar de animais que geralmente não
possuíamos desenho ou para quando os desenhos dos animais que possuíamos não eram
muito visíveis.
Outro outcome da Oficina, vale a pena mencionar enquanto faz parte da história
da construção do acervo digital Guató, foi a produção de um vídeo de 8 minutos e 77
segundos a partir de entrevistas com os indígenas da TI. O vídeo trata da questão da perda
da língua e como a construção de uma escola na aldeia se faz necessária, na crença dos
Guató, para a retomada daquilo que foi perdido. O vídeo foi editado por Julia Leão de
Toledo, que tem conhecimentos de edição de vídeos e direção cinematográfica. E, no
total, as gravações na TI Baía dos Guató resultaram em 10,5 horas de vídeo e 6,1 horas
de áudio.
A seguir, algumas fotos da oficina:

Imagem 1. A Dra. Bruna Franchetto apresenta itens lexicais aos Guató da TI Baía dos
Guató (MT), que os desenham.

Imagem 2. Criança prestando atenção na lição da Oficina.

Imagem 3. Menina lê no celular palavras em Guató.


Imagem 4. Adultos participantes da Oficina.

Imagem 5. Corixo do Bebe, pequeno filete de água que leva à entrada da casa de encontro
da Aldeia Coqueiro. Tal como contam os registros históricos sobre os Guató (cf. Schdmit
1942[1905]), os Guató não possuiam aldeiamento fixo. Deste modo, a aldeia atual da TI
Baía dos Guató (MT) encontra-se espalhada em casas nas beiras dos rios do Pantanal da
região das cidades de Poconé e Barão de Melgaço.

A fim de obter mais dados para compor o acervo digital Guató, em Outubro de
2016, Gustavo Godoy foi ao Morro do Caracara, na barra do Rio São Lourenço (MT),
pois soubera que lá vivia um falante idoso do Guató. Gustavo encontrou-o. Ele se chama
Vicente e atualmente pode ser definido como um “lembrante” de sua língua, uma vez que
não faz mais uso dela diaramente, logo, alguma parcela de seu conhecimento gramatical
sobre o Guató foi perdido. Apesar disso, Vicente é um falante bem “fluente”, no sentido
de que Godoy conseguiu registrar frases e palavras com ele durante dois dias. No terceiro
dia, foi expulso por Vicente, sem motivo aparente. Vicente simplesmente se irritara com
sua presença. Tal comportamento arisco já é conhecido por todos que com ele tiveram
contato, de modo que algumas pessoas suspeitam um pouco de sua saúde mental.
Hermitão, vive sozinho e assim evita contato com outras pessoas, por mais que uma vez
por mês vá à cidade de Corumbá (MS) para receber sua aposentadoria.
Ao voltar para Corumbá (MS), Godoy soube, através do Sr. Porfírio, filho da
falecida Francolina Rondon, que era falante de Guató, que em Corumbá (MS) existia
ainda outra falante da língua, a Dona Eufrásia Ferreira. Sem conhecê-la, Godoy foi atrás
dela. Encontrou-a vivendo numa região pobre de Corumbá (MS), próximo à Avenida
Gonçalves Dias, uma das principais da cidade. Eufrásia Ferreira vive atualmente com seu
marido Seu Geraldo, que é cego, e os dois filhos dele. Tem também problemas de saúde:
a pressão às vezes sobe e, para piorar, pouco escuta em um de seus ouvidos graças a um
acidente pelo qual passou faz alguns anos. Mesmo com essa situação triste, Eufrásia
colaborou imensamente com Godoy, tentando lembrar o que pudesse de sua finada língua,
de modo que Godoy saiu de lá com a promessa de retornar para realizar novas gravações.
No geral, a visita resultou em depoimentos gravados sobre a vida dessa senhora e
conteúdo linguístico inédito. Tais gravações também fazem parte do acervo digital Guató.

Imagem 6. Vicente (barra do Rio São Lourenço, MT).


Imagem 7. Artefato feito com a carcaça de jacaré, animal muito frequente na história dos
Guató, já que seus restos serviam para artefatos do tipo e sua carne era bem aproveitada
na alimentação. Vicente o utiliza o artefato da foto para servir de panela para seus
inúmeros cachorros de estimação.

Imagem 8. Dona Eufrásia Ferreira e Gustavo Godoy em Corumbá (MS), Rua Goiás.

Imagem 9. Família de Eufrásia e visitante Gustavo Godoy. Da esquerda para direita:


Mateus (filho adotivo) e Geraldo (marido).
Com a descoberta de Eufrásia, o subprojeto Guató tomou um novo impulso. A
imediateza da pesquisa passou a ser a coletagem de palavras e frases com a indígena.
Neste sentido, foi realizada a terceira viagem às terras pantaneiras. Desta vez, Walter
Alves acompanhou Gustavo Godoy entre os dias 17 e 25 de fevereiro de 2017 à cidade
de Corumbá. Foi uma viagem extremamente produtiva, que resultou em 5,5 horas de
gravações de áudio em formato .wav e 49 minutos de filmagens em formato .mts. Essas
gravações possuem elicitação de dados com Eufrásia, sobretudo de construções com
numerais, ponto de interesse da gramática do Guató pelo qual Alves se interessou. Além
disso, Eufrásia contou como faz para preparar peixe e recordou palavras para nomes
massivos, que era do interesse tanto de Alves quanto de Godoy para que se descobrisse o
funcionamento da distinção contável-massivo em Guató. Abaixo, algumas das sentenças
da fala de Eufrásia em transcrição fonológica obtidas na viagem:

Em 20 de fev. 2017.2
(1)
dúni g-opíga a-d͡ʒɯ́-ɾu mani go-gɯ̃
dois DET-onça 1SG-ver-1SG esse DET-água
Literalmente: minha visão é de duas onças na água
‘eu vi duas onças na água’

