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Direitos Humanos

A concepção atual de direitos humanos foi moldada ao longo dos anos a partir de ideias e
pensamentos de diferentes povos, desenvolvendo-se através de diversas civilizações, mas que
tinham em comum as mesmas necessidades:

- Proteção contra o abuso do poder do Estado.

- Garantia do respeito à dignidade humana.

Os primeiros indícios de reconhecimento de direitos do homem podem ser encontradas nas


sociedades do antigo Egito e Mesopotâmia, três milênios antes de Cristo.

Já nessa época, havia alguns mecanismos para proteção do indivíduo perante o poder do Estado.

Mas foi em 1690 a.C. que surgiu uma das primeiras e mais concretas manifestações do
reconhecimento dos direitos humanos: Hamurabi, o então rei da Mesopotâmia, compilou um
código escrito de leis.

O Código de Hamurabi, talhado em pedra, é um dos conjuntos de leis escritas mais antigos já
encontrados, e pode ter sido o primeiro a prever direitos comuns a todos os homens, tais como
a vida, a propriedade, a honra, a dignidade, a família e, principalmente, a supremacia das leis
em relação aos governantes.

Um tanto quanto radical, o Código de Hamurabi não tolerava desculpas ou explicações para
erros ou falhas, sendo famoso pela rigorosa reciprocidade entre crimes previstos e penas
cominadas (olho por olho, dente por dente).

Os direitos do homem também sofreram a influência filosófico-religiosa das ideias de Zoroastro


(Pérsia, século VII a.C.), Confúcio (China, século VI a.C.) e Buda (índia, século V a.C.), sobre a
igualdade de todos os homens e as necessidades de tolerância, respeito, generosidade e
conduta correta tanto por parte dos indivíduos quanto de seus governantes.

Na Grécia, a partir do século V a.C., surgiam também vários estudos sobre a necessidade da
igualdade e liberdade do homem, da participação política dos cidadãos (república) e a existência
de leis naturais e superiores às leis escritas, válidas para todos os homens em todas as partes do
mundo (jusnaturalismo).

Outro marco para os direitos humanos é o surgimento da Lei das Doze Tábuas (450 a.C.), logo
após a queda da monarquia e o nascimento da república romana, e que pode ser considerada a
origem dos textos consagradores da liberdade, da propriedade e da proteção aos direitos do
cidadão.

A Lei das Doze Tábuas (Lex Duodecim Tabularum ou simplesmente Duodecim Tabulae, em latim)
formava o cerne da constituição da República Romana e constituía a origem do direito romano.
O texto original das Doze Tábuas perdeu-se quando os gauleses incendiaram Roma em 390 a.C.

Embora seus originais tenham se perdido, historiadores reconstituíram parte de seu conteúdo
com base em fragmentos e citações de outros autores.
O Cristianismo, pregado por Jesus Cristo no século I, na região da atual Palestina, foi rápida e
vigorosamente difundido.

Sua popularização também influenciou diretamente a consagração dos direitos humanos, posto
que defendia, entre outras coisas, a igualdade de todos os homens, independente de origem,
raça, sexo ou credo, o que era essencial à dignidade da pessoa humana.

Durante a Idade Média também ocorreram fatos importantes para o desenvolvimento dos
direitos humanos.

A Idade Média compreende o período que vai da desintegração do Império Romano do Ocidente
ocasionado pelas invasões bárbaras (476 d.C.) até o fim do Império Romano do Oriente, com a
Queda de Constantinopla em 1453 (alguns historiadores consideram como marco final da Idade
Média a descoberta da América em 1492).

Para realmente compreender o desenrolar dos acontecimentos, é preciso entender como era a
vida naquela época...

Na Idade Média, caracterizada pelo feudalismo (organização em feudos), os direitos humanos


mais fundamentais eram permanentemente violados. Havia uma rígida separação de classes,
com a consequente subordinação dos vassalos (trabalhadores camponeses / servos) para com
seus suseranos (senhores feudais, que tinham o domínio das terras). Os vassalos, em troca de
proteção contra invasões bárbaras e de uma pequena porção de terra para obter seu sustento
através da agricultura de subsistência, tinham de trabalhar as terras do senhor, pagar impostos
ao rei, dízimos à Igreja, além de uma infinidade de taxas em dinheiro ou produtos de suas
colheitas particulares, além de prestar serviços domésticos na casa ou castelo do suserano e
lutar nas guerras quando convocados. Era uma situação análoga à de escravos.

