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2017

Direito Penal
Professor: Jordan Chaves
1) PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL

O Direito Penal, na Constituição, é abordado nos incisos do artigo 5º. Vejamos os


principais.

LEGALIDADE
Art. 5º...
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

Anterioridade Reserva legal

Obs> apenas lei em sentido estrito pode criar crimes.

PERSONALIDADE OU INTRANSCENDÊNCIA PESSOAL OU INDIVIDUALIZAÇÃO DAS PENAS


Art. 5º...
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores
e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

OBS> Multa é pena, portanto não é transmitida aos sucessores

PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
Art. 5º...
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

IRRETROATIVIDADE
Art. 5º...
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

NÃO AUTO INCRIMINAÇÃO


Art. 5º...
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-
lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA

É chamado de princípio da insignificância ou bagatela aquele que trata de ações tipificadas


como crime, mas cujo efeito concreto é completamente irrelevante e não causa qualquer lesão
à sociedade, ao ordenamento jurídico ou à própria vítima. São requisitos:

a) Mínima ofensividade da conduta;


b) Ausência de periculosidade social da ação;
c) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento

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d) Inexpressividade da lesão jurídica
CONFLITO DE NORMAS:

Quando existe uma pluralidade de normas aparentemente regulando um mesmo fato criminoso
(CONFLITO APARENTE DE NORMAS), para saber qual das normas deve ser aplicada, temos que
recorrer aos seguintes princípios: ( SECA)

SUBSIDIARIEDADE (lex primaria derrogat subsidiariae)


Se, entre duas normas, uma pode ser considerada primária e a outra subsidiária
(secundária), aplica-se a primária.

ESPECIALIDADE (lex specialis derrogat generali)


A norma especial é aplicada com prejuízo da norma geral.

CONSUNÇÃO
Ocorre quando um fato definido como crime atua como fase de preparação ou de
execução, ou ainda, como exaurimento de outro crime mais grave, ficando absorvido por
este.
Ex: Lesão corporal + homicídio.

ALTERNATIVIDADE
Quando a norma penal descreve várias formas de execução de um mesmo delito, a
prática de mais de uma dessas condutas caracteriza crime único.
Ex: Participação em suicídio (art.122 CP) – instigar e auxiliar.

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

ABOLITIO CRIMINIS
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

LEX MITIOR (Princípio da retroatividade da Lei Penal mais benigna)


A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

TEMPUS REGIT ACTUM (Ultratividade da Lei Penal)


A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

TEMPO DO CRIME

Teoria da atividade => Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão


(momento da conduta), ainda que outro seja o momento do resultado.
O que acontece na prática de um crime (permanente ou continuado) sob a vigência de
uma lei, vindo a se prolongar até a entrada em vigor de outra lei?
- Crime Permanente (Ex seqüestro) – aplica-se a última lei, mesmo que seja mais
severa.
- Crime Continuado (Ex: furto dos quartos de um hotel) – aplica-se a ultima lei mesmo
que mais servera.
-
TERRITORIALIDADE
Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

Consideram-se como extensão do território nacional:

PÚBLICAS OU A Onde quer que se encontrem


EMBARCAÇÕES SERVIÇO DO GOVERNO
E AERONAVES
BRASILEIRAS
MERCANTES OU No espaço aéreo correspondente
PRIVADAS ou em alto mar

Em pouso no território nacional


EMBARCAÇÕES
DE PROPRIEDADE ou espaço aéreo correspondente
E AERONAVES
ESTRANGEIRAS PRIVADA
Em porto ou mar territorial do
Brasil 2
LUGAR DO CRIME
Teoria da Ubiqüidade => Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou
omissão (Teoria da Atividade), no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado (Teoria do Resultado).

TEORIA DA UBIQUIDADE = TEORIA DO RESULTADO + TEORIA DA ATIVIDADE

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EXTRATERRITORIALIDADE (exceções a regra de aplicação da

territorialidade) Pode ser de dois tipos:

a) Incondicionada - o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou


condenado no estrangeiro quando ocorrer:

- contra a vida ou a liberdade do Presidente da República


- contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,
Crimes de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público
- contra a administração pública, por quem está a seu serviço
- de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil

b) Condicionada - a aplicação da lei brasileira depende do concurso de algumas condições


quando ocorrer:
- que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir
- praticados por brasileiro
Crimes
- praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados

- entrar o agente no território nacional


- ser o fato punível também no país em que foi praticado
- estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
Condições
extradição
- não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena
- não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável

Condições necessárias para aplicabilidade da lei brasileira ao crime cometido por


estrangeiro contra brasileiro fora do país:
- a extradição ter sido negada ou não ter sido pedida, e
- haver requisição do Ministro da Justiça.

PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO


- Pena igual no Brasil => ocorre o cômputo da pena já cumprida na pena brasileira.
- Pena diferente no Brasil => a pena brasileira é atenuada.

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EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA NO BRASIL
Quando a lei brasileira produz as mesmas conseqüências da sentença estrangeira, esta
pode ser homologada no Brasil para:

à reparação do
- obrigar o dano a
condenado restituições
As obrigações dependem de pedido da
parte interessada
a outros efeitos civis

- sujeita-lo à medidas de segurança Depende da existência de tratado de extradição com o país


de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na
falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.

São providências de caráter preventivo que têm


por objeto os inimputáveis e os semi-imputáveis.
Podem ser detentivas (internação em hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico) ou restritivas
(sujeição a tratamento ambulatorial).

CONTAGEM DE PRAZO
O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos
pelo calendário comum.

FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA


- Pena de multa => desprezam-se as frações de cruzeiro.
- Pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos => desprezam-se as frações de
dia.

LEGISLAÇÃO ESPECIAL (Princípio da especialidade)


As regras gerais do Código Penal aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta
não dispuser de modo diverso

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2) SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO DA INFRAÇÃO PENAL

SUJEITO ATIVO
- É aquele que pratica a conduta descrita na norma penal, ou seja, é aquele a quem se atribui
a responsabilidade.
- Não pode ser seres irracionais. (Ex: um cachorro)
- Pode ser pessoa jurídica nas seguintes situações:
I – quando praticar atos contra a ordem econômica e
financeira.
II – quando praticar atos contra a economia popular.
III – quando praticar atos contra o meio ambiente.

SUJEITO PASSIVO
- É o titular do bem lesionado.
- Pode ser classificado de duas formas:
I – Constante ou formal => é o Estado que sempre zela pela coletividade.
II – Material ou eventual => é o protegido diretamente que tem o bem lesionado.

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3) TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE
Vontade (dolo ou
culpa) Finalidade
CONDUTA Exteriorizaç
ão
Consciência

ELEMENTOS
SUJEITOS DA AÇÃO ativo ou passivo
FATO TÍPICO
Jurídico – todo crime possui
RESULTADO Naturalístico – nem todo crime
possui

NEXO CAUSAL Liame estabelecido entre a


conduta e o resultado

TIPICIDADE
CRIME

Modelo de conduta descrito na


norma penal

(refere-se ao fato)
DO

ILICITUDE OU É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico


ANTIJURIDICIDADE
ELEMENTOS

EXCLUDENTES DE ILICITUDE
1) Estado de necessidade (art 24 CP)
2) Estrito cumprimento do dever legal
3) Exercício regular de direito
4) Legítima defesa (art 25 CP)

A emoção ou a paixão não excluem a imputabilidade penal.


ELEMENTOS

(refere-se ao agente) IMPUTABILIDADE

CULPABILIDADE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DE ILICITUDE

EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA


EXCLUDENTES DE IMPUTABILIDADE EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE
1) Doença mental 1) Erro inevitável sobre a ilicitude do fato
2) Desenvolvimento mental incompleto ou (erro de proibição)
retardado 2) Coação irresistível 7
3) Menoridade 3) Orem não manifestamente ilegal de
4) Embriaguez completa decorrente de caso superior hierárquico
fortuito ou força maior
nos movimentos
- Não há conduta reflexos na coação
física absoluta
nos estados de inconsciência

- Erro de Evitável diminui a pena de 1/6ª1/3


proibição
Inevitável exclui a culpabilidade
- Erro de tipo exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo se previsto em lei

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES


1) Quanto à duração do momento consumativo:
- instantâneo – Ex: estupro
- permanente – Ex: seqüestro
- instantâneo de efeitos permanentes – EX: homicídio

2) Quanto ao meio de execução


- comissivo – praticado através de uma ação

Próprio – simples abstenção independente de um resultado posterior


-omissivo Ex: omissão de socorro
Impróprio – simples abstenção dependente de um resultado posterior
Ex: a mãe que deixa de amamentar seu filho, provocando a
morte

3) Quanto ao resultado
- material – ação e resultados exigidos – Ex: estelionato (empregar fraude para obter
vantagem ilícita)
- formal – ação e resultado não exigido – Ex: o seqüestro (independe do recebimento do
resgate)
- de mera conduta – simples ação – Ex: violação de domicílio

4) Quanto ao sujeito ativo da infração penal


- comum – pode ser praticado por qualquer pessoa – Ex: furto
- próprio – só determinada categoria de pessoas pode cometer – Ex: corrupção passiva
- de mão própria – só pode ser executado por uma única pessoa, não admite co-autoria –
Ex: falso testemunho

5) Quanto à valoração da pena


- simples – o legislador enumera as elementares do crime em sua figura fundamental
- privilegiado – quando o legislador estabelece circunstâncias que reduzem a pena
- qualificado – quando o legislador estabelece circunstâncias que aumentam a pena

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6) Quanto à quantidade de atos:

- unissubsistente – a ação é composta por um só ato, não admite tentativa – Ex: injúria
verbal
- plurissubsistente – a ação é representada por vários atos formando um processo
executivo que pode ser fracionado, admite tentativa – Ex: homicídio

Ver esquema do inter criminis

7) Quanto à quantidade de agentes


- unissubjetivo – pode ser praticado individualmente pelo agente – Ex: homicídio
- plurissubjetivo – exige o concurso de no mínimo duas pessoas – Ex: quadrilha e

bigamia CONCURSO DE PESSOAS (autor, co-autor e partícipe)

I – Autor => é aquele que executa a conduta típica descrita na lei, ou seja, quem realiza o
verbo contido no tipo penal. (Ex: homicídio – matar alguém)

II – Co-autoria => existe quando duas ou mais pessoas, conjuntamente, praticam a conduta
descrita no tipo. (Ex: homicídio – duas pessoas atiram ao mesmo tempo em ciclano)

III – Partícipe => é aquele que não comete qualquer das condutas típicas (verbos), mas de
alguma forma concorre para o crime. (Ex: o motorista de um carro que espera um ladrão
assaltar uma loja)

8) Quanto à quantidade de agentes


- unissubjetivo – pode ser praticado individualmente pelo agente – Ex: homicídio
- plurissubjetivo – exige o concurso de no mínimo duas pessoas – Ex: quadrilha e

bigamia CONCURSO DE PESSOAS (autor, co-autor e partícipe)

IV – Autor => é aquele que executa a conduta típica descrita na lei, ou seja, quem realiza o
verbo contido no tipo penal. (Ex: homicídio – matar alguém)

V – Co-autoria => existe quando duas ou mais pessoas, conjuntamente, praticam a conduta
descrita no tipo. (Ex: homicídio – duas pessoas atiram ao mesmo tempo em ciclano)

VI – Partícipe => é aquele que não comete qualquer das condutas típicas (verbos), mas de
alguma forma concorre para o crime. (Ex: o motorista de um carro que espera um ladrão
assaltar uma loja)

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9) Quanto à quantidade de agentes
- unissubjetivo – pode ser praticado individualmente pelo agente – Ex: homicídio
- plurissubjetivo – exige o concurso de no mínimo duas pessoas – Ex: quadrilha e

bigamia CONCURSO DE PESSOAS (autor, co-autor e partícipe)

VII – Autor => é aquele que executa a conduta típica descrita na lei, ou seja, quem realiza
o verbo contido no tipo penal. (Ex: homicídio – matar alguém)

VIII – Co-autoria => existe quando duas ou mais pessoas, conjuntamente, praticam a
conduta descrita no tipo. (Ex: homicídio – duas pessoas atiram ao mesmo tempo em ciclano)

IX – Partícipe => é aquele que não comete qualquer das condutas típicas (verbos), mas de
alguma forma concorre para o crime. (Ex: o motorista de um carro que espera um ladrão
assaltar uma loja)

Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade.

Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a


um terço.

Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena
deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.

Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando


elementares do crime.

O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em


contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

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CONCEITOS IMPORTANTES

Direto o agente quer o resultado


Dolo
Eventual – o agente prefere agir e correr o risco a deixar de fazer. (Foda-
se)
Indireto
Alternativo – o agente antevê dois ou mais resultados possíveis e age
assumindo o risco de causar outro resultado.

Inconsciente – não há previsão do previsível. (Ih Fudeu)


Consciente – o agente antevê o resultado danoso possível, mas sinceramente não
Culpa
aceita que ele ocorra.
Imprópria – há um erro acerca dos elementos constitutivos do tipo penal. (Erro de
tipo)

doloso – o agente quer diretamente o resultado (admite tentativa)

Crime
culposo – o agente dá causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia

preterdoloso – o agente, através de uma conduta dolosa, acarreta um resultado


agravador culposo

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INTER CRIMINIS (O CAMINHO DO CRIME)

ARREPENDIMEN
DESISTÊN ARREPENDIME TO
TENTATIVA
CIA NTO POSTERIOR
VOLUNTÁ EFICAZ
RIA

RESULTADO

COGITAÇÃO PREPARAÇÃO EXECUÇÃO CONSUMAÇÃO

- cogitação – nessa fase o agente está apenas pensando em cometer o crime e, como não há
exteriorização do pensamento, o ato praticado durante a fase de cogitação não é punível.

- preparação – compreende a prática de todos os atos necessários ao início da execução. Em


regra, o ato praticado durante a fase da preparação não é punível, a não ser que constitua
crime autônomo.
Ex: alugar uma casa para cativeiro (não é punível).
aquisição de uma arma ilegal (é um crime autônomo, portanto é punível).

TENTATIVA => não ocorre a consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente.
- Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime
consumado diminuído de 1/3 a 2/3.

De mera
conduta
- não é admitida nos Omissivos
crimes Culposos
Preterdolosos
Impossíveis

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA => o agente pode prosseguir, mas para de praticar o crime durante
a sua execução.
- o agente só responde pelos atos que efetivamente já praticou.

ARREPENDIMENTO EFICAZ => durante a consumação o agente se arrepende e atua em sentido


contrário, buscando impedir que o resultado ocorra.
- o agente só responde pelos atos que efetivamente já praticou.

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ARREPENDIMENTO POSTERIOR => o agente percorre todas as fases do crime e alcança o
resultado, mas, antes do recebimento da denúncia/queixa, ele age voluntariamente buscando
sanar o dano.

*PENAS:

- Privativas de liberdade – máximo de 30 anos


TIPOS
DE - Restritiva de direitos
PENAS - Multa – se, mesmo aplicado o máximo da pena, o Juiz considera-la
ineficaz virtude situação econômica do réu, a pena poderá ser triplicada

PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE

Fechado - estabelecimento de segurança máxima ou média


Reclusão - Semi-aberto - colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
Regimes similar
Aberto - casa de albergado ou estabelecimento adequado

Semi-aberto - colônia agrícola, industrial ou estabelecimento


Detenção - similar
Regimes Aberto - casa de albergado ou estabelecimento adequado

Pena > 8 anos obrigatoriedade do regime fechado


Condenado
Não reincidente 4 anos < pena <ou= 8 anos regime semi-aberto
pena <ou= 4 anos regime aberto

Prestação pecuniária entre 1 e 360 salários


mínimo Perda de bens e valores
PENAS RESTRITIVAS Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
DE DIREITOS (condenações superiores a seis meses de privação da liberdade)
Interdição temporária de direitos
Limitação de fim de semana (obrigação de permanecer, aos sábados
e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro
estabelecimento adequado)

SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (PPL) POR RESTRITIVA DE DIREITOS (PRD)

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- PPL não superior a 4 anos e crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa
- qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo
HIPÓTESES

- o réu não for reincidente em crime doloso


- a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,
bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente

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- se PPL < ou = a 1 ano, a substituição pode ser por multa ou por uma única PRD.
- se PPL > 1 ano, a substituição pode ser por uma PRD e uma multa ou duas PRD.

Material 2 ou + ações implicam em 2 ou + resultados (cumulatividade


CONCURSO
DE CRIMES das penas)

Formal – -1 ação implica em 2 ou + resultados (exasperação da pena

de 1/6 a 1/2).

- PROPRIO: Agente não tinha a intenção de produzir ambos os resultados

- IMPROPRIO: Agente tinha a intenção de produzir ambos os resutados.

Neste caso aplica-se a ( cumulatividade das penas)

5) IMPUTABILIDADE PENAL

Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente

inimputáveis.

INIMPUTÁVEL (isenção da pena)


- o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

SEMI INIMPUTAVEL - REDUÇÃO DA PENA (de 1/3 a 2/3)


- se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

6) EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
A punibilidade não é um elemento do crime, é uma conseqüência jurídica que decorre da
prática de um ilícito. Ou seja, se uma causa extintiva de punibilidade é utilizada, o Estado abre
mão de punir, porém a infração penal não deixa de existir.
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EXCLUDENTES DE PUNIBILIDADE
1) Morte do agente
2) Anistia, graça ou indulto
3) Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso
4) Prescrição, decadência ou perempção
5) Renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada
6) Retratação do agente, nos casos em que a lei a admite
7) Perdão judicial, nos casos previstos em lei

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Vejamos todas elas separadamente:

MORTE DO AGENTE
- extingue a punibilidade até mesmo quando aplicada a pena de multa.

ANISTIA
- é a declaração do Estado de que não mais se interessa em punir determinados fatos. O
Estado abre mão do direito de punir.
- será concedida por lei.

INDULTO
- é a clemência cometida pelo Presidente da República.
- será concedido por decreto e dirigido à várias pessoas que preencham os requisitos
estabelecidos.

GRAÇA
- é o indulto individual.

RETROATIVIDADE DA LEI QUE NÃO MAIS CONSIDERA O FATO COMO CRIMINOSO


- ver abolitio criminis na página 1.

DECADÊNCIA
- é a perda do direito de representar na ação penal pública condicionada ou oferecer queixa
na ação penal privada, por decurso do prazo previsto em lei.

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- Prazo: 6 meses contados do dia que o ofendido veio a saber quem é o autor do crime ou do
dia em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.

- A decadência na ação penal privada subsidiária da pública não extingue a punibilidade, pois o
Ministério Público ainda poderá propor a ação penal pública.

PEREMPÇÃO
- é a perda do direito de prosseguir na ação penal privada em razão da inércia ou negligência
processual do querelante (ofendido).

RENÚNCIA DO DIREITO DE QUEIXA NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA


- é o ato unilateral por meio do qual o ofendido ou seu representante legal abre mão do direito
de queixa ou abdica do direito de processar o autor da infração penal.

- o direito de queixa ficará indisponível em duas


ocasiões: I – quando da decadência
II – quando já recebida a queixa pelo judiciário

PERDÃO ACEITO NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA


- a ação penal privada não pode ser subsidiária da pública
- se concedido a qualquer dos querelados aproveita a todos
- se concedido por um dos ofendidos não prejudica o direito dos outros
- não produz efeitos se o querelado o recusa (bilateralidade)
- perdão tácito => é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir
na ação

Não é admitido o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória.

RETRATAÇÃO DO AGENTE NOS CASOS EM QUE A LEI ADMITE


- a aceitação da retratação é irrelevante, o ato é unilateral

Calúnia A injúria não admite retratação


Casos Difamação
admitidos Falso testemunho
Falsa perícia A retratação deve ocorrer antes de prolatada a sentença

PERDÃO JUDICIAL
- é a clemência do Estado para determinadas situações expressamente previstas em lei.
- a sentença que concede o perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência
- hipótese de aplicação: homicídio culposo
Ex: o pai, por imprudência, mata o filho em acidente de trânsito.

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PRESCRIÇÃO
Tendo em vista que este assunto é bastante cobrado pela FCC, vou adaptar o
comentário de uma questão dos simulados disponibilizados no site do adinoel.
INÍCIO DO
QUEIXA OU SENTENÇ CUMPRIMENT
CRIM REPRESENTAÇÃ A O DA PENA
E O FINAL

PRESCRIÇÃO PRESCRIÇÃO
PUNTIVA EXECUTÓRIA

A decadência ocorre quando o ofendido decai do direito de queixa ou de representação


se não o exerce dentro do prazo de 6 meses, contado do dia em que veio a saber quem é o
autor do crime, ou, na ação penal privada subsidiária da pública (quando o Ministério Público
não oferece denúncia no prazo legal), do dia que se esgota o prazo para oferecimento da
denúncia.

Já a prescrição é a perda do direito de punir (pretensão punitiva) ou de executar a


pena (pretensão executória) pelo decurso de prazo legal para as respectivas pretensões.

Ou seja, após o recebimento da queixa, enquanto o Estado não transitar em julgado a


sentença, poderá ocorrer a prescrição da pretensão punitiva. Após o trânsito em julgado,
enquanto o condenado não iniciar o cumprimento da pena, poderá ocorrer a prescrição da
pretensão executória.

Vamos tratar da prescrição da pretensão punitiva e da prescrição da pretensão


executória comparando os conceitos.

O prazo prescricional da pretensão punitiva regula-se pelo máximo da pena


privativa de liberdade que pode ser aplicada ao crime. Vejamos a tabela abaixo:

PRAZO PARA A MÁXIMO DA PENA / PENA APLICADA


PRESCRIÇÃO
2 anos Inferior a 1 ano
4 anos Maior ou igual a 1 ano e menor ou igual a
8 anos Maior que 2 anos 2eanos
menor ou igual a 4
12 anos anos
Maior que 4 anos e menor ou igual a 8
16 anos Maior que 8 anos eanos
menor ou igual a 12
20 anos Superioranos
a 12 anos

Ex: Se um funcionário público comete crime de concussão, que tem como pena prevista
reclusão de 2 a 12 anos e multa, a prescrição da pretensão punitiva será regulada pelo
máximo da pena. Ou seja, se o máximo é de 12 anos, ao olharmos na tabela, vemos que o

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prazo prescricional é de 16 anos.

PARTE ESPECIAL

1.CP ART. 121 – Matar alguém.

I - Bem jurídico e sujeito do delito

O bem jurídico se apresenta na forma da destruição da vida humana, por um fim. Com isto em
mente o bem jurídico tutelado é a vida, sua preservação e integridade. A importância do
estabelecimento é de vital importância e deve assumir preponderância, pois está assegurada pela
Constituição Federal.

Assim se refere o doutrinador:

O bem jurídica “vida humana” pode ser compreendido de um


ponto de vista estritamente físico-biológico ou sob uma
perspectiva ou sob uma perspectiva valorativa. Para
uma concepção naturalista, a presença de vida aferida segundo
critérios científico-naturalísticos (biológicos e fisiológicos).
(PRADO; 2014, p. 630).

Importa apontar que o Direito protege a vida a partir do nascimento até ser ceifada e com
tal importância há um destaque acentuado e necessário atribuído pela Carta Magna e o
próprio Código que trata de estabelecer sua proeminência.

Não é demais citar, Bitencourt:

O Direito Penal protege a vida desde o momento da concepção até


que ela se extinga, sem distinção da capacidade física ou mental
das pessoas. Dentre os bens jurídicos que o indivíduo é titular e
para cuja proteção a ordem jurídica vai ao extremo de utilizar a
própria repressão penal, a vida destaca-se como o mais valioso.
(BITENCOURT, 2014, p. 441).

Sem amparo para discutir a importância e valor uma vez que a lei e a doutrina assim a
conserva, resta seguro o valor e a proteção demonstrada.
20
II - Classificação

a) Crime é comum – não demanda do sujeito ativo qualificação especial.

b) Material – Exige resultado naturalístico, consistindo na morte da vítima.

c). De forma livre – Pode ser qualquer meio escolhido pelo agente.

d). Comissivo – O ato matar implica em ação.

e) Instantâneo – quando não há prolongação no tempo da ação praticada é instantânea.

f) Dano – a efetiva lesão consuma efetiva lesão ao bem jurídico.

g) Unissubjetivo – que pode ser praticado por um só agente.

h). Progressivo – Por trazer em seu bojo a lesão corporal como elemento implícito).

i) Plurissubsistente – via de regra, vários atos integram a conduta de matar.

ADMITE TENTATIVA.

(NUCCI, 2012, p.625).

III - Espécies:

a) Homicídio Simples (art. 121, caput).

O tipo penal prevê como crime de homicídio o ato de suprimir a vida humana, não definindo o
modo empregado para tanto, que estará sujeita a perícia e todos procedimentos que seguem tal
crime.

