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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DE UM

DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DA COMARCA DE NATAL, ESTADO DO RIO


GRANDE DO NORTE, A QUEM ESTA COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL.

FREDERICO GALVANI HARCKBART CARVALHO, brasileiro, solteiro,


estudante, inscrito no CPF sob o nº 009.910.644-29, portador da Cédula de Identidade/RG
sob o nº 1638017, residente e domiciliado na Avenida Cap. Mor Gouveia, 2488, Cond.
Smile, Bloco Muriú, apto 63, Natal/RN, vem respeitosamente perante Vossa Excelência
propor:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

Contra a pessoa jurídica de direito privado DELL COMPUTADORES DO BRASIL


LTDA inscrita no CNPJ/MF sob o nº 72.381.189/0006-25, com sede na Avenida da
Emancipação n. 5000, Parque dos Pinheiros, CEP 13184-654, Hortolândia/SP, o que faz
pelos fatos e fundamentos jurídicos doravante articulados.

I - DOS FATOS

O autor adquiriu, em dezembro de 2014, um notebook fabricado pela empresa


requerida, modelo “Dell Vostro 5470”, no valor de R$ XX (valor escrito por extenso),
conforme faz prova nota fiscal em anexo, o qual até então tem o feito passar por inúmeras
dores de cabeça. O autor, inclusive, foi obrigado a procurar à assistência técnica
autorizada para realizar a troca da placa mãe do produto, há cerca de um ano, conforme
faz prova a ordem de serviço anexa a esta petição.

Ocorre que, há aproximadamente duas semanas, no dia/mês xx/xx/xx, o notebook


simplesmente PAROU DE LIGAR. O aparelho apenas aciona um LED – emissor de
luz – do painel, sem esboçar respostas às inúteis tentativas, como pode ser verificado nas
fotos juntadas à exordial. Ao entrar em contato com a empresa ora ré, esta informou que
o produto não está mais albergado pela garantia contratual, motivo pelo qual o autor seria
forçado a arcar com os altíssimos valores do conserto.

Nesta toada, a Dell cobrou um orçamento no valor EXORBITANTE de R$


1.534,77 caso o reparo fosse feito na residência do autor e R$ 1.200,40 caso o consumidor
enviasse à sede do suporte (sem inclusão o valor do envio)!

Ressalte-se, Excelência, que a demandada informou ainda a necessidade de trocar


a placa mãe (além da tela) do notebook, sendo que esta foi trocada há menos de um ano
no reparo interior!

O autor, ao longo desse tempo todo, sempre teve muito zelo pelo aparelho, de
modo que nunca levou nenhuma queda e, portanto, não apresenta marcas de tal. Dessa
forma, fica evidenciado tratar-se de vício oculto do produto, passível de tutela pela
garantia legal prevista no art. 26 do Código de Defesa do Consumidor.

O promovente informa ainda a Vossa Excelência que tentou por diversas vezes
resolver o problema no âmbito administrativo, através de várias conversas via e-mail,
telefone e chat, conforme documentos anexados a estes autos eletrônicos, mas que de
nada adiantou, isso contribuiu, ainda mais, para aumentar a frustração do autor.

Cumpre ressaltar que o promovente é estudante de medicina na Universidade


Federal do Rio Grande do Norte e, como tal, depende da disponibilidade de um
notebook, produto considerado essencial nos dias atuais, para dar seguimento às
suas atividades acadêmicas. Por conseguinte, encontra-se impedido de assistir vídeo-
aulas, receber e-mails importantes, acessar o Sistema Integrado de Gestão de Atividades
Acadêmicas (SIGAA), portal oficial das atividades da UFRN, e até mesmo de escrever
seu Trabalho de Conclusão de Curso.

Diante disso, não há dúvidas da ESSENCIALIDADE DO PRODUTO PARA


O REQUERENTE, justificando, além da RESTITUIÇÃO da quantia paga pelo bem
defeituoso, no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), UMA INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS no montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), decorrentes dos transtornos
causados pela parte ré.
Cansado e sem esperança de ver o seu problema resolvido na esfera
administrativa, foi então que o autor buscou a tutela jurisdicional e a guarida do Poder
Judiciário para dirimir o problema, em busca da aplicação da justiça no presente caso.