(2)
dúni gwa-dúníhi
dois 2SG-irmão
‘você tem dois irmãos’

(3)
go-ped͡ʒeo ͡tʃéne-gɯ̃ go-tagáho
DET-marido um-RES DET-violão
‘meu marido tem só um violão’

(4)
g-évɯ́ dúni e-bɯ́ mani i-pána g-ikó
DET-mulher dois 3SG-assar esse 3SG-rabo DET-jacaré
‘a mulher assou dois rabos de jacaré’

(5)
dúni g-ókwé ̃ gwa-bɛ-ɾo mani i-d͡ʒé g-adá

2
Abreviação para glosas: 1 – primeira pessoa; 2 – segunda pessoa; 3 – terceira pessoa; SG – singular;
DET – determinante; PONT – pontual; PROG – progressivo; IPFV – imperfectivo; PER – permansivo;
IND – indicativo; DESC – descritivo; RES – restritivo; INTS – intensificador.
dois DET-bugio PROG-3SG-comer esse 3SG-fruta DET-árvore
‘dois bugios estão comendo fruta da árvore’

Em 21 de fev. 2017

(6)
aɾio-díxúmu-gɯɾɯ mani gwa-d͡ʒɯ́ g-ókwé ̃
DESC-ser.pouco-INTS esse 2SG-ver DET-bugio
‘você viu pouquíssimo bugio’

(7)
ohe ma-gwa-ɾo maku g-ogwákwá
você IPFV-2SG-comer todo DET-pacu
‘você comeu todo (completamente) pacu’

Em 22 de fev. 2017

(8)
g-évɯ́ ma-e-dóki dúni go-t͡ʃãpokɯ mani go-gɯ̃
DET-mulher IPFV-3SG-trazer dois DET-pinga esse DET-água
‘a mulher trouxe duas garrafas de pinga’

(9)
aɾio-fɛ́ mani gwa-ofɯ́
DESC-ser.grande esse 2SG-chapéu
‘teu chapéu é grande’

(10)
na-d͡ʒɯ́-ga-i ͡tʃúmu g-ógwa mani g-afó
IND-ver-PONT-1SG três DET-sangue esse DET-chão
‘eu vi três sangues (pingos de) no chão’

(11)
aɾio-pṹ g-ogwákwá mani g-odá aɾio-pého
DESC-ser.muito DET-pacu esse DET-cesta DESC-estar.cheio
mani g-odá g-ogwákwá
esse DET-cesta DET-pacu
Literalmente: o pacu na cesta é muito, a cesta está cheia de pacu’
‘tem muito pacu na cesta e ela (a cesta) está cheia de pacu’

(12)
aɾio-pṹ mani g-ikó tokugwa-ni mahĩ go-pɯ́
DESC-ser.muito esse DET-jacaré estar.deitado-PER lá DET-calor
Literalmente: os jacarés são muitos, eles estão deitados lá no calor
‘tem muito jacaré deitado lá no calor (no sol, tomando sol)’

(13)
gwa-gí ma-t͡ʃógá go-ta
2SG-mãe IPFV-morrer DET-fogo
‘sua mãe morreu no fogo (se queimou)’
Em 23 fev. de 2017

(14)
ma-d͡ʒɯ́-jo dúni go-vɛ
IPFV-ver-1SG dois DET-chuva
Literalmente: eu vi duas chuvas
‘choveu duas vezes’

(15)
͡tʃúmu gwa-dóki mani go-tí
três 2SG-trazer esse DET-farinha
‘você trouxe três farinhas (pacotes de)’

(16)
ohe ma-gwa-dóki mani go-ɾɯ ma-gwa-góhɛ dúni... dúni go-ɾɯ
você IPFV-2SG-trazer esse DET-carne IPFV-2SG-fritar dois... dois... DET-carne
‘você trouxe carne e fritou as duas carnes’

(17)
ohe na-tá-piná-he
você IND-querer-urinar-2SG
‘você quer urinar’

(18)
aɾio-dít͡ʃúmu gwa-piná
DESC-ser.pouco 2SG-urinar
Literalmente: tua urina foi pouca
‘você urinou pouco’

(19)
ma-kɯnia-he
IPFV-vomitar-2SG
‘você vomitou’

(20)
͡tʃúmu a-d͡ʒɯ́-ɾu mani go-kɯnia
três 1SG-ver-1SG esse DET-vômito
‘eu vi três vômitos (poças de)’

