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A ENCALHADA

DE: FRANCISCO FERREIRA SANTANA

Granito-PE

2004

PERSONAGENS

1. Sá Zefinha - Ithayane
2. Orelia - vitória
3. Morena - Sarah
4. Edelzuita - Mithiele
5. Neném - Janiele
6. Rosinha - Ana Klécia
7. Joquinha - Lucas
8. Maricota - Leticia
9. Mariquita - Bruna
10. Zé de Mariô - Luan
11. Raimundo Jacó - João Vitor
12. Dasdores - Luana
13. Gonzaguinha - Samuel
14. Samarica parteira - Amanda
15. Mane Vitor - Mário
16. Bastiana - D’vanny
17. Dominguinhos - Pedro
18. Januário - Diego
19. Dona Joana - Alycia
20. Karolina com K - Tamires
21. Padre - Amanda
22. Delegada - Iarla
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Cena I

No interior do Ceará, numa certa tarde do mês de junho, num sitio chamado
Jacú.
(Como de costumes Sá Zefinha e Orelia cuidam dos afazeres domésticos
quando recebem a visita das filhas do Coronel Marcolino, Morena e Neném).
Morena – Ô de casa, nós vamo entrano.
Sá Zefinha – Ô de fora, mais oia só quem tá aqui, as meninas do compadre
Marcolino. (Neném pede a benção a Sá Zefinha) ... mais que milagre foi esse
vocês por aqui?
Neném – Pois é madrinha. Nós viemo aqui convidar a senhora e as menina pro
nosso casamento.
Orelia – Casamento? Você disse casamento? Mais quem é que vai casar?
(As duas irmãs se abraçam e respondem).
Morena e Neném – Nós duas!
Orelia – Vocês? Mas...
Sá Zefinha – (Tomando a frente) ... mais quem é que as duas gracinhas vão
casar?
Morena – Com Humberto Teixeira!
Neném – E eu com Zé Dantas!
Orelia – (Em estado de choque) ... não!! Não acredito!
Morena – Tá sentindo alguma coisa?
Sá Zefinha – (tomando a frente) ... num repare não, ela é assim mermo, mais
oia, fale pro compadre Marcolino que o convite tá aceito, mais agora vamos
tomar um cafezinho que eu acabei de fazer!
Neném – Não, num precisa, nós tamo apressada, ainda temo que dá uma
passada por Icó pra fazer bonito pra uns parentes nosso que tem lá. O café fica
pra outra vez, sua benção madrinha!
(As duas seguem viagem).
(Zé de Mariô e Maricota passam e ouvem tudo).
Orelia – Mais eu não acredito! Morena e neném, as duas bichas feias, dos
dentes podres, do cabelo arrepiado, vão conseguir se casar com aquelas duas
marras de homem, e eu aqui encalhada a caminho do caritó!
Sá Zefinha – Mais a culpa é sua! Qual o rapaz que vai querer namorar um
estrupício como tu que só sabe reclamar da vida?!
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Orelia – A culpa não é minha não! A culpa é daquela desgraçada, ladrona do