II – DO DIREITO

II.1 – DA EXISTÊNCIA DA RELAÇÃO DE CONSUMO

É indiscutível a caracterização de relação de consumo entre as partes,


apresentando-se a demandada como fornecedora do produto, portanto, fornecedora nos
termos do art. 3º do CDC, e o autor como consumidor, de acordo com o conceito previsto
no art. 2º do mesmo diploma.

Dessa forma, no contexto da presente demanda há possibilidades claras de


inversão do ônus da prova ante a verossimilhança das alegações, conforme disposto no
artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor.

II.2 – DA APLICAÇÃO DO ART. 18 C/C ART. 26, § 1°, DO CÓDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) prevê as hipóteses de


responsabilidade objetiva, ou seja, onde o autor deve provar o dano e o nexo causal, sendo
desnecessária a demonstração de culpa, nos termos do art. 18, § 1°, inciso I. Senão,
vejamos:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou


não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o
valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com
a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem
ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes
de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das
partes viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias,
pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em


perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço. (Grifos nossos).

Assim, cumpre esclarecer que a culpa da demandada resta bem demonstrada pela
má qualidade do produto que não apresenta o desempenho que dele legitimamente se
esperava, impondo-se o dever da requerida em restituir ao autor os valores pagos pelo
produto defeituoso.

No caso em tela, o autor possui, ainda que esgotado o prazo da garantia contratual,
90 DIAS adicionais para reclamar contra o vício do produto – por se tratar, na espécie, de
um bem durável, garantia legalmente prevista no art. 26 do CDC. Ademais, insta salientar
que a contagem do prazo para reclamação, nas hipóteses de VÍCIO OCULTO, inicia-se
após o vício torna-se evidente, conforme o parágrafo primeiro do aludido artigo. Veja-se:

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil


constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos duráveis. (...)

§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se


no momento em que ficar evidenciado o defeito. (Grifos nossos).

Neste mesmo sentido é a jurisprudência da 1ª Turma Recursal Cível do Egrégio


Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Ementa: CONSUMIDOR. NOTEBOOK. VICIO OCULTO.


INCOMPETÊNCIA AFASTADA. DEFEITO NA PLACA
PRINCIPAL - PLACA MÃE. DEVER DE RESTITUIÇÃO DO
VALOR DESPENDIDO. Existindo vício oculto que somente foi
detectado após o termino do prazo de garantia não há falar em
decadência a obstar a reclamação do consumidor, porquanto o
prazo passa a fluir somente após a constatação do vício.
Comprovado o vício e a impossibilidade de conserto, é devida a
restituição do valor pago pelo produto. RECURSO
DESPROVIDO. UNÂNIME. (Recurso Cível Nº 71004363479,
Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Pedro Luiz Pozza, Julgado em 24/09/2013). (Grifos nossos).

II.3 – DO DANO MORAL: PRODUTO ESSENCIAL NO CASO CONCRETO

O promovente está arrimado, para pleitear o seu direito, no artigo 5º, incisos V e
X da Constituição Federal, bem como nos artigos 186, 187 e 927, parágrafo único, do
Código Civil Brasileiro.

A jurisprudência pátria tem admitido, para casos de vício do produto, a concessão


da reparação por danos morais em se tratando de situação excepcional, quando
comprovada no caso em concreto a essencialidade do bem.

Dessa forma, não restam dúvidas que o autor, enquanto estudante de medicina que
necessita do acesso à internet, através do produto, para realização de diversas tarefas
acadêmicas – incluindo elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso, sem o qual não
se graduará (!!!) –, sofreu sérios transtornos que representaram abalos a seus direitos da
personalidade.

A corroborar com o exposto acima, mostra-se salutar trazer à baila notáveis


julgados das Colendas 1ª e 2ª Turmas Recursais Cíveis do Egrégio Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul:

Ementa: CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO.


