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CAPACITAÇÃO TÉCNICA EM

VITICULTURA
1. Adubação e Manejo do Solo para a Cultura da Videira
George Wellington de Melo
A videira é uma cultura que se adapta bem em vários tipos de solos, sendo
que seu desempenho produtivo é melhor naqueles com boa capacidade de
suprimento de nutrientes.
No Brasil, a videira é cultivada em uma grande diversidade de solos, mas
encontram-se cultivos em solos altamente intemperizados, bem como em solos
jovens com alta capacidade de suprimento de nutrientes. No entanto, a grande
maioria dos cultivos é feita em solos que apresentam alguma limitação nutricional,
sendo fósforo e boro, respectivamente, macro e micronutriente mais limitantes,
tornando-se necessário correções para que as plantas tenham condições de
expressarem seu máximo potencial produtivo.
Apesar dos dois nutrientes acima citados serem os mais importantes, a
prática de fertilização do solo é comum entre os produtores, porém os indicadores
da necessidade de adubação ainda não estão bem definidos, tornando a
recomendação de adubação uma atividade empírica. A falta desses indicadores gera
uma grande insegurança nos produtores, os quais ficam a mercê das
recomendações feitas pelas empresas revendedoras de fertilizantes, cujos critérios
utilizados, muitas vezes, são de cunho comercial e não técnico. Como resultado
dessa situação, tem-se observado o aumento da concentração de nutrientes nos
solos, principalmente fósforo e potássio, e ocorrência de desequilíbrios nutricionais
nas plantas.
Neste módulo será enfatizado o manejo nutricional de plantas e a importância
dos solos e sua fertilização para o bom desempenho da atividade vitícola.

1.1 Características dos solos


As características físicas e químicas dos solos influenciam no comportamento
da videira, sendo que profundidade, estrutura e textura são as características físicas
mais importantes, por outro lado, a reação do solo (pH) e a disponibilidade de
nutrientes são as características químicas que mais influenciam.
Físicas:
 Profundidade - O crescimento da videira é melhor em solos mais profundo
do que em solos rasos com rochas superficiais e/ou camadas subsuperficiais
que possam impedir o desenvolvimento das raízes. Os solos profundos,
desde que não apresentem limitações químicas, são os que apresentam
maior potencial para o desenvolvimento do sistema radicular, assim, quanto
maior e mais profundo for o sistema radicular, menor é a possibilidade das
plantas sofrerem com estresse hídrico e maior é a capacidade de absorção
de nutrientes.
 Estrutura - A estrutura se refere ao modo como as partículas primárias dos
solos estão arranjadas formando unidades secundárias. A estruturação do
solo está relacionada às trocas gasosas e circulação de água no solo, sendo
que em um solo bem estruturado, onde ocorre boa troca gasosa, o
crescimento das raízes não sofre restrições e, assim, existindo condições
para boa capacidade de retenção de umidade.
Cultivos em solos mal estruturados podem apresentar uma série de
problemas, onde se destaca a ocorrência de podridões das raízes, que é
comum em regiões de alta precipitação pluviométrica, sendo que a principal
causa é a falta de oxigênio no solo resultante da má drenagem da água.
Estresse hídrico também é comum em solos com má estruturação, pois as
raízes das plantas concentram-se mais na superfície do solo fazendo com
que um curto período de estiagem possa afetar o crescimento das plantas.
 Textura - A textura se refere à proporção relativa das partículas que
compõem o solo. Solos de textura franca, normalmente, apresentam-se com
maior potencial para desenvolvimento do sistema radicular das plantas, bem
como maior capacidade de retenção de umidade. É comum a ocorrência de
estresse por déficit hídrico em solos arenosos porque esses solos possuem
baixa capacidade de retenção de umidade.
Químicas:
 pH - O pH do solo é uma medida simples e indica se a reação do solo é
ácida, neutra ou alcalina. O pH tem uma escala que varia de 0 a 14, sendo
que um valor de pH igual a 7 indica que ele é neutro. Valores acima e menor
que 7 indica pH alcalino e ácido, respectivamente. A importância do pH para a
videira está relacionada com a disponibilidade de nutrientes, poi s sabemos
que pH ácido pode indicar presença de alumínio e manganês tóxicos, b em
como baixa capacidade de suprimento de nutrientes. Por outro lado, solos co
m pH alcalino podem apresentar problemas com disponibilidade de
micronutriente s, principalmente zinco, boro e molibdênio.
Nas condições brasileiras, a grande maioria dos solos apresenta reação
ácida, o que indica necessidade de usa calagem para aumentar o pH e, ao
mesmo tempo, elevar os teores de cálcio e magnésio. A utilização de
fertilizantes químicos também podem alterar o pH do solo, como por exemplo
o uso contínuo de sulfato de amônio pode baixar o pH, com isso reduzindo a
disponibilidade de nutrientes , principalmente o fósforo. Pensando em
maximizar a disponibilidade de nutrien tes tem-se procurado trabalhar com pH
dos solos em tornar de 6,0, pois nestas condições os solos não têm
apresentado níveis tóxicos de alumínio e problemas de indisponibilidade de
micronutrientes.
 Teores de nutrientes - Essa característica é obs ervada na capacidade de
troca de cátions do solo (CTC), cujos componentes prin cipais são cálcio e
magnésio. No RS os teores de cálcio > 4 cmol c l ¯¹ e de magnésio >1,0 cmolc l
¯¹ são consider ados altos. Os solos da região apresentam boa fertilidade
natural, sendo que a maior limitação também é o baixo teor de fósforo (Tabela
1) e profundidade do solo, que se faz necessário cuidados especia is com a
conservação do solo. Normalmente solos ácidos têm baixa reserva de nu
trientes, sendo necessário uso de fertilizantes para suprir as necessidades da
s plantas.
Tabela 1. Características químicas dos principais solos do RS cultivados com
videira.

1.2 Disponibilidade de Nutrientes


Nas condições da viticultura brasileira, os nutrientes que mais se deve prestar
atenção são fósforo, potássio, nitrogênio, cálcio, magnésio e boro, principalmente
por serem os mais exigidos pela planta e/ou encontrarem-se em menor
concentração nos solos.
Fósforo
O nutriente fósforo atua como componente estrutural das membranas
celulares, bem como fazendo parte de compostos responsáveis pela fixação do CO 2
atmosférico e pelo metabolismo de açúcares.
Solos brasileiros são deficientes em fósforo, com teores médios em torno de
1,0 mg kg ¯¹ (Mehlich 1), que torna necessário utilização de adubos químicos para
suprir a deficiência. Os sintomas de deficiência de fósforo ocorrem em folhas
maduras, onde é observado redução do tamanho, tornam-se amareladas e ainda
podem apresentar limbo com manchas avermelhadas.
A concentração normal de fósforo nas folhas da videira varia de 0,15 a 0,25 %,
sendo que a planta absorve cerca de 1,4 kg de P 2O5 para produzir 1000 kg de frutos.
Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente deficientes em fósforo, não se tem
observado sintomas de deficiência em plantas, isto é devido ao uso de fertilizantes
químicos que vem fazendo com que o teor de P nos solos cultivados com videira
apresentem muito acima do encontrado em solos virgens (Tabela 2).

Potássio
É um nutriente que atua em funções que dizem respeito às relações
osmóticas, dinâmica dos estômatos e ativador enzimático. O potássio é uma
elemento que não forma compostos orgânicos no interior das plantas, predominando
na forma iônica K.
O critério utilizado com indicador da disponibilidade de potássio nos solos é o
K-trocável, isto é, o potássio encontrado adsorvido nas cargas do solo formando
compostos de esfera externa. Na grande maioria dos solos brasileiros o
concentração de K é considerada baixa, no entanto, os solos da região da Serra
Gaúcha apresentam teores de médio a elevado e mesmo assim os teores nos solos
cultivados vêm aumentado com o cultivo da videira (Tabela 2).
Tabela 2. Características químicas das amostras de solos do RS analisadas
pelo Laboratório de Análise de Solos e Tecidos da Embrapa Uva e Vinho, antes
e após ser cultivado com videira.
Por ser um elemento bastante móvel no interior das plantas, os sintomas de
deficiência de potássio ocorrem em folhas mais velhas. Nas variedades brancas os
sintomas iniciais se caracterizam por amarelecimento nas proximidades das bordas
foliares, com o agravamento da deficiência as bordas ficam necrosadas. Nas
variedades tintas, as folhas tornam-se avermelhadas e também mostram o
necrosamento das bordas.
A concentração normal de potássio nas folhas da videira varia de 1,50 a 2,50
%, sendo que a planta absorve cerca de 6 kg de K 2O para produzir 1000 kg de
frutos. Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente deficientes em potássio,
como no fósforo, também não tem sido observado sintomas de deficiência em
plantas. O uso indiscriminado de fertilizantes potássicos aumenta a concentração
desse elemento no mosto, isso pode acarretar problemas enológicos.
Nitrogênio
Cerca de 1 a 2 % da matéria seca de videira é constituída de compostos
nitrogenados. O N participa como componente primário de aminoácidos, proteínas,
clorofila e citocininas, tendo como função estrutural e metabólica.
O teor de matéria orgânica é o indicador de disponibilidade de N no solo mais
utilizado, mas este não tem sido muito eficaz na predição do comportamento das
plantas, o que tem causado sérios problemas na viticultura, pois tanto o excesso
quanto a deficiência de nitrogênio afeta a produtividade e a qualidade dos frutos. Na
Tabela 2 observa-se que o cultivo da videira tem diminuído o teor de matéria
orgânica do solo, sendo que uma das prováveis causas dessa diminuição é o uso
inadequado de nitrogênio.
Os sintomas de deficiência de nitrogênio se caracterizam pela redução no
vigor das plantas e pela clorose (amarelecimento) no limbo das folhas maduras e
velhas. Em algumas variedades tintas as folhas e, principalmente, os pecíolos
podem apresentar coloração avermelhada.
A concentração normal de N nas folhas da videira varia de 1,60 a 2,40 %,
sendo que a planta absorve cerca de 2 kg de N para produzir 1000 kg de frutos.
Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente deficientes em nitrogênio,
freqüentemente observa-se tanto a falta quanto o excesso de N nos parreirais. Isto
indica que os produtores ainda não têm consenso no uso de nitrogênio,
principalmente porque há uma relação inversa entre excesso de vigor das plantas e
produtividade e/ou qualidade dos frutos, o que leva os produtores a temer uma
aplicação excessiva de fertilizantes nitrogenados.

Cálcio
O cálcio é responsável pela estabilidade estrutural e fisiológica dos tecidos
das plantas, juntamente com outras substâncias, ele regula os processos de
permeabilidade das células e tecidos; também tem função de ativador enzimático. O
cálcio forma fitatos e pectatos, que o torna importante na manutenção da integridade
da parece celular.
O indicador da disponibilidade de cálcio nos solos é o Ca-trocável, extraído
com KCl 1 M. Apesar dos teores de Ca 2+ da grande maioria dos solos brasileiros
serem considerados baixos, ele não tem sido problema para a videira, pois a
calagem utilizada para aumentar o pH do solo aumenta o teor de Ca-trocável. Para
os solos do RS, teores maiores que 4 cmol c/l são considerados altos, sendo que na
Serra Gaúcha a maioria dos solos possuem naturalmente altos teores e, mesmo
assim, a exploração da videira tem aumentado a concentração de cálcio no solo
(Tabela 2).
O cálcio é um elemento pouco móvel na planta, por isso os sintomas de
deficiência aparecem nas folhas jovens. Essas folhas normalmente são menores do
que as normais, com a superfície entre as nervuras cloróticas, com pintas necróticas
e tendência a se encurvarem para baixo. Os teores de cálcio considerados normais
para a videira varia de 1,6 a 2,4 % , sendo que as plantas retiram cerca de 6 kg de
CaO para produzir 1000 kg de frutos.

Magnésio
O Mg participa na ativação de várias enzimas e na estabilidade de
ribossomas; ele também é um componente do pigmento de clorofila. Mais de 300
enzimas são influenciadas pelo magnésio.
O indicador da disponibilidade de magnésio nos solos é o Mg-trocável,
extraído com KCl 1 M. Apesar dos teores de Mg 2+ da grande maioria dos solos
brasileiros serem baixos, ele não tem sido problema sério para a videira, pois, como
para o cálcio, a utilização de calcário dolomítico para aumentar o pH do solo também
aumenta o teor de Mg. Para os solos do RS, teores maiores que 1,0 cmol c/l são
considerados altos, sendo que na Serra Gaúcha a maioria dos solos possuem
naturalmente altos teores e, mesmo assim, a exploração da videira tem aumentado
a concentração de cálcio no solo (Tabela 2).
O magnésio é um elemento móvel na planta, por isso os sintomas de
deficiência aparecem nas folhas maduras. Essas folhas apresentam a superfície
entre as nervuras cloróticas, que com o agravamento da deficiência vão ficando
amareladas, no entanto as nervuras permanecem verdes. Tem-se observado um
distúrbio fisiológico chamado dessecamento da ráquis, sendo sua ocorrência mais
freqüente em anos em que o período de maturação dos frutos é bastante chuvoso e
o solo apresenta-se com alto teor de potássio e baixo de magnésio. Os teores de
magnésio considerados normais para a videira varia de 0,25 a 0,50 % , sendo que
as plantas retiram cerca de 1 kg de MgO para produzir 1000 kg de frutos.
Boro
O boro atua no transporte de carboidratos no interior das plantas. Além disso
existem evidências de que ele faz parte dos mecanismos hormonais que são
responsáveis pelo crescimento das plantas.
O indicador da disponibilidade de boro nos solos é o B extraído com água
quente. A grande maioria dos solos do Brasil, cultivados com videira, possuem baixo
teor de boro. No RS, freqüentemente tem-se observado sintomas de deficiência de
B, sendo que os problemas normalmente aparecem em solos cujo teor é menor do
que 0,6 mg dm-3. Para os solos do RS considera-se 1,0 mg dm -3 como o nível
satisfatório de boro.
A mobilidade do boro nas plantas ainda é muito discutida, principalmente
porque os sintomas de deficiência aparecem nas folhas e ramos novos. A
característica principal é a redução no tamanho das folhas e encurtamento dos
estrenós. Os teores de boro considerados normais para a videira varia de 15 a 22
mg dm-3, sendo que as plantas retiram cerca de 10 g de B para produzir 1000 kg de
frutos.

1.3 Preparo da área e manejo do solo


Preparo da área
O preparo da área tem por finalidade assegurar que as mudas de videira sejam
plantadas em condições que possam expressar todo o seu potencial produtivo. Ele
consta das operações de roçagem, destocamento, lavração, gradagem, abertura das
covas e amostragem de solo.
 Roçagem - Consiste na eliminação da vegetação existente. Esta prática pode
ser executada manualmente ou com tratores. Em ambos os casos, não se
aconselha a queima da vegetação, apenas retiram-se os arbustos e galhos
maiores, sendo o restante incorporado ao solo através de uma ou mais
lavrações.
 Destocamento - Caso a área seja coberta por mata ou outra vegetação
maior, com sistema radicular mais desenvolvido, aconselha-se executar o
destocamento após a roçagem da vegetação. Esta prática tem por objetivo a
retirada dos tocos maiores para facilitar os demais trabalhos. Ela é feita com
implementos mais pesados tracionados por tratores e eventualmente por
animais.
 Lavração - Esta prática visa a mobilização total do solo. A profundidade em
que esta mobilização é feita depende do tipo de solo e dos trabalhos nele
executados anteriormente. É mais comum fazer a lavração à profundidade de
20 a 25 cm.
 Gradagem - Esta prática visa nivelar o terreno que foi revolvido. Este
nivelamento permite a distribuição mais uniforme dos adubos e facilita a
demarcação das covas para o plantio.
 Preparo das covas - As covas são preparadas após o nivelamento do solo,
tendo as dimensões de 50 x 50 x 50 cm.
 Amostragem para análise de solo - Esta operação tem por finalidade
identificar o grau de suficiência ou deficiência dos nutrientes do solo,
permitindo a correção das possíveis deficiências nutricionais, bem como dos
elementos que podem prejudicar a cultura.
A amostragem é a etapa mais importante para a análise de solo, pois ela tem
que refletir a realidade da área, caso contrário pode-se fazer interpretações errôneas
dos laudos de análises. Ela é feita logo após a escolha da área, sendo que a área
total deve ser dividida em áreas menores homogêneas, isto é com características
semelhantes, tais como topografia, cor do solo e vegetação.
A profundidade de amostragem pode ser de 0 a 20 e 20 a 40 cm, sendo que a
primeira é utilizada para recomendação de calagem e fertilizantes, a segunda visa
conhecer possíveis limitações da subsuperfície que podem interferir no
desenvolvimento das plantas. Deve-se coletar, no mínimo, vinte amostras simples
por área homogênea, obtendo assim uma amostra composta que vai ser enviada ao
laboratório.
1.4 Manejo do Solo
Após o preparo da área tem-se que pensar em, no mínimo, manter as condições
ideais para o cultivo da parreira, sendo para isso necessário manejar corretamente o
solo. O manejo do solo consiste em várias práticas de cultivo cujos objetivos é evitar
que haja degradação das características químicas, físicas e biológicas do solo e,
assim permitir que a exploração seja duradoura e sustentável.
A principal causa do depauperamento de um solo é a erosão, sendo que, no Brasil, a
chuva é o principal agente erosivo. As chuvas de alta intensidade são as com maior
potencial para provocar erosão, pois a energia que as gotas atingem o solo é alta o
suficiente para irromper as partículas de solo, facilitando o transporte das partículas
pela enxurrada.
Uma outra causa da degradação dos solos é o uso intensivo de máquinas e
veículos que provocam a compactação do solo, assim impedindo o desenvolvimento
radicular, diminuindo a taxa de infiltração de água no solo e, em conseqüência disso,
diminui a produtividade e longevidade dos vinhedos.
Partindo da premissa de que a gota da chuva que atinge o solo é o principal
responsável pelo início do processo de erosão, deve-se evitar que o solo fique sem
uma vegetação de cobertura, pois é ela quem vai diminuir o efeito do impacto das
gotas sobre o solo. Assim tem-se uma série de plantas que são utilizadas com
cobertura do solo.
 Plantas de cobertura - Nas regiões subtropicais as principais plantas
utilizadas como cobertura do solo são as leguminosas e as gramíneas (Tabela
3). Normalmente são semeadas após a colheita e queda das folhas da
videira. Essas plantas têm um papel fundamental na manutenção das
características do solo, pois, além de servirem de cobertura do solo, também
fazem a ciclagem de nutrientes, evitando perdas dos nutrientes oriundos da
decomposição das folhas da videira. Tem-se que tomas cuidado com a
competição entre as plantas de cobertura e a videira, para isso a cobertura
verde deve permanecer na área até mais ou menos 15 dias antes da
brotação, quando então são dessecadas ou roçadas.
Tabela 3. Sugestões de gramíneas e leguminosas para cobertura do solo.

1.5 Calagem e Adubação


Existem três tipos fundamentais de adubação: a de correção, efetuada antes
do plantio, a de plantio, realizada na ocasião do plantio do porta-enxerto ou da
muda, e a de manutenção, realizada durante a vida produtiva da planta. A primeira é
feita para corrigir a fertilidade do solo para padrões de fertilidade preestabelecido, a
segunda é feita para permitir o crescimento inicial das plantas, a terceira é para
repor os elementos absorvidos pela planta durante o ano.
Calagem
Tem como finalidade eliminar prováveis efeitos tóxicos dos elementos que
podem ser prejudicial às plantas, tais como alumínio e manganês, e corrigir os
teores de cálcio e magnésio do solo. Para a videira o pH do solo deve estar próximo
de 6,0. No RS e SC utiliza-se o índice SMP como indicador da necessidade de
calagem (Tabela 4), no entanto existem outros indicadores, tais como alumínio
trocável e saturação de bases. Deve-se dar preferências para o uso do calcário
dolomítico (com magnésio), sendo que o mesmo deve ser aplicado ao solo, pelo
menos, 3 meses antes do plantio, distribuindo-se em toda área.
Tabela 4. Recomendação de calagem para solos do RS e SC
Normalmente após três a quatro anos após a implantação do vinhedo há
necessidade de fazer uma nova calagem. O modo de aplicação do calcário é
bastante controverso, pois em regiões de ocorrência de fusariose, o corte do sistema
radicular pode aumentar a mortalidade de plantas infectadas por fusarium, e, em
vinhedos sob Litossolos, há afloramento de rochas. Nas duas situações é proibitivo a
prática da incorporação do calcário, sendo então necessário a aplicação do calcário
na superfície sem a necessidade de incorporação, pois o uso de fertilizantes
nitrogenados, prática comum, faz com que o cálcio se aprofunde no solo na forma
de nitrato de cálcio ou mesmo de sulfato de cálcio. No RS a dose recomendada tem
sido a metade da necessidade estimada pelo índice SMP.
Adubação de Correção
Como o nome já diz, é feita para corrigir possíveis carências nutricionais. Nela
procura-se corrigir os teores de fósforo e potássio.
Os indicadores da disponibilidade de K e P para os solos do RS é o Mehlich 1.
A quantidade de nutriente a ser aplicada baseia-se em análise de solo e segue-se a
Tabela 5. Os fertilizantes devem ser aplicados 10 dias antes do plantio e devem ser
distribuídos em toda área.
Tabela 5. Adubação de correção
As fontes utilizadas para fósforo são os superfosfatos, enquanto que para o
potássio recomenda-se o uso do cloreto de potássio ou sulfato de potássio. Em
condições de pH menor que 6,0 há possibilidade de utilização de fosfatos naturais,
mas deve-se comparar custo dessa aplicação com a aplicação de um fosfato mais
solúvel.
Adubação de Plantio
Esta adubação tem finalidade complementar a adubação de correção. Utiliza-
se esterco e fertilizantes químicos à base de nitrogênio, fósforo, potássio e , quando
necessário, micronutrientes. A época de realização dessa operação, como o próprio
nome diz, é na ocasião do plantio.
A quantidade de nitrogênio a ser aplicada está relacionada com o teor de
matéria orgânica do solo e segue-se a tabela 6. A fonte de N a ser utilizada deve ser
aquela mais fácil de ser encontrada na região. Quando for utilizado uréia deve-se
tomar o cuidado para evitar perdas por volatilização, assim o solo deve estar úmido
e/ou incorporar o fertilizante ao solo.
Tabela 6. Adubação nitrogenada de plantio
O teor de fósforo e potássio a ser adicionado constam na tabela 7. As fontes a
serem utilizadas são superfosfato triplo e cloreto de potássio por serem as mais
fáceis de serem encontradas e também as de menor custo.
Tabela 7. Adubação fosfatada e potássica de plantio
Em solos com menos de 2,5 g kg ¯¹ de matéria orgânica recomenda-se a
aplicação de esterco de gado, na dose 80 t ha ¯¹, que deve ser colocado no fundo
das covas das plantas e bem misturado com o solo.
Adubação de manutenção
Tem a finalidade de repor os nutrientes que são exportados na forma de
frutos. A recomendação é feita na expectativa da produtividade a ser alcançada,
utiliza-se três classes de produtividade que são: < 10, 10 a 25 e > 25 t ha ¯¹. As
doses e épocas de aplicações estão nas tabelas 8, 9, 10, 11, 12 e 13 .
Tabela 8. Doses de fertilizante fosfatado a ser utilizado na adubação de
manutenção conforme análise de tecido
Tabela 9. Doses de fertilizante nitrogenado a ser utilizado na adubação de
manutenção conforme análise de tecido
Tabela 10. Doses de fertilizante potássico a ser utilizado na adubação de
manutenção conforme análise de tecido
Tabela 11. Época de aplicação de fertilizantes na videira (% da dose
recomendada) destinada a produção de vinho.
Tabela 12. Época de aplicação de fertilizantes na videira (% da dose
recomendada) destinada a produção de suco.
Tabela 13. Adubação de manutenção baseada na concentração de boro em
pecíolos e folhas completas de videira.
Tabelas - Adubação e Manejo do solo para a Cultura da Videira

Tabela 1. Características químicas dos principais solos do RS cultivados com videira.


Características Químicas
2+
Ca Mg 2+ K+ Al 3+ P M.O
Classificação dos solos -3
---------------------------cmolc ------------------ mg
g-1 g kg-1
Alissolo com Topo do B textural
9,7 2,5 0,36 0,4 1,0 2,9
Escurecido Ta
Podzolissolo Acinzentado Distrófico 5,7 1,1 0,23 0,1 4,0 2,4
Podzolissolo Vermelho Distrófico 8,2 2,3 0,49 0,1 5,0 4,9
Chernossolo Argilúvico Férrico 11,2 3,7 0,74 0,0 2,0 6,3
Cambissolo Húmico Tb Baixa Saturação
1,7 1,9 0,10 4,7 2,0 4,2
por Bases
Cambissolo Húmico Ta Alta Saturação por
9,0 4,0 0,48 0,0 72,0 5,3
Bases Háplico Típico
Cambissolo Tb Baixa Saturação por
5,0 1,5 0,30 0,3 1,0 3,0
Bases Lítico
Neossolo Litólico com Alta Saturação por
9,2 2,1 0,24 0,0 3,0 2,3
Bases A Chernozêmico
Neossolo Litólico com Baixa Saturação
6,2 2,8 0,50 0,1 2,0 3,1
por Bases Típico
Nitossolo Bruno-Avermelhado com Baixa
0,4 0,7 0,24 3,3 2,0 3,2
Saturação por Bases

Tabela 2. Características químicas das amostras de solos do RS analisadas pelo Laboratório de Análise de
Solos e Tecidos da Embrapa Uva e Vinho, antes e após ser cultivado com videira.
Características Antes Depois
Cálcio (Ca ) cmolc dm-3
2+
1,7 a 12,0 11,0 a 18,0
Magnésio (Mg2+) cmolc dm-3 1,1 a 4,0 6,0 a 8,0
Potássio (K+) cmolc dm-3 0,21 a 0,23 0,31 a 0,39
Fósforo (P) mg dm-3 3,0 a 7,0 32,0 a 76,0
Cobre (Cu2+) mg dm-3 0,3 a 0,8 70,0 a 140,0
Zinco (Zn2+) mg dm-3 1,0 a 2,0 14,0 a 30,0
Matéria orgânica g kg-1 2,0 a 6,0 2,0 a 4,0
pH 1,9 a 5,5 5,9 a 6,8

Tabela 3. Sugestões de gramíneas e leguminosas para cobertura do solo.


Época de
Gramíneas Solo
Cultivo
Aveia Amarela
Inverno Prefere solos francos e bem drenados
(Avena spp)
Aveia Preta (Avena
Inverno Prefere solos argilosos com pH de 5 a 7
spp)
Azevém (Lolium Adapta-se em qualquer tipo de solo, mas prefere
Inverno
multiflorum Lam) argilosos e ricos em matéria orgânica
Época De
Leguminosas Solo
Cultivo
Adapta-se bem em todo tipo de solo, desde que bem
Ervilhaca (Vicia spp) Inverno
drenados
Tremoço (Lupinus
Inverno O tremoço amarelo adapta-se bem em solos ácidos
spp)

Tabela 4. Recomendação de calagem para solos do RS e SC


Índice Índice
Calcário a adicionar (Mg ha-1) Calcário a adicionar (Mg ha-1)
SMP SMP
<4,4 21,0 5,8 4,2
4,5 17,3 5,9 3,7
4,6 15,1 6,0 3,2
4,7 13,3 6,1 2,7
4,8 11,9 6,2 2,2
4,9 10,7 6,3 1,8
5,0 9,9 6,4 1,4
5,1 9,1 6,5 1,1
5,2 8,3 6,6 0,8
5,3 7,5 6,7 0,5
5,4 6,8 6,8 0,3
5,5 6,1 6,9 0,2
5,6 5,4 7,0 0,0
5,7 4,8 - -
Fonte: SBCS-NRS / Comissão de Fertilidade do Solo RS/SC

Tabela 5. Adubação de correção


P Mehlich (mg kg-1) K trocável
< 9,0 9,0 a 14,0 > 14,0 < 1,5 1,5 a 2,1 > 2,1
-1 -1
----------------- P 2O5 (kg ha ) ----------------- ------------------ K 2O (kg ha ) ----------------
200 100 0 90 60 0

Tabela 6. Adubação nitrogenada de plantio


Matéria Orgânica Dose de Nitrogênio
-1 -1
g kg kg ha
< 25 50
25 - 50 30
> 50 0

Tabela 7. Adubação fosfatada e potássica de plantio


Nutriente Dose (kg ha-1)
Fósforo (P2O5) 60
Potássio (K2O) 40

Tabela 8. Doses de fertilizante fosfatado a ser utilizado na adubação de manutenção conforme análise de
tecido
Dose de
Teores de P nas Folhas Completas / Pecíolos - Classes de
P2O5
Interpretação
(Kg/Ha)
Deficiente / Abaixo do normal 40-80
Normal 0-40
Acima do normal/Excesso 0

Tabela 9. Doses de fertilizante nitrogenado a ser utilizado na adubação de manutenção conforme análise de
tecido
Produção Dose de
Teores de N nas Folhas Completas / Pecíolos - Classes de
Esperada N
Interpretação
(t ha-1) (kg ha-1)
< 15 10 - 20
Deficiente/Abaixo do normal 15-25 20 - 40
> 25 40 - 50
< 15 0 - 15
Normal 15-25 15 - 25
> 25 25 - 50
< 15 0
Acima do normal/Excesso 15-25 0
> 25 0

Tabela 10. Doses de fertilizante potássico a ser utilizado na adubação de manutenção conforme análise de
tecido
Produção Dose de
Teores de K nas Folhas Completas / Pecíolos - Classes
Esperada K2O
de Interpretação
(t ha-1) (kg ha-1)
< 15 60 - 80
Deficiente/Abaixo do normal 15 - 25 80 - 120
<25 120 - 140
<15 0 - 20
Normal 15 - 25 20 - 40
>25 40 - 60
<15 0
Acimado normal/Excesso 15 - 25 0
>25 0

Tabela 11. Época de aplicação de fertilizantes na videira (% da dose recomendada) destinada a produção de
vinho
Fósforo
Nitrogênio Potássio (K2O)
Época (P2O5)
------------------------------------- % ------------------------------------------
10 dias antes da
- 75 60
poda
10 dias após a
50 25 40
poda
30 dias após a
25 - -
poda
45 dias após a
25 - -
poda

Tabela 12. Época de aplicação de fertilizantes na videira (% da dose recomendada) destinada a produção de
suco.
Fósforo
Nitrogênio Potássio (K2O)
Época (P2O5)
------------------------------------- % ------------------------------------------
10 dias antes da
- 75 40
poda
10 dias após a
50 25 30
poda
30 dias após a
25 - -
poda
45 dias após a
25 - -
poda
80 dias após a
- - 30
poda
Tabela 13. Adubação de manutenção baseada na concentração de boro em pecíolos e folhas completas de
videira.
Quantidade de B a aplicar
Material Faixa de Interpretação
(Kg ha-1)
Pecíolos Insuficiente 9,7
Abaixo do normal 7,8
Normal 0
Acima do normal 0
Excessivo 0
Abaixo do normal 9,7
Folhas inteiras Normal 0
Acima do normal 0

2 Doenças Fúngicas da Videira e seu Controle

Olavo Roberto Sônego


Lucas da R. Garrido
As doenças fúngicas constituem-se num do principais problemas em todas as
regiões produtoras de uva do Brasil. Onde as condições climáticas são favoráveis ao
desenvolvimento destes patógenos, o controle pode atingir 30% do custo de
produção da uva.
O diagnóstico correto da doença é o primeiro passo para o seu controle. A
partir do conhecimento do patógeno, será possível estabelecer o método mais
adequado e eficaz de controle e reduzir ao mínimo seus danos.
Serão mencionadas a seguir as doenças fúngicas de maior ocorrência e importância
pelos prejuízos que causam à viticultura no Brasil, e orientar na tomada de decisão
quanto ao controle.