Há compreensão da necessidade do dolo para alcançar os efeitos e a realização da descrição legal.

Para embasamento doutrinário cita-se:

O núcleo do tipo é representado pelo verbo matar. A conduta


incriminada consiste em matar alguém – que não o próprio agente
– por qualquer meio (delito de forma livre). Admite-se a sua
execução, portanto, o recurso a meios variados, diretos ou
indiretos, físicos ou morais, desde que idôneos à produção do
resultado morte. (PRADO; 2014, p. 633).
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b) Homicídio Privilegiado

Está inserido no art.121, §1°, que preceitua “ se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um 1/6 a 1/3”.

A descrição legal carrega vários elementos que que são necessários discorrer para que o texto
legal não cai em uso abusivo e a natureza do ato praticado seja o contemplado.

Vejamos o que os doutrinadores afirmam:

[...]o motivo de relevante valor moral é aquele cujo


conteúdo revela-se em conformidade com os princípios
éticos dominantes em uma determinada sociedade. Ou seja,
são os motivos nobres e altruístas, havidos como
merecedores de indulgência. Tal aferição deve ser balizada
por critérios de natureza objetiva, de acordo com aquilo que
a moral média reputa digno de condescendência. (PRADO,
2014, 635).

Para não flutuar em outros focos, se mantenha este até para servir de laboratório de
apreciação da dificuldade da interpretação legal.

[...]relevante valor é um valor importante para a vida em


sociedade, tais como patriotismo, lealdade, fidelidade,
inviolabilidade de intimidade e de domicílio entre outros.
Quando se tratar de relevante valor social, levam-se em
consideração interesses não exclusivamente individuais,
mas de ordem geral, coletiva.

(NUCCI, 2012, p.630)

Por amor ao debate, cumpre citar mais um dos bons doutrinadores:

Relevante valor moral, por usa vez é aquele superior,


enobrecedor de qualquer cidadão em circunstâncias
normais. Faz-se necessário que se trate de valor
considerável, isto é, adequado aos princípios éticos
dominantes segundo aquilo que a moral média reputa nobre
e merecedor de indulgência.

22
(BITENCOURT, 2014, p. 447).

Buscando ainda explicitar algo de relevante explicação é “sob domínio de violenta


emoção”. Bitencourt assim conceitua:

Não é qualquer emoção que pode assumir a condição de


privilegiadora no homicídio, mas somente a emoção intensa,
violenta, absorvente, que seja capaz de reduzir quase que
completamente a vis electiva, em razão dos motivos que a
eclodiram, dominando, segundo os termos legais, o próprio
autocontrole do agente.

(BITENCOURT, 2014, p. 447).

c) Homicídio Qualificado § 2°

É importante determinar que é a palavra tem um peso que impinge um valor ao crime praticado
distinguindo de um homicídio simples.

Para permitir que impulsione a atividade delituosa.

Assim é classificado:

Considera-se qualificado o homicídio se impulsionando por


certos motivos se praticado com o recurso a determinados
meios que denotem crueldade, insídia ou perigo comum ou
de forma a dificultar ou tornar impossível a defesa da
vítima; ou, por fim, se perpetrado com o escopo de atingir
fins especialmente reprováveis (execução, ocultação,
impunidade ou vantagem de outro crime). (PRADO, 2014,
p. 639).

O legislador foi pródigo em apresentar nos incisos correspondentes ao homicídio qualificado


para que não houvesse dúvida ou construções impróprias para a causação do crime.

d) Homicídio Culposo § 3°

Vem em linha diversa do doloso e apresenta elementos nos parágrafos que corroboram com a
construção do tipo penal não cavilando dúvidas que seccione possibilidades não contempladas
pelo legislador.

23
Cumpre analisar cada parágrafo para escavar suas circunstâncias.

e) Feminicídio

Entrou em vigor a lei 13.104/15. A nova lei alterou o código penal para incluir mais uma
modalidade de homicídio qualificado, o feminicídio: quando crime for praticado contra a mulher
por razões da condição de sexo feminino.

O § 2º-A foi acrescentado como norma explicativa do termo "razões da condição de sexo
feminino", esclarecendo que ocorrerá em duas hipóteses: a) violência doméstica e familiar; b)
menosprezo ou discriminação à condição de mulher; A lei acrescentou ainda o § 7º ao art. 121 do
CP estabelecendo causas de aumento de pena para o crime de feminicídio.

A pena será aumentada de 1/3 até a metade se for praticado: a) durante a gravidez ou nos 3
meses posteriores ao parto; b) contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com
deficiência; c) na presença de ascendente ou descendente da vítima.

Por fim, a lei alterou o art. 1º da Lei 8072/90 (Lei de crimes hediondos) para incluir a alteração,
deixando claro que o feminicídio é nova modalidade de homicídio qualificado, entrando, portanto,
no rol dos crimes hediondos.

f) Perdão Judicial

É previsto que no caso de homicídio culposo, o juiz pode discricionariamente não aplicar a pena,
“se as consequências da infração atingem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária”. (PRADO, 2014, p.646).

Infelizmente, há casos que escapam até ao entendimento maior de justiça, um exemplo onde o
pai esquece o filho no carro trancado num calor escaldante e a criança vem a falecer. Entende-se
que neste caso, já houve uma penalização que é até maior do que a penalização que poderia ser
aplicada.

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Observação: é inadmissível o perdão judicial em se tratando de homicídio culposo, se as
consequências da infração atingirem o próprio de forma tão grave que a sanção penal se
torne desnecessária. (Art. 121, §5°, CP).

g) Pena e ação penal

Comina-se ao homicídio simples pena de reclusão, de seis a vinte anos (art. 121, caput, CP), e a
cada classificação do homicídio há a cominação da pena, levando em conta agravantes,
atenuantes e todas as circunstâncias.

2. Art. 122 – Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o
faça. (Art. 31, CP)

I - Bem jurídico tutelado e sujeito do delito

O bem tutelado juridicamente é a vida humana, nas palavras de Bitencourt “ a vida é um bem
jurídico indisponível! ” (BITENCOURT, 2014, 466). O sujeito ativo do delito pode ser qualquer
agente, não necessitando ter qualidade específica, a não ser a capacidade de induzir, instigar ou
auxiliar.

II – Tipo objetivo

Induzir, Instigar e auxiliar.

III – Lesões corporais

O doutrinador assim trata este tema:

A produção de lesões corporais graves não consuma o tipo penal


descrito no preceito primário, que a ela não se refere. Aliás, lesões
corporais de natureza grave, como caracterizadoras da tentativa
perfeita, aparecem somente no preceito secundário.
(BITENCOURT, 2014, p.122).

Não há exaurimento do tipo penal, uma vez que para que ocorra há a necessidade de consumação
do suicídio.

IV – Causas de aumento de pena

No dispositivo legal, em seu parágrafo único, do art.122 estabelece duas causas especiais de
aumento de pena:

a) A prática do crime por motivo egoístico;

25
b) A prática do crime contra vítima menor ou com capacidade de resistência diminuída, por
qualquer causa.

V – Pena e ação penal

O doutrinador Luiz Regis Prado assim preleciona:

O delito em tela só é punível quando sobrevém a morte ou, na


tentativa, a lesão corporal de natureza grave ao suicida. Estas
operam como condições objetivas de punibilidade. Se o suicídio se
consuma, a pena é de reclusão, de dois a seis anos. Se há
tentativa e desta resulta lesão corporal grave, a pena é de
reclusão, de um a três anos. Quando da tentativa resultam apenas
lesões corporais leves, a instigação, o induzimento ou o auxílio
prestado são impuníveis. (PRADO, 2014, p. 654).

Desta forma atendida as caracterizações impostas pela legislação penal, o atendimento fica
objetivo e satisfatório.

3. INFANTICÍDIO

Art. 123, CP- Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o
parto ou logo após; (ver art. 30, CP).

A exemplo do crime de homicídio, o infanticídio tem a pretensão de proteger a vida humana, o


que se distingue aqui é ser a vida da nascente e do recém-nascido. “É indiferente a existência de
capacidade de vida autônoma, sendo suficiente a presença de vida biológica”. (BITERNCOURT,
2014, p.474).

Tipo objetivo

A conduta resultante deste delito é matar o próprio filho, sendo necessário para tipificação ser
“durante” ou, “logo após” o parto, e se torna indispensável apontar que esta condição é sine qua
non, pois se for horas e dias depois o crime praticado é ou abandono de incapaz (art. 134, CP) ou
homicídio.

A base fundamental e psicológica para o Infanticídio

É de suma necessidade existir uma perturbação psíquica e essa característica patológica existe
neste estado puerperal. Se faz necessário se produzir laudo psiquiátrico para que a constatação de
tal ato se comprove.

O prof. Luiz Regis Prado traz ao centro da discussão um tema que merece atenção:

Assim, por um lado, tem-se o motivo da honra, nas hipóteses em


que a gravidez resulta de relações extramatrimoniais. A
26
culpabilidade é atenuada pelo temor da própria desonra. O delito é
motivado pelo ímpeto de resguardar o pudor ante a inevitável
reprovação social que seria endereçada à mulher. A angústia
resultante dessa situação e o conflito íntimo que aflige a mãe
nessas circunstâncias contribuiria para a eclosão – durante o parto
ou logo após – de um processo perturbador da consciência, que
culminaria na morte dada ao filho. O privilégio é consequência do
desespero da parturiente que concebeu fora do casamento.
(PRADO, 2014, p. 655 e 656).

Nexo Causal

Assim se comenta o doutrinador: “É indispensável uma relação de causalidade entre o estado


puerperal e a ação delituosa praticada; esta tem de ser consequência da influência daquele, que
tem nem sempre produz perturbações psíquicas na mulher”. (BITENCOURT, 2014, p. 475).

Os efeitos do Estado Puerperal

A doutrina assim preleciona:

a) O puerpério não produz nenhuma alteração na mulher; b).


Acarreta-lhe perturbações psicossomáticas que são a causa da
violência contra o próprio filho; c). Provoca-lhe doença mental;
d). Produz –lhe perturbação da saúde mental diminuindo-lhe a
capacidade de entendimento ou de determinação. Na primeira
hipótese, haverá homicídio; na segunda, infanticídio; na
terceira, a parturiente é isenta de pena em razão de sua
inimputabilidade (art. 26, CP); na quarta, terá redução de
pena, em razão de sua semi-imputabilidade. (BITERNCOURT,
2014, p.475).

Crime próprio privilegiado

O crime é próprio, pois exige a mãe em estado puerperal expõe privilégio, pois há uma condição
necessária e indispensável para que tal ato aconteça.

Diferença entre infanticídio e aborto

Aborto é a interrupção da gravidez com consequente morte


do feto (produto da concepção). Consiste na eliminação da
vida intrauterina. A lei não faz distinção entre o óvulo
fecundado (3 primeiras semanas de gestação), embrião (3
primeiros meses) ou feto (a partir dos 3 meses), pois
qualquer fase da gravidez estará configurada o delito de
aborto, quer dizer, entre a concepção e o início do parto. A
principal característica do infanticídio é que nele o feto é

27
morto enquanto nasce ou logo após o nascimento. O aborto,
ao contrário, somente se tipificará se o feto morto antes de
iniciado o trabalho do parto haja ou não a expulsão. Antes
de iniciado o parto existe aborto e não infanticídio. É
necessário precisar em que momento tem início o parto,
uma vez que o fato se classifica como um ou outro crime de
acordo com a ocasião da prática delituosa: antes do início
do parto existe aborto; a partir do seu início, infanticídio.

(http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,diferenciacoes-
juridicas-entre-o-delito-de-infanticidio-e-os-crimes-de-
aborto-e-homicidio,38211.html ).

Crime impossível

Ocorre no caso da mãe sem saber que a criança em seu ventre está morta pratica os atos
característicos do infanticídio.

Classificação Doutrinária

Crime próprio, de dano, material, comissivo ou omissivo, instantâneo, doloso.

4. Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque

Bem jurídico protegido

A análise juridicamente deste bem jurídico “consiste em dar morte ao embrião ou feto
humanos, seja no claustro materno, seja provocando sua expulsão prematura”. (PRADO, 2014,
p.664).

O bem jurídico protegido é a vida do ser humano em formação.


Cumpre dizer que para o Direito Penal, o produto da concepção –
feto ou embrião – não é uma pessoa, embora tampouco, seja
mera esperança de vida ou simples. [...] (Bitencourt, 2014, p.
480).

Só após a concepção com vida que para efeito de Direito Penal, passa a ser pessoa humana
constituída de direitos.

Tipo Penal

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Consiste basicamente em provocar, dando causa da morte do feto, originando desta forma a
condição sine qua non ao tipo que imperiosamente exige para que o ato seja tratado na seara
do aborto.

Segundo alguns, o aborto consiste na “morte dolosa do feto


dentro do útero” ou “na violenta expulsão do feto do ventre
materno, da qual resulte a morte”. De fato, a mera
interrupção da gestação, por si só, não implica aborto, dado
que o feto pode ser expulso do ventre materno e sobreviver
ou, embora com vida, ser morto por outra conduta punível
(infanticídio ou homicídio).

(PRADO, 2014, 665, 666).

Se faz necessário deter no entendimento ainda sobre a forma e instrumentalização para a


prática deste crime. Para se alcançar a plenitude do delito se faz necessário adentrar no
ambiente biológico.

Do ponto de vista biológico, o início da gravidez é marcado


pela fecundação. Todavia, pelo prisma jurídico, a gestação
tem início com a implantação do óvulo fecundado no
endométrio, ou seja, com a sua fixação no útero materno
(nidação). Destarte, o aborto tem como limite mínimo
necessário para sua existência a nidação, que ocorre cerca
de quatorze dias após a concepção. (PRADO, 2014, p. 666,
667).

Aborto e homicídio: distinção

Torna-se fundamental se distinguir as duas práticas que tem resultados semelhantes, porém,
como aponta Bitencourt, há diferenças fundamentais e características:

[...]uma em relação ao objeto da proteção legal e outra em


relação ao estágio da vida que se protege: relativamente ao
objeto não é a pessoa humana que se protege, mas a sua
formação embrionária; em relação ao aspecto temporal,
somente a vida intrauterina, ou seja, desde a concepção até
momentos antes do início do parto[...] (Bitencourt, 2014,
p.480).

Desta feita não se pode falar que houve homicídio no aborto por considerar que não houve vida
fora do útero, na concepção aceita pela doutrina majoritária, há um embrião em formação e na
aceitação do direito, como não houve a expulsão deste feto fora do útero com vida, não há de se
falar de homicídio e sim de aborto, pois houve um rompimento do ciclo natural que o classificaria
como uma pessoa humana com vida.

Figuras típicas de aborto


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“O CP de 1940 tipifica 3 figuras: aborto provocado (124); aborto sofrido (125); aborto consentido
(126) ”. (Bitencourt, 2014,480). Nestes três típicos caracterizado pelo código cumpre apontar
quais são especificamente excludentes e qual é o criminoso, lembrando que o STF no julgamento
da ADPF 54 (ação de descumprimento de princípio fundamental) em 12/04/2012, por maioria de
votos, julgou precedente a ação para declarar a inconstitucionalidade de interpretação segundo a
qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada neste inciso (art.128, II).
Com esta decisão do STF, hoje na doutrina brasileira, existe 3 excludentes a saber: 1) Aborto no
caso de estupro; 2) Aborto no caso quando a vida da gestante esteja em risco e 3) Aborto
anencéfalo.

Análise do art. 124 do CP

O sujeito ativo no caso chamado “autoaborto”, ou “aborto consentido figura a própria mulher, pois
ela mesma pode provocar aborto em si mesma ou consentir que alguém, uma segunda pessoa o
faça. Trata-se nesta autoaborto, a qualificação é de crime de mão própria “só pode ser autor
quem esteja em situação de realizar pessoalmente e de forma direta o fato punível”.

(Luiz Flávio Gomes, http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121924054/o-que-se-entende-


por-crimes-comum-proprio-de-mao-propria-e-vago)

E cumpre lembrar que como qualquer crime de mão própria


admite a participação, como atividade acessória, quando o
partícipe se limita a instigar, induzir ou auxiliar a gestante.
(Bitencourt, 2014, p481).

É de suma importância lembrar que neste caso em comento, haverá autoria por participação ativa
no ato de aborto, como afirma o art. 126, D.P.

Definição de Aborto

Para melhor clareza e compreensão se torna necessário que o conceito de aborto seja assim
dividido.

1) A destruição da vida até o início do parto, que pode ou não ser


criminoso. Após iniciado o parto, a supressão da vida constitui
homicídio, salvo se ocorrem as especiais circunstâncias que
caracterizam o infanticídio, que é figura privilegiada do homicídio
(art.122, DP)

2) Aborto é a interrupção da gravidez antes de atingir o limite


fisiológico, isto é, durante o período compreendido do processo de
gestão, mas é indispensável que ocorram as duas coisas,
acrescidas da morte do feto, pois somente com ocorrência desta o
crime se consuma.

(Bitencourt, 2014, 481).


30
Provocar o aborto e consentir

Neste caso de forma particular não há distinção entre a mulher que consente o aborto e o
autoaborto, para efeito doutrinário é como se a própria gestante tivesse realizado o autoaborto
(art.124, DP). O que claramente ocorre é que o consentimento encerra dois crimes, um para
gestante que consente (art.124, D.P) e, outro para o sujeito que provoca (art. Art.126, DP).

5. Aborto provocado por terceiro

Art. 125 – Provocar aborto, sem consentimento da gestante;

Esta ação descrita no art. 125, do DP, conduz a punição mais gravosa, pois trata-se de aborto
sofrido, onde houve ausência de consentimento real da gestante “ou ausência de consentimento
presumido (menor de 14 anos, alienada ou débil mental) ” (Bitencourt, 2014, p. 482).

O doutrinador ainda explorando o tema o estende de forma a não deixar dúvidas:

Para provocar aborto sem consentimento da gestante não é


necessário que seja mediante violência, fraude ou grave ameaça;
basta simulação ou mesmo dissimulação, ardil ou qualquer outra
forma de burlar a atenção ou vigilância da gestante. Em outros
termos, é suficiente que a gestante desconheça que nela está
sendo praticado o aborto. (Bitencourt, 2014, 483).

Nesta esteira é importante a análise de “morte de mulher grávida: concurso”, como preleciona
“Matar mulher que sabe estar grávida configura também crime de aborto, verificando-se, o
concurso formal, pelo crime de homicídio e aborto”. (Bitencourt, 2014, p. 483).

Consumação e tentativa

O crime de aborto é consumido com a morte do feto ou do embrião, não importando que a morte
ocorra dentro do ventre ou fora dele, assim, consuma-se o crime com “o perecimento do feto ou a
destruição do óvulo”. (Bitencourt, 2014, p.484).

Sendo este crime material, admite-se a tentativa , desde que já esteja ocorrendo todas as
manobras para que se efetue o aborto e por motivo alheio a vontade do agente, não consiga
chegar ao fim da prática iniciada.

Classificação Doutrinária

Crime de mão própria (no autoaborto e no consentido), crime comum, de dano, material,
instantâneo e doloso.

Forma qualificada
31
Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de 1/3, se,
em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre
lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.

Este artigo provê duas formas de aumento de pena: a) lesão corporal de natureza grave – a pena
é elevada em um terço; b) pela segunda – morte da gestante – a pena é duplicada.

Aborto agravado: preterdoloso

Assim leciona o doutrinador:

Para que se configure o crime qualificado pelo resultado, é


indispensável que o evento morte ou lesão grave decorra, pelo
menos, de culpa (art.19, do CP). No entanto, se o dolo do agente
abranger os resultados lesão grave ou morte da gestante, excluirá
a aplicação do art.127, que prevê espécie sui generis de crime
preterdoloso (dolo em relação ao aborto e culpa em relação ao
resultado agravador). Nesse caso, o agente responderá pelos dois
crimes, em concurso formal.

(Bitencourt, 2014, p.486).

Crime preterdoloso: O crime preterdoloso caracteriza-se quando o agente pratica uma conduta
dolosa, menos grave, porém obtém um resultado danoso mais grave do que o pretendido, na
forma culposa. Ou seja, o sujeito pretendia praticar um assalto, porém, por erro ao manusear a
arma, acaba atirando e matando a vítima.

Crime em concurso formal: ocorre quando o autor da infração, mediante uma única conduta
ou omissão, pratica dois ou mais delitos, iguais ou não.

EXCLUDENTES ESPECIAIS DA ILICITUDE

No art. 128 do CP, expõe: “ Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio
de salvar a vida da gestante; se II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”.

Relembrando que o STF no julgamento da ADPF 54 (ação de descumprimento de princípio


fundamental) em 12/04/2012, por maioria de votos, julgou precedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade de interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto
anencéfalo é conduta tipificada neste inciso (art.128, II).

6. Lesão Corporal

Art. 129 – Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem;

32
I - Bem jurídico protegido e sujeito do delito

A doutrina dominante é plural em afirmar que “o bem jurídico tutelado é a incolumidade humana”,
ou seja, diretamente a proteção da integridade física, psíquica da pessoa humana, bem como “ a
normalidade anatômica”. (PRADO, 2014, p.685).

O professor Luiz Regis Prado avança nesta tese destacando o porquê desta proteção:

Ao proteger a incolumidade pessoal, atende-se também ao


interesse social na conservação de cidadãos aptos e eficientes,
capazes de impulsionar o crescimento da sociedade e do Estado.
Cumpre notar que no artigo 129, §9°, protege-se ainda o respeito
devido à pessoa no âmbito familiar. Isso vale dizer: o bem-estar
pessoal de cada integrante do círculo íntimo de convivência, como
decorrência do princípio da humanidade, que veda o tratamento
degradante. (PRADO, 2014, 685).

Ao tratar o dispositivo legal no art. 129, caput §§1°, 2°, 3° e 6°, do Código Penal pode ser
qualquer pessoa, desta forma trata-se de delito comum. Cumpre a análise de que a lei não
penaliza a autolesão, e excetuando-se “quando caracteriza os delitos de fraude para recebimento
de indenização ou valor de seguro (art. 171, §2°, V, CP) ou da criação ou simulação de
incapacidade física para furtar-se para incorporação militar. (Art.184, COM). (PRADO, 214,
p.685).

II – Tipicidade objetiva e subjetiva

Se faz sumamente necessário a análise da conduta incriminadora que se transmite através de


ofender “à integridade corporal entende-se toda alteração nociva da estrutura do organismo, seja
afetando as condições regulares de órgãos e tecidos internos, seja modificando o aspecto externo
do indivíduo (fraturas, luxações, ferimentos) ”. (PRADO, 2014, 688).

É importante salientar o “objeto material do crime de lesão corporal é o ser humano vivo”.
(Idem). Por tanto, golpes desferidos contra um cadáver, mas em crimes acostados no art. 211, CP
(Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele) ou art.212, CP (Vilipendiar, cadáver ou suas
cinzas).

Tratando da subjetividade, “O tipo subjetivo é composto pelo dolo, ou seja, pela consciência e
vontade de ofender a integridade corporal ou a saúde outrem”. A consumação do crime ocorre
quando efetivamente a ofensa atinge a integridade corporal ou à saúde de outrem, havendo assim
delito de resultado.

33
Quanto a tentativa é admissível ao verificar-se que o agente atua com consciência e vontade de
atingir a incolumidade física ou psíquica. A afirmativa exposta não é o mesmo de se admitir lesão
culposa (art.129, §6°) e de lesão corporal seguida de morte (art.129, §3°).

III – Espécies de lesão corporal

a) Lesão Corporal leve

A lesão corporal leve, mais também chamada simples é aquela que não se obtém resultado
gravoso ou, que não apresenta resultado que a lei classifica como circunstâncias qualificadoras
nos §§ 1°, 2° e 3° do art. 129, ou seja, pode ser definida “como a ofensa à integridade corporal
ou a saúde de outrem (art. 129, caput, CP – tipo básico ou fundamental) ”. (PRADO, 2014, p.
691). Por contraste, todas as hipóteses expostas nas lesões graves e gravíssimas.

Cumpre dizer que não se deve entender como a lesão insignificante, “incapaz de ofender o bem
jurídico tutelado”. (PRADO, 2014, p.691). Para que não reste dúvida este delito tratado, a lesão
“os danos à incolumidade física, ou psíquica”, sendo apenas estas para o exaurimento do tipo
penal.

b) Lesão Corporal grave

Este tipo penal apresenta por sua vez a natureza grave (lato sensu), e estão arroladas nos §§
1° e 2°, do art. 129. O professor os chamam “tipos penais derivados (qualificados), nos quais
é conferido maior relevo ao desvalor do resultado (lesão ou perigo concreto de lesão ao bem
jurídico protegido). As consequências mais gravosas elencadas no mencionando dispositivo são
imputadas ao agente a título de dolo e culpa”. (Prado, 2014, p. 691).

