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AULA SOBRE CARL SCHMITT:

1 - Sobre Carl Schmitt:

Carl Schmitt foi um jurista, filósofo político e professor universitário alemão.


Nasceu em 1888, na cidade de Plettenberg, na Alemanha, numa família católica. Schmitt
era um praticante fiel do catolicismo. Ele faleceu em 1985.

Carl Schmitt é uma das figuras mais significativas e controvertidas da filosofia


política e jurídica europeia do século XX. Seu nome e sua obra são associados, do ponto
de vista ideológico-político, a seu comprometimento com o regime nazista e, do ponto
de vista mais estritamente doutrinário, ao chamado “decisionismo”.

Alguns biógrafos do Carl Schmitt dizem que ele somente se filiou ao Partido
Nazista por uma questão de vaidade acadêmica sem realmente defender a ideologia
nazista. Interessante que, depois da 2º Guerra, ele nunca mais conseguiu uma cátedra
em nenhuma universidade. Mesmo assim, diante da importância da sua obra ele manteve
e continuou angariando um grande número de seguidores. Hoje, há no Brasil e no mundo,
seguidores de Schmitt tanto de esquerda quanto de direita.

Schmitt, inicialmente, defendeu que os PARTIDOS NAZISTA e COMUNISTA


eram uma ameaça. Depois, passou a ser um dos teóricos da sustentação do nazismo. Em
abril de 1933, a convite de Heidegger, Schmitt se filia ao Partido Nazista. A partir de
então, o antissemitismo e a ideologia nazista marcam a obra de Schmitt.

Interessante que suas ideias eram consideradas demasiadamente conservadoras


para a tendência populista de outros juristas que apoiavam o regime nazista.

Schmitt tinha admiração pelo governo fascista de Mussolini. Para ele, o fascismo
tinha como objetivo heroico conservar a unidade nacional frente ao pluralismo dos
interesses econômicos.

Defendia, pois, um Estado forte e centralizado no Presidente (ou Ditador), o


conservadorismo, o ultra-nacionalismo e o anti-liberalismo. Pregava o fim da
separação dos poderes e o fim do Parlamento.

A República de Weimar (é a designação histórica pela qual é conhecida a


república estabelecida na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial e que durou até ao
início do regime nazista, em 1933) estabelecida com o fim da primeira guerra sofreu
constantes crises políticas e econômicas, o que explica a obsessão de Schmitt com a
retomada da soberania estatal da Alemanha, frente à ameaça da fragmentação de seu
território.

2 - Obras:

Sua primeira obra de relevo é de 1919, chamada “Romantismo Político”. Outras


destacadas obras da década de 1920 são a “Teologia Política”, de 1922, “O Conceito do
Político”, de 1927, e a “Teoria da Constituição”, de 1928. Depois da segunda guerra ele
trabalha mais com o direito internacional, escrevendo o livro “Teologia Política II”.
3 - Contrariedade ao positivismo normativo (Kelsen):

Em função do seu conservadorismo e seu catolicismo radical, Schmitt é um dos


maiores opositores ao pensamento liberal e ao positivismo normativista na primeira
metade do século XX.

Ele teve como um dos seus principais rivais o judeu Hans Kelsen. Com Kelsen,
Schmitt travou o famoso debate sobre quem deveria ser o Guardião da Constituição.
Para Schmitt, a Guarda da Constituição era uma função de natureza política, e não
jurídica, e, portanto, somente o presidente do Reich poderia desempenhar essa função, e,
com a rápida ascensão do Partido Nazista, em pouco tempo o presidente do Reich passaria
a ser Adolf Hitler. Para Kelsen, a Guarda da Constituição deve ser desempenhada por
um Tribunal Constitucional, formado por magistrados, profissionais preparados, o que
garantiria uma maior imparcialidade nas decisões, especialmente quando se tratasse de
minorias ou de questões relacionadas a opositores do governo.