Doenças da parte aérea


Doenças da madeira ou declínio da videira
Doença vascular
Podridões das raízes da videira
2.1 Doenças da parte aérea
Antracnose
A antracnose, causada pelo fungo Elsinoe ampelina, forma anamorfa Sphaceloma
ampelinum = Gloeosporium ampelophagum, é também conhecida como varola,
negrão, carvão ou olho-de-passarinho. Ocorre em todas as regiões vitícolas do
Brasil, mas é mais prejudicial no Sul do pais devido a umidade ser mais intensa. As
condições climáticas predisponentes para o aparecimento da doença são ventos
frios e umidade elevada (precipitação, cerração, nevoeiro, chuvisco), condições que,
normalmente, ocorrem na região Sul do Brasil no início do período de
desenvolvimento da videira.
 Sintomatologia:O fungo pode afetar todas as partes verdes da planta, sendo
que os danos são maiores nos tecidos jovens e tenros. Nos brotos, ramos e
gavinhas aparecem lesões (cancros) de bordos escuros e centro mais claro.
Nas folhas, formam-se pequenas manchas castanho-escuras e circulares
que, muitas vezes, perfuram o tecido do limbo foliar. A infecção das nervuras,
causa a deformação da folha em crescimento. Nas bagas há a formação de
manchas arredondadas, deprimidas de coloração castanho-escura e
circundadas por halo pardo-avermelhado, com aspecto de "olho-de-
passarinho", em condições de alta umidade, nas partes mais profundas das
lesões, observa-se massa rosada constituída pela frutificação do fungo . Nos
ramos surgem cancros profundos de contorno irregular e bem definido. Nas
pontas dos brotos novos as lesões coalescem, dando aspecto de queimado.
Quando o ataque ocorre na floração, observa-se escurecimento e queda dos
botões florais.
 Condições favoráveis: Regiões com primaveras úmidas e precipitação
pluviométrica freqüente e abundante, possuem condições favoráveis para o
desenvolvimento da doença, mesmo com temperaturas relativamente baixas,
pois o agente causal pode desenvolver-se numa faixa muito ampla de
temperatura (2ªC a 32ªC). As infecções mais severas ocorrem em
temperaturas entre 15ªC e 20ªC. O período de incubação varia de 13 dias a
2ªC a 4 dias a 20ªC. Pelo menos precipitação de 2 mm já é suficiente para
disseminar os conídios para os tecidos jovens e tenros das brotações, onde
eles germinam e produzem as infecções primárias quando ocorrer pelo
menos 12 horas de água livre. O patógeno sobrevive por meio de escleródios
formados nos bordos dos cancros ou na forma de massas de micélio que se
formam nas lesões.
 Controle: Como medidas preventivas, recomenda-se evitar o plantio nas
baixadas úmidas e em locais expostos aos ventos frios, utilizar material
vegetativo sadio. Eliminar, pela poda hibernal, os ramos com cancros
retirando-os do vinhedo e fazendo o enterrio ou queima desse material.
Formação de quebra-vento durante a implantação do vinhedo.
 Tratamentos químicos:; Caso tenha ocorrido um ataque muito intenso no
ano anterior, deve-se fazer tratamento com calda sulfocálcica no período de
repouso da planta. Para os tratamentos durante o ciclo vegetativo da planta,
principalmente na primavera, devem ser utilizados produtos orgânicos
(Tabelas 1 e 2 ). Como os tecidos jovens e em crescimento são os mais
suscetíveis, o primeiro tratamento deve ser feito no início da brotação e os
demais, de acordo com as condições climáticas favoráveis à ocorrência desta
doença e/ou persistência do fungicida empregado.
Escoriose
A escoriose da videira, causada pelo fungo Phomopsis viticola = Fusicoccum
viticola , é uma doença que vem preocupando produtores e técnicos por sua
crescente incidência e danos causados. Períodos prolongados de chuva e baixas
temperatura nos estádios iniciais de crescimento das brotações, são os fatores
primários ideais para a ocorrência de infecções severas. Esta doença pode
enfraquecer a parreira, reduzir a produção e a qualidade da uva.
 Sintomatologia:; Os sintomas característicos surgem no início da brotação
na base dos ramos do ano, geralmente até o terceiro ou quarto entrenó. Eles
se apresentam na forma de crostas ou escoriações superficiais de cor
marrom-escura, podendo envolver toda porção basal do ramo ou na forma de
lesões alongadas longitudinais, escuras e superficiais. Estes sintomas
também são observados na maturação dos ramos, e onde se formam as
estruturas reprodutivas e de sobrevivência do fungo. Os ramos afetados
podem apresentar engrossamento da base, na região de inserção, facilitando
a quebra dos mesmos.
Nas folhas, apresentam-se como pequenas manchas cloróticas pontuadas no
limbo foliar, evoluindo para manchas necróticas. Nas nervuras pode provocar
a deformação da folha. Lesões nas brotações e folhas aparecem cerca de 3 a
4 semanas após a infecção, mas não formam novos esporos até a safra
seguinte. As infecções durante a estação são resultante do inóculo da
estação anterior. O fungo também pode causar podridão dos frutos. Bagas
infectadas tornam-se marrom e murchas, podendo cair em seguida.
Deve-se tomar cuidado para não confundir esta doença com a antracnose,
dada a semelhança de alguns dos seus sintomas.
 Condições favoráveis: Períodos prolongados de chuva e frio são as
condições ideais para o desenvolvimento do patógeno. Os conídios germinam
numa ampla faixa de temperatura 1°C e 37°C, sendo a temperatura ótima de
23°C. Os tecidos jovens e tenros no inicio da brotação são altamente
sensíveis ao fungo.
 Controle: Quando a doença já está instalada na planta, recomenda-se a
redução do inóculo pela remoção e destruição dos ramos atacados durante a
poda ou tratamento químico de inverno com calda sulfocálcica após a poda e
antes da brotação. Na primavera, o controle químico deve ser realizado no
início da brotação quando a planta encontra-se nos estádios de maior
suscetibilidade. O tratamento pode ser realizado junto com a aplicação para a
antracnose. Os produtos recomendados encontram-se na Tabelas 1 e 2.
Míldio
O míldio, causado pelo pseudofungo Plasmopara viticola, é a principal doença
fúngica da videira quando cultivada em locais quentes e úmidos. Portanto, o míldio
chega a constituir-se em fator limitante a cultura da videira em regiões com
condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do patógeno (precipitação,
umidade e temperaturas elevadas). A ausência de chuva na primavera e verão limita
a disseminação do patógeno. A doença também é conhecida como peronóspora,
mufa ou mofo.
 Sintomatologia: Este fungo pode afetar todas as partes verdes da planta;
porem, os principais sintomas são observados nas folhas, flores, frutos e
ramos herbáceos.
Na face superior da folha, os primeiros sintomas visíveis são manchas de
coloração verde-claro e aspecto oleoso conhecidas como "mancha de óleo". Em
condições de alta umidade, na face inferior da folha, na área correspondente, a
estas manchas de óleo, surgirá uma eflorescência branca (mofo branco) que é a
frutificação do fungo. O tecido afetado da folha torna-se necrosado e de
coloração castanho-avermelhada. Quando o ataque é muito intenso as folhas
doentes caem prematuramente, privando a planta de seu órgão de nutrição.
Quando há infecção nas inflorescências, ocorre a deformação das mesmas,
deixando-as com aspecto de gancho. Na floração, o patógeno provoca o
escurecimento e destruição das flores afetadas, sintomas muito semelhantes aos
ocasionados pela antracnose.
Nas bagas novas o fungo pode penetrar diretamente pelos estômatos ou
pedicelo, com o desenvolvimento da doença e em condições de alta umidade,
haverá a formação de eflorescência branca que é a frutificação do fungo.
Nas bagas mais desenvolvidas, o patógeno penetra pelo pedicelo e se
desenvolve no interior da baga, que torna-se escura e endurecida com
depressões, destacando-se facilmente do cacho. Nesta fase a doença é
conhecida como "peronóspora larvada", devido à semelhança com os sintomas
causados pela mosca-das-frutas.
Os ataques na inflorescência e nos cachos são os mais severos, pois
atingem diretamente o produto final podendo comprometer totalmente a
produção.
Os ramos são normalmente atacados nos estádios iniciais de crescimento, ou
em suas extremidades. Os ramos infectados apresentam coloração marrom -
escura, com aspecto de escaldado. Os nós são mais sensíveis do que os
entrenós.
 Condições favoráveis: Todos os fatores que contribuem para aumentar o
teor de água no solo, ar e planta favorecem o desenvolvimento da doença.
Portanto, a chuva é o principal fator epidemiológico por propiciar tais
condições. A temperatura exerce papel moderador, freando ou acelerando as
epidemias. A temperatura ótima para o desenvolvimento do fungo fica entre
20°C a 25°C. Para ocorrer a infecção são suficientes 90 minutos com água
livre (chuva, orvalho e / ou nevoeiro) a 22°C. As infecções são mais graves se
a duração do período de água livre for maior do que três horas. O período de
incubação varia de acordo com a temperatura e a umidade relativa do ar,
podendo ser de 4 a 5 dias em temperatura entre 22°C a 25°C e umidade
relativa acima de 95%. A esporulação ocorre em umidade elevada. Com 98%
de umidade do ar, a esporulação se forma em 10 horas a 25°C, 18 horas a
20°C e em 20 horas a 13°C.
 Controle Medidas Preventivas: O objetivo principal das medidas preventivas
é inibir o desenvolvimento inicial da doença. Boa drenagem do solo, prevenirá
o seu encharcamento, desfavorecendo a maturação e germinação dos
oósporos. Adubação equilibrada, evitando excesso de nitrogênio, desbrota e
poda verde para melhorar a insolação e o arejamento, redução das fontes de
inóculo responsáveis pelas primeiras infecções dentro do parreiral, através da
poda das extremidades das brotações contaminadas e sua destruição ou
enterrio juntamente com as folhas infectadas caídas ao solo. Escolha da área
para implantação do vinhedo e o plantio de cultivares menos suscetíveis.
 Tratamento químico: Em condições climáticas favoráveis ao patógeno, as
medidas preventivas não são suficientes para um controle eficaz da doença,
sendo necessário a utilização do controle químico. Os tratamentos devem ser
iniciados quando aparecerem as primeiras manchas nas folhas. A freqüência
das aplicações variaram com as condições climáticas, com a sensibilidade da
cultivar e com o fungicida utilizado. O sucesso do controle químico dependerá
da escolha e da dose do produto, do momento e da qualidade da aplicação.
As cultivares de uvas viníferas, por serem mais sensíveis, requerem maior
número de tratamentos do que às uvas comuns (americanas) e híbridos. Os
fungicidas disponíveis são orgânicos de contato ou sistêmicos e cúpricos
(Tabelas 1 e 2 ). Até o final da floração, utilizar preferencialmente produtos
orgânicos de contato ou sistêmicos, e após a floração utilizar os produtos
cupro-orgânicos e cúpricos.
Oídio
O oídio, causado pelo fungo Uncinula necator, forma conidial Oidium tuckeri,
também conhecido por cinza, mufeta e míldio pulverulento, é uma doença que
ocorre com maior freqüência nas regiões de clima quente e com baixa umidade
relativa do ar. Portanto, é uma doença importante para a viticultura da região
Nordeste do Brasil, e Noroeste de São Paulo. Na região sul do Brasil não apresenta
caráter epidêmico, pois normalmente as condições climáticas não são favoráveis ao
desenvolvimento do patogeno.
 Sintomatologia: O fungo se desenvolve na superfície de todos os órgãos
verdes da planta. Os sinais do fungo podem ser observados tanto na face
superior como na inferior da folha doente. Na superfície aparece fina camada
de pó cinzento, facilmente removida, constituída pela frutificação do fungo.
Eventualmente a superfície superior das folhas infectadas podem exibir
manchas cloróticas semelhante a "mancha de óleo" causada pelo míldio.
Folhas jovens em expansão quando infectadas tornam-se distorcidas e
atrofiadas. Na superfície dos ramos verdes infectados há formação de
manchas marrom-escuras irregulares, tornando-se marrom-avermelhadas em
ramos maduros. Nas inflorescências, os botões florais ficam cobertos por um
pó cinzento que causa seca e queda dos mesmos, resultando em perda na
produção. Após a floração os sintomas são facilmente visíveis na superfície
das bagas.
Outro sintoma típico é a rachadura das bagas com exposição das sementes .
Nas uvas para mesa, mesmo não ocorrendo rachadura da película, os cachos
ficam depreciados, pois a superfície da baga fica manchada.
 Condições favoráveis: A intensidade da doença depende da temperatura, da
luminosidade e da umidade do ar. As condições ótimas para a doença são
temperatura em torno de 25ºC e umidade relativa de 40 a 60%. A
porcentagem de germinação dos conídios foi maior em luz difusa do que na
luz do sol. A temperatura desempenha papel mais importante do que a
umidade no desenvolvimento da doença. Água livre na forma de orvalho,
chuva ou irrigação pode causar fraca ou germinação anormal dos conídios. A
umidade do ar tem efeito maior na esporulação do que na germinação.
 Controle: Tendo em vista que este fungo é favorecido pela umidade relativa e
inibido pela luz solar, práticas culturais que promovam uma melhor circulação
de ar e penetração de luz contribuirá para redução da doença no parreiral.
As cultivares americanas e híbridas são resistentes ao oídio, dispensando o
uso de tratamentos químicos. Nas cultivares sensíveis, o controle da doença
é baseado no uso de fungicidas. O enxofre foi o primeiro fungicida eficaz
utilizado no controle da doença. Por causa de sua eficácia e baixo custo, é
ainda o fungicida mais utilizado. Como a maior atividade fungicida do enxofre
esta associada ao vapor produzido, e a produção de vapor depende do tipo
de produto e de fatores climáticos, principalmente da temperatura. A
temperatura ótima para atividade do enxofre varia de 25°C a 30°C, podendo
não ser eficaz abaixo de 18°C. Acima de 30°C pode haver risco de
fitotoxicidade. Outros fungicidas recomendados para o controle de oídio
(Tabelas 1 e 2 ).
Mancha das folhas
Também conhecida como mancha de isariopsis, é causada pelo fungo
Pseudocercospora vitis (sin. Isariopsis clavispora), fase conidial de Mycosphaerella
personata tem grande importância para cultivares americanas e híbridas. A desfolha
prematura é o principal dano, pois acarreta deficiência na maturação dos ramos e
má brotação no ciclo seguinte.
 Sintomatologia: Os sintomas manifestam-se principalmente nas folhas nas
quais são bastante característicos.
No limbo foliar surgem manchas bem definidas de contorno irregular, de
coloração castanho-avermelhada, mais tarde tornam-se escuras. As manchas
podem atingir 2 cm de diâmetro e apresentam um halo amarelado ou verde-
claro bem visível. Na face oposta da folha, no tecido correspondente, a
coloração é pardacenta. Não há perfuração nem deformação do limbo foliar. A
frutificação do fungo ocorre nas lesões, em ambas as faces da folha.
 Condições favoráveis: A doença se desenvolve em condições de alta
temperatura e umidade, sendo as folhas basais as mais afetadas. O
aparecimento dos primeiros sintomas normalmente ocorrem no início da
maturação da uva. As cultivares americanas e híbridos são mais sensíveis.
 Controle: As medidas adotadas para o controle do míldio geralmente são
suficientes para manter a doença em níveis baixos. Os tratamentos
específicos para o controle de isariopsis devem ser iniciados com o
aparecimento dos primeiros sintomas. Os produtos cúpricos não controlam a
doença. Os tratamentos químicos pós-colheita dão melhor proteção à
folhagem, mantendo-as por mais tempo na planta.
Podridão cinzenta da uva
A podridão cinzenta da uva, causada pelo fungo Botryotinia fuckeliana, forma
conidiana Botrytis cinerea, é também conhecida como podridão do cacho, mofo
cinzento ou podridão de botritis. O fungo ataca diversas culturas e pode subsistir na
matéria orgânica em decomposição. A umidade alta, é o fator mais importante para o
desenvolvimento do patogeno. O fungo pode crescer numa faixa ampla de
temperatura, afetando também uvas armazenadas em câmara fria. Além do efeito
direto sobre a uva (podridão), afeta a qualidade do vinho, pois as uvas com botritis
contém lacase, uma enzima que prejudica a cor, aroma e o sabor do vinho, dando
origem à doença denominada "quebra parda".
 Sintomatologia: É uma doença que ocorre com maior freqüência em
cultivares de uvas finas, de cachos compactos e bagas com película fina.
Pode infectar folhas, flores, ramos, pedúnculo e ráquis. Em estacas
armazenadas em câmara de crescimento na produção de mudas por enxertia
de mesa, provoca a doença "teia de aranha".

As primeiras infecções podem ocorrer nos botões florais, causando a seca e a


queda dos mesmos. Se ocorrer infecção do estilete floral durante a floração, o
fungo permanecerá em estado latente, e o sintoma só aparecerá no inicio da
maturação da uva, quando ocorre o aumento do teor de açúcar e redução do
teor de ácidos. A infecção geralmente se dá a partir das cicatrizes deixadas
pela queda das peças florais e por ferimentos, ocasionados por outras
doenças, insetos, pássaros e / ou granizo. A podridão do cacho pode iniciar
por uma simples baga infectada, que produz uma massa de esporos e são
disseminados para os demais cachos. Os primeiros sintomas nas bagas são
manchas circulares, de coloração lilás na película, posteriormente toma
coloração parda nas uvas brancas. Nas uvas tintas os sintomas são mais
difíceis de serem observados. Caso a umidade persista, o fungo se
desenvolve na polpa, consumindo os açúcares e emitindo seus órgãos de
frutificação que podem recobrir toda a baga, formando um mofo cinzento.
Lesões marrom-escuras podem aparecer na borda das folhas.
 Condições favoráveis: O fungo sobrevive na forma de escleródios em
ramos, micélio formado na casca, gemas dormentes, uvas mumificadas e / ou
outros restos orgânicos que permaneceram da safra anterior, bem como em
plantas hospedeiras alternativas. Água livre ou umidade relativa acima de
90%, e temperatura próxima a 25°C são condições ideais ao desenvolvimento
do fungo, embora os conídios possam germinar em temperaturas entre 1°C e
30°C. A infecção ocorre de 12 ou 24 horas se a temperatura média for 25°C
ou 12 °C. Podridão severa esta associada a elevada precipitação durante a
maturação da uva. Cultivares de cacho compacto favorecem a doença, pois a
água persiste no interior do cacho e a penetração de fungicida é dificultada,
além disto, nestas cultivares as bagas se comprimem, sofrem rachaduras, o
mosto escorre, favorecendo o desenvolvimento do fungo.
Controle: Para melhor controle da doença, deve-se propiciar à planta boa
aeração e insolação, através de uma exposição adequada e adoção de
práticas culturais, como a poda verde e adubação nitrogenada equilibrada.
Previnir os ferimentos através do controle de insetos e outras doenças.
Quando possível as fileiras devem ser plantadas na direção do vento
prevalecente. A boa circulação de ar e penetração de luz promove a secagem
mais rápida da umidade ao redor dos frutos, reduzindo a severidade da
doença. Quanto à aplicação de produtos químicos, esta somente é feita em
uvas finas de mesa e em outras cultivares viníferas de cacho compacto,
principalmente as brancas, que apresentam maior susceptibilidade. As
épocas mais adequadas para os tratamentos químicos são: final da floração,
antes da compactação do cacho e mudança de cor da uva. Quando
necessária outra aplicação mais próxima da colheita, deve ser consultado um
técnico, bem como para a escolha do produto(Tabelas 1 e 2). Aplicação de
produtos cúpricos para o controle do míldio pode auxiliar no controle,
tornando a película da uva mais rígida e resistente a penetração do fungo.
Podridão da uva madura
A doença é causada pelo fungo Glomerella cingulata, forma conidial Colletotrichum
gloeosporioides. Provoca perdas tanto na qualidade como na quantidade da uva
produzida.
 Sintomatologia: Os sintomas mais evidentes são observados nos cachos no
período da maturação ou em uvas colhidas. Sobre a película das bagas
inicialmente aparecem manchas circulares, marrom-avermelhadas, que
posteriormente atingem todo o fruto, escurecendo-o. Em condições de alta
umidade aparecem as estruturas do fungo (acérvulos) na forma de
pontuações cinza-escuras, concêntrica, das quais exsuda uma massa rósea
ou salmão, que são os conídios do fungo. Esta massa rósea serve também
para diferenciar da podridão amarga. Não tem-se observado sintomas nas
partes vegetativas da videira.
 Condições favoráveis: Temperatura entre 25°C a 30°C e alta umidade são
as condições favoráveis a doença. O fungo sobrevive em frutos mumificados
e pedicelos e na primavera com elevada umidade produz abundante
frutificação, que é a fonte primária de inoculo. O excesso de nitrogênio
favorece a infecção e o desenvolvimento do fungo. A infecção pode ocorrer
em todos os estádios de desenvolvimento do fruto. Em bagas jovens, a hifa
penetra na cutícula e permanece latente até a maturação da uva, quando
então os sintomas tornam-se visíveis.
 Controle: A remoção de cachos mumificados que permanecem no vinhedo
da safra anterior, reduzem a quantidade de doença e auxiliam no controle da
doença. Os tratamentos utilizados para o controle do míldio, controlam esta
doença.
Podridão amarga
A doença é causada pelo fungo Greeneria uvicola, sinônimo de Melanconium
fuligineum. É conhecida como podridão amarga devido o gosto amargo que
transmite a uva.
 Sintomatologia: Provoca apodrecimento e queda das bagas. As infecções
iniciam-se após a floração e permanecem latentes até a maturação da uva.
Os sintomas são evidentes nas bagas, e aparecem durante a maturação da
uva. Inicialmente se observa uma lesão aquosa, marrom que vai aumentando
em forma de anéis concêntricos até envolver toda a baga. Em condições
favoráveis aparecem pontuações escuras, que são as estruturas do fungo. Os
frutos infectados podem enrugar e mumificar.
 Condições favoráveis: As condições ideais para o desenvolvimento da
doença são temperatura em torno de 28°C e alta umidade. O fungo sobrevive
em restos de cultura e frutos mumificados. O excesso de nitrogênio favorece
a infecção e o desenvolvimento do fungo.
 Controle: Os tratamentos normalmente utilizados para o controle das
doenças principais são suficientes para o controle da podridão amarga.
Podridão ácida
Causada por um complexo de microorganismos que inclui fungos, bactérias e
leveduras presentes na superfície das plantas e sobre material em decomposição.
 Sintomatologia: As bagas atacadas, no inicio adquirem coloração marrom-
clara, que escurece com o tempo. A polpa se decompõe, o suco começa
escorrer pelo ferimento no qual se iniciou a podridão e vai contaminando as
bagas vizinhas. Uma vez o suco tendo escorrido, a película das bagas se
desseca e escurece, permanecendo aderidas ao pedúnculo. Nos cachos
doentes, se observa a presença da mosca Drosophila responsável pala
disseminação dos microorganismos. Uma das características da podridão
ácida é o odor de vinagre proveniente do ácido acético produzido pelas
bactérias acéticas.
 Condições favoráveis: As temperaturas e umidade altas favorecem o
desenvolvimento da doença. Ferimentos provocados por chuva, granizo,
insetos, pássaros e outras doenças favorecem o desenvolvimento da
podridão ácida. A podridão ácida aparece quando as bagas tem acima de 8%
de açúcar.
 Controle: Não existe meios diretos de controle da doença. Entretanto, várias
práticas podem auxiliar na redução deste tipo de podridão. Evitar o
agrupamento de cachos, manter o parreiral e áreas ao redor limpo, poda que
permita a circulação de ar, evitando alta umidade nos cachos, evitar danos as
bagas; evitar excesso de vigor; controle da mosca do vinagre; nas uvas para
mesa ter cuidado na manipulação dos cachos. A aplicação preventiva de
produtos cúpricos poderá reduzir a incidência de podridão ácida.
Doenças da madeira ou declínio da videira
Declínio ou morte descendente é um termo genérico, que num conceito mais
amplo, designa a morte lenta e gradual de plantas ou partes da planta provocada por
agente(s) (bióticos ou abióticos) conhecido(s) ou desconhecido(s).São
freqüentemente muito pouco compreendidos, entretanto alguns tipos de declínio
podem eventualmente ter um único agente causal. Os principais agentes de declínio
da videira identificados no Brasil são: Eutypa lata, forma conidial Libertella blepharis,
encontrada em vinhedos de São Paulo e Rio Grande do Sul; Botryosphaeria spp.,
forma conidial: Botryodiplodia theobromae ; encontrada em São Paulo e Nordeste e
Sphaeropsis sp. relatada principalmente no Rio Grande do Sul: Phomopsis viticola
encontrada no Rio Grande do Sul. Estes declínios costumam apresentar sintomas
nas plantas cerca de 2 a 4 anos após a infecção.
 Sintomatologia: Os sintomas do declínio são bastante genéricos,
caracterizando-se pelo retardamento da brotação na primavera; encurtamento
dos internódios; deformação e descoloração dos ramos, as folhas são
menores do que o normal, deformadas e cloróticas, com pequenas necroses
nas margens; podendo murchar e cair; redução drástica do vigor;
superbrotamento; seca de ramos e a morte da planta. Frutificação irregular e
com menor numero de bagas. Cancros formados nos ramos velhos e
frutificação do fungo nestes locais são características importantes para
diagnostico do agente envolvido no declínio. Corte transversal da área do
ramo afetado mostra a extensão da doença, mostrando área da madeira
escura morta não funcional em forma de cunha, contrastando com a parte
ainda viva.
 Condições favoráveis: A infecção se verifica pelos ferimentos da poda ou
outras injúrias produzidas sobre a planta. Estresse hídrico e desequilíbrio
nutricional favorecem o desenvolvimento da doença. Os fungos se
desenvolvem numa ampla variação de temperatura. Sendo a temperatura
ótima para Eutypa entre 20ºC a 25ºC; para Botryosphaeria e Phomopsis entre
23ºC e 26ºC, sendo favorecidos por alta umidade.
 Controle: Como a infecção por estes patógenos ocorre pelo corte da poda ou
outros ferimentos. Quanto mais rápida a cicatrização desses ferimentos,
menor é o risco de infecção. A suscetibilidade dos ferimentos ocasionados
diminuem cerca de 2 a 4 semanas após a poda. As observações mostraram
que mesmo com as causas primárias definidas, o declínio agrava-se quando
a videira está em estresse de qualquer natureza . A redução da ação dos
fatores que provocam estresse nas plantas poderá diminuir o efeito do
declínio e as vezes até controlá-lo. Como medidas gerais de controle
recomenda-se: Utilização de material sadio, na poda retirar e destruir o
material, evitar podas durante períodos chuvosos, desinfestar as ferramentas,
proteger os ferimentos da poda com pasta de fungicida benomil, tiofanato
metilico ou pasta bordalesa, eliminar as partes atacadas e proteger os
ferimentos com os fungicidas mencionados, eliminar os esporões que não
brotaram, pulverizar as plantas durante o repouso e estresse hídrico com os
produtos indicados ou calda bordalesa. Plantas infectadas por estes
patógenos devem ser podadas 30 cm abaixo dos cancros ou área necrosada,
ou seja quando for observado o tecido interno sadio.
Doença Vascular
Fusariose: A fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis
é uma doença que ataca as plantas através do sistema radicular (fungo de solo) e se
desenvolve no sistema vascular da planta. É considerado um dos principais
problemas da viticultura pois, quando presente no vinhedo, causa a morte das
plantas.
 Sintomatologia: Os principais sintomas da doença são a murcha das folhas
de um ou mais ramos e posterior morte desses ramos. Assim, no ano,
dependendo da severidade da infecção, podem morrer partes ou toda a
planta. A planta, ou ramo doente, desfolha-se antecipadamente. Com a morte
dos ramos principais, podem ocorrer rebrotes no tronco. Ao se retirar a casca
do tronco ou ramo atacados, observa-se uma faixa escura que sobe do
sistema radicular em direção à parte aérea de onde o fungo pode ser
facilmente isolado. Corte transversal do tronco mostra escurecimento do
xilema.
 Controle: Os fungos de solo são de difícil controle e os tratamentos com
fungicidas são muito dispendiosos, principalmente pelo alto custo da
incorporação do produto no solo. Outro aspecto a considerar é a grande
profundidade onde deve ser colocado o produto. Atualmente, recomenda-se a
eliminação da planta doente com o máximo de raízes, queimando-as e,
posteriormente, uma calagem profunda no local afetado.
Como medidas preventivas, deve-se tomar as seguintes precauções: evitar o
plantio em baixadas úmidas; fazer a correção do solo; obter material de
propagação sadio; em áreas contaminadas evitar o plantio de videira ou
plantar cultivares menos suscetíveis, como Isabel de pé franco e o porta-
enxerto Paulsen 1103 e R 99; e evitar ferimentos ao sistema radicular das
plantas.
Podridões das raízes da videira
Podridão de Armillaria
Causada pelo fungo Armillaria mellea (sin. Armillariella mellea) . Pode causar
severos danos se o vinhedo for implantado em áreas recém desmatadas, onde não
foi realizada a destoca convenientemente, em áreas de replantio ou em áreas onde
havia frutíferas suscetíveis.
 Sintomatologia: As plantas afetadas podem morrer rapidamente,
apresentando uma murcha severa e amarelecimento das folhas, ou
apresentar um declínio, onde se observa falta de vigor, enfezamento,
amarelecimento da folhagem, geralmente levando a planta à morte. A
presença de "placas de tecido fúngico" entre a casca e o lenho são sintomas
característicos. A presença de rizomorfas pode também ser detectada. Na
superfície do solo, pode ocorrer a formação de cogumelos (cor de mel), que
são o órgão de reprodução sexual do fungo.
 Condições favoráveis: Este fungo é freqüentemente encontrado em
vinhedos que tenham sido plantados onde anteriormente havia pomares de
outras árvores frutíferas suscetíveis ou solo recém desmatado. Armillaria
ocorre em locais úmidos, onde existem restos vegetais (raízes) em
decomposição.
Os basidiósporos produzidos por esse fungo não atacam plantas sadias mas
se desenvolvem sobre árvores velhas e troncos mortos. Plantas sadias só
serão atacadas pelas rizomorfas. A doença se transmite pelo contato entre
raízes e por ferimentos produzidos nas raízes.
Controle: As medidas preventivas de controle recomendadas são: evitar o
plantio em locais úmidos, locais anteriormente cultivados com plantas
suscetíveis e locais que tenham restos vegetais como raízes, tocos de
culturas anteriores ou de mata nativa recém-derrubada. Após a constatação
da doença no vinhedo, as plantas doentes e as próximas a estas deverão ser
eliminadas e a área contaminada, isolada.
O controle através de produtos químicos é pouco eficiente, e pouco se
conhece sobre a resistência de porta-enxertos.
Roseliniose
Causada pelo fungo Rosellinia necatrix, forma conidial (Dematophora necatrix ),
é comumente conhecida como podridão radicular ou podridão de roselinia.
 Sintomatologia: Os sintomas da parte aérea não são muito típicos. Plantas
infectadas poderão morrer rapidamente ou lentamente levando
aproximadamente um ou dois anos. Os sintomas observados na parte aérea
variam, com o maior ou menor desenvolvimento do fungo nas raízes. As
plantas apresentam definhamento rápido ou se mantêm por um período de
tempo mais ou menos longo, num acentuado estado de enfraquecimento.
As raízes escurecem e a casca se apresenta mais ou menos quebradiça e
alterada. Sobre estas, há formação de um micélio frouxo, com formato de fios
de algodão de cor parda. Em condições de elevada umidade, o fungo produz
abundante micélio cotonoso nas raízes. Sob microscópio, as hifas mais
velhas apresentam um entumescimento típico, próximo aos septos. Esta
característica, pode ajudar na identificação do fungo.
 Condições favoráveis: Fungo do gênero Rosellinia são geralmente
saprófitas. Usam restos de materiais em decomposição no solo, passando a
atacar as raízes de plantas vivas quando são cultivadas nestes solos. O fungo
sobrevive de um ano para outro na forma de micélio e de rizomorfas. Estas
estruturas são estáveis sobre as raízes. Os solos mal drenados e com
camadas impermeáveis no subsolo favorecem o desenvolvimento da doença.
Solos recém-desmatados são mais propícios ao aparecimento da doença,
devido ser um patógeno polífago e sobreviver por vários anos sobre substrato
orgânico. A temperatura ótima para o desenvolvimento da doença é de 14°C a
17°C, e solos ácidos.
 Controle: Recomenda-se o plantio em terrenos soltos, bem drenados,
evitando as baixadas úmidas e excessiva adubação nitrogenada. Quando
houver possibilidade de ocorrência da doença, em terrenos com muitas
raízes, deve-se plantar espécies não suscetíveis, como pastagens e cereais.
Após o desmatamento, retirar o máximo de raízes e plantar culturas anuais
(milho, feijão), no mínimo por dois anos antes de instalar o parreiral. Após a
constatação da doença deve-se arrancar as plantas afetadas, procurando não
deixar restos de raízes, eliminando o material infectado (queimá-lo).
Doenças Fúngicas da Videira e seu Controle - Tabelas

Tabela 1. Recomendações para o controle químico das principais doenças fúngicas da videira.
Princípio Interva
Perío Class
ativo Dose lo
do de e
Doe Patóge concentra (i.a.) entre
Estádio fenológico carên toxic
nça no ção(%) e (g/100 l) aplicaç
cia ológi
modo de (c) ões
(dias) ca (d)
ação(a) (dias)
captan 50
125,0 7 a 10 1 III
(C)
folpet 50
65,0 7 a 10 1 IV
(C)
ditianon 75
93,75 7 a 10 21 II
(C)
ziram 90
Iniciar tratamento no estádio 07, 150,0 7 a 10 15 III
antra Elsinoe (C)
repetir quando tiver condições
cnos ampelin clorotalonil
de umidade e temperatura 200,0 7 a 10 7 II
e a 75 (C)
favoráveis
difeconazo
2-3 12 a 14 21 I
le (S)
imibencon
15,0 7 a 15 7 II
azole (S)
tiofanato
metílico 50 50,0 10 a 12 14 III
(S)
esco Phomo Fazer duas aplicações (estádiosmancozeb
280,0 7 a 10 21 III
riose psis 07 e 09) 80 (C)
viticola enxofre 80 480,0 7 a 10 7 IV
(C)
ditianon 75
93,75 7 a 10 21 II
(C)
benomil 50
50,0 10 a 12 14 III
man (S)
Isariops
cha mancozeb
is Iniciar os tratamentos nos 240,0 7 a 10 21 III
das 80 (C)
clavispo primeiros sintomas
folha tiofanato
ra
s metílico 50 50,0 10 a 12 14 III
(S)
míldi Plasmo Até o final da floração: iniciar os ditianon 75
93,75 7 a 10 21 II
o para tratamentos no aparecimento (C)
viticola dos primeiros sintomas; repetir mancozeb
quando houver condições 240,0 7 a 10 21 III
80 (C)
favoráveis (umidade e folpet 50
temperatura) 65,0 7 a 10 1 IV
(C)
metalaxil 8
(S) +
216,0 12 a 15 21 II
mancozeb
64 (C)
cymoxanil
(P) +
31,5 7 7 III
famoxado
ne (S)
cymoxanil
8 (P) +
180,0 7 a 10 7 III
maneb 64
(C)
iprovalicar 135,0 10 10 III
b (S) +
propineb
(C)
banlaxil
(S) +
146,0 7 a 10 21 III
mancozeb
(C)
azoxystrob
12,0 7 a 10 7 IV
in 50 (S)
fosetyl-Al
200,0 12 a 15 15 IV
80 (S)
captan (C) 120,0 7 a 10 1 III
cobre
Plasmo Após a floração até a colheita metálico 250,0 7 a 10 7 -
mildi
ra 25 (C)
o
viticola metálico 250,0 a
Pós-colheita cobre - - -
25 (C) 300,0
enxofre 80 240,0 a
Três aplicações: estádio 09 7 a 10 7 IV
(C) 320,0
Uncinol
fenarimol
oídio a estádio 23 2,4 10 15 II
12 (S)
nacator
triadimenol 15,5 a
estádio 27 10 30 III
25 (S) 18,7
pyrimetha
60,0 - 21 III
nil (S)
iprodione
75,0 - 14 IV
podri Botrytis, 50 (C)
dões Glomer benomil 50
50,0 - 14 III
do ella e Tratamentos estádios 23 (S)
cach Melanc tiofanato
o onium metílico 50 50,0 - 14 III
(S)
procymido
75,0 - 7 III
ne (S)
calda
sulfocálcic
Tratamento de inverno (b) a - - - -
concentraç
ão 4º Bé
calda
bordaleza
200 - - -
(pulverizaç
ão)
2 kg de
pasta cobre, 2
podri Botryos
bordaleza kg de cal
dão phaeria - - -
Tratamento após a poda de (pincelame em 10
desc Botryod
inverno nto) litros de
ende iplodia
água
nte Eutypa
benomil +
tinta
10 g em 1
plástica
litro de - - -
latex
tinta latex
(pincelame
nto)
(a)Modo de ação dos fungicidas: C= contato, S=sistêmico,P= Profundidade.
(b)Tratamento de inverno para o controle de fungos e insetos.
(c)Doses máximas registradas no Ministério da Agricultura; i.a= ingrediente ativo.
(d)I= mais tóxico, IV= menos tóxico.
Tabela 2. Fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária para o controle das doenças fúngicas da videira (Fonte: Agrofit 2002)
Dosage Podridã Podrid Podri
Ti Antr Esc Manc Oi
Classe m g ou Míl o da ão dão
Ingrediente ativo Produto Comercial Formulação p acn orio ha da di
Toxic. ml / 100 dio uva Botriti amar
o ose se folha o
l madura s ga
azoxystrobin Amistar GrDa IV 24 S X - - - - - - X
200 a
benalaxyl + mancozeb Galben-M PM III S X - - - - - - -
250
benomyl Benlate PM III 60 S - - - - - - X -
captan Captan 500 PM PM III 240 C X - - - - - - -
captan Captan SC SC III 400 C X - - X - - - -
captan Orthocide 500 PM III 240 C X - - - - X - -
carbendazim Derosal 500 SC SC III 100 S - X - - - - - -
chlorothalonil Bravonil 500 SC I 400 C X X - X - X - -
chlorothalonil Bravonil 750 PM PM II 200 C X X - - - - - -
chlorothalonil Bravonil Ultrex GrDa I 150 C X - - - - - - -
chlorothalonil Isatalonil PM II 200 C X X - X - X - -
chlorothalonil Daconil BR PM II 200 C X X - X - X - -
chlorothalonil Daconil 500 SC I 300 C - X - - - - - -
chlorothalonil Dacostar 500 SC I 400 C X X - X - X - -
chlorothalonil Vanox 500 SC SC I 400 C X X - X - X - -
chlorothalonil Vanox 750 PM PM II 250 C X X - X - X - -
chlorothalonil Dacostar 750 PM I 200 C - X - X - X - -
C
chlorothalonil + tiofanato metil Cerconil PM PM II 200 + X X - X X X - -
S
C
chlorothalonil + tiofanato metil Cerconil SC SC III 200 + X X - X X X - -
S
cymoxanil + famoxadone Equation GrDa III 60 S X - - - - - - -
cymoxanil + mancozeb Curzate BR PM III 250 P X - - - - - - -
cymoxanil + maneb Curzate - M + Zinco PM III 250 P X - - - - - - -
S
cyproconazole Alto 100 SC III 20 + - - - - - - X -
C
difenoconazole Score CE I 8 a 12 S - - - - X - X -
dithianon Delan PM II 125 C X X - - - - - -
200 a
enxofre Cover DF WG IV C - - - - - - X -
400
enxofre Kolossus PM IV 400 C - - - - - - X -
200 a
enxofre Kumulus DF WG IV C - - - - - - X -
400
200 a
enxofre Kumulus DF-AG WG IV C - - - - - - X X
400
enxofre Microsol SC IV 150 C - - - - - - X X
enxofre Sulficamp PM IV 500 C - - - - - - X -
fenarimol Rubigan 120 CE II 15 a 20 S - - - - - - X X
135 a
folpet Folpan Agricur 500 PM PM IV C X X - X X X X -
180
fosetyl-Al Aliette PM IV 250 S X - - - - - - -
150 a
hidróxido de cobre Contact PM IV C X - - - X - - -
200
hidróxido de cobre Garant PM IV 200 C X X - - X - - X
hidróxido de cobre Garant BR PM III 200 C X X - - - - - X
hidróxido de cobre Kocide WDG GrDa III 180 C X - - - - - - X
imibenconazole Manage 150 PM III 100 S - X - - - - - -
iprodione Rovral PM IV 200 C - - - - - X - X
150 a
iprodione Rovral SC IV C - - - - - X - X
200
S
200 a
iprovalicarb + propineb Positron Duo PM III + X - - - - - - -
250
C
250 a
mancozeb Dithane PM PM III C X X X - - X - -
350
mancozeb Mancozeb 800 PM PM II 350 C X - - - - - - -
mancozeb Manzate 800 PM III 250 C X X X - - - - -
mancozeb Manzate GrDa GrDa III 250 C X X - - - - - -
mancozeb Persist SC SC III 630 C X - - X X - - -
mancozeb + metalaxyl-M Ridomil Gold MZ PM III 300 S X - - - - - - -
mancozeb + oxicloreto de cobre Cuprozeb PM III 350 C X - - X X - - -
140 a
mancozeb + zoxamide Stimo PM PM III C X - - - - - - -
180
C
mancozeb + tiofanato metil Dithiobin 780 PM PM III 250 + - X - - - X X -
S
maneb Maneb 800 PM III 350 C X - - X X - - -
metconazole Caramba 90 SC III 50 a 100 S - - - - X - - -
myclobutanil Systhane PM III 20 S - - - - - - X -
300 a
oxicloreto de cobre Agrinose PM IV C X X - X X - - -
350
oxicloreto de cobre Cupravit Azul BR PM IV 300 C X - - - - - - -
oxicloreto de cobre Fungitol Azul PM IV 275 C X X - X - - - -
oxicloreto de cobre Fungitol verde PM IV 220 C X X - X - - - -
oxicloreto de cobre Hokko Cupra 500 PM IV 500 C X X - - X - - X
oxicloreto de cobre Propose PM IV 300 C X X - - X - - -
oxicloreto de cobre Ramexane 850 PM PM IV 250 C X - - X X - - -
oxicloreto de cobre Reconil PM IV 300 C X - - - X - - -
150 a
procymidone Sialex 500 PM III S - - - - - X - -
200
propineb Antracol 700 PM PM II 300 C X - - - - - - -
pyraclostrobin Comet CE II 40 S X - - - - - X -
pyrazophos Afugan CE II 60 S - - - - - - X -
pyrimethanil Mythos SC III 200 S - - - - - X - -
tebuconazole Elite CE III 100 S - - - X - - X -
tebuconazole Folicur 200 CE CE III 100 S - - - X - - X -
tebuconazole Folicur PM PM III 100 S - - - X X - X -
tebuconazole Constant CE III 100 S - - - X - - X -
tebuconazole Triade CE III 100 S - - - X - - X -
tetraconazole Domark 100 CE II 50 a 75 S - - - - - - X -
tiofanato metil Metiltiofan PM IV 100 S X X - X X X X -
tiofanato metil Cercobin 700 PM PM IV 70 S - X - X X X X -
tiofanato metil Tiofanato 500 SC SC IV 100 S - X - X X X X -
triadimenol Shavit Agricur 250 CE CE I 50 a 100 S X - - - - - - -
triflumizole Trifmine PM III 40 a 80 S - - - - - - X -
PM - pó molhável; CE - concentrado emulsionável; SC - suspensão concentrada; GrDa ou WG - grânulos dispersíveis em água; S -
sistêmico; C - contato; P - profundidade
3 Sistemas de condução da videira
Marco Antônio Fonseca Conceição
3.1 Irrigação da Videira
A cultura da videira (Vitis spp.) tem crescido de forma acentuada em regiões
tropicais e subtropicais. Em grande parte dessas regiões há um déficit hídrico
pronunciado durante determinado período do ano, o que implica na utilização da
irrigação para suprir as necessidades hídricas da cultura.
A maior parte das áreas irrigadas com videiras no Brasil localiza-se em regiões de
topografia elevada e em solos de texturas média e arenosa. Os sistemas de
irrigação por superfície só são recomendados para solos com baixa permeabilidade
e, normalmente, em locais onde a captação e distribuição de água possam ser feitas
empregando-se a força da gravidade. Por essas razões, a irrigação da videira no
Brasil é realizada, principalmente, empregando-se sistemas pressurizados como a
aspersão, a microaspersão e o gotejamento. Esses serão, assim, os sistemas
considerados na presente análise.
Sistemas de Irrigação
Eficiência da Aplicação
Manejo da Irrigação
Sistemas de Irrigação
Aspersão
Os sistemas de aspersão podem ser fixos ou portáteis. Os sistemas fixos são
mais caros mas demandam menos mão-de-obra. Os sistemas portáteis são mais
baratos, mas requerem trabalho para a mudança das linhas, o que é dificultada
pelos caules das plantas, principalmente em parreiras mais adensadas.
Os sistemas fixos subcopas empregam mais tubos e aspersores, do que os que
fazem a aplicação acima da copa (sobrecopa) pois os raios de alcance dos mesmos
são menores. Há, também, a interferência dos troncos nos jatos de água, o que
prejudica a uniformidade de distribuição. Por outro lado, os sistemas sobrecopas
molham as folhas, o que aumentam as chances de doenças fúngicas. Além disso
apresentam maiores perdas de água durante a aplicação devido à evaporação e ao
arraste pelo vento (que também prejudica a uniformidade de aplicação).
Os sistemas de aspersão fixos trabalham, normalmente, com altas vazões, podendo
comprometer temporariamente o abastecimento de água em propriedades vizinhas,
se a captação for realizada diretamente nos córregos. Esses sistemas não
apresentam problemas de entupimento de emissores e a necessidade de
manutenção é normalmente pequena, quando comparados aos sistemas
localizados.
Deve-se, também, verificar se a taxa de aplicação é menor do que a velocidade de
infiltração da água no solo. Caso isso não ocorra, parte da água aplicada poderá
ficar empoçada ou, em alguns casos, escorrer superficialmente.
Microaspersão
Os sistemas de microaspersão necessitam de equipamentos de filtragem,
aumentando o custo inicial e demandando maior manutenção em relação à
aspersão. Além de problemas com entupimento que possam surgir, costumam
ocorrer problemas relacionados a insetos e aranhas, prejudicando a aplicação de
água. Por isso há, muitas vezes, necessidade de mão-de-obra para desenroscar e
desentupir micros sempre que se liga o sistema. Deve-se, pois, optar sempre que
possível, por emissores com dispositivos anti-insetos, onde os rotores são recolhidos
após a irrigação.
A irrigação é feita, normalmente, de forma localizada, isto é, os emissores são
posicionados a cada dois pés, não havendo problemas de interferência dos troncos.
Os microaspersores de maiores vazões apresentam menos problemas de
entupimento e tempos de irrigação menores, apresentando, contudo, maior custo
por exigirem tubulações de maior diâmetro e motobombas de maior potência.
Equipamentos de baixa qualidade apresentam problemas com o decorrer do tempo.
Tubulações com pressão nominal menor que a requerida tendem a rachar e rotores
de plástico de qualidade inferior se desgastam. Sempre que possível as tubulações
devem ficar suspensas, evitando cortes por enxadas ou animais.
Gotejamento
Os problemas de entupimento são maiores em relação à microaspersão,
exigindo maior investimento em equipamentos de filtragem e manutenção mais
freqüente. Deve-se fazer análise da água, pois a presença de substâncias como
ferro, mesmo em teores muito baixos, podem comprometer a irrigação.
O volume de solo umedecido é menor, havendo a necessidade de maior freqüência
de irrigação. Se ocorrer uma interrupção no fornecimento de água (problemas no
conjunto motobomba, por exemplo) a planta poderá ter o seu desempenho
comprometido, pois rapidamente esgotará a umidade do volume de solo em que
estão as raízes.
O sistema de adubação deve ser alterado, empregando-se a fertirrigação. Se
o adubo (ou matéria orgânica) for aplicado em uma região do solo que não estiver
umedecida ele não ficará disponível para a planta.
Sempre que possível as tubulações devem ficar suspensas (30 cm do solo),
evitando-se cortes por enxadas ou animais. Nesses casos, deve-se precaver contra
o escorrimento da água pela tubulação, o que pode fazer com que a área sob o
gotejador não seja umedecida.
O tempo de irrigação nos sistemas de irrigação por gotejamento são
geralmente longos, pois a vazão dos mesmos é baixa. Entretanto, esses sistemas
permitem que outras práticas culturais sejam efetuadas durante a irrigação.
Eficiência da Aplicação
A eficiência de aplicação de água pode ser definida como a relação entre o
volume de água que fica disponível para a planta na região das raízes e o volume de
água aplicado pelo sistema de irrigação. Sendo assim, se toda a água aplicada for
aproveitada pela planta, a eficiência de aplicação será igual a 1,0 ou 100%. Esse
valor, entretanto, dificilmente poderá ser alcançada em condições de campo devido
às perdas que ocorrem durante e após a irrigação. Vários são os fatores que afetam
a eficiência de aplicação dos sistemas de irrigação, entre eles:
Uniformidade de aplicação
A uniformidade de aplicação é uma conseqüência direta do projeto de
irrigação. Se um projeto for bem dimensionado, as vazões dos emissores não
poderão apresentar diferenças muito grandes dentro de uma mesma parcela.
Em sistemas onde se deseje a sobreposição das áreas molhadas, como é o caso da
aspersão, além da uniformidade das vazões há que se considerar, também, a
uniformidade de distribuição de água nessas áreas. Se essa distribuição não
apresentar baixa uniformidade os volumes aplicados em alguns pontos serão muito
superiores à média, provocando perdas por drenagem profunda; ou, em outros
locais, ficarão muito abaixo da média, podendo causar déficit hídrico para a cultura.
Perdas de água durante a aplicação
As perdas que ocorrem durante a aplicação de água referem-se,
principalmente, às perdas por evaporação e deriva pelo vento. Essas perdas não
afetam os sistemas de gotejamento mas tão somente os sistemas de aspersão e
microaspersão.
As perdas por evaporação e deriva (PED) são influenciadas pelas condições
operacionais dos emissores e pelas variáveis meteorológicas locais. Quanto maior a
pressão de serviço maior será o grau de pulverização das gotas emitidas e,
consequentemente, maior será a suscetibilidade ao arraste pelo vento.
Inversamente, quanto menor o bocal do emissor, menores serão as gotas,
aumentando a possibilidade de arraste e evaporação durante o percurso entre o
emissor e o solo.
O efeito do vento aumenta com a elevação do emissor em relação ao solo, o
que também aumenta o tempo relativo à trajetória das gotas, tornando-as mais
suscetíveis à evaporação. Quanto maior a demanda hídrica da atmosfera maiores
serão as perdas durante a aplicação. A demanda hídrica aumenta com o aumento da
radiação solar, da temperatura do ar, da velocidade do vento e com a redução da
umidade relativa do ar.
Essas perdas podem ser minimizadas durante a irrigação regulando-se os
emissores para operarem dentro da faixa de pressão recomendada pelo fabricante;
utilizando-se equipamentos apropriados para condições de vento, com bocais
maiores e menor ângulo de inclinação; e efetuando-se a aplicação de água durante
os períodos de menor incidência de ventos e menor demanda atmosférica.
Além das perdas por deriva, a incidência de ventos altera a distribuição de
água por aspersores e microaspersores, podendo afetar a eficiência de aplicação.
Um exemplo o que ocorre em algumas regiões com a cultura da banana, onde
quatro plantas são irrigadas por um só microaspersor. Nesse caso, a incidência de
ventos pode alterar a distribuição espacial de água, fazendo com que certas plantas
recebam um volume excessivo de água, enquanto outras apresentem um déficit ou,
em casos extremos, uma ausência total de água durante a irrigação,
comprometendo o desempenho da cultura.
Perdas de água por escoamento superficial
Essas perdas ocorrem, mais freqüentemente, em sistemas de aspersão mal
dimensionados, onde os emissores apresentam taxas de precipitação muito
elevadas. Nos sistemas de microaspersão e, até nos sistemas de gotejamento, pode
ser registrado escoamentosuperficial, sempre que a intensidade de aplicação for
superior à velocidade de infiltração do solo.
Um sistema de irrigação deve, assim, ser planejado levando-se em
consideração práticas conservacionistas e a utilização de emissores que
apresentem intensidades de aplicação que sejam iguais ou inferiores à capacidade
de infiltração do solo. Com isso pode-se evitar completamente as perdas por
escoamento superficial.
Perdas por percolação profunda
As perdas por percolação profunda ocorrem, com mais freqüência, em solos
de texturas média a arenosa, com baixa capacidade de retenção de água e alta
permeabilidade. Nesses solos deve-se buscar realizar um manejo da água onde a
turno de rega seja menor, evitando-se a aplicação de grandes volumes em intervalos
muito grandes.
Essas perdas podem ser minimizadas se houver um controle da água no solo
através de tensiômetros ou outros equipamentos que possam determinar a umidade,
não só na região radicular da cultura, bem como nas camadas mais profundas do
solo.
Deve-se ressaltar, também, que a aplicação excessiva de água provoca perdas de
nutrientes por lixiviação, principalmente daqueles que apresentam maior mobilidade
no solo, como o nitrogênio e o potássio.