Para haver a caracterizada pela doutrina e legislador há situações que devem ser geradas
como forma de comprovação da gravidade:

I – Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias (inciso I): Estas
incapacidades são aquelas rotineiras desenvolvidas pelo indivíduo em sua vida normal, de
trabalho, estudo, passeio, e tudo o mais que possa se encaixar em seus afazeres. Enfim, o que
se depreende do texto legal é que se houver uma incapacidade que impeça a vítima de dar
prosseguimento a sua vida de forma natural, sem limitações, seja física ou psíquica estabelece
o tipo penal de lesão corporal grave.

II – Perigo de vida (inciso II) – para que esta condição alcance seu apogeu é necessário
que haja concretude e iminência de um resultado letal. Não é aceito probabilidade ou
prognóstico presumida e eventual, o perigo tem que ser real, efetivo, apresentando “sinais
indiscutíveis de grandes proporções sobre a vida orgânica”. (PRADO, 2014, p.693). Nas
palavras da doutrina:

O perigo de vida deve ser atestado por laudo pericial,


devidamente fundamentado. Demais disso, cabe ao perito
34
demonstrar que a lesão provocada deu lugar a perigo –
ainda que breve – para a vida da vítima. (PRADO, 2014, p.
693).

III – Debilidade permanente de membro, sentido ou função (inciso III) - Quando


se trata de debilidade se aponta o enfraquecimento, até a possível redução, assim trata Luiz
Regis Prado.

a diminuição da capacidade funcional. Membros são os


quatro apêndices do tronco, abrangendo os membros
superiores (braço, antebraço, mão) e os inferiores (coxa,
perna, pé). Sentidos são as faculdades perceptivas do
mundo exterior (olfato, audição, visão, tato e paladar).
Função é a atuação específica ou própria desempenhada por
cada órgão, aparelho ou sistema (função digestiva,
respiratória, secretora, reprodutora, circulatória,
locomotora, sensitiva). (PRADO, 2014, p.693).

Além de tudo o já descrito importa que a debilidade seja permanente, o que não implica
perpetuidade. A redução deve ser duradoura, permanente e persistente, não tendo condições de
proporcionar previamente quando terá fim. Com este quadro formado fica evidente que se trata
de uma lesão gravíssima e com proporções a longo prazo (ou melhor ainda, sem prazo).

IV – Aborto (inciso V) – conforme já tratado aborto é a morte imposta ao feto, estando a


mulher em período gestacional, de forma forçosa se expele o embrião através de medicação ou
instrumentação própria para expeli-lo.

A lesão corporal é dolosa, e o resultado que agrava


especialmente a pena (aborto) deve ser imputado ao agente
a título de culpa. Todavia, se a vontade do agente se dirige
a realização do resultado (morte do produto da concepção)
como consequência direta de sua ação (dolo direto), ou
considera como possível ou provável o seu advento,
assumindo o risco de sua produção (dolo eventual),
responde pelo delito de aborto (art. 125, CP), em concurso
formal com a lesão à incolumidade da mulher grávida.

(PRADO, 2014, p.696).

Se torna necessário fazer a distinção entre o artigo 129, §2°, V, do exposto do artigo 127, do
Código Penal. Na questão da lesão, o objetivo é causar lesão não o aborto que passa a ser
consequência da lesão praticada, enquanto no art.127, do CP o objetivo é o aborto que acaba por
gerar lesão. “É preciso que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima. Se ignorava tal
estado – sendo sua ignorância escusável – exclui-se a qualificadora”. (Prado, 2014, 696).

V – Lesão Corporal seguida de morte

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No art.129, § 3°, do CP ao se postar sobre a lesão corporal seguida de morte, se pode notar que
não era este o resultado desejado pelo que pratica a lesão corporal, não queria este resultado e
nem tampouco assumiu o risco. “Trata-se de lesão corporal qualificada pelo resultado (morte),
que opera como condição de maior punibilidade, estabelecendo a lei uma agravação de pena para
o resultado mais grave causado no mínimo por culpa”. (PRADO, 2014, p.696).

Assumindo as palavras do professor Luiz Regis “Conclui-se, portanto, que a lesão corporal seguida
de morte é um misto de dolo e culpa: conjuga o dolo no antecedente (lesão corporal) e a culpa no
consequente (morte) ”. (PRADO, 2014, p. 696).

VI – Lesão Corporal Culposa

Prevista no art.129, §6°, CP. Estando contemplada no diploma legal para destilar o dolo das
condutas que são dolosas e, portanto, mais sérias e contundentes, uma boa forma de verificar
isso é apresentar as formas como se apresentam as lesões culposas: Leves, graves e gravíssimas.
É significativo que “da lesão advinda da inobservância do cuidado exigível na vida de relação
social resulta, por exemplo debilidade permanente de membro [...]deve o magistrado avaliar a
magnitude da ofensa produzida quando da aplicação concreta da pena”. (PRADO, 2014, 697).

Cumpre salientar que “a lesão corporal culposa relacionada à direção de veículo automotor
encontra previsão explicita no Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/1997). Com efeito no artigo
303 do referido diploma tipifica a conduta de „praticar lesão culposa na direção de veículo
automotor‟”. ((PRADO, 2014, p. 697).

VII – Causa de diminuição de pena

O Direito Penal deve ser cioso no trato dos tipos estabelecidos para não gerar quebra dos
princípios formadores do bastião de seus deveres. Por tanto, entender e examinar individualmente
os casos que se apresentam, buscando extrair o que deu causa ao crime se faz pungente.

No caso em tela, o caso de diminuição de pena se aplica quando “por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço” (Art. 129, §4° CP). Trata-se de causa
especial de diminuição de pena que determina a redução desta em virtude de menor
reprovabilidade pessoal da conduta típica e antijurídica”. (PRADO, 2014, p.703).

Nesta esteira pode se afirmar que a lesão corporal leve, alcança ser substituída pela pena de
multa, ocorrendo qualquer umas das hipóteses do art. 129, §4°.

VIII – Causas de aumento da pena

No diploma legal em seu art. 129, §7° apresenta a pena aumentada de 1/3 se ocorrer o previsto
no art. 121, §§ 4° e 6°, DP. Há uma nova redação que faz jus se valer do doutrinador Luiz Regis
Prado:

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Logo, no que se refere à primeira parte, se a lesão decorrer de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, e deixa
o agente de prestar imediato socorro à vítima ou não procura
diminuir as circunstâncias do seu ato, ou, por fim, se foge para
evitar da prisão em flagrante, sobre a pena cominada para a lesão
corporal culposa (detenção, de dois meses a um ano) incide o
acréscimo decorrente da presença da causa especial de aumento
de pena. (PRADO, 2014, p. 704).

Quando a lesão corporal for dolosa (art.129, caput e §§ 1°, 2° e 3°, CP, a pena será aumentada
de 1/3 e, nesta mesma linha o crime for contra menor de 14 anos ou pessoa com idade superior a
60 anos. (Art. 129, §7°).

IX – Perdão Judicial

A lei 8.069/1990 – prevê hipótese de perdão judicial, com base no art. 129, §8°, esta previsão é
encontrada nos arts 107, IX e 120, CP), quando a lesão for culposa, podendo promover a extinção
da punibilidade, cumpre lembrar que se o agente que provoca a lesão corporal em outra pessoa,
for atingido de forma tão grave ou pior, a sanção penal é de toda desnecessária.

7. Abandono de Incapaz

Art. 133 – Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e,
porque qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono.

I – Bem Jurídico protegido e sujeito do delito

A tutela recaí sobre a vida e saúde da pessoa humana, de forma particular daqueles que não
podem se defender e o perigo se torne iminente, devido à falta de cuidado é sobressaia a
necessidade do dever de guarda, assistência e proteção. A lei procura proteger os indivíduos
considerados incapazes, e que não possua condições de se protegerem por si só.

Sujeito ativo – é somente aquele que possua uma especial relação de assistência com a vítima,
ou que esteja cuidando, ou com a guarda, vigilância ou imediata autoridade (delito especial
próprio).

Sujeito passivo - é aquele que está sob a guarda, ainda que provisória, não se limitando o
legislador a figura do infante, trazendo todos aqueles que figurem como incapazes de serem
resguardados dos perigos e riscos possíveis do seu abandono. O doutrinador Luiz Regis Prado
aponta um quadro de quem pode se enquadrar (ébrio, paralítico, cego e enfermo, etc.). (PRADO,
2014, p.723). Urge lembrar que pessoas consideradas capazes, mas que por circunstâncias
encontre-se temporariamente incapazes de assumirem sua vida sozinho, sem ajuda de outrem,
mesmo que provisoriamente se encontram como incapazes.

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II - Tipo objetivo e subjetivo

Como tipo objetivo trata de conduta ela passa a ser típica quando ocorre o abandono do incapaz,
possibilitando serem exposto a perigo concreto. Cumpre entender que para consolidação do
abandono é necessário o afastamento físico, proporcionando perigo iminente.

O legislador ao tipificar esta conduta procura dispensa destila a ideia de cuidado, guarda,
vigilância ou autoridade, conferindo ao incapaz todo cuidado possível e assistência necessária não
dando espaço para ocorrência de perigo.

O tipo subjetivo se caracteriza pelo dolo, isto é, “pela consciência e vontade do agente de expor a
perigo concreto a vida ou saúde do sujeito passivo através do abandono”. (PRADO, 2014, p.275).

Consuma-se o crime através da efetividade de abandono, uma vez havendo perigo concreto. Não
há uma medida de tempo determinada pela lei, sendo importante para caracterização um perigo
iminente. Lembrando que o crime é classificado como instantâneo, sendo necessário a situação de
perigo que não transcorre com o tempo, mas sim de sua concretude e existência.

III – Formas qualificadas

Uma vez gerado o abandono houver resultante de lesão corporal de natureza grave, “são elevadas
as margens penais”. (PRADO, 2014, p.726). (Art.133, §§ 1°e 2°, CP). Se faz propício a indicação
do que a doutrina efetivamente trata do tema:

Configura-se, aqui, delito qualificado pelo resultado, que deve ser


imputado ao agente a título de culpa (art.19, CP). Caso tenha
atuado com consciência e vontade de ofender a integridade física
ou a saúde da vítima, ou produzir a sua morte (dolo), servindo-se
do abandono como meio para alcançar tais resultados, responde o
sujeito por lesão corporal grave (art. 129, §§ 1° e 2°, CP) ou
homicídio (Art.121, CP). (PRADO, 2014, p.726).

A legislação apresenta de forma inequívoca apresenta através dos artigos expostos como ocorre a
forma qualificada.

IV – Causas de aumento de pena

Extraindo do tipo básico (Art. 133, caput, CP) e as derivações (Art. 133, §§ 1°,2° e 3°, CP), o
aumento ocorre em um 1/3.

8. Exposição ou abandono de recém-nascido (Art.134)

9. Omissão de Socorro

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Art. 135 – Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desemparo ou
em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública;

I - Bem jurídico protegido e sujeito do delito

Resguarda-se a vida e saúde da pessoa humana. É inegável a exclusividade a incolumidade física


de pessoa que necessitam de amparo, por estarem sem condições sozinhas de sair da situação de
perigo, ou de acidente. Este bem jurídico amparado é indisponível.

Sujeito ativo – pode ser qualquer pessoa sem restrição (delito comum), há apenas uma
exigência no caso em tela é que o sujeito ativo esteja próximo, podendo prestar socorro.

Sujeito passivo – criança abandonada ou extraviada, a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo,


ou qualquer pessoa em grave e iminente perigo. (PRADO, 2014, p.736).

Crimes omissivos próprios – Os crimes omissivos próprios ou puros consistem numa


desobediência a norma mandamental, norma esta que determina a prática de uma conduta que
não é realizada. Há, portanto, a omissão de um dever de agir imposto normativamente.
(BITENCOURT, 2014, p.544).

Tipo subjetivo: adequação típica – O elemento subjetivo deste crime é o dolo (de perigo),
representado pela vontade de omitir com a consciência do perigo, isto é, o dolo deve
abranger a consciência da concreta situação de perigo em que a vítima se encontra. O dolo poderá
ser eventual, por exemplo, quando o agente, com sua conduta omissiva, assume o risco de
manter de manter o estado de perigo preexistente. (BITENCOURT, 2014, p.548).

Classificação doutrinária – A omissão de socorro é crime omisso próprio e instantâneo, crime


de perigo, crime comum. (BITENCOURT, 2014, p.134, 135).

OBSERVAÇÃO: Não há forma de omissão culposa. O erro quanto à existência do perigo exclui o
dolo. No entanto, sobrevindo dano (lesão corporal ou morte), o agente responderá pelo crime
culposo (Art. 20 e § 1°).

10. Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial (135 – A) – Exigir


cheque caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de
formulários administrativos, como condição para atendimento médico-hospitalar emergencial:

11. Maus-tratos

Art. 136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância,
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou
cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de
meios de correção ou disciplina:

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12. Da rixa

Art. 137 – Participar de rixa, salvo para separar os contendores:

I – Bem jurídico tutelado – A incolumidade da pessoa humana, acrescendo que a simples


participação da rixa já opera punição.

Sujeitos dos crimes – “Os participantes da rixa são ao mesmo tempo sujeitos ativos e passivos
uns em relação aos outros: rixa é crime plurissubjetivo (Delito cuja definição exige a participação
de mais de uma pessoa na prática da ação típica. O mesmo que crime de concurso necessário.
Não se confunde com a coautoria) recíproco, que exige a participação de, no mínimo, três
contendores no Direito pátrio, ainda que alguns sejam menores”. (BITENCOURT, 2014,
p.137) (acréscimos nosso)

Tipo objetivo: adequação típica – “Rixa é uma briga entre mais de duas pessoas,
acompanhada de vias de fato ou violência reciprocas. Para caracterizá-la é insuficiente a
participação de dois contendores. ” [...] (BITENCOURT, 2014, p.137). Salta ao texto a importância
de: haver vias de fato, haver mais do que dois contendores, e que haja generalização entre todos,
ou seja, todos brigando contra todos.

Classificação doutrinária – crime de concurso necessário, crime instantâneo, crime


Plurissubsistente, crime comissivo, doloso, não havendo possibilidade de modalidade culposa, por
só haver condições da prática por meio de ação ativa.

Figuras qualificadas – Havendo lesão corporal de natureza grave ou resultando em morte, se


estabelece a qualificação do delito rixa.

13. Calúnia

Art. 138 – Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime.

Bem jurídico protegido

É a honra objetiva, aquela que atinge o conceito do que as pessoas de convívio pensam ou a
imagem que criaram do caluniado, atingindo “seus atributos morais, éticos, culturais, intelectuais,
físicos ou profissionais. É, é em outros termos, o sentimento do outro que incide sobre as nossas
qualidades ou nossos atributos”. (BITENCOURT, 2014, p. 567).

Definição de honra

“Honra é valor imaterial, insuscetível de apreciação, valoração ou mensuração de qualquer


natureza, inerente à própria dignidade e personalidade humana”. (BITENCOURT, 2014, p.567).

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Sujeito ativo – pode ser qualquer pessoa “imputável”. Excetuando-se pessoa jurídica “por faltar-
lhe capacidade penal, não pode ser sujeito ativo dos crimes contra a honra. ” (BITENCOURT,
2014, p. 568).

Sujeito passivo – no aspecto mais amplo qualquer pessoa pode ser sujeito passivo.

Tipo objetivo – Calúnia é imputação falsa de fato tipificado como crime a alguém.

Falsidade de imputação – É de suma importância que se atribui a alguém seja falsa, não sendo
verdade. E a acusação tem que figurar na tipificação do Código Penal, e tão necessário quanto que
a calúnia seja conhecida por terceiros. Caso contrário a tipicidade não tem azo.

Consumação – Ocorre quando a calúnia chega ao conhecimento de terceira pessoa. É impossível


a tentativa.

Classificação doutrinária – Crime formal, crime comum, crime instantâneo, crime comissivo,
crime unissubsistente (via oral), [delito que se consuma em um ato só] e crime plurissubsistente
(por escrito), [é o constituído de vários atos, que fazem parte de uma única conduta].

Exceção da verdade – significa haver possibilidade do sujeito ativo ter a possibilidade de provar
o fato imputado. (Art.141, § 3°, do CP), como o próprio tipo aponta a falsidade da calúnia como
elemento indispensável para que o crime seja exaurido.

Calúnia contra Presidente da República – se faz sumamente necessário registrar que calúnia
contra o Presidente da República motivada pela política se perfaz em crime contra a Segurança
Nacional (Art. 2°, c/c com o art. 26 da lei 7.170/12/1983), não havendo motivação política, o
crime será comum.

Calúnia e denunciação caluniosa – Se uma pessoa se dirige a delegacia e anuncia um crime


indicado a pessoa que o praticou, e se investigar e perceber tratar-se de uma calúnia, trata-se de
Denunciação Caluniosa, que é de ação penal pública, ou seja, cabe ao Estado o responsável em
fazer o que denunciou falsamente responder pela denunciação caluniosa.

Crime de calúnia e exercício da advocacia: incompatibilidade - “Art. 7º São direitos do


advogado: § 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou
desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou
fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.
(Vide ADIN 1.127-8) ”. Porém cumpre lembrar que dos Crimes contra honra, não foi objeto deste
artigo a Calúnia.

Excluem-se da imunidade profissional as ofensas que possam


configurar crime de calúnia (…). A tanto não poderia chegar a
inviolabilidade, sob pena de esmaecer sua justificação ética,
legalizando os excessos, que, mesmo em situações de tensão, o
advogado nunca deve atingir. Nestes casos, responde não apenas

41
disciplinarmente, mas também no plano criminal. Contudo,
mesmo na hipótese de calúnia, é admissível a exceptio veritas.
[Lobo, Paulo. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. 4ª
ed. 2007. Saraiva. pg. 63]

Segundo o Estatuto da OAB a calúnia proferida por advogado, que não possa ser provada fica
considerada crime e deve ser tratada como tal. Esta é uma exceção a liberdade do advogado
tanto na defesa escrita como defesa oral.

RETRATAÇÃO

O crime de calúnia aceita, admite retratação, antes da sentença (Art. 143). Sendo claro o que se
considera como retratação: “Retratação é o ato de desdizer-se, de retirar o que se disse. Não se
confunde com negação do fato, pois retratação pressupõe o reconhecimento de uma afirmação
confessadamente errada, inverídica. A retratação é causa extintiva de punibilidade (Art. 107, VI).

14. Difamação

Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Bem jurídico tutelado

O bem protegido é a honra, a reputação. “A tutela da honra, como bem jurídico autônomo, não é
um interesse exclusivo do indivíduo, mas da própria objetividade, que se interessa pela
preservação desse atributo, além de outros bens jurídicos, indispensáveis para a boa convivência
harmônica em sociedade”. (BITENCOURT, 2014, p.579).

Sujeitos ativos e passivos - pode ser tanto qualquer pessoa nos dois sujeitos.

Tipo Objetivo – Difamar é imputar a uma pessoa fato ofensivo à sua reputação. Em oposição ao
delito de calúnia o fato imputado, não precisa ser falso e nem tampouco, ser definido como crime.

Tipo subjetivo – A subjetividade deste delito reside no dolo de dano, “ que se constitui na
vontade consciente de difamar o ofendido imputando-lhe a prática de fato desonroso; é
irrelevante tratar-se de fato falso ou verdadeiro. [...] O dolo pode ser direto ou eventual”.
(BITENCOURT, 2014, p. 581).

Consumação – ao atingir o conhecimento de outras pessoas o crime está estabelecido.

Classificação doutrinária – Crime comum, crime formal, crime instantâneo, crime comissivo,
crime unissubsistente (via oral), crime plurissubsistente.

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Retratação – antes da sentença, admite retratação (Art. 143, CP).

15. Injúria

Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.

Bem jurídico tutelado

Trata-se de crime contra honra, havendo diferença que esta honra é a subjetiva.

Injúria Real – “ A injúria real, definida no § 2°, do Art. 140, é um dos chamados crimes
complexos, reunindo sob sua proteção dois bens jurídicos distintos: e a integridade ou
incolumidade física de alguém. ” (BITENCOURT, 2014, p.140).

Tipo objetivo – O injuriar é ofender a dignidade ou o decoro da pessoa humana.

Tipo subjetivo – é o dolo de dano, instituindo, constituído pela vontade livre e consciente de
injuriar.

Injúria preconceituosa – é determinante que a injúria seja motiva pela raça, cor, etnia, religião
ou origem.

Consumação – atinge a consumação quando chega ao conhecimento do ofendido.

Classificação doutrinária – crime comum, crime formal, crime instantâneo, crime comissivo.

Perdão judicial – é o meio adequado que legalmente possibilita o juiz deixar aplicar pena diante
da existência “na legislação especial”. (BITENCOURT, 2014, p.591).

16. Constrangimento ilegal

Art. 146 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite,
ou fazer o que ela não manda:

Bem jurídico protegido e sujeitos do delito

A proteção é tanto a liberdade individual, bem como a liberdade de pensar livremente, ou como
expõe Prado, “cuida-se da liberdade psíquica”.

Sujeito ativo – qualquer pessoa pode praticar este delito, havendo senão a funcionário público
(Art. 327, CP), que emprega violência ou grave ameaça no exercício de suas funções, configura-se
o delito de violência arbitrária (Art. 322, CP). (Prado, 2014, p. 798).

Sujeito passivo – pode ser qualquer pessoa física.


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Tipo objetivo – Constranger (forçar, compelir, obrigar, coagir), considerando que para se
efetivar o delito é importante destacar o alcance de fazer “ alguém a não fazer o que a lei permite,
ou a fazer o que ela não manda.

Tipo subjetivo – há composição do dolo, há por assim dizer consciência e a vontade de


constranger a vítima, “ através da violência física ou moral, para dela obter a conduta pretendida.
Exige-se a consciência da ilegitimidade da pretensão. São irrelevantes os motivos determinantes e
o fim visado, salvo se capazes de excluir a ilicitude do constrangimento”. (PRADO, 2014, p.
800,801).

Consumação – havendo a efetiva realização, pelo constrangido da conduta visada pelo agente. E
um dado importante: “se na cobrança de dívidas é utilizada ameaça, coação, constrangimento
físico ou moral ou qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a
ridículo ou interfira em seu trabalho, descanso ou lazer, há o delito do art. 71 do CDC”. (PRADO,
2014, p. 801).

Causa de aumento de pena – “O § 1° do art. 146 determina a aplicação cumulativa e em dobro


das penas previstas [...] – quando para execução do crime: a) se reúnem mais de três pessoas,
ou; b) há emprego de arma.

“A lei 10.826/2003 simplesmente veda a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de


brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas possam se confundir (Art. 26
da lei citada), mas não estabeleceu nenhuma punição para tal conduta, em evidente falta de
técnica legislativa”. (PRADO, 2014, p.803).

Exclusão da ilicitude –Fica estabelecido o § 3° do art. 146 que não se compreendem no


dispositivo legal: a) a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou do
seu representante legal, se justificada iminente perigo de vida; b) a coação exercida para impedir
suicídio.

17. Ameaça

Art. 147 – Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de
causar-lhe mal injusto e grave;

Bem jurídico tutelado e sujeitos do delito

O bem protegido é a liberdade individual, em particular “à liberdade psíquica da pessoa humana”.


(PRADO, 2014, p.806). É relevante dizer que esta tipificação pode produzir “mal injusto e grave
produz efeitos na livre capacidade de autodeterminação da vontade [...] no delito de ameaça é,
portanto, a tranquilidade, a paz interior da vítima, cuja ofensa conduz à limitação da liberdade
pessoal”. (PRADO, 2014, 806).

Tipicidade

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A forma tipificada é ameaçar e causar um mal injusto. É necessário para confirmação do tipo
penal que ameaça seja injusta. Além do descrito se faz necessário que a ameaça se revista de
gravidade (ameaça de morte, de lesão corporal grave, etc.).

O delito é subsidiário, em crimes complexos como Constrangimento ilegal (Art. 146, CP). Roubo
(Art.157, CP), extorsão (art. 158, CP), estupro (Art. 213, CP), pode se tornar mais gravoso se
estiver em uma condição que exponha a perigo, como nos crimes citados.

18. Sequestro e cárcere privado

Art. 148 – Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:

Bem jurídico protegido e sujeitos do delito

A tutela se estende a liberdade individual, de forma particular a liberdade de ir e vir.

Sujeito ativo – pode ser qualquer pessoa (delito comum), todavia, se for o agente é funcionário
público (Art.327, CP), pratica o crime “com abuso da função ou pretexto de exercê-la, configura-
se o delito de violência arbitrária (Art. 322, CP), ou exercício arbitrário ou abuso de poder (Art.
350, CP) previsto também pela lei 4.898/1965 (Abuso de Autoridade). Constitui abuso de
autoridade qualquer atentado à liberdade de locomoção (Art. 3°, “a”, Lei de 4.898/1965).
(PRADO, 2014, 812

Sujeito passivo – pode ser qualquer pessoa sem distinção.

