You are on page 1of 27

Jyotiṣa

E
-
Ayurveda

O Conhecimento
da Luz e da Vida

2018
2
Jyotiṣa & Āyurveda
O Conhecimento da Luz e da Vida

Índice

Prefácio................................04
Prof. Erick Schulz

Jyotiṣa e Āyurveda..............07
Por Dr. Robert E. Svoboda

Bem X Mal............................13
Por Dra. Claudia Wech

Uma Luz Sobre a Vida.........21


Por Profª Margaret Mahan

Sobre os Autores.................25

Notas Editoriais...................26

2018
3
Prefácio
É com muita alegria e satisfação que escrevo este prefácio
do primeiro livro da editora Naradeva Prakashana. Além de
ser uma grande honra poder escrever em relação a textos
dos amigos(a)s e professores(as) Dr. Robert Svoboda, Dra.
Claudia Welch e Profª Margaret Mahan.
Jyotisha é uma das ciências ou grupos de conhecimentos que
se entrelaçam e formam o que chamamos de ciência, cultura
ou tradição védica. Entre elas, podemos citar, o próprio
Jyotisha, o Āyurveda, o Yoga, Vedanta, Tantra, entre outras
artes maravilhosas.
Sempre é bom relembrar e informar que, nenhuma dessas
artes conseguem caminhar sozinha, todas elas dependem
uma da outra e se completam entre si, formando um corpo
de conhecimento sem igual, sem começo, meio ou fim - um
conhecimento que já se perdura por mais de três mil anos e
assim vai continuar influenciando as pessoas no futuro, pois
trata-se de uma ciência inesgotável.
Conheci a Dr. Claudia Welch e a Profª Margaret Mahan
através do querido amigo e professor Dr. Robert Svoboda.
Durante muitos anos desejei conhecer e ter aulas
pessoalmente com ele, na verdade desde que li o seu livro
chamado Prakrit – o livro que fez mudar a minha visão sobre
Āyurveda e que plantou esse desejo de estar mais perto
dessa enigmática figura.
Depois de uma estada curta, mas muito importante do Dr.
Vasant Lad em nosso Instituto em 2009, me senti impelido
de desavergonhadamente pedir diretamente ao Dr. Lad que
entregasse meu e-mail ao Dr. Svoboda, a fim de conhecê-lo
pessoalmente.

4
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Para minha surpresa, algumas semanas depois o próprio Dr.


Svoboda me mandou um e-mail querendo me conhecer. Vale
a pena lembrar que eu já tinha tentado entrar em contato
com ele por outras vias por anos e ainda não tinha
conseguido.
Começamos a nos comunicar por e-mail, e então
combinamos de nos encontrar na Índia em janeiro de 2010.
Por uma coincidência do destino, naquele ano ele e a Dra.
Claudia Welch estariam no VaidyaGrama que é uma ecovila
ayurvédica, localizada próxima à cidade de Coimbatore.
Enquanto isso, eu estaria no AVP – The Arya Vaidya
Pharmacy, co-coordenando um curso avançado de Ayurveda,
cuja sede ficava também nos arredores de Coimbatore.
Assim, em um dia no mês de janeiro, fomos até o
Vaidyagrama e nos conhecemos pessoalmente.
Naquele momento já marcamos o curso avançado de
Ayurveda para mulheres que aconteceu em julho de 2010
com o Dr. Svoboda e Dra. Welch no Brasil, e a partir dali
começou uma enorme parceria e amizade que dura até os
dias atuais, com cursos, atendimentos, aulas, viagens,
ensinamentos, trocas e muitas risadas!
Em 2015, em decorrência do Congresso Internacional de
Ayurveda que aconteceu no Vaidyagrama, em meio a
diversas outras pessoas maravilhosas, eu conheci
pessoalmente a Profª Margaret Mahan, que até este
momento somente tinha ouvido falar por meio do próprio
Dr. Svoboda.
Neste mesmo congresso, conversando com todas essas
novas amizades, tive a clara impressão que eu precisava
fomentar o crescimento de um núcleo de estudos de
Jyotisha dentro de nosso Instituto, já que as parte de
Āyurveda e Yoga já estavam muito bem desenvolvidas.