Perdas por evaporação da água do solo


Todos os sistemas de irrigação apresentam, em geral, perdas por evaporação
da água no solo. Mesmo os sistemas de gotejamento que ficam enterrados podem
apresentar perdas desse tipo, devido à ascensão capilar da água até a superfície.
A evaporação da água do solo entra no cômputo da demanda hídrica da cultura, que
é denominada evapotranspiração ou ETc. A ETc envolve, assim, a evaporação da
água do solo (Es) e a transpiração das plantas (Tp). Deve-se compreender,
entretanto que o componente Es representa um volume de água que não é
aproveitado pela cultura, o que significa perda de água e, conseqüentemente,
redução da eficiência de aplicação.
Um dos principais fatores que influenciam a evaporação da água do solo é a
freqüência de irrigação. Quanto mais freqüente for a aplicação de água maiores
serão as perdas devidas à Es. Mesmo em sistemas de gotejamento os valores de Es
podem chegar a 50% do volume total de água aplicado, como já foi observado em
videiras sob gotejamento conduzidas em espaldeiras (Yanusa et al., 1997).
O valor de Es pode, sob certas circunstâncias, ser 2,5 vezes maior se a freqüência
de irrigação passar de quatro dias para um dia (Allen et al., 1998). Essa é uma das
razões para não se recomendar intervalos de irrigação muito pequenos para
sistemas de aspersão ou microaspersão. Para sistemas de gotejamento, contudo, os
intervalos serão, normalmente, menores devido à redução do volume de solo
molhado e, conseqüentemente, à menor reserva hídrica disponível para acultura.
Manejo da irrigação
Necessidade hídrica
Cerca de 99% da água absorvida pelas raízes é liberada para a atmosfera em
forma de transpiração. A evapotranspiração da cultura (ETc) é a soma da
evaporação da água do solo e da transpiração da planta. Em geral, quanto maior a
área foliar da cultura maior a transpiração da planta, se houver água disponível no
solo. A evaporação da água do solo, por sua vez, tende a reduzir-se com o aumento
da área foliar, devido ao sombreamento da superfície do solo. Quanto maior a
radiação solar, a temperatura do ar, a velocidade do vento e quanto menor a
umidade relativa do ar maior será a demanda hídrica da atmosfera.
Para se calcular a necessidade hídrica de uma cultura é comum determinar-se,
primeiramente, a evapotranspiração de referência (ETo) da região multiplicando-se,
posteriormente, esse valor por um coeficiente da cultura (Kc).
Dentre os vários métodos para cálculo de ETo destacam-se o de Penman-Monteith e
o do tanque Classe A. O método de Penman-Monteith é considerado atualmente o
método padrão para cálculo de ETo (Allen et al., 1998). Ele necessita, contudo, de
dados meteorológicos nem sempre disponíveis nas localidades irrigadas. Por essa
razão o tanque Classe A tem sido adotado em diversas áreas com irrigação. Para
ter-se uma base da ordem de grandeza de ETo para a região de Jales pode-se
consultar a Tabela 1.
Tabela 1. Valores médios da evapotranspiração de referência (ETo) para a região de Jales (mm/dia) - mm = 1
L/m²
Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
ETo 4,7 4,4 4,1 3,5 2,9 2,8 3,3 4,3 4,5 4,6 4,2 4,5

A partir dos valores de ETo, pode-se determinar a evapotranspiração da


cultura (ETc) multiplicando-se ETo por um coeficiente Kc. Os valores de Kc podem
variar conforme a região, a espécie cultivada, o sistema de irrigação e o manejo
adotado. A Tabela 2 apresenta valores de Kc que podem ser empregados para a
cultura da videira, caso não existam valores específicos para as condições locais.

Tabela 2. Valores de Kc para a cultura da videira.


Perío Poda - Brotação - Florescimento - Compactação - Maturação -
do Brotação Florescimento Compactação Maturação Colheita
Kc 0,4 0,6 0,8 1,0 0,8
Fonte: Conceição (2001).
Freqüência de irrigação
Com os sistemas fixos, ou mesmo com os portáteis em áreas pequenas, a
freqüência de irrigação pode ser menor. No caso da videira ela pode ser de uma a
duas vezes por semana, conforme o desenvolvimento da planta e a demanda da
atmosfera.
Com exceção das áreas irrigadas por gotejamento, deve-se evitar irrigar
diariamente ou a cada dois dias, pois se a superfície do solo permanecer
constantemente úmida, as perdas por evaporação da água do solo serão maiores. A
freqüência de irrigação deve ser escolhida de forma a se evitar aplicações de água
inferiores a 10 mm, pois só molham os primeiros centímetros de solo e não todo o
sistema radicular da cultura.

Referências Bibliográficas
ALLEN R.G.; PEREIRA, L.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration:
guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998. (FAO:
Irrigation and Drainage Paper, 56).
CONCEIÇÃO, M.A.F. Irrigação. In: MAIA, J.D.G.; KUHN, G.B. (Eds.) Cultivo da
Niágara Rosada em áreas tropicais do Brasil. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e
Vinho, 2001. p.60-63.
YANUSA, I. A. M.; WALKER, R. R.; BLACKMORE, D. H. Characterization of water
use by Sultana grapevines (Vitis vinifera L.) on their own roots or on Ramsey
rootstock drip-irrigated with water of different salinities. Irrigation Science, v.17,
p.77-86. 1997.
4 Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Enio Schuck
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel

A produção de uvas no Brasil encontra-se principalmente nas regiões Sul,


Sudeste e Nordeste com destaque para os Estados do Rio Grande do Sul, São
Paulo, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco e Minas Gerais. O Estado do Rio
Grande do Sul concentra aproximadamente 60% da área cultivada no Brasil, que
segundo o IBGE, tem se mantido estável em aproximadamente 57.000 ha (IBGE,
1996).
Sobre a videira, já foram relatadas aproximadamente 160 espécies de insetos que
se alimentam da planta, porém, poucas atingem a situação de praga exigindo a
adoção de medidas de controle (Silva et al., 1967). Em determinadas regiões,
dependendo da localização e manejo do parreiral, insetos como o percevejo-da-soja
Nezara viridula ou lagartas de solo dos gêneros Agrotis sp. e Spodoptera sp., podem
alimentar-se de folhas e/ou frutos, porém, tais insetos são considerados de
importância secundária. Além disso, dependendo da finalidade da produção (mesa
ou processamento), a exigência por qualidade é diferenciada, fazendo com que a
importância das pragas seja alterada.
Nos últimos anos, devido à necessidade crescente de uvas principalmente
para processamento, muitos produtores têm implantado novos parreirais e estão
encontrando limitações de ordem fitossanitária, que praticamente inviabilizam o
cultivo em determinadas áreas. Nestas situações, a presença de insetos como a
pérola-da-terra - Eurhizococcus brasiliensis e a filoxera - Daktulosphaira vitifoliae,
pragas de difícil controle, têm sido responsáveis pelo declínio e morte de plantas.
Além destes insetos, em parreirais adultos, a presença de cochonilhas da parte
aérea e cigarrinhas, embora de ocorrência localizada, freqüentemente danificam
plantas, podendo provocar a morte das mesmas.
Esta página tem o objetivo de apresentar as principais pragas associadas
à cultura da videira no Brasil, relacionando as medidas de controle que podem
ser adotadas pelos viticultores.
 Pérola da terra - Eurhizococcus brasiliensis (Hempel, 1922) (Hemiptera:
Margarodidae)
 Filoxera - Daktulosphaira vitifoliae (Fitch, 1856) (Hemiptera: Phylloxeridae)
 Cochonilhas
 Cochonilha parda - Parthenolecanium persicae (Fabricius, 1776)
(Hemiptera: Coccidae)
 Cochonilha algodão - Icerya schrottkyi (Hempel, 1900) (Hemiptera:
Margarodidae)
 Cochonilha-do-tronco - Hemiberlesia lataniae (Signoret, 1869),
Duplaspidiotus tesseratus (Charmoy, 1899) e D. fossor (Newstead,
1914) (Hemiptera: Diaspididae)
 Cigarrinha-das-fruteiras - Aethalion reticulatum (L., 1767) (Hemiptera:
Aetalionidae)
 Ácaros da Videira
 Ácaro branco - Polyphagotarsonemus latus (Banks, 1904) (Acari:
Tarsonemidae)
 Ácaro rajado - Tetranychus urticae (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae)
 Ácaro da Erinose - Colomerus vitis (= Eryophyes vitis) (Pagenstecher,
1857) (Acari: Eriophyidae)
 Besouros desfolhadores da videira - Maecolaspis aenea (Fabricius, 1801), M.
trivialis (Boheman, 1858) e M. geminata (Boheman, 1859) (Coleoptera:
Chrysomelidae)
 Gorgulhos da videira - Naupactus spp e Pantomorus spp (Coleoptera:
Curculionidae)
 Bicudo da videira - Hyphantus olivae Vaurie, 1963 (Coleoptera: Curculionidae)
 Mosca-das-frutas - Anastrepha fraterculus (Diptera: Tephritidae)
 Vespas e Abelhas
4.1 Pérola da Terra - Manejo de pragas
Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Enio Schuck
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Pérola-da-terra na cultura da videira
Um dos aspectos peculiares à cultura da videira está relacionado à incidência de
pragas e doenças. Se for perguntado a um grupo de técnicos ou produtores
envolvidos com a viticultura, qual dos fatores limitantes à produção deve ser dado
maior atenção, certamente a resposta será o manejo das doenças. Tal fato é
comprovado pelo número de pulverizações que são realizadas anualmente para o
controle dos patógenos, bem como a quantidade de fungicidas registrados para uso
na cultura. Entretanto, se a pergunta for referente a ocorrência de insetos
prejudiciais à videira, a resposta será de que estes são de importância secundária.
Embora se admita que ha uma subestimação quanto à importância das pragas na
cultura, a resposta será modificada quando o inseto em questão for a "pérola-da-
terra";, cochonilha que vem fazendo verdadeiros "estragos" em diversas regiões
vitícolas do Brasil.
O inseto, encontrado pela primeira vez em 1922 por Celeste Gobatto, no
município de Silveira Martins, RS (Wille, 1922), foi um dos principais responsáveis
pelo abandono da cultura da videira em diversas regiões. Exemplos neste sentido
são abundantes na região norte do Rio Grande do Sul, Vale do Rio do Peixe em
Santa Catarina e norte do Paraná. Devido à escassez de informações sobre a
bioecologia da praga e à particularidade da mesma sobreviver na forma de cisto no
interior do solo, o controle da cochonilha nas áreas infestadas não tem sido tarefa
fácil. Para ilustrar estas dificuldades e resgatar fatos históricos que marcaram as
pessoas que trabalharam com a praga, registram-se os acontecimentos a seguir:
a) Em 1964, ao analisarem raízes de videira na cidade de Caxias do Sul, os
técnicos da Secretaria de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul Amaury
Felisberto Dal Conte e Ben-Hur Antônio Curra, constataram pela primeira vez
a praga na região da Serra Gaúcha. A constatação do inseto no município de
Caxias do Sul levou o jornal Correio do Povo a destacar como manchete de
capa a notícia "Séria ameaça paira sobre a economia vinícola do Estado". No
dia seguinte, o Governador do Estado através da Chefia do Serviço de
Entomologia, anunciou medidas enérgicas de combate à praga, além de
repreender os técnicos por terem sido responsáveis pela "descoberta" do
inseto na principal região produtora de uva do Estado.
b) Em 1987 foi descrita uma nova espécie de pérola-da-terra denominada
Margarodes soriae em homenagem ao Dr. Saulo de Jesus Soria,
entomologista da Embrapa Uva e Vinho e especialista no estudo da praga. A
nova espécie foi descrita com base em exemplares coletados em Veranópolis,
RS, pela equipe do Dr. Saulo. Um ano após a descrição e publicação da
novidade pelo Dr. Imré Foldi, do Museu de História Natural de Paris (Foldi,
1987), peio nova constatação: a suposta espécie nova, na realidade, era a
pré-pupa dos machos de Eurhizococcus brasiliensis que havia sido
descoberta pela primeira vez.
c) A pérola-da-terra sempre foi considerada de difícil controle. Por isso os
produtores utilizaram os compostos mais variados disponíveis nas
propriedades como cinzas, sal, gesso, creolina, entre outros, visando
encontrar um "remédio milagroso" para a praga. Um método, entretanto, foi
desenvolvido pelo Eng. Agr. Irineo Fioreze, fruticultor e professor da
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo
Fundo, para controlar a pérola-da-terra, empregando fosfina. Como o
inseticida é um gás, o Prof. Fioreze instalou ao redor de todas as plantas de
videira do parreiral, mangueiras perfuradas para aplicar as pastilhas (Fig. 1).
O método não se difundiu pela dificuldade em executar a operação e a baixa
eficiência da fosfina, quando aplicada no solo, visando ao controle do inseto
(Grigoletti Jr & Soria, 1999).

Fig. 1. Mangueiras colocadas ao redor das plantas de


videira para aplicação de fosfina (Foto: Irineo Fioreze)

Muitas outras tentativas foram pesquisadas, e o conhecimento e


principalmente o controle da pérola-da-terra, ainda que deficientes, já permitem o
cultivo da videira em áreas infestadas. Assim, este trabalho tem por objetivo
apresentar a biologia e ecologia da pérola-da-terra e descrever métodos de controle,
que possam fornecer subsídios para que os produtores viabilizem o cultivo da videira
em áreas infestadas pela praga.
Descrição e Bioecologia
Sintomas e danos
Distribuição geográfica
Plantas hospedeiras
Dispersão
Avaliação da presença da praga
Métodos de controle
Recomendações para o controle da pérola-da-terra na cultura da videira
Referências bibliográficas

Descrição e Bioecologia
A pérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel, 1922) (Hemiptera:
Margarodidae), é uma cochonilha subterrânea que ataca raízes de plantas
cultivadas e silvestres (Fig. 2). A espécie foi identificada inicialmente como
Margarodes brasiliensis Hempel, 1922, sendo posteriormente transferida por
Silvestri (1936), para o gênero Eurhizococcus.

Fig. 2. Pérola da terra em raízes de videira (Foto:


G. Kuhn)
O inseto somente é prejudicial na fase jovem (ninfas), visto que os adultos são desprovidos de aparelho bucal. A
cochonilha reproduz-se através de partenogênese telítoca facultativa apresentando uma geração por ano (Fig. 3).
A biologia do inseto, partindo da fase de cisto com ovos (Fig. 4), que na Região Sul do Brasil ocorre de outubro
a janeiro, inicia com o rompimento do cisto e liberação das ninfas móveis do primeiro instar (Fig. 5). No período
de eclosão das ninfas que ocorre de novembro a março, estas pressionam e rompem as paredes frágeis do cisto,
resultando na dispersão da praga. O primeiro instar é móvel e caminha de forma ativa até encontrar uma raiz
para se fixar e alimentar (Fig. 6).

Fig. 3.
Ciclo
biológico
da pérola-
da-terra
em
plantas de
videira.
Adaptado
de Hickel
(1996).
Fig. 4. Cisto com ovos da pérola-da-terra (Foto: E. Hickel)

Fig. 5. Eclosão das ninfas a partir dos cistos com


ovos (Foto: E. Hickel)

Fig. 6. Ninfas de primeiro instar fixadas às


raízes de videira (Foto: E. Hickel)
A partir do segundo instar, as ninfas perdem as pernas e permanecem no interior da cutícula que se
converte numa cápsula protetora, assumindo formato esférico. A ninfa de segundo instar atinge o máximo de
crescimento em outubro-novembro, possui formato globoso, coloração amarela, sendo denominada de pérola-da-
terra (Fig. 7). O completo desenvolvimento das ninfas origina fêmeas que podem morrer dentro do próprio cisto
(reprodução assexuada), após realizarem a postura (cisto com ovos), ou então, emergirem através de um
opérculo circular no extremo distal anterior do cisto e subirem à superfície como fêmeas móveis (Fig. 8), para
um eventual acasalamento (reprodução sexuada), retornando em seguida para o interior do solo. Embora pouco
comum, na reprodução sexuada, os indivíduos do sexo masculino podem passar pelos três instares ninfais, pré-
pupa móvel (Fig. 9), pupa (Fig. 9) e originar machos alados (Fig. 10), que vivem no máximo dois dias e, a
princípio, só possuem a função de copular as fêmeas móveis.

Fig. 7. Cisto amarelo da pérola-da-terra Fig. 8. Fêmeas móveis da pérola-da-


(Foto: E. Hickel) terra (Foto: E. Hickel)
Fig.9. Pré-pupa (E) e pupa (D) da pérola-da-terra (Foto: Saulo
de J. Soria)

Fig 10. Macho alado


da pérola-da-terra
(Foto: E. Hickel)

Poucas informações encontram-se disponíveis sobre o que ocorre com as


fêmeas móveis após a fecundação, bem como os fatores que levam ao
aparecimento de machos na espécie. Eventualmente encontram-se fêmeas móveis
ovipositando na forma de um cordão de ovos (Fig. 11) (Gallotti, 1976; Soria &
Gallotti, 1986; Soria et al.., 1990; Hickel, 1996; Soria & Dal Conte, 2000).
Nos meses mais frios do ano, mesmo com plantas de videira em repouso vegetativo,
as ninfas de segundo e terceiro instar da pérola-da-terra não interrompem o
desenvolvimento, caracterizando ausência de estratégia de dormência ou diapausa
(Hickel, 1996).
Fig. 11. Postura na forma de cordão de ovos. (Foto:
E. Hickel)

Sintomas e danos
A sucção da seiva efetuada pelo inseto nas raízes provoca definhamento progressivo da videira, com
redução da produção e conseqüente morte das plantas. Acredita-se que o definhamento das plantas é resultado da
injeção de toxinas pela cochonilha que é de origem neotropical, frente plantas de videira de origem neártica
(videiras americanas) ou paleártica (videiras européias). Não existem informações sobre a transmissão de
doenças para as plantas através do ataque do inseto. Em parreirais adultos, as folhas amarelam entre as nervuras,
de maneira similar à deficiência de magnésio; os bordos das folhas encarquilham-se para dentro ocorrendo, em
alguns casos, queimaduras nas bordas (Fig. 12). Plantas com estes intomas, geralmente têm baixo vigor, entrenós
curtos, entram em declínio (Fig. 13) e morrem (Hickel, 1996). O amarelecimento entre as nervuras pode ser
resultado de danos ao sistema radicular ou a injeção de toxinas pela pérola na planta, que induzem a deficiência
de magnésio nas folhas.

Fig. 12. Sintomas do ataque da pérola-da-terra em folhas


de videira (Foto: E. Hickel)
Fig. 13. Plantas em declínio devido ao ataque da pérola-da-terra (Foto: E. Hickel)

No caso de novos plantios, no primeiro ano as plantas desenvolvem-se


normalmente; a partir do segundo ano, a brotação é fraca e desuniforme, ocorrendo
a morte das plantas geralmente no terceiro ano. O esgotamento das plantas durante
o repouso vegetativo da videira parece ser determinante para a perda de vigor nas
plantas jovens. Plantas adultas, normalmente demoram mais para morrer por
possuírem o sistema radicular mais desenvolvido. Normalmente o início do ataque
da pérola-da-terra ocorre em focos no parreiral, fato que permite direcionar os
tratamentos para controle.
Distribuição geográfica
A praga ocorre somente no Brasil, sendo encontrada principalmente na
Região Sul de onde, acredita-se seja nativa. O inseto também é encontrado em São
Paulo (Mariconi & Zamith, 1973; Lourenção et al., 1989) e recentemente foi
constatado no Vale do São Francisco, em Petrolina, PE (Haji & Alencar, 2000).
Plantas hospedeiras
Várias espécies de plantas, entre anuais e perenes, são hospedeiras do
inseto, destacando-se a videira e fruteiras de clima temperado (Tabela 1).

Tabela 1. Relação dos hospedeiros nos quais constatou-se a pérola-da-terra


Eurhizococcus brasiliensis (adaptado de Gallotti, 1976).
Espécie Nome científico Família
Aboboreira Cucurbita pepo L. Cucurbitaceae
Alecrim Rosmarinus officinalis L. Labiatae
Alface Lactuca sativa L. Compositae
Amarilis Amaryllis sp. Amaryllidaceae
Ameixeira Prunus spp. Rosaceae
Amendoim Arachis hypogea L. Leguminosae
Amora Morus nigra L., Morus alba L. Moraceae
Azedinha Oxalis articulata Sav. Oxalidaceae
Batata doce Ipomoea batatas Lam. Convolvulaceae
Batatinha Solanum tuberosum L. Solanaceae
Brinco-de-princesa Fuchsia sp. Oenotheraceae
Camomila Matricaria chamomilla L. Compositae
Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L. Gramineae
Capim de folha larga Digitaria sp. Gramineae
Carqueja Baccharis genistelloides Pers. Compositae
Carurú-bravo Phytolacca decandra L Phytolaccaceae
Castanheira portuguesa Castanea vesca Gaerth. Fagaceae</TD

Cenoura Daucus carota L. Umbelliferae


Cerejeira Prunus avium L. Rosaceae
Chicória (=Almeirão) Cichorium endivia L. Compositae
Chuchuzeiro Sechium edule Sw. Cucurbitaceae
Chorão Salix humboldtiana Willd. Salicaceae
Cinamomo Melia azedarach L. Meliaceae
Cipó-de-veado Convolvulus ottonis Meissner Convolvulaceae
Craveiro Dianthus caryophyllus L Caryophyllaceae
Crisântemo Chrysanthemum sp. Compositae
Dália Dahlia sp. Compositae
Erva-de-bicho Polygonum acre HBK. Polygonaceae
Erva lanceta Solidago microglossa DC. Compositae
Erva mate Ilex paraguariensis St.-Hil. Aquifoliaceae
Eucalípto Eucalyptus spp. Myrtaceae
Figueira Ficus carica L Moraceae
Funcionária Gazania ringens \hibr. Compositae
Gardênia Gardenia jasminoides Eii. Rubiaceae
Gerânio Pelargonium zonale Herit. Geraniaceae
Girassol Helianthus annus L. Compositae
Goiabeira Psidium guajava L. Myrtaceae
Goiabeira serrana Feijoa sellowinana (Berg) Myrtaceae
Guaxuma Sida rhombifolia L Malvaceae
Língua-de-vaca Rumex sp. Compositae
Lírio-do-brejo Hedychium coronarium Koehne Zingiberaceae
Macieira Malus domestica L Rosaceae
Mandioca Manihot utilissima Pohl. Euphorbiaceae
Mamoeiro Carica papaya L Caricaceae
Marmeleiro Cydonia oblonga Mill. Rosaceae
Melancia Citrullus vulgaris Schrad. Cucurbitaceae
Melão Cucumis melo L. Cucurbitaceae
Milho Zea mays L. Gramineae
Morangueiro Fragaria vesca L. Rosaceae
Nabo Brassica campestris L. Cruciferae
Nabiça, Rábano bravo Raphanus raphanistrum L Cruciferae
Nogueira Juglans regia L. Juglandaceae
Nogueira pecã Carya illinoensis (Wang.) Koch Juglandaceae
Palmeira Arecastrum romanzoffianum M Palmae
Pepino Cucumis sativus L. Cucurbitaceae
Pereira Pyrus communis L. Rosaceae
Pessegueiro Prunus persica (L.) Stokes Rosaceae
Pinheiro Araucaria angustifolia (Bertol.) O. Kuntze Araucariaceae
Quiabeiro Hibiscus esculentus L. Malvaceae
Quina Solanum pseudoquina St.-Hil. Solanaceae
Quivizeiro Actinidia deliciosa Lang. Et Ferg. Actinidaceae
Rabanete Raphanus sativus L. Cruciferae
Romãzeira Punica granatum L. Punicaceae
Roseira Rosa sp. Rosaceae
Salsa Carum petroselinum Benth Umbelliferae
Sálvia Salvia splendes Sellow Labiatae
Sempre noiva Helichrysum sp. Compositae
Soja Glycine max (L.) Merrill Leguminosae
Uva do Japão Hovenia dulcis Thunb. Rhamnaceae
Vassoura Baccharis sp. Compositae
Videira Vitis sp. Vitaceae

Dispersão
A dispersão da pérola-da-terra ocorre por vários meios. O homem pode
transportar a praga através do solo retido em sapatos, enxadas e implementos
agrícolas, quando há movimentação de uma área infestada para outra. Porém, o
principal meio de dispersão é através da movimentação de mudas enraizadas
infestadas pela praga (Mariconi & Zanith, 1973).
Após instalada na propriedade, formigas doceiras, principalmente a espécie
Linepithema humile (Mayr), associam-se aos cistos da pérola-da-terra, em busca
dos excrementos açucarados da cochonilha (Fig. 14). Esta associação
(protocooperação) resulta no transporte (forese) das ninfas de primeiro instar para
novos pontos do hospedeiro ou outras plantas. Além do transporte das ninfas no
interior do parreiral, as formigas protegem a cochonilha do ataque de inimigos
naturais e, ao cavarem galerias, facilitam a sobrevivência do inseto sob o solo.
Quando as formigas não estão presentes em associação com os cistos, estes ficam
encrustrados, com fungos que se desenvolvem sobre os excrementos açucarados
presentes na superfície do corpo (Fig. 15).
No RS, além de L. humile (Mayr), as seguintes espécies de formigas foram
encontradas associadas à pérola-da-terra na cultura da videira (Soria et al.., 1997):
Dorymyrmex sp., Brachymyrmex sp., Camponotus blandus (Smith), C. crassus
(Mayr), C. melanoticus (Emery), C. renggeri (Emery), C. rufipes (Fabricius),
Camponotus sp., Paratrechina fulva (Mayr), Crematogaster sp., Pheidole aberrans
(Mayr), P. megacephala (Fabricius), P. triconstricta (forel), Solenopsis saevissima
(Smith); Wasmannia autopunctata (Roger), Hypoponera sp., Prionopelta sp.,
Pseudomyrmex sp.
Fig. 14. Formiga doceira que geralmente
se associa a pérola-da-terra

Fig. 15. Cistos com fungos que se


desenvolvem sobre os excrementos
açucarados (Foto: E. Hickel)
Avaliação da presença da praga
A melhor época para avaliar a presença da pérola-da-terra no parreiral é no
início da brotação, arrancando-se as plantas menos vigorosas e observando-se a
presença do inseto nas raízes. O mesmo procedimento pode ser adotado em
plantas hospedeiras da praga, presentes no parreiral, principalmente a língua-da-
vaca (Tabela 1).
Métodos de controle
Controle Biológico
O fungo entomopatogênico Paecilomyces fumosoroseus (Fig. 16), quando
avaliado em laboratório sobre cistos da pérola-da-terra, proporcionou 100% de
controle na dose de 108 conídios/ml (Carneiro et al., 1994). Os resultados
promissores obtidos com este entomopatógeno em laboratório estimulam a
realização de novos experimentos, visando avaliar seu efeito no controle da pérola-
da-terra em vinhedos comerciais.
O nematóide entomopatogênico Steinernema carpocapsae, em condições de
laboratório, também proporcionou 100% de controle das fêmeas que emergem dos
cistos. Entretanto, como somente 25% da população de cistos aptos a reprodução
resultam nestas fêmeas ambulatórias, tal fato praticamente inviabiliza o emprego
deste entomopatógeno para o controle da praga em condições de cultivo (Hickel &
Schmitt, 1997).
O principal predador da pérola-da-terra, até então encontrado, é a mosca
Prolepsis lucifer (Diptera: Asilidae), cuja larva de primeiro instar ataca os cistos
devorando a fêmea e os ovos da praga (Fig. 17). Informações sobre a bioecologia
de P. lucifer e métodos de preservação/incremento do predador nos parreirais devem ser geradas, visando
introduzir a espécie no manejo integrado da praga (Soria & Mello, 1998). Em pequenas propriedades, o uso de
galinhas d'Angola podem auxiliar na predação, principalmente das fêmeas ambulatórias.

Fig 16. Paecylomices fumosoroseus sobre


cistos da pérola-da-terra (Foto: R.G. Carneiro)

Fig 17. Larva de Prolepsis lucifer predando


cistos da pérola-da-terra (Foto: S. de J. Soria)

Controle cultural
Uma alternativa para reduzir a população de pérola-da-terra é o revolvimento
do solo, indicado para viveiros de mudas (Oliveira et al.., 1971).
A eliminação de ervas invasoras também constitui-se em prática cultural importante
na redução populacional da pérola-da-terra, visto que algumas invasoras são
reservatórios naturais do inseto no interior do parreiral (Fig. 18). O emprego de
plantas como o cravo-de-defunto Tagetes minutus L. e T. erectus L. (Compositae)
além de plantas do gênero Crotalaria (Leguminosae) e do alho macho (Allium
ampeloprassum var. porrum), visando reduzir a infestação da praga ou repelir as
formigas associadas na dispersão, necessita ser melhor avaliado (Soria & Gallotti,
1986).
Resistência de plantas
A resistência de plantas é considerada um dos métodos mais promissores
para o controle da praga. Até o momento, trabalhos de pesquisa indicam que a
cultivar Magnólia (Vitis rotundifolia) é resistente a E. brasiliensis (Figs. 18 e 19). A
espécie V. rotundifolia vem sendo empregada mundialmente como fonte de
resistência a problemas fitossanitários da videira, principalmente nematóides, fungos
e insetos de solo. Nesse sentido, embora as cultivares desta espécie apresentem
problemas agronômicos como maturação desuniforme e dificuldades na
propagação, os frutos podem ser empregados na elaboração de suco, vinho e
geléia, além de serem indicados para consumo in natura.
O emprego de V. rotundifolia diretamente como porta-enxerto para cultivares
de videira não tem sido possível por falta de compatibilidade de enxertia entre essas
espécies (Schuck et al.., 1993). Entretanto, é possível a utilização de híbridos de V.
rotundifolia com espécies da seção Vitis, cuja compatibilidade de enxertia já tem sido
comprovada. Alguns híbridos resultantes dos cruzamentos de V. rotundifolia x V.
vinifera como o VR-043-43 e VR-039-16 já mostraram bons resultados em áreas
com problemas de doenças (Andrade, 1994) e pragas de solo da videira (Walker et
al., 1991 e Líder et al. 1995) (Tabela 2).
Avaliações de pesquisa em andamento com várias cultivares copa sobre diferentes
porta-enxertos, em áreas com problemas de pragas e doenças de solo, na Epagri -
Estação Experimental de Videira, em Santa Catarina, indicam um potencial produtivo
maior de alguns porta-enxertos (Figs. 20 e 21), que, possivelmente, seja resultado
de uma maior resistência genética dos mesmos à pérola-da-terra (Schuck et al..
1998, Schuck, 2000, Schuck et al.. 2001, Schuck, 2002). Neste sentido, nos vários
experimentos em avaliação, não se observa um declínio das plantas sobre os porta-
enxertos VR-039-16 e VR-043-43, ao passo que plantas sobre outros porta-enxertos
tradicionalmente cultivados, apresentam um declínio progressivo, com queda na
produtividade a cada safra.
O replantio de videiras com o porta-enxerto 043-43, em áreas com fusariose e
pérola-da-terra, mostram que os híbridos de V. rotundifolia se apresentam como
alternativa mais viável em função do maior vigor dos mesmos, recompondo
rapidamente as áreas dos vinhedos. Além disso, plantas sobre o porta-enxerto 043-
43 não apresentam nas folhas o tradicional amarelecimento entre as nervuras, que é
comum em plantas enxertadas sobre materiais não resistentes a pérola-da-terra
(Figs. 22 e 23).

