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Introdução

O presente trabalho tem como objetivo transcorrer acerca da origem da Comédia


Grega, seus principais autores e seus períodos, que se compõem em Comédia
Antiga, Comédia Intermediária (ou Média/Mediana) e Comédia Nova. Explicita, ainda,
os autores mais importantes deste gênero dramático grego, os comediógrafos
Aristófanes, considerado o principal representante da Comédia Antiga, com seu humor
ácido, sua ironia e todas as críticas feitas aos políticos e qualquer membro superior da
sociedade, incluindo os próprios autores, tragediógrafos ou comediógrafos, os filósofos,
os políticos, enfim; e Menandro, considerado o precursor da Comédia Nova, que, por
motivos políticos, perde a acidez e passa a tratar de assuntos mais cotidianos, mas ainda
com uma ironia “velada”.

Comédia Antiga

Muito se especula sobre as origens da comédia – aliás, a ausência e a escassez de


“pontos culminantes”, de aparatos históricos e/ou materiais para estudos reforçam as
controvérsias existentes quando a temática proposta como escopo de análise é
unicamente o surgimento desse gênero teatral. Assim, por vezes compreendida como
“gênero menor” pelos críticos – diga-se, a propósito, que a premissa de Aristóteles
acerca do despertar da Tragédia já apontara alusões que “minimizavam” o gênero
comédia, donde se pode reconhecer em sua Poética a referência de que, em dissonância,
Tragédia e Comédia se diferenciam porque, nas palavras aristotélicas, “procura esta,
imitar os homens piores, e aquela, melhores do que eles ordinariamente são”
(ARISTÓTELES, 1992, p. 23) –, quando estudada, mesmo que a fundo, ainda deixa
dúvidas quanto ao seu verdadeiro despontar, podendo-se alcançar, por meio de análise
de material registrado sobre a sua historiografia e crítica, o fato de que esse gênero, em
sua constituição mais antiga, tenha sido formado sob o sustentáculo de dois elementos
divergentes: a farsa e o komos, este último, uma espécie de procissão jocosa que deu
origem ao termo.

Também a comédia emanou de cerimônias dionisíacas, já não do ditirambo, mas


de festividades que se realizavam desde tempos recuados em Atenas e na Ática e por
Aristóteles denominadas procissões phalliká, ou kómos. A comédia seria, portanto, o
"canto do kómos", ato burlesco, mas ainda assim religioso, relacionado ao mesmo
tempo com os ciclos da agricultura e a ideia da reprodução. Em sua forma ateniense,
porém, o gênero veio de uma confluência de tradições, visto que são numerosas as
alusões a outros tipos de farsas no território grego, principalmente nas regiões e cidades
dóricas, inclusive Megara, e traços delas se lhe devem ter agregado.
Aristóteles nos diz que a Comédia se originou dos cortejos fálicos, isto é, dos
cortejos em que, sobre uma vara, era transportado enorme falo (órgão sexual
masculino). Cortejos de parodiantes, muitas vezes mascarados de animais, que
dançavam e cantavam e improvisavam chistes e duetos contra os circunstantes.

Teria sido um filho da cidade de Megara, Susárion, o primeiro a organizar um


coro cômico no distrito ático de Icária, assim informa a crônica-inscrição de Paros
(Marmor parium). A veia cômica dos dórios inspirou também uma primeira escola
grega de comédia, de relativa importância, que floresceu longe da metrópole, na Sicília,
onde Epicarmo (c.530-c. 440 a.C.) granjeou a fama de fundador do gênero no mundo
grego.
"Estas representações eram essencialmente corais e não tardaram a deixar de
ser improvisadas: os poetas elaboravam mais cuidadosamente as partes
melódicas e tratavam temas sérios sobre literatura ou sobre política, na parte
em que se dirigiam aos espectadores, isto é, na parábase, que se tornou
característica regular da Comédia Antiga". (George E. Duckwort, The nature
of Roman Comedy, Princeton, 1971).

A regular inclusão da comédia nas competições teatrais de Atenas aconteceu em


488/7 a.C., quando, nas Grandes Dionisíacas daquele ano, coube o prêmio a Quiônides,
de quem se conhecem os títulos de quatro peças. Em seguida foi cultivada por outros
autores, dos quais Aristófanes dá notícia em famosa passagem de Os Cavaleiros onde
enumera os seus predecessores e lastima o descaso que lhes votara o público.

Estrutura e Períodos

O coro da comédia compunha-se de 24 coreutas (o trágico de 13 a 15), em


muitos casos representando animais. Suas danças e cantos eram vivazes e picantes,
conforme o que dele se conhece pelas obras de Aristófanes, em contraste com a ação
lenta e solene do coro trágico.

Ainda pelo modelo de Aristófanes, a primeira comédia ateniense teve a seguinte


estrutura:

1. um prólogo para atores, com a exposição dos acontecimentos;

2. o párodo, intervenção inicial do coro;

3. o ágon, disputa, debate vivaz, entre os personagens, como entre o Argumento Justo e
o Argumento Injusto, em As Nuvens;
4. a parábase, coro característico, em que os seus elementos ou o corifeu se dirigiam aos
espectadores, a propósito da ação da peça ou abordando assuntos com ela não
relacionados imediatamente;

5. uma sequência de breves episódios;

6. o êxodo, intervenção final do coro, por vezes na forma de banquetes, matrimônio, etc.

Das suas origens ao declínio, a comédia ateniense teve três períodos bem
delineados, o primeiro deles: A Comédia Antiga.

Aristófanes (Aristophánes), cidadão adotivo ou filho legítimo de Atenas, foi


testemunha de uma das mais críticas fases da cidade e do mundo grego em geral, a
Guerra do Peloponeso, que se reflete diretamente em bom número das suas comédias.
São colocados em debate, na sua obra, problemas específicos do teatro grego, tanto da
comédia como da tragédia, discutidas como coisa urbana de rotina. Juízos sobre os
autores de tragédia são freqüentemente expressos, em parte desfavoráveis, tal como
acontece em relação a Eurípedes, considerado por Aristófanes como inferior a Ésquilo e
a Sófocles. O terceiro entre os grandes da tragédia é objeto da mais cáustica verve do
seu colega da comédia.