Entretanto, no século XIII, começou na Inglaterra uma transformação. É na Inglaterra que


encontramos alguns dos marcos mais importantes relacionados ao surgimento dos direitos
humanos. Depois que o rei João I da Inglaterra (conhecido como João Sem-Terra, já que não
herdou terras quando da morte de seu pai) violou uma série de antigas leis e costumes através
dos quais a Inglaterra tinha sido governada, os barões ingleses o obrigaram a assinar, em 15 de
julho de 1215, a Magna Carta (Magna Charta Libertatum).

A Magna Carta, que resultou do desentendimento do rei com o papa e os barões ingleses, tinha
por objetivo limitar o poder monárquico, sendo um tratado de direitos, mas também de deveres
do rei para com os seus súditos. Entre suas disposições estava o direito da Igreja estar livre do
controle governamental e interferências do mesmo, os direitos de todos os cidadãos serem
livres para possuir e herdar bens e serem protegidos de impostos excessivos e até o direito das
viúvas que possuíam propriedade de escolherem não se casar novamente.

A Magna Carta estabeleceu ainda os princípios do devido processo legal e da igualdade de todos
perante a lei. Ela também trouxe disposições proibindo o suborno e a má conduta oficial.
Considera-se a Magna Carta o primeiro capítulo de um longo processo histórico que levaria ao
surgimento do constitucionalismo.

Quatro séculos depois, novamente em resposta a uma série de violações da lei cometidas pelo
rei da Inglaterra, que desta vez era Carlos I, o Parlamento, em 1628, durante o período que
antecedeu a guerra civil inglesa, elaborou a Petition of Right (Petição de Direitos), uma
declaração de liberdades civis, que foi um marco registrado no desenvolvimento dos direitos
humanos.
A Petition of Right foi baseada em estatutos e cartas anteriores e previa expressamente, entre
outras coisas, que:

- Nenhum imposto poderia ser cobrado sem o consentimento do Parlamento,

- Nenhuma pessoa poderia ser presa sem justa causa apresentada

- A lei marcial (restritiva de direitos) não poderia ser utilizada em tempo de paz.

Outro acontecimento ocorrido na Inglaterra e também de grande importância para o


desenvolvimento dos direitos humanos foi o surgimento do Habeas Corpus Act em 1679, que
foi uma lei do Parlamento da Inglaterra criada durante o reinado do Rei Charles II que buscava
definir e reforçar o antigo e já existente instituto do habeas corpus, como garantia da liberdade
individual contra a prisão ilegal, abusiva ou arbitrária.

Obs.: O Habeas Corpus Act muitas vezes é erradamente descrito como a origem do recurso de
habeas corpus. Entretanto, o habeas corpus já existia na Inglaterra há pelo menos três séculos
antes.

Dez anos depois, durante a Revolução Gloriosa, o rei da Inglaterra Jaime II foi deposto e o
parlamento ofereceu a coroa a Guilherme de Orange, com a condição de que se comprometesse
a respeitar a declaração de direitos (Bill of Rights) por eles produzida, e que determinava, entre
outras coisas, os direitos à liberdade, à vida e à propriedade privada e o pelo qual o rei ficava
impedido de suspender a aplicação de leis, além de não poder aumentar impostos e recrutar ou
manter exércitos em épocas de paz sem sua autorização, assegurando o poder do Parlamento
na Inglaterra.

Apesar dos avanços em termos de declaração de direitos, a Bill of Rights não garantia a liberdade
e igualdade religiosa.

Também na Inglaterra, mais um documento pode ser citado como um dos antecedentes
históricos dos direitos humanos: o Act of Settlement (Ato de Estabelecimento), de 12 de junho
de 1701, que foi criado para garantir a sucessão protestante (no sentido religioso) do trono
inglês e o poder do parlamento.