Tabela 2. Reação de Vitis spp., expressos em grau de infecção com Fusarium


oxysporum f.sp. herbemontis em condições controladas.
Cultivares Origem Grau de infecção (x) Grau resistência (y)
039-16 rotundifolia x vinifera 1,7 MR
043-43 rotundifolia x vinifera 1,0 R
Isabel labrusca 1,0 R
Kober 5BB riparia x berlandieri 4,0 S
Paulsen 1103 rupestris x berlandieri 1,6 MR
(x)
Grau de infecção: 1 - ausência de sintomas; 4 - sintomas severos na base da
estaca.
(y)
R - Resistente; MR - Medianamente resistente; S - Suscetível
Fonte: Andrade et al.. (1994)
Fig. 18. Planta de Vitis rotundifolia, espécie
resistente à pérola-da-terra (Foto: M. Botton)

Fig 19. Frutos da cultivar Magnólia, cultivar


de Vitis rotundifolia resistente à pérola-da-
terra. (Foto: M. Botton)

Fig. 20. Efeito de porta-enxertos na produtividade da cv. Cabernet Sauvignon


(t/ha) em solos infestados com pérola-da-terra (Eurhizoccocus brasiliensis).
Videira, SC.

Fig. 21. Efeito de diferentes porta-enxertos de videira na produtividade da


cv. Concord (t/ha). Videira, SC. (1996, 1997 e 2002).
Fig. 22. Cultivar Moscato Embrapa sobre o porta-
enxerto 043-43 em área de replantio com pérola-da-
terra (Foto: E. Schuck)

Fig. 23. Cultivar Moscato Embrapa sobre o


porta-enxerto Paulsen 1103 em área de replantio
com pérola-da-terra (Foto: E. Schuck)

Recomendações para viabilizar o cultivo de videiras com o uso do porta-


enxerto 043-43
Pelo fato dos porta-enxertos híbridos de V. rotundifolia possuírem um número
de cromossomos diferente dos demais apresentam índices de pegamento menores,
quando as técnicas tradicionais de propagação são utilizadas (enxertia de inverno na
forma de garfagem), é necessário alterar o processo tradicional de formação das
plantas de videira no parreiral.
Os melhores resultados são obtidos quando emprega-se a técnica de enxertia verde
ou herbácea (Camargo, 1992). Esta prática é feita durante o ciclo vegetativo,
geralmente a partir de novembro a meados de janeiro. A seguir será descrita a
prática de enxertia verde e outros procedimentos para o sucesso na obtenção de
mudas sobre o porta-enxerto VR-043-43.
A técnica consta dos seguintes passos:
1. O porta-enxerto, enraizado, deve ser plantado no local definitivo ou no viveiro.
2. No início da brotação do porta-enxerto selecionam-se dois a três ramos bem
posicionados, os quais devem ser tutorados com amarrações periódicas ao
tutor (Fig. 24).
3. Todas as brotações laterais (feminelas) que surgirem até altura de 40 cm
devem ser eliminadas para permitir um aumento rápido do diâmetro dos
ramos. Acima dessa altura não será mais necessário a eliminação das
feminelas.
4. Para um rápido desenvolvimento dos ramos tutorados será preciso,
periodicamente (8 a 10 dias), realizar aplicações de fungicidas específicos
para o controle da antracnose, além da manutenção da limpeza e aplicações
de nitrogênio em cobertura.
5. Os garfos, provenientes da cultivar a ser enxertada. devem ser coletados de
preferência no dia da enxertia, utilizando-se de quatro a seis gemas da parte
mediana do ramo, cujo tecido esteja herbáceo, contudo rígido (Fig. 25).
6. Após a eliminação das folhas, os garfos devem ser envoltos em folhas de
jornal ou papel úmido, colocados em sacos plástico e acondicionados em
caixas de isopor, para evitar desidratação até o momento da enxertia (Fig.
26). Para transporte do material a distâncias maiores é interessante colocar-
se algumas pedras de gelo no fundo do isopor para aumentar o período e
conservação do material herbáceo.
7. Quando os ramos do porta-enxerto estiverem com 5mm de diâmetro ou mais,
a cerca de 30 cm do solo, estes poderão ser enxertados. Faz-se a enxertia a
esta altura em dois brotos do porta-enxerto e deixa-se o terceiro como ramo
"pulmão", o qual proporcionará vigor e evitará o estresse das plantas. Este
ramo pulmão pode permanecer tutorado ou ser conduzido rente ao solo após
a enxertia.
8. Antes ou logo após a enxertia verde através de garfagem simples, todas as
gemas do porta-enxerto devem ser eliminadas; contudo, as folhas devem
permanecer.
9. O garfo, com uma ou duas gemas (Fig. 27), deve ter preferencialmente o
mesmo diâmetro do porta-enxerto, para melhor garantia no pegamento. No
entanto, se não for possível, deve-se procurar o contato perfeito em um dos
lados do cambio com o porta-enxerto.
10. O enxerto deve ser amarrado com fita biodegradável tipo "parafilm" vedando-
se toda a superfície, desde a região da enxertia até o ápice, deixando
descoberto apenas a(s) gema(s) do garfo (Fig. 28 e 29).
11. Revisões periódicas, de preferência duas vezes por semana, deverão ser
feitas para eliminar as brotações dos porta-enxertos, pois estas, se não
eliminadas, poderão adquirir a dominância do ramo e o enxerto poderá falhar.
12. Logo após a brotação do enxerto, devem ser iniciados os tratamentos
fitossanitários para evitar a ocorrência de doenças, principalmente o míldio.
As amarrações dos enxertos devem ser feitas aos tutores periodicamente.
O ramo pulmão somente será eliminado no período de dormência da planta, ou seja,
no momento da poda de inverno. O ramo pulmão, durante o ciclo vegetativo poderá
ser mantido rente ao tutor num posicionamento vertical ou deitado sob o solo, logo
após o pegamento do enxerto de verão. No primeiro caso haverá um maior
desenvolvimento da planta como um todo (maior vigor na planta), porém o
desenvolvimento do enxerto será menor. No segundo caso, o enxerto apresentará
um maior desenvolvimento, no entanto o vigor final da planta será menor. O
aparente desenvolvimento menor do enxerto no primeiro caso será compensado no
ciclo seguinte pois o sistema radicular ficará mais desenvolvido.
As maiores falhas na prática da enxertia verde geralmente estão relacionadas
aos seguintes fatores:
a) Pouco cuidado na manutenção da umidade do material copa a ser
enxertado (material sofre desidratação).
b) Ramos dos porta-enxertos, a serem enxertados, não tutorados antes e
após a enxertia.
c) A não eliminação das brotações dos porta-enxertos.
d) Controle pouco eficiente das doenças fúngicas nos enxertos brotados.

Fig 24. Ramos do porta-


enxerto 043/43 tutorados
prontos para realização da
enxertia verde (Foto: E.
Schuck)
Fig. 25. Ramos selecionado para a retirada dos
garfos para enxertia verde (Foto: E. Schuck)

Fig. 26. Ramo de videira herbáceo retirado da planta e colocado em caixa de isopor
para evitar a desidratação (Foto: E. Schuck)
Fig. 27. Detalhe da enxertia-verde, mostrando a
mesma espessura do garfo e porta-enxerto, a fita
biedegradável e o ramo pulmão. (Foto: E. Schuck)
Fig. 28. Detalhe da enxertia verde
pronta com uso da fita
biodegradável. (Foto: E. Schuck)

Fig 29. Detalhe do resultado da


enxertia verde, com o ramo pulmão à
esquerda. (Foto: E. Schuck)
Controle químico
Devido ao hábito subterrâneo do inseto, aliado ao desenvolvimento na forma
de cisto, inseticidas carbamatos e fosforados não têm atuado com eficiência contra a
pérola-da-terra. O uso destes inseticidas aplicados no solo, na formulação
granulada, assim como a fosfina, proporcionaram índices de controle próximos à
60%, o que, pelo potencial reprodutivo da praga, não é suficiente para evitar danos
às plantas de videira (Gallotti 1976, Soria & Braghini, 1999).
O controle químico da pérola-da-terra por encharcamento ou quimigação, em
fase experimental, tem se mostrado promissor. Neste método, a calda inseticida, ao
invés de ser pulverizada nas plantas, é regada ao redor dos troncos na proporção de
20 litros/m2. A calda penetra no perfil do solo e atinge as cochonilhas, promovendo o
controle. Nos experimentos com metidatiom (Supracid 400 CE) e diazinom
(Diazinom 600 CE), dependendo do estágio de desenvolvimento dos cistos, até
100% de mortalidade foi obtida (Hickel et al.., 2001). Entretanto, ainda é necessário
definir os períodos de aplicação destes inseticidas, bem como avaliar o impacto
ambiental resultante deste tipo de tratamento.
Resultados promissores também foram obtidos com os inseticidas
vamidothion (Kilval 300), imidacloprid (Premier 700 GRDA) e thiamethoxan (Actara
10 GR) (Botton et al.., 1999a, Botton et al.., 1999b; Teixeira et al.., 2002), sendo que
o vamidothion foi retirado do mercado na safra 1999/2000.

Recomendações para o controle da pérola-da-terra na cultura da videira


Em plantios novos, o ideal é escolher áreas não infestadas pela pérola-da-
terra. Entretanto, caso isto não seja possível, as seguintes medidas são
recomendadas:
a) Fazer análise do solo, corrigir e adubar a área de acordo com as recomendações
para a cultura utilizando sempre que possível adubo orgânico.

b) Realizar um preparo profundo do solo, inclusive com subsolagem, de modo a


permitir que as raízes tenham um bom desenvolvimento inicial.

c) Utilizar mudas de boa procedência e livres de viroses. A ausência de viroses


auxilia no desenvolvimento das plantas, resultando em maior tolerância ao ataque
da praga.
d) Utilizar porta-enxertos mais resistentes à pérola-da-terra como o 039-16 e o 043-
43. Mesmo com o emprego destes porta-enxertos, recomenda-se associar o controle
químico nos primeiros três anos de plantio. O controle químico recomendado para a
pérola-da-terra encontra-se na Tabela 2.

e) Controlar permanentemente as plantas invasoras hospedeiras do inseto, como a


língua-de-vaca (Rumex sp.), presentes no parreiral. Estas plantas servem de
reservatório natural do inseto na área, contribuindo para aumentar a infestação.

f) Nos primeiros anos, caso o produtor queira cultivar outras espécies para
aproveitar o terreno no interior do parreiral, deve utilizar culturas anuais não
hospedeiras da praga, como o alho e o feijão É comum produtores cultivarem
espécies como a batata-doce (Ipomoea batatas) ou plantarem figueiras ou roseiras
nas bordas, visando aproveitar o espaço. Estas espécies favorecem o aumento da
população da praga na área, sendo responsáveis pela reposição do inseto que
atacará as plantas de videira.
Tabela 2. Inseticidas recomendados para o controle da pérola-da-terra
Eurhizococcus brasiliensis na cultura da videira. Bento Gonçalves, RS, 2002.
Idade das plantas Dose (g produto Classe Carência
Inseticida
(anos) comercial/planta) Toxicológica (dias)
Actara 10 GR 1 12-20 IV 45
(Tiametoxam 2 20-30
1%) 3 30-40
Premier 700
1 0,2-0,3
GrDA
(Imidacloprid 2 0,3-0,5 IV 60
70 %) 3 0,5-0,8

Os inseticidas devem ser aplicados no solo, durante o mês de novembro,


período em que se inicia o ataque das ninfas primárias às raízes da videira. Em
situações de alta infestação, a dosagem recomendada pode ser dividida em duas,
aplicando-se em novembro e janeiro. A eficiência de controle da praga torna-se
menor conforme aumenta a idade das plantas. Por isso, é fundamental estabelecer
um programa de controle do inseto na propriedade a partir do primeiro ano de
plantio.
Quando o produto é formulado como granulado, os grânulos devem ser
aplicados diretamente no solo, cavando-se um sulco ao redor da planta, de modo
que as raízes possam absorver o produto. Já na formulação de grânulos auto
dispersíveis em água, os produtos devem ser diluídos em água e regados no solo,
na região onde encontra-se o sistema radicular, aplicando-se de 2 a 6 litros de calda
por planta. Para facilitar o tratamento, pode ser empregado o aplicador desenvolvido
para este fim, que permite dosar a quantidade de água empregada por planta (Fig.
30).
Quando o inseto encontra-se atacando plantas adultas, a redução na
população não tem sido significativa num único ano de tratamento. Nestas
situações, a redução na população da praga é gradual, devendo-se controlar o
inseto por mais de uma safra. Em plantas adultas, além do controle químico da
praga, é fundamental que as plantas estejam bem nutridas e as doenças sejam
controladas de forma correta, especialmente no período de pós-colheita, visando
manter as folhas por mais tempo na planta para permitir a acumulação de reservas
para o período de dormência. Em casos de infestação elevada é conveniente
replantar as mudas, empregando-se porta-enxertos resistentes associados ao
controle químico.
Os produtos devem ser aplicados quando as plantas estão em plena atividade,
evitando-se períodos de estiagem. É importante eliminar as invasoras que estão
próximas às plantas a serem tratadas para evitar que as mesmas absorvam o
inseticida, reduzindo o controle. Evitar o emprego de cama-de-aviário com presença
de serragem ou maravalha antes da aplicação dos produtos, pois a mesma adsorve
os inseticidas reduzindo o efeito do tratamento.
Caso o inseto não esteja presente na propriedade, adotar as seguintes
medidas para impedir que a praga seja introduzida:
a) Evitar a utilização de mudas com torrão para uso doméstico de espécies
hospedeiras (Tabela 1) como flores, fruteiras e condimentos provenientes de
áreas infestadas.
b) Ao comprar mudas de videira, dar preferência as de raiz nua, as quais devem
ser lavadas para verificar a presença da pérola-da-terra. Em caso de dúvida
quanto à presença do inseto, as mudas podem ser tratadas com fosfina para
eliminar o inseto, na dosagem de uma pastilha de 3g/m 3 por 72 horas (Dal Bó &
Crestani, 1988) ou mergulhando as raízes numa calda contendo o inseticida
methidathion (Supracid 400 CE) na concentração de 0,08% (Hickel et al.., 2001)
c) Providenciar a limpeza dos equipamentos provenientes de locais onde o inseto encontra-se presente antes de
utilizá-los na propriedade.

Fig. 30. Aplicador para direcionar o tratamento às


raízes das plantas de videira visando ao controle
da pérola-da-terra. (Foto: S. de Salvo)
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Filoxera - Manejo de Pragas
Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Filoxera Daktulosphaira vitifoliae (Fitch, 1856) (Hemiptera: Phylloxeridae)
Descrição e bioecologia
A filoxera é um inseto sugador que apresenta formas que diferem entre si dependendo da época do ano. O ciclo
biológico do inseto é complexo e apresenta todas as formas somente em videiras americanas. Na primavera, a
partir dos ovos de inverno depositados no ritidoma pelas formas ápteras sexuadas, ocorre a eclosão das ninfas
que causam galhas nas folhas (Figura 4). Cada fêmea galícola reproduz-se partenogeneticamente, ovipositando
de 500 a 600 ovos no interior de cada galha. Dependendo das condições climáticas, destes ovos podem eclodir
novas fêmeas galícolas que irão completar várias gerações nas folhas durante o ano, ou fêmeas radícolas, que
migram para as raízes das plantas e, ao sugarem, provocam nodosidades nas radicelas (Figura 5).

Figura 1. Galhas nas folhas devido ao ataque


da filoxera (Foto: M. Botton).
Figura 2. Nodosidades causadas pelo ataque da filoxera
em raízes de videira (Foto: M. Botton).

Ao final do verão, alguns ovos de fêmeas radícolas originam formas aladas,


as quais abandonam o solo e retornam para as folhas. Estas formas ovipositam dois
tipos de ovos: um menor que origina machos ápteros e outro maior, que origina
fêmeas ápteras. As formas ápteras sexuadas, após o acasalamento, reiniciam o
ciclo ovipositando ovos de inverno (um por fêmea). Das formas galícolas, também
podem surgir fêmeas aladas que originam as formas sexuais ápteras.
Nem todas as formas e/ou fases do ciclo de vida ocorrem em determinadas
regiões, visto que as etapas do ciclo estão associadas às condições de clima e
suscetibilidade de hospedeiros. Nas videiras de origem européia (viníferas)
geralmente não ocorrem as formas galícolas, e as radícolas passam o inverno nas
nodosidades e tuberosidades produzidas. Porém, a biologia desta espécie ainda
necessita ser estudada nas condições brasileiras.
Sintomas e danos
Os danos da filoxera são observados nas folhas de cultivares de porta-
enxertos sensíveis à forma galícola, onde a praga provoca galhas características.
Este ataque impede o desenvolvimento das brotações, reduz a atividade
fotossintética, chegando a paralisar o desenvolvimento da planta. Em infestações
severas, o inseto ataca as gavinhas e ramos tenros. Muitas vezes, porta-enxertos
atacados no campo não obtêm porte suficiente para realização de enxertia de
inverno na safra seguinte.
Quando o ataque ocorre na raiz, normalmente são observadas nodosidades
resultantes do intumescimento dos tecidos das radicelas. As nodosidades são
causadas pela sucção contínua do inseto nas raízes e a conseqüente injeção de
toxinas, o que resulta numa menor capacidade de absorção de nutrientes, além de
servir como porta de entrada para podridões de raízes. Como conseqüência, a
planta reduz o desenvolvimento, podendo morrer. Isto tem ocorrido em áreas
altamente infestadas pela praga, onde são plantadas cultivares de pé-franco de Vitis
labrusca como Isabel e Niágara.
Controle
Não existe controle químico que possa ser empregado de forma econômica
para o controle da forma radícola da filoxera. O emprego de inseticidas
neonicotinóides auxilia na redução de infestações da praga no sistema radicular,
porém, de forma isolada, não é eficiente para evitar que ocorram prejuízos a cultura,
além da possibilidade de selecionar populações resistentes à praga, caso o uso se
intensifique. A maneira mais eficiente para evitar os danos do inseto é através do
emprego de porta-enxertos resistentes (Tabela 1).

Tabela 1. Resistência de espécies de Vitis à forma radicular da filoxera. Adaptado de Bravo &
Oliveira, 1974.
Grau
de
Espécie/Híbrido
resistê
ncia
Vitis cordifolia 19
Vitis rupestris Martin 19
Vitis riparia Gloire 19
Vitis riparia grand glabra 19
Vitis cordifolia x Vitis rupestris 19
Vitis berlandieri x Vitis riparia 420 A 19
Vitis riparia x Vitis rupestris 3306 19
Vitis riparia x Vitis rupestris 3309 19
Vitis berlandieri n° 1 19
Vitis berlandieri n° 2 18
Vitis cinerea 18
Vitis riparia x Vitis berlandieri 34-E 18
Vitis aestivalis 17
Vitis monticola 17
Vitis riparia x Vitis rupestris 101-14 17
Vitis rupestris du Lot 16
Chasselas x Vitis berlandieri 41-B 16
Mourvèdre x Vitis rupestris 1202 16
Aramon x Vitis rupestris nº 1 16
Vitis riparia x Vitis berlandieri 33 15
Vitis solonis 15
Vitis candicans 14
Jacquez 13
Herbemont 12
Vialla 12
Noah 11
Cliton 10
Othelo 10
Vitis labrusca 5
Vitis californica 5
Espécies asiáticas 2
Vitis vinifera 0

Consideram-se resistentes à praga, genótipos com valor igual ou superior a


16. Os valores 14 e 15 só devem ser utilizados para plantações em solos arenosos
ou de elevada fertilidade.

Embora cultivares americanas (V. labrusca) produzam através de pé-franco, sempre


recomenda-se o uso de plantas enxertadas. Nas situações em que cultivares
americanas de pé-franco estejam altamente infestadas pela filoxera, recomenda-se
a substituição das mesmas por mudas enxertadas ou, em algumas situações,
visando recuperar o vigor, o uso da adubação foliar.
A forma galícola, quando ocorre em quadras matrizes de porta-enxertos ou plantios
novos para posterior enxertia no campo, deve ser controlada sistematicamente (a
intervalos quinzenais) a partir do aparecimento dos primeiros sintomas, com os
produtos indicados na Tabela A. Atentar para a possibilidade de aparecimento de
ácaros em função do desequilíbrio causado pela aplicação seqüencial de inseticidas
de amplo espectro. Em situações de elevada infestação, os produtos indicados não
apresentam eficiência satisfatória visto o grande potencial biótico do inseto.
Cochonilhas - Manejo de Pragas
Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Cochonilhas
As cochonilhas são insetos que danificam as plantas através da sucção de
seiva, provocam fitotoxicidade devido à injeção de enzimas digestivas, depositam
excreções açucaradas nas folhas, resultando no aparecimento da fumagina e, às
vezes, são responsáveis pela transmissão de agentes patogênicos. As espécies
descritas a seguir são importantes em vinhedos da região Sul do Brasil.
Cochonilha parda - Parthenolecanium persicae (Fabricius,1776) (Hemiptera:
Coccidae)
Descrição e bioecologia
P. persicae apresenta uma geração por ano (univoltina) multiplicando-se
principalmente por partenogênese, ou seja, os insetos se reproduzem sem a
presença de machos (Hickel, 1996; Soria & Dal Conte, 2000). A fêmea adulta possui
forma globosa, de cor parda acinzentada com estrias escuras no dorso, medindo de
7 a 9 mm de comprimento por 3,5 a 4,5 mm de largura (Figura 1). Localiza-se nos
ramos do ano iniciando a oviposição no período de outubro a novembro. Cada
fêmea oviposita entre 1000 a 2600 ovos de cor avermelhada, os quais acumulam-se
sob a carapaça e apresentam viabilidade próxima a 90%. Após finalizar a
oviposição, a fêmea morre, porém a carapaça continua fixa e protege os ovos
durante o período de incubação que varia conforme as condições ambientais, de 15
a 30 dias. As ninfas eclodem no período de outubro a dezembro, quando também se
deslocam para as folhas e brotos. As ninfas fixam-se ao longo das nervuras na face
inferior das folhas, onde permanecem alimentando-se. Nesta fase, o inseto tem a
forma oval-achatada, com coloração clara, e mede aproximadamente 1,4 mm de
comprimento (Hickel, 1996).
Durante os meses de janeiro-fevereiro, as ninfas sofrem mais uma muda (segundo instar) atingindo de 2,0 a 2,7
mm de comprimento. As ninfas continuam localizadas nas nervuras das folhas, porém, quando a queda destas se
aproxima, deslocam-se para os ramos. O inseto entra em diapausa como ninfa de segundo instar, passando o
inverno praticamente imóvel. Em setembro, as ninfas passam para o terceiro instar e tornam-se sésseis (não se
movimentam mais). Durante os meses de setembro e outubro, ninfas de terceiro instar transformam-se em
fêmeas adultas reiniciando o ciclo biológico (Figura 2). A presença de machos na espécie é rara.
Figura 1. Fêmeas da cochonilha parda em ramo
de videira

Figura 2. Ciclo biológico de Parthenolecanium persicae na cultura da videira

Sintomas e danos
A cochonilha-parda ocorre exclusivamente sobre brotações do ano, não tendo
condições de infestar o lenho velho (ritidoma). Devido à sucção contínua de seiva,
as brotações com a presença do inseto crescem menos, reduzem a produção e
dependendo da infestação podem secar (Hickel, 1996). Sobre os excrementos
açucarados da cochonilha e na ausência de formigas doceiras, desenvolve-se a
fumagina, que, em uvas destinadas ao consumo in natura, deprecia os frutos para
comercialização (González, 1983). As infestações mais freqüentes têm sido
observadas sobre Couderc 13 e Seibel.
Controle
A poda de inverno ajuda a eliminar o inseto dos ramos infestados. Após a
poda, utilizar um inseticida (Tabela A) associado com 1% de óleo mineral ou vegetal.
A adição de óleo visa auxiliar na ação dos inseticidas, porém, dependendo das
cultivares, como a Concord, pode ocorrer fitotoxicidade, sendo necessário utilizar
menores concentrações. Além disso, atentar que o emprego dos óleos pode acelerar
o início da brotação das videiras. É importante que o controle seja direcionado à fase
de ninfa, que geralmente ocorre no início da brotação, visto que quando a fêmea
está completamente desenvolvida, os inseticidas não atingem os ovos mantidos sob
a carapaça, reduzindo a eficiência do tratamento. Além disso, o período de
alimentação do inseto é maior, aumentando os danos à planta.
O tratamento de inverno com calda sulfocálcica a 4° Bé auxilia no controle deste
inseto, porém, isoladamente, não é eficaz para reduzir altas infestações. Caso seja
utilizada calda sulfocálcica no inverno, observar um período de 40 dias para
empregar óleo mineral ou vegetal.
É comum encontrar larvas do díptero predador Belvosia sp. (Syrphidae) e do
coleóptero Hyperaspis silvestrii (Coccinellidae) associado aos grupamentos de
ninfas da cochonilha-parda, a qual ataca posturas de P. persicae. Sempre que
possível, a manutenção destes predadores deve ser preservada nos parreirais.
Cochonilha algodão - Icerya schrottkyi (Hempel, 1900) (Hemiptera:
Margarodidae)
Descrição e bioecologia
As fêmeas são ovais, rosadas, apresentando de 5 a 7 mm de comprimento. O
corpo da cochonilha não é revestido por escudos (carapaça). No tórax e abdomen
encontram-se poros que secretam cera branca que acaba encobrindo todo o corpo
do inseto, dando uma aparência esbranquiçada característica. O ciclo biológico de I.
schrottkyi ocorre de forma semelhante ao da cochonilha-parda. A fêmea adulta faz
postura dentro do ovissaco no final da primavera, sendo que a eclosão das ninfas
ocorre em novembro-dezembro. As ninfas recém-eclodidas dirigem-se às folhas,
onde permanecem até a queda. No mês de maio, mais desenvolvidas, voltam aos
ramos e tronco, onde se fixam passando o inverno. A postura é realizada nos meses
de outubro-novembro, quando as fêmeas morrem deixando nova geração. A
reprodução é partenogenética.
Sintomas e danos
A cochonilha incide sobre ramos e tronco (lenho velho) resultando no
enfraquecimento da planta, com conseqüente perda da produção.
Controle
O ataque desta praga normalmente é de poucos ndivíduos por planta,
permitindo aos produtores eliminá-las manualmente. Em situações de alta
infestação, empregar os produtos indicados na Tabela A.
Cochonilha-do-tronco - Hemiberlesia lataniae (Signoret, 1869), Duplaspidiotus
tesseratus (Charmoy, 1899) e D. fossor (Newstead, 1914) (Hemiptera:
Diaspididae)
Descrição e bioecologia: Estas cochonilhas freqüentemente estão associadas
aos vinhedos da região sul do Brasil. São espécies semelhantes quanto ao tamanho
e forma do escudo, dificultando a identificação no campo. Praticamente não existem
informações sobre a biologia destas cochonilhas na cultura da videira o que dificulta
o estabelecimento de medidas de controle.
Sintomas e danos
As cochonilhas infestam de forma agregada os ramos velhos da parreira, localizando-se abaixo do
ritidoma (Figura 3). Ao se alimentarem depauperam as plantas, podendo provocar a morte.

Figura 3. Cochonilhas do tronco sob a casca


da videira. (Foto: M. Botton).
Controle
Nas situações em que ocorrem infestações elevadas do inseto, o controle
químico é recomendado (Tabela A). Entretanto, como a cochonilha normalmente se localiza sob o
ritidoma, dificultando o contato com os produtos aplicados, recomenda-se previamente realizar uma limpeza da
casca. Esta operação pode ser feita manualmente com escovas ou utilizando calda sulfocálcica a 4º Bé durante o
inverno. Aproximadamente 30 a 45 dias após o tratamento com a calda, o ritidoma começa a se desprender,
facilitando o contato do inseticida sobre as cochonilhas. O uso da calda sulfocálcica encontra restrições pelos
produtores devido à ação corrosiva sobre os arames do parreiral. Embora este assunto seja bastante controverso,
no caso da aplicação no tronco, é possível utilizar uma haste com dupla saída (Figura 4), adaptada ao
pulverizador costal, de modo a atingir os dois lados do caule, evitando o contato com o arame. O aplicador
também pode ser utilizado para direcionar o tratamento das cochonilhas somente nas plantas infestadas. Após o
uso da calda sulfocálcica, é importante lavar o equipamento de aplicação com uma solução de vinagre a 10%
para retirar os resíduos da calda, evitando a corrosão.
Embora não existam levantamentos de inimigos naturais destas cochonilhas
nos parreirais, é comum encontrar as carapaças perfuradas devido à emergência de
parasitóides. Por este motivo, é importante que o controle químico da cochonilha
seja direcionado somente para as plantas infestadas, visando preservar as espécies
benéficas presentes no parreiral.

Tabela A. Inseticidas - Manejo de Pragas na Cultura da Videira


Tabela A. Inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária para o controle das
principais pragas da videira. Bento Gonçalves, RS, 2002.
Inseticida
Dosage
Carênc Classe
m
Praga Ingrediente Produto ia toxicoló
(mL/100
ativo comercial (dias) gica
L)
Fenitrotiom Sumithion 500 150 14 II
Filoxera (forma galícola) Bravik 600 CE
Daktulosphairavitifoliae Paratiom metil Folidol 600 100 15 III
Folisuper
Cochonilhas da parte aérea Paratiom metil Bravik 600 CE 100 15 III
Parthenolecanium persicae + óleo Folidol 600
e Icerya schrottkyi emulsionável Folisuper
Fenitrotiom +
óleo Sumithion 500 150 14 II
emulsionável
500 a
Iharol SR IV
Óleo 1000
emulsionável 500 a
Triona SR IV
1000
Hemiberlesia lataniae, Bravik 600 I
Duplaspidiotus fossor, D. Paratiom metil CE Folidol 600 100 15 I
tesseratus Folisuper I
Cigarrinha Aethalion Fenitrotiom Sumithion 500 150 14 II
Reticulatum Triclorfom Dipterex 500 300 7 II
Mosca-das-frutas Fenthion Lebaycid 500 100 21 II
Anastrepha fraterculus Triclorfom Dipterex 500 300 7 II
Besouros desfolhadores Fenitrotiom Sumithion 500 150 14 II
Maecolaspis spp e
gorgulhos da videira Triclorfom Dipterex 500 300 7 II
Naupactus e Pantomorus
200 a
Kumulus SR IV
400
Ácaro branco Enxofre
200 a
Polyphagotarsonemus latus Thiovit SR IV
400
Abamectin Vertimec 18 CE 80 a 100 28 III
200 a
Kumulus SR IV
Ácaro erinose 400
Enxofre
Eriophyes vitis 200 a
Thiovit SR IV
400
Ácaro rajado
Abamectin Vertimec 18 CE 80 a 100 28 III
Tetranychus urticae

Cigarrinha-das-fruteiras - Manejo de Pragas


Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Cigarrinha-das-fruteiras - Aethalion reticulatum (L., 1767) (Hemiptera:
Aetalionidae)
Descrição e bioecologia
O inseto normalmente encontra-se associado a cultivares viníferas. Não existem
estudos sobre a biologia desta espécie na cultura da videira. Observações de campo
indicam que o inseto passa o inverno de forma agregada, protegida sob o ritidoma
(Figura 9). A partir do início da brotação ocorre a dispersão da praga no parreiral. As
posturas são realizadas numa ooteca, sendo que no interior encontram-se os ovos,
em número de 100 ou mais. Normalmente o ataque da cigarrinha está associado a
formigas, principalmente do gênero Camponotus sp. que se alimentam de substâncias açucaradas
excretadas pelo inseto.
Figura1. Grupamento da cigarrinha-
das-fruteiras no tronco da videira
(Foto: M. Botton).
Sintomas e danos
Ao se alimentarem continuamente das plantas, o inseto injeta saliva tóxica,
provocando hipertrofiamento do parênquima cortical, reduzindo o desenvolvimento
dos ramos atacados. No caso de cultivares viníferas, as folhas seguintes ao ponto
de alimentação avermelham, apresentando sintomas semelhantes a viroses. Sobre
os excrementos da cigarrinha, quando não se encontram formigas doceiras
associadas, pode aparecer a fumagina.
Controle
Como o inseto apresenta hábito gregário, as ninfas são facilmente destruídas
manualmente o que pode ser feito no momento da poda de inverno. Com relação ao
controle químico, alguns viticultores preferem carregar conjuntamente com o
material da poda, um pequeno pulverizador manual com capacidade para um ou
dois litros, contendo solução inseticida para aspergir nas colônias do inseto. A
cigarrinha é altamente sensível aos inseticidas (Tabela A), entretanto, em situações
de alta infestação, pode ser necessário tratar todo o parreiral. Nestes casos, o
tratamento deve ser repetido após 20 a 30 dias, com o objetivo de atingir as ninfas
que eclodiram após a aplicação, visto que os produtos não atuam sobre as posturas.
Ácaros da Videira - Manejo de Pragas
Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Ácaros da Videira
Os ácaros que atacam a videira têm sido mais prejudiciais às cultivares
viníferas produzidas em regiões tropicais onde o clima é seco, favorecendo a
multiplicação. As espécies mais freqüentes associadas à cultura da videira e que
podem ser consideradas pragas são as seguintes:
Ácaro branco Polyphagotarsonemus latus - (Banks, 1904) (Acari:
Tarsonemidae)
Descrição e bioecologia: O ácaro branco é uma praga polífaga e cosmopolita,
possui tamanho reduzido (machos e fêmeas medem aproximadamente 0,17 mm e
0,14 mm de comprimento, respectivamente), dificilmente visualizados a olho nu. O
macho, mesmo sendo menor que a fêmea, possui o hábito de carregar a pupa desta
para acasalamento no momento da emergência. Os ovos são depositados
isoladamente na face inferior das folhas. O ataque ocorre somente nas folhas novas
da videira, não havendo presença de teias.
Sintomas e danos: O ataque do ácaro branco resulta num encurtamento dos ramos da videira como
resultado da alimentação contínua das folhas novas (Figura 1). Em situações de elevada infestação, as folhas
ficam coriáceas e quebradiças podendo ocorrer a queda das mesmas. O ataque é mais importante em plantas
novas, tanto em mudas como nos porta-enxertos, visto que a praga reduz o desenvolvimento, atrasando a
formação do parreiral.