Tipicidade – Sequestro e cárcere privado

A tipicidade da conduta é privar a pessoa de sua liberdade, mediante o cárcere privado. “O


sequestro e o cárcere privado são formas de supressão ou restrição da liberdade pessoal, sob o
aspecto da liberdade de locomoção”. (Prado, 2014, p.813).

Urge se destacar, “o sequestro é o gênero do qual o cárcere privado é espécie, ou, noutro dizer, „o
sequestro (arbitrária privação ou compreensão da liberdade de movimento e espaço) toma o
nome tradicional de cárcere privado quando exercido[...] em qualquer recinto fechado, não
destinado a prisão pública‟. “ (PRADO, 2014, p. 813).

Tipo subjetivo – tem a necessidade de dolo, sendo ou pela consciência ou pela vontade de privar
alguém de sua locomoção.

Consumação – no momento onde a pessoa é posta em um lugar que não tenha mais liberdade
de ação, esteja privada de sua locomoção.

Tentativa – é possível pois os agentes podem ter percorrido todos os atos preparatórios e não
logra êxito por circunstâncias alheias a sua vontade.

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Formas qualificadas – Nos parágrafos §§ 1° e 2° do artigo 148, CP, se encontra as
qualificadoras do crime. “ As margens penais são exasperadas – reclusão, de dois a cinco anos –
(Art. 148, §1°). ” Nesta linha a doutrina específica os casos ilididos, que se encaixa na tipicidade:

a) A vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60


(sessenta) anos;

b) Se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; (O diretor


ou médico que autoriza tal internação responde como coautor do delito;

c) Se a privação da liberdade dura mais de 15 dias;

d) Se o crime é praticado contra menos de 18 (dezoito) anos;

e) Se o crime é praticado com fins libidinosos.

Tipo Penal

Ao se tratar deste tema cumpre iniciar entendendo o significado do termo e sua extensão.

“O termo „tipo‟ exprime a ideia de „modelo‟, „esquema‟. É utilizado


em todas as áreas do conhecimento para separar e agrupar em
classes objetos particulares que apresentem algo comum. [...].
Em direito penal classificam-se em tipos algumas formas de
comportamento humano. De um modo geral, o tipo é, pois, um
conceito abstrato elaborado com material obtido daquele „algo de
comum‟ que retiramos de uma variedade de entes particulares. ”
(TOLEDO, 2002, p.126).

Há um outro conceito, que é menos complexo é que se põe a esclarecer:

Quando a consciência jurídica impôs ao Direito Penal, com o fim


de segurança, a exigência de uma definição clara e precisa dos
fatos em razão dos quais a sanção se aplicaria, o meio criado
pelos juristas para resolver este problema capital foi o tipo, isto é,
a descrição exata das circunstâncias elementares do fato punível.
A lei penal não se limita a dizer, por exemplo, não furtarás, ou se
furtares, se te aplicará tal pena, deixando ao julgamento do juiz
determinar o que se deve entender por essa expressão
demasiadamente vaga furtar, mas define precisamente pelas suas
circunstâncias elementares o fato que se deve entender por furto.
[...]. Constrói, desse modo, um grupo de figuras penais, uma das
quais tem de ser realizada em concreto pelo fato para que este
possa ser considerado crime. (BRUNO, 2005, p. 213,214).

Então não se está errado se dizer que o tipo penal é verbo, que distingue no texto legal a ação a
ser penalizada, a figura abstrata, que alcançando a condição de concreto entra em confronto com
46
o ordenamento jurídico tendo que ser penalizada a conduta praticada para o retorno da chamada
ordem jurídica.

1. Dos crimes contra o patrimônio (Título II)

a) Proteção Constitucional – no art. 5°, caput, da CF aponta que todos são iguais perante a lei,
garantia esta não franqueada só a brasileiros, estendidas aos estrangeiros residentes (ou de
passagem) no país a inviolabilidade do Direito à propriedade, considerado, pois, um dos um dos
direitos humanos fundamentais. Esta é a base jurídica constitucional para inserir no Código Penal
a tutela e proteção ao direito de propriedade.

1.1 Furto (Art. 155, CP).

Tipo penal do furto – Subtrair. Nas palavras de Nucci, analisando o núcleo do


tipo, “subtrair” significa tirar, fazer desaparecer ou retirar e, somente, em última análise, furtar
(apoderar-se). É verdade que o verbo „furtar” tem um alcance mais amplo do que „subtrair‟, e
justamente por isso o tipo penal preferiu identificar o crime como sendo furto e a conduta que o
concretiza como subtrair, seguida lógico, de outros importantes elementos descritivos e
normativos. Assim, o simples fato de alguém tirar coisa pertencente a outra pessoa não quer
dizer, automaticamente, ter havido um furto, já que se exige, ainda, o ânimo fundamental
componente de conduta de furtar, que é assenhorar-se do que não lhe pertence”. (NUCCI, 2015,
p.864).

Diante do exposto o que vem a ser furto? Se faz necessário lembrar o art. 18, do CP que ao tratar
do dolo afirma: “o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Por tema
recorrente no direito penal é bom analisar, a cada artigo estudado a questão do dolo, como
primeiro fator a determinar a conduta do agente, para assumir a postura (querer o resultado,
assumir o risco e pôr fim a produção).

Há a ideia corrente para caracterização do furto que a vítima não consentiu, não é avisada, e foi
iludida por alguma manobra destra de quem tem a pretensão de furtar, que engana o agente
distraindo, ou usando de habilidade para subtrair coisa alheia móvel. Este pode ser estabelecido
como o furto simples, por não dispor de manobras especiais, ou de meios elaborados que leve
ao engano da vítima que não percebe o intuito a ser praticado.

Conceito de furto – “furtar significa apoderar-se ou assenhorar-se de coisa pertencente a


outrem, ou seja, tornar-se senhor ou dono daquilo que juridicamente, não lhe pertence. O nomem
juris do crime, por si só, dá uma bem definida noção do que vem a ser a conduta descrita no tipo
penal”. (NUCCI, 2015, p.864).

Sujeito ativo e passivo: Como não dependem de qualidades especiais, qualquer pessoa pode
ser tanto o sujeito ativo ou passivo.

Bem jurídico tutelado: proteção ao direito de propriedade.

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Consumação do furto: Nucci inicia o trato do tema afirmando “tratar-se de tema polêmico e de
difícil visualização na prática”. (IBIDEM). E continua sua explanação:

Há, basicamente, quatro teorias para fundamentar a consumação


do furto: a) o furto se consuma apenas com o toque na coisa
alheia móvel alheia móvel apoderar-se dela (teoria do contato); b)
concretiza-se no momento da remoção, ou mudança de lugar, vale
dizer, o furto se consuma apenas quando a coisa é removida do
local onde fora colocada pelo proprietário; c) distingue a remoção
em dois momentos: a apreensão e o traslado de um lugar a outro;
para consumação, requer-se que a coisa seja trasladada do lugar
onde estava outro local; somente assim se completa a subtração.
Há de sair da esfera de vigilância do dono; d) o furto se consuma
quando a coisa é transportada pelo agente ao lugar por ele
pretendido para colocá-lo a salvo. Segundo nos parece o furto
está consumado tão logo a coisa subtraída saia da esfera de
proteção e disponibilidade da vítima, ingressando na do agente.
(NUCCI, 2015, p. 864).

A caracterização do furto se encontra em o objeto subtraído sair da esfera do alcance e do


controle da vítima, lembrando que por tratar-se de crime material, que só se consuma com o
resultado naturalístico, assim o bem tem que de alguma forma deixar a posse da vítima e passar
ao controle do agente.

Elemento subjetivo do tipo: é exigido o dolo, enquanto “o elemento subjetivo do tipo


específico, que é a vontade de apossamento do que não lhe pertence, consubstanciada na
expressão „para si ou para outrem‟. Essa intenção deve espelhar um desejo do agente de
apoderar-se definitivamente, da coisa alheia. É o que se chama tradicionalmente de dolo
específico. Não existe a forma culposa. ” (Ibidem, p. 866).

Furto de coisa puramente de estimação: Entende o doutrinador “não ser objeto do crime de
furto, pois o objeto sem qualquer valor econômico”. Há uma lógica imprescindível não ter como
aferir um objeto de estimação que em muitos casos não tem nem valor de mercado.

Furto de Cadáver: A doutrina majoritária só considera crime quando há valor econômico o


exemplo colhido do doutrinador é (Ex: subtrair o corpo pertencente a um museu, que o exibe por
motivos científicos ou didáticos). Caso não haja valor econômico envolvido, o crime de “subtração
de cadáver pode constituir crime contra o respeito os mortos” (art.211, CP). (Op. Cit. p.867).

Furto de coisas abandonadas (res derelicta) não pertencentes a ninguém (res nullius)
ou perdidas (res deperdita): Nas duas condutas não se pode considerar crime de furto, pois,
“não integram o patrimônio de outrem; e a terceira hipótese também não se encaixa como objeto
de furto, pois há tipo especifico para tal caso, cuidando-se de apropriação indébita (art.169, P.U,
CP).” (Op. Cit. p. 868).

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Furto de coisa de ínfimo valor e princípio da insignificância: Importa estabelecer o que vem
a ser “coisa de ínfimo valor”. Para estender esta discussão cumpre lembrar, e usar de cautela do
princípio da insignificância (crimes de bagatela). “o Direito Penal não se ocupa de insignificâncias
(aquilo que a própria sociedade concebe ser de somenos importância), deixando de considerar
fato típico a subtração de pequeninas coisas de valor nitidamente irrelevante. Ex: o sujeito que
leva, sem autorização, do banco, onde vai sacar uma determinada quantia em dinheiro, o clipe
que está sob o guichê do caixa, embora não lhe pertença. Não se deve se exagerar, no entanto,
na aplicação do princípio da bagatela, pois o que é irrelevante para uns pode ser extremamente
importante para outros. Ex. Subtrair uma galinha, de quem só possui um galinheiro com quatro,
representa um valor significativo, que necessitará ser recomposto”. O caso em concreto pode e
deve servir de parâmetro para análise do crime em espécie. Hipoteticamente, vários exemplos
podem ser dados, mas, só quando o crime sai da esfera da abstração e passa a concretude é que
se pode ter um conceito acertado do significado da “coisa de ínfimo valor”. (NUCCI, 2015, p.868).

Ainda, para servir de argumento o STF, expõe jurisprudência: “A pertinência do princípio da


insignificância deve ser avaliada, em casos de pequenos furtos, considerando não só o valor do
bem subtraído, mas igualmente outros aspectos relevantes da conduta imputada. Não tem
pertinência o princípio da insignificância se o crime de furto é praticado mediante ingresso sub-
reptício do estabelecimento comercial da vítima, com violação da privacidade e da tranquilidade
pessoal desta. (HC 112.748/DF, 1° T.J, 18.09.2012, Rel. Rosa Weber) ”. (Op. Cit. p. 868).

Furto de talão de cheque: em tese qualquer coisa que possua valor, ou possa se transformar e
valor monetário pode ser passivo de furto. Nas palavras de Nucci, “visto possuir nítido valor
econômico, tanto para quem subtraí, que vende e estelionatários, quanto a vítima, que é obrigada
a sustar os cheques e retirar outro talão, pagando ao estabelecimento bancário taxas elevadas e
sofrendo prejuízo material. [...] O talão de cheques, incluindo as folhas de cheques avulsas ou em
branco, pode ser objeto material do crime de furto, pois representam valor econômico
considerável, pelo prejuízo que a subtração causa ao proprietário”. (TACRIM/SP atual TJSP) Ap.
617.021, 1.° C., rel. Silva Franco, 07.11.1991)”. (Ibidem, p. 869).

Furto de uso: ao se analisar “o núcleo do tipo e o elemento subjetivo, há necessidade do ânimo


de assenhoreamento”. (Op. Cit. p. 870). O que significa dizer que o agente tem que estar com a
intenção de furtar, que é subtrair. Imagine que o autor apenas pegue o carro e dê uma volta no
quarteirão e devolva o carro intacto, isso é chamado furto de uso, e não há de se falar de crime,
se o carro for entregue sem nenhum tipo de problema, sem batida ou algo do gênero. Agora,
segundo Nucci, se houver “para-lama batido, entendemos haver furto, pois houve perda
patrimonial para a vítima”. (Ibidem, p. 870).

Furto em túmulo e sepulturas: O crime nestes casos se encontra tipificado no art. 210, do CP,
ou ainda, dependendo do caso “destruição, subtração ou ocultação de cadáver”. (Art. 211, CP). A
doutrina majoritária indica que todos os objetos matérias que ali se encontram, “dentro da cova
não pertencem a ninguém. Foram ali abandonados pela família. Entretanto, se o agente subtrai
adornos ou bens que guarnecem o próprio túmulo, como castiçais ou estatuas de bronze,
naturalmente há furto”. (Ibidem, p. 871).

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Furto sob vigilância: No Art. 17, do CP (Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta
do meio ou por absoluta impropriedade do objeto é impossível consumar-se o crime). O caso
exemplo exposto é: “Se um indivíduo é vigiado num supermercado o tempo todo por seguranças
e câmeras internas, de modo a tornar, naquela situação concreta, impossível consumação do
delito de furto, trata-se da hipótese do art.17. Mas se a vigilância é falha ou incompleta, cremos
ser cabível falar em tentativa”. (Ibidem, p.872)

A questão da trombada: Para entender é o famoso batedor de carteira, dá uma trombada, um


encontrão com outra pessoa e toma-lhe a carteira. Para Nucci, este crime não é furto e sim roubo,
pois “A violência utilizada na trombada, por menor que seja, é voltada contra a pessoa para
arrancar-lhe a bolsa, corrente, o relógio ou qualquer outro bem que possua, de forma configurada
está a figura do art.157”. (Ibidem, p.872).

Furto de cartão de crédito e bancário: Para doutrina maior, a subtração pode ser considerada
“crime de bagatela”, fato atípico, pois o cartão em si não possui valor algum “ e a administradora
ou estabelecimento bancário, comunicado o furto, repõe o mesmo ao cliente sem nenhum custo,
como regra”. (Ibidem, p.873).

Furto de imagem: no texto legal ao se referir sobre “coisa”, está apresentado algo que seja
palpável, que possa ser manejada. Por conta disso, fotos, ou filmagens não pode ser objeto de
furto, sendo no máximo violação de direito autoral. “O furto deve ser furto de coisa ou recair em
uma coisa: a coisa mesma deve ser subtraída”. (Ibidem, p. 873).

Furto famélico: Em tese pode ser considerado estado de necessidade (Art.23, I e Art. 24, caput,
CP). Encontrasse nestes dois artigos a conceituação e o que significa estado de necessidade,
sendo claro que para utilizar-se deste meio jurídico há elementos indispensáveis que devem se
apresentar: “a pratica do fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade,
nem podia de outro modo evitar, [...] cujo sacrifício nas circunstâncias, não era razoável exigir”.
Para Nucci, estes são os bens a ser protegido nesta excludente (vida, integridade física ou saúde
humana). “Atualmente, não é qualquer situação que pode configurar o furto famélico, tendo em
vista o estado de pobreza que prevalece em muitas regiões de nosso país. Fosse admitido sempre
e jamais se teria proteção segura ao patrimônio. Portanto, reserva-se tal hipótese a casos
excepcionais, como, por exemplo a mãe que, tendo o filho pequeno adoentado, subtraí um litro de
leite ou um remédio, visto não ter condições materiais para adquirir o bem desejado e
imprescindível para o momento”. (Op. Cit. p. 873).

Conceito de móvel: qualquer coisa que possa se deslocar de um lugar para o outro sem grandes
dificuldades.

Classificação: Crimes: comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial);
material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na diminuição do patrimônio da
vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo (
implica em ação); instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo; de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado);

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Unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); plurissubsistente (em regra, vários atos
integram a conduta); admite-se tentativa. (Ibidem, p. 874).

Causa de aumento de pena: é o furto praticado cometido no período do repouso noturno, isto
por tornar mais difícil a vigilância, por estarem as pessoas em seu repouso, o que é um facilitador
para quem deseja furtar.

Repouso Noturno: doutrinariamente entende-se por repouso noturno, “ a fim de dar segurança
à interpretação do tipo penal, uma vez que as pessoas podem dar início ao repouso noturno em
variados horários, mormente em grandes cidades, o período que medeia entre o início da noite,
com o pôr do sol, e o surgimento do dia, com o alvorecer. A vigilância tende a ser naturalmente
dificultada quando a luz do dia é substituída pelas luzes artificiais [...], de modo que o objetivo do
legislador foi justamente agravar a pena daquele que se utiliza desse período para praticar o
delito contra o patrimônio”. (NUCCI, 2015, p.875).

Condições para aplicação do aumento: “há duas posições a respeito do tema: a) é


indispensável que o furto ocorra em casa habitada, com moradores nela repousando. [...] b) a
causa de aumento está presente desde que a subtração ocorra durante o repouso noturno, ou
seja, quando as pessoas de um modo geral estão menos atentas, com menor chance de vigilância
dos seus e dos bens alheios”. (Op. Cit. p. 876).

Furto privilegiado: §2°, Art. 155, há uma discussão de se tratar ou não de furto privilegiado.
Para Nucci trata-se de apenas uma diminuição da pena. Mas, admite, de forma quase implícita
“poder-se-ia falar em privilégio em sentido amplo”. Para compreender a questão, há de se buscar
o significado do que vem a ser privilégio que para o supracitado autor é “representar uma nova
faixa da pena, diminuindo-se o mínimo e o máximo em abstrato, estabelecidos pelo legislador no
preceito sancionador do tipo penal”. (Ibidem, p.877).

Furto de Sinal de TV a Cabo: “é válido para encaixar-se na figura prevista neste parágrafo, pois
é uma forma de energia. Nesta ótica o: STJ: Indícios apontando o uso irregular de sinais de TV a
cabo por um período de cerca de 1 ano e 9 meses, sem o pagamento da taxa de assinatura ou
das mensalidades pelo uso, apesar da cientificarão pela empresa vítima da irregularidade da
forma como recebiam o sinal, tendo sido refeita, inclusive, a ligação clandestina após a primeira
desativação”. (HC 17.867-SP, 5ª T. rel. Gilson Dipp, 17.12.2002, DJ 17.03.2003) ”. (Ibidem,
p.881).

Conceito de qualificadora: “Convém relembrar que o crime é qualificado quando o tipo penal
faz prever circunstâncias acrescentadas ao tipo básico, tornando-o mais grave. O gravame é
exposto na forma da alteração do mínimo e do máximo em abstrato das penas previstas para o
delito”. (Ibidem, p. 881).

Abuso de confiança: esta situação é prevista como qualificadora pois, trata-se de possuir a
confiança de alguém, tendo credibilidade, e usando desta confiança para a prática do delito. “Ex.
Uma empregada doméstica que há anos goza da mais absoluta confiança dos patrões, que lhe

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entregam a chave da casa e várias outras atividades pessoais (como pagamentos de contas), caso
pratique furto, incidirá na figura qualificada”. (Ibidem, p. 884).

Furto como fraude versus estelionato: “eis a polêmica estabelecida no caso concreto,
provocando variadas posições na jurisprudência. O cerne da questão diz respeito ao modo de
atuação da vítima, diante do engodo programado pelo agente. Se este consegue convencer o
ofendido, fazendo-o incidir em erro, a entregar, voluntariamente o que lhe pertence, trata-se de
estelionato; porém, se o autor, em razão do quadro enganoso, ludibria a vigilância da vítima,
retirando-lhe o bem, trata-se de furto com fraude. No estelionato, a vítima entrega o bem ao
agente, acreditando fazer o melhor para si; no furto fraude, o ofendido não dispõe de seu bem,
podendo até entregá-lo, momentaneamente, ao autor do delito, mas pensando em tê-lo de volta”.
(Ibidem, p. 885).

Chave falsa: “é o instrumento destinado a abrir fechadura ou fazer funcionar aparelhos. A chave
original, subtraída sub-repticiamente, não provoca a configuração da qualificadora. Pode haver,
nessa hipótese, conforme o caso concreto, abuso de confiança ou fraude. A mixa – ferro curvo
destinado a abrir fechaduras -, segundo nos parece, pode configurar a qualificadora. Afinal, deve-
se notar que se chave falsa não é de possuir o mesmo aspecto ou a mesma forma da chave
original”. (Ibidem, p. 887).

Concurso de duas ou mais pessoas: ocorre na participação de mais de um agente se reúnem


para praticar o crime, facilitando assim o intento criminoso. Configura-se qualificadora, “o apoio
prestado, seja como coautor, seja como partícipe, segundo entendemos, pode servir para
configurar a figura do inciso IV”. (Ibidem, p.887).

Nova qualificadora: é uma segunda figura de crime qualificado, sendo a pena aumentada ainda
mais, “para reclusão de 3 a 8 anos, quando o veículo automotor for transportado para outro
Estado da Federação ou para o exterior”. (Ibidem, p. 887) verificar Lei 9.426/96, esta é a lei que
acrescentou uma pena mais alta quando há este transporte para outro Estado e outro país.

1.2 Roubo (art. 157)

1.2.1 Crime Complexo – Ao se tratar do tema há de buscar a figura típica o que


obrigatoriamente o transforma em corolário do furto, não se equivalendo por conta da
obrigatoriedade do uso da violência real ou apenas imaginada. Como confirma o doutrinador “ o
roubo nada mais é do que um furto associado a outras figuras típicas, como as originárias do
emprego de violência ou de grave ameaça”. (Nucci, 2015, p. 891).

Nas palavras de Prado, “elenca o elemento qualquer meio como modo de reduzir ou impossibilitar
a resistência da vítima (violência imprópria).

Assim completo o tratamento capilar ofertado pelo legislador, cumpre observar a diferença e
noção de aplicabilidade do tipo da forma mais adequada possível.

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1.2.2 Sujeito Ativo ou Passivo – pode ser qualquer agente, uma vez o dispositivo legal não
trazer em seu bojo qualificação alguma.

1.2.3 Princípio da Insignificância – Não há como se aplicado no contexto do roubo, por tratar
de crime complexo, o que se exige haver ao menos duas condutas distintas, além da
peculiaridade da violência tornando expresso no artigo que este elemento deve existir de forma a
entrega do bem ou objeto desejado, ser entregue ao que o pretende, expulsando a possibilidade
de crime de bagatela. Havendo manifestação neste sentido do STF, STJ e da doutrina majoritária.

1.2.4 Bem jurídico tutelado – protege o “patrimônio público e privado, além da liberdade e
individual e a integridade física e a saúde, que são atingidos pela ação incriminada”. (Bitencourt,
2014, p.722).

1.2.5 Modus operandi – A operacionalidade obrigatória do emprego da violência, ou


simplesmente a ameaça de utiliza-la caracteriza o modus operandi, tendo em seu núcleo a
redução à impossibilidade de resistência.

1.2.6 Tipo objetivo – Subtrair.

1.2.7 Tipo Subjetivo – Dolo. É exigência para prática de roubo.

1.2.8 Espécies de Roubo

a) Roubo contra várias pessoas através de uma ação – Concurso formal. “Como regra, a
ação desencadeada pelo agente envolve uma única grave ameaça, voltado a determinados
ofendidos, confinados num local. Eles se desfazem de seus pertences, quase ao mesmo tempo,
constituindo cenário único”. (Nucci, 2015, p.894). Ex. Um assalto num ônibus com muitos
passageiros.

b) Roubo seguido de resistência – Concurso material. “Ambos os delitos tutelam bens jurídicos
diversos: patrimônio e administração da justiça”. (Nucci, 2015, p. 895).

c) Roubo estado de necessidade – “A corrente majoritária na jurisprudência não aceite a


possibilidade de se alegar estado de necessidade quando se pratica um roubo, não vemos óbice
legal a tanto”. (Nucci, 2015, p. 895).

d) Roubo Próprio – “o modelo abstrato de conduta do caput configura o roubo próprio, isto é a
autêntica forma de realização do roubo”. (Nucci, 2015, p. 898).

e) Roubo Impróprio – é a segunda possibilidade encontrada no § 1° denominada de Roubo


Impróprio, por conta da conduta se inverter, havendo primeiro a subtração e, logo após tendo já
sucesso na empreitada, o agente emprega de violência ou grave ameaça, a fim de assegurar “ a
impunidade do crime”, mantendo a posse da coisa para si ou para outrem.

