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CURSO DE PSICOLOGIA

CAROLINE SCHIAVONI DA SILVA

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE AUTISMO: REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA

Guarulhos

2016
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CAROLINE SCHIAVONI DA SILVA

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE AUTISMO: REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso, especialmente


redigido como parte dos requisitos para a obtenção
do Grau de Bacharel em Psicologia.

Orientador (a): Dr.ª Sônia Maria da Silva

Guarulhos

2016

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RESUMO

O presente trabalho propõe-se abordar características externas e internas do


indivíduo que desenvolve o Autismo. Apresenta-se um panorama das teorias já
desenvolvidas sobre o assunto desde as iniciais até as mais atuais que tentam cada
uma à sua maneira definir como uma doença desenvolvida a partir de fatores
biológicos ou por motivos relacionados a mãe, mas que sofre também influência
de um conjunto de fatores referentes ao psiquismo do bebê, como por exemplo, uma
forma de negação aos investimentos desse Objeto primário – mãe. Pretende-se
relacionar os conteúdos associados à Psicologia à formação da síndrome e, assim,
pensar o estado psicológico/emocional enquanto facilitador do desenvolvimento do
Autismo, tanto como sendo responsável pelos pais, como também pelo próprio bebê
que pode desestabilizar a mãe pela não resposta às suas investidas libidinais. E,
finalmente, a partir das várias abordagens psicanalíticas, buscar compreender as
características de personalidade das crianças Autistas e possíveis ações que possam
prevenir o desenvolvimento e até mesmo o aparecimento da síndrome.

Palavras Chave: Autismo, crianças autistas, relação mãe-bebê, psicologia,


psicopatologia infantil.

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SUMÁRIO
Páginas
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5
1.1 Apresentação ........................................................................................................ 6
1.2 Justificativa ............................................................................................................ 6
1.3 Objetivos ............................................................................................................... 7

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 8


2.1 Caracterização do autismo e a evolução do conceito ........................................... 8
2.1.1 Diagnóstico....................................................................................................... 12
2.1.2 Tratamentos ..................................................................................................... 14
2.1.3 No Brasil ........................................................................................................... 16

3 MÉTODO................................................................................................................ 18

4 DISCUSSÃO E
RESULTADOS...........................................................................................................19

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 22

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 23

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1 INTRODUÇÃO

O autismo é um distúrbio complexo, que até hoje em dia ainda não há uma explicação
metodológica, abordagem clínica ou modelo que possam explicar de forma única à
origem ou causalidade da síndrome.

As primeiras tentativas para explicar e definir tal síndrome veio a partir de estudos de
Leo Kanner em 1943 e o surgimento da moderna psiquiatria infantil onde abordava
diversos aspectos como foco, por exemplo, aspectos biológicos (neuroquímicos,
genéticos, etc.) componentes psicodinâmicos e ambientais do distúrbio (privações
graves, patologia parental, etc.) e por fim, ao approach cognitivista do problema
(incapacidade de decifrar a mímica materna, entre outros). Kanner, em seu primeiro
artigo chamado “Distúrbios autísticos do contato afetivo” caracteriza a criança autista
como aquela que possui inaptidão para estabelecer relações normais com o outro;
atraso na aprendizagem da linguagem e mesmo depois de se desenvolver há
incapacidade de estabelecer valor na comunicação do outro; como também, a maioria
dessas crianças apresentam estereotipias gestuais e necessidade de manter o
ambiente material imutável, por exemplo, os móveis e objetos que se encontram no
local onde passam a maior parte do tempo, principalmente se esses objetos são eles
mesmos que organizam. Entretanto, todas elas possuem aparência física normal
(LEBOVICI; PHILIPPE, 1991).

No primeiro estudo de Kanner, ele ressaltava que o isolamento autístico estava


presente na criança desde o inicio da vida, ou seja, sugeriu que se tratava de um
distúrbio inato, posteriormente a esse estudo observou junto a Eisenberg que a
síndrome poderia se revelar mesmo após um desenvolvimento aparentemente normal
no primeiro ou segundo ano de vida.

Apesar de na época já terem muitos outros quadros clínicos de síndromes


psiquiátricas Kanner foi original em formar um quadro clínico que diferenciava sinais
clínicos específicos de uma nova síndrome diferenciando-a das demais síndromes já
existentes, embora houvesse ainda muita confusão em relação às definições do
autismo e seu diagnóstico, como também, nos diagnósticos de esquizofrenia infantil e
de psicose infantil por terem muitas semelhanças.

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Adiante foram feitos vários testes ou questionários para avaliar crianças autisticas e
descobrir suas particularidades e formas de diagnóstico, dentre os autores da época
estão: Rimland (1964); Creak (1964); Myer (1971); Reicher e Schopler (1971) com o
teste CARS; Rutter, Ritvo e Freeman (1978); entre outros. Embora muitos deles
tenham sido eficazes para diversos aspectos do autismo, como por exemplo, a
evolução do comportamento da criança, nenhum atualmente permite avaliar o
autismo, nem mesmo possível de considerar quais são os sintomas que se possam
considerar como primários e aqueles que aparecem como secundários, ou os
mecanismos responsáveis pelo mesmo, ou seja, não há precisão na definição da
síndrome.