Figura 1. Encurtamento dos ramos de plantas de videira


devido ao ataque do ácaro branco (Foto: M. Botton).
Controle: Nas situações de elevada infestação, o controle deve ser realizado com
acaricidas específicos (Tabela A). Em baixas infestações, pode ser empregado o
enxofre, direcionando-se o tratamento às brotações novas. Entretanto, o uso do
enxofre pode causar fitotoxicidade em cultivares americanas.
Ácaro rajado Tetranychus urticae - (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae)
Descrição e bioecologia: O ácaro rajado mede cerca de 0,5 mm de comprimento,
possui coloração amarelo esverdeada com duas manchas escuras no dorso do
corpo. Vive principalmente na página inferior das folhas e tece teia. Altas
temperaturas e ausência de chuvas favorecem o desenvolvimento da praga.
Sintomas e danos: Os sintomas de ataque iniciam como pequenas áreas cloróticas
nas folhas, entre as nervuras principais, posteriormente, o local de ataque fica
necrosado. Na página superior das folhas correspondente às lesões, surgem tons
avermelhados. Altas infestações podem causar desfolhamento e também ataque aos
cachos, causando bronzeamento das bagas.
Controle: O ácaro rajado deve ser controlado eliminando-se as plantas hospedeiras
da praga presentes no parreiral antes da brotação da videira. Na região sul do Brasil
tem sido comum os produtores utilizarem a ervilhaca como cobertura morta no
interior do parreiral, realizando a dessecação no início da brotação. Os ácaros
presentes nesta planta acabam migrando para a videira, causando danos à cultura.
Outra prática que deve ser evitada é o emprego exagerado de adubos nitrogenados,
visto que plantas com altos teores de nitrogênio favorecem o desenvolvimento da
praga. Evitar o emprego de produtos pouco seletivos aos inimigos naturais,
principalmente inseticidas piretróides, que provocam aumento na população do
ácaro. Ao utilizar o controle químico (Tabela A) as aplicações devem ser
direcionadas para a face inferior das folhas.
Ácaro da Erinose - Colomerus vitis (=Eryophyes vitis) (Pagenstecher, 1857)
(Acari: Eriophyidae)
O ácaro da erinose é específico da videira, possui cor amarelada medindo
aproximadamente 0,16 mm de comprimento. As fêmeas ovipositam de forma
agregada nas pilosidades das folhas e, ao ocorrer a eclosão das larvas, iniciam-se
os danos à videira. A espécie reproduz-se principalmente por partenogênese.
Sintomas e danos: As folhas atacadas exibem galhas de diferentes tamanhos,
resultado do inchamento da parte superior que corresponde a manchas brancas e
aveludadas na face inferior. O ácaro da erinose também pode atacar as gemas,
causando deformações e até a morte das mesmas.
Controle: O ácaro da erinose é facilmente controlado com enxofre aplicado durante
o período vegetativo da cultura (Tabela A). No inverno pode-se empregar a calda
sulfocálcica a 4º Bé.
Os ácaros predadores Euseius alatus (De Leon), E. brazilli (El-Banhawi),
Neoseiulus fallacis (German) e Typhlodromus neotunus (Danmark & Muma),
pertencentes à família Phytoseiidade, foram encontrados em cultivares viníferas na
região de Bento Gonçalves - RS e devem ser preservados como agentes de controle
biológico dos ácaros fitófagos.
Besouros desfolhadores da videira - Manejo de Pragas
Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Besouros desfolhadores da videira - Maecolaspis aenea (Fabricius, 1801), M.
trivialis (Boheman, 1858) e M. geminata (Boheman, 1859) (Coleoptera:
Chrysomelidae)
Descrição e bioecologia
Os besouros desfolhadores que atacam a videira são insetos pequenos (3 a 5
mm de comprimento) de cor verde-metálica. As larvas vivem no solo alimentando-se
das raízes; os adultos são polífagos atacando, além da videira, espécies como a
roseira, algodão, batata-doce, feijão e citros, entre outros. Não existem informações
disponíveis sobre a biologia destes besouros na cultura da videira e a identificação
das espécies está sendo revista. O período de ataque dos adultos vai de outubro a
janeiro, com picos em dezembro. Os adultos não são facilmente visíveis pelos
viticultores, pois localizam-se sob as folhas e, ao sentirem a presença de pessoas ou
o agitar dos ramos, imobilizam-se e caem no solo. M. aenea ocorre na região sul e
M. trivialis, na região central do Brasil, principalmente nos Estados de Minas Gerais
e São Paulo.
Sintomas e danos
Os adultos atacam folhas e brotos novos, causando perfurações
características. Os danos resultam em menor desenvolvimento das plantas
reduzindo a atividade fotossintética. Outro dano causado pelo inseto é a queda
prematura das bagas. Ao se observar os cachos danificados, estes mostram o
pedicelo das bagas roído, exibindo o tecido lenhoso.
Controle
O controle normalmente é realizado com a aplicação de inseticidas (Tabela A)
podendo ser necessário mais de uma pulverização dependendo da intensidade de
ataque.
Gorgulhos da videira - Manejo de pragas
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Gorgulhos da videira - Naupactus spp e Pantomorus spp (Coleoptera:
Curculionidae)
Descrição e bioecologia
Poucos registros bibliográficos estão disponíveis referentes à presença de
Curculionidae na cultura da videira no Brasil. Com base no ciclo biológico de
espécies que ocorrem em outros países, sabe-se que os adultos emergem do solo
de setembro a março. As fêmeas ovipositam nas fendas da parte aérea da planta
ocorrendo a eclosão das larvas de dezembro até maio-junho. À medida que as
larvas eclodem, estas caem no solo enterrando-se rapidamente. A larva completa
seu desenvolvimento e passa à fase de pupa no solo por um período não definido,
presumindo-se não inferior a 9 meses. O período total do ciclo biológico também não
se conhece, mas estima-se não ser inferior a 14 meses.
Sintomas e danos
Os sintomas do ataque consiste no definhamento das videiras, resultante da
ação mastigadora das larvas no sistema radicular podendo ser porta de entrada para
doenças de solo. Os adultos, quando em elevadas infestações, podem causar danos
significativos, alimentando-se das folhas e destruindo brotos novos, impedindo o
desenvolvimento das plantas. Entretanto, as espécies brasileiras não têm causado
grandes prejuízos, tendo somente relatos de surtos esporádicos.
Controle
O combate mecânico dos coleópteros deste gênero é facilitado pelo tamanho
e visibilidade dos mesmos. Em casos onde isto não é possível, os adultos podem
ser controlados com inseticidas químicos (Tabela A).
Bicudo da videira - Manejo de Pragas
Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Bicudo da videira - Hyphantus olivae Vaurie, 1963 (Coleoptera: Curculionidae)
Descrição e bioecologia
O adulto é um besouro de aproximadamente 12 mm de comprimento, de cor
castanho escura, com rostro ou bico típico da família Curculionidae. Os adultos são
fracos voadores e alimentam-se das plantas à noite. Durante o dia, permanecem
escondidos sob detritos no solo, sob a casca ou nas rachaduras dos moirões. As
larvas vivem no solo alimentando-se das raízes.
Sintomas e danos
Os adultos alimentam-se das gemas, impedindo que ocorra a brotação. Além
das gemas, o inseto pode atacar os brotos e cachos novos.
Controle
A utilização de moirões de cimento contribui para reduzir a infestação no
parreiral, pois estes não oferecem abrigo aos insetos. Os moirões de madeira não
devem apresentar casca e, quando apresentam rachaduras, deve-se fazer
tratamento com produtos químicos repelentes, tais como o carbolineum.
Alguns viticultores têm empregado armadilhas para a captura do inseto, as quais são
constituídas de cascas de árvores ou lascas de toras, colocadas a intervalos
regulares nas entrelinhas. Todas as manhãs, na época de maior ataque (agosto-
outubro), as armadilhas são verificadas e os insetos coletados, destruídos. Não
existem informações disponíveis sobre controle químico da praga.
Mosca-das-frutas - Manejo de Pragas
Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Mosca-das-frutas - Anastrepha fraterculus (Diptera: Tephritidae)
Descrição e bioecologia
A mosca-das-frutas apresenta coloração amarela, medindo cerca de 8 mm de
comprimento. Os adultos possuem duas manchas sombreadas nas asas, uma em
forma de S que vai da base à extremidade da asa, e outra na forma de V invertido,
no bordo posterior. A fêmea apresenta, no extremo do abdômen, a terebra, que
funciona como aparelho perfurador e ovipositor (Figura 17). Antes de iniciar a
reprodução, as fêmeas necessitam amadurecer os ovários. Para isso, alimentam-se
de substâncias à base de proteínas e açúcares, que geralmente encontram nos
frutos de espécies como goiabas, pêssegos, ameixas, uvas, pêras, nectarinas e
outras, cultivadas ou nativas. A oviposição de A. fraterculus é isolada, colocando um só ovo a
cada postura. O número médio de ovos colocados por fêmea é de 400, sendo depositados cerca de 30 ovos por
dia num período de aproximadamente 65 dias. Após a oviposição, as larvas eclodem em 3 a 4 dias alimentando-
se nas bagas da uva. As larvas passam por três instares até atingir a fase de pupa que ocorre no solo e dura de 10
a 15 dias no verão, até 30 a 45 dias no inverno. O período larval, na temperatura de 25ºC, demora
aproximadamente duas semanas, período que pode se prolongar por até 77 dias dependendo das condições
ambientais. A cópula é realizada no quarto ou quinto dia após a emergência do adulto. Após o acasalamento e o
amadurecimento dos ovários, a fêmea fecundada procura o fruto da planta hospedeira, na qual faz postura,
continuando seu ciclo. Em resumo, o ciclo completo (ovo-ovo), demora, em condições ideais, cerca de 30 dias,
podendo se prolongar até três meses ou mais. Os valores de biologia são referenciais, pois dependem do
hospedeiro em que a mosca foi criada e do período do ano

Sintomas e danos
A mosca-das-frutas danifica principalmente uvas para mesa, não sendo importante
em videiras cultivadas para processamento. O ataque é maior em cultivares tardias.
O dano consiste na queda prematura dos frutos depreciando comercialmente os
cachos. A picada do inseto é imperceptível a olho nu, porém, em uvas brancas,
observa-se através da cutícula semitransparente, as galerias formadas pela
alimentação das larvas. A baga é destruída no momento da saída da larva para
empupar.
controle
Não existem informações específicas de manejo e controle da praga para a cultura
da videira. As recomendações, adaptadas de outras culturas, são as seguintes:
a) Monitoramento dos adultos através de armadilhas do tipo McPhail
contendo atrativo alimentar como suco de uva ou vinagre de vinho tinto a
25%. O atrativo deve ser renovado semanalmente, no momento da avaliação.
Como a praga normalmente vem de fora do parreiral, recomenda-se instalar
as armadilhas (4/ha) nas bordas do vinhedo. Outro atrativo que pode ser
empregado é a torula, utilizando-se 4 pastilhas por litro de água.
b) A partir da constatação do inseto, fazer aplicação de isca tóxica em 25% da
área do parreiral e repeti-la, semanalmente, ou logo após cada chuva. A isca
é formulada com proteína hidrolisada ou melaço a 7%, adicionando-se um
inseticida na dosagem comercial (Tabela A).
c) Quando o número médio de insetos atingir mais de 1 adulto por
armadilha/semana, realizar aplicação de inseticida em cobertura total (Tabela
A). Após a pulverização total da área, a isca tóxica deve continuar sendo
empregada, bem como o monitoramento da praga. O controle deve ser
repetido somente quando a população (detectada através das armadilhas)
voltar a atingir o nível de controle, respeitando-se um intervalo mínimo de 15
dias entre as aplicações de inseticidas em cobertura total.
d) Respeitar os períodos de carência dos inseticidas.
e) Em pequenos parreirais, o ensacamento dos cachos pode ser empregado
para controlar a praga.

Figura 1. Mosca-das-frutas, destacando o ovipositor nas fêmeas (Foto: E. Hickel).


Vespas e Abelhas - Manejo de Pragas na Cultura da Videira
Marcos Botton
Saulo de Jesus Soria
Eduardo Rodrigues Hickel
Vespas e Abelhas
Vespas e abelhas são insetos benéficos ao homem, porém, devido à
escassez de alimentos durante o verão, acabam indo buscá-lo nos cachos de uva
em maturação. As vespas ou marimbondos possuem mandíbulas bem
desenvolvidas e rompem a película das bagas para sugar o suco que, ao extravasar,
atrai grande quantidade de abelhas. As abelhas acabam afugentando as vespas da
baga rompida, levando-as a romper outra baga em seguida, até secar todo o cacho
(Figura 1). As principais vespas e abelhas que atacam a videira são Synoeca
syanea, Polistes spp., Polybia spp., Apis mellifera e Trigona spinipes.

Figura 1. Bagas rompidas devido ao


ataque de vespas e abelhas (Foto: E.
Hickel).
O ataque de vespas e abelhas aos cachos de uva deve-se à falta de alimento
(floradas) no período de maturação da uva, que vai de dezembro a março. Estes
insetos preferem néctar a qualquer exudato adocicado, sendo a primeira fonte de
alimento flores e não frutos. A falta de floradas está associado à ausência de matas
nativas próximas aos parreirais, que forneceriam flores durante os meses de verão.
Outra situação comum é a falta de planejamento dos apicultores, que muitas vezes,
superpovoam as áreas próximas aos vinhedos.
Controle
Plantio de áreas marginais aos vinhedos de plantas como o trigo mourisco ou
girassol, que florescem no mesmo período de maturação da videira. O plantio do
trigo mourisco pode ser iniciado na primeira semana de dezembro, escalonando-se
o plantio a cada 15 dias. Esta prática irá suprir as abelhas de alimento no período
crítico de ataque.
As matas próximas aos parreirais devem ser reflorestadas com espécies
como eucalipto, angico, canela lageana e sassafrás, louro, pau marfim, cambuim,
maricá, fedegoso, carne de vaca, palmeiras e butiás, ampliando a fonte de alimento
para estas espécies. Também pode ser fornecido alimento artificial às abelhas em
comedouros coletivos.
Quando possível, ensacar os cachos de uva próximo à colheita. Em último
caso, empregar fungicidas repelentes às abelhas, como o captan.
A destruição dos ninhos de vespas e abelhas deve ser feita com muito critério,
pois as mesmas são valiosas auxiliares na predação de pragas e polinização de
culturas.
Mudas de Videira - Qualidade do Material e Enxertia
Gilmar Barcelos Kuhn
Importância do material vegetativo selecionado
É fundamental, para o sucesso num empreendimento vitícola, a utilização de
material vegetativo de boa qualidade, livre das principais doenças transmitidas pelo
material vegetativo, especialmente as viroses. Nos tempos atuais, é de
reconhecimento mundial que as doenças causadas por vírus afetam severamente a
produção e qualidade da uva, além de diminuírem sensivelmente a vida útil dos
vinhedos. Algumas viroses podem causar a morte da planta, tanto no estádio inicial
de sua formação como na fase de plena produção. Estes prejuízos têm sido
verificados em diversos países vitícolas, constando hoje da literatura mundial o
registro de perdas que podem chegar a 70% na produção e até 4ºBrix no teor de
açúcar da uva. Além disso, as viroses afetam também o enraizamento, pegamento
da enxertia e a intensidade da cor dos vinhos.
A nível mundial, em particular na Europa, a qualidade sanitária do material de
propagação melhorou substancialmente nas últimas décadas. Isso porque, além das
preocupações e atividades desenvolvidas na área pelas entidades governamentais e
privadas, há também a tradição de alguns séculos com o cultivo da videira. Como
conseqüência, houve maior conscientização dos viticultores e viveiristas sobre a
importância e o retorno advindo da obtenção e utilização de material de propagação
de boa qualidade.
No Brasil, a viticultura, bem mais recente, foi implantada ao longo dos anos
com mudas formadas no local definitivo pelo próprio viticultor, onde o material de
propagação se originou sempre de vinhedos mais velhos da propriedade ou de
vizinhos próximos. Em vista do desconhecimento das doenças transmitidas pela
multiplicação vegetativa, em particular as viroses, a coleta do material de
propagação sempre foi feita sem seleção prévia. Isso propiciou ampla disseminação
de vírus, onde o homem teve um papel decisivo como agente disseminador.
Aquisição ou formação da muda
Na exploração comercial da videira as opções que se tem para a formação do
vinhedo são adquirir as mudas prontas ou prepará-las na propriedade. Os métodos
usuais de formação das mudas são através da multiplicação vegetativa, seja
utilizando-se estacas da produtora, em plantio direto, conhecido por "pé-franco", ou
através da enxertia da produtora em um porta-enxerto específico.
Aquisição da muda pronta
Quando se adquire mudas prontas para implantar um vinhedo deve-se tomar
muito cuidado. É imprescindível que se adquira as mudas de viveirista que tenha
uma boa origem do material vegetativo e a correta identificação da cultivar produtora
e do porta-enxerto. Deve-se portanto obter informações seguras sobre a origem do
material de propagação, visto que a introdução de material contaminado (mudas,
estacas, etc) pode comprometer não só a viabilidade econômica do agronegócio,
mas também estabelecer focos de doenças e pragas de difícil controle. As mudas
adquiridas devem ser de raiz nua, bem formadas, com comprimento mínimo de 20
cm e bem lavadas de forma que se possa observar a presença de anomalias como
engrossamento, nódulos, escurecimento e necroses causadas por pragas (pérola da
terra, nematóides) ou por agentes patogênicos como bactéria (Agrobacterium vitis),
fungos vasculares, especialmente Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis; e fungos
causadores de podridões de raízes como Armillaria mellea, Rosellinia necatrix, etc.
Também é importante que a muda apresente o calo de soldadura do enxerto bem
formado, sem fendas e nem engrossamento excessivo. O caule abaixo da região da
enxertia até a inserção das raizes deve apresentar boa formação com a casca lisa.
Alem destes problemas que são visíveis, existem outros, especialmente aqueles
causados por vírus que não são possíveis de serem verificados em mudas de um ou
dois anos quando são adquiridas, daí a grande importância de se ter confiança na
origem do material de propagação que originarão as mudas.
Formação da muda na propriedade
Os métodos usuais para se preparar mudas de videira são:
Pé-franco: é o método que consiste no enraizamento direto da estaca da
cultivar produtora sem uso de porta-enxerto. Este método é utilizado somente
para formação de mudas de Vitis labrusca, uvas comuns (Isabel, Concord,
Niagaras, Bordô, etc.) e algumas híbridas (Couderc 13, Seibel, Seyve Villard,
etc), que apresentam certa tolerância à filoxera, pulgão que ataca a raiz da
videira.
Enxertia: onde a muda é formada enxertando-se parte do ramo da cultivar
produtora, com uma ou duas gemas, em uma estaca de um porta-enxerto.
Este método é obrigatório para as cultivares de Vitis viniferas, uvas finas
Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, etc.) , visto serem muito sensíveis
à filoxera e se plantadas de pé-franco acabariam definhando e morrendo em
poucos anos. A enxertia é o método mais indicado para formação de mudas
de videira, mesmo para as cultivares americanas e híbridas que, como já foi
mencionado teriam a opção de serem plantadas de pé-franco. Isto porque
com a utilização de porta-enxerto, além de se melhorar a eficiência no
controle da filoxera, tem-se a vantagem de propiciar maior produtividade,
maior resistência a doenças e adaptação a diferentes tipos de solos.
Seleção das plantas para origem do material de propagação
Quando a muda vai ser preparada pelo próprio produtor ou por viveirista, seja
pelo método de pé-franco ou enxertia, o material de propagação (estaca ou enxerto)
deve ter uma origem confiável tanto no aspecto sanitário com na correta
identificação varietal da cultivar do porta-enxerto e da produtora (enxerto).
Quando o produtor ou viveirista não conseguir material de fonte confiável ou optar
em fazer a seleção do material vegetativo para a produção das mudas deve ter
muito cuidado.
No caso dos porta-enxertos é importante que as plantas matrizes disponíveis
para fonte de propagação tenham sido obtidas de orgãos oficiais ou em Entidades
Privadas como viveiristas que estejam devidamento credenciados junto ao Orgão
Certificador ou Fiscalizador, que no Rio Grande do Sul é a Secretaria da
Agricultura/RS, onde consta o registro dessas Entidades com a origem das plantas
matrizes. Estes cuidados são de extrema relevância, pois as plantas dos porta-
enxertos, mesmo infectados por muitas doenças, especialmente pelas viroses, se
desenvolvem normalmente, sem mostrar sintomas, tornando impossível distinguir no
campo as plantas doentes das sadias. Os efeitos danosos da utilização do porta-
enxerto afetado, somente serão notados depois da muda plantada, quando a
vegetação do enxerto (produtora) mostrará o sintoma da doença que estava latente
no porta-enxerto.
Para seleção das plantas de cultivares produtoras, "fontes de propagação de
enxertos" deve-se escolher vinhedos adultos (idade mínima de quatro anos)
formados com material de boa procedência, confiável em relação a sanidade e
identidade varietal. É importante se fazer a seleção mesmo em vinhedos formados
com material de boa procedência, visto que, após alguns anos de exposição no
campo as plantas podem se contaminar com doenças como vírus, bactérias e
fungos, que passam no material de propagação coletado destas plantas.
A seleção sanitária, geralmente é feita por Entidades de Pesquisa como a
EMBRAPA, o Instituto Agronômico de Campinas-SP, etc. sendo uma prática
fundamental para obtenção de plantas matrizes livre das doenças de relevância
econômica que se transmitem através do material de propagação. Envolve uma
série de atividades e cuidados até a obtenção de plantas comprovadamente sadias
e que servirão como fonte de propagação de material certificado. Os trabalhos são
conduzidos em etapas sucessivas através da seleção visual (massal e clonal) e
testes biológicos e laboratoriais em épocas apropriadas.
A seleção que o produtor ou viveirista pode fazer é a seleção visual (massal),
onde são marcadas as plantas de cultivares produtoras que servirão de fonte para a
propagação de enxertos na formação de mudas. A seleção deve ser realizada todos
os anos, de modo que as plantas já marcadas, em anos anteriores, continuem sendo
observadas. O objetivo principal da seleção sanitária é marcar as plantas sem
sintomas das viroses e de outras doenças que, eventualmente, passam pelo
material de propagação, como o Fusarium e outros fungos causadores de morte de
ramos e bactérias como a causadora da galha da coroa e queima bacteriana.
A seleção visual no campo é feita diretamente no vinhedo, marcando-se as
plantas com bom vigor, produtivas e boa maturação da uva e sem os sintomas das
doenças mencionadas. No decorrer da seleção as plantas devem ser observadas
em diversas épocas do ano, visto que os sintomas da maioria das doenças se
expressam melhor em determinados estádios do desenvolvimento da planta. As
épocas de observação podem variar de país para país ou de região para região em
função das condições climáticas. No Rio Grande do Sul, que tem uma clima
temperado com as estações climáticas bem definidas é recomendado fazer as
observações nas seguintes épocas:
 Na primavera, quando os ramos alcançam em torno do 50 cm: nesta fase
a observação é particularmente importante para verificar o vigor e os
sintomas da virose da degenerescência da videira, que pode se manifestar
tanto nas folhas como nos ramos. Nas folhas os sintomas mais comuns são
deformações e assimetria foliar e colorações anormais com amarelamento,
faixa amarela ao longo das nervuras, manchas cloróticas de contorno variado.
Nos ramos já se pode verificar, nessa fase, uma série de anormalidades com
a presença de bifurcações, entrenós curtos, achatamentos e nós duplos.
 Na fase de maturação da uva, antes da colheita: no decorrer deste período
deve-se verificar especialmente as características da produção. As plantas
não devem apresentar cachos falhados e mal formados, maturação irregular
(presença no mesmo cacho de uvas maduras e verdes), e também àquelas
plantas que embora tenham boa produção apresentam maturação atrasada
ou incompleta.
 Próximo ao fim do ciclo vegetativo, antes da queda das folhas: esta fase
é muito importante, porque é o período em que se caracteriza bem, nas
cultivares viníferas, a virose do enrolamento da folha, aparecendo como
principais sintomas o enrolamento da folha para baixo, aspecto rugoso e
coreáceo do limbo foliar e coloração anormal das folhas, sendo vermelha
escura nas cultivares de uva tinta e amarelo pálido nas cultivares de uva
branca. A seleção deve ser rigorosa, especialmente nas cultivares viníferas,
visto que são muito sensíveis e sofrem severas perdas de produtividade,
queda acentuada do teor de acúcar da uva e considerável diminuição da vida
produtiva das plantas.
 No período de dormência das plantas, antes da poda: nesta fase quando
as plantas estão sem as folhas, antes da poda, é o ideal para se observar a
presença de qualquer anomalia nos ramos. Não devem ser marcadas
(selecionadas) as plantas que apresentam, nos ramos, sintomas do tipo
achatamento, nós duplos (gemas opostas), bifurcações, entrenós curtos,
engrossamento nos entrenós, amadurecimento irregular do lenho e morte de
ramos.
Coleta e conservação de material para produção de mudas
Coleta e conservação
A coleta dos sarmentos (ramos), tanto de porta-enxertos como de cultivares
produtoras deve ser feita no período de descanso vegetativo da planta, no inverno,
quando estão bem lignificados (amadurecidos), totalmente sem as folhas e somente
de ramos que vegetaram na última estação (ramo do ano). Recomenda-se que a
coleta do material seja feita o mais próximo possível da época do plantio ou da
enxertia. Os ramos das produtoras destinadas a fornecer gemas para enxertia
podem ser coletados com um comprimento de 1m ou mais e amarrados em feixes
de 50 a 100 devidamente identificados. No caso produtoras destinadas ao plantio de
pé-franco (americanas ou híbridas) e porta-enxertos para enxertia de campo pode-
se fazer estacas de 40-45cm.
Caso a coleta seja feita com muita antecedência do momento do plantio ou da
enxertia, o material deve ser conservado, de preferência, em câmara fria, com
temperatura entre 3ºC e 5ºC, e umidade do ar em torno de 95-100%. Não dispondo
de câmara fria, conservar em local fresco (porão) sob areia ou serragem úmida.
Quando for estacas de porta-enxerto (40-45 cm) a conservação pode ser feita em
feixes, em pé, com a base das estacas enterrada (10-20 cm) em areia, que deve
permanecer sempre úmida e em local bem sombreado e fresco. Nestas condições o
material pode permanecer por duas ou três semanas. Deve-se ter muito cuidado
pois se os ramos da videira perderem em torno de 20% da umidade podem se tornar
inviáveis para o plantio ou enxertia. Quando for utilizada câmara fria que não
dispuser de controle de umidade, os feixes devem ser cobertos com serragem ou
papel jornal umidecido e envolvidos em sacos de plástico bem vedados, para evitar
a perda de umidade e o ressecamento do material. O ideal é que todo o material,
antes de ser colocado na câmara fria, seja hidratado (imersão) por 24 horas e,
obrigatoriamente, essa hidratação tem que ser feita após a retirada da câmara fria,
antes do plantio ou enxertia.
Preparo das estacas
No preparo das estacas para o plantio de pé-franco, tanto de cultivares
produtoras americanas (Isabel, Concord, Niágaras, Bordô) como de porta-enxertos,
para posterior enxertia, deve-se observar alguns aspectos básicos. Na extremidade
inferior da estaca (base), o corte deve ser horizontal e logo abaixo da gema (0,5 cm).
Na extremidade superior, deve ser inclinado (bisel) de 3 a 5cm acima da gema, para
evitar o seu ressecamento. O comprimento mínimo da estaca deve ser de 40 cm,
correspondendo, aproximadamente, a 4-6 gemas. Quanto ao diâmetro, deve ser o
equivalente ao de um lápis, em torno de 7-12 mm, pois estacas muito finas ou muito
grossas apresentam menor índice de enraizamento.
Formação da muda
Como já foi mencionado mudas de videira podem ser formadas de pé-franco
ou enxertada. No caso de uvas finas (européias) o emprego do método de enxertia é
obrigatório, enquanto para uvas comuns (americanas ou híbridas) pode-se utilizar os
dois sistemas, embora a enxertia seja sempre mais aconselhada, especialmente,
quando se considera produção e qualidade.
O preparo da muda de videira, seja, de pé-franco ou enxertada, pode ser feito
diretamente no local de implantação do vinhedo ou em um viveiro separado e, neste
caso, as mudas terão que ser transplantadas, posteriormente, para o local de
implantação do vinhedo.

Vantagens do preparo da muda em viveiro


O preparo das mudas em viveiro tem as seguintes vantagens:
a) num pequeno espaço pode-se fazer grande número de mudas. Para se ter
uma referência, o total de mudas necessário para implantar 100 ha de
vinhedos pode ser preparado numa área aproximada de 1 hectare;
b) os tratos culturais como limpeza ou utilização de cobertura plástica,
tratamentos fitossanitários, adubação, irrigação, desbrotas, etc., tornam-se
muito mais fáceis em pequena área;
c) o vinhedo formado com mudas prontas e selecionadas terá um
desenvolvimento mais padronizado, enquanto na enxertia feita no local
definitivo, falhas podem ocorrer, necessitando de re-enxertia; mudas fracas
resultante da má soldadura da enxertia ou outros fatores podem se
desenvolver, ocasionando a formação de vinhedos sem um padrão uniforme;
d) o custo de formação da muda se torna mais barato, especialmente, para
implantação de grandes áreas de vinhedos.
Em contrapartida, o aspecto mais vantajoso de se preparar a muda no local
definitivo é o maior desenvolvimento inicial das plantas, especialmente, nos
primeiros dois anos, visto que, o porta-enxerto já está enraizado no momento da
enxertia.
Escolha da área e preparo do solo para viveiro
Para implantação do viveiro deve-se considerar alguns requisitos básicos com
referência ao local e tipo de solo, como:
a) evitar áreas muito próximas a outros vinhedos, distanciar pelo menos 50m
e, se possível, colocar o viveiro na parte mais alta do terreno;
b) escolher um solo que nunca tenha sido cultivado com videiras ou, pelo
menos, que tenha ocorrido um intervalo de 12 anos do último plantio;
c) o solo deve ser arenoso, profundo e bem drenado;
d) conhecer o histórico da área com relação a plantios anteriores com outras
culturas e verificar se há ocorrência de fungos de solo (Armillaria mellea,
Rosellinea necatrix, Phythophtora sp.) e a praga "pérola da terra", que ataca
as raízes da videira e de diversas outras plantas cultivadas e ervas daninhas.
Após definida a área, o primeiro passo, caso esteja muito infestado de erva
daninha é fazer a aplicação de herbicida.
No preparo do solo, se possível, fazer uma subsolagem e após a aração e
gradagem. Retirar amostras do solo e encaminhar para analise. Diante do resultado
da análise, se necessário, fazer a correção do pH e, posteriormente, a adubação de
base recomendada. O solo tem que ficar bem preparado (solto), de modo a facilitar
as demais operações para implantação do viveiro e o desenvolvimento da muda
dentro dos padrões recomendados.
Plantio do material para formação da muda
O plantio das estacas em viveiro para a produção de mudas de pé-franco, no
caso de americanas ou híbridas ou de estacas do porta-enxerto para,
posteriormente, serem enxertadas (muda enxertada) pode ser feito em valas com
profundidade de 30 a 40 cm e largura em torno de 30 cm. As estacas são enterradas
à profundidade de 2/3 do seu comprimento e espaçadas de 5 a 10 cm. Pode-se
colocar na vala duas fileiras de estacas distanciadas 20 a 30 cm uma da outra e
entre as valas, deixar uma distância de 1 m. Outra alternativa, embora mais
trabalhosa é preparar canteiros com 20cm de altura e, aproximadamente, 80cm de
largura cobrindo-os com plástico preto, mantendo as bordas do plástico sob a terra
para não sair com o vento. Neste caso o plantio das estacas é feito furando o
plástico com a própria estaca ou perfurando-o antes de colocar a estaca. Deve-se
ter o cuidado de verificar antes de cobrir o canteiro com o plástico, se o solo está
com boa umidade, isso é fundamental para que ocorra enraizamento. Após o plantio
das estacas é importante que se irrigue em cima do plástico fazendo a água
penetrar pelos furos, de modo a deixar o solo bem úmido e em contato com as
estacas.
No caso de se optar por preparar a muda no local definitivo, após preparado o solo,
a forma mais comum de plantio é em covas, sempre colocando duas estacas da
produtora (pé-franco) ou do porta-enxerto (muda enxertada) em cada cova. Isso
trará maior segurança para o povoamento do vinhedo e possibilita transplantar de
covas onde as duas estacas enraizaram para outras onde não houve enraizamento
de nenhuma. Outra alternativa é plantar as estacas do porta-enxerto já enraizadas
antes em viveiro (barbado), para posterior enxertia, isto garante a inexistência de
falhas ou se ocorrer é em baixa porcentagem.
Após o plantio, tanto no viveiro como no local definitivo, deve-se chegar terra
junto às estacas, de preferência cobrindo-as totalmente, com a finalidade de
protege-las contra o sol, geadas tardias e reduzir os efeitos de compactação do solo
pela chuva.
A produção da muda de pé-franco limita-se ao enraizamento da estaca da
cultivar produtora no viveiro ou no local definitivo. Entretanto, quando a muda vai ser
originada por enxertia, tanto no viveiro como no local definitivo, as estacas do porta-
enxerto têm que ser enxertadas com a cultivar produtora. Normalmente, a enxertia,
tanto no viveiro como no local definitivo, é feita pelo processo de garfagem (fenda
simples) e realizada no inverno.

Enxertia de garfagem no Campo


No Brasil, esta é a prática mais utilizada. A quase totalidade das mudas para o
estabelecimento de vinhedos comerciais é feita no local definitivo da formação do
vinhedo. Neste caso, as estacas do porta-enxerto, conforme já se descreveu, são
previamente preparadas e plantadas durante os meses de julho-agosto. Decorrido,
aproximadamente, um ano é feita a enxertia (enxertia de inverno). Em regiões
sujeitas à ocorrência de geadas tardias, a enxertia deve ser feita na última quinzena
de agosto. Em regiões de clima tropical, onde a planta vegeta todo ano, a enxertia
pode ser feita em qualquer época.
O tipo de enxertia feita no campo é a garfagem simples, executada do
seguinte modo: inicialmente, faz-se uma limpeza em torno do porta-enxerto para
facilitar a operação de enxertia. A seguir, escolhe-se, no caule do porta-enxerto, uma
parte lisa e reta do entrenó, na altura de 10 a 15 cm acima do solo. Neste local, faz-
se um corte horizontal, eliminando-se a copa, ficando, assim, um pequeno caule ou
cepa. Após, com o canivete de enxertia, é feita uma fenda de aproximadamente, 2 a
4 cm, na qual será introduzido o garfo da videira que se deseja enxertar.
Para o preparo do garfo (enxerto), toma-se uma parte do ramo (bacelo) com duas
gemas, de preferência com diâmetro igual ao do porta-enxerto. Com canivete bem
afiado são realizados cortes rápidos e firmes em ambos os lados, de maneira que o
garfo fique em forma de cunha, um pouco mais grossa no lado que fica a gema
basal. O comprimento da cunha deverá ser semelhante ao da profundidade da fenda
feita no porta-enxerto. É importante que o garfo, assim preparado, seja
imediatamente encaixado na fenda do porta-enxerto, de tal maneira que as regiões
da casca do porta-enxerto e do garfo (enxerto) fiquem em contato direto. Quando o
diâmetro do porta-enxerto e do garfo for diferente, é fundamental que, no lado em
que se situa a gema basal do garfo, ocorra o contato direto da casca das duas
partes (enxerto/porta-enxerto). A seguir, enrola-se firmemente toda a região da
enxertia com fita plástica, com cuidado para não deslocar o enxerto. Além da fita
plástica pode ser usado ráfia ou vime, embora a fita plástica seja mais aconselhável
por vedar bem os cortes da enxertia, evitando a entrada de água e terra. Quando a
muda é preparada no local definitivo, ao fim das operações de enxertia, crava-se
uma estaca ou taquara (tutor) junto ao enxerto, de modo a conduzi-lo até o arame do
sistema de sustentação.
Para favorecer a soldadura, deve-se cobrir totalmente o enxerto, com
cuidado, utilizando terra solta, areia ou serragem que devem estar umedecidas para
evitar a desidratação do enxerto. Evitar o excesso de umidade do material que
cobrirá o enxerto, pois, com o secamento posterior, a superfície do montículo poderá
endurecer muito e impedir a saída da brotação do enxerto.
Ocorrida a pega da enxertia no decorrer da primavera, muitos brotos do porta-
enxerto podem surgir, sendo que todos deverão ser removidos sem, contudo,
desfazer o montículo. Deve-se ter muito cuidado para não eliminar a brotação
originada do garfo (enxerto) que, normalmente, é de coloração mais clara que a do
porta-enxerto.
Outra prática importante que deve ser feita quando o broto do enxerto atingir um
comprimento aproximado de 50-60cm, é a retirada do montículo de terra, para se
verificar se houve afrancamento, ou seja, se ocorreu emissão de raízes a partir do
garfo (enxerto). Em caso positivo, as raízes devem ser cortadas com tesoura ou
canivete. Nesta época, também deve-se observar se não está havendo
estrangulamento na região da enxertia, pois, muitas vezes, o material usado para o
amarrio não cede, devendo-se, então, fazer o corte deste com o canivete. Em
seguida, refaz-se o montículo de terra que deve permanecer até que se inicie o
amadurecimento do ramo, quando pode ser eliminado.
Deve-se tomar muito cuidado com os tratamentos fitossanitários,
especialmente, do início da brotação em setembro até dezembro, quando doenças
como antracnose e mildio ocorrem com maior frequência. Outro aspecto importante
é o controle das formigas cortadeiras que atacam intensamente a videira.
As operações de manejo do enxerto, tais como eliminação da brotação do porta-
enxerto, desafrancamento e eliminação do montículo que cobre o enxerto, devem
ser efetuadas, preferencialmente, em dias nublados.
Ocorrendo a brotação das duas gemas do enxerto e quando estas
alcançarem em torno de 1m, elimina-se o broto mais fraco, amarrando o outro,
frequentemente, junto ao tutor, para evitar a sua quebra pelo vento.
No caso da enxertia ser feita em viveiro, não é necessário tutorar as mudas,
devendo-se fazer despontes do broto sempre que atingir em torno de 30 a 40 cm, de
forma que, o ramo engrosse e fique ereto facilitando os tratamentos fitossanitários.
As demais operações são as mesmas já mencionadas quando se forma a muda no
local definitivo. A única diferença da muda preparada em viveiro é que ela tem que
ser arrancada no inverno e transplantada para o local onde vai ser implantado o
vinhedo.
Enxertia de Mesa
A enxertia de mesa é praticamente o único metodo utilizado na Europa, pelos
viveiristas, para produção de mudas de videira. Toda a muda, que temos importado
nos últimos anos da Itália, França e África do Sul são elaboradas por esse processo.
A tendência natural no Brasil é adotar essa técnica, a partir do momento em que
viveiristas se estruturem para a produção comercial de um número razoável de
mudas que comporte o investimento na estrutura necessária. É um método bem
mais sofisticado do que a tradicional enxertia de campo necessitando, portanto, de
um aprendizado caso o viveirista não tenha um bom conhecimento da técnica. É
uma técnica que, para seu desenvolvimento, necessita certos equipamentos
especiais, como, por exemplo, câmara de forçagem com temperatura e umidade
controladas, câmara fria, além de máquinas de enxertia, caixas e outros materiais, o
que torna este método um tanto dispendioso para pequenos viveiristas. Entretanto,
esta modalidade de enxertia pode ser desenvolvida de um modo mais simples, sem
o auxílio de máquinas de enxertar e sem câmaras de forçagem com controle de
temperatura e umidade. A enxertia pode ser manual, com forçagem feita em estufas
rudimentares cobertas com plástico. Entretanto, as chances de sucesso são bem
menores e comportaria ser utilizada para pequenas quantidades de mudas.
As vantagens da enxertia de mesa são a obtenção da muda num único ciclo
vegetativo ganhando-se, portanto, um ano em relação ao método tradicional de
enxertia de campo e, também, de se fazer um grande número de mudas num curto
espaço de tempo com a utilização da máquina de enxertia. A seguir serão dado
algumas noções sobre o processo de enxertia de mesa. O material vegetativo do
porta-enxerto e da produtora é coletado e conservado do mesmo modo já descrito
para a enxertia convencional, embora seja aconselhado fazer a conservação sempre
em câmara fria. Normalmente o processo é realizado no período de junho a agosto.
Utilizando a máquina de enxertia faz-se os cortes e união da estaca do porta-enxerto
e do garfo da produtora e, em seguida, mergulha-se em cera quente (75-80°C), e de
imediato em água fria. A seguir, acomoda-se os enxertos em caixas com serragem
úmida ou outro material, cobrindo-as com plástico preto e colocando-as numa
câmara quente (28-30°C), no escuro, onde permanecem até a soldadura do enxerto
ou formação do calo que ocorre em, aproximadamente, 20 dias. Após constatar-se
que os enxertos estão soldados, as caixas devem permanecer na câmara, sem a
cobertura plástica, com luz e temperatura ambiente. A seguir as caixas são retiradas
da câmara quente e deixadas numa dependência na temperatura ambiente, por 3-5
dias para aclimatização. Posteriormente, os enxertos são retirados das caixas
eliminando-se os que apresentam a soldadura mal formada. Das mudas
aproveitáveis com boa soldadura do enxerto, se eliminam os brotos e raizes que
tenham se formado e, em seguida, é dado um segundo banho de cera para proteger
o calo de enxertia no viveiro. Após, os enxertos são levados para o viveiro e
plantados em canteiros cobertos com plástico preto. As mudas estarão prontas a
partir do mês de junho/julho do ano seguinte. Em regiões de clima quente (tropical
ou semi-tropical), onde a videira vegeta durante todo ano, a enxertia pode ser feita
em qualquer época e, em condições de clima muito quente, não há necessidade de
câmara de forçagem, pois a soldadura do enxerto ocorre normalmente em
temperatura ambiente. É necessário, portanto, logo após a enxertia, fazer o plantio
em sacos de plástico ou em viveiro em local sombreado, para ocorrer a soldadura
(formação do calo) e a formação da muda.
Enxertia verde
Esta modalidade de enxertia é efetuada durante o período vegetativo da
videira sendo recomendada para a reposição de falhas da enxertia de inverno. Pode
também ser empregada na formação e renovação do vinhedo. O método é o de
garfagem simples realizada na primavera, nos meses de novembro e dezembro. Nas
enxertias mais tardias poderá ocorrer problema de maturação (lignificação) das
brotações, principalmente nos locais em que o outono é bastante frio.
Consiste, sucessivamente, dos seguintes procedimentos: selecionar duas brotações
do porta-enxerto e conduzí-las adequadamente através de amarrações junto ao
tutor; para enxerto utilizar garfos de duas gemas, coletado no mesmo dia da
enxertia, utilizando-se de quatro a seis gemas da parte mediana do ramo, cujo tecido
é herbáceo e rígido; eliminam-se as folhas do garfo e colocam-se em sacos de
plástico contendo jornal úmido para evitar a desidratação e acondicionar,
preferencialmente, em caixas de isopor. Os ramos do porta-enxerto devem
apresentar, no mínimo 5 mm de diâmetro; a brotação do porta-enxerto deve ser
decepada a partir do quarto ou quinto entrenó, contando da extremidade para a base
(ramo herbáceo, porém consistente como o do garfo); eliminar todas as gemas
(olhos) do porta-enxerto, entretanto, as folhas devem permanecer; o diâmetro do
garfo deve ser o mesmo do porta-enxerto, isso auxilia a soldadura e a execução da
enxertia; amarrar o enxerto com plástico fino envolvendo totalmente a região da
enxertia até o seu ápice, ficando expostas apenas as duas gemas do garfo; eliminar
as brotações do porta-enxerto que surgirem após a enxertia; efetuar os tratamentos
fitossanitários para o controle das doenças fúngicas assim que iniciar a brotação do
enxerto; conduzir o enxerto com amarrações freqüentes; cerca de dois meses após
a enxertia, preferencialmente em dia nublado e úmido, afrouxar o amarrio para evitar
o estrangulamento, permanecendo o enxerto coberto com plástico; retirar o plástico
em dia nublado e úmido cerca de 90 dias após a enxertia.
Plantio das mudas
Na implantação do vinhedo com mudas formadas em viveiro, seja pela
enxertia de campo ou de mesa, deve-se utilizar aquelas com sistema radicular que
apresente, no mínimo, três raízes principais bem distribuídas, sendo ainda
necessário, no caso de mudas enxertadas, que tenha havido uma boa soldadura e
cicatrização da região do enxerto.
O plantio é feito em covas previamente preparadas, conforme descrição na
parte referente ao preparo do solo. A muda deve ser preparada, deixando-se uma
haste com duas ou três gemas e o sistema radicular com um comprimento em torno
de 10 cm.
Poda Seca da Videira
Alberto Miele
Francisco Mandelli
A videira, em seu meio natural, pode atingir grande desenvolvimento. Nessas
condições, a produtividade não é constante e os cachos são pequenos e de baixa
qualidade. Ao limitar o número e o comprimento dos sarmentos, a poda proporciona
um balanço racional entre o vigor e a produção, regularizando a quantidade de uva
produzida e sua qualidade.
A videira admite inúmeras variações em sua condução e poda, o que pode ser
constatado pela grande variabilidade de sistemas existentes nas diversas regiões
vitícolas mundiais.