Schmitt, demonstrando ser contra o positivismo normativista, defende que a


PRÁTICA JURÍDICA é a verdadeira medida da decisão justa, não o parâmetro dado
exclusivamente pela norma jurídica. É que o ordenamento jurídico se vale de diversos
conceitos jurídicos indeterminados, que somente na prática podem ser concretizados.
Schmitt é um crítico dos conceitos jurídicos indeterminados.

Daí decorre a oposição entre a IDENTIFICAÇÃO DE DIREITO E ESTADO


DE KELSEN e a SUPERAÇÃO DO DIREITO PELO ESTADO EM SCHMITT, que
afirmava que o Estado pode suspender o direito independente de qualquer vínculo
normativo, pois é decisão pura, absoluta, para a sua própria auto conservação.

Assim, para Schmitt, o Estado é anterior à constituição (em Kelsen são


simultâneos), pois primeiro há uma unidade política soberana. A partir dela se faz a
Constituição.

Schmitt afirmava a primazia do existencial e fático sobre o normativo e


defendia a predominância do político sobre o jurídico.

4 – Teoria decisionista da soberania:

“Decisionismo” é uma posição teórica segundo a qual o fundamento da soberania


do Estado não repousa na impessoalidade da lei, mas em uma decisão originária.

O livro “Teologia Política” começa com uma famosa definição de Schmitt:


"Soberano é quem decide sobre o estado de exceção". É nessa obra que Schmitt expõe de
forma concreta sua teoria decisionista da soberania.

O título do livro deriva da definição de Schmitt de que "todos os conceitos


significantes da teoria moderna do Estado são conceitos teológicos secularizados". Em
outras palavras, a teoria política dirige o Estado da mesma maneira que a teologia faz
com Deus. Para Schmitt “o Deus onipotente se converteu no legislador onipotente”.

Onofre fala que o Harari, no livro “Sapiens”, todos esses sistemas econômicos,
como o capitalismo ou o comunismo, são nada mais que religiões.
Schmitt tem uma preferência teórica pela decisão em face da norma. Ele
sustenta que a preferência pela decisão se fundamenta na prioridade “existencial” do
Estado. “A existência do Estado mantém uma indubitável superioridade sobre a validade
da norma jurídica. A decisão liberta-se de qualquer ligação normativa e torna-se, num
certo sentido, absoluta.”

5 - O papel central da “Exceção”:

A exceção em Schmitt desempenha elemento central. Exceção é a supressão da


ordem jurídica. É uma situação de desordem.

Para Schmitt, somente diante da excepcionalidade pode-se vislumbrar quem é o


soberano, pois é justamente o soberano quem declara o estado ou situação de exceção.

Schmitt definiu SOBERANIA como o “poder de decidir a instauração do estado


de exceção”.

Schmitt defende que a decisão provém da excepcionalidade, não da


normatividade, atacando, assim, uma das bases do liberalismo, que é o limite da
atuação do Estado dado pela norma jurídica válida.

Schmitt naõ reconhece o estado de exceçaõ entre os institutos do Direito


Constitucional, sendo antes uma situação. O estado de exceçaõ , por sua própria
natureza, não pode ser previsto e regulado pelo direito. Não existe, pois, qualquer
parâmetro para se identificar, antecipadamente, uma determinada situação como
excepcional.

No estado de exceção, Schmitt defende livrar o soberano de qualquer restrição


legal ao seu poder.

6 - A defesa da ditadura:

Para SCHMITT, o DIREITO é um meio para atingir um fim que é o existir da


sociedade. Se o DIREITO não é capaz de, numa dada situação, salvar a sociedade,
intervirá a FORÇA, que deve salvar o Estado. Para ele, a DITADURA se justifica para
realizar o DIREITO.

A AUTORIDADE SUPREMA está juridicamente em condição de suspender o


Direito e autorizar uma Ditadura. A esfera de ação do DITADOR é incondicionada,
devendo este eliminar os obstáculos à efetivação do Direito. O fim do ditador e do
direito é o mesmo.

