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A concepção atual de direitos humanos foi moldada ao longo dos anos a partir de ideias e
pensamentos de diferentes povos, desenvolvendo-se através de diversas civilizações, mas que
tinham em comum as mesmas necessidades:
Já nessa época, havia alguns mecanismos para proteção do indivíduo perante o poder do Estado.
Mas foi em 1690 a.C. que surgiu uma das primeiras e mais concretas manifestações do
reconhecimento dos direitos humanos: Hamurabi, o então rei da Mesopotâmia, compilou um
código escrito de leis.
O Código de Hamurabi, talhado em pedra, é um dos conjuntos de leis escritas mais antigos já
encontrados, e pode ter sido o primeiro a prever direitos comuns a todos os homens, tais como
a vida, a propriedade, a honra, a dignidade, a família e, principalmente, a supremacia das leis
em relação aos governantes.
Um tanto quanto radical, o Código de Hamurabi não tolerava desculpas ou explicações para
erros ou falhas, sendo famoso pela rigorosa reciprocidade entre crimes previstos e penas
cominadas (olho por olho, dente por dente).
Na Grécia, a partir do século V a.C., surgiam também vários estudos sobre a necessidade da
igualdade e liberdade do homem, da participação política dos cidadãos (república) e a existência
de leis naturais e superiores às leis escritas, válidas para todos os homens em todas as partes do
mundo (jusnaturalismo).
Outro marco para os direitos humanos é o surgimento da Lei das Doze Tábuas (450 a.C.), logo
após a queda da monarquia e o nascimento da república romana, e que pode ser considerada a
origem dos textos consagradores da liberdade, da propriedade e da proteção aos direitos do
cidadão.
A Lei das Doze Tábuas (Lex Duodecim Tabularum ou simplesmente Duodecim Tabulae, em latim)
formava o cerne da constituição da República Romana e constituía a origem do direito romano.
O texto original das Doze Tábuas perdeu-se quando os gauleses incendiaram Roma em 390 a.C.
Embora seus originais tenham se perdido, historiadores reconstituíram parte de seu conteúdo
com base em fragmentos e citações de outros autores.
O Cristianismo, pregado por Jesus Cristo no século I, na região da atual Palestina, foi rápida e
vigorosamente difundido.
Sua popularização também influenciou diretamente a consagração dos direitos humanos, posto
que defendia, entre outras coisas, a igualdade de todos os homens, independente de origem,
raça, sexo ou credo, o que era essencial à dignidade da pessoa humana.
Durante a Idade Média também ocorreram fatos importantes para o desenvolvimento dos
direitos humanos.
A Idade Média compreende o período que vai da desintegração do Império Romano do Ocidente
ocasionado pelas invasões bárbaras (476 d.C.) até o fim do Império Romano do Oriente, com a
Queda de Constantinopla em 1453 (alguns historiadores consideram como marco final da Idade
Média a descoberta da América em 1492).
Para realmente compreender o desenrolar dos acontecimentos, é preciso entender como era a
vida naquela época...
A Magna Carta, que resultou do desentendimento do rei com o papa e os barões ingleses, tinha
por objetivo limitar o poder monárquico, sendo um tratado de direitos, mas também de deveres
do rei para com os seus súditos. Entre suas disposições estava o direito da Igreja estar livre do
controle governamental e interferências do mesmo, os direitos de todos os cidadãos serem
livres para possuir e herdar bens e serem protegidos de impostos excessivos e até o direito das
viúvas que possuíam propriedade de escolherem não se casar novamente.
A Magna Carta estabeleceu ainda os princípios do devido processo legal e da igualdade de todos
perante a lei. Ela também trouxe disposições proibindo o suborno e a má conduta oficial.
Considera-se a Magna Carta o primeiro capítulo de um longo processo histórico que levaria ao
surgimento do constitucionalismo.
Quatro séculos depois, novamente em resposta a uma série de violações da lei cometidas pelo
rei da Inglaterra, que desta vez era Carlos I, o Parlamento, em 1628, durante o período que
antecedeu a guerra civil inglesa, elaborou a Petition of Right (Petição de Direitos), uma
declaração de liberdades civis, que foi um marco registrado no desenvolvimento dos direitos
humanos.