*A poda compreende um conjunto de operações que se efetuam na planta e que


consistem na supressão parcial do sistema vegetativo lenhoso, como sarmentos e
braços.
Objetivos da poda
Os principais objetivos da poda são:

a) Propiciar que as videiras frutifiquem desde os primeiros anos de plantio.


b) Limitar o número de gemas para regularizar e harmonizar a produção e o vigor, de
modo a não expor as videiras a excessos de produção que podem levá-las a
períodos de baixa frutificação.
c) Melhorar a qualidade da uva, que pode ser comprometida por uma elevada
produção.
d) Uniformizar a distribuição da seiva elaborada para os diferentes órgãos.
e) Proporcionar à planta uma forma determinada que se mantenha por muito tempo
e que facilite a execução dos tratos culturais
Fatores a considerar na escolha do sistema de poda
A eleição de um sistema de poda não é tão simples como se poderia
imaginar, pois devem ser considerados, além dos fatores imprevistos de cada
vinhedo, os fatores gerais que precisam ser adotados como norma para efetuar uma
correta seleção. Esses fatores são: cultivar, características do solo, influência do
clima e aspectos sanitários.
Cultivar
De modo geral, adota-se a poda mista (vara e esporão) nas viníferas, e a
poda em cordão esporonado nas americanas. Em condições similares de clima e
solo, as diversas cultivares apresentam desenvolvimento vegetativo diferenciado.
Nas cultivares vigorosas deixa-se um maior número de gemas/vara.
O sistema de poda depende também da localização das gemas férteis ao longo do
sarmento. Se as gemas estiverem situadas em sua base, normalmente faz-se a
poda em cordão esporonado; as cultivares que apresentam gemas inférteis na base
do sarmento exigem poda mista. O comprimento dos entrenós também deve ser
considerado para a realização da poda.
Características do solo
O vigor da planta está relacionado com a fertilidade do solo. Videiras em solos
de baixa fertilidade não são muito vigorosas e, por isso, normalmente adota-se a
poda curta; solos férteis propiciam grande desenvolvimento às videiras, sendo então
utilizada a poda longa.
Influência do clima
Uma mesma cultivar, plantada em solos similares, comporta-se segundo as
características climáticas do local. Em locais sujeitos a geadas tardias, a videira
deve ser conduzida mais alta. Em climas úmidos, as gemas da base do sarmento
geralmente são inférteis. Climas secos proporcionam maior fertilidade das gemas da
base do sarmento. É importante, ainda, considerar a predominância dos ventos.
Nas regiões onde a incidência direta do sol não é favorável à qualidade da uva,
deve-se fazer a poda de forma que os cachos fiquem sombreados; nas regiões frias
e úmidas, a poda deve facilitar a incidência dos raios solares nos cachos.
Aspectos sanitários
As partes da videira com umidade persistente e pouco arejadas propiciam o
desenvolvimento de doenças fúngicas. Para evitar a proliferação de doenças nas
videiras, deve-se eleger o sistema de poda que assegure o máximo de circulação de
ar e penetração de luz.
Localização e tipos de gemas
As gemas da videira se localizam nas axilas das folhas, na posição lateral do
ramo, inseridas junto aos nós (Figura 1).
Na videira não se distinguem gemas vegetativas e gemas frutíferas, como em
muitas espécies, mas sim somente gemas mistas, que originam brotos com cachos
e folhas ou brotos com folhas. A gema da videira é composta, sendo a principal
chamada de primária, que, geralmente origina um broto frutífero; as outras duas, são
chamadas de secundárias, que brotam quando ocorrer algum dano com a gema
primária (geada, granizo, vento, dano nas gemas superiores), as quais dão origem a
brotos que podem ser férteis ou não.
Há cinco tipos de gemas: a) prontas; b) francas ou axilares; c) latentes; d)
basilares, da coroa ou casqueiras; e) cegas.
Gemas prontas
Formam-se na primavera-verão, cerca de uma dezena de dias antes das gemas
francas. Assim que formadas podem dar origem a uma brotação chamada feminela
ou neto (ramo antecipado), que pode ser estéril, pouco ou muito fértil, segundo a
cultivar. Localiza-se, também, na axila das folhas, ligeiramente descentralizada e
abaixo da gema franca.
Gemas francas ou axilares
Formam-se na base das gemas prontas, junto à inserção do pecíolo foliar e
permanecem dormentes durante o ano de formação, mas sofrem uma série de
transformações. A formação do esboço dos cachos se completa somente na
primavera seguinte. Durante a brotação e desenvolvimento dos ramos, as gemas
francas não germinam porque são inibidas pela atividade dos ápices vegetativos
(dominância apical) e das gemas prontas (inibição correlativa). Essas gemas podem
produzir de um a três cachos, e até quatro em cultivares americanas e híbridas.
Gemas latentes
São gemas não muito desenvolvidas, localizadas na madeira velha, que
foram cobertas pela sucessiva formação de tecidos. Quando brotam dão origem a
ladrões estéreis, que surgem quando se realiza uma poda drástica; ocorre danos por
geadas tardias nas outras gemas; há problemas com a circulação da seiva.
Gemas basilares, da coroa ou casqueiras
São um conjunto de gemas não bem diferenciadas que se formam na base do
ramo, junto à inserção do broto do ano com a madeira do ano anterior. Somente
brotam quando se fizer poda curta, aplicação de regulador de crescimento ou
ocorrer problemas com as gemas francas. Geralmente são férteis nas cultivares
americanas e inférteis nas viníferas.
Gemas cegas
É a mais desenvolvida das gemas basilares, sendo a primeira gema visível localizada logo acima dessas.
São férteis nas americanas e em algumas viníferas podem produzir um cacho.

Figura 1. O sarmento da videira e suas partes


(Segundo Chauvet & Raynier, 1979).

Princípios fundamentais da poda

Mesmo que os sistemas de poda sejam transmitidos durante gerações, de forma


empírica ou intuitiva, é importante que o podador conheça as bases racionais nas
quais se sustenta a difícil técnica de podar. Os princípios da poda são os seguintes:
1. A videira normalmente frutifica em ramos do ano que se desenvolvem de
sarmentos do ano anterior.
2. O ramo que proporcionou um broto frutífero não produz novamente, por isso
deve ser substituído por outro que ainda não tenha produzido. A preocupação
deve ser o presente (próxima safra), mas não se pode esquecer o futuro
(safras subseqüentes).
3. A frutificação é em geral inversa ao vigor; a produção de uva reduz a
capacidade da videira para a próxima safra ou safras; videiras com altas
produções apresentam menos vigor e terão menores produtividades no ano
seguinte ou nos anos seguintes.
4. O vigor individual dos ramos de uma videira é inversamente proporcional ao
seu número.
5. Quanto mais o ramo se aproximar de posição vertical, maior será o seu vigor.
A brotação inicia pelas gemas das pontas das varas ou esporões (brotação
mais precoce e mais vigorosa); as gemas da parte mediana e da base das
varas brotam posteriormente e dependendo do número muitas vezes nem
brotam. A curvatura da vara, as amarrações e o uso de reguladores de
crescimento alteram essa dominância.
6. Uma videira só tem condições de nutrir e maturar de forma eficaz uma
determinada quantidade de frutos.
7. Os ramos mais afastados do tronco são, em igualdade de condições, os mais
vigorosos. As gemas mais afastadas da base do ramo têm, em geral, maior
fertilidade.
8. O tamanho e o peso dos cachos, nas mesmas condições de cultivar, solo,
clima e poda, aumentam quando se faz desbaste de cachos após o
pegamento do fruto.
9. Qualquer que seja o sistema de poda aplicado, o viticultor deverá vigiar para
que a futura área foliar e a produção tenham as melhores condições de
aeração, calor e luminosidade.
10. Para continuar um braço se elegerá o sarmento situado mais baixo e mais
próximo da base.
Informações adicionais aos princípios da poda
1. A acrotonia é variável em função da cultivar (as que possuem forte acrotonia
devem ser podadas curtas), vigor da videira (plantas fracas apresentam
acrotonia mais marcada), rigor do período de repouso (inverno deficiente a
favorece) e tipo de sustentação (orientação dos ramos).
2. A adequada nutrição de carboidratos, crescimento moderado do ramo e
produtividade normal favorecem a maturação do ramo e propiciam a
formação de gemas frutíferas. Os sarmentos maduros armazenam maior
quantidade de reservas (amido e sacarose) que sarmentos parcialmente
maduros.
3. O comprimento do entrenó está relacionado com o vigor da planta (velocidade
de crescimento). Ramos formados no início do ciclo e com crescimento
regular terão entrenós com comprimento normal, o que significa dizer boas
condições para o desenvolvimento das gemas frutíferas e para a maturação;
entrenós muito longos indicam excesso de vigor e de crescimento, induzindo
a formação de sarmentos imaturos e deficiente desenvolvimento das gemas
frutíferas; entrenós muito curtos ocorrem quando há nutrição deficiente, falta
de água, pragas ou doenças.
4. Os ladrões com crescimento normal podem ser utilizados como elementos da
poda. Quando o desenvolvimento é rápido, com excessivo vigor, apresentam
gemas pouco nutritivas e geralmente estéreis.
5. O podador deve selecionar as varas e os esporões pela sua condição (vigor e
sanidade) e, após, pela sua posição na planta.

Época da poda
A época depende de vários fatores, entre os quais a cultivar, tamanho do
vinhedo, topografia do terreno (riscos de geadas tardias), disponibilidade de mão-de-
obra qualificada, concorrência com outras atividades na propriedade, umidade do
solo e objetivos da produção (indústria, mesa).
A poda é feita durante o período de repouso da videira, isto é, desde a queda
das folhas até pouco antes do início da brotação. Nas regiões expostas a geadas
tardias poda-se tarde; nos climas temperados, durante o inverno; podam-se tarde as
videiras vigorosas e cedo, as fracas. As podas excessivamente precoces ou
demasiadamente tardias são debilitantes para a videira e retardam a brotação.
A poda tardia geralmente apresenta as seguintes vantagens: a brotação tardia é
mais uniforme; há menor incidência de antracnose; há menor probabilidade de
danos por geadas; propicia maior produtividade do vinhedo; e a temperatura é mais
adequada para o desenvolvimento dos tecidos e órgãos da videira.
Elementos da poda
Os elementos da poda são o esporão e a vara. O esporão desempenha duas
funções na poda curta, ou seja, frutificação e produção de sarmento para a futura
poda. Quando adotada a poda mista, sua função principal é a produção de
sarmentos. A função da vara é a frutificação.
Sistemas de poda
Há grande variabilidade de sistemas de poda, em função da cultivar, clima, solo e
porta-enxerto. Mas, podem ser agrupados em poda curta (cordão esporonado) e
mista (vara e esporão). A poda é considerada curta quando o esporão tem até três
gemas francas, e mista quando permanecem esporões e varas na mesma planta.
Em função do número de gemas deixadas na videira a poda pode ser rica, média ou
pobre. Uma poda é considerada rica quando permanecem mais de 120 mil gemas
por hectare e pobre, quando esta quantidade é de 50 a 60 mil gemas por hectare.
Existe uma carga ótima para cada planta, dependendo das condições existentes. Se
a quantidade de gemas for menor daquela que a planta exigir, os brotos serão muito
vigorosos, haverá maior número de ladrões e, eventualmente, surgirão problemas
com a floração; caso a quantidade de gemas for exagerada, resultará numa
produção excessiva de frutos que debilitará a planta. O equilíbrio entre a parte
vegetativa e a produtiva pode ser expresso pela relação peso fresco do fruto/peso
da poda. Um vinhedo equilibrado apresenta valores entre 5 e 10.
Entre a diversidade de sistemas de poda, citam-se os seguintes:
1. Guyot simples: uma vara e um esporão/planta.
2. Guyot duplo: duas varas e dois esporões/planta.
3. Bordalês: idem ao Guyot duplo, sendo as varas arqueadas.
4. Mendocino: três varas arqueadas e três esporões.
5. Cazenave-Marcon: condução da planta no segundo fio, composto de vários
Guyot, sendo as varas arqueadas (45º) e amarradas no primeiro fio.
6. Palmeta: tronco conduzido até o último fio da espaldeira, sendo composto de
Guyot múltiplos.
7. Sylvoz: semelhante ao Cazenave-Marcon, tendo as varas um maior número
de gemas.
8. Sylvoz-Mioto: semelhante ao Sylvoz, sendo as varas amarradas na posição
natural.
9. V: disposição da vegetação aberta em dois planos.
10. Y ou pérgola: altura do tronco a 1,50 m, do qual partem os braços que contêm
as varas e esporões.
11. T: semelhante ao Y.
12. Royat: cordão constituído de vários esporões.
13. Gobelet: poda em vaso ou redonda, sem sistema de sustentação.
14. Poda em cabeça: semelhante ao Gobelet, deixando-se apenas as gemas
cegas.
15. Mista: deixam-se varas e esporões; é o sistema mais difundido para cultivares
viníferas na Serra Gaúcha.

Localização dos cortes de poda


Quando o corte for realizado no tronco ou nos braços da videira, geralmente
ocorre a morte dos tecidos subjacentes à secção do corte se esses forem efetuados
rasos, junto à parte que permanece. Por esses cortes se infiltra a água da chuva,
que pode provocar a decomposição e a necrose do tecido, caso não forem
adequadamente protegidos, até que se forme a cicatriz que o isola dos agentes
externos. É importante deixar um pouco de madeira, a qual contribuirá para melhorar
a cicatrização.
Os cortes nas varas e esporões não devem deixar a medula exposta, pois
pode ocorrer acúmulo de água da chuva e a entrada de insetos e fungos parasitas
da videira. Geralmente poda-se logo acima da última gema que se quer deixar, a fim
de que permaneça uma pequena porção da medula. O corte deve ser em bisel, com
a parte mais comprida do lado da última gema.
Tipos de poda
Há três tipos de poda da videira: formação, frutificação e renovação,
realizadas em função da idade da videira.
Poda de formação
Tem por finalidade dar a forma adequada à planta, de acordo com o sistema
de sustentação adotado.
Desde o plantio da muda ou da enxertia é importante que ocorra um bom
desenvolvimento da área foliar e, conseqüentemente, do sistema radicular. Por isso,
toda a vegetação da planta deve ser mantida em boas condições.
A formação da planta deve ser bem planejada e posta em prática no início da
brotação. Na Serra Gaúcha adotam-se esses procedimentos: o broto de maior vigor
do enxerto ou da muda (Figura 2A) é conduzido mediante sucessivas amarrações
junto ao tutor (Figura 2B); quando esse broto alcançar a estrutura da latada ou o
primeiro fio da espaldeira, será despontado cerca de 10 cm abaixo desta (Figura
2C), para eliminar a dominância apical e estimular a brotação e o desenvolvimento
das feminelas; os brotos das últimas duas feminelas são conduzidos no arame,
mediante amarrações no sentido da linha de plantio, um para cada lado (Figura 2D).
Esses brotos serão os futuros braços da videira. Caso eles tiverem o vigor suficiente,
poderão ser novamente despontados.
A poda de formação consiste em podar os futuros braços das videiras que
foram despontadas, deixando no máximo seis gemas (Figura 2E). As mudas que
não foram despontadas, mas que apresentam vigor suficiente, são podadas na
altura da estrutura de sustentação. As mudas fracas devem ser podadas a duas
gemas. Normalmente, a poda de formação é concluída até o terceiro ano. A poda de
formação adequada proporciona maior facilidade para a realização da poda de
frutificação.
Figura 2. Poda de formação: A - enxerto ou muda; B - condução da muda; C -
desponta; D - condução das feminelas; E - poda seca.

Poda de frutificação
A poda de frutificação, também chamada de poda de produção, tem por objetivo preparar a videira para
a produção da próxima safra. Deve ser feita através da eliminação de sarmentos mal localizados ou fracos e de
ladrões, a fim de que permaneçam na planta somente as varas e/ou esporões desejados. A carga de gemas do
vinhedo deve ser adequada à obtenção do máximo em quantidade e qualidade, sem comprometer as produções
dos anos seguintes.
Nas videiras espaçadas de 2,5 m X 1,5 m, conduzidas em latada e com poda mista, pode-se deixar, em cada
braço, três varas com 6 a 7 gemas cada uma e até 6 esporões com duas gemas cada um (Figura 3A). Isso resulta
de 60 a 66 gemas/planta. As varas devem estar distanciadas entre si cerca de 0,50 m. Portanto, nos 0,75 m de
cada braço permanecem duas varas num sentido e uma no sentido oposto. Os esporões localizam-se próximos às
bases das varas. As sucessivas podas de frutificação resumem-se em eliminar as varas que já produziram e
substituí-las por outras originadas dos esporões (Figura 3B). Das duas brotações dos esporões (Figura 3C)
seleciona-se, na próxima poda, a mais afastada do braço para ser a futura vara (Figura 3D) e a mais basal para ser
o esporão (Figura 3E). Desta forma, a carga básica é de 6 varas e 12 esporões por videira.
Figura 3. Poda de frutificação: A - planta antes da poda, mostrando os sarmentos
originados dos esporões e varas deixados no ano anterior; B - planta mostrando as
varas e os esporões deixados após a poda; C - brotação das duas gemas do esporão; D
- detalhe indicando a posição dos cortes na poda mista de inverno; E - detalhe
mostrando a vara e o esporão após a poda.
Poda de renovação
A poda de renovação consiste em eliminar as partes da planta, principalmente
braços e cordões, que se encontram com pouca vitalidade devido a acidentes
climáticos, danos mecânicos, doenças ou pragas, e substituí-los por sarmentos mais
jovens. É utilizada, também, para rebaixar partes da planta que se elevaram em
demasia em relação ao aramado, bem como às partes que devido a sucessivas
podas se distanciaram dos braços ou cordões.
Para a renovação de toda a copa, utiliza-se a brotação de uma gema latente
do tronco (ladrão) bem localizada, e a partir dela se reconstitui a planta.

Porta-enxertos e cultivares de videira


Umberto Almeida Camargo
Porta-enxertos
A enxertia é uma prática utilizada na maioria das regiões vitícolas do mundo,
principalmente como meio de defesa contra a filoxera, uma praga limitante ao
desenvolvimento de cultivares de Vitis vinifera. Cultivares de Vitis labrusca, assim
como seus híbridos - especialmente aqueles de V. vinifera, também apresentam
certa sensibilidade à praga. Os porta-enxertos também são usados em viticultura
com diversos outros objetivos como adaptação a determinadas condições climáticas
(regiões temperadas ou tropicais), adaptação a diferentes tipos de solo (calcários,
ácidos, salinos), controle de pragas e doenças de solo (nematóides, fusariose...).
Normalmente os porta-enxertos induzem maior vigor, precocidade de produção e
maior produtividade às copas em relação ao pé-franco.
Além da adaptação às condições ambientais específicas de onde se quer
implantar o vinhedo, é fundamental na escolha do porta-enxerto o objetivo da
exploração. Neste particular, o vigor do porta-enxerto é fator preponderante. Como
regra geral, para a produção de uvas de mesa, de uvas para vinho de consumo
corrente (comuns) e de uvas para suco, casos em que interessa uma alta
produtividade, é recomendável a utilização de porta-enxertos vigorosos. Quando o
objetivo é a produção de uvas de alta qualidade para a produção de vinhos finos ou
produção antecipada de uvas de mesa, devem ser preferidos os porta-enxertos de
baixo vigor. Estes condicionam um desenvolvimento vegetativo limitado da copa com
reflexos positivos sobre a maturação e qualidade da uva.
Evidentemente a escolha do porta-enxerto é também função das condições
de solo. Assim, em solos de alta fertilidade, mesmo quando o objetivo é a obtenção
de alta produtividade, é conveniente optar por porta-enxertos de médio vigor,
descartando os vigorosos para evitar um desenvolvimento vegetativo excessivo com
conseqüências negativas sobre o estado sanitário das plantas (maior incidência de
doenças fúngicas) e sobre a produtividade (desavinho). Da mesma forma, em solos
muito pobres não é recomendável o uso de porta-enxertos fracos pois, nestas
condições, as plantas poderão não atingir o vigor necessário para a obtenção de
produções econômicas.
As principais vantagens do uso da enxertia são: a) maior desenvolvimento
inicial das plantas, o que proporciona maiores colheitas nos primeiros anos de
produção; b) maior vigor geral das plantas, assegurando maior produtividade do
vinhedo; e, c) produção de cachos e bagas de maior tamanho, características de
qualidade essenciais na produção de uvas de mesa. As principais vantagens de uso
do pé-franco são a facilidade para produzir as mudas e a maior longevidade do
parreiral. Os principais porta-enxertos utilizados na viticultura do sul do Brasil são
descritos a seguir, de acordo com sua origem genética.

De Vitis rupestris
Rupestris du Lot
Caracteriza-se pelo hábito de crescimento ereto, sendo, por isso, conhecido
pelos agricultores da Serra Gaúcha pelos nomes "Vassourinha", "Pinheirinho" ou
"Arboreto". É um porta-enxerto vigoroso, com sistema radicular pivotante, adaptado
a solos profundos e que pode ser indicado para a produção de uvas de mesa, uvas
para suco e uvas para vinho de mesa para consumo corrente.
De Vitis riparia
Riparia Gloire de Montpellier
Porta-enxerto não muito frequente, porém, encontrado nos vinhedos do Rio
Grande do Sul. É conhecido por "Vermelho Corredor" devido à coloração
avermelhada dos ramos e ao desenvolvimento de sarmentos longos e prostrados. É
um porta-enxerto com sistema radicular superficial, precoce e que confere pouco
vigor à copa. Pode ser uma opção para a produção de uvas precoces de mesa e de
uvas finas para vinho.
De V. Riparia x V.rupestris
101-14
É um porta-enxerto pouco vigoroso e precoce, com sistema radicular
superficial. Apresenta hábito de crescimento similar ao Riparia Gloire, sendo, por
isso, também conhecido pelos viticultores como "Vermelho Corredor". Está difundido
na Serra Gaúcha desde longa data; foi testado com sucesso em diferentes regiões
do Estado como porta-enxerto para a produção de uvas americanas de mesa. Em
função da precocidade e do baixo vigor é indicado especialmente para uvas
destinadas à elaboração de vinhos finos e para a produção de uvas precoces de
mesa.
De V. berlandieri x V. riparia
Diversos porta-enxertos deste grupo são cultivados no sul do Brasil, tanto
para a produção de uvas para processamento como de uvas para mesa. São porta-
enxertos que, em maior ou menor grau, apresentam suscetibilidade à fusariose da
videira. Os principais são:
Solferino
É um porta-enxerto muito utilizado no Rio Grande do Sul e em Santa
Catarina. Foi introduzido e difundido a partir da década de 1920 como 3309, um
porta-enxerto do grupo V. riparia x V. rupestris. Mais tarde foi identificado como um
V.berlandieri x V.riparia e, não tendo sido identificada a cultivar, passou a ser
denominado Solferino. É conhecido pelos viticultores pelo nome "Branco Rasteiro"
devido ao aspecto esbranquiçado da brotação e ao seu hábito de crescimento
prostrado. Apresenta vigor médio e boa afinidade geral com as copas, normalmente
condicionando a boas produtividades.
Kober 5BB
Porta-enxerto de médio vigor que foi muito utilizado e difundido pela Cia
Vinícola Riograndense para o cultivo de uvas finas para vinho. Também é muto
utilizado para a produção de uvas finas de mesa, como a cv. Itália e suas mutações
Rubi e Benitaka. Para este fim, foi erroneamente difundido pelas colonias japonesas
produtoras de uvas de mesa com o nome de 420 A, erro que persiste atualmente.
420 A
É um porta-enxerto pouco vigoroso e de difusão restrita. Apresenta certa
dificuldade de enraizamento mas tem mostrado bons resultados práticos no cultivo
de Cabernet Sauvignon. Pode ser uma boa opção para o cultivo de uvas para a
elaboração de vinhos finos.
161-49
Assim como o 420 A, o 161-49 também é um porta-enxerto de pouco vigor
que pode ser usado para a produção de uvas para a elaboração de vinhos finos.
Nos últimos anos a difusão deste porta-enxerto tem sido bastante restrita.
Téléki
Apresenta vigor médio a alto, sendo bastante difundido na Serra Gaúcha,
onde é conhecido pelos viticultores pelo nome "Peludo", devido à forte pubescência
dos ramos e sarmentos.
SO4
Este porta-enxerto foi introduzido na década de 1970, sendo muito difundido
no Rio Grande do Sul nos anos subsequentes Em geral confere desenvolvimento
vigoroso e boas produtividades à maioria das copas. Atualmente é muito pouco
propagado devido à alta sensibilidade à fusariose e a problemas de dessecamento
do engaço, uma anomalia verificada em certos anos, devida a desequilíbrio
nutricional envolvendo o balanço entre potassio, cálcio e magnésio. Estes problemas
não têm sido constatados na região de Livramento, onde é o principal porta-enxerto
utilizado.
De V. berlandieri x V. rupestris
1103 Paulsen
Em função de apresentar alta tolerância à fusariose da videira, este porta-
enxerto teve grande difusão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina nos últimos
anos. É vigoroso, enraíza com facilidade e apresenta boa pega de enxertia. Tem
demonstrado boa afinidade geral com as diversas cultivares, tanto de uvas para
mesa como para processamento.
Outros
Alguns outros porta-enxertos têm sido usados na viticultura sulina, podendo
serem citados o Golia, um híbrido de V. vinifera x (V. riparia x V. rupestris) e o IAC
766, oriundo do cruzamento 106-8 x V.tiliifolia.
Cultivares de V. Vinifera
Esta espécie é a mais cultivada no mundo, produzindo uvas para mesa,
vinho, passas e outros derivados. São consideradas uvas de alta qualidade, porém,
em geral são bastante sensíveis às doenças fúngicas que atacam a videira. No
Brasil as uvas viníferas ocupam cerca de 20% das uvas industrializadas e têm
participação importante na produção de uvas finas de mesa, especialmente nos
Estados do Paraná, São Paulo, Bahia e Pernambuco. Muitas cultivares já foram
plantadas comercialmente, principalmente no Sul do país, chegando-se, atualmente,
a uma definição mais ou menos clara das melhores opções.
Cultivares viníferas para vinho
Uvas tintas
 Cabernet Sauvignon - é uma cultivar de renome internacional para a
produção de vinhos tintos de alta qualidade. É de introdução recente no Rio
Grande do Sul, surgindo nos registros de uvas vinificadas no Estado a partir
da safra de 1983. A partir daí vem tendo incrementos anuais significativos
sendo hoje a vinífera tinta mais propagada e com maior área cultivada no Rio
Grande do Sul. Adapta-se bem às condições ambientais do Estado porém em
anos com invernos amenos tem brotação irregular e deficiente. É menos
produtiva que Merlot e que Cabernet Franc.
 Merlot - juntamente com Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, constitui-se
uma importante e tradicional vinífera tinta para a elaboração dos melhores
vinhos tintos finos do Sul. É uma cultivar produtiva, porém, bastante requerida
pelo setor industrial brasileiro, a exemplo do que vem acontecendo em outros
países vitícolas. Pode ser utilizada para a elaboração de vinhos varietais ou
para cortes com outros vinhos tintos. Apresenta alta sensibilidade ao míldio,
inclusive nas inflorescências.
 Cabernet Franc - foi a principal uva tinta destinada à elaboração de vinhos
tintos finos no Rio Grande do Sul, só sendo superada pela Cabernet
Sauvignon e pela Merlot em anos recentes. É uma cultivar bem adaptada às
condições ambientais do Rio Grande do Sul, originando vinho característico
com aroma e bouquet delicados. É bastante produtiva. Em anos muito
chuvosos o vinho é um pouco deficiente em cor.
 Pinot Noir - também é de cultivo recente no Rio Grande do Sul. Apesar de
mundialmente reconhecida pela qualidade de seu vinho, a Pinot Noir não tem
correspondido à expectativa em nossas condições. A alta sensibilidade ao
apodrecimento (Botrytis) faz com que em anos chuvosos a uva seja colhida
antes da perfeita maturação, originando vinho com pouca coloração e
qualidade medíocre. Em anos excepcionais, secos, origina bom vinho. É uma
cultivar bastante demandada pela indústria de vinhos espumantes de alta
qualidade.
 Tannat - é uma cultivar vigorosa e bastante produtiva, também de cultivo
recente no Estado do Rio Grande do Sul. A área plantada evoluiu
significativamente chegando a 130 hectares em 1995. Origina vinho rico em
cor e extrato usado especialmente para corte com outros vinhos tintos. No
Uruguai é usada também para a elaboração de vinho varietal.
 Outras viníferas tintas - várias outras cultivares de uvas tintas são ou foram
cutivadas no Rio Grande do Sul. Além daquelas referidas acima, atualmente
vem ganhando importância a Pinotage, uma cultivar criada na África do Sul a
partir do cruzamento entre Pinot Noir e Cinsaut. Esta cultivar tem sido
utilizada tanto para a produção de vinhos varietais como para cortes com
outros vinhos tintos. Outras cultivares como Barbera, Bonarda, Petite Syrah e
Gamay Beaujolais existem em pequena quantidade nos vinhedos do Rio
Grande do Sul.
Uvas brancas e rosadas
 Riesling Itálico - constitui-se ainda hoje, apesar da introdução de novas
castas, na principal uva branca para vinhos de alta qualidade. Muito bem
adaptada no Rio Grande do Sul, origina vinho fino com bouquet delicado e
sutil. É muito fértil e apesar de apresentar cacho pequeno fornece produções
compensadoras. É sensível ao apodrecimento da uva causado por Botrytis
cinerea.
 Gewurztraminer - é uma cultivar de uvas rosadas introduzida nos vinhedos
do Rio Grande do Sul a partir do final dos anos 70. Origina vinho branco
aromático, característico, reputado internacionalmente. A produção é inferior à
do Riesling Itálico. Em anos chuvosos está sujeita a ataques de Botrytis,
forçando a antecipação da colheita, o que aliado à sua baixa produtividade
tem limitado a expansão desta cultivar.
 Chardonnay - o cultivo desta casta no Rio Grande do Sul iniciou por volta de
1980 juntamente com Gewurztraminer e outras. É uma cultivar amplamente
conhecida pela excelência de seu vinho. É usada tanto para a elaboração de
vinhos finos de mesa como para a a produção de espumantes de alta
qualidade. Apresenta brotação precoce, portanto, está sujeita a danos por
geadas tardias. É a cultivar de que apresentou o maior incremento de área
plantada entre as uvas brancas finas introduzidas mais recentemente no
Brasil.
 Moscato Branco - é a cultivar vinífera de uvas brancas com maiores área e
produção no Rio Grande do Sul. É vigorosa e muito produtiva; a uva
apresenta acentuado sabor e aroma moscatel, motivo da grande procura por
parte do setor vinícola que a utiliza para a elaboração de vinhos destinados a
cortes com outros vinhos brancos. É bastante sensível às podridões do
cacho.
 Trebbiano - é a terceira vinífera branca do Rio Grande do Sul em volume de
produção, superada apenas pela Moscato Branco e pela Riesling Itálico.
Tradicionalmente cultivada no Estado, origina produções abundantes. O vinho
é neutro podendo ser consumido puro ou usado em cortes com outras
viníferas. Também é conhecida por Ugni Blanc e por Saint Émillion.
 Outras viníferas brancas - algumas cultivares como Sémillon, Malvasia
Verde, Malvasia Amarela e Venaccia já foram importantes na viticultura
gaúcha, porém, vêm sendo substituídas pelas cultivares referidas acima.
Várias outras como Sauvignon Blanc, Pinot Blanc, Riesling Renano e
Sylvaner foram testadas mas, por razões diversas não apresentaram
expansão da área cultivada. Verifica-se um pequeno crescimento na área
plantada com Flora, uma cultivar de uvas rosadas, aromática, obtida na
Califórnia a partir do cruzamento Gewurztraminer x Sémillon.
Cultivares viníferas para mesa
 Itália - fina cultivar de Vitis vinifera, cultivada com sucesso desde o Sul até o
Nordeste brasileiro. Apresenta cacho grande, baga grande e carnosa, sabor
levemente moscatel, muito apreciado pelos consumidores. Sendo uma
vinífera é exigente em tratos culturais sobretudo para o controle das doenças
fúngicas. Os cachos necessitam desbaste, o que onera o custo de produção.
É de maturação em meia estação. Também conhecida pelo nome Piróvano
65.
 Rubi - é uma mutação somática da uva Itália. Apresenta comportamento e
características gerais muito semelhantes à Itália, porém a uva é rosada.
 Benitaka - também é uma mutação da Itália. As características gerais da
planta são as mesmas da Itália e da Rubi. Esta nova cultivar tende a substituir
a Rubi porque apresenta coloração mais intensa, especialmente em regiões
mais quentes onde a cor da uva Rubi fica aquém do desejável.
 Brasil - é a mais recente mutação dd grupo Itália, em fase de propagação. A
uva é preta, com sabor moscatel pouco evidente.
 Outras uvas finas de mesa - algumas novas opções, cultivadas em menor
escala são Patrícia, Perlona, Red Globe, Ribier, Centennial e Superior, estas
duas últimas uvas apirênicas.
Cultivares Americanas e Híbridas
São cultivares de Vitís labrusca, cultivares de Vitis bourguina e híbridos
interespecíficos, às vezes complexos, envolvendo várias espécies americanas e
também V. vinifera. Como regra, são cultivares de alta produtividade e resistentes às
doenças fúngicas, adaptando-se bem às condições ambientais do Sul do Brasil.
Cultivares para vinho e suco
Uvas tintas
 Isabel - apesar de todos os esforços para substituir esta cultivar desde a
década de 1930, a Isabel persiste com 50% da uva produzida no Rio Grande
do Sul. Muito bem adaptada às condições climáticas do Estado, fornece
produções abundantes com limitado número de tratamentos fitossanitários.
Vinhedos cultivados em pé franco atingem 80-100 anos com produções
econômicas. Origina vinho foxado, em anos chuvosos pouco coloridos,
apreciado por uma faixa de consumidores. O suco de Isabel é a base do suco
brasileiro para exportação. É uma cultivar de Vitis labrusca.
 Herbemont - é uma cultivar tinta em geral vinificada em branco, fornecendo
vinho branco comum ou vinho base para destilado ou produção de
espumante. A área de cultivo vem diminuindo regularmente devido à alta
sensibilidade desta cultivar ao fungo de solo Fusarium oxysporum f.sp.
herbemontis, causador da fusariose da videira. Além disso é sensível à
Botrytis. É uma cultivar de Vitis bourquina.
 Concord - é a cultivar mais procurada para a elaboração de suco pelas suas
características de aroma. Em geral é cultivada de pé franco com bons
resultados. É bastante produtiva quando em poda longa. Apresenta alta
resistência às doenças fúngicas à exceção da antracnose que pode causar-
lhe danos. Certos vinhedos apresentam abortamento floral com prejuízos
ignificativos. As causas deste problema ainda não são conhecidas podendo
ser de ordem nutricional ou de origem fitossanitária.
 Concord Clone 30 - Este clone foi selecionado em 1989 e, após avaliado, foi
propagado pela sua precocidade de maturação, cerca de quinze dias
antecipada em relação à cultivar original. Apresenta as características gerais
da Concord. A Concord Clone 30 é especialmente indicada como alternativa
para antecipar e prolongar o período de produção e processamento de uvas
para suco. Este clone vem sendo propagado para plantio no Rio Grande do
Sul desde o ano de 1999.
 Bordô - cultivar de Vitis labrusca, muito rústica e bastante produtiva. É muito
disputada entre os vinicultores devido ao elevado teor de matéria corante do
vinho, usado em cortes com os vinhos pouco coloridos de Isabel. Da mesma
forma, também é disputada pela indústria de suco com o mesmo objetivo, de
corrigir a coloração de sucos elaborados com Isabel e Concord.
 Rúbea - oriunda de um cruzamento entre Niágara Rosada e Bordô, esta
cultivar foi lançada pela Embrapa Uva e Vinho em 1998, especialmente
recomendada como melhoradora do suco de uva brasileiro. Apresenta intensa
cor violácea e aroma e sabor de alta qualidade para suco de uva. Também
pode ser usada para a elaboração de vinho tinto para corte com vinhos pouco
coloridos de Isabel.
 Outras uvas tintas - várias outras uvas tintas são cultivadas para a
elaboração de vinhos e sucos, destacando-se pelo volume a Jacquez e a
Couderc Tinto. Ambas têm significativa produção no Rio Grande do Sul,
porém, deixam a desejar em qualidade. O principal predicado destas duas
cultivares é a intensa coloração dos seus produtos.
Uvas brancas e rosadas
 Niágara Branca - A Niágara Branca é a principal uva americana utilizada para
a produção de vinho de mesa. É muito apreciada pelos consumidores devido
ao intenso aroma e sabor aframboesado do vinho. Além de expressiva área
cultivada nas principais regiões produtoras do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina, a Niágara Branca encontra-se difusa em pequenas áreas em várias
partes do sul do Brasil, onde, além de ser utilizada para a elaboração de
vinhos caseiros, também é usada para consumo in natura.
 Seyve Villard 5276 ou Seyval - é uma híbrida complexa altamente produtiva
e resistente às doenças fúngicas, exceção feita à antracnose que deve ser
controlada convenientemente. Origina vinho branco comum de muito boa
qualidade. Durante algum tempo foi comercializada como uva fina, em geral
como Sauvignon ou como Riesling.
 Couderc 13 - introduzida na década de 1970 pela Estação Experimental de
Caxias do Sul, foi difundida com relativa facilidade por ser muito rústica e
produtiva. O vinho é pouco ácido e neutro em sabor, podendo ser cortado
com outros vinhos comuns.
 Moscato Embrapa - Cultivar lançada em 1997, a Moscato Embrapa é
originária do cruzamento Couderc 13 x July Muscat, realizado em 1983. É
uma cultivar de uvas brancas, sabor moscatel, muito produtiva e que
apresenta boa resistência às doenças. É uma cultivar de ciclo relativamente
tardio. Normalmente atinge teor de açúcar superior a 18ºBrix e apresenta
acidez moderada. É indicada para a elaboração de vinho branco aromático.
Esta em difusão na região da Serra Gaúcha. Também apresenta bom
comportamento na região de Sarandi e Jaguari , no Rio Grande do Sul, assim
como em regiões tropicais do Mato Grosso Do Sul e do Mato Grosso.
 BRS Lorena - A BRS Lorena é resultante do cruzamento Malvasia Bianca x
Seyval, realizado em 1986. Em 2001 foi lançada como cultivar, especialmente
recomendada para a elaboração de vinho espumante moscatel. Apresenta
alta produtividade e teor de açúcar superior a 20ºBrix. É bastante resistente
às doenças fúngicas. Origina vinho moscatel característico e espumante com
intensa espuma e perlage persistente. Está em difusão na região da Serra
Gaúcha.
Outras uvas destinadas à produção de vinho branco de mesa, cujas produções
são menos expressivas, são a Seyve Villard 12375 e a a Goethe, assim chamada
em Jaguari, também conhecida em outras regiões por "Pinot", Uva Casca Dura,
Chavona, Pingo de Ouro e outras denominações. A Niágara Rosada, uva utilizada
principalmente para mesa, também tem alguma expressão na produção de vinho, o
qual é elaborado com o descarte da uva para o mercado in natura.
Cultivares para mesa
São poucas as opções de cultivares americanas e híbridas para mesa.
Tradicionalmente são utilizadas a Niágara Branca, a Niágara Rosada e a Isabel. Nas
regiões tradicionais de cultivo do sul do Brasil a produção destas cultivares
concentra-se nos meses de janeiro e fevereiro. Visando ampliar o período de
produção e oferta de uvas americanas, a Embrapa lançou, em 1994, as cultivares
Vênus, Tardia de Caxias e Dona Zilá. Cada uma destas cultivares é descrita a seguir,
por ordem de maturação da uva.
 Vênus - cultivar híbrida de uva preta, sem semente, criada por Moore &
Brown (1977) na Universidade de Arkansas, Estados Unidos. Foi introduzida
no Brasil pela Embrapa em 1983. É uma cultivar vigorosa e produtiva. Os
brotos têm crescimento semi-ereto e são sujeitos a danos causados por
ventos na primavera. O cacho é médio a grande, solto a medianamente
compacto; baga média, esférica, polpa semi-carnosa, sabor aframboesado
característico; sementes pouco desenvolvidas, normalmente macias. É sujeita
à degrana, especialmente quando sobremadura. Tanto o tamanho da baga
como a resistência à degrana podem ser melhorados pelo uso de ácido
giberélico (ver Reguladores de Crescimento). Apresenta maturação precoce,
cerca de três semanas antecipada em relação às Niágaras, sendo, por isso,
especialmente recomendada para mesoclimas mais quentes onde se obtém a
máxima precocidade (Camargo & Mandelli, 1993). É bastante sensível à
antracnose e ao míldio, exigindo tratamentos fitossanitários preventivos para
controle. É muito perseguida por pássaros no período de maturação. Por isso,
é recomendável que seja cultivada longe de matas ou capoeiras.
 Niágara Rosada - é uma mutação somática da Niágara Branca, detectada
em vinhedo de Antonio Carbonari, em 1933, no município de Louveira, São
Paulo (Sousa, 1969). Ganhou a preferência do consumidor brasileiro
substituindo quase que totalmente sua forma original nos parreirais
destinados à produção de uvas de mesa. O cacho é médio, compacto; baga
rosada com tonalidade variável, média, esférica, polpa mucilaginosa,
desprendendo-se facilmente da película, sabor aframboesado intenso e
característico. A uva amadurece cerca de três semanas após a Vênus e um
mês antes da Isabel. Quando cultivada em mesoclimas mais quentes pode
ser colhida a partir de quinze de dezembro; em áreas de altitude a colheita
pode se prolongar até meados de fevereiro. É uma cultivar interessante
principalmente para as áreas propícias à colheita precoce quando os preços
são mais elevados. Apresenta médio vigor e tem elevado potencial produtivo.
Mostra-se relativamente sensível à antracnose e ao míldio, recomendando-se
pulverizações preventivas contra essas doenças. É comum apresentar
deficiência de brotação de gemas, sobretudo nas varas, especialmente em
anos de inverno ameno ou quando podada antes da época normal. Nestes
casos há dominância das brotações apicais, geralmente dificultando a poda
do ciclo subsequente.
 Niágara Branca- foi criada por Hoog & Clark a partir do cruzamento Concord
x Cassady realizado em 1868 em Nova Iorque, Estados Unidos (Hedrick,
1908). Apresenta as características gerais da Niágara Rosada.
 Isabel - antiga cultivar americana, trazida para o Brasil na década de 1830,
tornou-se a principal cultivar em área de parreirais do país (Sousa, 1959).
Embora utilizada especialmente para a elaboração de vinho e suco a Isabel
tem boa aceitação como uva de mesa. Cacho pequeno a médio, solto; baga
preta, média, levemente elipsoide, polpa mucilaginosa desprendendo-se
facilmente da película, sabor aframboesado agradável. É comum a presença
de bagas verdes, parcialmente desenvolvidas, nos cachos, o que implica em
necessidade de toalete antes da comercialização. Dependendo das
condições mesoclimáticas a Isabel atinge a maturação entre final de janeiro a
início de março, constituindo-se em alternativa para produção em meia
estação. É uma cultivar vigorosa e de alta fertilidade. Produz bem mesmo
quando podada só a esporões mas neste caso os cachos são menores. Para
a produção de uvas de mesa é recomendável o uso de poda mista, com varas
e esporões, embora exista o problema de dominância das brotações apicais.
Está sujeita à incidência de antracnose e de míldio sendo, portanto,
recomendável o uso de pulverizações fungicidas preventivamente.
 Dona Zilá - cultivar criada pela Embrapa e Estação Experimental de Caxias
do Sul, lançada em 1994 (Camargo et al., 1994). É oriunda do cruzamento
Niágara Branca x Catawba Rosa. O cacho é de tamanho médio, compacto;
baga média, rosado mais ou menos intenso, esférica, polpa mucilaginosa
desprendendo-se facilmente da película, sabor aframboesado, doce. É
freqüente a ocorrência de bagas verdes e pequenas que prejudicam a
aparência do cacho. Apresenta maturação tardia, cerca de quarenta e cinco
dias depois das Niágaras, sendo por isso indicada especialmente para
regiões de altitude onde se obtém o máximo retardamento da colheita.
Nessas condições e em determinados anos é possível protelar a colheita até
o final de março. Caracteriza-se por elevado vigor vegetativo e alto potencial
produtivo. É comum apresentar má brotação e dominância dos ramos
situados na extremidade das varas, especialmente quando a poda é feita
antes de setembro. Comporta-se bem em relação às doenças fúngicas mas é
recomendável que sejam feitas pulverizações preventivas contra ataques de
antracnose e míldio. É importante que os tratamentos fitossanitários sejam
feitos até a pós-colheita, para assegurar a persistência da folhagem e garantir
boa produção na safra seguinte.
 Tardia de Caxias - tem a mesma origem da Dona Zilá, tendo sido lançada
pela Embrapa e Estação Experimental de Caxias do Sul, também em 1994
(Camargo et al., 1994). É muito semelhante à Dona Zilá, porém, apresenta
cachos e bagas um pouco maiores, sendo as bagas da Tardia de Caxias de
coloração rosada menos intensa e mais sensíveis ao rachamento em épocas
de chuva durante a maturação. A colheita em áreas de altitude é feita em
março. Em condições ambientais mais quentes amadurece em fevereiro e,
geralmente, a intensidade da cor da uva é menor. Tem comportamento similar
ao da Dona Zilá, em relação às doenças fúngicas.