Na viagem, Alves e Godoy também conversaram com alguns Guató que vivem na
periferia de Corumbá (MS), próximos a Eufrásia. Infelizmente, eles não deixaram gravar
suas conversas, mas os pesquisadores anotaram em caderno de campo o necessário para
saber mais sobre o processo de desaparecimento da língua. Todas as informações
coletadas, juntas com outras que já tinham sido obtidas pela equipe da UFRJ no
subprojeto, serviram de base para um dos produtos consequência do trabalho de criação
do acervo digital, isto é, de documentação da língua Guató. Este produto foi um artigo
escrito pela Dra. Bruna Franchetto em parceria com Gustavo Godoy intitulado “Primeiros
passos da revitalização da língua Guató: uma etnografia”, publicado na Revista
LinguíStica (UFRJ), em que os autores contam a experiência do até então levantamento
de dados étnicos e linguísticos sobre os Guató, bem como o contato com Vicente e
Eufrásia. Detalham também as relações de parentesco desses últimos falantes a fim de
traçar os últimos vestígios existentes da língua que outrora dominou as terras baixas do
Pantanal.
Durante a primeira metade de 2017, o trabalho de Alves e Godoy centrou-se em
armazenar o material linguístico obtido com Eufrásia em campo e transcevê-lo para que
pudessem estudar os assuntos gramaticais que tinham interesse. Abriu-se, logo assim,
uma nova possibilidade de viagem, agora mais longa, para a TI Baía dos Guatós e,
novamente, para Corumbá (MS). O novo objetivo da viagem, sendo esta a quarta da
equipe da UFRJ e que aconteceu nos meses de Julho e Agosto de 2017, era de realizar
uma segunda Oficina de Revitalização da Língua Guató. Essa oficina aconteceu na TI
anteriormente visitada em Mato Grosso e na cidade de Corumbá (MS).
Na TI Baía dos Guató (MT), a oficina ocorreu dos dias 10 a 15 de julho. Nela,
foram trazidas novas palavras para os índios canoeiros: um léxico para comida, bebidas
e objetos relacionados a eles. Foram exploradas também expressões para convidar alguém
para comer e foram lembrados so nomes de animais aprendidos na primeira oficina.
Ainda, foram feito uso de cartões ilustrados com os nomes dos animais para que fosse
possível realizar um jogo da memória com as crianças. Os cartões foram desenhados por
uma amiga de graduação de Alves, que se chama Beatriz Alves. Os numerais não foram
esquecidos, tendo sido apresentados por Alves no penúltimo dia da oficina.
Em Corumbá (MS), o objetivo da oficina foi diferente. Este era de capacitar os
professores indígenas sobre aspectos da gramática da língua. Os temas ensinados foram:
pronomes pessoais; marcadores possessivos e léxico para partes do corpo; léxico para
relações de parentesco, que em Guató se beneficiam dos marcadores possessivos; verbos
descritivos, transitivos e intransitivos; a morfologia do aumentativo e diminutivo dos
nomes; composição de palavras; partículas temporais; termos para cores.
Os termos para cores do Guató vieram de Eufrásia Ferreira, pois foram elicitados
por Kristina Balykova, que desta vez acompanhou Alves e Godoy durante a quarta
empreitada Guató. Isso se deu porque Balykova tinha interesse particular em termos que
modificam nominais, tais como as palavras para cores, quando se diz ‘o cachorro preto
mordeu a galinha branca’ (termo para cor em posição adjetiva) ou ‘o cachorro é branco e
a galinha é preta’ (termo para cor em posição predicativa).
A seguir, algumas fotos que registram momentos da segunda Oficina.

Imagem 10. Alves, Godoy e Balykova durante a oficina na TI Baía dos Guatós (MT).
Alves fala.

Imagem 11. Balykova coordena jogo da memória com cartões ilustrados e que contém o
nome de animais em Guató.
Na nova visita a Eufrásia, Alves e Godoy continuaram a elicitar termos para
numerais em sentenças. Procuraram também sentenças com verbos descritivos. Termos
para cores também se fazem presente. Algumas sentenças elicitadas em alguns dos dias
desta viagem seguem. Vale dizer que essas sentenças e as outras aqui não reproduzidas
estão todas salvas para serem parte do acervo digital Guató.

Em 21 de julho. 20173

(1)
dúni-gɯ̃ mani a-ɾo-ɾu go-ma
dois-RES esse 1SG-comer-1SG DET-mandioca
‘eu comi só duas mandiocas’

(2)
dúni ditɛ́ aɾio-fɛ́ gw-itɛ́
dois abóbora DESC-grande 2SG-abóbora
‘duas abóboras, tuas abóboras grandes’

(3)
dúni iku goma
dois pedaço DET-mandioca
‘dois pedaços de mandioca’

(4)
͡tʃéne-gɯ̃ mani go-kádidiá mateɲo gínɛ it͡ʃa g-óvɯ
um-RES esse DET-menino entrar aqui dentro DET-casa
‘só um menino entrou dentro da casa’

(5)
aɾio-fɛ́ mani go-dɛ́ i-óvi iá mani g-évɯ́
DESC-grande esse DET-homem 3SG-perna COMP? esse DET-mulher
‘a pernado homem é grossa e a da mulher também’

(6)
aɾá-kwó mani go-ve g-áɾót͡ʃa aɾ-ákó-d͡ʒĩ
DESC-ser.branco esse DET-cachorro DET-gato DESC-ser.branco-GEN
‘o cachorro e o gato são brancos’

(7)
mani g-évɯ́ ma-e-ɾo mani go-ma iá mani
esse DET-mulher IPFV-3SG-comer esse DET-mandioca COMP? Esse

3
Abreviação para glosas: 1 – primeira pessoa; 2 – segunda pessoa; 3 – terceira pessoa; SG – singular;
DET – determinante; PONT – pontual; PROG – progressivo; IPFV – imperfectivo; PER – permansivo;
IND – indicativo; IMP – impererativo; DES – desiderativo; DESC – descritivo; RES – restritivo; GEN –
generalizador; COMP – comparação.
go-dɛ́ ma-e-ɾo mani go-ma
DET-homem IPFV-3SG-comer DET-mandioca

(8)
na-gu mani go-gɯ̃ go-rákwá
IND-ter esse DET-água DET-gelado
‘tem água gelada aí’

(9)
͡tʃúmu-gɯ̃ go-xéváj mani gwa-ɾo
três-RES DET-prato esse 2SG-comer
Literalmente: tua comida foi de duas pratos
‘você comeu dois pratos (de alguma coisa)’

(10)
aɾo-did͡ʒáví mani i-ofá g-évɯ́
DECS-ser.pequeno esse 3SG-peito DET-mulher
‘o peito da mulher é pequeno’

(11)
aɾo-rákwá mani go-gɯ̃
DESC-estar.frio esse DET-água’
‘água está fria’

(12)
aɾio-pɯ́ mani g-ípɛ́
DESC-estar.quente esse DET-café
‘o café está quente’