A DITADURA é necessária face à impossibilidade de contemplação


apriorística de toda realidade factual no plano do DIREITO.

Para Schmitt há dois tipos de ditadura:

(a) a DITADURA COMISSÁRIA: visa restabelecer uma ordem jurídica


existente;
(b) a DITADURA SOBERANA: visa estabelecer uma nova ordem jurídica (ab-
rogação da constituição vigente).

Carl Schmitt é um defensor de um Estado forte. Os direitos individuais não


poderiam se sobrepor à autoridade do Estado. Defende a possibilidade de ingerência
estatal ampla na vida dos cidadãos. Para ele, o Estado não é limitado pela norma criada
pelos indivíduos, porque os indivíduos não possuem autonomia privada frente ao Estado.

7 - A ideia democrática:

DEMOCRACIA para SCHMITT é a identidade entre dominadores e dominados,


entre governantes e governados, entre os que mandam e os que obedecem. Nesse sentido,
a igualdade substancial é um requisito essencial da DEMOCRACIA.

Assim, na DEMOCRACIA PURA há identidade do povo consigo mesmo e


nenhuma representação.

Para SCHMITT, a ideia de representação entra em choque com a ideia de


identidade, essencial para o princípio democrático. A democracia representativa,
assim, não é uma forma de democracia.

SCHMITT entendia que a democracia deveria contar com meios efetivos


contra aqueles que a colocavam em risco, mesmo que, para tanto, fosse necessário
sobrepor-se à lei e aos direitos fundamentais. A resposta viria do poder de decidir do
soberano em uma situação de excepcionalidade. Nesses casos, a ação sequer seria
ilegal, pois, para SCHMITT, o soberano estaria agindo, na excepcionalidade, para
restabelecer as condições de existência da normalidade do Direito.

O soberano poderia até MATAR, se necessário fosse, mesmo atuando em


contrariedade à norma legal que veda o homicídio. Não haveria, nesses casos,
antijuridicidade, porque a medida seria necessária.

Para Schmitt, a democracia tem como fundamentos a unidade e a


homogeneidade do tecido social. Ele defende a erradicação do heterogêneo a partir
das discussões a propósito da noção de amigo-inimigo.

Schmitt nega a uma sociedade politicamente pluralista a qualidade de


democrática.

8 - Críticas ao parlamentarismo:

Schmitt se opunha ao parlamentarismo, que, para ele, leva à divisão das forças
políticas e à incapacidade para decidir.

O PARLAMENTARISMO, para SCHMITT, tem como princípios fundamentais


a discussão pública e a publicidade.
No entanto, as posições dos parlamentares vêm prefixadas pelo PARTIDO
(que coage o deputado a decidir conforme seus interesses). O que se tem, assim, são
negociações entre classes representadas nos PARTIDOS e não discussão pública.

A publicidade também não existe, porque as decisões políticas são tomadas nas
reuniões confidenciais do partido, ou por acordos entre lideranças.

Para Schmitt, o sistema de representação parlamentar perdeu seu fundamento e


credibilidade ao excluir o cidadão de suas discussões que ficam restritas às comissões
fechadas, abandonando assim o ser público da decisão política. Desta maneira,
parlamentarismo e democracia se opõem. O parlamentarismo, pela sua forma, exclui
as minorias do poder, enquanto a democracia busca contemplar a todos.

SCHMITT defende, pois, a suspensão da atividade parlamentar e a


concentração das funções legislativas nas mãos do Presidente do Reich. Para ele,
apenas uma ordem autoritária poderia fazer frente às ameaças ao governo.

Para Schmitt, um ditador forte poderia encarnar a vontade popular mais


efetivamente que um corpo legislativo, como pode ser mais decisivo, considerando
que parlamentares inevitavelmente envolvem discussões e compromissos.