A proposta deste trabalho é traçar a evolução do conceito autismo e, o conjunto de


sintomas atualmente descritos numa abordagem ambiental com base nos estudos da
psicanálise. Em seguida, será apresentada uma visão psicanalítica da relação mãe-
bebê e o ambiente como principais influencias na instalação do autismo.

1.1 Apresentação

A motivação na realização deste trabalho surgiu da necessidade de se buscar uma


resposta para a hipótese levantada pela área da Psicologia, sobretudo pela
Psicanálise, sobre a relação do psiquismo mãe-criança e características pessoais do
indivíduo com a síndrome Autística.

1.2 Justificativa

Nota-se que o autismo, em diversas abordagens, ainda não possui um modo


específico para se diagnosticar ou compreender de forma única a sua causalidade,
sendo assim, é importante se obter cada vez mais pesquisas aprofundadas e
observações sobre esse tema por ser tão complexo e quase inexplicável mesmo nos
dias atuais, principalmente levando em conta que essa síndrome atinge crianças
desde muito cedo e, se não houver tratamento precoce adequado acarreta em sérias
complicações futuras no sentido de sociabilidade, linguagem, aprendizagem, entre
outros.

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Outro motivo para a realização desta pesquisa é pelo fato de que essa síndrome,
assim como muitas outras psicopatologias estão em grande parte associadas à
maternidade como sendo um fator principal no aparecimento ou desencadeamento da
síndrome ou doença. Por isso, justifica-se a importância do presente trabalho para
expandir o foco como sendo apenas na relação do autismo com a mãe, e assim,
passa-se a observar também que o próprio bebê pode estar diretamente
correlacionado com a síndrome autística, visto que, ambos necessitam de
“identificação no movimento de comunicação primitiva”, comunicação esta que,
segundo Klein (1991, p.27 apud ROCHA, 2012, p.38) é um “ataque ao corpo materno
[...] efetuado pela expulsão de partes do self para dentro da mãe”, possibilitando que
ele – o bebê – desenvolva boas relações com este objeto, integrando-o ao seu ego.
Assim, a deficiência desta ferramenta de comunicação impossibilita o bebê de se
comunicar com sua mãe e de receber os investimentos libidinais de sua parte que o
faça, por sua vez, percebê-la como o grande “Outro”. Sendo assim, parece
indispensável uma pré-disposição do bebê para projetar tais conteúdos no corpo da
mãe, porém sem a certeza se esta pré-disposição depende desta última.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Pesquisar a evolução do conceito de autismo, destacando a influência do ambiente


durante a gravidez e o primeiro ano de vida para a instalação da patologia, apontado
na literatura.

1.3.2 Objetivos específicos

Destacar a influência do ambiente durante o período de gravidez e o primeiro ano de


vida como possível consequência do autismo; Identificar o perfil das crianças, no
primeiro ano de vida, com possibilidades de desenvolver o autismo infantil; Identificar
a influência do ambiente durante a gravidez como possível consequência do autismo
na criança.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Caracterização do autismo e a evolução do conceito

A palavra Autismo vem do grego Autos, que significa eu ou próprio, referindo-se a