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f) Tentativa no roubo próprio – Segundo doutrina majorante há duas posições: “a) pode haver
tentativa do roubo impróprio, quando o agente, apesar de ter conseguido a subtração é detido por
terceiros no instante em que pretendia usar violência ou grave ameaça; b) não é cabível. Se a
subtração se concretizou, não há de se falar em tentativa de roubo impróprio: ou o agente usa a
violência ou grave ameaça e está consumado o roubo impróprio, ou não se utiliza e mantém-se
somente a figura do furto”. (Nucci, 2015, p.899)

1.2.9 Causas de aumento da pena – o artigo em comento trata no §2° do que pode gerar
aumento da pena, lembrando que esta se aufere em condição de única qualificadora. (Lembrando
que qualificadora se dá quando se percebe modificação da conduta em relação ao caput, ou seja,
há uma condicionante estipulada pelo próprio art.157, §2°, I, arma de fogo, mesmo que seja
apenas em forma de ameaça, o agente está armado gera possibilidade de agravar a situação).

1.2.10 Incidência de mais de uma causa de aumento – “há quatro posições principais nesse
contexto: a) deve haver um único aumento, baseado numa das causas constadas. Se houver mais
de uma circunstância, as demais podem ser consideradas como circunstâncias judiciais (art.59)
para estabelecer a pena base; b) o aumento que é variável (1/3 até metade), deve ser
proporcional do número de causas presentes. Assim, havendo uma única, cabe aumentar, cabe
aumentar a pena a um terço. Se todas estiverem presentes, o juiz deve aumentar a pena pela
metade; c) a existência de mais de uma causa de aumento por si só não significa a elevação
necessária da pena. O juiz, se assim entender, ainda que presentes várias causas de aumento,
poderia aplicar o acréscimo de apenas um terço, pois o que está em jogo é a gravidade do meio
empregado, e não o número de incisos do § 2° que sejam configurados; d) deve haver a elevação
necessária (entre 1/3 e metade) e suficiente para no entendimento do julgador, punir de modo
justo o crime, com circunstâncias presentes, sem qualquer critério punir de modo justo o crime,
com as circunstâncias presentes, sem qualquer critério matemático fixo. A última posição é a
correta e vem ganhando adeptos, inclusive nos tribunais superiores. ”[...] (Nucci, 2015, p.900).

1.2.11 Arma de brinquedo – é de muita importância lembrar que a arma pode causar muito
mais leniência da pessoa que está sob sua mira do que outro objeto que assuma a posição de
arma, como uma faca, a intimidação é notória. No que tange a arma de brinquedo é bom notar “é
indiscutível que a arma de brinquedo pode gerar grave ameaça e, justamente por isso, ela serve
para configurar o tipo penal de roubo, na figura simples (jamais causa de aumento) ”. (Nucci,
2015, p.905). Lembrando que a arma de brinquedo tem que ter uma aparência semelhante a de
verdade, se no caso ficar evidente tratar-se de arma de brinquedo, não há como configurar o
crime de roubo.

Dolo Direto – “exige o tipo penal que o agente conheça a circunstância referente ao transporte
de valores de terceiros, razão pela qual não configura a causa de aumento quando houver dolo
indireto (assumir o risco de provocar o resultado”. (Nucci, 2015, p. 908).

1.2.12 – Crime qualificado pelo resultado morte – “trata-se da hipótese do latrocínio quando
também se exige dolo na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente
(morte). É considerado crime hediondo”. (Nucci, 2015, p. 910).

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1.3 Extorsão (art. 158)

a) Extorsão – “é uma variante de crime de crime patrimonial muito semelhante ao roubo, pois
também implica uma subtração violenta ou com grave ameaça de bens alheios. [...] A diferença
encontra-se no fato de a extorsão exigir a participação ativa da vítima fazendo alguma coisa,
tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude de ameaça ou da violência sofrida”.
(Nucci, 2015, p. 914).

b) Análise do núcleo do tipo – constranger “significa tolher a liberdade, forçando alguém a


fazer alguma coisa”. (Op. Cit. p. 915).

c) Violência ou grave ameaça – A violência e a grave ameaça está presente neste crime, pois,
caso não houvesse, certamente, não haveria sucesso no resultado esperado.

d) Elemento subjetivo – só há punição se houver dolo, e não existe a forma culposa.

e) Indevida Vantagem econômica – para configuração do delito a vantagem econômica deve


ser indevida, sendo fator determinante dos atos determinantes para que haja a conduta delitiva.

f) Classificação: crime comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; de dano;


Unissubjetivo; plurissubjetivo; admite a tentativa. (Nucci, 2015, p. 916, 917).

1.4 Extorsão mediante sequestro (art. 159)

a) Análise do Núcleo do tipo – “sequestrar significa tirar a liberdade da pessoa, isolar, reter a
pessoa”. (Op. Cit. p.922).

b) Elemento subjetivo – “é o dolo, que deve constar o elemento objetivo do tipo”. (Ibidem, p.
923). Há o elemento subjetivo do tipo que especificamente é “ com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”.

c) Consumação – por tratar de crime formal, a punição é gerada através da mera atividade de
sequestrar pessoa, tendo a fim a obtenção de resgate. Mesmo que o agente não consiga o
resultado final, o delito de sequestro está consumado, pois, toda a conduta foi exercida.

d) Condição – No sequestro seguido de extorsão se faz sumamente necessário a imposição à


vítima para que se possa ser libertada, a vantagem monetária, como um preço que se impõe.

e) Classificação: Crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial);
formal (delito cujo resultado naturalístico previsto no tipo penal – recebimento do resgate – pode
não ocorrer contentando-se, para a sua configuração, com a conduta de sequestrar); de forma
livre (podendo ser cometido por qualquer meio pelo agente); comissivo (“sequestrar, implica em
ação); e, excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do
art. 13, § 2° do Código Penal); permanente (o resultado se prolonga no tempo); Unissubjetivo

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(que pode ser praticado por um só agente); plurissubsistente (em regra vários atos integram a
conduta); admite a tentativa. Trata-se de crime hediondo (Lei 8.072/90).

f) Figura qualificadora: se encontram, as hipóteses como figuras qualificadoras, pois são


circunstâncias mais gravosas que naturalmente servem, para no abstrato considerar o mínimo e o
máximo penal.

g) Duração superior a 24 horas – quando a vítima fica exposta a um período superior a 24


horas de privação de sua liberdade, o delito passa a ser qualificado, isto se dá por conta do stress
e saúde do sequestro.

h) Sequestro de pessoa menor de 18 anos e ou idoso - há sem dúvida uma proteção maior a
vítima menor, por sua fragilidade, bem como idoso maior de 60 anos, pelas condições de saúde
que podem não ser a melhor possível, para estar num cativeiro exposto a impossibilidades de
todo gênero.

i) Bando ou quadrilha – vale-se o código penal do tipo penal específico previsto no art. 288 do
CP, atualmente modificado pela lei 12.850/2013, intitulando-se associação criminosa. É
importante que haja prova da participação de 3 ou mais pessoas para haver esta configuração e,
a compreensão que houve associação com esta finalidade específica.

j) Delação premiada – na Lei 8.072/90, que instituiu “os crimes hediondos, houve por bem
criar, no Brasil, a delação premiada que significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso
que entregar o (s) comparsa (s). [...]. É um mal necessário, pois trata-se de quebrar a espinha
dorsal das quadrilhas [...] (Nucci, 2015, p.926). É importante dizer que neste caso é
sumamente importante que a delação leve a libertação do sequestrado, caso contrário a
delação não poderá contemplar quem delatou.

1.5 Apropriação Indébita (art.168)

a) Análise do Núcleo do tipo - “apropriar-se significa apossar-se ou tomar como sua coisa que
pertence a outra pessoa”. (Op. Cit. p.940). A clara e flagrante intenção é de proteção da “coisa
alheia móvel”, passando pela confiança que o dono possui sobre a pessoa que “tem a posse ou a
detenção”. O delito se consuma quando o verdadeiro dono é solicita a coisa e aquele que estava
na “posse ou detenção” temporária, nega a entrega.

b) Sujeitos ativo e passivo – “o sujeito ativo é a pessoa que tem a posse ou a detenção de coisa
alheia; o sujeito passivo é o senhor da coisa dada ao sujeito passivo”. (Nucci, 2015, p. 941).

c) Elemento subjetivo – é dolo. “Não existe a forma culposa. ”(Op. Cit. p.941).

d) Objetos material e jurídico – material é a coisas alheia móvel; enquanto o objeto jurídico é o
patrimônio.

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e) Posse ou detenção – é importante que a coisa tenha sido dada espontaneamente para que
usufrua, podendo tirar alguma vantagem e exercendo a posse chamada direta, ou podendo ser
dada para utilização em nome de quem deu, assumindo que houve ordens do verdadeiro dono
sobre a forma de uso.

f) Classificação – crime próprio (aquele que demanda sujeito com qualificação especial);
material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na diminuição do patrimônio da
vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo
ou omissivo (“apropriar-se” pode implicar em ação ou omissão); instantâneo (resultado se dá de
maneira instantânea não se prolongando no tempo); Unissubjetivo (que pode ser praticado por
um só agente); unissubsistente ou plurissubsistente (pode haver um único ato ou vários atos
integrando a conduta); admite tentativa , conforme o meio eleito pelo agente. (Op. Cit., p. 942).

g) Qualidade da pessoa – “o tutor, o curador, o síndico, o liquidatário, o inventariante, o


testamenteiro e o depositário judicial são pessoas, que, em regra que recebem coisas de outrem
para guardar consigo, necessariamente até o momento, até que seja o momento de devolver. Por
isso merece o autor pena mais severa”. (Nucci, 2015, p.943).

h) Apropriação indébita contra idoso – A Lei 10.741/2003 criou a seguinte figura típica, no art.
102: „Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso,
dando-lhes aplicação diversa de sua finalidade: Pena – Reclusão de 1(um) a 4(quatro) anos e
multa”. (Ibidem, p.943). Se a pessoa for idosa, portanto acima de 60 anos, segue-se o disposto
na Lei Especial.

1.6 Do Estelionato e outras Fraudes (art. 171)

a) Análise do núcleo do tipo –cumpre dizer que a conduta é sempre composta. “Obter
vantagem indevida induzindo ou mantendo alguém em erro. Significa conseguir um benefício ou
um lucro ilícito em razão de engano provocado pela vítima. [...]. Induzir quer dizer incutir ou
persuadir e manter significa fazer permanecer ou conservar. Portanto, a obtenção da vantagem
indevida deve se ao fato do agente conduzir o ofendido ao engano ou quando deixa que a vítima
permaneça na situação de erro na qual se envolveu sozinha.

b) sujeitos ativo e passivo – qualquer pessoa.

c) Elemento subjetivo – é o dolo. Inexiste a forma culposa.

d) Vantagem ilícita – esta espécie de conduta delituosa, basta que “o agente obtenha
vantagem, isto é, qualquer benefício, ganho ou lucro, de modo indevido, ou seja, ilícito”. (Nucci,
2015, p.962).

e) Elemento normativo – “perda quer dizer perda ou dano; alheio significa pertencente a
outrem. Portanto, a vantagem auferida pelo agente deve implicar numa perda, de caráter
econômico, ainda que indireto, para outra pessoa”. (Nucci, 2015, p. 962).

57
f) Qualquer outro meio fraudulento – “Trata-se de interpretação analógica, ou seja, após ter
mencionado duas modalidades de meios enganosos, o tipo penal faz referência a qualquer outro
semelhante ao artifício e ao ardil que possa, igualmente, ludibriar a vítima”. (Nucci, 2015, p. 963).

g) Classificação – crime comum, material, de forma livre, comissivo, instantâneo, Unissubjetivo,


plurissubsistente.

h) Estelionato privilegiado – “como no caso do furto e da apropriação indébita, é possível


haver substituição ou diminuição da pena. Exige-se primariedade para o réu [...]” (Op. Cit.
p.967).

i) Elemento subjetivo – é o dolo, inexistindo forma culposa.

Cumpre ainda dizer sobre o art. 171 do CP, que ele tem variantes em seus incisos expondo
condutas próprias e específicas de outras fraudes como:

I – Venda, permuta, dar em pagamento ou em garantia coisa alheia como própria;

II – Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria (inalienável)

III – Defraudação de penhor (mediante alienação não consentida).

IV – Fraude na entrega de coisa (ou na qualidade ou na quantidade de coisa que deve entregar a
alguém.

V – Fraude para recebimento de indenização ou valor do seguro (usa de meio fraudulento para
receber.

VI – Fraude no pagamento por meio de cheque. (Emissão de cheque sem provisões de fundos, ou
por qualquer meio lhe frustra o pagamento).

1.7 Da receptação (art.180)

a) Análise do núcleo do tipo – esta espécie de crime não traz complicação por tratar-se de dois
blocos bem específico e com duas condutas autonomamente puníveis. Sendo a primeira
“denominada de receptação própria – é formada pela aplicação alternativa dos
verbos adquirir (obter, comprar), receber (aceitar em pagamento ou simplesmente
aceitar), transportar (levar de um lugar a outro), conduzir (tornar-se condutor,
guiar), ocultar (encobrir ou disfarçar), tendo por objeto material coisa fruto produto de crime. [...]
A segunda – denominada receptação imprópria – é formada pela associação da conduta de influir
(inspirar ou insuflar)) alguém de boa-fé a adquirir (obter ou comprar), receber (aceitar em
pagamento ou aceitar) ou ocultar (encobrir ou disfarçar) coisa produto de crime”. (Op. Cit. p.
1001).

58
b) Sujeito Ativo ou passivo – “o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O Sujeito passivo
necessita ser o proprietário ou possuidor da coisa produto do crime”. (Nucci, 2015, p. 1001).

c) Elemento subjetivo – “é o dolo. A forma culposa possui previsão específica no § 3°. Exige-se
elemento subjetivo do tipo específico que é a nítida intenção de tomar, para si ou para outrem,
coisa alheia originária na prática de um delito”. (Nucci, 2015, p. 1002).

d) Produto de crime – “é preciso ter havido, anteriormente, um delito, não se admitindo a


contravenção penal”. (Op. Cit. p.1002).

e) Receptação de coisa insignificante – “atipicidade. Se o crime anterior for considerado delito


de bagatela, por exemplo, não há como permitir a configuração da receptação”, (Op. Cit. p.
1002). Se dá esta condição por não haver valor econômico.

f) Análise da nova figura típica qualificada – “a Lei 9426/96 introduziu a figura típica do § 1°,
tendo por finalidade atingir os comerciantes e industrias que, pela facilidade com que atuam no
comércio, podem prestar maior auxílio à receptação de bens de origem criminosa”. (Nucci, 2015,
p. 1005). Alguns novos verbos são propostos: desmontar, montar e remontar. Demonstram “a
clara intenção de abranger alguns „desmanches‟ de carros que tanto auxiliam a atividade dos
ladrões de veículos”. (Nucci, 2015, p. 1005).

g) Sujeito ativo e passivo – neste caso específico só pode ser o comerciante ou industrial;
enquanto o sujeito passivo é o proprietário ou possuidor legítimo da coisa ou produto do crime. (
Op. Cit. p. 1006).

i) Elemento subjetivo – exige-se o dolo, nas modalidades direta ou eventual.

1.8 Disposições gerais

At. 181 – É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título em
prejuízo:

I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II – de ascendente ou descendente, seja parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou


natural.

“No âmbito penal, trata-se (art.181) de uma escusa absolutória, condição negativa de punibilidade
ou causa pessoal de exclusão da pena. [...] baseando-se na circunstância de existirem laços
familiares ou afetivos entre os envolvidos, o legislador houve por bem afastar a punibilidade de
determinadas pessoas. O crime – fato típico, antijurídico e culpável – está presente, embora não
seja punível. Cuida-se de imunidade absoluta, porque não admite prova em contrário, nem
possibilidade de se renunciar à sua incidência. [...] Ensina Nelson Hungria que a razão dessa
imunidade nasceu, no direito romano, fundada na copropriedade familiar. Posteriormente, vieram
outros argumentos: a) evitar a cizânia entre os membros da família; b) proteger a intimidade
59
familiar; c) não dar cabo do prestígio auferido pela família. ” (Nucci, 2015, p.1017). Assim não é
de todo errado imaginar que o que acontece dentro de uma família deve ser resolvida de
preferência se resolve no seio familiar, sem dar vazão e trazer a público.

2. Dos crimes contra a propriedade intelectual

A CF em seu art. 216 aponta de formada definida o que “constituem ´patrimônio cultural
brasileiro os bens de natureza material e imaterial”. [...]

2.1 Violação de Direito Autoral (art. 184).

a) Conceito de Direito de autor – Nucci apud Carlos Alberto Bittar “é o ramo do Direito Privado
que regula as relações jurídicas, advindas da criação e da utilização econômica de obras
intelectuais estéticas e compreendidas na literatura, nas artes e ciências. (...). As relações regidas
por esse Direito nascem com a criação da obra, exsurgindo, do próprio criador, direitos
respeitantes à sua face pessoal [...]”. (Nucci, 2015, p. 1026).

b) Análise do núcleo do tipo – “violar significa ofender ou transgredir, tendo por objeto o
direito de autor à sua produção intelectual. O tipo é uma norma penal em branco, necessitando,
pois, de vinculação com as leis que protegem o direito de autor (consultar as Leis 9.609/98 e
9.610/98), bem como usando a interpretação do juiz para que possa ter alcance e sentido”.
(Nucci, 2015, p. 1026).

RIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

“Dignidade” tem o sentido de decência, compostura, respeito.

1.1-ESTUPRO (ART.213,CP) – CONCEITO LEGAL

“Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.”

A objetividade jurídica do crime é a liberdade para o ato sexual.

1.2-Sujeito ativo – Na primeira modalidade somente o homem pode cometer o delito. Na


segunda modalidade o sujeito ativo é qualquer pessoa.

1.3-Sujeito passivo – Na primeira modalidade somente a mulher, na segunda modalidade é


qualquer pessoa (PROSTITUTA, GAROTO DE PROGRAMA, VIRGEM, PROMÍSCUA, HONESTA
SEXUALMENTE, ETC).

1.4-Tipo objetivo – “Constranger” é obrigar, coagir, forçar a vítima ao ato sexual. “Violência” é a
prática de lesão corporal ou homicídio contra a vítima.
60
“Grave ameaça” é a intimidação psíquica, a violência moral.

“Conjunção carnal” é o relacionamento sexual normal, com coito vagínico. Introductio ou


intromissio penis in vaginam.

“Ato libidinoso” é todo ato destinado ao prazer sexual, para satisfazer a libido sexual. Exemplos:
apalpação dos seios, coito oral, coito anal, etc.

1.5-Modalidades: na primeira parte a violência é empregada para a extorsão da conjunção


carnal. A mulher é obrigada a manter o coito vagínico.

Na segunda parte do dispositivo, o crime pode ser praticado de duas formas: 1ª) o agente obriga
a vítima a praticar um ato libidinoso diverso da conjunção carnal. A vítima, neste caso, tem um
comportamento ativo no ato sexual. Exemplo: o agente obriga a vítima a masturbá-lo.

Na 2ª forma do crime, o comportamento da vítima é passivo no ato sexual. A vítima é obrigada a


permitir que com ela se pratique o ato libidinoso. Exemplo: a vítima é obrigada a manter sexo
anal com o acusado.

1.6- Consumação – Na primeira parte do art. 213, a consumação se dá com a introdução do


pênis na vagina da vítima, total ou parcial, podendo ou não haver ejaculação.

Na segunda parte do art. 213, o delito se consuma quando a vítima pratica ou permite que com
ela se pratique o ato libidinoso. Nesta hipótese, basta o toque físico eficiente para gerar a lascívia
do acusado e o constrangimento da vítima.

Não há necessidade que a vítima coagida realize o ato sexual com o agente do crime, pode ser
com um terceiro, ou ainda em si mesma como no caso de automasturbação.

Comete ainda o crime de estupro a pessoa que se deparando com uma pessoa despida,obriga
essa pessoa a permanecer nua para contemplá-la.

Esse crime somente pode ser cometido de modo doloso. Rogério Greco cita um caso que poderia
ser tomado por modalidade culposa.

1.7- Qualificação – As modalidades qualificadas estão previstas nos §§ 1º e 2º do art. 213. São
formas preterdolosas do delito. Ler.

RESULTADO QUALIFICADOR E QUALIFICADORA: “Se da conduta resulta”, ou seja, se da


violência ou grave ameaça resulta lesão corporal ou morte, haverá aumento de pena naqueles
termos. Na 1ª parte do § º há um resultado qualificador e na 2ª parte uma qualificadora (ser a
vítima menor de 18 anos e maior de 14).

61
Quando o estupro é cometido no dia em que a vítima completa 14 anos, Damásio de Jesus
entende que deve incidir a qualificadora do

§1º, a despeito da lei não prever.

O resultado qualificador pode se dar por dolo ou culpa (exceto quando o legislador deixa claro a
exclusão do dolo como fez no §3º do art. 129).

Há quem sustente que deve existir nos delitos sexuais, para a configuração do resultado
qualificador, a incidência somente de culpa. Se existir dolo haveria concurso de crimes entre
homicídio ou lesão corporal.

EXEMPLO: “Um homem ao tentar estuprar uma mulher, derruba a vítima que bate a cabeça em
uma pedra e morre. A corrente doutrinária majoritária entende haver ocorrido a modalidade
qualificada do crime do parágrafo segundo. Uma corrente minoritária entende haver tentativa
qualificada de estupro.

Na hipótese de estupro de menor de 18 e maior de 14 anos vier a ocorrer morte da vítima, aplica-
se a pena do § 2º.

1.7- CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PREVISTAS NOS ARTS. 234-A e 226.

A) Nos crimes contra a dignidade sexual a pena é aumentada:

1- De metade se do crime resultar gravidez.

2- De um sexto até a metade, se o agente transmitir à vítima doença sexualmente transmissível,


de que sabe ou deveria saber ser portador.

3- De quarta parte, quando o crime é cometido mediante concurso de duas ou mais pessoas.

4- De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio ou irmão, cônjuge,


companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem
autoridade sobre ela.

1.8- AÇÃO PENAL – (ART. 225) A ação penal será pública condicionada a representação.

No parágrafo único, a ação penal será pública incondicionada, se a vítima é menor de 18 anos ou
pessoa vulnerável.

1.9- SEGREDO DE JUSTIÇA – Segundo o art. 234-B Os processos que apuram crimes contra a
dignidade sexual correrão em segredo de justiça.

62
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

1) Não haverá concurso de crimes se o agente realizar conjunção carnal e outro ato libidinoso
diverso com a vítima. Vicente Greco Filho minoritariamente defende a possibilidade de existir
concurso entre as duas modalidades de estupro. Todavia, o juiz deve levar em consideração este
comportamento duplo a quando da dosimetria da pena.

2) Somente ocorrerá concurso se o agente cometer novamente o ato sexual em outro cenário, em
outras circunstâncias.

3) O dissenso da vítima deve ser durante todo o ato sexual, assim como a cessação do
consentimento para o ato sexual pode ocorrer a qualquer momento, impedindo o autor de
prosseguir o ato, incorrendo no delito se prosseguir.

4) O estupro em qualquer de suas modalidades é considerado crime hediondo.

5) Para a prática do crime, não é necessário o contato físico. Exemplo: A, um homem, ameaça B,
uma mulher, com uma arma de fogo e obriga a vítima a se despir em sua frente, o que lhe
confere prazer sexual, comete o delito consumado (Guilherme de Souza Nucci).

2- Violação Sexual Mediante Fraude (conceito legal – art. 215)

“Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio
que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”.

Pena: reclusão de 2 a 6 anos.

2.1- Objetividade Jurídica – a liberdade sexual.

2.2- Sujeito ativo – na modalidade “ter conjunção carnal”, o delito é próprio, somente pode ser
praticado pelo homem. Na segunda modalidade, qualquer pessoa pode ser autora do crime.

2.3- Sujeito passivo – Na primeira modalidade é a mulher. Na segunda modalidade é qualquer


pessoa.

2.4- Tipo Objetivo – “ato libidinoso”, e “conjunção carnal”, já foram explanados no art. 213, CP.
“Fraude” é o ardil, o engano, o artifício. Um verdadeiro estelionato sexual.

Diante da fraude, a vontade da vítima é viciada, pois se conhecesse a realidade, a vítima não
consentiria o ato sexual. Exemplos: a simulação de casamento; um homem penetra no quarto de
uma mulher fingindo ser seu esposo. O caso dos gêmeos Cosme e Damião em que um se faz
passar pelo outro.

63
“Outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vítima” deve ser um meio análogo à
fraude. Exemplo: embriaguez incompleta da vítima.

2.5- Consumação – Na modalidade conjunção carnal, a consumação ocorre nos mesmos moldes
do crime de estupro; Na segunda modalidade, com a realização do ato libidinoso.

A tentativa é admitida.

2.6- Elemento subjetivo – somente pode ser praticado dolosamente.

Se existir finalidade econômica, aplica-se também a multa.

2.7- Causas de aumento da pena: (art. 234-A). Ler.

ASSÉDIO SEXUAL (ART. 216-A)

“Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se


o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função”.

1- Objetividade Jurídica – é a liberdade sexual.