Produção Integrada de Frutas


Lucas da R. Garrido
Nas últimas décadas, a inovação tecnológica na agricultura favoreceu o
desenvolvimento de variedades de plantas de alta produtividade, de insumos
melhorados e de processos de produção que levam à redução da mão-de-obra.
Como os produtores não têm sido obrigados a pagar todos os custos das atividades
poluidoras, pouca atenção tem sido dada à questão ambiental, embora cada vez
mais agricultores e agroindústrias estejam sensibilizados para a necessidade do
desenvolvimento de técnicas que racionalizem a utilização dos fatores produtivos
através de uma gestão mais integrada (Protas, 2000).
O sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF) surgiu, nos anos 70, como
uma extensão do manejo integrado de pragas (MIP), quando sentia-se a
necessidade de reduzir o uso de agrotóxicos e era dada maior atenção e respeito ao
ambiente, acrescentando-se a esses métodos de controle, todo o conjunto que
caracteriza o manejo de cada cultura (Fachinello, 2001; Sanhueza. 2000).
Verifica-se a ocorrência de falhas do MIP, quando analisado num contexto de
propriedade rural e de sistema de produção. Nas causas dessas falhas estava o fato
de as pesquisas das diferentes áreas de especialização estarem sendo conduzidas
em forma segmentada, sem avaliar necessariamente o impacto das tecnologias
geradas, quanto à conseqüências na demanda de tratamentos com agroquímicos e
do impacto no ambiente e no homem (Sanhueza. 2000).
A organização Internacional de Luta Biológica define a Produção Integrada de
Frutas (PIF) como a produção econômica de frutos de alta qualidade, obtida
propriamente com métodos ecologicamente mais seguros, minimizando os efeitos
colaterais indesejáveis do uso de agroquímicos para aumentar a proteção do meio
ambiente e melhorar a saúde humana (Protas, 2000).
O conceito de qualidade na PIF inclui não somente a parte estética ou
organoléptica, mas, também e, principalmente, a qualidade de consumo e, portanto,
a seguranç para o consumidor quanto a isenção de resíduos de agroquímicos. Estes
objetivos da PIF deverão ser obtidos com métodos ecologicamente seguros e
minimizando efeitos secundários e os riscos na utilização de agroquímicos
(Sanhueza. 2000). Os mercados mundiais, além da qualidade externa das frutas,
passaram a exigir os controles sobre todo o sistema de produção, incluindo a análise
de resíduos nos frutos e os estudos sobre o impacto ambiental para realizarem suas
importações (Fachinello, 2001).
De acordo com Dickler (1999), um dos principais benefícios observados pelos
produtores foi que as frutas produzidas dentro do sistema PIF estavam mais bem
conceituadas, eram mais fáceis de vender e tinham melhores perspectivas de
mercado do que as frutas produzidas no sistema convencional. Hoje na Europa, em
alguns casos, como acontece com a uva na Suiça, não existe mercado para frutas
produzidas convencionalmente. Os demais benefícios observados enfatizam a
diminuição dos riscos no ambiente, devido ao menor uso de agrotóxicos, e também
porque a fruta da PIF é mais aceita pelos consumidores. A redução do uso de
agrotóxicos foi da ordem de 30 % em relaçao à produção convencional (Fachinello,
2001). Assim, a partir de experiências obtidas em diversos locais da Europa, a IOBC
estabeleceu as normas básicas para as diversas espécies vegetais para a PIF,
nesse continente, e que consistem no uso de técnicas voltadas à produção de
alimentos de melhor qualidade, que garantam o mínimo uso de produtos
agroquímicos e que sejam os menos prejudiciais ao homem e ao meio ambiente.
Estes conceitos foram rapidamente difundidos e são passíveis de utilização
em todas as espécies vegetais. Passando, desta forma, a ser uma barreira para a
exportação de frutas para a Comunidade Econômica Européia e utilizada nas
grandes redes de supermercados como uma forma de fazer vendas diferenciadas de
produtos agrícolas (Fachinello, 2001).
Trabalhos desenvolvidos com análises de frutas e hortaliças no Brasil, têm
mostrado excessos de resíduos, principalmente, a presença de pesticidas não
autorizados para essas espécies.
Na produção integrada faz-se especial ênfase ao enfoque holístico do
sistema, que inclui a totalidade da exploração agrária como a unidade básica, no
papel dos agroecossistemas, nos ciclos de nutrientes equilibrados e no bem estar de
todas as espécies de produção animal. A conservação e melhoria da fertilidade do
solo e da diversidade do meio ambiente são componentes essenciais do sistema de
produção. Racionaliza-se o uso de métodos biológicos, químicos e técnicos
considerando a produção sustentável do meio ambiente, a rentabilidadee as
demandas sociais.
A globalização de mercados abriu novas frentes para a exportação de
produtos agropecuários brasileiros,mas também a deixou vunerável à concorrência
interna com produtos de melhor qualidade. Preferidos pelo consumidor cada vez
mais exigente de qualidade e consciente dos problemas ambientais, os produtos
produzidos de forma ambientalmente saudável passaram a ter maior valor de
mercado e a serem reconhecidos facilmente pelos selos de qualidade. Cresceu
assim, no país, a necessidade de capacitar os principais agentes da cadeia
produtiva e de pós-colheita de produtos nacionais, com ferramentas capazes de
torná-los mais competitivos, assegurando seu lugar no mercado interno já
conquistado e, também em novos mercados externos ainda não alcançados
(Sanhueza et al., 1998).
As diretrizes gerais possibilitaram o surgimento de normas para produções
vegetal e animal no sistema integrado e a criação de sistemas produtivos e
sustentáveis sob o ponto de vista ecológico, econômico e ambiental.
Sustentabilidade
Para que haja sustentabilidade das atividades agrárias, refletindo na correta gestão
ambiental, é preciso seguiras normas que dispõem e assegurem uma cuidadosa
utilização dos recursos naturais, minimizando o uso de agrotóxicos e outros insumos
na exploração em questão (Fráguas et al., 2001). Para que isto ocorra, atendendo
aos objetivos básicos da PI, é preciso a observância e condução eficiente de alguns
aspectos da exploração agrária, como:
1. Preparação profissional dos técnicos e atitude dos produtores, em relação à
segurança humana e ao meio ambiente;
2. monitoramento e auditagem das atividades da PI;
3. manejo e conservação do solo;
4. nutrição de plantas;
5. manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas;
6. formação e condução das plantas;
7. colheita, conservação e qualidade do produto agrícola;
8. certificação e rastreabilidade dos produtos.
Certificação
A certificação tem como objetivo determinar se um produto obtido, um processo de
produção concluído ou um serviço prestado por uma determinada empresa
cumprem os requisitos especificados em um documento normativo, denominada
norma ou diretriz, estabelecida pela própria empresa ou, geralmente, por
organismos de âmbito regional, nacional ou internacional. De modo geral, a
certificação é realizada por uma entidade que reconhece independente da empresa
certificadora, porém ligada à ela por um contrato de prestação de serviço (Ávilla,
2000).
O processo de inspeção e certificação pode ser realizado através de visitas às
áreas de PI, de revisão às cadernetas de campo e de coletas de amostras de
produtos para suas análises posterior à colheita.

Rastreabilidade
A rastreabilidade é a ação de poder determinar, a partir de um certo momento, todas
as condições em que foi produzida, transportada e embalada a fruta. Estas ações
requerem a correta identificação do produto, de forma que se consiga determinar,
através de registros existentes, todas as condições mencionadas. As frutas
produzidas dentro do sistema de produção integrada devem-se manter sempre
identificadas desde o momento da colheita até o embarque para o local definitivo de
venda. A rastreabilidade é um sistema de identificação e registros que permitem
encontrar a história, a origem do lote e eventualmente a causa de uma
impropriedade (Girardi, 2001).
Normatização
Segundo a ABNT é o "processo de estabelecer e aplicar regras a fim de abordar
ordenadamente uma atividade específica, para o benefício e com a participação de
todos os interessados e, em particular, de promover a otimização da economia,
levando em consideração as condições funcionais e as exigências de segurança".
A Instrução Normativa n° 20, de 27 de Setembro de 2001 trata das Diretrizes Gerais
para a Produção Integrada de Frutas e as Normas Técnicas Gerais para a Produção
Integrada de Frutas aprovadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Estas Diretrizes Gerais para a Produção Integrada de Frutas
deverão orientar:
I - A formulação de Normas Técnicas Específicas e a Grade de Agroquímicos
para cada cultura e região agroecológica;

II - O estabelecimento de diretrizes e procedimentos para implantação do


Modelo de Avaliação da Conformidade de Processos da Produção Integrada
de Frutas;

III - A implantação do Cadastro Nacional de Produtores e Empacotadores sob


o Regime da produção Integrada de frutas, e
IV - A instituição da Comissão Técnica para o assessoramento das ações de
articulação e coordenação na execução das respectivas regras e
procedimentos.
Sistema de Produção Integrada de Uva
1. Capacitação
a) Prática agrícolas
b) Organização dos produtores
c) Comercialização
d) Processos de empacotadoras e segurança alimentar
e) Segurança no trabalho
f) Educação alimentar
2. Organização de produtores
3. Recursos Naturais
a) Planejamento ambiental
4. Material propagativo
a) Sementes e Mudas
5. Implantação de Pomares
a) Definição de parcela
b) Localização
c) Porta-enxertos
d) Cultivar
e) Sistema de plantio
6. Nutrição de plantas
a) Análise de solo e foliar
b) Fertilização
7. Manejo do solo
a) Manejo de cobertura do solo
b) Herbicidas
8. Irrigação
9. Manejo da parte aérea
a) Poda
b) Raleio de cachos
c) Fitorreguladores de síntese
10. Proteção integrada da planta
a) Controle de pragas e doenças
b) Agrotóxicos
c) Equipamentos de aplicação
d) Preparo e aplicação de agrotóxicos
e) Armazenamento e embalagens de agrotóxicos
11. Colheita e pós-colheita
a) Técnicas de colheita
b) Técnicas de pós-colheita
c) Embalagem e etiquetagem
d) Transporte e armazenagem
e) Logística
12. Análise de resíduos
a) Amostragem para análise de resíduos em uvas
13. Processos de embalagem
a) Câmaras frias, equipamentos e local de trabalho
b) Tratamento térmico, físico, químico e biológico
14. Sistema de Rastreabilidade e Caderneta de campo
15. Assistência Técnica
Sistemas de condução da videira
Alberto Miele
Francisco Mandelli
A videira, a não ser em casos especiais como o sistema Gobelet, não pode
ser cultivada satisfatoriamente sem alguma forma de suporte. Quando o é,
apresenta desvantagens, como maior custo com mão-de-obra extra, retardamento
na maturação da uva, necessidade de mão-de-obra qualificada e custo final mais
caro.
É uma planta que pode apresentar uma grande diversidade de arquitetura de seu
dossel vegetativo e das partes perenes. A distribuição espacial do dossel vegetativo,
do tronco e dos braços, juntamente com o sistema de sustentação, constituem o
sistema de condução da videira. Plantas conduzidas permitem, para uma mesma
cultivar e um ambiente determinado, melhor regular os fatores ambientais e as
respostas fisiológicas de cada cultivar para a obtenção de um produto desejado. As
variáveis consideradas são: a) a densidade e a geometria de plantio; b) a orientação
da fileira no caso de o vinhedo não ser conduzido em latada; c) a poda de formação
e de produção; d) a forma e o sistema de sustentação do dossel vegetativo; e) a
poda verde.
O sistema de condução do vinhedo pode afetar significativamente o
crescimento vegetativo da videira, a produtividade do vinhedo e a qualidade da uva
e do vinho. Isso pode ocorrer em função do efeito do sistema de condução sobre a
parte aérea e a subterrânea da videira. As características do sistema de sustentação
e de condução da planta exercem esse efeito em função da altura e da largura do
dossel vegetativo; da divisão do dossel em cortinas; do posicionamento das gemas e
dos frutos; da carga de gemas/ha; do espaçamento entre fileiras e entre plantas.
A quantidade e a distribuição das folhas no espaço modificam o microclima no
interior do dossel vegetativo. A melhora do microclima geralmente é responsável por
modificações na composição da uva. O sistema de condução e a área foliar/unidade
de comprimento da fileira determinam o sombreamento do dossel vegetativo.
Videiras com muita sombra produzem uva com valores mais elevados de potássio,
pH e ácido málico do mosto e teores mais baixos de açúcar, polifenóis, antocianinas
e monoterpenos. Pode, também, afetar a incidência de patógenos no vinhedo.
Nesse sentido, seu maior efeito provavelmente seja sobre a incidência de Botrytis,
que está relacionada com a ventilação na zona do fruto. A remoção das folhas
basais aumenta a circulação de ar de fora para dentro e de dentro para fora na zona
do fruto, o que causa um aumento da evaporação e secamento das folhas, fatores
esses que diminuem a incidência de doenças fúngicas.
Características dos sistemas de condução com bom desempenho
Há várias maneiras para aumentar a performance dos sistemas de condução,
todas elas favorecendo, com maior ou menor intensidade: a) o aumento da área do
dossel vegetativo através da divisão em cortinas; b) a diminuição da densidade do
dossel vegetativo, porque os ramos têm vigor mais fraco em função do maior
número de gemas e porque há maior espaço entre os ramos; c) maior possibilidade
para a mecanização da desponta, desfolha, colheita e poda de inverno; d) aumento
da qualidade da uva e da produtividade da videira; e) melhor penetração de
fungicidas e inseticidas em função de dosséis vegetativos menos densos; f) menor
incidência de doenças, especialmente de Botrytis.
Classificação dos sistemas de condução
Há vários sistemas de condução em utilização no mundo. O mais difundido é
o espaldeira, mas há outros que foram desenvolvidos e que apresentam potencial
para a produção de uva para vinho - como o lira - e para suco de uva - como o GDC
(Geneva Double Courtin).
De um modo geral, os sistemas de condução da videira são classificados de
acordo com a orientação dos ramos - para cima, para baixo, horizontal, para cima e
para baixo - e a divisão do dossel vegetativo - não dividido, dividido horizontalmente,
dividido verticalmente, dividido obliquamente, dividido verticalmente e
horizontalmente, conforme sua posição em relação ao solo. O espaldeira, por
exemplo, tem ramos para cima e dossel não dividido; o lira, ramos para cima e
dossel dividido obliquamente; o GDC, ramos para baixo, dossel dividido
verticalmente; o latada, ramos horizontais e dossel não dividido.
Escolha do sistema de condução
Há vários fatores que influenciam a tomada de decisão para a escolha de um
sistema de condução: a) a cultivar, especialmente no que se relaciona ao hábito de
frutificação, que pode exigir poda em cordão esporonado ou mista, deixando varas e
esporões; tamanho do cacho; vigor da planta, que pode requerer altura e/ou largura
maiores para uma melhor exposição ao sol; b) a colheita, manual ou mecânica; c) a
topografia do terreno; d) o custo de implantação e de manutenção dos postes e fios;
e) a conjuntura econômica/rentabilidade do viticultor; f) as condições climáticas; g) a
tradição.
Princípios gerais dos sistemas de condução
Os sistemas de condução têm princípios gerais em função do dossel vegetativo dos
vinhedos. Em geral, esses princípios são os seguintes:
a) A área da superfície do dossel vegetativo é maximizada por fileiras estreitas
ou pela divisão do dossel.
b) A densidade do dossel vegetativo é minimizada por um maior espaçamento
entre os ramos.
c) A densidade do dossel vegetativo também pode ser diminuída adotando
fileiras estreitas ou dividindo o dossel vegetativo.
d) Os sistemas de condução horizontais e os que não apresentam dossel
vegetativo dividido têm maior índice de sombreamento.

e) Apesar de ter espaçamentos maiores, os sistemas de condução com


divisão do dossel vegetativo - lira e GDC, por exemplo - podem ter muitos
ramos sem apresentar uma grande densidade, propiciando um bom potencial
de produção.
Principais sistemas de condução
Há uma diversidade muito grande de sistemas de condução da videira utilizados nas
regiões vitícolas do mundo. Muitos deles possuem características similares ou estão
fundamentados nos mesmos princípios. No sul do Brasil, os sistemas de condução
mais utilizados são o latada e o espaldeira. Entretanto, dois outros têm potencial
para ser adotados: o lira e o GDC.
Princípios econômicos do manejo do dossel vegetativo
O custo de instalação e de conservação de um sistema de condução e o
custo do manejo do dossel vegetativo variam de acordo com o país e a região. A
relação custo:benefício de uma prática de manejo do dossel vegetativo é muito
variável. Além disso, o benefício pode ser obtido bem depois da execução dessa
prática ou pode ser indireto.
A análise econômica do manejo do dossel vegetativo de diferentes sistemas de
condução da videira, realizada em diferentes países, permite enunciar os seguintes
princípios:
a) vinhedos com alta produtividade têm, em geral, maior rentabilidade
econômica que os de menor produtividade, apesar de que o preço pago pela
uva seja um importante fator do orçamento. Esta situação pode ser alterada
se o viticultor produzir uva e elaborar vinho na propriedade.

b) vinhedos com maior grau de mecanização geralmente são mais rentáveis,


especialmente nos vinhedos em que a mecanização da poda seca e da
colheita são viáveis.

c) o custo extra de sistemas de condução melhor elaborados e mais


dispendiosos é pago quando o vigor das videiras permitir seu uso. Isto ocorre
porque esse vigor a mais pode ser convertido em produção suplementar.

d) o material vegetativo pode significar um custo elevado na implantação do


vinhedo, especialmente quando se utiliza mudas enxertadas.

e) a reconversão de um vinhedo vigoroso e conduzido num sistema simples


para um sistema de condução com cortina dividida paga-se em um ou dois
anos.
Latada - Sistemas de Condução da Videira
Alberto Miele
Francisco Mandelli
Latada
Antecedentes
O sistema de condução latada (Figura 1) é também chamado de pérgola e
caramanchão. É o sistema mais utilizado na Serra Gaúcha, RS e no Vale do Rio do
Peixe, SC. Na América do Sul, tem alguma expressão na Argentina, Chile e Uruguai.
Na Europa, aparece em determinadas regiões vitícolas, especialmente do norte da
Itália, com denominações e formas diferenciadas.
Descrição
O dossel vegetativo é horizontal e a poda seca é mista ou em cordão
esporonado. As varas são atadas horizontalmente aos fios do sistema de
sustentação do vinhedo. As videiras são alinhadas em fileiras distanciadas
geralmente de 2,5 m - varia de 2,0 a 3,0 m - ; a distância entre plantas é de 1,5 a 2,0
m, conforme a cultivar e o vigor da videira. A zona de produção da uva situa-se a
aproximadamente 1,8 m do solo. A carga de gemas também é variável, mas em
geral recomenda-se de 120 mil a 140 mil gemas/ha.
A estrutura do sistema de sustentação é formada pela posteação e pelo
aramado. A posteação compreende as cantoneiras, postes externos, rabichos,
postes internos e tutores; o aramado é formado pelos fios e cordões.
As cantoneiras são postes reforçados, colocados nas quatro extremidades do
vinhedo e geralmente inclinadas para o lado externo. Podem ser de pedra, concreto
ou madeira e medem 2,70 m de comprimento.
Os postes externos também devem ser reforçados. Em princípio, são feitos
com os mesmos materiais das cantoneiras e medem 2,50 m de comprimento e
geralmente são inclinados para o lado externo do vinhedo. O espaçamento dos
postes externos é determinado, num sentido, pela distância entre as fileiras, e no
outro, são distanciados de 5,0 a 6,0 m um do outro.
Os rabichos devem ser colocados externamente, a 1,5 m das cantoneiras e
dos postes externos. Medem 1,20 m de comprimento e são feitos de pedra, concreto
ou ferro, atados às cantoneiras e aos postes externos com um cordão de três fios, o
que permite manter o aramado esticado.
Os postes internos são colocados no cruzamento dos cordões secundários
com as linhas das plantas e distanciados 5,0 m um do outro. Geralmente têm 2,20 m
de comprimento, são de madeira tratada ou de concreto e possuem uma canaleta na
extremidade superior para apoiar o cordão secundário. Os tutores são de madeira
ou de bambu e têm a finalidade de servir de apoio para a condução da videira
jovem.
O aramado é formado por cordões primários e secundários, por fios dos rabichos e
fios simples. Os cordões primários são dois, interligando as cabeceiras de cada
extremidade do vinhedo e os postes externos situados entre elas. Geralmente são
formados por sete fios 14 x 16 (2,11 x 1,65 mm), revestidos por uma camada de
alumínio e enrolados helicoidalmente.
Os cordões secundários são colocados paralelamente aos cordões primários,
interligando os postes internos e os postes externos de duas extremidades.
Portanto, são perpendiculares às fileiras. São formados por dois fios 14 x 16,
enrolados helicoidalmente. Os cordões-rabicho são formados por um fio número seis
simples ou por três fios 14 x 16.
Os fios simples são colocados paralelamente às fileiras e perpendicularmente
aos cordões primários e secundários. O primeiro fio é colocado sobre a linha de
plantas e os quatro outros, dois de cada lado, a 50 cm do primeiro. Eles são

amarrados pelas extremidades aos cordões primários e internamente aos cordões


secundários, passando por cima destes.

Figura 1. Sistema de condução da videira em latada: a)


cantoneira; b) poste externo; c) rabicho; d) poste interno; e)
cordão primário, f) cordão secundário; g) cordão-rabicho;
h) fio simples.

O material para a formação de um vinhedo é variável conforme as características


do desenho idealizado. Para a instalação de 1 ha de vinhedo conduzido em latada o
material necessário é descrito a seguir. As características do vinhedo são, por
exemplo: distância entre fileiras de 2,5 m e entre plantas de 1,5 m; distância entre os
postes externos é de 5,0 m e entre os postes internos também de 5,0 m; há um fio
de produção e quatro para o dossel vegetativo por fileira:
 a) Cantoneiras (270 cm x 20 cm x 20 cm): 4;
 b) Postes externos (250 cm x 10 cm x 10 cm): 116;
 c) Rabichos (120 cm x 15 cm x 15 cm): 124;
 d) Postes internos (220 cm x 8 cm x 8 cm): 741;
 e) Tutores: 2.666;
 f) Arame 14 x 16, galvanizado: ~ 27.000 m.
Vantagens
As principais vantagens do sistema de condução latada são as seguintes:
1. Proporciona o desenvolvimento de videiras vigorosas, que podem armazenar
boas quantidades de material de reserva, como o amido.
2. Permite uma área do dossel vegetativo extensa, com grande carga de gemas.
Isto proporciona um grande número de cachos e alta produtividade.
3. Em função de sua produtividade, possui uma boa rentabilidade econômica.
4. É de fácil adaptação à topografia das regiões montanhosas, como a Serra
Gaúcha e o Vale do Rio do Peixe.
5. Facilita a locomoção dos viticultores, que pode ser feita em todas as direções.

Desvantagens
As principais desvantagens do sistema de condução latada são as seguintes:
1. Os custos de implantação e de manutenção são elevados.
2. A posição do dossel vegetativo e dos frutos situados acima do trabalhador
causa transtornos às práticas culturais.
3. Não é o sistema mais apropriado para a colheita mecânica, ainda que já
existam na Europa máquinas com esta finalidade.
4. A posição horizontal do dossel vegetativo e o vigor excessivo das videiras
podem causar sombreamento, afetar a fertilidade das gemas e a qualidade da
uva e do vinho.
5. O elevado índice de área foliar proporciona maior umidade na região do
cacho e das folhas, o que favorece o aparecimento de doenças fúngicas.
6. O sistema de sustentação necessita ser sólido para suportar o peso do dossel
vegetativo e da produção e o impacto do vento.
7.
Considerações sobre o manejo do dossel vegetativo
O manejo do dossel vegetativo de um vinhedo conduzido em latada pode se
tornar relativamente dispendioso se o número de varas e de esporões não for
condizente com as características da cultivar, o vigor das plantas e a densidade de
plantio. Nesse caso, há necessidade de realizar a poda verde, especialmente a
desbrota, a desfolha e a desponta, a fim de que haja uma melhor distribuição
espacial das folhas e uma maior captação da radiação solar. Essas práticas devem
ser feitas durante o subperíodo fenológico brotação-floração.
Espaldeira - Sistemas de Condução da Videira
Sistemas de Condução da Videira
Alberto Miele
Francisco Mandelli
Espaldeira
Antecedentes
O sistema de condução espaldeira é um dos mais utilizados pelos viticultores
nos principais países vitivinícolas do mundo. No Rio Grande do Sul, é adotado
especialmente na Campanha e por algumas vinícolas da Serra Gaúcha
Descrição
O dossel vegetativo é vertical e a poda seca é mista ou em cordão
esporonado. As varas são atadas horizontalmente aos fios do sistema de
sustentação do vinhedo. Se necessário, os ramos são despontados. Normalmente
deixam-se duas varas/planta quando a poda é mista; em cordão esporonado, há
dois cordões/planta. A distância entre as fileiras varia de 2,0 a 2,5 m e a distância
entre plantas é de 1,5 a 2,0 m, conforme a cultivar e a fertilidade do solo. A zona de
produção situa-se geralmente entre 1,0 e 1,2 m do solo. Deixam-se de 65 mil a 80
mil gemas/ha. A altura do sistema de sustentação do solo até a parte superior é de
aproximadamente 2,0 m.
A estrutura do sistema de sustentação é formada de postes externos e
internos, rabichos, tutores e fios (Figura 1).
Os postes externos podem ser de pedra, concreto ou madeira. Devem ter 2,50 m de comprimento e são
colocados nas extremidades das fileiras. Os postes internos geralmente são de madeira tratada e medem 2,20 m
de comprimento e são colocados de 5,0 a 6,0 m um do outro.
Figura 1. Sistema de condução da videira em espaldeira e
com poda mista: a) poste externo; b) poste interno; c) fio da
produção; d) fios fixos do dossel vegetativo; e) fio móvel do
dossel vegetativo.

Os rabichos podem ser feitos de ferro ou com os mesmos materiais dos postes
externos. São colocados em cada extremidade das fileiras e medem 1,20 m de
comprimento. Sua colocação é variada: em geral, podem ser externos ao sistema de
sustentação, em posição oblíqua afastando-se da cabeceira; ou podem ser internos,
oblíquos, escorando as cabeceiras das fileiras. O aramado é formado por três ou
quatro fios. Neste caso, o 1º fio situa-se de 1,0 a 1,2 m do solo; o 2º, a 0,35 m do
primeiro; o 3º, a 0,35 m do segundo; e o 4º, a 0,30 m do terceiro. Para manter o
dossel vegetativo mais vertical pode-se usar um fio suplementar, móvel, paralelo ao
2º fio.
O material necessário para a formação de 1 ha de vinhedo conduzido em
espaldeira é descrito a seguir. As características do vinhedo são: a distância entre
fileiras é de 2,0 m e entre plantas de 1,50 m; a distância entre os postes internos é
de 5,0 m; há um fio da produção, três fios fixos e um móvel do dossel vegetativo:

a) Postes externos (250 cm x 10 cm x 10 cm): 102;


b) Rabichos (120 cm x 10 cm x 10 cm): 102;
c) Postes internos (220 cm x 8 cm x 8 cm): 969;
d) Tutores: 3.333;
e) Arame 14 x 16, galvanizado:~26.000 m.