(13)
ohe n-ípɛ́-he
você IND-ser.preto-2SG
‘você é preto’

(14)
n-ákwó ohe n-akwó-he
IND-ser.branco você IND-ser.branco-2SG
‘branco, você é branco’

(15)
ohe na-gwa-pó mani i-gɯ̃ go-gwád͡ʒá
você IND-2SG-tomar.baldo esse 3SG-água DET-banana
‘você tomou caldo de banana’

Em 28 de julho. 2017

(16)
ohe na-gwa-ɾo mani go-t͡ʃámo
você IND-2SG-comer esse DET-arroz
‘você comeu arroz’
(17)
dúni-gɯ̃ mani a-d͡ʒɯ́-ɾu go-t͡ʃéuvɯ́
dois-RES esse 1SG-ver-1SG DET-gente
‘eu vi só duas pessoas’

(18)
go-t͡ʃéne-ti gu-gwa-tóki ma g-égɯ̃tí
DET-um-? ?-2SG-trazer esse DET-peixe
‘me traz um peixe’

(19)
go-dúni-ti gu-gwa-tóki g-ogwákwá
DET-dois-? ?-2SG-trazer DET-pacu
‘me traz dois pacus’

(20)
ohe n-iadɛ́-he
você IND-estar.grávida-2SG
‘você está grávida’

Em 31 de julho. 2017

(21)
aɾa-tɔ́ mani g-ikwahu i-rɯ
DESC-ser.duro esse DET-senimbu 3SG-carne
‘a carne do senimbu é dura’

(22)
giri g-íbɔ́ ar-ákwó
este DET-pato DESC-ser.branco
‘este pato é branco’

(23)
dúní-hi go-t͡ʃéuvɯ́ mani gwa-bɛ-t͡ʃa g-íbɔ́ i-kɯ́
dois-? DET-gente esse PROG-3SG-limpar DET-pato 3SG-pena
‘duas pessoas estão limpando o pato (tirando as penas dele)

(24)
gadi-a-tá-ɾo-ɾu giri g-íbɔ́
NEG-DES-1SG-comer-1SG este DET-pato
‘eu não quero comer este pato’

(25)
aɾ-étɯvɯ mani g-ikã́ na áho
DESC-ser.bonito esse DET-aracuã cantar
‘o aracuã cantou bonito’
(26)
na-tá-ɾo-gadi mani g-ípí
IND-DES-comer-hab? Esse DET-tatu
‘eu quero comer tatu

Em 1 de agosto. 2017

(27)
͡tʃúmu-ti gu-gwa-tóki mani g-opíga go-did͡ʒáví
três-? ?-2SG-dar esse DET-onça DET-pequeno
‘eu te dou três onças pequenas’

(28)
tóheɾá gu-gwa-tóki mani go-t͡ʃéváj
cinco ?-2SG-trazer esse DET-faca
‘me traz cinco facas’

Em 2 de agosto. 2017

(29)
͡tʃógani o-tóki-ti mani go-gáɾe-d͡ʒ-ajɛ́
amanhã IMP-trazer-? esse DET-branco(não-índio)-EP-ave
‘amanhã me traz galinha (ave do branco, do não-índio)’

(30)
tóheɾáti gu-gwa-tóki mani hana-ti go-bɔ́
cinco-? ?-2SG-trazer esse comprar? DET-fumo
‘me dá cinco (reais) para comprar fumo’

Outros dias (...)

A quarta viagem também proporcionou à equipe UFRJ conhecer melhor os Guató


da Terra Indígena Guató (MS), que fica na Ilha Ínsua (Aldeia Uberaba), a partir do
momento em que a própria equipe se encontrou com eles em sua lancha ancorada no porto
de Corumbá (MS). Foi assim que os professores indígenas foram chamados para a oficina
de capacitação em gramática do Guató. Foi assim também que a ex-professora Guató
Alice mostrou a Alves o seu caderno com material linguístico em Guató ensinado na
escola da Ilha. Alice deixou que Alves fotografasse o seu caderno.
Alves, Godoy e Balykova aproveitaram a estadia em Corumbá (MS) para visitar
Dalva Maria, esposa do ex-cacique Severo. Dalva Maria tem um longo histórico de luta
pelo reconhecimento da etnia Guató, outrotora considerada extinta, e pelo
reconhecimento da terra que lhes é de direito. É uma militante da causa dos indígenas,
mas agora não pode fazer muito por causa da velhice. O encontro com Dalva
proporcionou uma entrevista onde ela conta os desafios de ser liderença indígena e como
foi que a escola se instalou na Aldeia Uberaba. Este vídeo de entrevista também compõe
o acervo digital Guató e possui 37 minutos de fala. Pode ser encontrado no canal do
youtube de Godoy (https://www.youtube.com/watch?v=DcssZI5hqeM).
Além da militância pelos direitos indígenas, Dalva, que é conhecida por toda a
comunidade, teve contato direto com os últimos falantes idosos do Guató, uma vez que
cuidou bastante deles quando adoeceram. A estima dos idosos por Dalva era grande, de
modo que ela conseguiu, a partir deles, elicitar grande conteúdo linguístico. Todos essas
anotações de palavras e frases encontram-se em cadernos, como o da foto a seguir,
guardados a sete chaves por Dalva.

Imagem 12. Caderno com anotações de palavras e frases em Guató. Entre tais conteúdos,
existe uma tradução feita por Dalva do português para o Guató do lema dos jogos
indígenas, da época em que esses índios participavam dos jogos.