2-Sujeito ativo e passivo é qualquer pessoa. O agente deve se encontrar em uma posição de
superioridade hierárquica ou ascendência em relação à vítima, decorrente de cargo, emprego ou
função.

A vítima deve se encontrar em uma posição de subalternidade em relação ao agente.

“Constranger” é coagir. O constrangimento pode ser por qualquer meio de comunicação (verbal,
escrito ou mímica). O constrangimento não pode ser físico.

A vantagem e o favorecimento podem ser de diversas ordens, desde que tenham um cunho
sexual.

Não se exige que o ato sexual seja de relevo.

A vantagem ou o favorecimento podem ser para o próprio agente ou para terceiro, ainda que sem
o conhecimento deste. Se o terceiro tem ciência do constrangimento, poderá responder como
partícipe do delito.

Não é preciso que o agente obtenha o que pretendia, basta o intuito.

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3- Consumação – Ocorre no momento em que o agente realiza a ação de constranger,
independentemente de obter ou não o favor sexual buscado. Na hipótese do constrangimento ter
sido por escrito, admite-se a forma tentada.

OBS. No art. 216-A foi acrescentado pela lei 12.015, o §2º, com a seguinte redação: “a pena é
aumentada em até um terço, se a vítima é menor de 18 anos.”

A doutrina critica essa formula por não prever um mínimo de aumento, somente o máximo é
previsto.

3- Estupro de Vulnerável (art. 217-A) “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com menor de 14 (quatorze) anos”. Reclusão de 8 a 15 anos.

3.1- Introdução – o dispositivo visou substituir a presunção de violência existente na legislação


anterior, tratando a matéria de modo claro, prevenindo interpretações divergentes.

3.2- Objetividade jurídica - a liberdade sexual e o desenvolvimento sexual.

3.3- Sujeito ativo – Na primeira modalidade somente o homem. Na segunda é qualquer pessoa.
Sujeito passivo deve ser pessoa vulnerável.

3.4- Tipo objetivo – O núcleo do tipo penal é o verbo “ter”, que difere do verbo “constranger”
empregados no art. 213. Ou seja, não se exige, nesta forma especial de estupro, que o agente
empregue violência ou grave ameaça. CONJUNÇÃO CARNAL E ATO LIBIDINOSO FORAM
CONCEITUADOS NO ESTUDO DO CRIME DE ESTUPRO (ART. 213).

Mesmo que sem violência ou grave ameaça, mesmo a vítima consentindo o ato sexual, ainda
assim haverá o crime.

PESSOA VULNERÁVEL é aquela menor de 14 anos ou portadora de doença mental ou deficiência


mental, que não possui discernimento para a prática do ato sexual ou ainda o que não pode, por
qualquer motivo, oferecer resistência (art. 217-A, §1º).

Não incorre no crime o agente que mantém relação sexual com a vítima no dia de seu aniversário
de 14 anos, porque a lei se refere a “ menor de 14 anos.” A idade da vítima é provada pela
certidão de nascimento ou outro documento idôneo.

A vulnerabilidade pode ser relativa ou absoluta. Pergunta Nucci: Pode-se considerar, o menor de
13 anos, absolutamente vulnerável, a ponto de seu consentimento para a prática sexual ser
completamente inoperante, ainda que tenha experiência sexual comprovada?

Ou será possível considerar relativa a vulnerabilidade em alguns casos especiais, avaliando-se a o


grau de conscientização do menor para a prática sexual?
65
Ele entende que essas perguntas devem ser formuladas quanto ao menor entre 12 e 14 anos, já
que a criança (menor de 12 anos) a vulnerabilidade deve ser absoluta.

Por curiosidade, na Espanha e na Argentina o limite mínimo de idade é 13 anos.

Depois que a vítima completa 14 anos, somente poderá ser vítima de crime sexual nas seguintes
hipóteses:

 Se o ofendido, embora voluntário o ato, encontra-se em situação de prostituição (art. 218, §2º, I)

 Se o ato sexual for praticado sem o seu consentimento (art. 213 ou 215).

Quanto a enfermidade mental ou deficiência mental pode-se sustentar o mesmo: deve-se avaliar
a falta de discernimento (caráter absoluto) ou discernimento incompleto (caráter relativo),
aplicando-se conforme a situação o art. 215 (violação sexual mediante fraude) ou o art. 217§1º
(estupro de vulnerável). Neste caso, não importa a idade do ofendido.

A enfermidade mental deve ser provada pericialmente.Não basta alegar.

Se o agente for enganado quanto a idade da vítima ou as circunstâncias do caso concreto (altura,
compleição física, desenvoltura, comportamento, etc.) levarem o agente a presumir que a vítima
tem mais de 14 anos, poderá haver erro de tipo (ART. 20, CP).

Quanto a enfermidade mental ou deficiência mental pode-se sustentar o mesmo.

Pode uma pessoa, mesmo portadora de doença mental ou deficiência mental manter relação
sexual e isso não configurar o crime em estudo, como no caso de uma pessoa portadora de
epilepsia.

A impossibilidade de resistência da vítima é exemplificada quando uma pessoa por debilidade


orgânica ou velhice, excepcional esgotamento, sono mórbido, desmaio, embriaguez, em coma
num hospital, anestesiada, hipnotizada, etc., não reúne condições de resistir ao ato.

3.5- Consumação – Ocorre nos mesmos moldes do crime de estupro (art. 213, CP).

3.6- Modalidades Qualificadas: Se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave, a


reclusão passa a ser de 10 a 20 anos (§1º). Se resulta morte, a pena é de 12 a 30 anos.

3.6- Causas de aumento de pena: Estão previstas no art. 234-A E 226, CP:

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PREVISTAS NOS ARTS. 234-A e 226.

A PENA É AUMENTADA:
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1- De metade se do crime resultar gravidez.

2- De um sexto até a metade, se o agente transmitir à vítima doença sexualmente transmissível,


de que sabe ou deveria saber ser portador.

3- De quarta parte, quando o crime é cometido mediante concurso de duas ou mais pessoas.

4- De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio ou irmão, cônjuge,


companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem
autoridade sobre ela.

3.7- Ação Penal – Tendo em vista a vulnerabilidade da vítima, a ação penal é pública
incondicionada (art. 225). O processo deverá correr em segredo de justiça.

3.8- Concurso de Crimes – pode ocorrer entre o art. 217-A e lesão corporal (art. 129,CP) ou
ameaça (art. 147) se foram estes os meios empregados pelo agente.

4.1-CORRUPÇÃO DE MENORES ( NUCCI DENOMINA este CRIME DE “MEDIAÇÃO DE


VULNERÁVEL PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM” –(ART. 218)

“Induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem.” Reclusão de 2 a 5 anos.

“Induzir” é incutir a idéia na cabeça da vítima ou convencê-la à prática do comportamento


previsto no tipo penal. Exemplos do crime: Induzir a vítima a realizar um ensaio fotográfico
exibindo-se para a satisfação sexual de alguém;

Com a mesma finalidade, exibi-la durante um banho; induzir à automasturbação da vítima; a ficar
deitada sem roupas; danças eróticas semi-nua; streaptease, etc.

Trata-se de uma modalidade especial de lenocínio (ato de tirar proveito da sexualidade alheia),
onde o sujeito presta assistência à libidinagem de outrem. (COMPARAR COM O ART. 227).

A mediação para servir a lascívia de outrem envolvendo apenas adultos é crime vetusto e de
raríssima aplicação que já deveria ter sido revogado do CP.

Não satisfeito de manter esse tipo penal, o legislador ainda criou a “mediação de vulnerável para
servir a lascívia de outrem”.

Aquele que desafoga na vítima sua libidinagem responde por estupro de vulnerável (art. 217-
A).Trata-se de uma exceção pluralística à teoria monista.

Se A induz (dar idéia) a menor de 14 anos B a ter conjunção carnal com C, responderá pelo art.
218, enquanto C deve ser processado como incurso no art. 217-A (estupro de vulnerável). O
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partícipe moral tem pena mínima de 2 anos, enquanto aquele que realizou o ato sexual tem pena
mínima de 8 anos.

A consequência dessa falta de bom senso será a possibilidade de aplicar por analogia in bonam
parte, ao partícipe em geral do estupro de vulnerável a figura privilegiada do art. 218, uma vez
que não tem sentido em punir o indutor com pena de 2 a 5 anos e o instigador com pena de 8 a
15 anos.

Criou-se uma figura privilegiada e inadequada para a participação moral em relacionamento


sexual de menor de 14 anos, prejudicando a aplicação da figura de estupro de vulnerável.

Lascívia é a concupiscência, a luxúria, a sensualidade, a libidinagem.

Exige-se que o sujeito passivo seja induzido a satisfazer a lascívia de determinada pessoa. Se o
induzimento é para que a vítima satisfaça a libidinagem de indeterminado número de pessoas, o
crime será o do art. 218-B (favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de
vulnerável).

4.2- Objetividade Jurídica – é a dignidade sexual e o desenvolvimento sexual normal da vítima,


prevenindo seu ingresso precoce na vida sexual.

4.3- Sujeito Ativo e passivo. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Sujeito passivo é
o menor de 14 anos. Se a vítima tem mais de 14 anos, o crime será o do art. 227, CP.

O crime se consuma quando a vítima satisfaz a lascívia de um terceiro.

Corrupção de menores no ECA.

4.4- Ação penal é pública incondicionada e deve correr em segredo de justiça (art. 234-A).

5-SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE


(ART. 218-A)

Essa figura é inédita no Código Penal.

“Praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal


ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer a lascívia de outrem.”

Para a configuração do crime, o agente deve praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso na
presença do menor de 14 anos, com a finalidade de satisfazer a lascívia de outrem. A presença do
menor no ato sexual é motivo de prazer para um terceiro.

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O menor não pratica nenhum ato sexual, mas apenas assiste essas práticas. “Lascívia” é a
sensualidade, luxúria, concupiscência.

Busca-se punir a conduta da pessoa sexualmente desequilibrada, cuja satisfação da lascívia


advém da presença de menor de 14 anos durante a prática do ato libidinoso isolado ou em
conjunto com outrem.

O agente do crime não tem qualquer contato físico com o menor de 14 anos nem o obriga a se
despir ou a adotar qualquer conduta sexualmente atrativa, pois se assim fizesse estaria
cometendo estupro de vulnerável.

O núcleo do tipo prevê a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, destinado ao prazer
sexual, para satisfação de lascívia própria ou de terceiro.

O menor de 14 anos a tudo assiste. O tipo penal menciona o termo presença e o verbo presenciar,
dando margem a interpretação de que o menor deveria estar fisicamente no local onde o ato
sexual se desenvolve.

Não deveria ser assim, pois a evolução tecnológica já propicia a presença – estar em determinado
lugar ao mesmo tempo em que algo ocorre – por meio de aparelho apropriado (web Can). Logo, o
menor pode a tudo assistir ou presenciar através de TV ou monitores.

A conduta do agente pode consistir em praticar o ato sexual na presença do menor ou


simplesmente induzir (dar a idéia) o menor a presenciar o ato de terceiro. O menor não precisa
ter consciência da libidinosidade do ato praticado

Nessa última medida, por cautela, deveria o legislador ter inserido os verbos instigar e auxiliar.
Porém, se algum deles se configurar, torna-se viável inserir o autor como partícipe do ato sexual
de qualquer modo.

4.2- Objetividade Jurídica – é a dignidade sexual e o desenvolvimento sexual normal da vítima.

4.3- Sujeito Ativo e passivo. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Sujeito passivo é
o menor vulnerável.

6- FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE


VULNERÁVEL (ART. 218-B)

“Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de
18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.”

Pena: Reclusão de 4 a 10 anos.

69
EXPLORAÇÃO SEXUAL é expressão nova na legislação penal que significa tirar proveito ou
enganar alguém para lucrar.

Cuida-se de modalidade especial de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração


sexual, que tem por vítima a pessoa vulnerável. A vulnerabilidade pode ser relativa ou absoluta,
conforme exposto no art. 217-A.

Menores de 18 anos e maiores de 14 vulnerabilidade relativa. Menores de 14 anos,vulnerabilidade


absoluta.

Se a vítima tem menos de 14 anos, o crime poderá ser o de estupro de pessoa vulnerável (art.
217-A).

Quanto ao relacionamento sexual do vulnerável, está vedado quando a pessoa tiver menos de 14
anos (estupro de vulnerável), porém somente está proibido para os que possuem menos de 18
anos quando envolver prostituição ou outra forma de exploração sexual.

As pessoas enfermas ou deficientes mentais também se submetem à análise da vulnerabilidade


relativa ou absoluta:

1) enfermos e deficientes que não têm a menor compreensão e discernimento em relação ao ato
sexual, a vulnerabilidade é absoluta (estupro de vulnerável).

2) enfermos e deficientes que têm relativa compreensão e discernimento em relação ao ato


sexual, a vulnerabilidade é relativa. Pode configurar-se o crime do art. 215, se não houver
pagamento pelo ato, ou o art. 218-B, quando no cenário da prostituição.

Nucci entende que a vulnerabilidade relativa deve inserir, dependendo do caso, os menores com
idade entre 12 e 13 anos.

Na modalidade “submeter”, a vítima é subjugada pelo agente, sujeitando-se à prostituição ou a


outra forma de exploração sexual (Exs: pornografia, turismo sexual, etc.).

“Induzir‟ é semear na mente da vítima a idéia de prostituir-se. “Atrair” é chamar a atenção da


vítima para essa atividade, concedendo-lhe alguma vantagem como presentes, viagens, etc.

Na modalidade “facilitação”, o agente pode proporcionar meios para o exercício da prostituição


(carro, apartamento, roupas), ou mesmo conseguindo clientes para a vítima.Neste caso a vítima
já vive na prostituição.

Pode ainda o crime ser cometido quando o agente impede ou dificulta a vítima de abandonar a
prostituição. A vítima se encontra no exercício da atividade, sendo impedida pelo agente de
abandoná-la ou quando o agente dificulta o abandono.

70
A vítima com doença mental ou com deficiência mental se deixa explorar sexualmente, sem que
ninguém mantenha com ela conjunção carnal ou ato libidinoso. Por exemplo: tirar fotos eróticas,
trabalhar em casa de prostituição, em casa de disque-sexo, etc.

Se ocorrer ato sexual poderá ocorrer o crime do art. 217-A (estupro de vulnerável).

O tipo é misto alternativo: a prática de uma só conduta configura o crime. Porém, a prática de
mais de um verbo mantém o crime único.

A prostituição e a exploração sexual são elementos normativos do tipo, implicando em exercício


do comércio do sexo ou sexo obtido mediante engodo.

Portanto, deve existir prova de habitualidade, ou seja, de que o comércio sexual instalou-se na
vida da vítima, ainda que por breve tempo.

Se uma pessoa realizou ato sexual uma única vez mediante paga não há prostituição porque não
existe habitualidade.

§2º: Incorre nas mesmas penas quem:

I- pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18anos e maior de 14
anos na situação descrita no caput do artigo 218-B.

II- o proprietário, gerente ou responsável pelo local (hotel, motel, boate, danceteria, etc.) em que
se verifiquem as práticas referidas no caput do artigo 218-B.

Ler §3º do artigo em estudo.

6.1- Objetividade Jurídica – a dignidade sexual, no que concerne a moralidade sexual e o


desenvolvimento sexual.

6.2- Sujeito Ativo – qualquer pessoa.

6.3- Sujeito passivo – é a pessoa vulnerável.

6.4- Consumação – Ocorre com a realização da conduta descrita no núcleo do tipo penal.

Arts.219,220, 221,222, 223 e 224 foram revogados do Código Penal.

Capítulo III – Do Rapto


Art. 219 Revogado.

71

Art.220 Revogado.

Art. 221 Revogado.

Art. 222 Revogado

Capítulo IV – Disposições Gerais


1-Art. 223 Revogado

2-Art. 224 Revogado

3-AÇÃO PENAL art. 225

“Nos crimes definidos nos capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação”.

Parágrafo Único: “procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima
é menor de 18 anos ou pessoa vulnerável.”

Observação: Em caso de estupro de pessoa adulta, ainda que cometido com violência a ação
penal é pública condicionada à representação.

AUMENTO DE PENA –ART. 226: A pena é aumentada:

 De quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de duas ou mais pessoas;

 De ½ se o agente é ascendente, descendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,


companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem
autoridade sobre ela.

Capítulo V - Do Lenocínio e do Tráfico de Pessoa para Fim de Prostituição ou Outra Forma de


Exploração Sexual
1- Lenocínio: é o fato de prestar assistência a libidinagem de outrem, ou dela tirar proveito.
Estão incluídos no lenocínio os seguintes crimes:

1. Mediação para servir a lascívia de outrem (art. 227).

2. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art.228).

3. Não tem denominação. Era denominado de Casa de prostituição (art.229).

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4. Rufianismo (art.230).

5. Tráfico Internacional de Pessoa Para Fim de Exploração Sexual (art.231)

6. Tráfico Interno de Pessoa Para Fim de Exploração Sexual (art.231-A)

1.1- Mediação para Servir a Lascívia de Outrem (art. 227):

“Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem”.

LER §§1º, 2º, e 3º DO ART. 227.

A mediação para servir a lascívia de outrem envolvendo apenas adultos é crime vetusto e de
raríssima aplicação que já deveria ter sido revogado do CP.

Não satisfeito de manter esse tipo penal, o legislador ainda criou a “mediação de vulnerável para
servir a lascívia de outrem”.

1.2- Objeto Jurídico: a disciplina da vida sexual, de acordo com os bons costumes, a moralidade
pública e a organização da família.

1.3- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

1.4- Sujeito Passivo: é a pessoa que satisfaz a lascívia de outrem.

Lascívia é a concupiscência, sensualidade, luxúria, a libidinagem.

2- Favorecimento da Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual:

“Art. 228 – Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual,facilitá-la,
impedir ou dificultar que alguém a abandone”.

A prostituição não é crime.

Consiste no ato de se entregar sexualmente a quem solicita, mediante recebimento de


um preço. Exige-se habitualidade e indeterminado número de parceiros.

Outra forma de exploração sexual é outra maneira de se tirar proveito, abusar ou lucrar
com a lascívia alheia. Ex. Violação sexual fraudulenta (art. 215) assédio sexual (art.
216-A), etc.

73
2.1- Objeto Jurídico: é o interesse social que a função sexual se exerça normalmente, de acordo
com os bons costumes.

2.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

2.3- Sujeito Passivo: qualquer pessoa. Não importa a condição pessoal da vítima, mesmo a
meretriz pode ser sujeito passivo.

Não pode ser pessoa já prostituída no caso de induzir ou instigar. Seria hipótese de crime
impossível por absoluta impropriedade do objeto.

2.4- Ler: figuras típicas qualificadas dos §§ 1º, 2º e 3º.

CRÍTICAS: Perdeu-se a oportunidade de extirpar da legislação penal brasileira esse delito. O


delito é basicamente inaplicável, pois envolve adultos e, portanto, a liberdade sexual plena.

A prostituição não é delito e a atividade de induzimento, atração, facilitação, impedimento, (por


argumento), ou dificultação (por argumento) também não tem o menor sentido ser crime.

O mais (a prostituição não é crime); o menos (dar a idéia ou atrair à prostituição) formalmente é
delito. Há lesão ao princípio da intervenção mínimo e ao princípio da ofensividade.

3- Este artigo não tem denominação. Era chamado de Casa de Prostituição antes da lei
12.015/2009:

“Art. 229 – Manter por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração
sexual, haja ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente”.

Só existe o delito se o lugar se dedicar exclusivamente à prostituição. Ainda que ocorra em


motéis, hotéis, casas de massagens, saunas, boates, bares, danceterias, ou cinemas, estes locais
não são estabelecimentos destinados à prostituição, exclusivamente.

Exige-se habitualidade. Só um ato não configura o crime. Logo, não tem tentativa e nem pode o
autor ser preso em flagrante.

Se houver concurso com o crime do art. 228 deve-se aplicar o princípio da consunção. O fato mais
grave (manter o estabelecimento) absorve o menos grave (facilitar a prostituição).

3.1- Sujeito Ativo: é a pessoa que mantém o estabelecimento em que ocorra exploração sexual.

3.2- Sujeito Passivo: são as pessoas que praticam a prostituição ou se entregam a lascívia
alheia e a sociedade.

74
Não alcança os motéis e os hotéis de alta rotatividade, locais em que há prática de libidinagem,
porém sua manutenção não é dirigida à prostituição.

Este crime pode ser condicionado à prova da existência do crime de Favorecimento da prostituição
ou outra forma de exploração sexual (art.228). Desse modo funcionaria como crime assessório ou
parasitário.

4-Rufianismo:

“Art. 230 – Tirar proveito da prostituição alheia participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem exerça”.

4.1- Sujeito Ativo: é o rufião, podendo ser qualquer pessoa.

4.2-Sujeito Passivo: é a pessoa que exerce a prostituição (homem ou mulher).

4.3-Elementos objetivos do tipo:

O rufião pode tirar proveito da prostituição alheia de duas formas:

 Participando diretamente dos lucros da prostituta.

 Fazendo por ela sustentar no todo ou em parte.

Se a prostituta sustenta filhos ou pais, não há o crime.

Se sustentar outros parentes somente haverá o crime se os parentes tiverem direito a alimentos.

Deve haver habitualidade no rufianismo. Não há delito se o agente aufere, ocasionalmente,


proveito da prostituição da vítima.

Qualificação: proceder leitura extra-classe do art. 230, §§ 1º e 2º.

5-TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL:

“Art. 231 – Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha
exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de pessoa para exercê-la
no estrangeiro”.

O tráfico de pessoas é crime internacional.

5.1- Objeto Jurídico: é a dignidade sexual, protegendo-a contra lenões internacionais.


75
5.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa, em geral o crime é praticado por várias pessoas.

5.3- Sujeito Passivo: é qualquer pessoa.

5.4- Tipo Objetivo: o tráfico de pessoas admite duas modalidades de conduta:

a) Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que nele venha exercer a
prostituição ou outra forma de exploração sexual.

b) Promover ou facilitar a saída de pessoa que vá exercer essas atividades no estrangeiro.

Leitura Extra-Classe:

- Figuras típicas qualificadas. Art. 231, § 1º, 2º e 3º do art. 231 do CP.

6-TRÁFICO INTERNO DE PESSOAS (ART. 231 – A)

“Art. 231 – Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o
exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual”.

6.1-Objetividade jurídica – é a dignidade sexual, os bons costumes.

6.2-Sujeitos do crime – qualquer pessoa.

LER OS §§ 1º, 2º, 3º DO ART. 231

É uma modalidade do art. anterior. A diferença é que neste delito a ação é cometida no interior do
país e não em âmbito internacional.

Capítulo VI - Do ultraje público ao pudor


Dois crimes constituem este capítulo:

 Ato obsceno – art. 233.

 Escrito ou objeto obsceno – art.234.

Visa o legislador proteger o sentimento de moralidade sexual vigente numa sociedade em


determinado momento.

1- Ato Obsceno: “Art. 233 – Praticar ato obsceno, em lugar público ou aberto ao público”.

76
1.1- Objeto Jurídico: é o pudor e a moralidade públicos.

1.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

1.3- Sujeito Passivo: a coletividade.

Ato Obsceno: é a manifestação corpórea, de cunho sexual, que ofende o pudor público.

Exemplos do crime:

 Cópula praticada em jardim público.

 Urinar em logradouro público, exibindo aos passantes o órgão sexual.

2- Escrito ou Objeto Obsceno:

“Art. 234 – Fazer, importar, exportar, adquirir, ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de
distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa, ou qualquer objeto
obsceno”.

2.1- Objeto Jurídico: é a moralidade pública sexual.

2.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

2.3- Sujeito Passivo: a coletividade.

2.4- Objeto Material do Crime: pode ser:

 Escrito Obsceno.

 Desenho Obsceno.

 Pintura Obscena.

 Estampa Obscena.

 Qualquer objeto obsceno (análogo aos anteriores).

2.5- Figuras típicas equiparadas: Ler art. 234, § único do CP.

77
CAPÍTULO VII (acrescentado pela Lei 12.015/2009)
Disposições Gerais

Aumento de Pena

Art. 234-A- Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:

I-vetado;

II-vetado;

III-de metade, se do crime resultar gravidez;

IV-de um sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível
de que sabe ou deveria saber ser portador.

Art. 234-B-Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de
justiça.

Título VII – Dos Crimes Contra a Família


Este título está dividido em quatro capítulos:

 Dos Crimes Contra o Casamento.

 Dos Crimes Contra o Estado de Filiação.

 Dos Crimes Contra a Assistência Familiar.

 Dos Crimes Contra o pátrio Poder, tutela e Curatela.

Capítulo I - Dos Crimes Contra o Casamento


1- Bigamia:

“Art. 235 – Contrair alguém, sendo casado, novo casamento”.

