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Introdução
Anemia Ferropriva
As anemias ferropênicas ou deficientes em ferro são mais frequentes na clínica. O ferro faz
parte da molécula da hemoglobina, sendo que 67% do ferro total do organismo (4.000mg) é
utilizado para compor pigmento dos glóbulos vermelhos.
Incide preferentemente nas mulheres em idade fértil e em crianças, sendo mais rara nos
homens. Na anemia Ferropriva há um balanço negativo de ferro, isto é, a ingestão deste
elemento é menor do que a necessidade do organismo. Nos homens, existem 600-1.200 mg de
ferro estocado, enquanto nas mulheres esta reserva é inferior, de 100-400 mg. Daí a maior
incidência de anemia Ferropriva no sexo feminino.
Nas crianças a principal causa de anemia ferropriva é o aumento da demanda de ferro e sua
ingestão insuficiente, que ocorre mais frequentemente nos bebês em aleitamento artificial ou
após os seis meses de idade mesmo naqueles que recebem aleitamento materno.
O ferro pode ser encontrado sob duas formas: ferrosa (Fe++) e férrica (Fe+++) e seu conteúdo
corpóreo é de 3 a 5g, sendo que parte desempenha funções metabólicas e oxidativas (70% a
80%) e outra se encontra sob a forma de armazenamento como ferritina e hemossiderina no
fígado, baço e medula óssea (20% a 30%).
A molécula de hemoglobina é formada pela HEME e GLOBINA. Esta proteína é formada por
quatro cadeias polipeptídicas, duas cadeias a (marrom claro e marrom escuro), com 141
resíduos de aminoácidos e duas cadeias b (azul claro e azul escuro) com 146 resíduos de
aminoácidos. Cada cadeia polipeptídica contém um grupo prostético heme ao qual se liga o O2.
Este é uma porfirina que contém um átomo de ferro no centro da molécula.
Figura 1 – Estruturalmente, os quatro monômeros (a) ligam-se compondo dímeros (b) que
formam o tetrâmero (c) da hemoglobina.
Figura 2 – Estrutura química da hemoglobina, (a) estrutura HEME, (b) estrutura HEME com a
parte protéica, a GLOBINA.
Atualmente, também pode-se estabelecer que o ferro está envolvido nas reações de conversão
do betacaroteno para a forma ativa da vitamina A, fato esse que explica, em parte, a
importante interação entre estes nutrientes.
Aumento de necessidade.
Excesso de perda (hemorragias).
Má absorção do ferro da alimentação.
Dieta deficiente de ferro.
Sinais clínicos na detecção da deficiência de ferro e anemia
O primeiro estágio - a depleção de ferro - ocorre quando o aporte de ferro é incapaz de suprir
as necessidades. Produz, inicialmente, uma redução dos depósitos, que se caracteriza por
ferritina sérica abaixo de 12µg/l, sem alterações funcionais.
No terceiro estágio - a anemia por deficiência de ferro- a hemoglobina situa-se abaixo dos
padrões para a idade e o sexo. Caracteriza-se pelo aparecimento de microcitose e de
hipocromia.
Etiopatogenia
Entre as causas citadas, as mais frequentes são relacionadas com o excesso de perda, podendo
ser:
A anemia Ferropriva se instala de modo lento e progressivo, desde que as perdas não sejam
agudas e abundantes. Num primeiro estádio, já citado, de depleção de ferro, os depósitos
tendem a se esvaziar. Isto pode ser observado pela diminuição do ferro contido nos macrófagos
medulares, bem como também pela redução da ferritina do plasma. Na tentativa de aumentar
o ferro circulante, há aumento da absorção deste pela mucosa intestinal.
Então, pode ser observada discreta elevação da concentração de transferrina plasmática.
Progredindo a ingestão deficiente de ferro ou excesso da perda, observamos queda do ferro
plasmático e diminuição da saturação da transferrina e da ferritina. Instala-se a eritropoese
deficiente quando, ao final, ocorrem:
Ausência de ferro nos depósitos (medula óssea com macrófagos sem grãos de ferro).
Grande aumento da transferrina livre.
Grande diminuição da saturação de transferrina.
Grande baixa de ferritina e do ferro livre no plasma.
Ausência de sideroblastos na medula óssea.
Aumento da protoporfirina nos eritrócitos.
Instalação da Microcitose e da Hipocromia por diminuição da síntese de hemoglobina.