Há consenso em situar Aristófanes como partidário da facção ateniense adversa


a democracia e a guerra que se travava, defensor declarado que era dos interesses da
classe de proprietários de terras e do tradicionalismo. Daí nasceria o seu desgosto por
Eurípides, em cujas mãos a tragédia se tornara instrumento de tácito exame dos
costumes e de revisão da filosofia e da religião do seu tempo.

A guerra e a paz em Atenas afloram desde logo em Os Acarnienses (Acharnês),


cujo protagonista, Diceópolis, parte para estabelecer com Esparta uma paz individual.
Reaflora em A Paz: seu herói, o ateniense Trigeu, resolve libertar a figura alegórica que
dá título à obra, mantida reclusa numa caverna, e o faz com a ajuda do coro. Assiste-se,
então, ao desespero dos aproveitadores da guerra, retratados nos "siderúrgicos", ou
fabricantes de armas. Por obra de Trigeu, outros artífices, os de pacíficos instrumentos
agrícolas, triunfam. A Assembléia das Mulheres é uma sátira a ideias coletivistas de
uma espécie de comunismo primitivo. Eurípides é o objeto do humor impiedoso de As
Rãs e de As Festas de Ceres e Proserpina.

Comédia Intermediária / Comédia Mediana / Comédia Média

Introdução
Fase de transição em que o coro desaparece. Pluto, de Aristófanes, é classificada
neste período, que tem a vigência de 400 a 330 a.C. A ele pertenceram Aléxis e
Antífanes. Fontes antigas (Sobre a Comédia - De comédia, de autor não conhecido) aí
situaram 57 escritores e 607 obras.

Origem, O que é, Características, Principais Autores


Também a comédia emanou de cerimônias dionisíacas, já não do ditirambo, mas
de festividades que se realizavam desde tempos recuados em Atenas e na Ática e por
Aristóteles denominadas procissões phalliká, ou kómos. A comédia seria, portanto, o
"canto do kómos", ato burlesco, mas ainda assim religioso, relacionado ao mesmo
tempo com os ciclos da agricultura e a ideia da reprodução. Em sua forma ateniense,
porém, o gênero veio de uma confluência de tradições, visto que são numerosas as
alusões a outros tipos de farsas no território grego, principalmente nas regiões e cidades
dóricas, inclusive Megara, e traços delas se lhe devem ter agregado.

Aristóteles nos diz que a Comédia se originou dos cortejos fálicos, isto é, dos
cortejos em que, sobre uma vara, era transportado enorme falo (órgão sexual
masculino). Cortejos de parodiantes, muitas vezes mascarados de animais, que
dançavam e cantavam e improvisavam chistes e duetos contra os circunstantes.
Teria sido um filho da cidade de Megara, Susárion, o primeiro a organizar um coro
cômico no distrito ático de Icária, assim informa a crônica-inscrição de Paros (Marmor
parium). A veia cômica dos dórios inspirou também uma primeira escola grega de
comédia, de relativa importância, que floresceu longe da metrópole, na Sicília, onde
Epicarmo (c.530 a.C. 440 a.C.) granjeou a fama de fundador do gênero no mundo
grego.

"Estas representações eram essencialmente corais e não tardaram a deixar de


ser improvisadas: os poetas elaboravam mais cuidadosamente as partes
melódicas e tratavam temas sérios sobre literatura ou sobre política, na parte
em que se dirigiam aos espectadores, isto é, na parábase, que se tornou
característica regular da Comédia Antiga". (George E. Duckwort, The nature
of Roman Comedy, Princeton, 1971).

A regular inclusão da comédia nas competições teatrais de Atenas aconteceu em


488/7 a.C., quando, nas Grandes Dionisíacas daquele ano, coube o prêmio a Quiônides,
de quem se conhecem os títulos de quatro peças. Em seguida foi cultivada por outros
autores, dos quais Aristófanes dá notícia em famosa passagem de Os Cavaleiros onde
enumera os seus predecessores e lastima o descaso que lhes votara o público.

Com a morte de Aristófanes, a era de ouro da comédia política antiga chegara ao


fim. Os próprios historiadores da literatura na antiguidade já haviam percebido quão
grande era o declive entre as comédias de Aristófanes e as de seus sucessores e traçaram
uma nítida linha divisória, atribuindo tudo o que viera depois de Aristófanes, até o
reinado de Alexandre, o grande, a uma nova categoria: a Comédia Média (mese).
Nessa fase, a comédia ateniense se caracterizava notadamente pelo
enfraquecimento da crítica política e das paródias mitológicas burlescas, e pela
importância cada vez maior da sátira dos mitos e da vida privada, mais exatamente da
vida doméstica. Isso não ocorreu de forma abrupta, mas cada vez mais a comédia se
tornou menos política, mais social e mais cosmopolita.

Comprovam-na cerca de quarenta nomes de autores, bem com o um grande


número de títulos e fragmentos. Conta-se que Antífanes, o mais prolífico desses
"delinquentes confeccionadores de peças teatrais", escreveu duzentos e oitenta
comédias, e seu contemporâneo Anaxandrides de Rodes compôs sessenta e cinco;
outros escritores, cujos nomes chegaram até nossos dias são Áubulo, Aléxis e Timocles.
Anaxandrides, que ganhou o primeiro prêmio na Dionisíaca de 367 a.c., foi convidado
pelo rei Filipe para a corte da Macedônia, onde contribuiu com uma de suas comédias
para as celebrações da vitória de Olinto. Sua partida de Atenas é uma indicação do lado
para o qual os ventos políticos sopravam então: a Macedônia aspirava à hegemonia na
Grécia e a glória de Atenas se extinguia.

A comédia agora retirava-se das alturas da sátira política para o menos arriscado
campo da vida cotidiana. Em vez de deuses, generais, filósofos e de chefes de governo,
ela satirizava pequenos funcionários gabolas, cidadãos bem de vida, peixeiros, cortesãs
famosas e alcoviteiros. Recorria ao repertório de Epicarmo, cujas inofensivas sátiras dos
mitos serviam agora de modelo para mais uma espécie de epígonos. Por volta de 350
a.C., em Tarento, na colônia grega de Taras, ao sul da Itália, Rintão desenvolveu uma
forma de comédia que parodiava a tragédia (hilaros, que significa alegre, engraçado),
mas tudo o que dela sabemos, baseia-se meramente em fragmentos e em pinturas em
vasos.