1.1- Objetividade Jurídica: é a ordem jurídica matrimonial.

1.2- Sujeito Ativo: é a pessoa casada. A pessoa que, não sendo casada, contrai casamento com
pessoa casada, conhecendo esta circunstância, incorre na pena do § 1º do art. 235.

1.3- Sujeito Passivo: é o Estado, o cônjuge do primeiro casamento e o do segundo, se de boa


fé.
78
OBS: É elementar a existência e a vigência de casamento anterior.

1.4- Concurso de Crimes:

O delito de bigamia absorve o crime anterior de falsidade ideológica, pelo princípio da consunção.

3- ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

“Art. 288 – Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer
crimes”.

O art. 288 prevê um ilícito em que se nota claramente a impaciência do legislador ao incriminar
fato que consistiria apenas ato preparatório de crimes.

A formação de quadrilha ou bando é um crime de concurso necessário de condutas paralelas.

Exige-se a associação de pelo menos quatro pessoas, podendo ser computado nesse número os
inimputáveis.

Título X - Dos Crimes Contra a Fé Pública


Este título está dividido em quatro capítulos, a saber:

 Da Moeda Falsa.

 Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis Públicos.

 Da Falsidade Documental.

 De Outras Falsidades.

Capítulo I - Da Moeda Falsa


1-Moeda Falsa: “Art. 289 – Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel
moeda de curso”.

1.1-Objetividade Jurídica: é a fé pública, no que diz respeito especificamente à moeda. O crime


atenta contra o interesse individual e contra o Estado por lhe pertencer o direito de sua
cunhagem.

1.2-Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

1.3-Sujeito Passivo: a coletividade, quem sofre eventual lesão e o Estado.

79
1.4-Tipo Objetivo: Moeda é o valorímetro dos bens econômicos, o denominador comum a que
se reduz o valor das coisas úteis. (N. H.).

O núcleo do tipo é falsificar moeda, isto é, imitar, fazer passar por autêntica moeda que não é.

Há duas espécies de falsificação:

 Fabricação: é a contrafação, a formação total da moeda. O agente cria, imprime, cunha,


manufatura a moeda metálica ou o papel moeda.

 Alteração: o agente, tendo moeda verdadeira, a modifica para que passe a representar um valor
maior que o real. Ex: modificação ou acréscimo de algarismo.

É indispensável que a moeda fabricada ou alterada possa ser confundida com a autêntica.

1.5- Crimes Subsequentes à Falsificação: § 1º; § 2º (privilegiado); 3º; § 4º - ler.

O art. 289 viola a fé pública da União, seu patrimônio ou interesse. Competente para aprecia-lo é
a Justiça Federal.

2- Crimes assimilados ao de moeda falsa: art. 290.

2.1- Sujeitos Ativo e Passivo: qualquer pessoa e a coletividade.

2.2-Tipo Objetivo: o objeto material do crime é a cédula, a nota ou o bilhete representativo de


dinheiro. Exclui-se a moeda metálica.

As palavras cédula e nota são entendidas como sinônimas.

São várias as condutas previstas. A primeira é a de formar cédula ou bilhete representativo de


moeda com fragmentos de verdadeiros, imprestáveis ou não. Ex: com pedaços, forma uma cédula
com aparência de autêntica.

A segunda conduta é a de suprimir sinal indicativo da inutilização da moeda. O agente elimina o


sinal por qualquer meio (lavagem, raspagem, aplicação de substância química, preenchimento de
perfuração, etc.). Os sinais são carimbos, riscos, picotes, etc.

A terceira modalidade típica é a de restituir à circulação o papel moeda formado com fragmentos
ou com o sinal indicativo de inutilização suprimido.

Também é criminosa a conduta de restituir à circulação o papel moeda que, embora ainda não
assinado, foi recolhido para ser inutilizado.

80
Portanto, o objeto material pode ser a cédula contrafeita ou a autêntica destinada à inutilização.

Crime Qualificado – ler parágrafo único.

3- Petrechos para falsificação de moeda:

“Art. 291 – Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de
moeda”.

Os fatos previstos na lei traduzem-se em perigo de falsificação, provocando a antecipação do


legislador para incriminar atos preparatórios dos crimes de falsificação de moeda.

Maquinismo: é um conjunto de peças ou mesmo uma máquina.

Aparelho: é um conjunto de mecanismos, engenho, utensílio para uso, etc.

Instrumento: é objeto que serve de agente mecânico na execução de qualquer trabalho.

Qualquer Objeto: são prelos, matrizes, placas, moldes, formas, cunhos, matéria-prima, etc.

4-Emissão de título ao portador sem permissão legal:

“Art. 292 – Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha promessa
de pagamento em dinheiro ao portador ou que falte indicações do nome da pessoa a quem deva
ser pago”.

Proibi-se a concorrência de títulos de crédito não autorizados com a moeda.

A circulação deles perturba a normalidade de circulação do Estado, que vem a sofrer concorrência
desses papéis de crédito. (N. H.).

4.1-Tipo Objetivo: o objeto material do crime é o título ao portador (nota, bilhete, ficha, etc.).

Título ao Portador: é o título de crédito sem a indicação de qualquer nome e sem valor intrínseco,
representando apenas a prestação devida pelo emissor ao seu portador. (Bento de Faria).

É transmitido por simples tradição manual, independentemente de endosso.

É indispensável que o título contenha promessa de pagamento em dinheiro, não incluindo os que
representam mercadorias, serviços, utilidades (emissão irregular de depósito ou warrant é crime
contra o patrimônio).
81
Só ocorre o crime se a emissão se der sem autorização legal. São permitidos por lei o cheque, a
letra de câmbio, ações.

4.2-Crime Privilegiado: parágrafo único.

Capítulo II - Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis Públicos


1-Falsificação de papéis públicos: art. 293.

1.1-Objetividade Jurídica: tutela-se a fé pública referente a autenticidade dos papéis


enumerados no dispositivo.

Incisos I e III revogados pelo art. 36 da Lei 6.538/78, a respeito de selo e vale postal.

1.2-Tipo Objetivo: o núcleo do tipo é falsificar os papéis referidos no dispositivo, por fabricação
ou alteração.

Na Fabricação o agente cria materialmente, forma o título ou papel.

Na alteração há um título ou papel autêntico que é modificado, alterado pelo sujeito ativo.

Objeto Material é qualquer dos papéis mencionados no dispositivo.

§ 1º - uso de papéis falsificados.

§ 2º - supressão de carimbo ou sinal de inutilização.

§ 3º - uso de papéis em que foi suprimido carimbo ou sinal.

§ 4º - circulação de papéis recebidos de boa-fé.

2-Petrechos de falsificação:

“Art. 294 – Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à
falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior”.

Como ocorre a falsificação da moeda, a lei prevê a incriminação de conduta que constituiria
simples ato preparatório da falsificação de papel público.

2.1-Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Se for funcionário público e prevalecer-se do cargo, há


aumento de pena (art. 295).

2.2-Sujeito Passivo: é a coletividade.


82
2.3-Tipo Objetivo: as condutas típicas são idênticas às previstas no art. 291.

O objeto material, porém, em vez de referir-se especificamente a maquinismo, aparelho ou


instrumento, a lei menciona apenas objeto.

É necessário que o objeto se revele especialmente destinado à falsificação dos papéis públicos.

Os papéis a que se refere a lei são os previstos no art. 293, e não quaisquer outros documentos
públicos particulares.

OBS: art. 295 – tanto na hipótese do art. 293, quanto no art. 294, a pena é aumentada de sexta
parte se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo.

Capítulo III - Da Falsidade Documental


Os crimes de falsidade documental podem ser divididos em duas categorias:

1. Os de falsidade material previstos nos artigos 296, 297, 298, 301, § 1º, 303 e 305 do CP.

2. Os de falsidade ideológica previstos nos artigos 299, 300, 301 e 302 do CP.

Segundo Magalhães Noronha, há figuras comuns às duas espécies de falsidade com as do § 2º do


art. 301 e do art. 304 do CP.

1- Falsificação do selo ou sinal público: art. 296.

Ler §§ 1ºe 2º.

1.1- Objetividade Jurídica: tutela-se, com o dispositivo, a fé pública, no tocante ao selo ou sinal
público, que não são propriamente documentos, mas são colocados neles para dar-lhes
autenticidade.

1.2- Sujeitos do delito: sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado, titular da fé
pública lesada com a falsificação.

1.3- Tipo Objetivo:

Selo Público: é o sinete com as armas ou emblemas da União, do Estado ou do Município,


destinado a autenticar atos que lhe são próprios.

Sinal Público de Tabelião: é o instrumento destinado a impressão da rubrica ou desenho com que
o serventuário autentica seus atos.

83
Ler §§ 1º e 2º.

2- Falsificação de documento público:

“Art. 297 – Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro”.

Tutela-se a fé pública, no tocante aos documentos públicos e aos que lhe são equiparados por
força da Lei penal.

Documento em sentido amplo: é o objeto idôneo a servir de prova, que inclui não só o escrito,
mas também uma pedra, um fragmento de metal, etc.

Documento em sentido restrito: é toda peça escrita que condensa graficamente o pensamento de
alguém, podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado de significação ou
relevância jurídica.

2.1-Tipo Objetivo: são duas as formas de conduta inscritas no tipo. A primeira é a de falsificar,
que significa criar materialmente. O agente elabora, forja o escrito integralmente ou acrescenta
algo a um escrito, inserindo dizeres em espaço em branco.

A segunda ação é a de alterar o documento verdadeiro. O sujeito ativo exclui termos, substitui
palavras por outras, etc.

A falsificação pode ser total, quando o documento é inteiramente criado, ou parcial, quando recair
necessariamente em documento de duas ou mais partes perfeitamente individualizáveis.

Exemplos de contrafação parcial: criação de um aval, de um endosso, de quitação, etc.

A substituição de fotografia em documento de identidade caracteriza o crime, pois constitui ela


parte juridicamente relevante. Há, neste caso, alteração dos efeitos jurídicos do documento de
identidade.

2.2- Objeto Material: do crime do art. 297 é o documento público. Este é o documento expedido
na forma prescrita em lei, por funcionário público no exercício de suas funções. Exemplos: cédula
de identidade, CNH, cartão de identidade policial.

Ler § 2º do art. 297.

3- Falsificação de documento particular:

“Art. 298 – Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular
verdadeiro”.
84
A diferença entre os crimes previstos nos arts. 297 e 298 está no objeto material, que para este é
o documento particular.

Documento Particular: é o que é feito ou assinado por particulares, sem interferência do Poder
Público.

4- Falsidade ideológica: (art. 299) ou falso intelectual, falso ideal, falso moral ou falso não
material.

Distingue-se o falso ideológico do material porque neste o agente imita a verdade, através da
contrafação ou da alteração.

Na falsidade ideológica o documento é perfeito em seus requisitos extrínsecos, em sua forma.


Emana, ele, realmente da pessoa que figura como seu autor ou signatário, mas é falso no seu
conteúdo, no seu teor, no que diz ou encerra.

Na falsidade material o crime é apurado pelo exame do escrito para se verificar se houve
contrafação ou alteração. Na ideológica somente pode ser constatada pela verificação dos fatos a
que se refere o documento.

4.1- Objetividade Jurídica: tutela os documentos públicos e particulares, merecendo o falso


ideológico dos documentos públicos pena mais severa, embora o tipo penal seja o mesmo.

4.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

4.3- Sujeito Passivo: o Estado e qualquer pessoa a quem a falsificação possa causar dano.

4.4- Tipo Objetivo: são três as ações incriminadas. A primeira é a de omitir declaração a que
estava o agente obrigado. O agente silencia, não menciona fato que era obrigado a fazer constar
do documento.

A segunda ação é a de inserir declaração falsa ou diversa da que devia o agente fazer. Inclui por
ato próprio a declaração inverídica. Trata-se de falsidade imediata.

A terceira ação consiste em inserir de modo indireto, em utilizar-se, o agente, de terceiro para
introduzir, por sua determinação, a declaração falsa ou diversa da que devia constar. Trata-se
de falsidade mediata, da qual será co-autor aquele que escreve o documento, se tiver ciência da
falsidade.

Para que ocorra falsidade ideológica é necessário que o agente vise prejudicar direito ou criar
obrigação ou que a alteração seja relativa a fato juridicamente relevante.

Exemplos de falsidade ideológica:

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 troca de provas realizadas em concursos públicos de modo que os acusados se fizessem passar
um pelo outro.

 falsa declaração de parentesco a fim de que o interessado atingisse a renda exigida para a
aquisição de imóvel pelo S.F.H.

Qualificação – ler parágrafo único do art. 299.

5- Falso reconhecimento de firma ou letra:

“Art. 300 – Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública firma ou letra que não o
seja”.

Na verdade o fato não merece disciplina especial, hipótese que é de falsidade ideológica (Everaldo
da Cunha Luna).

5.1- Sujeito Ativo: são as pessoas depositárias da fé pública, podendo reconhecer como
verdadeira a firma ou letra de outrem (tabelião, oficial do registro civil, etc.).

5.2- Sujeito Passivo: é o estado.

5.3- Tipo Objetivo: a conduta típica é reconhecer firma ou letra como verdadeira quando não é.

Firma: é a assinatura por extenso ou abreviada.

Letra: é o manuscrito integral da pessoa que também subscreve o documento.

6- Certidão ou atestado ideologicamente falso: art. 301.

6.1- Sujeito Ativo: é o funcionário público.

6.2- Sujeito Passivo: é o Estado.

6.3- Elementos Objetivos do Tipo: os núcleos do tipo são os verbos atestar e


certificar. Atestar é afirmar alguma coisa em caráter oficial. Certificar é convencer da verdade de
alguma coisa.

Atestado: é um documento que traz em si o testemunho de um fato ou circunstância. O signatário


emite em face do conhecimento pessoal a respeito do seu objeto.

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Certificado (ou Certidão): é o documento no qual o funcionário afirma a verdade de um fato ou
circunstância contida em documento público ou transcreve o conteúdo do texto, total ou
parcialmente.

A certidão tem por fundamento um documento guardado em repartição pública; o atestado é um


depoimento, por escrito, sobre um fato ou circunstância.

Exemplos do crime: falso atestado de antecedentes para inscrição em concurso público; de serviço
prestado ao tribunal do júri, como jurado.

Falsidade Material de Atestado ou Certidão: ler §§ 1º e 2º.

7- Falsidade de atestado médico: “Art. 302 – Dar o médico, no exercício da sua profissão,
atestado falso”.

7.1- Sujeito Ativo: o médico, Tratando-se de médico funcionário público, o crime é o do art.
301.

7.2- Sujeito Passivo: o Estado.

O atestado deve ser por escrito, materialmente autêntico e ideologicamente falso.

De modo geral cuida-se de atestado de saúde ou de constatação de uma doença.

Pode, contudo, referir-se a fatos diversos como a morte, causa de uma moléstia, os efeitos de
uma lesão física ou de uma doença.

Tipo Qualificado: ler parágrafo único.

8- Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica: art. 303.

8.1- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

8.2- Sujeito Passivo: o Estado; secundariamente, a pessoa prejudicada pela adulteração ou


alteração.

Os objetos materiais do crime são o selo ou a peça filatélica.

8.3- Elementos Objetivos do Tipo: o selo pode ser usado ou novo, nacional ou estrangeiro.
Normalmente é meio para a prática de estelionato.

Selo: é a estampilha adesiva ou fixa, já utilizada, correspondente à franquia postal.


87
Peça Filatélica: são os blocos de selo, as “provas”, cartões, carimbos comemorativos, etc. Devem
ter valor para coleção.

Duas são as modalidades de conduta: a primeira é reproduzir o selo ou a peça


filatélica. Reproduzir é contrafazer, copiar, multiplicar; a segunda é alterar, modificar parcialmente
(no picote, na data, cor), dando ao selo ou peças genuínas características diversas da original
para fingir ser de maior valor.

A tipicidade é excluída quando a reprodução ou alteração está visivelmente anotada na face ou no


verso do selo ou peça. Ler art. 39 da Lei 6.538/78.

9- Uso de documento falso:

“Art. 304 – Fazer uso de qualquer dos papeis falsificados ou alterados a que se referem os artigos
297 a 302”.

“É com o uso do documento falso que se atinge a função maléfica a que é destinado, devendo o
usuário ser submetido à mesma pena que o falsificador” (Nelson Hungria).

9.1- Tipo Objetivo: a figura típica é fazer uso do documento material ou ideologicamente falso,
como se fosse autêntico ou verídico.

O uso pode ser judicial ou extrajudicial.

Exemplo do Crime:

a) Utilização de documento como se fora seu sendo alheio.

b) Uso de alvará de soltura falsificado para evasão de preso.

c) Exibição de falso certificado de conclusão de 2º grau, para instruir pedido de matrícula em


faculdade.

10- Supressão de documento: art. 305.

Quando se trata de documento judicial ou processo, sendo o sujeito ativo procurador ou advogado
aplica-se o art. 356.

10.1- Tipo Objetivo: o crime consiste em destruir, suprimir ou ocultar documento.

Destruir: é extinguir fisicamente.

88
Suprimir: é fazer desaparecer sem que haja destruição.

Ocultar: é esconder.

O documento pode ser público ou privado e deve ser original.

Capítulo IV - De Outras Falsidades


1-Falsificação de sinal empregado no contraste de metal precioso ou na fiscalização
alfandegária, ou para outros fins: art. 306.

1.1- Objetividade Jurídica: protege a segurança das formas de autenticação ou certificação


pública.

1.2- Sujeito Ativo e Passivo: qualquer pessoa e o Estado.

1.3- Tipo Objetivo: marca é o selo de garantia para autenticar certos objetos ou de indicar a
qualidade de determinados produtos.

Sinal é a impressão simbólica do Poder Público com a finalidade de conferir a legitimidade do


metal precioso.

As marcas se apresentam de várias formas: são gravadas na própria peça, selos adesivos,
impressos, etiquetas, lacre, etc.

2- Falsa Identidade: art. 307.

Este crime é absorvido quando aparece integrando estelionato, falsidade ideológica, bigamia, etc.

2.1- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

2.2- Sujeito Passivo: o Estado.

2.3- Tipo Objetivo: o crime é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade, isto é, identidade que não
corresponde a pessoa a quem é inculcada.

Comete o crime tanto quem atribui a si ou a terceiro identidade de pessoa existente como quem invoca a de
pessoa fictícia.

Não comete este crime quem apenas silencia a respeito da errônea identificação que lhe é atribuída.

A identidade é constituída de todos os elementos que podem individualizar uma pessoa. Exemplos: idade,
matrimônio, filiação (estado civil); condição social (militar, médico, padre).

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2.4- Consumação: ocorre com a falsa atribuição de identidade, independentemente da obtenção da
vantagem ou do dano causado a terceiro.

3- Uso de documento de identidade alheia: art. 308.

3.1- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

3.2- Sujeito Passivo: o Estado.

3.3- Tipo Objetivo: o crime pode ser cometido de duas formas: a) usando o agente como se fosse dele
qualquer dos documentos mencionados no artigo; b) cedendo a terceiros tais documentos, para que os use,
sejam dele ou alheios.

“Qualquer documentos de identidade alheia”. Exs: CIC, RG, CTPS, etc.

3.4- Consumação: ocorre, na primeira modalidade típica, com o uso do documento; na segunda, com a
entrega do objeto material a terceiro.

4- Fraude de lei sobre estrangeiros: art. 309.

4.1- Sujeito Ativo: somente o estrangeiro, admitida, contudo, a participação de brasileiro.

4.2- Sujeito Passivo: o Estado.

4.3-Tipo Objetivo: a conduta consiste no sujeito usar nome que não é o seu, por meio verbal ou escrito,
de terceiro ou imaginário.

A intenção é entrar ou permanecer em nosso território.

4.4- Consumação: ocorre com o uso pelo estrangeiro de nome imaginário ou de terceiro.

5- Atribuição de falsa qualidade a estrangeiro:

“Art. 310 – Atribuir a estrangeiro falsa qualidade, para promover-lhe a entrada em território nacional”.

5.1-Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

5.2-Sujeito Passivo: o Estado, titular do interesse político da imigração e seleção de imigrantes.

5.3-Tipo Objetivo: a conduta prevista no tipo penal é atribuir a estrangeiro, por escrito ou verbalmente,
falsa qualidade para que possa entrar no país.

Qualidade é o atributo ou predicado emprestado ao estrangeiro. Ex: nacionalidade, profissão, idade, etc.

90
A competência para apreciar o fato é da Justiça Federal, pois é atingido interesse da União.

Consuma-se o crime com a falsa inculcação, não sendo necessário a entrada do estrangeiro no país.

6- Falsidade em prejuízo da nacionalização de sociedade:

“Art. 311 – Prestar-se a figurar como possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro nos casos
em que a este é vedado por lei a propriedade ou a posse de tais bens”.

6.1- Objetividade Jurídica: a Constituição Federal/88 veda ao estrangeiro ser proprietário de empresa
jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens (art. 222). Há ainda outras vedações (arts. 176
§1º, 178 § 2º, etc.).

Portanto, a regularidade da participação de estrangeiro em sociedade do país é tutelada no art. 311.

6.2- Sujeito Ativo: somente o brasileiro pode cometer o delito, ao funcionar como “testa de ferro” do
estrangeiro.

6.3-Sujeito Passivo: é o Estado.

6.4-Tipo Objetivo: o art. 311 é norma penal em branco devendo ser verificada a restrição à propriedade
ou posse do estrangeiro na legislação extra-penal, inclusive na CF/88.

A figura típica é prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de certos bens (ação, título, valor,
etc.). pertencente a alienígena.

Título XI - Dos Crimes Contra a Administração Pública


1-Considerações Gerais:

Administração Pública é considerada pela lei penal num sentido amplo, ou seja, como atividade funcional do
Estado em todos os setores em que se exerce o poder público (H.F.).

Neste título estão inseridos três capítulos:

 Capítulo I – Dos Crimes Praticados por Funcionário Público contra a Administração em geral.

 Capítulo II – Dos Crimes Praticados por Particular contra a Administração em geral.

 Capítulo II-A - doa crimes praticados por particular contra a administração pública estrangeira.

 Capítulo III – Dos Crimes contra a Administração da Justiça.

 Capítulo IV - Dos crimes contra as finanças públicas

91
Capítulo I - Dos Crimes Praticados por Funcionário Público contra a Administração em Geral
Crimes Funcionais – no primeiro capítulo os delitos são próprios. São chamados crimes funcionais, por
serem praticados pelas pessoas físicas que se entregam à realização das atividades do Estado.

Os crimes deste capítulo são uma espécie dos crimes de responsabilidade (art. 513 e segs. do CPP; CF:
arts. 52, I e II; 85; 102, I, e; 105, I, a: 108, I, a; etc.).

Crimes Funcionais Próprios – são os que têm como elemento essencial a função pública, indispensável para
que o fato constitua infração penal. Sem ela a conduta seria penalmente irrelevante. Exs: corrupção
passiva, prevaricação, excesso de exação, etc.

Crimes Funcionais Impróprios – são os que se destacam apenas por ser o sujeito ativo funcionário público.
Se o agente não estivesse revestido dessa qualidade, o crime seria outro. Ex: o peculato nada mais é do
que uma apropriação indébita praticada em decorrência da função pública.

Conceito de Funcionário Público: ler art. 327 do CP.

1- Peculato: “Art. 312 – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desvia-lo em proveito próprio ou
alheio”.

Peculato deriva de pecus (gado em latim), que era meio nas sociedades primitivas, nome também dado as
primeiras moedas feiras de pele animal, trazendo depois as de metal, a imagem de um boi (E. M. Noronha).

1.1- Objetividade Jurídica: de todos os crimes do título XI é o interesse da normalidade funcional,


probidade, prestígio, incolumidade e decoro da Administração Pública.

1.2- Sujeito Ativo: é o funcionário público. Qualquer pessoa pode ser responsabilizada pelo crime, diante
do disposto no art. 30, já que se trata de circunstância elementar do crime.

1.3- Sujeito Passivo: é o Estado.

1.4- Tipo Objetivo: há duas espécies de peculato:

 Peculato Próprio (caput do art. 312).

 Peculato Impróprio ou Peculato-Furto (art. 312, § 1º).

No Peculato Próprio as condutas típicas constituem-se em apropriação ou desvio.

No primeiro caso, como ocorre com a apropriação indébita o agente se propõe a fazer sua a coisa de quem
tem a posse em razão do cargo.

O objeto material do crime pode ser dinheiro, valor ou qualquer bem móvel, público ou particular.

92
Valor é o título, documento ou efeito que representa dinheiro ou mercadorias (apólices, letra de câmbio,
etc.). Exemplo de peculato por apropriação: policial ou carcereiro que se apropria de bens do preso que
estão sob a sua guarda.