Basicamente, reafirmou o princípio da legalidade ao exigir que os governantes também se


submetessem às leis, garantiu a independência e a autonomia dos órgãos jurisdicionais,
colocando-os acima da vontade livre da Coroa, e levantou a possibilidade de responsabilização
política dos agentes públicos, prevendo inclusive a possibilidade do impeachment.

Algumas décadas depois, ainda no século XVIII, encontramos contribuições imprescindíveis ao


desenvolvimento dos direitos humanos no continente norte-americano.
Declaração de Direitos da Virgínia - 12 de junho de 1776
Previa expressamente direitos humanos fundamentais, tais como o direito à vida, à liberdade e
à propriedade, além dos princípios da legalidade, do devido processo legal, do juiz natural
(segundo o qual deve haver regras objetivas de competência jurisdicional, garantindo a
independência e a imparcialidade do órgão julgador), da liberdade de imprensa e ainda a
liberdade religiosa.

Declaração de Independência dos Estados Unidos - 4 de julho de 1776


A Declaração da Independência dos Estados Unidos da América, que teve como principal
articulador Thomas Jefferson, foi o documento com o qual as Treze Colônias na América do
Norte, revoltadas com os abusos da metrópole, declararam sua independência do Reino Unido.
A Declaração teve como tônica principal a limitação do poder estatal.

Emendas à Constituição dos Estados Unidos da América - 1791


Em 1787, foi discutida e aprovada a primeira e única Constituição dos Estados Unidos, que prevê
um sistema de alterações por meio de Emendas (ao longo dos anos foram aprovadas apenas 27
emendas).

As 10 primeiras emendas, cujo texto não foi inserido na constituição original por não ter obtido
consenso, entraram em vigor em 1791 e ficaram conhecidas como Bill of Rights (Lista de
Direitos), tendo como aspecto primordial a limitação do poder estatal e o estabelecimento de
vários direitos fundamentais.

Mas foi na França, em 26/08/1789, que se deu a consagração do reconhecimento aos direitos
fundamentais com a Declaração dos Direitos Fundamentais do Homem e do Cidadão. Essa
declaração também estabeleceu, em seu art. 16, que a adoção de garantias fundamentais era
um elemento essencial ao próprio conceito de constituição. Isso deu aos direitos humanos
fundamentais um caráter constitucional e influenciou as constituições seguintes, que passaram
a trazer sua declaração de forma expressa.

No decorrer do século XIX, ocorreu na Europa a efetivação dos direitos fundamentais por meio
de diplomas como:

- A Constituição Espanhola (19/03/1812),

- A Constituição Portuguesa (23/09/1822),

- A Constituição Belga (01/02/1831).

Em 1848, a França, mais uma vez, dá um passo à frente com a Declaração Francesa de 1848, que
ampliou o rol dos direitos fundamentais, servindo de base para as constituições modernas.
No Século XX, surgiram diplomas comprometidos com as causas sociais. Destacam-se a
Constituição Mexicana (1917), que garantia direitos trabalhistas e também direitos relativos à
educação; e ainda a Constituição de Weimar (1919), que previu direitos e deveres fundamentais
dos Alemães, tais como a inviolabilidade de correspondências, a liberdade de pensamento, a
igualdade entre os sexos, a liberdade de culto, alguns direitos especificamente direcionados à
juventude e ainda um sistema de seguridade social.

Na então União Soviética, surgiram a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado
(1918) e, logo depois, a Lei Fundamental Soviética, que apesar de ter sido considerada
retrógrada e ditatorial em muitos aspectos (principalmente por abolir o direito de propriedade
privada, sendo todas as terras divididas entre os trabalhadores de forma igualitária e em
usufruto, já que passaram a ser propriedade do Estado), proclamou o princípio de igualdade,
independente de raça ou nacionalidade.

Mesmo a Itália, que enfrentava um regime ditatorial (fascismo), contribuiu e trouxe um grande
avanço aos direitos humanos com a proclamação da Carta do Trabalho de 1927, que estabelecia
direitos sociais dos trabalhadores.

No Brasil, desde a Constituição de 1824, outorgada por Dom Pedro I, já eram previstos diversos
direitos fundamentais do homem.

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