noivo das outras!
Sá Zefinha – Não fale assim da sua irmã, que ela não tem culpa do seu noivo
ter se enrabichado por ela!
Orelia – Teve sim, ela vivia se enxerindo pra ele, todo mundo via isso! Tá certo
que ele não é lá essas coisas, é meio abestado mais era meu noivo!
(Nesse momento chega Rosinha e o marido Joquinha, ela entra e ele fica do
lado de fora da casa conversando com alguns homens).
Rosinha – É impressão minha ou essa despeitada estava falando de mim?
Orelia – É isso mesmo, eu tava falando sim, sua enxerida, desfrutada, você
ainda me paga.
(Orelia parte para cima da irmã e tenta agredi-la, mas é impedida pela mãe que
ordena que ela vá dar comida para os porcos, enquanto tenta agradar a outra
filha).
Sá Zefinha – Mais minha filha, eu passei o dia pensando em você, como é que
você tá me diga?
Rosinha – Ô mainha, eu não sei o que tá acontecendo, mais eu tô sentindo
gastura, uma tontura, um enjoo!
Sá Zefinha – Mais num me diga! Deixa eu olha pra você. Mia fia... você tá!
você tá...
Rosinha – Eu tô o que mainha?
Sá Zefinha – Você tá embuchada!
Rosinha – Eu tô embuchada você viu mozinho?
Joquinha – Não! O que foi?
Rosinha – Eu tô embuchada!
(Joquinha corre para dentro da casa achando que vai comer buchada).
Joquinha – Buchada de bode? É pra comer agora?
Rosinha – Buchada de bode o que homem? Eu to te dizendo que to prenha!
Joquinha – Prenha? Você tá prenha de um borreguinho meu?!
Rosinha – É home! Eu to esperando um borreguinho teu!
Joquinha – (Grita, mas permanece do lado de Rosinha). Oba! Um borreguinho
meu...um borreguinho meu... um borreguinho meu!
Rosinha – Calma homem! Deixa de chafurdo e vamos pra casa pois a gente
precisa comemorar!
(Os dois saem).
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Cena 2
Encontro dos fofoqueiros Maricota, Mariquita e Zé de Mariô.
(Mariquita chega, Maricota e Zé de Mariô correm para contar a novidade a ela).
Maricota – Ô mariquita, você já soube da última?
Mariquita – Não, mais quero saber.
Zé de Mariô – Deixa que eu conto! Ainda a pouco nós íamos passando na rua
do lado da casa de Sá Zefinha e ouvimos o maior bate boca.
Mariquita – É mesmo! Mais o que será que aconteceu?
Maricota – Olha, parece que as filhas do coronel Marcolino, aquelas duas
marmotas, foram lá convidar Orelia e a mãe para o casamento, e Orelia teve
um ataque de nervo.
Mariquita – Mais nem precisa me dizer que eu posso até imaginar a cara de
inveja de Orelia, coitada, doida pra fugir do caritó!
Zé de Mariô – Pois é! Mais o pior foi depois com a chegada de rosinha. A Orelia
furiosa meteu a mão na cara da irmã!
Maricota – Pois ela bem que merece! Onde já se viu? Tomar um noivo da irmã
pra tentar limpar a honra. Aquele lá tem o nome mais sujo do que pau de
galinheiro.
Maricota – Pois é! E agora tá toda manhosa dizendo que tá esperando um
borreguinho do abestado, será que é dele mesmo?
Mariquita – Isso nós só vamo saber quando ele nascer, que a gente olhar pras
fuças dele...é, mais essa confusão toda eu não tinha para contar pra tia Mariô.
Vô escrever agora mesmo pra ela contando tudo o que tá acontecendo por
aqui!
Zé de Mariô – Pois diga a mainha que eu to doido de saudades e doido pra
contar as novidades pra ela também...
(Saem de cena)

Cena 3

No dia seguinte na casa de Sá Zefinha: Encontro de Orelia com suas amigas


Edelzuita e Dasdores.
Edelzuita – Ô amiga. Vim ver o que houve. Você não apareceram mais! O que
está acontecendo?
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Orelia – O minhas amigas! Essa história do casamento de Morena e neném