5
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Estava bem claro para mim que o estudo do Āyurveda e


Yoga sem o JYOTISHA estaria incompleto, e foi ali que
tivemos a ideia de convidar a Margaret para fazer parte
deste time, junto com todos os outros professores de nosso
Instituto e toda equipe de amigos que o Dr. Svoboda foi nos
apresentando ao longo dos anos.
Escrever em relação a estas pessoas nunca é tarefa fácil, pois
são três pessoas incríveis que dedicaram, e ainda dedicam, a
sua vida a estudar e passar o conhecimento adiante.
Conheci ambas Claudia e Margaret através do Dr. Svoboda,
que creio dispensar apresentações. Como alunas dele e de
outros excelentes professores, elas sempre me
apresentaram um alto grau de conhecimento em Jyotisha e
ciências afins. É por este motivo que reunimos neste e-book
artigos maravilhosos dos três professores(as) que temos
certeza que vocês irão adorar.
Este material que chega agora para vocês é um material
único que dará uma nova perspectiva do que é o JYOTISHA e
como ele funciona.
Leiam com muita atenção os textos e lembrem-se que o
estudo de Jyotisha é de mais de uma vida, portanto, daqui
em diante, estamos apenas começando.
Que a Luz do Jyotisha possa acender dentro do coração de
cada um de vocês!
Namaskaram

Profº Erick Schulz


Diretor do Instituto Naradeva Shala
Editor do Naradeva Prakshana Editorial
6
7
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

A vida é ação. Todos os seres vivos agem incessantemente,


cessando suas atividades somente quando o prana deixa os
seus corpos. A palavra em sânscrito para ação é karma e, de
acordo com a Lei do Karma, que é expressa pela Terceira Lei
de Newton em termos que se aplicam em todas as
dimensões da existência, cada ação gera uma reação,
geralmente igual e oposta.
As condições de hoje são os resultados dos karmas de
ontem, e as ações de hoje dão luz aos nossos amanhãs. Os
resultados das ações dos nossos ancestrais também recaem
sobre nós, assim como cada um de nós é parcialmente
responsável pelos karmas mútuos que foram e estão sendo
realizados por aqueles com quem convivemos em nossos
bairros, cidades e sociedades.
Cada um de nós nasce com um determinado potencial para
ter uma saúde boa ou ruim, um potencial que sofre
influência daquilo que herdamos dos nossos antepassados,
da cultura em que nascemos, e das ações que praticamos em
vidas passadas. Enquanto alguns padrões de saúde são mais
fortes e mais arraigados do que outros, e, portanto, mais
“fadados” a serem vivenciados, outros são mais maleáveis.
Podemos trabalhar com esses padrões adotando novas
ações para melhorar nossas circunstâncias – contanto que
pratiquemos tais novas ações com habilidade e nos
momentos apropriados. É nesta ocasião que um mapa dos
nossos karmas – aquilo que a ciência Indiana da divinação
conhecida como Jyotiṣa busca oferecer – pode tornar-se um
novo item valioso para a nossa caixa de ferramentas de
saúde.

8
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

O Jyotiṣa surgiu na Índia como um vedanga, um “braço” ou


ramo do Sistema Védico que trouxe insights aos
sacrificadores sobre a natureza dos espaços sobre nós, o
qual eles dividiram em constelações lunares, chamados de
nakshatras.
Estudando a maneira que os atributos daquelas divisões de
espaço, e os movimentos do sol e lua dentro daqueles
espaços, refletiam em experiências terrestres, os
especialistas Védicos eram capazes de selecionar, de maneira
vantajosa, as horas e locais de acordo com os propósitos dos
seus rituais.
Além dos nakshatras clássicos, o Jyotiṣa também reconhece
rashis (constelações solares) e bhavas (casas astrológicas), e
também considera cuidadosamente as posições de nove
grahas.
Esse grupo de “Nove Agarradores” (a palavra graha
literalmente significa “aquele que agarra” ou “aquele que
captura”) consiste de cinco planetas visíveis (Mercúrio,
Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), os dois luminares (Sol e
Lua), e Rahu e Ketu, os chamados nodos norte e sul da lua
(os pontos onde a órbita da terra em torno do sol intercepta
a órbita da lua em torno da terra).
Cada graha é um devata (deidade) que quando ativado nos
prende em suas garras e nos induz a exibir algumas das suas
características.
Cada graha, portanto, tem um impacto particular sobre nós,
para melhor ou pior.