Tendo sucumbido a Comédia Antiga, concomitantemente ao fim da democracia


ateniense, e após um período de transição, em que figura a Comédia Média, entra em
cena a chamada Comédia Nova, a qual é marcada por um novo contexto histórico-social
em que prevalece o ideal de família, que se encontra associado à formação de uma
classe média e à possibilidade de mobilidade social.

Nas palavras de Junito Brandão, “[...] se a grande paixão do século V haviam sido
os deuses, a pólis e o lógos, a do século IV hão de ser a família e o amor. Estamos em
outro clima. Mudando de trajes e de espírito, a comédia voltou-se primeiramente para a
mitologia. A paródia foi seu grande tema. Tal artificialismo, no entanto, durou pouco.
Ao atingir sua verdadeira maioridade literária, a comédia refugiou-se na sátira dos
costumes e das condições sociais. Muitos títulos de comédias dessa época são nomes de
uma profissão ou estado: o camponês, o soldado, o bajulador, o parasita, a cortesã...
Criaram-se tipos, como o soldado fanfarrão, a sogra, o mercador de escravos, o
avarento, o misantropo, o adúltero.”.

Assim, se já era característica da comédia tratar dos vícios e não especificamente


do indivíduo, conforme nos conta Aristóteles ao dizer que os comediógrafos atribuem
“às personagens os nomes que lhes parece, e não fazem como os poetas jâmbicos, que
se referem a indivíduos particulares”, neste novo contexto as personagens tipo ganham
destaque e, daí, chegam aos nossos dias.

Henri Bergson comenta a recorrência do emprego de nomes de profissão ou


estado no título das comédias, afirmando que “[...] muitas comédias têm como título um
substantivo comum [...]. Isso porque o vício cômico, por mais que o relacionemos às
pessoas, ainda assim conserva a sua existência independente e simples; ele continua a
ser o personagem central, invisível e presente, do qual são dependentes os personagens
de carne e osso no palco.”. Em outros termos, quando o autor cômico fala do avarento,
por exemplo, não lhe interessa aquela personagem em si, mas sim a avareza, que é
trabalhada, que ganha forma, a partir de sua manifestação em um indivíduo qualquer.

Flashar (1996, p. 314-315), aponta para a possibilidade de se analisar Assembleia


de Mulheres e Pluto como peças de transição para a comédia intermediária, sem que,
com isso, elas se separem do restante do corpus aristofânico, pois, ao mesmo tempo em
que se destacam das demais peças, ainda reproduzem importantes elementos que
caracterizam as comédias de Aristófanes do séc. V. Essa nova forma de fazer comédia
está estritamente ligada ao novo contexto histórico, em que ganha espaço o privado em
oposição aos valores patrióticos dos tempos anteriores.

Segundo Nesselrath, As Rãs (405 a. C.) é a última peça da comédia antiga


(NESSELRATH, 1995, p. 2). Posteriormente, Aristófanes acabou produzindo comédias
concomitantemente com autores que tratavam do nascimento e da infância de deuses,
compondo comédias de temas míticos (NESSELRATH, 1995, p. 12). Ele conclui que
somente os comediógrafos que começaram a concorrer após 380 pertencem à Comédia
Intermediária. Assim, de 404 a 380, o que temos é um período de transição da Comédia
Antiga para a Intermediária.

Do ponto de vista estrutural, nem a Comédia Média, nem a hilarotrágica,


apresentaram qualquer inovação cênica. Ambas parecem ter utilizado o pavimento
superior do edifício cênico (episkenion), como concessões à conveniência. Em suas
máscaras amortecem o grotesco, e trazem consigo a primeira pincelada do sentimental.
Nota-se a progressiva redução do coro, que praticamente desapareceu nas comédias de
Aristófanes mencionadas acima, e também desaparece a parabasis. Curiosamente,
muitos títulos e alguns fragmentos que chegaram até nós sugerem que os coros não
desapareceram completamente, mas não tinham nenhuma participação nas comédias,
exceto talvez por um pouco de dança para marcar os interlúdios musicais que
separavam os episódios.

A comédia intermediária, porém, teve curta duração. Ela representou muito mais a
procura por uma estética que fosse consoante com os novos tempos, comédia de
transição entre a antiga e a nova, circunscrita aos anos 404-336 a.C., que correspondem
à queda de Atenas e à subida ao trono de Alexandre, o Grande, respectivamente. Trata-
se de um período de evolução natural do gênero, quando se abandonam as fantasias que
marcavam a comédia antiga, se amenizam as críticas sociais e desaparecem, por decisão
estatal, as alusões diretas a pessoas vivas com o intuito de as satirizar.
Dentre cinquenta ou mais poetas da comédia intermediária cujos nomes
sobreviveram, os mais importantes parecem ter sido Antífanes e Aléxis de Túrios.
Nenhum dos dois era ateniense e a cada um deles a tradição atribui mais de duzentos
dramas. Outros poetas importantes foram Anaxandrides (fl. c. -376) e Êubulo (fl. c. -
370). Antífanes (Esmirna ou Rodes 408 a.C. - 334 a.C., Atenas) foi um grego
dramaturgo dos mais significativos da Comédia Média. Viveu em Atenas durante o
surgimento da "meia comédia”, começou a escrever por volta de 387 a.C. Consta que
sua primeira comédia foi representada em Atenas, o que ocorreu por volta 383 a.C., e
que foi premiado trinta vezes nos concursos cômicos. Restam-nos cerca de 130 títulos e
vários fragmentos de sua obra.