NOTEBOOK. TROCA DO BEM PELA LOJA. NOVOS VÍCIOS
APRESENTADOS NO APARELHO TROCADO EM MENOS DE
UM MÊS DE USO. ENCAMINHAMENTO PARA A
ASSISTÊNCIA TÉCNICA. AUSÊNCIA DE CONSERTO.
IMPOSSIBILIDADE DE FRUIÇÃO DO BEM POR UM ANO.
DIREITO À RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO, NA FORMA DO
ART. 18, § 1º, INCISO II, DO CDC. PRODUTO ESSENCIAL
NO CASO CONCRETO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005028675, Segunda Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Vivian Cristina
Angonese Spengler, Julgado em 10/09/2014)

Ementa: CONSUMIDOR. COMPUTADOR. VÍCIO DO


PRODUTO CARACTERIZADO. PRODUTO NÃO
CONSERTADO MESMO DEPOIS DE DOIS
ENCAMINHAMENTOS À ASSISTÊNCIA TÉCNICA.
DANOS MORAIS EXCEPCIONALMENTE OCORRENTES.
QUANTUM INDENIZATÓRIO REDUZIDO. 1. Dano moral
excepcionalmente configurado, tendo em vista que o
computador é, hoje, um produto praticamente essencial para o
dia-a-dia das pessoas, bem como pelo fato de que, meses após a
compra, o problema da autora seguia sem solução. 2. Por ser
excepcional o cabimento da indenização, há de se reduzi-la de R$
2.000,00, para R$ 1.500,00, a fim de que restem observados os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Sentença
parcialmente confirmada por seus próprios fundamentos.
Recurso parcialmente provido. (Recurso Cível Nº 71003469145,
Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Ricardo Torres Hermann, Julgado em 12/04/2012)

Portanto, resta evidente o direito à indenização por danos morais causados pela
demandada DELL COMPUTADORES DO BRASIL LTDA, em face do requerente,
por cobrar valores exorbitantes para o reparo de bem indispensável, que já necessitou de
consertos em diversas outras oportunidades, representando uma grande frustração das
legítimas expectativas do autor, fatos estes bastante constrangedores e plenamente
plausíveis, tendo extenso amparo legal.
III - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência, os seguintes pleitos:

a) LIMINARMENTE conceder a tutela antecipada parcial, no


sentido de determinar que empresa Ré restitua o valor do produto,
acrescido de correção e/ou entregue ao Autor um novo notebook
com as mesmas características da máquina adquirida, no prazo de
5 (cinco) dias, sob pena de pagar R$400,00 (quatrocentos reais)
de multa diária;

a) A citação da empresa DELL COMPUTADORES DO


BRASIL LTDA, no endereço registrado no preâmbulo deste
feito, para, querendo, contestar a presente ação, sob pena de
revelia.

b) Requer a concessão da Justiça Gratuita, com fulcro na Lei


1.060/1950 e o inciso LXXIV do artigo 5º da CF/88, pois o
promovente é pobre na forma da lei.

c) Requer, outrossim, que a empresa ré seja condenada a pagar a


autora a importância de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de
reparação por danos morais, conforme exposição fática narrada
exaustivamente na causa de pedir, nos termos do artigo 5º, incisos
V e X CF/88 e, também, os artigos 186, 187 e 927 do Código
Civil Brasileiro.

d) Requer que a empresa promovida seja condenada a restituir a


promovente a quantia de R$ 3.860,00 (três mil, oitocentos e
sessenta reais), devidamente atualizada com juros e correção
monetária, referente ao valor pago pelo notebook defeituoso,
objeto da presente lide.

e) Por fim, requer mais ainda que a empresa promovida seja


condenada a pagar honorários e custas processuais, caso Vossa
Excelência entenda que a mesma litigue de má-fé durante a
tramitação deste processo, nos termos do artigo 55 da Lei
9.099/1995.

Protesta provar o alegado pelos meios de prova admitidos em direito

Dá-se à presente causa, o valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), para efeitos de
direito e alçada.

Nestes termos pede e espera deferimento.

Natal/RN, 20 de novembro de 2017.

FREDERICO GALVANI HARCKBART CARVALHO

CPF nº XXX.XXX.XXX-XX

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