me deixou arrasada. Aquelas duas mogangas com catombo nas costas,
desdentadas se preparando pro casamento e eu aqui me preparando para ser
coroada a rainha do caritó.
Dasdores – Fique assim não minha amiga, você pelo menos já teve algum
namorado, pior sou eu que nunca tive ninguém. Nem mesmo um namorado por
correspondência como a Edelzuita!
Edelzuita – Namorado por correspondência, tô começando a acreditar nessas
coisas que o povo fala por ai.
Orelia – Que coisas?
Edelzuita – Sei lá! Andam dizendo que esse meu namorado é um velho
barrigudo, sem dente, careca e que mesmo assim só quer me enrolar!
Dasdores – Mulher, não dá ouvido a isso não que só pode ser intriga, dessas
fofoqueiras daqui! E mais leia pra gente a carta que você recebeu hoje!
(Neste momento as meninas são surpreendidas com a chegada de Samarica
parteira).
Samarica parteira – Comadre Zefinha? Tô entrando!
Orelia – Entre madrinha, benção!
Samarica parteira – Deus te cubra de graça minha fia. Mais cadê a comadre?
Orelia – Tá na casa da filhinha querida! Agora ela não sai mais de lá.
Samarica parteira – É eu tô sabendo das novidade! Mais espere, não to
gostando nada dessa sua carinha!
Orelia – Ô minha madrinha, eu estou tão desgostosa com a vida, acho que não
vai ter jeito, vou acabar no caritó.
Samarica parteira – Mais o que é isso menina? Deixa de besteira, uma moça
bonita e bem prendada como você! Mais cedo ou mais tarde vai acabar
encontrando um pretendente.
(Mariquita e Zé de Mariô passam e escutam tudo).
Orelia – Um pretendente. Só se for por um milagre.
Samarica parteira – por falar em milagre, amanhã mesmo eu viajo pra
Barbalha pra visitar minha irmã e assistir as novenas de Santo Antônio, que é
Santo casamenteiro! Por falar nisso, você não gostaria de ir comigo para
Barbalha? Dizem que as moças que toma o chá da rapa do pau da bandeira de
Santo Antônio logo arruma marido!
Orelia – É mermo? Mais será que o chá desse pau tem tanto poder assim?
Samarica parteira – Dizem que é tiro e queda, tem moça que em menos de
mês já tá casando!
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Orelia – Sendo assim, eu acho que vou pra Barbalha! Vamos Edelzuita?!
Vamos Dasdores?!
Dasdores – Eu não acredito nessas coisas não!
Orelia – Pois eu já to acreditando. Vamos madrinha, vamos Edelzuita procurar
a minha mãe pra ver se ela deixa eu ir!
(Saem a procura de Sá Zefinha).

Cena 4

Conversa entre os fofoqueiros.


(Maricota chega, Mariquita e Zé de Mariô correm para contar a novidade).
Mariquita – O Maricota, tu já soube da última? Olhe a Samarica parteira, aquela
velha alcoviteira teve a ideia de levar a encalhada da Orelia e a retardada da
Edelzuita lá pra Barbalha, adivinha pra quê?
Maricota – Não faço a menor ideia!
Zé de Mariô – (Entrando na frente) ... pois eu lhe digo! Foram atrás da rapa do
pau de Santo Antônio pra fazer chá pra aquelas duas encalhadas!
Maricota – Pois não me diga uma coisa dessas! Quer dizer que até a retardada
da Edelzuita entrou nesse rolo?! Oxente! E ela não vive espalhando por todo
canto que está prestes a se casar com o tal noivo por correspondência?!
Mariquita – Mentira, vai ver que esse noivo nem existe, é tudo invenção da
cabeça daquela doida! Mais essa eu não tinha pra contar pra tia Mariô quando
ela chegar!
(Saem de cena confabulando).
Cena 5
Samarica parteira, Orelia e Edelzuita voltam de Barbalha, logo que chegam
preparam o chá da rapa de pau de Santo Antônio, em seguida Orelia e
Edelzuita tomam o chá. Samarica Parteira diz que não vai beber, mas com
insistência de Orelia ela acaba bebendo. Elas deixam o resto do chá no copo e
saem, Sá Zefinha que estava no quarto ouvindo tudo bebe o resto do chá as
escondidas logo quando elas saem.

Cena 6
NARRADOR
Toda a comunidade está preparada para os festejos, já se encontram no local
da festa Morena e Neném, Sá Zefinha, Orelia, Edelzuita, Samarica parteira,
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Mane Vitor, Joquinha e Rosinha. Os fofoqueiros chegam comentando que a


festa renderá fofoca. No meio da festa chega o sanfoneiro Dominguinhos que
logo começa a paquerar Orelia, que hesita, mas depois acredita que o chá
começa a fazer efeito. Orelia e Dominguinhos dançam, chamando a atenção
de Carolina com k, e esta em pouco instante seduz Dominguinhos, deixando
Orelia arrasada. A festa termina e todos voltam para casa, menos Maricota,
Mariquita e Zé de Mariô, que fazem comentários sobre os acontecimentos.