De modo fantástico, Dalva, além de registrar os numerais Guató, que são os


mesmos registrados por Palácio (1984), criou novos numerais jamais imaginados. Estes
numerais são os que encabeçam as dezenas para sessenta, setenta, oitenta e noventa.
Dalva disse à equipe UFRJ que, futuramente, pretende publicar todo esse material
linguístico em uma cartilha de ensino da língua que, na Ilha Ínsua, é chamada de Língua
Étnica. Atualmete, está aberta a quem quer que esteja disposto a ajudá-la na empreitada
de criação da cartilha.
Imagem 13. Dalva Maria em entrevista fornecida a Alves, Godoy e Balykova em sua
casa no bairro do Cristo, Corumbá (MS).

A viagem de Alves, Godoy e Balykova permitiu que os pesquisadores anotassem os temas


da, na época, futura segunda cartilha de ensino do Guató. A segunda cartilha foi, meses
depois da viagem, no final do ano de 2017, feita por Alves. É ilustrada com desenhos dos
índios da Terra Indígena Baía dos Guató (MT) e traz um léxico sobre comidas, bebidas e
objetos relacionados a eles. Da gramática, existe o paradigma verbal dos verbos
transitivos, que são aqueles que selecionam um argumento com a função de objeto direto.
As frases com verbos encontram-se no presente do indicativo e no passado, onde recebem
o morfema de aspecto imperfectivo ma-. Este morfema, embora seja aspectual (e aspecto
é diferente de tense ‘tempo’, o qual não encontra vida na morfologia do Guató) foi
generalizado por Eufrásia para sentenças contextualmente passadas, de modo que optou-
se por mantê-lo na cartilha como parte da ideia de “passado”.
Decisões como a descrita acima constituem escolhas do linguista no processo das
reconstructed languages ‘línguas reconstruídas’, tema que tem ganhado destaque
recentemente na área de línguas indígenas. Trata-se de línguas que, por terem sido
perdidas, estão retomando, de modo que reconstructed ‘reconstruída’ faz referência à
intervenção de pessoas (linguistas ou não) na criação da gramática dessa nova língua, que
jamais será como aquela que um dia desenvolveu-se no processo ordinário de aquisição
da linguagem; afinal, o processo de aquisição de uma língua natural é espontâneo e não
depende de fortes intervenções ambientais para acontecer. As intervenções feitas limitam-
se apenas à existência de falantes nativos da língua adquirida pela criança, que fornecem
dados linguísticos sem instrui-las ao modo de criar generalizações em cima desses dados.
No caso das línguas reconstruídas, cita-se o Patxohã, dos índios Pataxó da Bahia, e que
faz parte de outro subprojeto de revitalização linguística, também coordenado pela Dra.
Franchetto.
Vale dizer, também, que a segunda cartilha de ensino do Guató conta com
exercícios de matemática, inspirados naqueles feitos pelo professor indígena Zaqueu, que
atua na escola da Aldeia Uberaba (MS). Existem também no texto da cartilha expressões
quantificacionais com os verbos ‘ser muito’ e ‘ser pouco’.
A seguir, alguns printscreens da segunda cartilha Guató, que também faz parte do
acervo digital:

Imagem 14. Menino diz “está é a melancia”.


Imagem 15. Menino pergunta ao outro “quantas melancias você comeu?”, ao que o outro
responde “uma melancia”.
Imagem 16. Exercício de adição.
Imagem 17. Mulher diz “eu asso rabo de jacaré’.
Imagem 18. Menino diz “eu bebi um copo d’água’.
Imagem 19. Menino diz “eu comi muito pedaço de peixe”.
Imagem 20. Música de aniversário inventada por Alves usando palavras do Guató. O
ritmo é o de happy birthday to you e a tradução literal da sentença é ‘mais um ano para
você (gwatai xéne) meu amor (avéru)’.

Da primeira metade de 2017 para a segunda, Dayane Pontes (graduanda em


Letras) entrou para a equipe Guató. A bolsista de iniciação científica do CNPQ
desenvolveu trabalho igual ao de Walter Alves, que foi o de escuta de áudios e
organização destes. Desta vez, os áudios vieram de uma nova leva, entregue a Dra.
Franchetto em Dezembro de 2016 por Joel Pizzini. Essa nova leva contém 7 CDs da época
de gravação do filme de Pizzini, que ele encontrou nos seus pertences só depois. Os CDs
tiveram seus conteúdos anotados e se dividem em entrevista às figuras ligadas aos Guató
e a dados linguísticos elicitados por Pezzini informalmente. Em relação às entrevistas,
consta uma com Manoel de Barros, que morou em Corumbá (MS) e teve contato com os
índios Guató na infância. Também há entrevista a Adair Palácio, linguista que, como já
dissémos, estudou a gramática do Guató. Ela conta sobre aspecto tonal da língua, um
pouco de sua morfologia e empréstimos linguísticos. Obviamente, comenta também o
trabalho do etnólogo Max Schdmit.
A fim de facilitar a compreensão de conteúdos desses CDs, segue abaixo uma
tabela com os personagens entrevistados (importante dizer: quase todo o trabalho de
Pizzini foi feito com os Guató de Mato Grosso do Sul, em Corumbá e na Ilha Ínsua):