9
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Embora alguns grahas sejam relativamente mais


benevolentes e outros mais malevolentes, apenas dois
podem ser referidos como verdadeiramente “benéficos”:
Júpiter e Vênus. Mas mesmo esses grandes benéficos
podem, quando mal posicionados em um mapa natal, gerar
resultados indesejáveis.
Similarmente, dependendo de suas posições, os maléficos
primários Saturno, Marte, Rahu e Ketu podem ser
relativamente mais ou menos negativos para a nossa saúde
(pois os maléficos raramente são positivos ou mesmo
benignos em termos do seu impacto fisiológico).
Mercúrio pode agir como benéfico ou maléfico dependendo
dos outros grahas com os quais estiver associado, e a Lua é
benéfica quando estiver brilhante (particularmente quando
estiver crescente), e maléfica quando escura
(particularmente quando decrescente).
Um horóscopo natal é um mapa do prarabdha de um
indivíduo, aquela porção dos karmas do nativo que fizeram
com que ele ou ela nascesse sob a influência de um padrão
específico de grahas em um lugar específico e em um
momento específico.
Um jyotishi experiente examinará tanto a carta natal como a
carta horária, um mapa que mostra onde os grahas existem
no momento da avaliação da pessoa, para poder extrair
informações que possam dar perspectivas importantes sobre
a condição daquele indivíduo.

10
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Os jyotishis geralmente fazem suas leituras em relação aos


Nove Grahas, dos quais Saturno é frequentemente
considerado o mais importante.
Saturno (em sânscrito Shani, ou Manda), o graha de
anubhava (experiência), simboliza todas aquelas coisas da
vida que você gostaria de evitar mas não consegue, todas
aquelas experiências que está fadado a viver: insatisfações,
desilusões, perdas, doenças, velhice, morte. Enquanto
Saturno pode indicar doença de modo geral, ele
particularmente significa doenças crônicas, especialmente
aquelas de predominação vata.
Outro graha com forte promoção de vata é Rahu,
representado pela cabeça de um asura cuja cauda é
conhecida como Ketu.
Sendo Rahu uma cabeça desprovida de corpo, ele está
eternamente faminto, pois tudo que come (incluindo
especialmente o sol ou a lua no momento de um eclipse) sai
de seu pescoço sem ser digerido.
Rahu, portanto, promove a instabilidade, confusão, e uma
sede insaciável por tudo e qualquer coisa. De certa maneira,
Rahu é a criança propaganda para a existência moderna,
milhões de pessoas sentadas imóveis enquanto olham para
as suas telas, presas firmemente em suas garras, sugando
imagens e sons da internet, com um eterno desejo por mais,
mais, mais.

11
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Como o vaidya oferecendo tratamento Ayurvédico, o


jyotishi pode dar recomendações para upayas, ou remédios,
específicos que podem ser executados para pacificar um
graha com configurações problemáticas (e portanto
kármicas).
Na verdade, Āyurveda e Jyotiṣa (que são dois galhos do ramo
da filosofia Indiana Sankhya) têm, historicamente, sido
usados conjuntamente para ajudar a superar problemas de
saúde, até um momento quando o Jyotiṣa passou a ser visto
como “superstição” ao invés de um modelo de realidade e
experiência humana não limitado ao mundo material.
Esperamos que essa conferência seja um primeiro passo na
jornada para trazer o Jyotiṣa de volta ao seu devido lugar ao
lado do Āyurveda, para o benefício de todos os seres
senscientes.
Tathastu!
Este artigo apareceu no brochura-souvenir do programa da 5ª
Conferência Internacional de Āyurveda, em 2015.

Por Dr. Robert E. Svoboda

12
13
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Bem X Mal; Devas X Asuras; Planetas Bons X Planetas


Maus: Se somos científicos, por que deveríamos nos
importar com coisas como mitos, filmes e astrologia?