Mariquita – O Zé de Mariô tu viu o que aconteceu com Orelia? Pobrezinha


dela, tava toda se achando pensando que o chá da rapa do pau de Santo
Antônio tinha feito efeito!
Zé de Mariô – Mas ficou só na vontade!
Maricota – Bem feito! Onde já se viu uma bicha feia daquela querer se engraçar
logo num pedaço de mau caminho como Dominguinhos!
Zé de Mariô – Para aquela la não tem pau de santo que faça efeito!
Mariquita – Mais gente, vocês viram o jeito de Carolina com K, a bicha é
famosa mesmo e não tem um pingo de cerimônia! Foi logo chegando e
deixando a encalhada da Orelia chupando o dedo!
Maricota – É, mais nem por isso ele deixou de tirar os olhos de mim! Parece
que ele queria me despir com aquele olhar, tu não viu?!
Mariquita – Eu mesmo não vi nada!
Zé de Mariô – Eu também não vi nada disso não!
Maricota – Também como é que tu podia ver Mariquita! Se não tirava os olhos
de Mane Vitor, que por sua vez passou a noite arrastando asa pra viúva
assanhada!
Mariquita – Azar o dele! Que trocou uma belezura como eu por aquele pedaço
de couro velho! E quer saber de uma coisa vou dormir!
(Saem de cena).

Cena 7
Dias depois na casa de Sá Zefinha, Orelia cuida dos afazeres domésticos,
queixando-se da sua sorte com os homens:
Orelia – Ô sorte cotó essa minha! Nem mermo o chá de Santo Antônio
funciono! Comigo não tem simpatia que dê jeito, eu nasci mesmo pra ser
encalhada! Também daqui pra frente vou riscar a palavra homem da minha
vida, os homens não prestam, são todos iguais, por mim podem vim agora até
pintado de oro que eu não quero nem saber! Eu vou é cuidar dos meus serviços!
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(De repente uma voz masculina chama a atenção de Orelia).


Januário – Ô de casa!
Orelia – É home! Voz de home! Mas quem será a essa hora da manhã?
(Para em frente ao espelho e se arruma um pouco: depois dirige-se a porta).
Januário – Bom dia moça! Sou o guarda da sucam, e quero sua permissão
para ver se encontro algum foco de barbeiro ou mosquito da dengue.
Orelia – Se quiser entrar, entre, mais é sabendo que não vai encontrar nada,
graças a Deus eu sei cuidar muito bem da limpeza da casa.
Januário – Eu não duvido disso moça! Mais muitas vezes eles se escondem
onde a gente menos espera, por trás dessas fotografias por exemplo! É muito
comum a gente encontrar.
Orelia – Não! por favor! Não toque neles! Pois são os únicos homens que ainda
olham para mim!
Januário – Os únicos que olham pra você, como assim?!
Orelia – Ora! Você não ta vendo não, se to aqui eles olham pra mim, se eu
corro pro outro lado eles continuam olhando, se to aqui na porta do mesmo
jeito, são eles os únicos que olham pra mim!
Januário – Não acredito, Mais o que é que está acontecendo com os homens,
estão todos cegos?! Como podem deixar de olhar para uma moça tão...
Orelia – Tão o quê?
Januário – Tão bonita como Você!
Orelia – Bonita, o senhor deve esta mangando de mim! Deixe disso não gosto
de brincadeira!
Januário – Mais eu não estou brincando, não costumo brincar com coisa séria!
Orelia – Desde quando vocês homens levam alguma coisa a sério?
Januário – Desde que apareça em nossa frente alguém como você!
Orelia – Ora! Já disse que não gosto de brincadeira, eu nem sei quem você é,
como se chama?
Januário – Meu nome é Januário e o seu?
Orelia – Orelia, Orelia com A, quero dizer com O.
Januário – Orelia, eu vou ficar esses dois dias trabalhando por aqui, será que
poderia voltar aqui a noite pra gente conversar?
Orelia – Não, melhor não! Quero dizer, tive uma ideia! A gente pode se
encontrar amanhã na festa do padroeiro daqui de Cedro?!
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Januário – Está bem! Só não sei se vou aguentar esperar tanto tempo! Em fim
até amanhã!
(Januário tenta beijar Orelia que vira o rosto e acena com a mão... Januário se
afasta e a deixa pensativa).
Orelia – Duvido muito que ele ainda se encontre por aqui amanhã, nessa lábia
não caio mais!
(Maricota passa por Januário enquanto ele sai da casa de Orelia).