Entrevistado Conteúdo
Manoel de Barros (escritor) Leitura de poema e infância com os Guató
Adair Pimentel Palácio (linguista) Comentário sobre a gramática Guató
Prof. Haas (na Alemanha) Leitura trabalho de Schdmit e explicação
sobre o conceito de colecionismo (em
espanhol)
Irma Ada (missionária) Fala da “descoberta” dos Guató e a morte
do militante indígena Celso
Dona Negrinha Conta o mito de formação das baías, fala
da relação dos Guató com a água e animais
(onça e cobra) e conta a história do
cachimbo e do feiticeiro. Também, depõe
sobre a época de trabalho escravo na
fazenda que frequentou
Seu Amancio História de vida
Seu Inocêncio História de vida. Diz que a mãe é “pura”
índia
Seu Zequinha (não Guató) Fala de sua história de vida, ensina a fazer
viola e comenta a morte do militante
indígena Celso. Também depõe sobre a
posse da Ilha Ínsua e sobre ter aprendido
com os índios a fazer chicha
Arqueólogo (provavelmente Jorge Fala de achados arqueológicos ligados ao
Eremites) Guató
Benedito Trata do esquecimento da língua
Cecília Conta seus sonhos e crenças
Sebastião Trata do esquecimento da língua
Veridiano (parente de Vicente, último Fala sobre o material da viola
falante da língua)
Zulmira Trata do esquecimentoda língua e conta a
história da piranha
Josefina (principal consultora do estudo Conta história de vida e fala sobre o
de Palácio) militante indígena Celso. Depõe sobre seu
aprendizado da língua, que foi com a avó.
Ressalta a importância de casar com índio
Severo (ex-cacique) Fala de hábitos alimentares do passado e
de agora e também da morte do militante
indígena Celso
Dona Maria Trata do esquecimento da língua e de sua
história de família
Filha de Dona Maria Fala de parentes que não conhece e
também instiga o filho a falar palavrinhas
em Guató
Marçal (desconhecido?) Fala sobre a questão da terra indígena e a
indignação dos índios nessa questão
Idelfonsa Conta a expulsão da Ilha Ínsua
Naelson Fala de seus sentimentos em relação à
morte do militante indígena Celso
Sr. Rondon Fala de Dona Negrinha
Tomas Fala da morte do militante indígena Celso
Índio bororo (não nomeado) e índio Guató Falam sobre ser indígena e a identidade
(provavelmente Seu Domingos) Guató, ressaltando que cada grupo
indígena tem o seu idioma
Eva Fala de vida após a morte (espiritualidade)
Noemia Trata da visão de grupos evangélicos
sobre os índios e fala da autoestima
indígena
Dona Dalva Maria (esposa do ex-cacique Fala sobre os Guató e a localização deles
Severo e militante da causa Guató)
Benedito Fala sobre Dona Zulmira, dizendo que ela
se lembra de algumas coisas da língua
Veridiano (parente de Vicente, último Fala sobre a caça de passarinho e sobre
falante Guató) pinturas rupestres
Vicente (último falante Guató) Fala sobre trabalho na roça, sobre onça e
sobre sua parente Dona Julia
Armando Fala sobre a pesca e os tipos de pena e
ponta usados
índio Guató (desconhecido) Fala do porquê não querer morar na Ilha
Ínsua

O mais incrível da nova leva de áudios fornecidos por Pizzini foi o grande teor de
dados linguísticos encontrados. Embora não sejam em sua maioria sentenças, muitos são
itens lexicais que ajudam a construir o vocabulário Guató. Mais incrível ainda foi ter
achado, entre tantos áudios, um canto em Guató realizado por Josefina e Dona Negrinha.
Este canto encontra-se em mais de um arquivo, tendo cerca de dois ou três minutos. Vale
dizer que muitos conteúdos dessa nova leva, linguísticos ou não, se repetem
frequentemente em diferentes árquivos de áudio, pois Pizzini realizou para a filmgem de
seu filme diversos cortes digitais nas gravações, o que ocasionou uma grande uma
existência de arquivos por vezes repetidos. Estes arquivos ainda merecem melhor
tratamento para o acervo digital Guató.
A seguir, uma tabela com os personagens que, nessa nova leva, produziram algum
conteúdo linguístico, em maior ou menor escala:

Consultante Observação sobre conteúdo linguístico


Josefina Palavras soltas, frases (algumas sem
tradução) e atividade da contagem de
numerais
João (provavelmente, João Quirino) Palavras soltas e nome em Guató
Dona Negrinha Palavras, frases (algumas sem tradução ou
mais ou menos traduzidas) e pequena
história da expulsão da Ilha Ínsua (toda em
Guató). Também, nome em Guató,
atividade da contagem de numerais e mito
de formação das baías.
Seu Zequinha Palavras soltas
Veridiano (parente de Vicente) Trechos de fala por vezes sem tradução e
palavras soltas
Benedito Palavras soltas
José Palavras soltas
Vicente (último falante Guató) Palavras soltas, algumas frases (algumas
sem tradução) e algumas poucas
sequências de fala. Alguns poucos
numerais
Manuel Palavras soltas
Severo (ex-cacique) Nome em Guató
Idelfonsa Expressão “vamos comer” e nome em
Guató
Dona Maria Nome em Guató
Criança (filha de Dona Maria) Duas palavras em Guató
Noemia Nome em Guató
Família Vicente Frases em Guató
Dona Julia Atividade de contagem de numerais
Dona Dalva Maria (esposa do ex-cacique Expressão “vamos comer” e nome em
Severo) Guató
Severo (ex-cacique) Nome em Guató
Dona Maria Algumas poucas frases, nome em Guató
e palavras soltas
Eva Convite para tomar mate

Na nova leva de áudios, encontram-se em alguns dos CDs disponibilizados


arquivos de áudio com elicitação de Palácio e que com certeza parecem ser inéditas. Eles,
junto com o restante da nova leva, também foram armazenados no acervo digital Guató,
embora seja ainda necessário verificar quais dessas gravações de Palácio são repetidas ou
não.
Importante mencionar, dois CDs dessa nova leva continham duas fitas inéditas da
elicitação de Palácio,que foram fáceis de verificar, já que seus arquivos não estavam
misturados a arquivos de entrevistas como nos outros CDs. Os CDs dessas fitas são o 6 e
o 7. Neles, Dayane Pontes trabalhou imensamente, realizando anotação sobre o seus
conteúdos. Essas anotações de Pontes, bem como todas as anotações das escutas feitas
dos arquivos áudios durante o subprojeto mencionadas até qui, foram colocadas em uma
planilha de formato excel para a melhor organização do trabalho por parte dos
pesquisadores e, também, como prova do trabalho feito para órgãos financiadores de
pesquisa. A grande tabela do excel, embora ainda precise ser preenchida com o nome de
alguns arquivos de áudio (falta-lhe, por exemplo, as anotações das palavras de Postigo),
já expõe grande parte do que foi coletado no subprojeto. Ela será enviada pela Dra.
Franchetto ao órgão financiador do projeto, o CNPQ.
A seguir, um printscreen da tabela “mestre” para que o leitor possa ter noção de
como ela é:

Imagem 14. Planilha “mestre” de organização de todos os arquivos de áudio Guató


coletados até o momento. Em “A”, o nome do CD anotado. Em “B”, o nome do arquivo
de áudio do CD. Em “C”, a minutagem do momento de duração em que a sentença ou
palavra é realizada. Em “D”, conteúdo da sentença ou palavras elicitada. A margem
inferior horizontal indica a pasta onde os CDs estão armazenados. Por exemplo, o
“CD07_GUATÓS_FITA_06_WAVE” está na pasta de trabalho “CDs do Joel Pizzini Jan
2017”.

A planilha “mestre” servirá para auxílio do funcionário do Museu do Índio (Funai-


RJ) no momento do salvamento dos arquivos de áudio na database do Museu. O Museu
foi sede do programa Prodoclin (Programa de Documentação de Línguas Indígenas) e,
por isso, foi escolhido para ser o local de armazenagem do acervo digital.
Recentemente, Godoy e Balykova realizaram a quinta viagem aos Guató. Desta
vez, foram somente aos Guató de Corumbá (MS). De Corumbá, viajaram para a Ilha
Ínsua, na Terra Indígena Guató, e lá passaram uma semana. A viagem durou o mês inteiro
de janeiro de 2018. Rendeu bons frutos: Godoy e Balykova conseguiram gravar muitas
palavras e frases com Eufrásia e, ainda mais interessante, levá-la de volta à Ilha Ínsua,
onde morou. Lá, Eufrásia visitou seu primo Alfredo, que não via há mais de 50 anos.
Alfredo é filho de Dona Zulmira, tia paterna de Eufrásia e que era falante de Guató. Seus
filhos não aprenderam a língua, somente algumas palavras. O pai também sabe algumas
palavras, como nomes para bicho, para peixe e para utensílios domésticos – seu próprio
nome em Guató também é conhecido (motabɯ ‘cágado’).

Imagem. 15. Eufrásia com a foto da avó. A fotografia foi revelada por Godoy e Balykova
e foi publicada originalmente no livro Na Rondônia Ocidental (1938) por Frederico
Rondon.

Imagem 16. Eufrásia na lancha Guató I.


Imagem 17. Alfredo (primo) e Eufrásia.

O auge da quinta viagem foi o momento em que Godoy e Balykova levaram


Eufrásia para conhecer Vicente, outro falante de Guató. Desta vez, Vicente foi receptivo
com os visitantes. Balykova relata que em sus viagem Vicente sabia nomear animais de
um livro de aves que lhe foi mostrado, assim como sabia diversos neologismos do século
XX (palavras para ‘avião’, ‘telefone’, ‘pilha’, etc). Relata também que Eufrásia foi bem
rápida e espontânea ao formar frases, as quais foram direcionadas a Vicente.
No total, a viagem dos dois pesquisadores rendeu 9 horas e 10 minutos de
elicitação de dados linguísticos. O conteúdo da elicitação versa sobre palavras que
expressam propriedades como “velho”, novo”, “molhado”, “seco”, “bêbado”, pois este é
o foco de estudo de Balykova em seu mestrado. Também, foram elicitadas palavras ainda
não registradas, como “mosquiteiro”, “calçado”, “bolacha”, “laterna”, “enterrar”, “parir”,
“suar,”, etc.
Em relação às entrevistas, estas foram sete, com mais de 6 horas de duração.
Outros vídeos foram de Eufrásia conversando com Vicente em Guató, conversando com
seus primos Jinho e Benedito e, também, curtindo a viagem na lancha. Todo esse extenso
maetrial será armazenado no acervo digital Guató. Infelizmente, ainda não existem
transcrições dos dados linguísticos nem a sua organização na planilha “mestre” porque a
viagem foi muito recente.
Por fim, é necessário comentar alguns outros outcomes da empreitada da equipe
UFRJ. Alves e Godoy, por terem estudado expressões quantificacionais em Guató a partir
de Eufrásia, puderam apresentar o resultado de suas investigações no Workshop “A
typology of count, mass and number in Brazilian Languages”, que tomou lugar no Museu
do Índio (Funai-RJ) em Agosto de 2017. O evento foi organizado por Suzi Lima (UFRJ,
Uoft) e por Susan Rothstein (Bar Ilan University). Alves também apresentou pesquisa
sobre os numerais Guató no evento “Workshop of undergraduate research on Brazilian
Languages”, organizado por Suzi Lima (UFRJ, Uoft) no mesmo mês. O estudo de Alves
e Godoy sobre a distinção massivo-contável em Guató será publicado na revista
Linguistic Variation, cuja edição está a cargo de Suzi Lima (UFRJ, Uoft) e Susan
Rothstein (Bar Ilan University).
O estudo de numerais por Alves resultu em sua monografia de conclusão de curso.
Nela, o autor descreve o sistema numeral usado pelos indígenas na escola da Aldeia
Uberaba (MS), comparando-o com aquele registrado por Palácio (1984). Percebe que
ambos os sistemas numéricos não são muito diferentes um do outro, de modo que os
Guató de Uberaba provavelmente reproduziram o sistema registrado por Palácio parao
ensino na escola. As modificações entre um e outro sistema referem-se a perdas fônicas
não muito relevantes. O mais interessante do sistema numeral Guató, contudo, foi ver
como Dalva Maria, esposa do ex-cacique Severo, criou novos numerais para a sequência
numérica da língua, valendo-se de formas já existentes nela e registradas por Palácio.
O estudo de Alves possui também uma parte em que descrevem-se sentenças com
numerais em Guató. Sendo assim, o autor comenta a interação entre nominais e numerais
para falar da distinção massivo-contável. Descreve alguns sufixos que se combinam aos
numerais e também a estratégia relacional comentada por Epps (2012, 2013), em que um
termo de parentesco é usado para denotar um numeral. No caso do Guató, trata-se do
termo dúníhi ‘irmão’ que concorre com dúni ‘dois’ para a expressão do valor numérico.
Além disso, Alves ressalta o fato interessante de o verbo descritivo ‘ser pouco’ ser
formado pela raiz do numeral para ‘três’ ͡tʃúmu. E, por fim, o autor fala fum pouco da
posição dos numerais em na sentença, dizendo que estes podem aparecer no início dela,
sobretudo em sentenças imperativas com o verbo ‘dar’. Deixa o tema da posição dos
numerais para futuras pesquisas pois, devido a falta de dados, sua posição não foi possível
mapear totalmente (há, ainda, a hipótese de que os numerais não sejam modificadores
nominais, mas antes advérbios).
Atualmente, Dayane Pontes estuda os tons da língua Guató. Seu objetivo é
verificar se o Guató é realmente uma língua tonal, tal como afirmado por Palácio (1984).
Para isso, Dayane tem estudado textos que tratam sobre tom e acento, ambos
suprassegmentos da palavra e da frase fonológica. O estudo da jovem pesquisadora
resultará em sua monografia de conclusão de curso e possível projeto de mestado.
Balykova realizou a tradução crítica do capítulo 9 “Guató: A língua” do livro de
Max Schdmit “Indianerstudien in Zentralbrasilien. Erlebnisse und etnologische
Ergebnisse einer Reise in den Jahre 1900-1901”. A tradução está em revisão e será
publicada em breve pela Cadernos de Etnolinguística.
Finalmente, um resumo do que cada membro da equipe da UFRJ fez no subprojeto
de revitalização Guató, em uma tabela elencando tarefas. A equipe fica muito feliz de ter
dado todas as contribuições descritas ao longo deste relatório para o estudo das línguas
indígenas brasileiras e para a formação do acervo digital, que poderá ser consultado pelos
Guató a sua vontade.