Vale lembrar que o surgimento da comédia só foi possível devido à democracia


conquistada no século V a.C., quando a liberdade de expressão dada aos homens livres
(não se inclui escravos, mulheres e estrangeiros) atingiu um nível nunca mais
conseguido em nenhum outro momento da história política mundial. (talvez nem nos
nossos dias atuais). Apesar de a comédia ser apresentada nas Festas Dionisíacas, lado a
lado com o gênero trágico, vários são os fatores que nos levam à conclusão de que a
comédia era tida como uma arte menor quando comparada à tragédia. Uma das razões
que nos induz a tal afirmativa encontra-se na diferenciação entre o júri responsável por
apreciar a tragédia e o grupo responsável por avaliar as comédias. As obras trágicas
eram julgadas por cidadãos escolhidos pelo arconte (magistrado) entre as famílias
aristocráticas e por pessoas que se destacavam na sociedade ateniense. Ser um
integrante do corpo de júri de uma tragédia denotava uma espécie de distinção e
superioridade. As obras cômicas, por sua vez, possuíam uma forma de escolha dos júris
bem menos elaborada. Apenas sorteavam-se cinco pessoas quaisquer da plateia com a
finalidade de se compor o corpo de jurados.

Comédia Nova / Neo Comédia

O despertar da Comédia Nova do Menandro


Para além de todas as contrariedades e percalços apontados, o que é sabido, de
fato, é que a comédia ganhou cores na Grécia e naquele ambiente passou a possuir dois
marcos fundamentais que se estenderam para a historiografia desse gênero – o primeiro
deles, longínquo, ficou conhecido como Comédia Antiga, que apareceu oficialmente em
486 a.C., durante um grande concurso em Atenas, e teve como principal expoente o
teatrólogo Aristófanes; o segundo, intitulado Comédia Nova, cujo mestre e
representante mais importante foi Menandro.

Vencida por Esparta e governada pelos Trinta Tiranos, Atenas não mais
desfrutou da antiga liberdade política e da prosperidade que dela fizeram a rainha das
comunidades gregas. O teatro sofreu o impacto da modificação e da crise. Empobrecido
o tesouro público, já não era possível arcar com as despesas da organização dos coros,
fator que afetou não somente o gênero cômico como também contribuiu para a
decadência da tragédia. Os concursos públicos perderam a regularidade.

A comédia, na sua fase final, a chamada nova, pôde sobreviver, modificando-se.


A diminuição do papel do coro, que não tem maior relação com a peça. Não mais a
ideia do espaço cênico múltiplo, à maneira das peças aristofanescas, mas do espaço
uniforme, sugerindo ordinariamente, uma rua ou uma praça, com duas casas que se
defrontam e onde residem os personagens principais. Isto era ideal para atender as
exigências da comédia de costumes, pois proporcionavam confronto de duas
"intimidades". A escolha dos temas e o modo de os tratar - o amor e a pintura de
caracteres ocupam o primeiro lugar. Críticas e investidas políticas, que eram tão
frequentes na Comédia Antiga desaparecem. É de notar que este padrão se universalizou
para a comédia, adotado que foi em Roma e revivido no Renascimento.

O mais importante de todos os autores da comédia nova, Menandro


(Ménandros), nasceu em Atenas, em 342 a. C. e faleceu em 292 a.C. Sabe-se ter escrito
mais de uma centena de peças, oito das quais vitoriosas nos concursos de comédias. Seu
prestígio no mundo antigo foi tamanho que o gramático Aristófanes de Bizancio
escreveu a seu respeito no século II: "Ó vida, ó Menandro, qual de vós imitou o outro?"
Durante muito tempo dele só se conheceram fragmentos recuperados muito tardiamente,
a partir do século passado e ainda no presente.

Felizmente, em data muito próxima (1959), foi descoberta uma comédia integral,
Dyskolos (O Rabugento, enc. 317 a. C.), publicada em 1958. Largo trecho de
Epitrépontes (Os Árbitros) já era conhecido, em medida suficiente para situá-lo como a
criação suprema de Menandro. Este, assim como os de Samía, O Herói e Pericirômene,
foram encontrados no Egito em 1905, proporcionando o primeiro convívio mais amplo
com a literatura de Menandro, aumentado em 1963, quando se deparou quase a metade
de O Homem de Sícyon, outra obra sua. Antes de 1905 apenas os fragmentos menores
tinham sido recuperados.

Plauto e Terêncio, os melhores comediógrafos latinos, não somente tomaram a


Menandro entrechos inteiros, como também cenas integrais, apenas vertidas para o
latim com ligeiras alterações.

Menandro, como se notou, foi praticamente o criador da comédia de tipos. Sua


temática envolve aventuras galantes, conflitos de interesses, ocorrências imprevistas.
Seus personagens podem ser definidos pelo padrão de virtude ou vício que os
caracterizava: velhos avarentos, mães complacentes, cortesãs ambiciosas, soldados
fanfarrões, escravos alcoviteiros, aqueles mesmos tipos, em suma, que se estratificaram
na comédia posterior, de Plauto a Moliére.
Aristófanes

Biografia
Aristófanes (gr. Ἀριστοφάνης) é o principal representante da "Comédia Antiga".
Suas comédias, as únicas que chegaram integralmente até nós, são até hoje consideradas
verdadeiras obras-primas do gênero cômico. Os méritos poéticos de Aristófanes, porém,
não foram muito apreciados pelos eruditos alexandrinos — eles conservaram suas
obras, aparentemente, pelo simples fato de serem a fonte mais pura do dialeto ático
antigo.
Pouco se sabe de certo a respeito da vida pessoal de Aristófanes. Grande parte
das informações que chegaram até nós, tem sido desconsiderada cada vez mais pela
crítica moderna. Nasceu por volta de 447 a.C., em Atenas, e seu pai se chamava
Filípides; foi criado provavelmente no meio rural, talvez em uma propriedade na ilha de
Egina. Consta que se tornou careca por volta dos vinte anos, que exerceu um cargo
público — a pritania — no início do século IV a.C., e que teve dois filhos que seguiram
carreira no teatro cômico, Araros e Filipos. Sabe-se que viveu em Atenas durante toda a
sua vida criativa, ou seja, da época em que escreveu sua primeira peça, Os
Banqueteadores (427), até o ano em que escreveu a última, A Riqueza (Plutus, 388). Ele
é mostrado por Platão, no Banquete, como um companheiro agradável, jovial e
divertido. Não se sabe com exatidão a data de sua morte, diz-se que ocorreu entre 385
a.C. e 380 a.C.
Cléon, influente político que se destacou em Atenas após a morte de Péricles
(495 a.C./429 a.C.), foi diretamente satirizado por ele e, segundo a tradição, processou-
o sem sucesso em 426 a.C. Nova sátira, ainda mais pesada, motivou um segundo
processo em 424 a.C., resolvido aparentemente através de acordo fora dos tribunais.