Cena 8
(Mariquita e Zé de Mariô chegam e conversam com Maricota).
Mariquita – Maricota, recebi carta de tia Mariô, dizendo que não vai poder vir
pra festa do padroeiro!
Maricota – Mais porquê?
Zé de Mariô – Tia xanduzinha teve uma nova recaída e mainha terá que ficar
por lá cuidando dela!
Maricota – Pois tudo indica que ela vai perder um festão, já tem até gente nova
no pedaço! Menina, encontrei um guarda da sucam no caminho, mais ele me
olhou de um jeito, mais eu fiz de conta que não estava vendo, mais ele babou,
babou!
Mariquita – É, posso até imaginar, mais vamo pra casa que está de noitim!

Cena 9
Começa a festa do padroeiro de Cedro

Toda a comunidade se diverte. Em meio a toda animação Januário chega e se


aproxima de Orelia que se encontra na companhia das amigas. Os dois
começam a dançar... Todos observam o casal especialmente os fofoqueiros.

Januário – Não consegui tirar você do pensamento! parece que você me


enfeitiçou, nunca senti isso por ninguém!
Orelia – (Para o público). Feitiço do pau de Santo Antônio!
Januário – O que foi que você disse?
Orelia – Eu disse que essa festa tá muito bonita!
Januário – Bonita está você!
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Orelia – Para de brincar comigo!


Januário – Já disse que não gosto de brincadeiras, principalmente quando o
assunto é o meu futuro!
Orelia – Futuro? E isso tem a ver com o passado?
Januário – Não, tem a ver com o nosso presente!
Orelia – Nosso presente? Não estou entendendo!
Januário – Você quer se casar comigo?
Orelia – Casar? Você disse casar?
Januário – É, por favor, diga que sim, eu já não consigo imaginar a minha vida,
longe de você... e então, o que me diz?
Orelia – Não sei...eu...eu...
Januário – Então eu aceito!
(Os dois se abraçam e continuam a dançar. A festa continua animada, todos
observam a felicidade de Orelia e Januário. Edelzuita e Dasdores comemoram
a felicidade da amiga, quando de repente, um rapaz se aproxima delas).
Raimundo Jacó – Boa noite senhoritas?!
(E as duas respondem: Boa noite, o rapaz olha para Edelzuita que desvia os
olhos).
Raimundo Jacó – Vamos dançar?
Edelzuita – Não posso, sou comprometida, chame a minha amiga!
Raimundo Jacó – Agradeço a sugestão mais prefiro dançar com você!
Edelzuita – Já disse que sou comprometida, se quiser dançar vá procurar outra
moça!
Raimundo Jacó – Agradeço mais uma vez a sugestão mais é com você que
quero dançar!
Edelzuita – Mais que atrevimento é esse? Olha se você insistir mais uma vez
eu não respondo por mim!
Raimundo Jacó – Zuita meu amor! Isso é jeito de você me receber?!
Edelzuita – O que você disse? Como me chamou? Só existe uma pessoa que
me chama assim!
Raimundo Jacó – Eu, Raimundo Jacó, seu noivo!
Edelzuita – Raimundo! É você? Mais que cabeça a minha!
Raimundo Jacó – É mais eu gostei da forma respeitosa com que você me
aguardava. E agora, você dança ou não dança comigo?
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Edelzuita – Claro meu amor, com prazer!

(E a festa continua na maior animação).

Cena 10

Quando a festa termina, todos vão embora, ficando apenas os fofoqueiros.