Para que se mantenha o equilíbrio, deve haver teor normal de ferro na alimentação, fato que
permite a absorção da taxa de 1mg diário. Essa taxa deve ser maior no sexo feminino, no qual,
além das perdas básicas, ocorre a perda menstrual mensal fisiológica. Portanto, a anemia
Ferropriva instala-se mais facilmente no sexo feminino quando existe deficiência de ingestão,
excesso de perdas ou, ainda, a presença de gestação.
Quadro Clínico
Os sintomas são devidos à diminuição do oxigênio ao nível dos tecidos. Os sintomas gerais
como palidez, fraqueza, desânimo, anorexia, dispneia aos esforços, palpitação, taquicardia,
cefaleia, dor precordial e desmaio são de grau variável e dependem da intensidade da anemia.
A. Hemograma
Figura 4 – Sangue periférico de paciente com anemia ferropriva grave (Hb 5,8g/dL). Nota-se
anisopoiquilocitose acentuada, dacriócitos (Os dacriócitos são células com forma de lágrima ou
gota) e esquisócitos (hemácias fragmentadas de formas estranhas), associadas a intenso grau
de hipocromia.
B. Medula Óssea
Não é necessária a realização de mielograma ou de biópsia de medula óssea para diagnosticar
a ferropenia, porém a ausência de ferro corável pelo azul da prússia (coloração de Perls) nos
macrófagos da medula óssea confirma o diagnóstico.
Os níveis séricos de ferro são os primeiros a diminuir, após o consumo total do ferro de
estoque. Contudo, para confirmar a ferropenia é necessário dosar a capacidade de ligação da
transferrina (que estará aumentada, já que não há saturação dos sítios de ligação do ferro na
molécula da transferrina) e, principalmente, evidenciar a depleção dos estoques de ferro,
através da dosagem da ferritina sérica, que deverá estar abaixo de 12mg/L. Níveis baixos de
ferro associados a ferritina alta, levantam a suspeita de anemia secundária a processos
inflamatórios, afastando o diagnóstico de anemia ferropriva.
São dosados através de anticorpos monoclonais, e seu aumento evidencia uma forma mais
grave de deficiência de ferro, sendo considerados como marcadores de gravidade do quadro.
Tratamento
Uma vez instalada a anemia ferropriva, deve-se corrigir o déficit e repor os estoques de ferro
através do uso de ferro medicamentoso e, em caso de perda crônica de sangue, identificar e
tratar a causa. O sulfato ferroso é o sal mais bem indicado por sua boa absorção e baixo custo.
Para as crianças, a dose de ferro para o tratamento é de 3 mg ∕Kg ∕dia. Embora a melhora
clínica e a normalização das concentrações de glóbulos vermelhos e de hemoglobina ocorram
precocemente com a reposição de ferro, a dose terapêutica deve ser mantida por 3 a 4 meses
para a reposição dos estoques de ferro. Alguns cuidados devem ser tomados para maximizar a
absorção do ferro, como a sua ingestão 30 a 60 minutos antes das refeições, não diluir o
medicamento em nenhum líquido e ingerir suco de frutas cítricas após o uso do medicamento.
O sulfato ferroso pode trazer alguns inconvenientes com o seu uso como náuseas, indigestão,
constipação e diarréia que, em geral, são proporcionais a quantidade de ferro ingerida. Pode-se
tentar solucionar esse problema através de um aumento gradativo das doses e do
escalonamento nas doses ao longo do dia. Caso essas medidas não resolvam, pode-se
substituir o sulfato ferroso pelo gliconato ferroso, entretanto, devido ao seu menor conteúdo
de ferro elementar exige um tratamento mais prolongado.
Conclusão
As anemias representam um quadro clínico importante pois estão associadas a inúmeras
etiologias como demonstram os estudos sobre o tema. Entre as etiologias primárias
encontram-se as carências nutricionais, que afetam grande parte da população, em particular
as crianças, que necessitam de um aporte de elementos essenciais como o ferro, a
cianocobalamina e o ácido fólico, para o desenvolvimento orgânico. Em indivíduos adultos a
necessidade destes elementos permanece, por serem fundamentais para a produção celular. A
carência de ferro, que resulta em anemia ferropriva, apresenta uma alta prevalência entre as
mulheres, em função do ciclo menstrual, onde ocorre uma perda mensal de ferro, e da
gestação, que aumenta a necessidade deste elemento, este quadro anêmico também é
secundário em processos hemorrágicos crônicos e agudos.
Referências Bibliográficas