alguém retraído e absorto, que se volta para si mesmo e não se interessa pelo mundo
exterior. Confere-se à Plouller, em 1906, a introdução do termo autismo ao descrever
o sinal clínico de isolamento (BRASIL, 2013). Bleuler, em 1911, usou esse termo para
descrever um dos sintomas da esquizofrenia, definindo-a com como a fuga da sua
realidade, ou o “desligamento da realidade combinado com a predominância relativa
ou absoluta da vida interior” (BLEULER, 2005). Melanie Klein foi a pioneira em
trabalhar as psicoses infantis e, mesmo não distinguindo a então esquizofrenia
precoce do Autismo, notou que em crianças autistas era visível características
“qualitativamente diferentes das encontradas em outras crianças psicóticas”
(KUPFER, 2000). Posteriormente, o termo foi usado por Asperger e por Kanner ao
descreverem crianças e jovens com padrões de comportamentos repetitivos e
restritos, fala mecanizada e mantendo o mundo externo como alheio à sua realidade
(BAPTISTA, 2002). Em 1943, Kanner reescreveu o termo como “distúrbio do contato
afetivo” ao descrever a síndrome como um sinal clínico de isolamento, observando os
comportamentos de um grupo de crianças com idades entre dois anos e quatro meses
até os onze anos completos. Para descrever este quadro e cunhar este termo, Kanner
apontou as seguintes características: extrema dificuldade para estabelecer vínculos
com pessoas ou situações; ausência de linguagem ou incapacidade no uso
significativo da linguagem; boa memória mecânica; ecolalia; repetição de pronomes
sem reversão; recusa de comida; reação de horror a ruídos fortes e movimentos
bruscos; repetição de atitudes; manipulação de objetos, do tipo incorporação; físico
normal; família normal. Mais tarde, em 1949, cunha o termo “Autismo Infantil Precoce”
acrescentando aos sintomas supracitados o desejo profundo em preservar o estado
das coisas e situações, geralmente por estabelecer uma ligação especial com
determinados objetos. Até então, o autismo era intimamente relacionado com a
Esquizofrenia Infantil, relação esta que Kanner sustentou até o fim dos seus trabalhos,
vendo-o como uma manifestação precoce desta última. Em 1956 ele propõe o
isolamento e a imutabilidade e a confirmação da natureza inata do distúrbio como
sinais básicos para diagnosticar o quadro autístico. Ajuriaguerra (1980) engloba o
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Autismo dentro das Psicoses Infantis, caracterizando-o como transtorno da
personalidade originado a partir de uma desorganização do Eu e, consequentemente
da relação que a criança passa a estabelecer com o mundo exterior, apresentando
condutas inapropriadas, retraimento, desorientação da realidade, pobre visão
imaginativa, dentre outros que vão de encontro com as palavras de Kanner.
Atualmente, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Autismo é uma disfunção
global do desenvolvimento, ou seja, uma alteração que afeta a capacidade de
comunicação, de socialização e do apropriado modo de comportar-se do indivíduo ao
ambiente. Para o DSM-V, que entrou em vigor em 2013, no entanto, todos os
Transtornos Globais do Desenvolvimento que incluíam o Autismo, o Transtorno
Desintegrativo da Infância e as Síndromes de Asperger e Rett foram sintetizados em
um único diagnóstico, chamado agora de Transtorno do Espectro Autista, partindo do
conceito de que todos esses transtornos partilham, mesmo que em diferentes níveis
de gravidade, dos sintomas de déficit na comunicação e interação social, assim como
padrões de comportamentos, interesses e atividades restritas e repetitivas (ARAUJO;
NETO, 2014). Em Psicanálise, pode-se entender o autismo como um estado em que
não foi totalmente instaurado certo número de estruturas psíquicas necessárias e, por
conseguinte, acarreta, dentre outros, déficits de natureza cognitiva. A deficiência seria,
então, a instalação definitiva desses déficits. Portanto, ao pensar em focos de
intervenção e/ou uma possível prevenção, deve-se ter em mente a lógica de que a
deficiência aqui seria a falha da instauração das estruturas psíquicas (LAZNIK, 2013).
Abre-se margem para a questão: O que causa esta falha e em que momento? Freud,
em 1914, introduz em seus estudos o estado primevo da condição humana, o
autoerotismo que precede o Narcisismo, abrindo campo para se pensar em uma fase
natural autista que todos experimentamos nos primórdios da vida (FREUD, 2010).
Alguns anos antes, em 1905, Freud, ao falar sobre a diferenciação da sexualidade
dos seres humanos em contraste com os outros seres vivos, estabelece que, ao se
tratar de sexualidade humana, esta não possui um objeto pré-determinado específico,
pois é uma consequência dos investimentos libidinais direcionados ao objeto, ao
passo que, a respeito da sexualidade dos outros seres vivos, esta é ligada ao instinto.
Assim, expõe o conceito de pulsão, considerando que este é dependente de um objeto
que, por sua vez, é constituído a partir da linguagem. O processo de formação do
circuito pulsional se dá, segundo Laznik (1997), em três momentos distintos, porém

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complementares, sendo, em um primeiro momento “quando o bebê vai em busca do
objeto oral (seio ou mamadeira) para dele apoderar-se”; em um segundo momento,
quando o “bebê tem uma boa capacidade autoerótica, se ele é capaz em particular de
chupar sua mão, seu dedo ou então uma chupeta... que chamamos de experiência
alucinatória de satisfação, intimamente relacionada com o autoerotismo” e, por fim, “o
terceiro tempo necessário ao fechamento do circuito pulsional, e ao que podemos
propriamente chamar de satisfação pulsional” que é exatamente quando o individuo
se faz “objeto de um novo sujeito”, ou seja, submete-se ao outro que, por sua vez se
tornará sujeito de sua pulsão. Ao contrário do sujeito que chega ao Narcisismo, o bebê
autista não “completa” este ciclo, permanecendo no segundo momento,
particularmente autoerótica, onde nunca vai alcançar o estado de Narcisismo, haja
vista que algo o fez negar-se como objeto. Bettelheim sugere que o Autismo é
resultado de uma falha em realizar o que é potencial no indivíduo por um trauma do
ambiente, levando-o a rejeitar o mundo exterior; o estímulo do “Outro”, – aqui referido
como a mãe por ser o primeiro objeto de desejo do bebê – foi nulo ou inadequado ao
lidar com esse bebê, fazendo com que fosse reprimido o impulso necessário para lidar
com o ambiente à sua volta, trazendo como consequência a falta de energia para a
constituição da personalidade (BETTELHEIM, 1987). Uma vez compreendida a
função fundamental da experiência do desamparo para a instalação da idealidade e
da saudável constituição psíquica do sujeito, percebe-se o papel indispensável do
outro – da mãe – em acolher e suprir as necessidades do bebê, oferecendo-lhe
compaixão e empatia pelo que está sentindo, pois, a vivência de sua própria
experiência faz com que seja solidária ao seu apelo. Posto que tais necessidades
sejam devidamente satisfeitas, formar-se-á um território delimitado do qual se
instalarão, simultaneamente, os conteúdos necessários para lidar com as exigências
do início da vida, configuradas pelos ataques das exigências sensoriais, objetais e
pulsionais que agora fazem parte da sua realidade (ROCHA, 2012). Ainda segundo
Rocha, há a necessidade de que o bebê “encontre um reflexo, cuja origem está no
corpo da mãe”, formando a noção de “identificação” e dando lugar à mãe no seu
psiquismo. Este processo será a introdução da experiência narcísica que resultará,
posteriormente no “plano da idealidade” (ROCHA, 2012, p. 36). A partir deste
desencontro que impossibilitou a identificação entre bebê e mãe, o “movimento de
comunicação primitiva” também será comprometido, visto que “a comunicação entre

