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Fundamentos de

Sociologia Aplicada às
Organizações
Material teórico
Positivismo, Marxismo e Sociologia Compreensiva
Positivismo, Marxismo e
Sociologia Compreensiva

Nessa unidade, vamos tratar do tema “Positivismo,


Marxismo e Sociologia Compreensiva”.

Trataremos do “Positivismo”: primeiro modelo teórico


aplicado ao estudo da sociedade e dos fenômenos sociais.

O Positivismo tem grande importância para o


pensamento social no Brasil, pois muito influenciou alguns de
nossos pensadores, principalmente, os do século XIX e início do
século XX.

Trataremos também do tema “Marxismo”, não só uma


das mais expressivas correntes teóricas dentro das Ciências
Humanas, não apenas da Sociologia; mas indubitavelmente da
mais significativa força política que ascendeu da nova ordem
industrial da primeira para a segunda metade do século XIX.

Já a parte final, que trata de Max Weber, aborda um


nome de grande importância dentro do pensamento social.
Suas contribuições teóricas criaram as bases da Sociologia
moderna, juntamente com Durkheim e Marx.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Material Teórico

O Positivismo e os Primeiros Movimentos Sociológicos

Quando falamos em pensamento sociológico, podemos dizer que a primeira corrente


teórica sistematizada foi o positivismo, para demonstrar e definir a particularidade do estudo
científico da sociedade, distinguindo-se das demais ciências existentes e definindo os
contornos de uma nova ciência, cujo objeto primordial anunciava-se como a sociedade. Com
isso, o positivismo definiu o objeto, o método e os conceitos fundamentais da nova disciplina.
A sociologia desenvolveu-se quando a racionalidade das ciências naturais alcançava status de
substituta da religião e da tradição na explicação do mundo e da realidade, trata-se do
chamado cientificismo.

O cientificismo caracteriza-se pela crença no poder absoluto, e praticamente


exclusivo, da razão humana para compreender a realidade e traduzi-la sob a
forma de leis naturais. Tais leis representariam regras para o funcionamento e
desenvolvimento da natureza e do ser humano. “O emprego sistemático da
razão, do livre exame da realidade, representou um grande avanço para
libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição e da ‘revelação’”...

(MARTINS, 1990, P. 18)

Podemos dizer que o positivismo foi, enquanto teoria que propôs uma ciência da
sociedade fundada a partir de um modelo científico natural, fruto do movimento iluminista,
mesmo frente ao fato de seu principal formulador, Auguste Comte, vê-lo como reação às
ideias revolucionárias do Iluminismo.

Foi provavelmente o francês Condorcet (1753 -1794) o primeiro a formular a proposta


de uma ciência da sociedade estruturada conforme o modelo das ciências naturais, uma
matemática social, isto é, precisa, numérica e rigorosa que permitiria um conhecimento
verdadeiramente objetivo dos fatos sociais. Segundo Condorcet, toda ciência e conhecimento
sobre a sociedade, até então, estiveram submetidos aos interesses e preconceitos das classes
poderosas. Esta seria uma marca do positivismo, já colocada por Condorcet, a ciência da
sociedade, assim como as ciências naturais, deveria desvencilhar-se das paixões e dos
interesses, elementos que perturbam a produção do conhecimento.

O primeiro a utilizar o termo positivo ao tratar dessa nova ciência, ao propor uma
ciência positiva, foi Saint-Simon (1760-1825), discípulo direto de Condorcet do qual
apreendeu parte de suas principais ideias. Saint-Simon buscou inspiração em outra ciência
natural que se destacava no período, a biologia; por sua vez, sua ciência da sociedade teria
por modelo a fisiologia, uma espécie de fisiologia social.
A ideia de que a ciência e a razão seriam capazes de captar a dinâmica das sociedades
e de que existiriam leis naturais regulando seu desenvolvimento vai ganhando força durante o
século XVIII e, aos poucos, minando os antigos princípios de autoridade oriundos da tradição
e da religião. Neste momento, diversos pensadores conservadores, voltados a restabelecer o
passado, consideram que o caos e a ausência de moralidade e solidariedade que as
sociedades nascidas das duas grandes revoluções (francesa e industrial) revelavam eram fruto
do enfraquecimento das antigas instituições protetoras, destacadamente a Igreja, que haviam
promovido e sustentado a estabilidade e a coesão social anteriores.