Obras
Aristófanes compôs um total de quarenta peças e obteve nos concursos pelo
menos seis primeiros prêmios e quatro segundos prêmios, porém somente onze
comédias completas sobreviveram até os dias atuais, mas, em compensação, todas
puderam ser datadas de modo razoavelmente preciso:
Os acarnenses (425 a.C.);
Os cavaleiros (424 a.C.);
As nuvens (423 a.C.);
As vespas (422 a.C.);
A paz (421 a.C.);
As aves (414 a.C.);
Lisístrata (411 a.C.);
As tesmoforiantes (411 a.C.);
As rãs (405 a.C.);
As mulheres na Assembleia (392 a.C.);
Pluto (388 a.C.).

Características das obras


As comédias anteriores a 400 a.C. mostram duas preocupações básicas: fazer o
público rir e criticar as instituições políticas e intelectuais da Atenas daquela época. E,
em meio à linguagem viva e pitoresca dos diálogos, também estão presentes trechos de
grande beleza poética, notadamente nas odes corais.
Todos os recursos cômicos imagináveis foram usados com grande maestria pelo
poeta, desde a sátira mais grotesca até a malícia mais sutil: situações ridículas, cenas
fantásticas, personagens alegóricos, caricaturas de personagens humanos reais e de
deuses, pilhérias, ironias, jogo de palavras, trocadilhos, mal-entendidos, exageros,
substituição de palavras esperadas por outras inesperadas, palavras compridas, paródias
(de autores trágicos, principalmente), neologismos, provérbios...
Aristófanes recorria também com frequência à licenciosidade e à obscenidade, o
que sem dúvida pode chocar os desavisados leitores modernos. Não se deve, no entanto,
esquecer que o pudor de nossos tempos se desenvolveu somente nos últimos 200 anos, e
que os antigos encaravam com muito mais naturalidade esse tipo de gracejo. Além
disso, as festas dionisíacas que originaram a comédia derivaram de antigos rituais de
fertilidade em que o elemento sexual era componente relevante.
As críticas de Aristófanes atingiam a tudo e a todos. Chefes políticos, a
Assembleia, os tribunais e os juízes, os militares, os poetas trágicos, os poetas cômicos,
os filósofos, o povo em geral, os velhos, os jovens, as mulheres... ninguém escapou de
sua verve. As intenções morais por trás das críticas eram, porém, muito sérias: o poeta
defendia sempre os valores antigos, a vida rural e, em especial, a paz — tão desejável
durante a Guerra do Peloponeso. Aristófanes gostava de dirigir sua habilidade artística
para a política corrente; adorava terçar armas com os grandes homens de sua época,
crivando de flechas venenosas, como que num show de gracejos maliciosos num cabaré,
seus calcanhares de Aquiles. As obscenidades com as quais o "impudente favorito das
Graças" empreendia seu trabalho de "castigar o povo e os homens poderosos", as rudes
piadas fálicas, os coros de pássaros, rãs e nuvens - tudo vale-se da herança cultual das
desenfreadas orgias satíricas, das danças animais e das festas de colheita. Aristófanes
via a si mesmo como o defensor dos deuses - "pois foram os deuses de nossos pais que
lhes deram a fama" - e como o acusador das tendências subversivas e demagógicas na
política e na filosofia de Atenas. Ele acusava os filósofos de "arrogante desprezo pelo
povo" e os denunciava como ateus obscurantistas - todos eles e especialmente Sócrates.
Nas duas últimas comédias, Mulheres na Assembleia e Pluto, nota-se uma
redução expressiva das partes corais, o desaparecimento da sátira política e uma
importante atenuação da sátira pessoal, o que coloca ambas no terreno da "Comédia
Intermediária" ou “Comédia Média” ou, pelo menos, em pleno período de transição.
Cada uma de suas peças é porta-voz de urna ideia apaixonada, pela qual o autor
batalha com impetuosa militância. Na obra de Aristófanes, passagens de agressividade
crua alternam-se com estrofes corais da mais alta beleza lírica. Subjacente à sua ironia
mordaz e às suas alfinetadas de escárnio havia uma preocupação premente com a
democracia. Ele sustentava que o seu destino somente poder ia ser confiado a pessoas
de inteligência superior e de integridade moral. De maneira similar, fez pressão para que
a guerra fratricida entre Atenas e Esparta chegasse ao fim. Em A Paz, o lavrador Trigeu
voa até os céus no dorso de um enorme besouro-de-esterco a fim de pedir aos deuses
que libertem a deusa da paz, prisioneira em uma caverna. Na "terra-cuco-nuvem" de Os
Pássaros, ele parodia as fraquezas da democracia e de uma religião popular utilitária.
Em Lisistrata, apresenta as mulheres de Atenas e Esparta resolvidas a não se entregar
aos belicosos maridos até que estes finalmente estejam prontos a fazer a paz. Não
apenas um ator individual, mas também o coro, podiam dirigir-se diretamente à plateia.
Com essa finalidade, a comédia antiga desenvolvera a parabasis, um expediente formal
específico de que Aristófanes fez uso magistral. No final do primeiro ato, o coro deveria
tirar suas máscaras e caminhar até a frente, na extremidade da orchestra, para dirigir-se
à plateia. "Mas vós, fastidiosos juízes de todos os dons das Musas, emprestai vossos
graciosos ouvidos à nossa festiva e anapéstica canção!" Seguia-se, então, uma polêmica
versão das opiniões do autor a respeito de acontecimentos locais, controvérsias políticas
e pessoais e, não menos importante, uma tentativa de captar a simpatia do público por
sua obra. A parabasis podia ser igualmente usada para justificar, desmentir ou retratar
algum acontecimento recentemente ocorrido. Depois de Cléon conseguir vingar-se por
ter sido satirizado em Os Cavaleiros, fazendo Aristófanes aparecer como personagem
numa peça teatral em que é surrado, o poeta referiu-se ao incidente na parabasis de As
Vespas: "Quando os golpes caíram sobre mim, bem que os espectadores riram": ele,
então, admitiu haver tentado um pouco captar a simpatia de Cléon, por razões
diplomáticas, mas afirmou tê-lo feito apenas para atacá-lo tanto mais mordazmente no
futuro.