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o bebê e a mãe se dá por processos que envolvem também a subjetividade, a
sexualidade e a violência materna” assim como “a fonte de todas as demandas
posteriores do sujeito” (ibidem, p. 37). Comunicação esta que, segundo Klein (1991,
p27 apud ROCHA, 2012, p. 38) é um “ataque ao corpo materno [...] efetuado pela
expulsão de partes do self para dentro da mãe”, possibilitando que ele – o bebê –
desenvolva boas relações com este objeto, integrando-o ao seu ego. Assim, a
deficiência desta ferramenta de comunicação impossibilita o bebê de se comunicar
com sua mãe e de receber os investimentos libidinais de sua parte que o faça, por sua
vez, percebê-la, como o grande “Outro”. Por fim, considerando esta falha na função
de comunicação com a mãe, e fazendo uma correlação entre a teoria das funções alfa
e beta de Bion (1987 apud ibiidem, p.39) e o modelo neurológico proposto por Freud
(1987aa apud ibidem, p. 24), percebe-se que o bebê autista não se vê emissor
daquela mensagem que transmitira, pois, o Outro, a mãe, não “traduziu” essa
informação para ele, de modo que ele não se reconheceu como tal. Ou seja, o que
Bion cunhou de rêverie, a capacidade da mãe de receber (incondicionalmente) os
conteúdos vindos do seu bebê e, consequentemente, a identificação, para que a
mensagem seja transmitida de volta, de uma forma que o bebê entenda, não foi
efetuada, resultando na deficiência da função alfa, ou, em termos freudianos, na
função dos neurônios impermeáveis, fazendo-se agir, predominantemente os
neurônios permeáveis, os quais atendem ao processo de arco reflexo, ou descarga
imediata. Levando-se em conta que “não há um eu sem um outro e não há um outro
sem um eu” (SANTA CLARA, 2007), pode-se inferir que o bebê autista não chegará
ao estado de Narcisismo. Desta forma, portanto, a mãe, o objeto primário, que deveria
ser a transmissora da cultura para o bebê, e entendendo cultura como as “regras
socialmente aceitas” de dada sociedade à qual estão inseridos e todo o contingente
necessário para que o indivíduo se sinta incluso – e aceito – no seu meio, como a
sublimação dos seus impulsos sexuais, por exemplo, percebe-se uma relação com o
que Wing, ao se tratar de autismo, estabelece uma tríade de comportamentos típicos
de crianças com este quadro, como já mencionado: Prejuízos na integração social e
na comunicação e comportamento focalizado e repetitivo (WING e GOULD, 1979).
Em um estado mais primitivo de sua constituição, a satisfação sexual do bebê não
passa da necessidade e, neste momento, algo ocorre para que haja um desinteresse
violento que o impeça de buscar o interesse da satisfação por meio da pulsão. No

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indivíduo autista percebe-se que não houve a completa instauração do circuito
pulsional, pois não houve a constituição do sujeito que o faça (o bebê) se ver como o
emissor daquela mensagem que emitira, ou melhor, não há um retorno que consuma
a total instauração deste círculo. Essa não instauração resulta na falta de uma
estruturação psíquica que permita com que o bebê se constitua como sujeito
desejante, não atingido o interesse pela satisfação pulsional, perpetuando, assim, seu
estado primitivo de desenvolvimento. O bebê continua no estágio inicial da libido, o
autoerotismo, por não ter tido a possibilidade de formar a imagem do Outro unificado;
nunca chegará a ter desejo, uma vez que não há falta. Winnicott, por sua vez, reforça
a tese de uma fase autista natural a todos os seres humanos acrescentando que, em
suas experiências práticas em clínica “muitos casos no qual havia uma tendência ao
autismo [...] foi, porventura, compensada, mas que poderia ter produzido o quadro
autista” (WINNICOTT, 1988).

2.1.1 Diagnóstico

Para efetuar o diagnóstico do autismo, sabendo que ainda o é essencialmente clínico,


segundo o DSM-IV é necessário, também, a observação dos comportamentos do
sujeito, juntamente com entrevistas junto aos pais (ou aqueles que fazem esse papel).
Dessa forma, é indispensável que apresente seis ou mais dos itens pré-estabelecidos
como obrigatórios, respeitando a divisão dos grupos que dão origem à chamada
“tríade de Wing” (WING; GOULD, 1979), sendo eles: Prejuízos na integração social e
na Comunicação e comportamento focalizado e repetitivo.