A Petition of Right foi baseada em estatutos e cartas anteriores e previa expressamente, entre
outras coisas, que:
- A lei marcial (restritiva de direitos) não poderia ser utilizada em tempo de paz.
Obs.: O Habeas Corpus Act muitas vezes é erradamente descrito como a origem do recurso de
habeas corpus. Entretanto, o habeas corpus já existia na Inglaterra há pelo menos três séculos
antes.
Dez anos depois, durante a Revolução Gloriosa, o rei da Inglaterra Jaime II foi deposto e o
parlamento ofereceu a coroa a Guilherme de Orange, com a condição de que se comprometesse
a respeitar a declaração de direitos (Bill of Rights) por eles produzida, e que determinava, entre
outras coisas, os direitos à liberdade, à vida e à propriedade privada e o pelo qual o rei ficava
impedido de suspender a aplicação de leis, além de não poder aumentar impostos e recrutar ou
manter exércitos em épocas de paz sem sua autorização, assegurando o poder do Parlamento
na Inglaterra.
Apesar dos avanços em termos de declaração de direitos, a Bill of Rights não garantia a liberdade
e igualdade religiosa.
Também na Inglaterra, mais um documento pode ser citado como um dos antecedentes
históricos dos direitos humanos: o Act of Settlement (Ato de Estabelecimento), de 12 de junho
de 1701, que foi criado para garantir a sucessão protestante (no sentido religioso) do trono
inglês e o poder do parlamento.
As 10 primeiras emendas, cujo texto não foi inserido na constituição original por não ter obtido
consenso, entraram em vigor em 1791 e ficaram conhecidas como Bill of Rights (Lista de
Direitos), tendo como aspecto primordial a limitação do poder estatal e o estabelecimento de
vários direitos fundamentais.
Mas foi na França, em 26/08/1789, que se deu a consagração do reconhecimento aos direitos
fundamentais com a Declaração dos Direitos Fundamentais do Homem e do Cidadão. Essa
declaração também estabeleceu, em seu art. 16, que a adoção de garantias fundamentais era
um elemento essencial ao próprio conceito de constituição. Isso deu aos direitos humanos
fundamentais um caráter constitucional e influenciou as constituições seguintes, que passaram
a trazer sua declaração de forma expressa.
No decorrer do século XIX, ocorreu na Europa a efetivação dos direitos fundamentais por meio
de diplomas como:
Em 1848, a França, mais uma vez, dá um passo à frente com a Declaração Francesa de 1848, que
ampliou o rol dos direitos fundamentais, servindo de base para as constituições modernas.
No Século XX, surgiram diplomas comprometidos com as causas sociais. Destacam-se a
Constituição Mexicana (1917), que garantia direitos trabalhistas e também direitos relativos à
educação; e ainda a Constituição de Weimar (1919), que previu direitos e deveres fundamentais
dos Alemães, tais como a inviolabilidade de correspondências, a liberdade de pensamento, a
igualdade entre os sexos, a liberdade de culto, alguns direitos especificamente direcionados à
juventude e ainda um sistema de seguridade social.
Na então União Soviética, surgiram a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado
(1918) e, logo depois, a Lei Fundamental Soviética, que apesar de ter sido considerada
retrógrada e ditatorial em muitos aspectos (principalmente por abolir o direito de propriedade
privada, sendo todas as terras divididas entre os trabalhadores de forma igualitária e em
usufruto, já que passaram a ser propriedade do Estado), proclamou o princípio de igualdade,
independente de raça ou nacionalidade.
Mesmo a Itália, que enfrentava um regime ditatorial (fascismo), contribuiu e trouxe um grande
avanço aos direitos humanos com a proclamação da Carta do Trabalho de 1927, que estabelecia
direitos sociais dos trabalhadores.
No Brasil, desde a Constituição de 1824, outorgada por Dom Pedro I, já eram previstos diversos
direitos fundamentais do homem.