Contexto Histórico
Na época de Aristófanes, a comédia em Atenas, além de divertir, correspondia
de certo modo à imprensa de hoje. Nela eram objeto de crítica as instituições políticas
de um modo geral e principalmente a corrupção dos políticos, os abusos de autoridade,
as peças de teatro, os próprios autores, etc. A linguagem da comédia era desabrida e
contundente, muito diferente daquela da tragédia, à exceção do lirismo de alguns coros
encantadores. Havia comunicação direta entre o autor e os espectadores, usando-se o
corifeu (em vez do autor), que se dirigia à plateia na parabasis (salvo as últimas peças
que, em função dos governos discricionários impostos após a derrota dos atenienses
pelos espartanos, não tinham esta parte).
A comédia grega, ao contrário da tragédia, não tem um ponto culminante, mas
dois. O primeiro se deve a Aristófanes e acompanha o cimo da tragédia nas últimas
décadas dos grandes trágicos Sófocles e Eurípedes; o segundo pico da comédia grega
ocorreu no período helenístico com Menandro, que novamente deu a ela importância
histórica. A comédia sempre foi uma forma de arte intelectual e formal independente.
Deixando de lado as peças satíricas, nenhum dos poetas trágicos da Grécia
aventurou-se na comédia, como nenhum dos poetas cômicos escreveu uma tragédia.
Platão, em seu Banquete, em vão defendeu uma união dos dois grandes ramos da arte
dramática. Ele concluiu com a informação de que Sócrates, certa vez, tentou, até tarde
da noite, persuadir Ágaton e Aristófanes de que "o mesmo homem podia ser capaz de
escrever comédia e tragédia", e de que um "verdadeiro poeta trágico é também um poeta
cômico". Os dois outros admitiram isso, mas "não seguiram com muita atenção, por
estarem com sono. Aristófanes foi dormir primeiro e, em seguida, quando o dia estava
nascendo, também Ágaton". Houvesse concordado com Sócrates à noite, com certeza
teria mudado de ideia à luz do dia: tal união seria, para ele, como uma ducha fria.
O concurso de comédias, que acontecia em parte no festival das Leneias e em
parte na Grande Dionisíaca de Atenas, não era, como o concurso trágico, uma prova de
força pacífica. Era um tilintante cruzar de espadas, em que cada autor afiava a sua
lâmina no sucesso do outro. Atores tornavam-se autores, autores escondiam-se por trás
de atores. Quando Aristófanes inscreveu Os Banqueteadores, em 427 a.C., ele o fez sob
o pseudônimo de Filonides, nome de um ator seu amigo (possivelmente porque era
muito jovem para competir no agon) e o mesmo Filonides emprestou-lhe o nome outra
vez, vinte e cinco anos mais tarde, para As Rãs.
Os quatro grandes rivais em polêmica e veneno, da comédia antiga, eram todos
atenienses: Crates, Cratino, Eupólide e, sobreluzindo a todos os outros em fama, gênio,
perspicácia e malícia, Aristófanes. Quando seu mestre Cratino, então com noventa e seis
anos, e o jovem Aristófanes, de vinte e um, envolveram-se pela primeira vez em batalha
teatral aberta, Crates já estava morto. Aristófanes, em Os Cavaleiros (cujo título grego é
Hipes, que significa mais precisamente "tratadores de cavalos"), apresentada em 424
a.C.; houve por bem implicar com o velho Cratino, acusando-o publicamente de
senilidade e elogiando os méritos do alegre Crates. Cratino havia provocado este
insulto, descrevendo Aristófanes, em cena, como um imitador de Eupólide.
Eupólide, que ganhou o primeiro prêmio sete vezes, tinha a mesma idade de
Aristófanes e foi, no início, seu amigo íntimo. Na época de sua amizade, os dois sempre
trabalhavam em conjunto, porém mais tarde ambos se acusaram mutuamente de plágio.
Brigas, no domínio da comédia, eram um constante ponto de partida; falando sobre Os
Cavaleiros, Eupólide declarou mais tarde, em urna de suas comédias, que tinha "ajudado
o careca Aristófanes a escrevê-la e a havia presenteado a ele". Por sua vez, Cratino, um
homem famoso por sua sede e suas copiosas libações em homenagem a Dioniso,
também teve a sua vingança. Aos noventa e nove anos, mantinha os ridentes ao seu
lado. Em sua comédia A Garrafa, descreve como duas damas competem entre si por
seus favores - sua esposa legítima, Madame Garrafa, e sua amante, Mademoiselle
Frasco. Com uma piscadela, ele se livra do apuro com a moita dos artistas dionisíacos:
"Aquele que bebe água não chega a lugar algum". Aristófanes teve de engolir a pílula
amarga; o "velho beberrão", na verdade, ainda desfrutava dos favores do público e dos
juízes. Em 423 a.C., Cratino ganhou o primeiro prêmio com A Garrafa, contra As
Nuvens, de Aristófanes, que ficou em terceiro lugar. A respeito desta mesma obra, As
Nuvens - famosa, ou famigerada, por seus ferozes ataques a Sócrates (que foram
subsequentemente suavizados) - Platão relata que, na opinião de Sócrates, ela havia
influenciado o júri na ocasião de seu julgamento. O teatro era o fórum onde eram
travadas as mais veementes controvérsias.
Os espetáculos da Comédia Antiga aconteciam no edifício teatral, com suas
paredes de madeira pintadas e painéis de tecido, enquanto o coro, como na tragédia
clássica, ficava na orchestra. Para cenas de "transporte aéreo", usava-se o teto da skene,
como, por exemplo, em Os Acarnianos, As Nuvens e em A Paz. Quando Trigeu voa até
o céu em seu besouro com a ajuda do guindaste, ele pede ansiosamente ao maquinista:
"por favor, tenha cuidado comigo". A cena seguinte, com Hermes diante do palácio de
Zeus, acontece no theologeion, enquanto a subsequente libertação da deusa da paz da
caverna onde está encerrada é deslocada novamente para o palco usual do proskenion.
As máscaras da Comédia Antiga vão desde as grotescas cabeças de animais até os
retratos caricaturais. Quando houve necessidade de uma máscara de Cléon para Os
Cavaleiros, conta-se que nenhum artesão quis fazer uma. Pela primeira vez, ao que
parecia, o medo da cólera da vítima projetava a sua sombra sobre a liberdade
democrática do teatro. O ator que interpretava Cléon surgiu sem máscara, com o rosto
simplesmente pintado de vermelho. Pensa-se que o próprio Aristófanes tenha feito o
papel - possivelmente uma razão a mais para a surra que recebeu logo depois. Em A
Assembleia das Mulheres, Aristófanes faz seus atores, que interpretam as mulheres de
Atenas marchando para a Assembleia, "disfarçarem-se" de homens, com barbas falsas e
pesadas botas espartanas, para reivindicar a entrega do poder do Estado às mulheres.
Isso é visto como o clímax da ambiguidade descaradamente grotesca. Máscaras de
animais, danças e efeitos de travestimento, completa falta de reservas no tocante a
gestos, figurinos e imitação e, por fim, a exposição do falo, são traços característicos do
estilo de atuação da Comédia Antiga.
Na época de Cléon havia uma razão muito concreta e política para que as
comédias fossem levadas principalmente no festival das Leneias. Poucos navios
desafiavam o tempestuoso inverno, e somente em março traziam um influxo de
visitantes estrangeiros a Atenas para as Grandes Dionisíacas. Como é facilmente
compreensível, Cléon estava ansioso por manter o desmascarante duelo de comédias
reservado "aos atenienses entre si". Aristófanes, por sua vez, considerava que era um
esplêndido bastão para espancar "o filho de um curtidor de couro, desencaminhador do
povo", conforme testemunha a seguinte passagem de Os Acarnianos:

Nem mesmo Cléon pode repreender-me agora/ Por ter difamado o Estado
diante de estrangeiros. / Estamos entre nós nessa ocasião. / Os estrangeiros
não vieram até agora, os tributários / Não chegaram, nossos confederados não
estão aqui. / Somos aqui o mais puro grão ético. / Não há palha entre nós,
nem colonos escravos. (in BERTHOLD, 2011, p. 124)

Nestas linhas, Aristófanes escondia também um triunfo pessoal. Um ano antes,


Cléon havia movido uma ação contra ele, acusando-o de insulto às autoridades e de
denegrir o Estado diante de estrangeiros, por causa de Os Babilônios. Porém, a
democracia ateniense fez justiça ao demos, a decisão do povo: a queixa de Cléon foi
rejeitada, e a arte da comédia triunfou.

Menandro
343 a.C. - 291 a.C.
Biografia
Menandro, homem que, precocemente, aos 24 anos de idade, erguera o título de
comediógrafo pelo reconhecimento de suas habilidades teatrais, já em meados de 317
a.C. Nasceu em Atenas, versões dizem que pertenceu a uma rica família ateniense,
recebeu educação bem cuidada e acredita-se que tenha sido pupilo de Teofrasto, filósofo
da Grécia Antiga, homem cujas habilidades dramáticas teriam sido
apreendidas/herdadas por Menandro e que o influenciou, fazendo do comediógrafo um
escritor atuante, que teria desenvolvido, de próprio punho, mais de cem peças, sendo a
mais conhecida de todas elas a intitulada “O Misantropo”.

Menandro nunca deixou Atenas e sua vila no Pireu onde vivia com sua amante
Glicera. Homem culto, Menandro não foi reconhecido pelos atenienses como um grande
autor em sua época, mas foi na posteridade que lhe chegaram os louros e o
reconhecimento. As condições políticas vigentes em Atenas na época de Menandro não
mais permitiam a sátira às instituições e homens públicos, característica da Comédia
Antiga. Assim, os temas principais da comédia de Menandro são viagens, disputas
familiares e amores clandestinos. Nos festivais, ele costumava perder para Philemon,
que era muito inferior como escritor, mas que usava de suborno, influência e suporte
político para vencê-lo; uma vez, quando se encontraram, Menandro perguntou se
Philemon não ficava vermelho de vergonha quando o vencia.

A grande fama atribuída a Menandro se deve, especialmente, ao engenho e à


criatividade do comediógrafo na condução de suas personagens – travestidos
poeticamente de sentimentos, pintavam motivações e personalidades diversas, itens aos
quais Aristófanes, em sua Antiga Comédia, decerto enjeitaria se, na época, ele ainda
estivesse vivo. Diz-se que Menandro começou, de fato, cedo a sua produção teatral,
escrevendo tímidas peças em meados da Comédia Média. Entretanto, logo o jovem teria
se destacado na arte, tendo ele ganhado cerca de oito prêmios nos grandes duelos de
comediógrafos que eram realizados em sua cidade, Atenas, tendo perdido muitas outras
premiações devido ao tardio e póstumo reconhecimento de sua produção.

Ele assinala assim um segundo ápice da comédia da Antiguidade: a Neo (nova)


Comédia. A Comédia Antiga carregou, no decorrer de sua existência, aparatos
dramáticos que mantinham relações diretas ou indiretas com as questões políticas da
sociedade ateniense. A Comédia Nova não. Com esse novo modelo de peça, os
representantes desse tipo de comédia dispunham de temáticas e de motivações que não
tinham por objetivos pensar ou repensar a política local, mas que se focavam
basicamente na figura do homem, fazendo vir à tona os seus comportamentos, as suas
relações, as suas paixões e as suas condições sociais.