Alguns meses atrás, eu estava lendo sobre como um dos


grandes Deuses Hindus (Brahma) estava repleto de luxúria
pela sua própria filha. Ela tentava fugir do seu campo de
visão, mas ele continuava criando novas faces para que ele
pudesse continuar olhando para ela dessa maneira
horripilante.
Existem várias estórias envolvendo os deuses – até mesmo
os Grandes e Importantes, fazendo coisas horripilantes.
Recentemente estive contemplando a diferença entre
deuses ou devas (geralmente considerados seres etéreos
benevolentes) e asuras (geralmente considerados seres
etéreos malevolentes). Assim como escrevi para um amigo,
“Afinal, todos eles dizem ‘se você me propiciar
suficientemente eu tornarei a sua vida grandiosa e se você
me desrespeitar eu te causarei grande sofrimento.’ E todos
se envolvem em encontros sexuais sorrateiros com pessoas
que não deveriam ou matam uns e enganam outros. Então,
qual a diferença? Alguma opinião?”
Meu amigo me respondeu, dizendo que ele ouviu dizer que a
diferença era que os devas estavam interessados em
mokṣa (liberação espiritual) enquanto que o asuras não. Eu
concordei com aquilo, mas ainda sentia que aquela questão
ainda não me deixaria em paz. Ela me incomodou, se é que
essa é a palavra certa.

14
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Durante a semana que meu amigo Dr. Robert Svoboda e eu


estávamos lecionando juntos em um curso sobre os Planetas
no Vaidyagrama, pois estávamos falando sobre os planetas
e, entre outras coisas, sobre os seus papéis no Jyotiṣa
(astrologia indiana) e Āyurveda. E existe muita sobreposição
entre os planetas e entre os devas e asuras.
Assim como os devas e asuras, alguns planetas são
considerados “bons” e outros “maus”.
Por exemplo, geralmente aprendemos que Júpiter incorpora
as qualidades de professor, preceptor, sabedoria, expansão,
terra, doces, etc. “Ele” também é considerado como o guru
dos devas – os “mocinhos”.
Muitas coisas “boas” são associadas a Júpiter. Coisas boas
são também associadas a Vênus. À Lua, às vezes. E Mercúrio,
contanto que ele esteja presente em boas situações e em
boa companhia.
Saturno, por outro lado, é considerado feio, coxo, lento,
assustador e exigente em sua libertação das dificuldades (na
realidade, ele está apenas garantindo que colhamos aquilo
que nós mesmos plantamos, mas isso é algo que ninguém
almeja, quando é chegada a hora de colher os espinhos que
semeamos). Saturno é associado com coisas “ruins”. Assim
como Marte, Rahu e Ketu (que são nodos, não planetas
reais, mas deixemos isso de lado por enquanto). E o Sol e a
Lua, às vezes. E Mercúrio, às vezes.

15
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Quando vamos ao cerne da questão, fica difícil diferenciar


os devas dos asuras e os planetas. Considere esses “fatos”:
• Venus é considerado o filho de Shiva;
• Marte também é filho de Shiva ou de Parvati (dependendo
da estória que você ler);
• Saturno é filho do Sol;
• Mercúrio é filho do Lua;
• Jupiter é neto de Brahma;
• Kaśyapa Ṛṣi é pai de todos os asuras e devas, que nasceram
de suas duas esposas: Aditi e Diti;
• Aditi, que significa “não dividida”, uma das esposas de
Kaśyapa Ṛṣi, é mãe dos devas e deidades, incluindo as
estrelas, constelações e planetas;
• Diti, que significa “partida, dividida”, também é esposa de
Kaśyapa Ṛṣi, é mãe dos asuras.
Quando iniciamos o aprendizado sobre Jyotiṣha, vimos que
os planetas se revezam na governança de nossas vidas.
Começamos a temer os turnos dos planetas “maus” e ansiar
pelo turno dos planetas “bons”.
Mas os asuras e devas são meio irmãos e os planetas se
misturam entre si e entre os asuras, deuses e deusas a tal
ponto que fica difícil separar os bons dos maus. Talvez seja
ainda mais difícil do que decidir se devemos torcer para Rey
(Daisy Ridley) ou Kylo Ren (Adam Driver) no filme Star Wars:
O Despertar da Força.

