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Liceu Literário Português TEXTO

SUPLEMENTAR 3

Curso de Especialização em Língua Portuguesa


Disciplina: Sintaxe do Português
Professora: Rita Mérida

Estará ultrapassada a gramática tradicional?


Evanildo Bechara

Existem grandes diferenças teóricas entre os atuais gramáticos que trabalham com os
distintos procedimentos que oferece a linguística moderna. Logicamente, também existem tais
diferenças entre os que investigam a sintaxe do espanhol. Entretanto, é fácil entrever entre estes
últimos (pelo menos entre os que ensinam gramática) um acordo tácito sobre a importância que
tem o fato de que os estudantes que se prendem a qualquer modelo gramatical orientado
teoricamente, o façam com a bagagem que lhes proporciona a gramática descritiva clássica e,
mais concretamente, o estudo detalhado do que chamamos, de maneira talvez excessivamente
simplificada, “gramática tradicional”. Ao contrário do que algumas vezes se diz, as teorias
gramaticais mais modernas não consideram equivocado esse enorme corpus de doutrina; muito
pelo contrário. Consideram-no imprescindível, e, sem que nisto exista contradição, ao mesmo
tempo, insuficiente. E apesar dessa insuficiência, prefere-se ver na investigação gramatical mais
moderna essa bagagem como relativamente satisfatória do ponto de vista das necessidades dos
alunos do nível de bacharelado e dos cursos universitários mais básicos. Mais ainda, constitui
esse corpus o fundamento sobre o que mais tarde poderá assentar-se qualquer aproximação
teórica, especialmente se se deseja que este assentamento seja sólido, e não se confundam e se
mesclem as mudanças meramente terminológicas com as verdadeiramente conceituais. Nem
sempre se tem utilizado entre nós a gramática tradicional em toda sua capacidade, isto é, como
um conjunto de recursos que - convenientemente aproveitados - permitem uma primeira
abordagem à gramática, o que pode ter consequências didáticas nada desprezíveis. Entre outros
objetivos, este caderno tem o de ajudar a mostrar que a renovação pedagógica no âmbito da
gramática básica não se consegue tão somente com a mudança terminológica (ao contrário do
que não poucas vezes se tem dado a entender entre nós), senão mudando a rotina pela reflexão e
substituindo os hábitos de memorização pelos que capacitam o desenvolvimento de
argumentação.

(In: BOSQUE, Ignacio. Repaso de sintaxis tradicional: Ejercicios de autocomprobación, Arco


Libros, Madrid, 2, ed., 1995, páginas 9-10).

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