Maricota – Vocês souberam da novidade? A Samarica Parteira viajou pra
Barbalha e arrumou um homem por lá. Os boatos é que ela vai casar e vai ficar
por lá mesmo.
Zé de Mariô – Tava sabendo não, mas tu viu Mariquita? Parece que o diabo
do chá da rapa do pau de Santo Antônio, fez milagre pra valer!
Mariquita – Pois é! Quando duas marmotas feias e sem graça feito Orelia e
Edelzuita, a Samarica parteira e até a viúva assanhada se deu bem é por que
o Santo é forte mesmo!
Maricota – O santo é forte ou os homens desse lugar é que estão cegos! Pois
se não conseguiram enxergar minha formosura!
Mariquita – Pois se não enxergam a minha que tenho idade de ser a sua filha!
Maricota – Filha?! Eu lá tenho cara de quem tem uma filha da tua idade?! E
ainda por cima feia como tu!
Mariquita – Feia eu? Tem gente que não se olha no espelho, mas quer saber
de uma coisa vá dormir que seu mal é sono e inveja.
Maricota – Inveja eu? Imagina.
Zé de Mariô – É melhor as duas lindezas pararem de remoído. E vamos
embora, que final de festa só presta pra bebo!

Cena 11
Orelia está em casa realizando tarefas domesticas quando recebe a visita de
Edelzuita e Dasdores.
Edelzuita – Orelia, estamos entrando!
Orelia – Que bom que vieram, estava mesmo precisando falar com vocês!
(Maricota e Zé de Mariô passam e ouvem tudo).
Edelzuita – Falar o que?
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Orelia – Eu e Januário já decidimos quem serão as testemunhas do nosso


casamento!
Edelzuita – É mesmo? E quem serão?
Orelia – Bem, da minha parte será o primo Gonzaguinha e minha amiga
Dasdores!
Dasdores – Eu? Mais por que eu?
Orelia – Porque você é minha melhor amiga! Juntamente com Edelzuita é
claro, e o primo Gonzaguinha, cá pra nós, foi ideia da minha mãe que faz
questão que ele venha de Fortaleza para o meu casamento!
Dasdores – Espere ai, esse seu primo não é aquele Playboy todo metido a
besta? Não sei se vou se sentir bem junto dele não?
Orelia – Ora sua boba! O pior que pode acontecer é ele querer te paquerar,
aquele lá não pode ver rabo de saia em sua frente.
Dasdores – Ora! Orelia você acha que um homem acostumado com moça
bonita da cidade grande, vai se interessar por uma matuta como eu? Mais
nem que eu tivesse tomado uma caneca cheia de chá de rapa de pau de
Santo Antônio. (Risos).
Edelzuita – E Januário, já escolheu as testemunhas dele?
Orelia – Sim! A vontade dele era que fosse uns tios dele lá de Iguatu mais
como eles não vão poder vir para a data marcada ele quer que seja você e
Raimundo Jacó.
Edelzuita – É mesmo! Mais que coincidência, sabia que eu e Raimundo
escolhemos vocês para serem nossas testemunhas!
Orelia – Não me diga, quer dizer então que já marcaram o matrimonio?!
Edelzuita – Já sim, será no final do mês que vem.
(As duas amigas se abraçaram, mas percebendo a tristeza de Dasdores
tentam anima-la).
Orelia – Ei, mais que carinha é essa? Não fique assim, seu dia também vai
chegar, não é Edelzuita!?!
Edelzuita – Claro, uma amiga maravilhosa como você merece o que há de
melhor.
(Elas se abraçam carinhosamente).
Orelia – É mais vamos deixar de prosa e vamos lá fora que eu vou dar uma
olhada nos perus e nas galinhas que estão no chiqueiro...
E saem para o terreiro.
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Cena 12

Conversa entre os fofoqueiros.