16
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Certamente, qualquer pessoa que tenha estudado um


pouco de Jyotiṣa reconhece que os planetas brutos não são
ao todo maus, é claro.
Considere, por exemplo, que Saturno é também o planeta do
discipulado. Por meio da disciplina, muito é alcançado e
purificado.
Marte, além de indicar raiva e irritabilidade pode também
indicar motivação e coragem. Muitas coisas “boas” são
associadas a planetas “maus”.
Mas, com frequência, essas coisas boas são resultados de
dificuldades. Por exemplo, você poderia escrever uma
redação para o ensino fundamental sobre “o que aprendi
com o meu momento difícil” e as “valiosas” e ”boas lições”
que emergiram, mas aquelas coisas “boas” foram
subprodutos das coisas “ruins”.
Assim como os planetas “maus” não são ao todo maus, os
planetas “bons” nem sempre são tão bons assim. Veja
alguns exemplos:
• Júpiter, considerado o mais benéfico dos planetas do
zodíaco, uma vez tomou a esposa de seu irmão à força
(isso é chamado de “estupro” em uma linguagem mais
direta);
• O Lua (que é oras benéfico e oras nem tanto) fugiu com a
esposa de seu guru, que é Júpiter. O Lua tem um caso um
tanto sério com a esposa de Júpiter. Foi assim que
Mercúrio foi concebido;
• Vênus, o segundo planeta mais benéfico do zodíaco é …
atenção … o guru dos asuras (os “bandidos”).

17
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Então, a questão persiste: qual é a diferença entre os


mocinhos e os bandidos, quando não somos capazes de
necessariamente decifrar essa diferença por meio de suas
ações?
Em um dos meus primeiros dias no Vaidyagrama, meu amigo,
Erick Schulz, me emprestou um livro. My Gita (Minha Gita),
de Devdutt Pattanaik. Trata-se de uma reflexão sobre a
Bhagavad Gita — um dos textos espirituais preeminentes na
Índia, e deixei o livro largado pelo meu quarto por alguns
dias, quando eu decidi pegá-lo e abri nessa exata passagem:
“Vishnu atribui maior valor aos devas sobre os asuras,
pois os devas olham para além do material, pelo menos
por algum tempo. Tanto os Pandavas como os
Kauravas estão brigando por propriedade, mas ao
menos Arjuna está ouvindo sobre as possibilidades que
existem além.” (p. 129)
Apesar de ser apenas a opinião do Sr. Pattanaik, eu achei
notável o fato de que abri exatamente nessa página sendo
que essa era exatamente a questão que me perseguia, e por
isso eu talvez tenha encontrado mais significado na
passagem do que teria em outras circunstâncias. Eu segui
lendo que os asuras estão confinados a prestarem atenção
ao linear e mensurável, enquanto que os devas prestam
atenção também às possibilidades metafóricas e não
mensuráveis.
A partir desse ponto de vista, de qualquer forma, a diferença
entre os devas e asuras, entre bom e mau, é a disposição de
se fazer aberto às possibilidades que não conseguimos
necessariamente mensurar.

18
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Para mim, isso deu um significado à conferência da qual


estamos participando – A 5ª Conferência Internacional em
Āyurveda, em que a Ciência encontra a Consciência:
Explorando a Interconectividade entre o Homem e a
Natureza.
Ao menos uma organização havia apresentado críticas que,
enquanto tentavam distanciar Āyurveda de Yoga
(presumidamente para conseguirem um maior
reconhecimento do Āyurveda em círculos ocidentais mais
científicos), cá estamos não apenas dando continuidade à
associação entre os dois, mas também incluindo assuntos
tão etéreos e “não científicos” como Jyotiṣa e Vāstu Śāstra
(o Feng Shui indiano) na nossa discussão sobre medicina.
Nesse mesmo contexto, eu recebi recentemente uma crítica
a respeito do meu novo livro, How the Art of Medicine Makes
the Science More Effective : Becoming the Medicine We
Practice (Como a Arte da Medicina Torna a Ciência Mais
Eficiente: Tornando-nos a Medicina que Praticamos) em que
um leitor comentou que achou algumas das estórias que eu
incluí “difícil de acreditar” e com base nisso, atribuiu uma
classificação mais baixa ao livro do que ele poderia ter
avaliado.
Eu não dou esses exemplos para receber e-mails me
consolando, dizendo quão erradas tais críticas são (ou sobre
o quão corretas são). Eu os incluo aqui para oferecer uma
oportunidade para explorarmos o porquê de alguns
profissionais de saúde talvez incluírem o Jyotiṣa ou outras
ciências aparentemente etéricas em uma discussão séria
sobre medicina e saúde.