A segunda hipótese de peculato próprio é a de desviar a coisa. O agente dá a coisa destinação diversa da
exigida, em proveito próprio ou de outrem. Ex.: empréstimo pelo funcionário de dinheiro de que tem a
guarda.

1.5- Peculato-Furto ou Impróprio: § 1º.

A conduta típica não é mais de apropriação, mas de subtração (furto).

O sujeito ativo não tem a posse da “RES”, nem o crime ocorre em virtude de sua função, mas aproveita-se
ele da facilidade que a condição de funcionário lhe proporciona para praticar a conduta. Exemplo: o
funcionário subtrai dinheiro do cofre da repartição em que trabalha por encontrar a porta aberta.

Peculato Culposo: § 2º, ler § 3º.

2- Peculato Mediante Erro de Outrem:

“Art. 313 – Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade, que no exercício do cargo, recebeu por erro de
outrem”.

2.1- Sujeito Passivo: é o Estado. Podem ser vítimas, também, um extraneus ou outro funcionário público,
que entrega a “RES” por erro ou são dela proprietários.

2.2- Tipo Objetivo: a conduta traduz-se na apropriação do objeto do crime, em decorrência de erro
daquele que faz a entrega.

O erro pode ser sobre a coisa que é entregue; sobre a obrigação que deu causa à entrega; sobre a quem se
faz a entrega; ou sobre a quantidade da coisa devida.

I-INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES

Art. 313-A- “ inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou banco de dados da Administração Pública
com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem.”

Reclusão de 2 a 12 anos.

1- Objetividade jurídica: é a segurança do conjunto de informações da Administração Pública.

O objeto material são os dados verdadeiros dos sistemas informatizados ou bancos de dados da
administração pública.

93
2- Sujeito Ativo – é o funcionário público autorizado a trabalhar com a informatização ou sistema de dados
da administração pública.

3- Sujeito Passivo – é o Estado(União, Estado, Município).

4- Tipo Objetivo – o verbo INSERIR tem o sentido de introduzir, incluir. FACILITAR a inserção significa
tornar fácil, ou seja, permitir que outrem insira dados falsos. ALTERAR é mudar, modificar. EXCLUIR é
retirar, remover.

Qualquer das condutas exige a finalidade específica de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou,
simplesmente, causar dano.

Na modalidade facilitar a inserção de dados, o funcionário público autorizado não realiza pessoalmente o ato
delituoso, mas utiliza interposta pessoa que pode ou não ser funcionário público.

Se for justa a vantagem pretendida pelo funcionário, estará afastada esta figura penal, podendo caracterizar
o delito do art. 345 (exercício arbitrário das próprias razões). A vantagem deve ser econômica. Há
escritores que entendem que pode ser econômica ou não.

Este crime pode ser confundido com o de estelionato.

II-MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES

Art. 313-B-“Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem


autorização ou solicitação de autoridade competente”.

Pena: Reclusão de 3 meses a dois anos.

Parágrafo único: “as penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração
resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado”.

1-Objetividade Jurídica – é a proteção da administração pública.

O objeto material da proteção penal é o sistema público de informações e seu programa de informatização.

2- Sujeito Ativo – é qualquer funcionário público.

3-Sujeito Passivo – é a administração pública.

4-Tipo Objetivo

O legislador emprega os verbos “modificar” (significa uma radical transformação no programa) e “alterar”
(uma modificação de menor monta, sem alterar a essência do programa).

94
Sistema de Informações é um conjunto de programas integrado regularmente para permitir com o máximo
de rapidez e eficiência um processo de captura, armazenamento, resumo e relato de informações úteis ao
exercício funcional do usuário, que no caso é a administração pública.

A modificação ou a alteração deve ser feita sem autorização de autoridade competente.

5-Elemento Subjetivo é o dolo. É irrelevante a motivação da conduta do sujeito ativo.

3-Extravio, Sonegação ou Utilização de Livro ou Documento: art. 314.

A administração pública tem necessidade de confiar a guarda de livros e documentos a funcionários.

A conduta é extraviar, sonegar e inutilizar. Sonegar é não exibir quando isso é devido; Extraviar é fazer
desaparecer e Inutilizar é tornar imprestável.

4-Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas: art. 315.

Os recursos públicos devem ser aplicados de conformidade com a destinação legal prévia, mesmo que o fato
não cause dano patrimonial.

4.1-Sujeito Ativo: é o funcionário público que dispõe de verbas ou rendas públicas (Presidente da
República, Ministros, Governadores, Prefeito, Diretor de Entidade Paraestatal).

4.2-Sujeito Passivo: o Estado (União, Estado, Município).

5-Concussão: art. 316.

O crime se origina etimologicamente de “CONCUTERE” = sacudir a árvore para que os frutos caiam.

5.1-Tipo Objetivo: a conduta é exigir, ou seja, reclamar imperiosamente, impor como obrigação, para que
a pessoa conceda a vantagem indevida.

O sujeito passivo teme represália do agente. É uma espécie de extorsão. Ex.: exigir dinheiro para permitir
funcionamento de prostíbulo; para evitar a instauração de inquérito policial, etc.

Excesso de Exação - § 1º.

Conclusão Qualificada - § 2º.

6-Corrupção Passiva: art. 317.

O tipo penal contém três modalidades de condutas típicas: solicitar ou receber vantagem indevida ou
acreditar a promessa desta.

95
Solicitar – é pedir, manifestar o desejo de receber.

Receber – é tomar, entrar na posse.

Aceitar promessa de vantagem – é consentir no recebimento.

Na solicitação a iniciativa é do agente; no recebimento e aceitação da vantagem é do extraneus, com a


concordância do funcionário.

O objeto do ilícito é a vantagem indevida. Se for revertida em proveito da pessoa jurídica de direito público
descaracteriza-se o delito.

Exemplo: aceitação pelo Delegado de Polícia de dinheiro aplicado na aquisição de gasolina para a viatura
policial a fim de intensificar o policiamento da cidade.

Ler § 1º (qualificação).

Corrupção Passiva Privilegiada § 2º.

7-Facilitação de Contrabando ou Descaminho: art. 318.

Facilitar é afastar obstáculos, tornar fácil o crime do art. 334.

Contrabando é a importação ou exportação fraudulenta, de mercadoria, cuja entrada ou saída seja proibida.

Descaminho é o ato fraudulento que se destina a evitar o pagamento de direitos e impostos previstos pela
entrada, saída ou consumo de mercadorias.

8-Prevaricação: art.319.

A conduta constitui infidelidade ao dever de ofício em que o agente não cumpre as obrigações inerentes a
sua função.

Retardar é atrasar, protelar, procrastinar. O funcionário não realiza o ato que deve executar no prazo
previsto.

Deixar de Praticar – constitui-se na omissão do agente que não tem a intenção de praticar o ato devido.

Art. 319-A “Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho telefônico, de áudio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo”.

Pena: detenção de 3 meses a um ano.

96
A doutrina denomina este crime de prevaricação imprópria. Trata-se de uma omissão ao dever funcional.

O aparelho telefônico pode ser celular ou telefone convencional, tanto faz. Aparelho de áudio pode ser rádio
“Halk talk” ou mesmo acesso a Internet.

9-Condescendência Criminosa: art. 320.

O art. 320 é uma espécie de prevaricação privilegiada em que o sentimento pessoal do agente é a
indulgência.

Tenta-se evitar a dissimulação e ocultação das faltas praticadas pelos funcionários.

O agente deve ser superior hierárquico do funcionário infrator. Trata-se de crime omissivo puro em que o
funcionário superior não toma providências a fim de responsabilizar o subordinado pela prática de infração.

A infração pode ser administrativa ou penal. Na 1ª modalidade a conduta é deixar de responsabilizar o


subordinado.

A segunda modalidade a conduta é a de, não tendo o superior atribuição para responsabilizar o subordinado
pela infração praticada, deixa de levar a conhecimento da autoridade competente.

Indulgência – é um estado de tolerância, de clemência, de complacência para com o infrator.

10-Advocacia Administrativa: art. 321.

Embora o “Nomen Juris” pareça indicar que o sujeito ativo seja advogado, o patrocínio a que se refere a lei
inclui qualquer funcionário público.

10.1-Tipo Objetivo: o crime é advogar, facilitar, proteger um interesse particular alheio perante a
administração pública, aproveitando-se das facilidades que sua qualidade de funcionário lhe proporciona.

O crime pode ser praticado diretamente, sem intermediário (através de requerimentos, defesas,
justificações, solicitando providências, etc.).

Ou indiretamente através de testa de ferro, ou seja, com uma atuação dissimulada. O interesse pode ser
legítimo ou ilegítimo.

10.2-Forma Qualificada: § 1º.

OBS: Violência Arbitrária (art. 322) revogado pela Lei 4.898 de 09/12/65.

11-Abandono de Função:

“Art. 323 – Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei”.

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O Nomen Júris deveria ser “Abandono de cargo” e não de “Função”, uma vez que função pública é uma
expressão mais ampla que cargo público.

Sujeito ativo do crime é o funcionário público (crime próprio). Polo passivo da relação jurídica é o Estado.

11.1-Tipo Objetivo:

Abandonar – é ausentar-se de maneira arbitrária do local onde se exerce o cargo público.

Se o funcionário pedir demissão, deverá aguardar o deferimento do pedido. Se afastar-se antes do deferido
o pedido pode praticar o crime sob enfoque.

A expressão “fora dos casos permitidos em lei”, significa que a lei admite o abandono de cargo público em
hipóteses como força maior (doença, por exemplo), estado de necessidade (seca, guerra, epidemia, etc.).

11.2-Qualificação: §§ 1º e 2º CP.

No parágrafo 2º aparece a expressão faixa de fronteira que é a situada a 150 Km da divisa do Brasil com
outros países (Lei nº 6.634/79).

12-Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou Prolongado:

“Art. 324 – Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a
exerce-la , sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso”.

12.1-Tipo Objetivo: o crime descreve duas condutas:

 Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais.

 Continuar a exercê-la depois de exonerado, substituído, suspenso ou removido.

Na 1ª hipótese trata-se de uma norma penal em branco, pois o tipo penal não diz quais são as “exigências
legais”.

Tais exigências estão contidas nos estatutos dos funcionários civis da União e dos Estados. Ex: Inspeção de
saúde, exame psicotécnico, prova de quitação do serviço militar, etc. (Regime Jurídico Único).

É indispensável que o agente já tenha sido nomeado para o cargo público, mas ainda não satisfaça as
exigências legais.

Na 2ª modalidade o art. 324 descreve uma forma de usurpação de função pública. Depreende-se a conduta
por simples leitura do dispositivo.

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13-Violação de Sigilo Funcional:

“Art. 325 – Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação”.

13.1-Subsidiariedade Expressa: o enquadramento do agente será no art. 325, caso o fato não constituir
crime mais grave. Ex.: espionagem ou revelação de segredo com ofensa a Segurança Nacional (Lei 7.170,
de 14/12/83).

Violação de Sigilo Militar (CPM art. 326).

13.2-Elementos Objetivos do Tipo: a revelação pode ser: Direta – quando o funcionário comunica o
fato, pessoalmente a terceiro. Indireta – quando torna fácil o conhecimento do fato pelo terceiro.

Capítulo II - Dos Crimes Praticados por Particular contra a Administração em Geral


1-Usurpação de Função Pública: “Art. 328 – Usurpar o exercício de Função Pública”.

1.1-Tipo Objetivo: Usurpar é exercer indevidamente, apoderar-se, tomar.

Pratica o crime quem, indevidamente, assume uma função pública e passa a realizar atos inerentes ao
ofício.

A conduta exige que o sujeito realize pelo menos um ato oficial. Se somente alega que é titular de uma
função pública, pode ocorrer a contravenção do art. 45 da LCP.

Qualificação – parágrafo único do art. 328.

2-Resistência: “Art. 329 – Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executa-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio”.

No art. 329, o Estado confere proteção à autoridade, viabilizando a eficiência de seus agentes e de quem
lhes presta colaboração.

2.1-Sujeito Ativo: qualquer pessoa, em geral, é aquela a quem se dirige o ato da autoridade, podendo ser
também um terceiro.

Tratando-se de prisão, normalmente a resistência parte de terceiros.

2.2-Sujeito Passivo: É o Estado.

2.3-Tipo Objetivo: A conduta incriminada é a oposição à execução de ato funcional. Os meios empregados
pelo agente são a violência física e a ameaça.

A violência é contra a pessoa. Não se exige que a ameaça seja grave

99
É elemento do tipo a legalidade do ato do funcionário e sua competência.

A resistência passiva não caracteriza o crime. Pode caracterizar o art. 330, LP.

2.4- Qualificação: art. 329, § 1º.

2.5- Concurso de Crimes: art. 329, § 1º.

3- Desobediência: “Art. 330 – Desobedecer a ordem legal do funcionário público”.

Tutela-se o cumprimento de determinações legais expedidas por funcionário público.

3.1- Desobedecer: é desatender, não cumprir a ordem do funcionário público. Se a ordem é ilegal não há
crime.

4-Desacato: “Art. 331 – Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela”.

4.1-Desacatar: é ofender, desprestigiar o funcionário público.

É indispensável que o fato seja cometido na presença do sujeito passivo. Se na ausência, ocorrerá injúria
qualificada (art. 141, II).

Se o agente, com uma só conduta, ofende diversos funcionários há um só crime.

5-Exploração de Prestígio: “Art. 332 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de
vantagem, a pretexto de influir um funcionário público no exercício da função”.

5.1-Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

5.2-Sujeito Passivo: o Estado. Secundariamente a pessoa que entrega a vantagem na ilusão de


concretizar interesse legítimo.

É uma fraude em que, o sujeito alegando ter prestígio junto ao funcionário público, faz a vítima crer,
enganosamente, que possui condições de alterar o comportamento daquele funcionário.

A conduta é chamada pela doutrina de “venda de fumaça”.

Aumento da Pena: parágrafo único do art. 332.

6- Corrupção Ativa: “Art. 333 – Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determina-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”.

O art. 333 constitui exceção pluralista ao princípio unitário que norteia o concurso de agentes.

10
0
No delito não deve existir exigência por parte do funcionário. Nesta hipótese haverá concussão.

Se o funcionário repele a conduta do sujeito, ainda assim há delito, uma vez que a lei incrimina o simples
oferecer ou prometer a vantagem.

6.1-Tipo Qualificado: parágrafo único.

7-Contrabando ou Descaminho: “Art. 334 – Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo
ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria”.

Tutela-se com o dispositivo a indústria brasileira e a saúde pública que pode vir a ser lesada pela entrada de
produtos nocivos a ela e por isso proibidos.

Contrabando/Descaminho: já conceituados.

7.1-Exemplos de Mercadorias Proibidas: a importação de escritos e objetos obscenos; entorpecentes;


armas de guerra; etc.

7.2-Ler §§ 1º, 2º e 3º do art. 334.

8-Impedimento, Perturbação ou Fraude de Concorrência: art. 335.(Revogado pela Lei de Licitação)

9-Inutilização de Edital ou Sinal: art. 336.

9.1-O tipo prevê duas figuras:

a) Inutilização de edital.

 Inutilização de sinal.

No primeiro caso, o crime consiste em rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado
por ordem de funcionário. Os verbos usados são: rasgar, inutilizar, conspurcar o edital.

Conspurcar: é sujar, manchar, macular.

Edital: é a comunicação oficial para dar conhecimento de alguma coisa a todos e afixada em local público.

No segundo caso a conduta é violar ou inutilizar selo ou sinal empregado para identificar ou cerrar qualquer
objeto.

Não há crime se o selo, sinal ou edital não possuir mais utilidade pelo decurso do tempo.

10-Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento: art. 337.


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A subsidiariedade é expressa: se o fato não constituir crime mais grave.

Exemplo: tratando-se de documento nos termos do art. 305, o crime será o previsto no art. 305.

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11-337-A SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

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FALTA COMENTAR TAMBÉM OS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA

Capítulo III - Dos Crimes Contra a Administração da Justiça


1-Reingresso de Estrangeiro Expulso: “Art. 338 – Reingressar no território nacional o estrangeiro que
dele foi expulso”.

1.1-Objetividade Jurídica: tutela a autoridade e a eficácia do ato de expulsão.

1.2-Sujeito Ativo: é o estrangeiro.

1.3-Sujeito Passivo: é o Estado.

1.4-Tipo Objetivo: reingressar significa voltar, entrar de novo.

O crime pressupõe que o estrangeiro tenha sido expulso legalmente do país (art. 65 a 75 do Estatuto dos
Estrangeiros – Lei 6.815/80).

2-Denunciação Caluniosa: “Art. 339 – Dar causa a instauração de investigação policial ou de processo
judicial contra alguém imputando-lhe crime de que o sabe inocente”.

2.1-Objetividade Jurídica: é a administração da Justiça, impedindo a instauração inútil de inquérito


policial ou processo.

Secundariamente, protege a honra da pessoa denunciada.

Se o crime for de ação penal privada ou de ação penal pública condicionada à representação, somente pode
praticá-lo quem tem legitimidade para exercer o direito de queixa ou de representação.

2.2-Tipo Objetivo: dar causa significa provocar, originar. A causa pode ser:

 Direta: o sujeito diretamente apresenta a notícia criminal à autoridade policial ou judiciária, verbalmente ou
por escrito.

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 Indireta: o sujeito dá causa à iniciativa da autoridade por qualquer outro meio, como carta, telegrama,
telefonema anônimo, TV, rádio, colocando entorpecente ou objeto furtado na bolsa de alguém.

Ler § 1º (tipo qualificado) e § 2º (tipo privilegiado).

A imputação pode ser:

- de infração penal verdadeira, dirigida a quem não a realizou ou dela não participou.

- de fato que não aconteceu.

A imputação de fato mais grave do que realmente sofreu a vítima constitui o crime. Ex: atribuir a alguém a
prática de um homicídio quando ocorreu lesão corporal; roubo se ocorreu furto, etc.

3-Comunicação Falsa de Crime ou de Contravenção: art. 340.

3.1-Objetividade Jurídica: procura o legislador evitar as falsas provocações da autoridade pública em sua
missão de coibir práticas delituosas com gastos inúteis, perturbações das pessoas, etc.

3.2-Tipo Objetivo: a comunicação pode ser verbal ou por escrito, anônima ou com o nome imaginário.

A comunicação deve ser falsa, isto é, o crime ou contravenção não devem ter ocorrido.

Se o sujeito indicar o autor responsável pela falsa prática, responderá por denunciação (art. 339).

Se a pessoa afirma ter ocorrido um furto, quando na verdade ocorreu um roubo, não ocorre o crime do art.
340.

3.3-Consumação: ocorre com a ação da autoridade pública (audiência de pessoas, coleta de informações,
etc.).

4-Auto-Acusação Falsa: art. 341.

4.1-Objetividade Jurídica: protege-se a atividade normal da máquina judiciária.

Normalmente é cometido com o fim de encobrir outro autor do crime. Na Itália o crime chama-se “auto-
callunia”.

4.2-Sujeito Ativo: qualquer pessoa, exceto a que tenha praticado o crime.

4.3-Sujeito Passivo: é o Estado.

O objeto da auto-acusação deve ser crime, se for contravenção o fato será atípico.

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5-Falso Testemunho ou Falsa Perícia: art. 342.

5.1-Objetividade Jurídica: é o prestígio e a seriedade na coleta de provas.

5.2-Sujeito Ativo: é a testemunha, perito, tradutor, intérprete.

Qualquer pessoa que toma conhecimento do crime, não pode isentar-se do dever de depor perante a
autoridade policial ou juiz (art. 206 CPP).

É dever, também, da testemunha dizer a verdade a respeito do que souber e lhe for perguntado. Esse dever
é imposto à testemunha a partir da ciência do fato.

O compromisso previsto no art. 288 do CPP não é elemento do crime, podendo comete-lo a testemunha
numerária e a informante.

5.3-Sujeito Passivo: é o Estado.

Ler § 1º e §§ 2º e 3º.

6-Corrupção Ativa de Testemunha, Perito, Tradutor ou Intérprete: art. 343.

6.1-Tipo Objetivo: dar é entregar; oferecer é colocar à disposição dinheiro ou qualquer outra vantagem
para que as pessoas mencionadas falseiem a verdade.

Se o perito, tradutor ou intérprete são oficiais, o crime é o do art. 333 do CP (corrupção ativa).

7-Coação no Curso do Processo: art. 344.

7.1-Sujeito Ativo: qualquer pessoa.

7.2-Sujeito Passivo: o Estado. Secundariamente, a autoridade parte ou qualquer pessoa que intervém na
atividade da máquina judiciária.

7.3-Tipo Objetivo: os meios de execução do crime são a violência e a grave ameaça.

O crime é realizado contra autoridade que funciona no processo (juiz, promotor, desembargador,
procurador, delegado de polícia, etc.) contra parte (réu, autor) ou outra pessoa que intervém ou é chamada
a intervir (escrivão, intérprete, jurado, perito, etc.).

O processo pode ser judicial (civil, criminal), administrativo ou em curso em juízo arbitral. Não se exclui o
inquérito policial.

8-Exercício Arbitrário das Próprias Razões: “Art. 345 – Fazer justiça pelas próprias mãos, para
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite”.

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8.1-Tipo Objetivo: a pretensão deve referir-se a um direito que o sujeito realmente tem ou supõe possuir.
A pretensão pode ser legítima ou ilegítima.

A pretensão pode incidir sobre qualquer direito: real (propriedade, posse, etc.), pessoal (contratos) ou de
família (guarda dos filhos, tutela, etc.).

É necessário que a pretensão possa ser satisfeita perante o judiciário. Não há o crime, por exemplo, nos
casos de dívida prescrita, preço carnal, etc.

“Salvo quando a lei permite”, ou seja, o fato é atípico quando está autorizado por lei. Ex: direito de
retenção, desforço incontinenti (§ 1º do art. 1210 do CC).

9-Subtração ou Dano de Coisa Própria em Poder de terceiro:

“Art. 346 – Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por
determinação judicial ou convenção”.

Trata-se de um subtipo do crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345), punido com maior
gravidade.

9.1-Objetividade Jurídica: protege-se o prestígio da determinação judicial e o respeito que merece o


conteúdo dos acordos de vontade.

9.2-Sujeito Ativo: só pode ser cometido pelo proprietário do objeto material.

9.3-Sujeito Passivo: é o Estado. Secundariamente, a pessoa prejudicada pelo desrespeito à determinação


judicial ou convenção.

9.4-Objeto Material: é a coisa móvel ou imóvel própria.

9.5-Tipo Objetivo: a conduta é tirar (subtrair), suprimir (fazer desaparecer), eliminar (destruir), danificar
(estragar a coisa).

10-Fraude Processual: art. 347.

A disposição visa proibir os meios de iludir o juiz e o perito na coleta e na apreciação da prova, evitando-se
injustiças nos julgamentos.

O crime é denominado “Estelionato Processual”. A conduta consiste no agente inovar, artificiosamente, na


tramitação de processo judicial (civil ou criminal), o estado de lugar, de coisa ou de pessoa.

Inovar significa alterar, substituir determinada situação referente ao estado de lugar (Ex: abertura de um
caminho), de coisa (Ex.: colocação de uma arma de fogo ao lado de um cadáver) ou de pessoa (Ex.:
alteração do aspecto físico de uma pessoa).

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É necessário que haja processo judicial em andamento. Não há crime se a ação não foi iniciada, com
exceção do parágrafo único.

Pode o delito ser cometido pelo acusado, vítima, advogado ou terceiro.

11-Favorecimento Pessoal: art. 348.

Impõe-se o dever do sujeito não colocar obstáculo à ação judicial na luta contra a criminalidade.

11.1-Sujeito Ativo: qualquer pessoa, exceto o co-autor ou partícipe do delito anterior, pois não há auto-
favorecimento.

11.2-Sujeito Passivo: é o Estado.

11.3-Tipo Objetivo: a conduta consiste em prestar auxílio a autor de crime com o fim de subtraí-lo da
ação da autoridade.

O auxílio admite qualquer modo de realização (emprego de meios para fuga, ocultação do autor do crime,
engano da autoridade, etc.).

A autoridade pública é a judiciária ou policial.

Ler §§ 1º e 2º.

Não há favorecimento pessoal nos seguintes casos:

 se no fato anterior há excludente de ilicitude ou de culpabilidade.

 Se houve extinção da punibilidade.

 Se ocorreu escusa absolutória (art. 181 CP).

12-Favorecimento Real: art. 349.

Procura-se evitar que se preste colaboração a criminoso, após a prática do crime, no sentido de tornar
seguro o proveito obtido, dificultando a ação da justiça.

Proveito é toda utilidade material ou não, abrangendo o objeto material do delito, o preço do crime, as
coisas obtidas com a prática criminosa.

Distinção – no favorecimento real o sujeito visa tornar seguro o proveito do crime; no pessoal, manter
seguro o autor do crime antecedente.

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#ESTUDAQUEPASSA

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ANOTAÇOES:

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