Vantagens
As principais vantagens do sistema de condução espaldeira são as seguintes:
1. É atrativo aos olhos, especialmente quando se faz a desponta;
2. Proporciona colheita mecânica fácil e é adaptado à poda mecânica;
3. Os frutos situam-se numa área do dossel vegetativo e as extremidades dos
ramos em outra: isto facilita as operações mecanizadas, como remoção de
folhas, pulverizações dos cachos e desponta;
4. Adapta-se bem ao hábito vegetativo da maior parte das viníferas;
5. Apresenta boa aeração;
6. O custo de implantação é relativamente baixo, menor que o latada;
7. Pode ser ampliado paulatinamente, pois aestrutura de cada fileira é
independente.
Desvantagens
As principais desvantagens do sistema de condução espaldeira são as seguintes:
1. Apresenta tendência ao sombreamento, portanto não é indicado para
cultivares muito vigorosas ou para solos muito férteis;
2. A densidade de ramos geralmente é muito elevada;
3. Se a distância do dossel vegetativo for superior a 3,0 m, a área da superfície
do dossel vegetativo será pequena;
4. Como conseqüência do item c, a produtividade do vinhedo será baixa e o
sombreamento diminui a qualidade da uva e do vinho;
Considerações sobre o manejo do dossel vegetativo
Geralmente são necessários de dois a três repasses durante o ciclo
vegetativo para posicionar os ramos. Esta prática pode ser realizada colocando os
ramos entre os fios e amarrando-os quando necessário. Mas, é bem mais rápido
quando o sistema de sustentação possui fios móveis para o posicionamento dos
ramos. Esses fios devem ser colocados paralelos ao 2º fio e são movimentados em
direção aos ramos, apanhando-os e direcionando-os para cima. Portanto, não
necessitam ser atados. O 1° posicionamento dos ramos deve ser feito próximo à
floração e o último, antes da mudança-de-cor da uva.
A desponta pode ser feita manualmente ou mecanicamente, deixando-se
ramos com cerca de 1,30 m de comprimento, os últimos 0,30 m estendendo-se além
do 4° fio.
Lira - Sistemas de Condução da Videira
Alberto Miele
Francisco Mandelli
Lira
Antecedentes
O sistema de condução lira, ou U, foi desenvolvido pelo INRA-Centro de
Pesquisas de Bordeaux, França. Tem sido testado em vários países do mundo e
mais recentemente foi adaptado à colheita mecânica. Na América do Sul, o Uruguai
destaca-se por ter incentivado este sistema de condução da videira, com bons
resultados. No Brasil, foram instalados cerca de 100 ha na Serra Gaúcha.
Descrição
O sistema de condução da videira em lira caracteriza-se por ter duas cortinas
levemente inclinadas para o lado de fora, portanto, com duas zonas de produção. As
bases das cortinas são afastadas, no mínimo, de 0,90 m uma da outra. Na parte
superior, elas são distanciadas de 1,00 a 1,20 m (Figuras 1 e 2). Adota-se a poda
mista ou em cordão esporonado. Os ramos são despontados cerca de 0,30 m acima
do último fio.
O sistema de sustentação tem dois postes externos em cada cabeceira da
fileira, medindo 2,50 m de comprimento e 0,20 m de diâmetro. Estes postes ficam
aproximadamente a 1,90 m acima do solo e a 0,60 m abaixo. São inclinados,
formando um ângulo interno de 30º. Unindo os postes externos, há duas travessas
horizontais: uma colocada a 1,20 m do solo e medindo 60 cm x 8 cm x 8 cm; outra, a
2,20 m do solo, medindo aproximadamente 1,20 m x 8 cm x 8 cm. Os postes
internos são similares aos externos. São distanciados 6,0 m um do outro e medem
2,50 m de comprimento e têm um diâmetro de 12 cm.
O material necessário para a formação de 1 ha de vinhedo conduzido no
sistema lira é descrito a seguir. As características do vinhedo são: a distância entre
fileiras é de 3,0 m e entre plantas de 1,5 m; há dois fios de frutificação, seis fios fixos
do dossel vegetativo e dois fios móveis de posicionamento dos ramos; a distância
dos postes internos é de 6,0 m:
a) Postes externos (250 cm x 10 cm x 10 cm): 136;
b) Postes internos (220 cm x 8 cm x 8 cm): 1.088;
c) Rabichos (120 cm x 15 cm x 15 cm): 68;
d) Travessas superiores: 612;
e) Travessas inferiores: 612;
f) Tutores: 2.222;
g) Arame 14 x 16, galvanizado:~35.000 m
Figura 1. Sistema de condução da videira em lira vista
da cabeceira da fileira: a) poste externo; b) fio da
produção; c) fio fixo do dossel vegetativo; d) fio móvel
do dossel vegetativo ; e) travessa inferior; f) travessa
superior.
Figura 2. Sistema de condução da videira conduzida em
lira e podada em cordão esporonado.

Vantagens
As principais vantagens do sistema de condução da videira em lira são as
seguintes:
a) Apresenta grande área foliar e superfície de área foliar.
b) Propicia boa produtividade, mas menor que a do latada.
c) Torna-se fácil posicionar os ramos.
d) A colheita mecânica é fácil de ser feita.
e) Proporciona uma boa qualidade da uva e do vinho.
f) Pode ser ampliado paulatinamente, pois as fileiras são independentes.

Desvantagens
As principais desvantagens do sistema de condução da videira em lira são as
seguintes:

a) Em solos férteis, especialmente com cultivares vigorosas, desenvolve


demasiadamente o dossel vegetativo, o que obriga a realização da poda verde
na base e no centro do dossel.

b) Em solos muito férteis há um desenvolvimento exagerado das feminelas (laterais)


para o centro do sistema de condução, o que é relativamente difícil de controlar.

c) Ao proceder o manejo da parte interna do dossel vegetativo, o viticultor entra em


contato com a folhagem que contém fungicidas e inseticidas.

Considerações sobre o manejo do dossel vegetativo


No verão faz-se a desponta dos ramos, especialmente se houver um
desenvolvimento exagerado e antecipado dos laterais. O posicionamento dos ramos
nas cortinas é feito com o fio móvel colocado junto ao 2° fio de cada cortina: o fio
externo deve ser fixo e o fio interno, móvel. Para evitar sombreamento na zona dos
frutos, não se deve deixar os ramos se desenvolverem além do último fio e deve-se
proceder à poda verde na área central do sistema.
GDC - Sistemas de Condução da Videira
Alberto Miele
Francisco Mandelli
Antecedentes
O estabelecimento do sistema de condução GDC (Figuras 1 e 2) foi um
importante passo para o desenvolvimento da teoria sobre o manejo do dossel
vegetativo, cuja premissa estabelece que a sombra no interior do dossel vegetativo
limita a qualidade da uva. Inicialmente, este trabalho foi realizado com a cv. Concord,
destinada à elaboração de suco de uva. Mais tarde, entretanto, pesquisas feitas em
várias regiões do mundo confirmaram que as viníferas também podem ter os ramos
posicionados para baixo e ser conduzidas nesse sistema com bons resultados.
Descrição
O sistema GDC caracteriza-se por apresentar duas cortinas verticais paralelas,
com as bases na parte superior e os ramos posicionados para baixo. Este sistema
foi desenvolvido para aumentar a produtividade da videira, quando comparada
àquelas conduzidas em espaldeira, melhorar a qualidade do fruto e facilitar a
colheita mecânica. As plantas são conduzidas em cordão esporonado, com os
esporões voltados para o lado de fora e para baixo. As fileiras são distanciadas 2,70
m e as plantas 1,80 m, conforme a cultivar e o vigor da planta.
Os postes externos medem 280 cm x 0 cm x 10 cm, ficando 1,90 m acima do
solo. Há dois postes externos em cada fileira, um em cada extremidade Os postes
internos são distanciados de 5,0 a 6,0 m, medindo 260 cm x 8 cm x 8 cm. Na
extremidade superior dos postes externos e internos colocam-se travessas medindo
120 cm x 8 cm x 8 cm. Em cada fileira são colocadas duas travessas móveis,
medindo 40 cm x 5 cm x 2,5 cm, com a finalidade de posicionar os ramos
verticalmente para baixo.
Os fios passam nas extremidades das travessas e suportam o dossel vegetativo
e a produção de uva. Na fileira, a uma altura de 1,30 m, passa um terceiro fio, com a
finalidade de sustentar as videiras.
O material necessário para a formação de 1 ha de vinhedo é descrito a seguir. As
características do vinhedo são: a distância entre as fileiras é de 2,70 m e entre
plantas de 1,80 m; há três fios, um a 1,30 m do solo e dois a 1,90 m do solo,
distanciados 1,20 m; os postes internos são distanciados 6,0 m; há duas travessas
móveis por fileira:
 a) Postes externos (280 cm x 10 cm x 10 cm): 72;
 b) Postes internos (260 cm x 8 cm x 8 cm): 576;
 c) Rabichos (120 cm x 15 cm x 15 cm): 72;
 d) Travessas fixas (120 cm x 8 cm x 8 cm): 648;
 e) Travessas móveis (40 cm x 5 cm x 2,5 cm):720;
 f) Arame 14 x 16: ~19.000 m.
Figura 1. Sistema de condução GDC: A - travessa fixa; B - fio da
produção; C - cordão; D - vara de produção; E - esporão de
renovação.

Figura 2. Sistema de condução da videira em GDC, com uma


travessa móvel posicionada para baixo: a) poste externo; b)
travessa fixa; c) travessa móvel; d) fio da produção; e) fio fixo do
dossel vegetativo; f) fio de sustentação; g) fio-gancho.
Vantagens
As principais vantagens do sistema GDC são as seguintes:
 a) Maior fertilidade das gemas e, portanto, maior produtividade do vinhedo;
 b) Possui boa adaptação para a colheita mecânica;
 c) É adequado para videiras vigorosas;
 d) Permite um bom posicionamento dos ramos e uma boa exposição das
gemas à radiação solar;
 e) Melhora a qualidade da uva e do vinho;
 f) Em relação à espaldeira, o mosto tem pH mais baixo cor e polifenóis totais
mais elevados.
Desvantagens
As principais desvantagens do sistema GDC são:
 a) Se o sistema de sustentação não dispuser de travessas móveis, há
dificuldade em posicionar os esporões e os ramos para baixo;
 b)Devido à exposição do fruto ao sol, pode haver uma concentração
excessiva de polifenóis na uva, especialmente em climas quentes;
 c) Em certas cultivares podem aparecer muitos ladrões improdutivos, que
devem ser controlados para evitar a superprodução.

Considerações sobre o manejo do dossel vegetativo


O manejo do dossel vegetativo relaciona-se principalmente com o
posicionamento das varas e esporões para baixo. Isto pode ser feito torcendo a
vara, com quatro a cinco gemas, no primeiro ano de formação do vinhedo. Deixar
aproximadamente 15 gemas/m de cordão. Ao utilizar travessas móveis, iniciar a
rotação para fora três semanas antes do florescimento e completar este movimento
durante a floração, quando então os ramos deverão estar posicionados
verticalmente e para baixo.
Para que este sistema de condução funcione bem, é imperativo que o espaço
entre as cortinas permaneça aberto permitindo a entrada dos raios solares.
As videiras podem ser conduzidas nos dois lados do sistema de sustentação ou
alternativamente uma videira para cada lado. Além disso, cada videira pode ter dois
cordões - um em cada lado do sistema - ou quatro cordões - dois de cada lado do
sistema, opostos.
Tecnologia de Aplicação de Fungicidas
Olavo Roberto Sônego
Lucas da R. Garrido
Tecnologia de aplicação de fungicidas é a utilização de todos os
conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação do produto
biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, com
mínimo de contaminação de outras áreas. O crescente aumento do custo dos
produtos químicos, da mão de obra e da energia, e a maior preocupação em relação
a poluição ambiental, têm realçado a necessidade de uma tecnologia mais acurada
na colocação do produto no local correto, bem como, de procedimentos e
equipamentos adequados à maior proteção ao trabalho.
Qualidade da aplicação
Para obtenção de um resultado positivo na aplicação de um fungicida,
devemos considerar três fatores básicos; Produto, deve ser o mais adequado para
o fungo(alvo biológico) a ser controlado: Momento da aplicação, quando o patogeno
está mais sensível ao produto; Máquina, produz a aplicação mais adequada,
distribuindo o produto de maneira mais uniforme na área a ser protegida. A interação
destes três fatores com as condições ambientais vão interferir na eficiência ou não
do controle.
Conhecimento do alvo biológico e produto
O conhecimento da biologia do fungo a ser controlado, a escolha do produto e
a parte da planta atacada são fatores importantes para se obter maior eficiência no
controle deste organismo.
Cobertura
A pulverização deve produzir uma adequada cobertura do alvo. A cobertura
nada mais é do que o número de gotas por unidade de área, que na realidade
representa o objetivo final da pulverização. A cobertura deve variar com: a) o agente
a ser controlado: Cobertura para o controle de fungos(70-100 gotas/cm²) deve ser
maior e mais uniforme do que para o controle de inseto(inseto se move); b) Modo de
ação do produto: fungicida de contato exige cobertura maior e mais uniforme do que
produto sistêmico. Para se conseguir uma boa cobertura da superfície tratada pode-
se utilizar alto volume (até o escorrimento), pode ser conseguido usando-se grandes
volumes de aplicação (calda diluída e gotas grandes) ou volumes menores, usando-
se gotas menores e mais concentradas. Gotas menores tem certas limitações, como
a perda por evaporação e deriva. O importante é salientar que o objetivo da
pulverização é obter uma cobertura adequada do alvo, independente do volume de
calda.
Característica do fungicida a ser utilizado
Algumas características do fungicida tais como capacidade de redistribuição,
formulação e dosagem devem ser consideradas no momento da regulagem do
pulverizador e da pulverização.
Tomemos como exemplo o míldio(Plasmopara viticola) a principal doença da
videira. O agente causal infecta e desenvolve na página inferior das folhas. Caso o
fungicida a ser utilizado exerça sua função apenas no local atingido, o alvo
obrigatoriamente deve ser a página inferior das folhas. Se o fungicida tem efeito
translaminar ou sistêmico o alvo pode ser também a página superior da folha.
A formulação dos fungicidas pode ser pó molhável(PM), suspensão
concentrada(SC), concentrado emulsionável(CE) e grânulos dispersáveis em
água(GrDa ou WG). A dosagem dos fungicidas pode ser indicada por
concentração(dose por 100 litros) ou em dose por área: assim no primeiro caso,
300g de Dithane por 100 litros de água, no segundo caso, 3 kg de Dithane por
hectare. A recomendação por concentração é adequada para aplicações de alto
volume, onde há escorrimento da calda, de modo que a quantidade retida nas folhas
seja proporcional à concentração da calda, independente do volume aplicado. A
vantagem deste sistema é a sua simplicidade, pois não é necessário levar em conta
a variação da superfície a ser coberta.

Preparo da calda
O preparo da calda pode ser realizado pela adição direta do produto no tanque,
ou através de pré-diluição. Quando são utilizados produtos na formulação líquida,
podem ser adicionados diretamente no tanque com a quantidade da água desejada.
Para produtos na formulação de pó molhável, é recomendado fazer pré-mistura ,
seguindo as etapas:
1. Dissolver o produto em pequena quantidade de água, agitando-se até a
completa suspensão do produto;
2. Despejar a suspensão no tanque, contendo aproximadamente dois terços do
volume de água a ser utilizada. Após, completar o volume. Quando usado
mais de um produto, deve ser seguida a recomendação para cada produto,
individualmente. Em alguns casos, a associação de produtos permite a
redução de dosagens dos mesmos.
Equipamento de pulverização
De um modo geral, o pulverizador deverá produzir gotas e direciona-las para
o alvo, assim tem que dispor de energia suficiente para produzir o fracionamento da
calda em pequenas gotas e imprimir velocidade e direção a essas gotas até o alvo.
Sistema de agitação
Necessário para assegurar que o produto esteja misturado apropriadamente
antes de iniciar a pulverização e manter a mistura adequada durante a aplicação.
Sistema de filtragem
Tem as funções de Garantir uniformidade das aplicações; maior capacidade
operacional dos pulverizadores; segurança do operador durante o serviço e maior
durabilidade das pontas.
Bomba
A função da bomba é pressionar a calda, colocando no sistema a energia que
será utilizada para a pulverização.
Regulador de pressão
Basicamente é um divisor de volume, faz com que o volume excedente
retorne para o tanque.
Manômetro
Indica a pressão do circuito das pontas de pulverização.
Bicos de pulverização
Os bicos podem ser considerados como a peças mais importantes dos
pulverizadores hidráulicos. A seleção e utilização apropriada dos bicos são partes
importantes para uma aplicação precisa sem perdas de produto, prejuízos
económicos e riscos ambientais.
Pontas de pulverização
Regulam a vazão, o tamanho da gota e a forma do jato, sendo um dos
componentes responsáveis pela qualidade da aplicação.
Fatores climáticos
A observação de algumas condições climáticas são fundamentais para iniciar ou
paralisar uma aplicação.
1. Possibilidade de chuva;
2. Intensidade luminosa; produto pode causar injúria ou fitotoxicidade na folha
3. Vento: pode causar a deriva do produto. O ideal para pulverização são ventos
constantes de 3,2 a 6,5 km/h, capaz de movimentar levemente as folhas;
4. Temperatura e Umidade relativa: de forma geral, temperaturas acima de 30°C
e umidade relativa inferior a 55% são impróprias para à pulverização.
Tempo médio de vida da gota de água a 30°C e 50% de umidade relativa do ar.
(Fonte: FAO, 1996).

Tamanho da gota Tempo de "vida" da


(Micron) gota(Seg)
200 56
100 14
50 3,5
10 0,16

Cuidados durante o preparo e aplicação dos produtos fitossanitários


* Nunca fure as embalagens para retirar o produto, use meios e ferramentas
adequadas para remover a tampa.
 Evite a contaminação ambiental - preserve a natureza;
 Utilizar equipamento de proteção individual - EPI (macacão de PVC, luvas e
botas de borracha, óculos protetores e máscara contra eventuais vapores).
Em caso de contaminação substituí-lo imediatamente;
 Não trabalhar sozinho quando manusear produtos tóxicos;
 Não permitir a presença de crianças e pessoas estranhas ao local de
trabalho;
 Preparar o produto em local fresco e ventilado, nunca ficando a frente do
vento;
 Ler atentamente e seguir as instruções e recomendações indicadas no rótulo
dos produtos;
 Evitar inalação, respingo e contato com os produtos;
 Não beber, comer ou fumar durante o manuseio e a aplicação dos
tratamentos;
 Preparar somente a quantidade de calda necessária à aplicação a ser
consumida numa mesma jornada de trabalho;
 Aplicar sempre as doses recomendadas:
 Evitar pulverizar nas horas quentes do dia, contra o vento e em dias de vento
forte ou chuvosos;
 Não aplicar produtos próximos à fonte de água, riachos, lagos, etc;
 Não desentupir bicos, orifícios, válvulas, tubulações com a boca;
 Guardar os produtos em embalagens bem fechadas, em locais seguros, fora
do alcance de crianças e animais domésticos e afastados de alimentos ou
ração animal e distantes de fontes de água;
 Mantenha o produto em sua embalagem original;
 Não reutilize embalagens vazias;
 Em caso de produtos estocados da safra anterior, deve-se utiliza-los
primeiramente para não ultrapassar a validade.
 Observar o intervalo de segurança ou período de carência, que é o intervalo
em dias entre o último tratamento e a colheita, comercialização ou consumo.
 Entrada em lavouras tratadas. Quando não houver orientação especifica no
rotulo, é aconselhável observar um período mínimo de 24 horas.

Cuidados com embalagens de agroquímicos


É imprescindível fazer a tríplice lavagem e a inutilização das embalagens,
após a utilização dos produtos, não permitindo que possam ser utilizadas para
outros fins. É necessário observar a legislação para o descarte de embalagens. As
embalagens, após tríplice lavagem, devem ser destinadas a uma central de
recolhimento para reciclagem. Tríplice lavagem significa enxaguar três vezes a
embalagem vazia, tornando possível a reciclagem do material usado na fabricação
da embalagem de produtos fitossanitários.
Viroses da Videira no Brasil
Gilmar Barcelos Kuhn
Thor Vinícius Martins Fajardo

Doenças causadas por vírus na cultura da videira (Vitis spp.) têm sido
mencionadas nos países de tradição vitícola há mais de um século, porém o estudo
desses patógenos evoluiu nos últimos 40 anos. Até 1960 eram mencionadas na
literatura, apenas, oito anomalias consideradas de origem viral. Dentre essas
estavam as doenças denominadas de Pierce's disease e Flavescence dorée, as
quais, sabe-se hoje, são causadas por uma bactéria e um fitoplasma,
respectivamente. Dois fatos marcaram decisivamente o avanço na pesquisa das
viroses da videira. Inicialmente a descoberta de que o vírus responsável pela
degenerescência da videira (fanleaf ou court-noué), era transmitido através do solo
pelo nematóide Xiphinema index e, posteriormente a transmissão mecânica de
diversos vírus da videira para plantas herbáceas. Atualmente com o
aperfeiçoamento das técnicas utilizadas em virologia vegetal para a transmissão,
purificação, caracterização e diagnose de vírus são conhecidas na videira cerca de
cinqüenta doenças consideradas de origem viral (Tabela 1). Muitas destas doenças
estão bem identificadas e caracterizadas, outras embora consideradas viroses, não
tem ainda uma definição exata da natureza do patógeno, se vírus, fitoplasma,
viróide, etc. Sabe-se apenas que são perpetuadas pelo material vegetativo e por
enxertia, condição mínima para que uma doença seja incluída no grupo das viroses.
Nem todos os vírus conhecidos na videira apresentam importância econômica.
Muitos ocorrem de forma ocasional na videira e seus efeitos, aparentemente, não
tem qualquer expressão econômica. Outros, embora causem prejuízos com reflexos
econômicos importantes, estão restritos a determinadas regiões ou países,
possivelmente condicionados a certas tendências regionais, como o plantio de
cultivares sensíveis ou devido às condições edafoclimáticas regionais que
favoreçam a ocorrência de vetores. Entretanto, existe um grupo dessas doenças de
grande relevância econômica para a viticultura, razão pela qual são objeto de
constante atenção nos programas de seleção sanitária dos diversos países vitícolas.
Dessas viroses já foram identificadas no Brasil quatro das mais importantes -
"enrolamento da folha" (leafroll), "intumescimento dos ramos" (corky bark),
"caneluras do tronco" (stem grooving, stem pitting) e "degenerescência da videira"
(fanleaf) - e, outras duas de menor relevância econômica, que ocorrem de forma
latente na maioria das cultivares comerciais - "necrose das nervuras" (vein necrosis)
e "manchas das nervuras" (fleck). No presente trabalho é feito um breve relato sobre
estas doenças, abrangendo etiologia, sintomatologia, epidemiologia, diagnose e
controle.
Enrolamento da folha da videira (Grapevine leafroll)
Complexo rugoso da videira
Degenerescência da videira(Grapevine fanleaf)
Necrose das nervuras da videira (Grapevine vein necrosis)
Manchas das nervuras da videira (Grapevine fleck)

Técnicas de Diagnose
Os métodos de diagnóstico das viroses da videira podem ser divididos em
três segmentos. Os dois primeiros e mais tradicionais incluem os testes biológicos e
o diagnóstico serológico. Mais recentemente desenvolveram-se os métodos de
diagnóstico molecular. Os testes biológicos são desenvolvidos através de
transmissões por união de tecidos para cultivares indicadoras específicas para cada
vírus e por inoculação mecânica em plantas herbáceas.
A serologia é um importante complemento do método biológico e em muitas
situações representa ótima alternativa. O teste imunoenzimático "ELISA",
especialmente o tipo direto de duplo sanduíche é um dos mais difundidos para o
diagnóstico de vírus de plantas. Outros tipos de testes de ELISA e variantes
indiretos, que trabalham com anticorpos produzidos em espécies diferentes de
animais ("anti-anticorpo"), podem aumentar a sensibilidade da detecção de estirpes
de um mesmo vírus distantemente relacionadas, ou incrementar a capacidade de
diferenciação de estirpes próximas de um mesmo vírus. "Dot-ELISA" assemelha-se
a ELISA indireta diferindo somente pela ligação do antígeno a uma membrana de
nitrocelulose e a visualização da reação é feita pelo produto, insolúvel e de cor
púrpura, da reação enzimática.
Os métodos biológicos e imunoenzimáticos têm importância fundamental em
programas para produzir, manter e propagar material básico livre de vírus.
Entretanto, na indexação biológica e nos testes de "ELISA" ocorrem algumas
limitações. A amostra deve ser escolhida e coletada adequadamente, considerando-
se o estádio de desenvolvimento da planta e os tecidos em que o vírus ocorre com
maior concentração. Muitos vírus ocorrem em concentrações baixas, às vezes
abaixo do limite de detecção. Há relatos de variação na reação de plantas
indicadoras, segundo as condições ambientais. Finalmente o tempo necessário à
expressão de sintomas em indicadoras pode chegar a mais de dois anos o que torna
o teste oneroso.
A transferência western (western blot), comumente utilizada na caracterização
de proteínas virais em videiras é um método imunoeletroforético em que proteínas
virais, em extratos de videiras infectadas, são separadas por eletroforese e a seguir,
são transferidas e detectadas em membranas de nitrocelulose, por reação com
anticorpos específicos para o antígeno.
Na hibridação molecular são utilizadas membranas e sondas com seqüência
de nucleotídeos complementares aos agentes procurados, para detecção de DNA
(Southern blot) e RNA (Northern blot). Essas sondas podem ser encomendadas
comercialmente, obtidas via síntese de cDNA (DNA complementar) ou, ainda, pela
marcação de DNA viral obtido pela reação de PCR. Ultimamente aumenta, em face
do grande aumento da sensibilidade dos marcadores não-radioativos, a preferência
da marcação de sondas com "etiquetas frias", como a marcação com digoxigenina,
sensível e que apresenta crescente popularidade.
A hibridação molecular (reação visualizada através de manchas em
membranas), em suas duas reações: hibridação de transferência "northern" (RNA) e
"southern" (DNA), embora altamente específica e sensível requer a síntese de cDNA
por técnicas de biologia molecular e a sua marcação (etiquetagem) "in vitro".
Alternativamente, a sonda pode ser um oligonucleotídeo produzido em
sintetizadores automáticos ou, ainda obtida via reação de RT-PCR (transcrição
reversa - reação de polimerase em cadeia). Essas características tornam a
hibridação molecular pouco adequada para o diagnóstico rápido em grande número
de amostras; sendo, no entanto, ferramenta importante no exame de material de
elite. Conhecendo-se pelo menos parte da seqüência do agente viral de interesse é
possível o diagnóstico via PCR, processo automatizado de amplificação cíclica, em
termocicladores, do agente de interesse e, visualização do DNA amplificado através
de eletroforese. A IC-PCR (PCR com imunocaptura) se utiliza da captura de
antígenos existentes na amostra, com anticorpos específicos, previamente à PCR.
Métodos de controle das viroses
A sanidade do material vegetativo destinado à multiplicação da videira, ou
seja, à produção de mudas, barbados, estacas (bacelos) e gemas (garfos), tem sido
uma das principais preocupações dos países vitícolas nas últimas décadas. Isso é
plenamente justificável pelas constantes descobertas de novas doenças que se
propagam através do material vegetativo, especialmente as viroses. A multiplicação
agâmica da videira, além de facilitar a disseminação dos vírus, propicia o seu
acúmulo no material propagativo ao longo do tempo, levando ao surgimento de
doenças complexas.
A metodologia de controle é comum a todas as viroses citadas. No campo, o
único meio viável de se controlar doenças causadas por vírus é através da seleção
sanitária e eliminação de vetores. A planta após infectada é impossível de ser curada
no campo pelos métodos, tradicionalmente, utilizados para outras doenças.
Na Embrapa Uva e Vinho a metodologia de controle das viroses da videira, se não a
mesma, é muito semelhante a desenvolvida nos principais países vitícolas dos
mundo, a qual é a seguir descrita resumidamente:
Seleção sanitária
É feita em etapas, envolvendo uma série de atividades até se chegar as
plantas que servirão como fonte de ropagação. No vinhedo é feita a seleção massal,
através de observações minuciosas, marcando-se as plantas sem sintomas
aparentes e com boa produção. Em seqüência podem ser formados clones das
plantas selecionadas para observação mais detalhada por um período de dois ou
mais ciclos vegetativo. Tanto na seleção massal como na clonal, as observações são
feitas em diversas épocas do ano, visto que os sintomas das viroses podem
aparecer em diferentes estádios do desenvolvimento da planta. As plantas que se
mostrarem aparentemente sadias na seleção de campo são submetidas aos testes
biológicos para comprovar sua sanidade. A técnica comumente usada para detectar
vírus em plantas lenhosas é a "indexagem sobre cultivares indicadoras" (Tabela 2).
Este teste consiste na enxertia de gema ou garfo da videira que se deseja conhecer
o estado sanitário, em uma cultivar de videira sensível ao vírus (indicadora). A
avaliação dos resultados é baseada no aparecimento dos sintomas na indicadora no
período de 1 a 3 ciclos vegetativos, dependendo do vírus em teste. Outro teste
biológico que pode ser utilizado é a "inoculação mecânica em plantas herbáceas",
embora de aplicabilidade restrita a poucas viroses da videira de interesse
econômico. Também são empregadas na seleção sanitária, como complemento
aos testes biológicos, as técnicas serológicos e moleculares, já mencionadas no
item referente a diagnonse de vírus
Termoterapia e micropagação de segmentos caulinares de uma gema
No caso de não se conseguir nos trabalhos de seleção sanitária nenhuma
planta sadia de uma determinada cultivar e não se dispor de outra fonte para obter
material sadio, a única alternativa é o tratamento pelo calor, método comumente
utilizado em fruticultura, especialmente na videira. É o meio mais eficiente e seguro
de se obter planta sadia a partir de uma planta infectada. A técnica consiste em
submeter a planta doente a temperaturas entre 37-38ºC por período que varia,
normalmente, entre 30-90 dias ou até mais dependendo do vírus. Após o tratamento,
as extremidades dos brotos (1-3 cm) são enraizados "in vitro" e, posteriormente, as
plantas desenvolvidas são submetidas aos testes de diagnose para comprovar a
sanidade da planta.
Controle de vetores
No caso de se constatar a presença de nematóides vetores no vinhedo, para
se reaproveitar a área deve-se eliminar as plantas com o máximo de raízes e
introduzir culturas não hospedeiras dos nematóides como alfafa e cereais, durante
7-10 anos. O tempo pode ser maior ou menor dependendo da população dos
nematóides e do tipo de solo, se arenoso ou argiloso. Caso se queira plantar de
imediato a videira, deve-se fazer um tratamento rigoroso do solo com nematicida. O
tratamento químico do solo é muito dispendioso e caro, sendo feito em pequenas
áreas, especialmente em viveiros.
Tambem é necessário fazer o controle eficiente de cochonilhas nos vinhedos,
principalmente daquelas que, além de comportarem com pragas da videira também
são citadas como vetoras de vírus (ex. Planococcus ficus, P. citri, Pseudococcus
longispinus e Pulvinaria vitis) causadores das doenças do complexo rugoso (GVA e
GVB) e do enrolamento da folha da videira (GLRaV-1 e -3).
Ainda existem poucas informações disponíveis sobre a ocorrência, a dispersão e a
bioecologia de espécies de cochonilhas em videiras na região vitícola da Serra
Gaúcha, o que dificulta o estabelecimento de uma estratégia de controle da
transmissão viral.
As dificuldades, que podem ser verificadas no controle de cochonilhas da
videira, quando, além de pragas são também vetoras de vírus, está exatamente em
evitar a transmissão do patógeno, pois o vetor pode transmitir o vírus a planta antes
de morrer em decorrência do efeito do inseticida. No caso de insetos-pragas há
conceitos que balizam um controle eficiente, tais como "manejo integrado de pragas"
e "nível de dano econômico", ou seja, a cultura pode conviver com um certo nível de
infestação da praga sem sofrer prejuízos econômicos significativos e, portanto, sem
justificar a interferência com defensivos químicos. Quando o mesmo inseto é vetor
de vírus, estes conceitos não se aplicam, pois mesmo uma reduzida população de
insetos pode eficientemente disseminar o vírus em campo. Por todos estes
aspectos, o controle de insetos vetores de vírus é um tema importante que demanda
estudos adicionais, específicos para cada situação, procurando definir questões
como a eficiência e o alcance desta prática.
Tabelas
Tabela 1. Vírus e doenças consideradas de origem viral que infectam a videira.
Vírus Gênero, Família Referências
Alfalfa mosaic virus, AlMV (Vírus do Alfamovirus,
1, 2
mosaico da alfafa) Bromoviridae
Arabis mosaic virus, ArMV (Vírus do Nepovirus,
1, 2
mosaico do arabis) Comoviridae
Artichoke Italian latent virus, AILV (Vírus Nepovirus,
1, 2
italiano latente do artichoke) Comoviridae
Blueberry leaf mottle virus, BLMoV (Vírus Nepovirus,
1, 2
do mosqueado da folha do Mirtilo) Comoviridae
Broad bean wilt virus, BBWV (1-2) (Vírus Fabavirus,
1, 2
da murcha da fava) Comoviridae
Carnation mottle virus, CarMV (Vírus do Carmovirus,
1, 2
mosqueado do cravo) Tombusviridae
Cucumber mosaic virus, CMV (Vírus do Cucumovirus,
1,2
mosaico do pepino) Bromoviridae
Grapevine ajinashika virus, GAV (Vírus
não classificado 2 (não oficial)
ajinashika da videira)
Grapevine Algerian latent virus, GALV Tombusvirus,
1, 2
(Vírus algeriano latente da videira) Tombusviridae
Grapevine asteroid mosaic virus, GAMV
não classificado 2 (não oficial)
(Vírus do mosaico asteróide da videira)
Grapevine berry inner necrosis virus, GINV
(Vírus da necrose interna da baga da Trichovirus 1, 2
videira)
Grapevine Bulgarian latent virus, GBLV Nepovirus,
1, 2
(Vírus Bulgaro latente da videira) Comoviridae
Grapevine chrome mosaic virus, GCMV Nepovirus,
1, 2
(Vírus do mosaico cromo da videira) Comoviridae
Grapevine fanleaf virus, GFLV (Vírus dos Nepovirus,
1, 2
entrenós curtos da videira) Comoviridae
Grapevine fleck virus, GFkV (Virus da
não classificado 1, 2
mancha das nervuras da videira)
Grapevine labile rod-shaped virus, GLRSV
(Vírus lábil e em formato de bastão da não classificado 2 (não oficial)
videira)
Grapevine leafroll-associated virus, GLRaV-
1, GLRaV-2, GLRaV-3, GLRaV-4, GLRaV- Closterovirus,
1, 2
5, GLRaV-6, GLRaV-7 e LRaV-8 (Vírus do Closteroviridae
enrolamento da folha da videira)
Grapevine line pattern virus, GLPV (Vírus Ilarvirus,
2 (não oficial)
do padrão em linha da videira) Bromoviridae
Grapevine rootstock stem lesion associated
virus, GRSLaV (Vírus associado a lesão do não classificado 3 (não oficial)
caule de porta-enxerto da videira)
Grapevine stunt virus, GSV (Vírus do
não classificado 2 (não oficial)
nanismo da videira)
Grapevine Tunisian ringspot virus, GTRSV
Nepovirus,
(Vírus Tunisiano da mancha em anel da 1, 2
Comoviridae
videira)
Grapevine virus A, GVA (Vírus A da videira) Vitivirus 1
Grapevine virus B, GVB (Vírus B da videira)Vitivirus 1
Grapevine virus C, GVC (Vírus C da
Vitivirus 1
videira)
Grapevine virus D, GVD (Vírus D da
Vitivirus 1
videira)
Peach rosette mosaic virus, PRMV (Vírus Nepovirus,
1, 2
do mosaico em roseta do pessegueiro) Comoviridae
Petunia asteroid mosaic virus, PetAMV Tombusvirus,
1, 2
(Vírus do mosaico asteróide da petúnia) Tombusviridae
Potato virus X, PVX (Vírus X da batata) Potexvirus 1, 2
Raspberry ringspot virus, RpRSV (Vírus da epovirus,
1, 2
mancha em anel da framboesa) Comoviridae
Rupestris stem pitting-associated virus,
RSPaV (Vírus associado a caneluras do Foveavirus 1
caule de Rupestris)
Sowbane mosaic virus, SoMV (Vírus do
Sobemovirus 1, 2
mosaico do chenopódio)
Strawberry latent ringspot virus, SLRSV
Nepovirus,
(Vírus latente da mancha em anel do 1, 2
Comoviridae
morangueiro)
Tobacco mosaic virus, TMV (Vírus do
Tobamovirus 1, 2
mosaico do fumo)
Tobacco necrosis virus D, TNV-D (Vírus da Necrovirus,
1, 2
necrose do fumo) Tombusviridae
Tobacco ringspot virus, TRSV (Vírus da Nepovirus,
1, 2
mancha em anel do fumo) Comoviridae
Tomato black ring virus, TBRV (Vírus do Nepovirus,
1, 2
anel preto do tomateiro) Comoviridae
Tomato mosaic virus, ToMV (Vírus do
Tobamovirus 1, 2
mosaico do tomateiro)
Tomato ringspot virus, ToRSV (Vírus da Nepovirus,
1, 2
mancha em anel do tomateiro) Comoviridae
Viróides
Australian grapevine viroid, AGVd (Viróide Apscaviroid,
1
Australiano da videira) Pospiviroidae
Grapevine yellow speckle viroid 1, GYSVd- Apscaviroid,
1
1 (Viróide do salpico amarelo da videira 1) Pospiviroidae
Grapevine yellow speckle viroid 2, GYSVd- Apscaviroid,
1
2 (Viróide do salpico amarelo da videira 2) Pospiviroidae
Vírus satélites
Grapevine Bulgarian latent virus satellite
RNA satélite,
RNA (RNA satélite do vírus Búlgaro latente 1
Subgrupo 1
da videira)
Grapevine fanleaf virus satellite RNA (RNA RNA satélite, 1
satélite do vírus dos entrenós curtos da Subgrupo 1
videira)
Doenças consideradas virais
Grapevine enation (Enação da videira)
Grapevine summer mottle (Mosqueado de
verão da videira)
Grapevine vein mosaic (Mosaico das
nervuras da videira)
Grapevine vein necrosis (Necrose das
nervuras da videira)
LN 33 stem grooving (Acanaladura do
lenho de LN 33)
(1) REGENMORTEL, M.H.V., FAUQUET, C.M., BISHOP, D.H.L., CARSTENS, E.B.,
ESTES, M.K., LEMON, S.M, MANILOFF, J., MAYO, M.A., McGEOCH, D.J.,
PRINGLE, C.R. & WICKNER. R.B. (Eds.). Virus Taxonomy - Classification and
Nomenclature of Viruses. 7th Report of the International Committee on Taxonomy of
Viruses. San Diego. Academic Press. 2000. 1162p.
(2) MARTELLI, G.P. Grapevine virology highlights 1994-97. In: 12 th Meeting of the
international council for the study of viruses and virus-like diseases of the grapevine
(ICVG). Extended abstracts. Lisbon, Portugal. 1997. pp.7-14.
(3) UYEMOTO, J.K., ROWHANI, A., LUVISI, D. & KRAG, C.R. New closterovirus in
'Redglobe' grape causes decline of grafted plants. California Agriculture 55(4): 28-31.
2001.

Tabela 2. Cultivares indicadoras de viroses da videira e o tempo necessário para a expressão de sintomas.
Expressão dos
Viroses / vírus causadores Indicadoras sintomas
(tempo máximo)
Cabernet
Franc
Complexo do enrolamento da folha
C. Sauvignon
Enrolamento da folha (leaf roll) (GLRaV-1 a 6 a 24 meses
Merlot
GLRaV-8)
Pinot Noir
Mission
Complexo rugoso
LN33
1. Intumescimento dos ramos (GVB) 3 a 18 meses
Kober 5BB
2. Kober stem grooving (GVA) 24 meses
Rupestris du
3. Rupestris stem pitting (RSPaV) 24 meses
Lot
4. LN33 stem grooving 24 meses
LN33
2, 3 e 4 = "caneluras"
Degenerescência da videira Rupestris du
2 a 18 meses
Grapevine fanleaf virus (GFLV) Lot
Necrose das nervuras
R 110 3 a 18 meses
Grapevine vein necrosis
Mancha das nervuras Rupestris du
3 a 18 meses
Grapevine fleck virus (GFkV) Lot

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