19
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Não é necessário que se acredite em Jyotiṣa ou mitos para


se praticar Āyurveda. Mas, podemos incluir esses tópicos em
nossas explorações porque estamos dispostos a explorar
possibilidades além do mensurável, literal, aparentemente
racional.
As possibilidades podem ser, conforme sugere o Sr.
Pattanaik, uma avaliação de Krishna, a passagem para uma
abordagem daivica (benéfica, assemelhada a deva) à vida.
Pode ser imprudente – certamente inútil – nos deixarmos ser
tão consumidos pela nossa ideia de ciência médica que nos
fecha para a possibilidade.
Praticantes de medicina (ou astrologia) trabalham com o
sofrimento. Independentemente da modalidade de medicina
que praticamos, vemos que seus limites são mensuráveis e
“racionais” quando se trata de abordar tal sofrimento com
eficiência. Uma maneira de praticarmos a abertura de nossas
mentes à possibilidade de uma Realidade maior que nossa
ideia Dela, é explorar o território esotérico associado com
mitos, estórias ou astrologia.
Isto nos permite cogitar possibilidades de cura
anteriormente inesperadas ou inimagináveis. Como eu
discuto em maior profundidade no livro novo, se confiarmos
na Possibilidade, a nossa confiança poderá até exercer um
efeito positivo no processo de cura dos nossos pacientes.

Por Dra. Claudia Wech

20
21
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Os sábios da Índia antiga, que escreveram os VEDAS (os


textos vivos mais antigos do planeta, datando de
aproximadamente 2.500 anos), também criaram a belíssima
língua clássica da Índia, o Sânscrito. Jyotiṣa, em sânscrito,
significa “o estudo da luz” e essa simples frase diz muito
para quem atualmente estuda e pratica Jyotiṣa.
O que é Jyotiṣa? Entre outras coisas, é a astrologia,
astronomia, matemática e quiromancia da Índia.
Um Jyotishi é um astrólogo, alguém que estuda as luzes
celestes para entender e ajudar as pessoas a entenderem o
“mapa Karmico” de suas vidas.
Nós estudamos e memorizamos milhares de versos em
textos antigos (com até 1.500 anos), ouvimos nossos
mestres, invocamos orientação para a nossa compreensão
dos giros da Roda do Karma para cada indivíduo que
conhecemos.
Na Índia e, agora, nas Américas, Jyotiṣa é parte de uma
tradição intocada que data à Antiguidade, antes da Era dos
livros. Uma tradição cujo papel é usar e encontrar significado
em uma carta natal como uma fotografia da vida de uma
pessoa na encarnação atual. Jyotiṣa é a ferramenta para
compreender e analisar o Karma. O Karma é forte e fixo, ou
não fixo e, portanto, passível de prescrições para mudança?
Como pode uma pessoa fazer o melhor uso daqueles
indicadores kármicos que são fixos?
Em qual momento ocorrerá a maturação dos diversos
Karmas que, então, se tornarão frutos prontos para serem
consumidos?

22
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

A tradição é profundamente inserida no conhecimento e


cultura clássicos da Índia, que engloba a Lei do Karma, e as
ideias básicas que são os quatro objetivos da vida – Dharma,
ou seu real propósito; Artha, ou dos recursos financeiros;
Kama, ou dos desejos; e Moksha, ou liberação. É na busca
desses quatro objetivos que um indivíduo age e, por meio
dessa ação, cria diversos tipos de Karma.
Isso acontece porque a Lei do Karma é, na realidade, a
Terceira Lei de Newton, que estabelece que para cada ação
existe uma reação igual e oposta. Um pêndulo se desloca e
volta para o mesmo lugar, sobre o mesmo eixo de onde
partiu.
As pessoas devem agir para viver (até mesmo a respiração é
um tipo de Karma ligando aquele que respira com o ar que é
respirado) e, por causa dessas ações, existem diferentes
tipos de Karma – algumas coisas assumimos para nós pelo
nosso livre arbítrio e outras que vivenciamos como
“destino”.
Os Karmas considerados “destino” são o pêndulo retornando
ao lugar de onde partiu originalmente, o que pode não
mostrar uma reta visível para a pessoa que o vivencie. Por
essa razão, dizemos que muitos Karmas são “adrstha”, ou
não visível. O Jyotiṣa tem a missão de ajudar a tornar aquilo
que é não visível em visível (drstha).