1) Grupo 1 – Prejuízos na interação social:

a) dificuldade de se comunicar através de gestos e expressão facial e corporal;

b) não faz amizades facilmente;

c) não tenta compartilhar suas emoções (Ex.: não mostra uma coisa que gostou);

d) falta de reciprocidade social ou emocional (não expressa facilmente seus


sentimentos e não percebe os sentimentos alheios).

2) Grupo 2 – Prejuízos na comunicação:

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a) atraso ou falta de linguagem falada;

b) nos que falam, dificuldade muito grande em iniciar ou manter uma conversa;

c) uso estereotipado e repetitivo da linguagem (usa frases de propagandas, filmes


novelas, programas de televisão, trechos ou músicas inteiras);

d) falta de jogos de imitação (Ex: representar o papai, a mamãe, a professora – algo


muito comum nas brincadeiras de crianças).

3) Grupo 3 - Comportamento focalizado e repetitivo:

a) preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados (Ex.: não misturar


alimentos no prato, não ingerir alimentos com determinadas texturas, seguir sempre
o mesmo ritual para determinadas tarefas);

b) assumir de forma inflexível rotinas ou rituais (ter “manias” ou focalizar-se em um


único assunto de interesse);

c) maneirismos motores estereotipados (agitar ou torcer as mãos, bater a mão uma


na outra, ficar olhando fixamente as mãos, ter sempre um objeto de interesse e ficar
manipulando este objeto);

d) preocupação insistente com partes de objetos, em vez do todo (fixação na roda de


um carrinho ou hélice de ventiladores, por exemplo). A partir do exposto acima, é
necessário que a pessoa apresente, ao menos, dois itens do grupo 1, um item do
grupo 2 e um do grupo 3 para que se possa começar a falar em Autismo (MANUEL;
GARCIA FILHO, 2009).

Desde o ano de 2013, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais


(DSM) foi atualizado para a atual edição de número 5, na qual, consta que, como
características essenciais, destacam-se: [...] prejuízo persistente na comunicação
social recíproca e na interação social [...] padrões restritos e repetitivos de
comportamento, interesse ou atividades [...] presentes desde o início da infância e
[que] limitam ou prejudicam o funcionamento diário (APA, 2013). Como já dito, para
Wing; Gould (1979) as características consideradas típicas do autismo são formadas
pela seguinte tríade: Severo prejuízo social, caracterizado como um retraimento e

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desinteresse pelo mundo exterior como um todo, preferindo um mundo isolado e
inabitado; severas dificuldades de comunicação, que é tida, tanto como dificuldades
na comunicação verbal, quanto não verbal e, por fim, a ausência de atividades
imaginativas, como, por exemplo, o brincar de faz-de-conta, o qual por vezes é
substituído pelos comportamentos repetitivos. Em contrapartida, estudos
neuroanatômicos de alterações encefálicas foram realizados nos anos 80 em
cadáveres de pessoas outrora autistas, onde foram encontradas alterações
substanciais no lobo frontal medial; temporal medial; gânglios da base e tálamo,
dentre outras (DAMÁSIO; MAURER, 1978) o que nos apresenta uma diferente, mas
não antagônica forma de se compreender o Autismo. Tanto em um contexto
psicológico ou orgânico, ambos podem – e por vezes o são – complementares.
Associado à concepção de que o Autismo é uma síndrome neuropsiquiátrica, sugere-
se aqui a presença de alguns fatores genéticos e neurobiológicos que podem ser
associados à síndrome mesmo que não haja uma etiologia confirmada. Em linhas
gerais, aos instrumentos aplicados tanto para triagem quanto para a avaliação do
Autismo são subdivididos em testes para identificação - que são utilizados para
constatar possíveis alvos de intervenção; para o efetivo diagnóstico - que são
utilizados para acompanhar os sintomas ao longo do tempo - e os chamados
“instrumentos de rastreamento” que são aplicados por profissionais de áreas
específicas para detectar os sintomas relativos ao espectro sem, no entanto, concluir
um diagnóstico.

2.1.2 Tratamentos

Pelas características já citadas sobre a síndrome, esta requer cuidados específicos