Membro Atividade
Bruna Franchetto Coordenação do subprojeto e orientação
acadêmica de todos os participantes da
equipe. Ministrou a Primeira Oficina da
Revitalização da Língua Guató junto a
Godoy. Publicação de artigo junto de
Godoy na Revista LinguíStica (UFRJ).
Walter Alves (bolsista PIBIC-UFRJ) Organização da cartilha de ensino Guató 1
e produção da cartilha 2, assim como
trabalho de escuta e organização de
arquivos de áudio e vídeo para
documentação linguística. Estudo dos
numerais Guató (monografia de conclusão
de curso), com consequente transcrição
fonológica de sentenças e palavras.
Análise morfológica do vocabulário de
Schdmit na tradução de Balykova.
Participou de duas viagens de campo,
onde elicitou dados linguísticos junto de
Godoy e Balykova. Ministrou, junto
destes, a Segunda Oficina de
Revitalização da Língua Guató.
Dayane Pontes (bolsista CNPQ) Trabalho de escuta e organização de
arquivos de áudio e vídeo para
documentação linguística. Estudo sobre os
tons do Guató.
Gustavo Godoy (doutorando e bolsista Coordenação dos alunos de graduação
CNPQ) para tarefas de escuta e organização de
áudios e vídeos. Arquivamento de
palavras no programa FLEX e realização
de transcrições fonológicas de senteças e
palavras do Guató. Análise morfológica
do vocabulário de Schdmit na tradução de
Balykova. Ajuda na revisão de texto da
tradução de Balykova. Realização, junto
dela e Alves, da Segunda Oficina de
Revitalização Linguística. Participação
em todas as viagens de campo, elicitando
dados linguísticos. Publicação de artigo
junto de Franchetto na Revista
LinguíStica (UFRJ).
Kristina Balykova (mestranda e bolsista Tradução crítica do capítulo “Guató: A
CNPQ) língua” da obra de Schdmit. Participou de
2 viagens de campo, elicitando dados
linguísticos. Desenvolve dissertação de
mestrado sobre propriedades adjetivas em
que o Guató é uma das línguas
protagonistas do estudo.
Observação: Não é membro da equipe de revitalização,
Chikinha Navantino Paresi (doutoranda mas ofereceu apoio logístico para a
UFRJ e bolsista CNPQ) realização das duas Oficinas de
Revitalização. Hospedou os viajantes de
campo em sua casa na cidade de Cuiabá
(MT) e mobilizou a SEDUC-MT para
fornecer apoio às tarefas da equipe.
Referências bibliográficas:

FRANCHETTO, B e GODOY, G. 2017 (no prelo). Primeiros passos da


revitalização da língua Guató: uma etnografia. Revista LinguíStica, v.13, n.1,
jan.2017. Rio de Janeiro: Programa de Pós-graduação em Linguística, UFRJ.

PALÁCIO, A. 1984. Guató: A língua dos índios canoeiros do Rio Paraguai.


Tese de doutorado. UNICAMP.

POSTIGO, A. 2009. Fonologia da língua Guató. Diss. de mestrado. UFMS.

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