23
Jyotiṣa & Āyurveda: O Conhecimento da Luz e da Vida

Como na Índia existe um interesse antigo por entender


como livrar-se do que é visto como uma prisão à Roda do
Karma, as pessoas, até recentemente, possuíam um
interesse maior em aprender como agir em suas vidas de
maneira que produzisse menos Karma de modo geral, em
como trabalhar com os aspectos que são difíceis de mudar e
o que esperar em termos do pêndulo que vai e vem.
Eles compreendem que a carta natal e outras ferramentas do
Jyotiṣa lhes darão aquele insight que os permitirá planejar e
trabalhar em direção a melhor vida possível, causando o
menor “dano” kármico possível. O astrólogo tem o dever de
prover tal insight.
À medida que a Índia “ocidentaliza”, cada vez mais, é
interessante assistir suas tradições sagradas abrirem
caminho até a Europa, América do Norte e, agora, América
do Sul. Todos que estudam e praticam essas ciências
sagradas esperam que elas encontrem um bom suporte aqui,
mesmo que sejam gradualmente adaptadas para acomodar
novos públicos, alunos e clientes.

Por Profª Margaret Mahan

24
Sobre os Autores
Dr. Robert E. Svoboda (Estados Unidos)
Formado em Medicina Ayurveda e Cirurgia, É
o primeiro Ocidental a se formar em uma
faculdade de Ayurveda e assim ser licenciado
para a prática do ayurveda na Índia. Venceu
diversos prêmios da área e desde 1985 viaja o
mundo realizando palestras, ministrando
consultoria ensinando e escrevendo. Dr.
Robert Svoboda é sem sombra de dúvida a
maior autoridade ocidental do Ayurveda.
http://www.drsvoboda.com

Dra. Claudia Welch (Estados Unidos)


Dra. em medicina oriental, iniciou seu estudo
de Ayurveda em 1987, sub a tutela do Dr.
Robert Svoboda. Atualmente é membro do
corpo docente do Instituto de Ayurveda de
Albuquerque, Novo México (USA). Dra Welch
é autora dos livros: Balance your hormones,
Balance tour life e How the Art of Medicine
Makes the Science More Effective: Becoming
the Medicine We Practice.
http://drclaudiawelch.com/

Profª Margaret Mahan (Estados Unidos & Canadá)


Margaret Mahan começou a estudar
Ayurveda para sua própria cura em meados
da década de 1980. Trabalhou com Dr. Robert
Svoboda e Hart de Fouw. Além dos estudos e
práticas em cursos de Jyotisha e Vaastu,
lecionou em vários locais na América do
Norte e Central e atualmente atua no Brasil.

25
Notas Editoriais

NARADEVA PRAKASHANA EDITORIAL

O Editorial Naradeva Prakshana surgiu da necessidade de boas


publicações do mundo de cultura védica em língua portuguesa,
e essa é a principal atividade de nosso editorial: publicar livros,
revistas e artigos em português, traduções dos principais livros
do gênero e dar a oportunidade para novos autores e autoras
brasileiros editarem suas obras.

O Naradeva Prakshana é um dos braços do já renomado


Instituto Naradeva Shala que foi fundado em 1994 e nos dias
atuais é reconhecido tanto em território nacional quanto
internacional, como uma referência em Escola de Āyurveda e da
Cultura Hindu e Védica no Brasil.

Através deste e-book o Instituto Naradeva Shala oficializa a


criação do Editorial Naradeva Prakshana.

Obrigado por ler uma de nossas publicações.

Namaskaram

Profº Erick Schulz


Diretor do Instituto Naradeva Shala
Editor do Naradeva Prakshana Editorial
26
Jyotiṣa
E
-
Ayurveda
O Conhecimento da Luz e da Vida
Tradução autorizada pelos autores dos textos que possuem
Copyright total.

Copyright da edição em língua portuguesa:


Naradeva Prakashana Editorial – São Paulo/SP – Brasil

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em
parte constitui violação de direitos autorais. (Lei. 9.610/98)

Coordenação Editorial: Erick Schulz (www.naradeva.com.br)


Tradução: Luisa Caliri
Revisão: Luisa Caliri, Erick Schulz e Sabrina Alves
Arte de Capa: Leo Larcher
Diagramação: Leo Larcher

2018

You might also like