Mesmo privado de vitórias nas competições de comédias (as chamadas “agons”


dramáticas), em vida, Menandro parecia não ter a projeção que se tornaria, futuramente,
peça-chave para a historiografia teatral, mas, ainda assim, naqueles tempos, o
comediógrafo já exercia certo fascínio em seus seguidores coletâneos, pois a sua
produção teatral o fizera respeitável, independentemente dos insucessos nos duelos
dramáticos tão comumente travados na polis ateniense. É sabido que os romanos Plauto
e Terêncio demonstraram em suas produções serem leitores ávidos e também seguidores
do mestre da Nova Comédia Grega, tendo eles composto peças teatrais muito
semelhantes às criadas por Menandro, que, aos poucos, firmava-se como um autor que
suscitaria muitas críticas, mas também – e principalmente – elogios (ainda que alguns,
exagerados) ao seu estilo inconfundivelmente elegante e comedido.

Assim, o que se pode notar nas poucas obras escritas pelo autor de O Misantropo
é que não há em sua comediografia espaço para relações homoeróticas – o que se
observa, aliás, é que essa escolha do comediógrafo remete a uma antiga tradição
literária de retratar o amor entre homens e mulheres que por vezes passam pelos mais
diversos obstáculos para vivenciá-lo – o que não significa afirmar propriamente que o
destino dado ao amor na sociedade ateniense da época coincida com a escolha da
temática do casamento por parte de Menandro, ainda que o tratamento renegado à figura
da mulher, em suas obras, como em todas as peças produzidas durante a Neo Comédia,
seja bastante equiparado ao comportamento feminino da época.

Sobre a Morte de Menandro


Dizem que viveu até os seus 52 anos. A única informação encontrada em um
website diz que “a tradição registra que Menandro teria sido afogado enquanto nadava
no porto de Piraeus”.

Sobre suas Obras


De Menandro, os papiros egípcios nos devolveram a partir dos fins do século
XIX muitos fragmentos, sendo o mais longo o da comédia “Epitrépontes”, A
Arbitragem, cerca de 750 versos, mas faltava uma peça inteira, para que se pudesse
aquilatar mais concretamente o valor do poeta ateniense. Felizmente, em março de
1959, foi publicada a primeira peça completa da Comédia Nova Grega. Tendo sido
encontrada em conservado papiro do século III d.C., a supracitada comédia de
publicação completa e relativamente recente é a “Dyskolos”, O Misantropo – a mais
conhecida peça teatral do perspicaz Menandro, cuja primeira edição datou de 1959 (data
legítima do aparecimento da obra). As restantes comédias de Menandro, de que nos
restam fragmentos mais significativos, são, além da já citada [em referência à peça A
Arbitragem], O Citarista, O Herói, O Espectro, A mulher de Samos, O Camponês, O
Bajulador, A mulher de cabelos cortados. Fora estas, existem outros diversos
fragmentos.
Mudança na estrutura da Comédia
Estrutura em 5 atos

Uma outra polêmica também surge no decorrer dos estudos acerca do material
crítico-teórico envolvendo a comediografia de Menandro e se relaciona exatamente à
segmentação das suas comédias em cinco atos – divisão, aliás, que possibilitou aos
estudiosos a comparação da estrutura da Comédia Nova ao drama romano. A
controvérsia sugerida é a de que as peças sejam todas elas divididas em cinco atos.

Alteração no Palco

Como os atores não entravam vindos da orquestra, a forma do palco foi alterada.
As cenas mais importantes eram agora apresentadas no logeion, uma plataforma diante
da skene de dois andares. A comédia de caracteres, com suas escritas e nuanças
individuais de diálogo, exigia a atuação conjunta mais concentrada dos atores, bem
como um contato mais estreito entre o palco e a plateia. (BERTHOLD, 2006, p. 129)

As máscaras

Quanto a utilização da máscara, a Comédia Nova evitou a rigidez obrigatória de


uso dessa peça-chave que compunha a tradição do teatro greco-latino e que se tornara
recurso constante nas encenações anteriores à Neo Comédia, mas não a aboliu de vez,
apenas incorporando à máscara grega certo refinamento em sua composição – o que a
fez comparada à maquiagem teatral dos tempos modernos (GASSNER, 2007, p. 108).
Para alguns estudiosos, as peças de Menandro seguem intrigas cômicas que se
aproximam do melodramático. No entanto, a gargalhada desmedida, o exagero no
âmbito dos usos da linguagem, a vulgaridade, a pornografia e/ou os apelos que remetem
a quaisquer tipos de descompostura são atitudes que não cabem na sua comediografia,
pois o teatrólogo da Nova Comédia possui “sensibilidade requintada, compraz-se em
delicadezas sutis”. (MAGALDI, 2001, p. 45).

O Prólogo Onisciente

O emprego do prólogo onisciente – que é uma espécie de “prefácio” (PAVIS,


1999, p. 308) da peça e consiste na anunciação de temáticas importantes constitutivas
das ações por parte do autor (ou do diretor), fornecendo ao público dados de extrema
importância para uma compreensão mais “eficaz” da encenação – constitui-se como
uma marca registrada na Comédia Nova e, portanto, nas comédias de Menandro
também (há quem afirme que o prólogo seja uma influência de Eurípedes, que o
utilizava por motivações puramente didáticas), que fazia uso desse notável recurso para
deixar o público mais inteirado acerca das temáticas a serem representadas pelos atores
no espaço cênico:

“O prólogo onisciente [...] representa, a nosso ver, uma lição estética


admirável da dramaturgia grega: não importa a intriga, em si, mas a forma
pela qual o escritor a desenvolve. Talvez, por conhecer de antemão os
episódios, a plateia apreciasse com maior deleite a mestria artística do
comediógrafo.” (MAGALDI, 2001, p. 46)

O criador de Misantropo também influenciou outros dramaturgos não só em


vida, como – e também – muitos séculos após a sua morte e, por incrível que pareça,
ainda é lembrado por meio de releituras de suas obras em montagens e encenações
relativamente recentes em várias línguas e em muitas partes do mundo

Referências Bibliográficas

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Jorge Zahar, 3ª ed., 2004
BERTHOLD, M. História Mundial do Teatro. Editora Perspectiva, 5ª ed., 2011
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