que consistem em acompanhamento médico e reabilitação que, provavelmente,
perdurarão por toda a vida. Até o ano de 2013, não havia nenhum tipo de política
pública especificamente voltada para o atendimento de pessoas autistas pelo SUS.
Os recursos existentes até então eram ONGs ou serviços de saúde mental. A partir
deste ano, simbolicamente divulgado no Dia Mundial da Consciência do Autismo, o
Ministério da Saúde apresentou uma ação pioneira em política de saúde pública
voltada especialmente para essa classe de pacientes. Nomeada como Diretriz de
Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo, esta
vem com a proposta de mensurar indicadores do desenvolvimento infantil e possíveis
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sinais que demandem uma maior atenção para facilitar o diagnóstico precoce da
doença em crianças de até três anos de idade. Contrastando o desenvolvimento
saudável da criança já esperado e apresentando os sinais de alerta, é possível
antecipar qualquer indício que possa demandar alguma atenção especifica. Este
documento foi amplamente divulgado para os profissionais nas unidades de saúde do
país objetivando auxiliá-los na detecção precoce dos sintomas visando, ainda, uma
edição mais simplificada para as famílias. Atualmente, ainda segundo o Ministério da
Saúde, serão divididos os casos de menor e maior gravidade. Os pacientes de menor
gravidade serão tratados em Centros Especializados de Reabilitação (CER) que foram
criados devido à “necessidade de ampliar e diversificar os serviços do SUS dando
atenção às pessoas com deficiência física, auditiva, intelectual, visual, ostomia e
múltiplas deficiências”, segundo a portaria nº 793, de 24 de abril de 2012. Atualmente
existem 123 CERs habilitados e em funcionamento e outros 77 projetos em vias de
construção aprovados pelo Ministério da Saúde; já os pacientes de maior gravidade
serão encaminhados para centros específicos que serão habilitados em todo o país.
O projeto terapêutico a ser empregado ao paciente autista deve ser desenvolvido à
partir do diagnóstico elaborado por toda a equipe multidisciplinar que conferiu ao
paciente o quadro supracitado juntamente com a família do mesmo. Por ser
individualizado, esse projeto “deve atender às necessidades, demandas e interesses
de cada paciente e de seus pacientes” (BRASIL, 2013). Quando o casal espera um
filho é, na grande maioria das vezes, um momento de prazer experimentado
especialmente pela mulher, não excluindo o resto da família que também se veem
compartilhando do mesmo sentimento. A mãe, no entanto, é provavelmente a figura
que mais se vê alienada àquela sensação ao quadro já instaurado na criança.
Segundo Fiori (1981) p.9, “quando uma criança é concebida, já há na mãe e no pai
uma organização de fantasias ou de expectativas ligadas à concepção e ao
desenvolvimento da criança”. Desta forma, percebe-se que a mãe idealiza o bebê
ideal, atribuindo-lhe traços e características simbólicas que vão afastando-a da
realidade. A partir do momento do nascimento onde há a separação da relação até
então simbiótica, o bebê real vai substituindo o bebê idealizado e, dessa forma,
propiciando as decepções que vai permitir o processo desta separação. Durante este
processo, é possível mensurar que quanto mais graves forem as discrepâncias da
idealização da mãe em relação ao bebê real e idealizado, maior será a angústia a

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enfrentar. Junto com o impacto causado por esta disparidade em toda a família, para
a mãe os seus conflitos internos são mais difíceis de ser superados, impossibilitando-
a de realizar seus desejos e de trabalhar suas fantasias o que gera sentimento de
frustração. “os pais de uma criança deficiente estão em eterno luto pela perda do filho
saudável que não veio; o que existe é uma criança substituta que está definitivamente
lesada” (GAUDERER 1985 apud CABRAL et al., 2012). A família tem um papel
importante no cuidado da pessoa Autista. É dela que é exigida uma dedicação
incondicional e extensiva provocando, frequentemente, a quebra da rotina familiar,
profissional e de lazer. A interrupção e/ou diminuição das horas de trabalho, lazer ou
o tempo empreendido para com os outros membros da família são afetados de modo
a trazer desconfortos, o que demanda uma ação de intervenção também para os pais
e cuidadores deste paciente. Um espaço que possam ser acolhidos, ouvidos e
orientados e, se necessário, uma ação terapêutica mais intensiva. Ao serem
identificados sinais de alerta que possibilitem a instalação do quadro autista, a
imediata intervenção é altamente importante, haja vista que os resultados favoráveis
à terapias quanto mais precocemente empregados resultam em maiores chances de
sucesso devido à “plasticidade” do cérebro nos primeiros anos de vida das crianças
que tornam privilegiadamente viáveis as intervenções à nível de constituição
psicossocial e do funcionamento das conexões neuronais ainda em formação. É desta
forma, no contato e na assistência à relação mãe-bebê empregada pelos profissionais
da saúde que deve ser empregada a tarefa de identificar e prevenir por meio da
Atenção Básica (UBSs, Saúde da Família, Equipes de Saúde básica, etc.) qualquer
sinal que promova alguma alteração no desenvolvimento saudável do bebê. Por não
haver nenhuma cura conhecida, “a intervenção o mais precoce possível em um
ambiente educacional adequado para pelo menos dois anos durante os anos pré-
escolares podem resultar em melhorias significativas na linguagem, na capacidade
cognitiva e nas habilidades sociais para muitas crianças” (PAULA et al, 2011, p.1).

2.1.3 No Brasil

Não há uma estimativa oficial relacionada à epidemiologia no Brasil e nem em outro


país da América Latina. Pela escassez de dados que possam embasar uma
apresentação de dados mais assertiva, Paula et al (2011), afirma que: As mais
recentes estimativas de prevalência do TEA nos EUA e outras nações ocidentais
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indicam que quase 1% das crianças são afetadas. Com base nessas estimativas
internacionais, é concebível que até 1,5 milhão de brasileiros vivem atualmente com
TEA (PAULA et al., 2011). Nos últimos anos houve um aumento do número de casos.
Em uma primeira impressão, confere-se este aumento à mudança dos hábitos e
práticas ao se deparar com alguns indícios do transtorno e, também, o aumento da
consciência por parte dos profissionais que estão dando cada vez mais atenção.
Porém, de uma forma mais abrangente, essas mudanças não são as únicas
responsáveis por este aumento, sendo, também, importante ressaltar “outros fatores
de risco que podem estar contribuindo para o aumento da prevalência” e que
“necessitam de uma investigação”.