9 - Amigo x Inimigo:

SCHMITT insere um elemento adversarial como base de seu pensamento (amigo


x inimigo). Ele compreende a POLÍTICA a partir da noção adversarial da relação amigo-
inimigo. Para SCHMITT, o antagonismo é decisivo para a construção da identidade
(não há espaço para a alteridade, para o reconhecimento do outro).

Para ele, a unidade política não poderia ser universal “no sentido de uma
unidade englobando toda a humanidade e toda a terra”, pois se tal ocorresse “não
existiria mais nem política e nem Estado”.

O inimigo não é um criminoso, não é feio ou bonito, bom ou mau, tampouco um


concorrente econômico. Inimigo é o inimigo público.

Tendo o inimigo também uma perspectiva ontológica, cabe ao soberano


identificá-lo. Soberania é a capacidade de definir o amigo e o inimigo.

Todos aqueles que ameaçam a unidade e a homogeneidade, devem ser


identificados como inimigos políticos.

Schmitt – pelo menos o dos escritos dos anos 20 – não pretende a erradicação
total do inimigo, mas sim a sua neutralização. Sua aniquilaçaõ significaria a dispersaõ
– e, em seguida, a destruiçaõ – do grupo dos amigos, o qual só ganha identidade em sua
relaçaõ conflituosa com o inimigo.

Um dos erros do Estado Liberal – que Schmitt chama, com maior precisaõ , de
Estado Legislativo Parlamentar – é o tratamento dedicado aos seus inimigos, os quais,
mesmo que se lhe oponham, saõ tidos como cidadaõ s abstratos titulares de direitos
inalienáveis. Tal revela o caráter estruturalmente indeciso do Estado Liberal, incapaz
de diferenciar entre amigos e inimigos e, por conseguinte, de se defender.

Em sua indecisaõ , o Estado Liberal se caracteriza por lutar contra a luta. De fato,
o Estado Liberal naõ pretende construir a ordem pela exclusaõ do inimigo, vendo todos
seus cidadaõ s como “amigos em potencial”, obrigando-se assim a criar uma ordem
institucional ampla o bastante para conter desde ateus até muçulmanos xiitas, do
miserável ao plutocrata, do pacifista ao neonazista.

A única maneira de superar essa desagregação e descentralização da decisão


– e, com isso, a perda do político – seria a sua monopolização por parte do Estado.
Segundo Schmitt, o polit́ ico naõ pode ser abandonado ao livre jogo das forças privadas,
sejam elas partidárias ou econômicas.

Concepções sociológica, política e jurídica:

Concepção Sociológica: Proposta por Ferdinand Lassalle. Para Lassalle havia uma
Constituição real (é a soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada nação)
e uma Constituição escrita (CR/88 - para Lassalle, uma constituição escrita não passa de
uma folha de papel).

Concepção Jurídica ou concepção puramente normativa da Constituição: Hans


Kelsen – “Teoria Pura do Direito”. A Constituição é puro dever-ser, norma pura, não
devendo buscar seu fundamento na filosofia, na sociologia ou na política, mas na própria
ciência jurídica. Constituição é entendida no sentido: a) lógico-jurídico: norma
fundamental hipotética; e b) jurídico-positivo: é a norma feita pelo poder constituinte,
que fundamenta todo o ordenamento jurídico. Dessa concepção nasce a ideia de
supremacia formal constitucional e controle de constitucionalidade. Para ele nunca se
pode entender o direito como fato social, mas sim como norma.

10 - Concepção política da Constituição:

Defendida por Carl Schmitt no livro “Teoria da Constituição”. Na concepção


política da Constituição se busca o fundamento da Constituição na decisão política
fundamental que antecede a sua elaboração.

Constituição x Lei Constitucional: O autor diferencia Constituição de Lei


Constitucional. A Constituição traz as normas que decorrem da decisão política
fundamental, normas estruturantes do Estado, que nunca poderão ser reformadas. A Lei
Constitucional será a que estiver no texto escrito, mas não for decisão política
fundamental.

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