Maricota – Menina tu tá sabendo da última? Deixe que eu lhe digo agora
mesmo, tu sabes quem vai ser o testemunho de Orelia? O tal Gonzaguinha
em pessoa.
Mariquita – Gonzaguinha? O rabo de Burro?!
Zé de Mariô – É sim eu confirmo! É o dito cujo! Dizem que ele já desgraçou a
vida de muitas moças pras bandas da capital!
Mariquita – Misericórdia!
Maricota – E o melhor você não sabe, pois a retardada da Edelzuita tem
espalhado por ai que também vai se casar!
Mariquita – Essa eu pago pra ver!
Zé de Mariô – Aquela outra pode até se casar, mas Edelzuita eu acho difícil!
Há, mais eu já ia esquecendo, acabei de receber carta de mainha, deve ser
dizendo o dia que vai chegar, vamos ver?
(Abrem a carta e começam a ler silenciosamente e se assustam com o que
está escrito).
Maricota – Você leu o que eu li?
Mariquita – Li, mas não estou acreditando. Deixa eu ler isso direito.
(Ela toma a carta e continua fazendo a leitura silenciosa enquanto Maricota
continua em estado de choque).
Maricota – Meu Deus, quem será a vítima? É desse mundo Mariô?
Zé de Mariô – É sim! Quer dizer, mais ou menos. Se ela não cuidar corre o
risco de ficar viúva antes de casar!
Maricota – Não me diga! Mais porquê?
Mariquita – Porque ele já tem quase noventa anos! Acho que a tia endoido
de vez!
Maricota – Doida ela sempre foi, mas dessa vez ela ultrapassou todos os
limites, casar com um velho com o pé na cova!
Zé de Mariô – Meu Deus minha mãe vai virar chacota na boca desse povo!
Maricota – Mais eu bem que gostaria de estar no lugar dela.
Mariquita – Eu hem! Deus me livre de terminar os meus dias assim como essa
aí. Quer saber de uma coisa, eu vou é pra casa me enfeitar pra ir pro casamento
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de Orelia, quem sabe se o tal do Gonzaguinha não se interessa pela minha


belezura!
(saem de cena).

Cena 13

Chega o dia do casamento de Orelia e Januário. Encontram-se na igreja a


espera dos noivos o casal! Edelzuita e Raimundo Jacó, Dasdores e outros
convidados. Gonzaguinha chega a igreja cumprimentando a todos deixando
Dasdores bastante impressionada. Januário chega a igreja acompanhado do
padre. Orelia chega na companhia da mãe e de Mane Vitor. O padre inicia o
casamento.
Padre – Estamos aqui reunidos para celebrar a cerimônia de casamento de
nossos irmãos Januário e Orelia, e se existe alguém aqui entre nós, quem
souber alguma coisa que possa impedir esse casamento que fale agora ou
cale-se para sempre?
(Nesse momento entra na igreja a delegada, dona Joana e a filha Bastiana).
Dona Joana – Um momento padre! Pare esse casamento! Este homem não
pode casar, ele tem que reparar o mal que fez a minha filha.
(Todos ficam assustados com a interrupção. Orelia desmaia e a delegada
segura no braço de Januário, Gonzaguinha aproveita o tumulto e tenta se
afastar mais é surpreendido pela voz de Bastiana).
Bastiana – Não sua delegada, está havendo um engano, esse não é o pai do
meu filho, o pai do meu filho é este ali!
(Aponta para Gonzaguinha. A delegada solta o braço de Januário e impede
Gonzaguinha de fugir. Orelia acorda e percebe que tudo não passou de um mal
entendido. O padre continua o casamento).
Padre – Januário é de sua livre e espontânea vontade casar-se com Orelia? E
lhe promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a
morte os separe?
Januário sim!
Padre – Orelia, é de sua livre e espontânea vontade casar-se com Orelia? E
lhe promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a
morte os separe?
Orelia – Sim, sim seu padre eu aceito!
Padre – Pois eu vos declaro marido e mulher!
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(No final da cerimonia todos aplaudem o casal. A delegada escolta


Gonzaguinha, Dona Joana e Bastiana, após os cumprimentos os recém
casados e convidados deixam a igreja, ficando apenas Dasdores).
Dasdores – É, parece que todos se deram bem, só eu que continuo sozinha,
parece que a minha sina é ser a nova encalhada do lugar. Mas espera aí, agora
que eu lembrei, o chá, eu não tomei o chá da rapa do pau de Santo Antônio,
será que sobrou alguma coisa? Orelia, Orelia...
E sai pela igreja a fora.

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