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3 MÉTODO

A pesquisa bibliográfica foi conduzida em três etapas, na primeira foi definido o tipo
de estudo, sendo então um estudo descritivo realizado por meio de uma revisão de
literatura onde o objetivo foi descrever alguns dos aspectos do autismo, suas
possíveis principais causas, revisão teórica e possíveis tratamentos, destacando a
psicanálise no diagnóstico e a possível influência da figura materna na instalação do
distúrbio.

Na segunda etapa será feito um levantamento de artigos científicos nas bases de


dados: LILACS, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Google acadêmico,
Pubmed e Psycinfo.

Foram pré-selecionados 52 documentos, incluindo livros e revistas, de acordo com os


títulos e resumos e destes 26 foram selecionados de acordo com o objetivo da
pesquisa. Os artigos, livros, revistas e dissertações foram publicados entre 1942 a
2014, obtidos pelos termos de pesquisa: autismo, figura materna na instalação do
autismo e visão psicanalítica sobre o autismo, sendo assim os dados foram coletados
no período de janeiro de 2014 a maio de 2016.

A terceira e última etapa trata-se da análise dos dados coletados, sendo assim, a
presente revisão teórica permitiu observar a evolução do conceito do Autismo, a
definição da síndrome de Asperger e os critérios utilizados para o diagnóstico do
mesmo ao longo do tempo.

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4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Começando as primeiras descrições por Plouller, em 1906 onde usou o termo autismo
para descrever o sinal clinico de isolamento, Bleuler posteriormente, em 1911, para
descrever um dos sintomas da esquizofrenia, mais precisamente como fuga da sua
realidade, Melanie Klein observando as diferentes características qualitativas das
crianças autistas comparado as crianças psicóticas, e mais adiante o termo foi usado
por Asperger e Kanner onde este último diferencia os quadros clínicos e forma uma
nova síndrome diferenciando-a das demais que já existiam na época, ou seja,
descreveram crianças e jovens com padrões de comportamentos repetitivos e
restritos, fala mecanizada e mundo externo sendo alheio à sua realidade.

Em 1943 Kanner apontou características mais especificas ao observar grupos de


crianças com idades entre dois anos e quatro meses até os onze anos completos,
onde até então o autismo estava relacionado com a Esquizofrenia Infantil como sendo
uma manifestação precoce desta última.

Ajuriaguerra em 1980 caracteriza o autismo como um transtorno da personalidade


originado a partir de uma desorganização do Eu e consequentemente com a relação
que a criança estabelece com o mundo exterior. Atualmente para a OMS o Autismo é
considerado uma alteração que afeta a capacidade de comunicação, de socialização
e do modo apropriado de comportar-se do indivíduo ao ambiente. Para o DSM-V o
Transtorno do Espectro Autista é uma síntese de todos os Transtornos Globais do
Desenvolvimento, partindo do conceito de que todos esses transtornos partilham
mesmo que em diferentes níveis de gravidade, dos sintomas de déficit na
comunicação e interação social, assim como padrões de comportamentos, interesses
e atividades restritas e repetitivas (ARAUJO; NETO, 2014).

Já para a psicanálise pode-se entender o autismo como um estado em que não foi
totalmente instaurado certo número de estruturas psíquicas, gerando assim os déficits
de natureza cognitiva, e pensando em focos de intervenção ou uma possível
prevenção deve levar em conta a lógica de que a deficiência seria a falha na
instauração das estruturas psíquicas (LAZNIK, 2013). Introduzindo então Freud com
seus estudos sobre autoerotismo e Narcisismo, como sendo uma fase natural autista
que todos experimentamos nos primórdios da vida, trazendo à tona o conceito de

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pulsão (dependência do objeto) e linguagem, ou seja, o bebê autista não completa o
circuito pulsional, trazido por Laznik divido em três momentos que ao ser completado
faz com que o bebê seja objeto de um novo sujeito, e o autista sente que algo o fez
negar-se como objeto. Seguindo nessa linha Bettelheim sugere que o autismo é
resultado de uma falha em realizar o que é potencial do indivíduo por um trauma do
ambiente, rejeitando assim o mundo exterior, levando em conta que a mãe é o primeiro
objeto de desejo do bebê, e se o estimulo da mesma for nulo ou inadequado ao lidar
com esse bebê, ou seja, ele não teve retorno da mensagem que emitiu, faz com que
o impulso necessário seja reprimido para lidar com o ambiente a sua volta e como
consequência traz a falta de energia para a constituição da personalidade e assim
torna-o um sujeito sem desejo uma vez que não há falta (BETTELHEIM, 1987).

Winnicott reforça a tese de Freud quando se trata de uma condição natural a todos os
seres humanos, acrescentando apenas que em suas experiências em clínica os casos
que haviam tendência ao autismo foram compensados de alguma maneira
(WINNICOTT, 1988).

Posteriormente surgiram vários autores que que fizeram testes ou questionários para
avaliar crianças autísticas, e assim descobrir suas particularidades e formas de
diagnóstico, alguns foram eficazes para observar a evolução do comportamento da
criança por exemplo, entretanto ainda há muito para se estudar e pesquisar para se
obter critérios diagnósticos mais precisos e consistentes.

Hoje em dia para efetuar o diagnóstico do autismo, segundo o DSM-V é necessário a


observação dos comportamentos do sujeito e entrevistas com os pais ou cuidadores
do portador da síndrome, sendo indispensável também que este último apresente seis
ou mais dos itens pré-estabelecidos como obrigatórios, sendo eles: Prejuízos na
Interação social e na Comunicação e comportamento focalizado e repetitivo que
limitam ou prejudicam o funcionamento diário da criança (APA, 2013).

Em relação ao contexto orgânico, foram realizados estudos neuroanatômicos de


alterações encefálicas nos anos 80 em cadáveres de pessoas que tinham autismo e
foram encontradas alterações substanciais que apresenta uma diferente, mas não
antagônica forma de se compreender o autismo, sugerindo então que há presença de
fatores genéticos e neurobiológicos que podem ser associados à síndrome

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(DAMÁSIO; MAURER, 1978) onde ambos podem ser complementares para o
diagnóstico mesmo que não haja uma etiologia confirmada, mas podem ser utilizados
para acompanhar os sintomas ao longo do tempo e os “instrumentos de rastreamento”
utilizados por profissionais de áreas específicas, no entanto sem concluir um
diagnóstico.

Sobre o tratamento, o Ministério da Saúde apresentou em 2013 uma ação pioneira


em política de saúde pública voltada para os autistas, destacando a importância do
diagnóstico precoce da doença até os três anos de idade, ampliando o documento
para os profissionais de saúde para auxilia-los na detecção precoce dos sintomas e
outra edição simplificada para as famílias. Serão divididos então os casos de maior e
menor gravidade para serem tratados em diferentes centros de especializações, como
também auxilio para a família, pois segundo Fiori (1981) há muita idealização,
expectativas e fantasias dos pais para com essa criança, principalmente pela mãe que
é afastada da realidade por essas expectativas e quanto maior for a discrepância da
idealização da mãe em relação ao bebê real, maior será a angústia a enfrentar.
Gauderer 1985 traz a importância da família como tendo um papel indispensável no
cuidado da pessoa Autista. Paula et al (2011) reforça que a intervenção precoce com
uma criança de até dois anos de idade pode ser significativa, inserida num ambiente
educacional adequado, para que seja possível obter melhoras na linguagem,
capacidade cognitiva e nas habilidades sociais. Ela ainda traz a escassez de dados
epidemiológicos tanto no Brasil como também em outros países da América Latina,
tirando então como estimativa de prevalência do Transtorno do Espectro Autista,
dados coletados dos EUA e outras nações ocidentais onde 1% das crianças são
afetadas, abrindo discussão para o aumento do número de casos nos últimos anos,
relacionando-os desde as mudanças dos hábitos e práticas do transtorno, o aumento
das consciência dos profissionais que dão mais atenção a questão e outros fatores de
risco que podem estar contribuindo para esse aumento, sendo assim necessitam de
mais investigação.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A breve revisão teórica apresentada permite observar a evolução do conceito do


Autismo e Asperger ao longo do tempo, da mesma forma que em relação as buscas
de diagnóstico e tratamento da patologia, mostrando que para ambos ainda há muito
para evoluir em questão de pesquisas, não tendo até hoje nenhuma informação mais
precisa e concreta nos resultados para se ter como definitivo.

Embora hoje em dia não se tenha a resposta de como diagnosticar e tratar de forma
definitiva tal patologia, pode-se abrir inúmeros questionamentos sobre as causas,
principalmente quando discutidas na visão psicanalítica e nesse caso, colocando
como foco a relação mãe-bebê, quando compreendida a importância, se não,
fundamental experiência desse bebê com o Outro – mãe – sendo a provedora dos
primeiros cuidados, acolhimento, empatia e quem vai suprir as necessidades desse
bebê e assim serão formados os conteúdos necessários para lidar com as exigências
do início da vida. Mas, à medida que a mãe oferece esse conforto para o bebê, este
também tem que assentir aos seus investimentos? Tem escolha? Se sim, quando não
o faz, poderia achar o foco desta negação na forma como a mãe lida com esse bebê?
Pode-se pensar nisso levando em conta que na visão psicanalítica é necessário que
esse bebê encontre um reflexo, uma identificação nessa mãe, ou seja, que a
mensagem que ele transmitiu seja correspondida e, uma vez que essa identificação
não acontece poderia conceber esta causa como o início da instalação do quadro
autista? Se sim, há, também, uma parcela de responsabilidade pela parte do bebê em
negar aos investimentos de sua mãe, sendo assim todo o processo de comunicação
primitiva entre ambos, que envolvem a subjetividade, sexualidade e a violência
materna estarão prejudicados a partir de então, portanto, parece-me indispensável
uma pré-disposição do bebê para projetar tais conteúdos no corpo da mãe, porém
sem a certeza se esta pré-disposição depende desta última.

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REFERÊNCIAS
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