Ao promover a Revolução
Francesa com a qual
alcança o almejado poder
político a burguesia deixa
de ser uma classe
revolucionária para se
tornar a classe dominante
na França.

A desordem e a anarquia
social denunciada por
diversos pensadores
correspondem aos novos
conflitos gerados agora
entre a burguesia e o
proletariado.
Fonte: HULTON DEUTSCH/Stock Photos

Comte e o Positivismo

A transição do positivismo de concepção crítica e de oposição à ordem estabelecida


para filosofia da ordem e da harmonia social completou-se com Auguste Comte (1798-1857).
Discípulo direto de Saint-Simon em seus primeiros anos de estudo, rompeu com seu mestre
por considerá-lo, juntamente com Condorcet, demasiadamente crítico e negativo. Na
concepção comteana, o pensamento teria que ser totalmente positivo, não havendo dimensão
crítica ou negativa na análise social, acreditando que Condorcet não descobriu, como ele fez,
as leis da sociologia devido a sua postura e preconceitos revolucionários.

Comte, com o positivismo, foi o primeiro a sistematizar o pensamento sociológico,


definindo seu objeto, estabelecendo conceitos e métodos de investigação. Acreditava no
poder exclusivo da razão, sua capacidade de conhecer a realidade e traduzi-la na forma de
leis naturais; tais leis permitiriam regular e controlar o comportamento e a vida humana.
Inicialmente, Comte denominou a sociologia de física social, sob a influência do êxito e
reconhecimento obtidos pelas ciências naturais, aplicando seus métodos de investigação às
ciências da sociedade.
Conforme indicou Löwy (1985), são três as ideias principais do positivismo:

1. A hipótese fundamental de que a sociedade humana é regulada por leis naturais,


portanto, invariáveis e independentes da vontade e da ação humana. Assim como a lei
da gravidade, não é possível impedir ou modificar as leis da sociedade. Deste modo, “o
que reina na sociedade é uma harmonia semelhante à da natureza, uma espécie de
harmonia natural” (LÖWY, 1985, p. 36)

2. Em consequência da primeira hipótese, os métodos e procedimentos para se conhecer


a sociedade são exatamente os mesmos utilizados para conhecer a natureza.

3. Assim como as ciências da natureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de
valor, também as ciências da sociedade devem funcionar segundo este modelo de
objetividade científica

A idéia fundamental do método positivista é de que a ciência só pode ser objetiva e


verdadeira quando eliminar totalmente qualquer interferência de preconceitos e prenoções.
Para os positivistas, portanto, as ciências sociais não teriam vínculo com classes
sociais, posições políticas ou ideologias.

Ao estudar a história da humanidade para compreender melhor as leis que regulam seu
desenvolvimento, Comte, herdeiro das idéias de Condorcet de que a humanidade está em
permanente desenvolvimento ou evolução, formulou o que chama de lei fundamental,

“Essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada
ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados de
históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato,
estado científico ou positivo. Em outros termos, o espírito humano, por sua
natureza, emprega sucessivamente, em cada uma de suas investigações, três
métodos de filosofar, cujo caráter é essencialmente diferente e mesmo
radicalmente oposto (...) Daí três sortes de filosofia que se excluem
mutuamente: a primeira é o ponto de partida necessário da inteligência
humana; a terceira, seu estado fixo e definitivo; a segunda, unicamente
destinada a servir de transição” (COMTE, 1983, p. 4)

Para Comte, nesta evolução do pensamento e das ciências a Sociologia representa o


ápice do desenvolvimento, o coroamento do pensamento científico, é a ciência capaz de
coordenar e condensar o saber das demais ciências. De acordo com a lei dos três estados,
portanto, todas as ciências e o espírito humano desenvolvem-se a partir de três fases, são
eles:
• Estado teológico: neste momento, a explicação da realidade ocorreria a partir da
crença na intervenção de seres sobrenaturais, exercedo papel relevante de coesão
social.

• Estado metafísico: a metafísica impõe o abstrato na explicação dos fatos, não a


natureza, bem como a argumentação no lugar da imaginação. O espírito metafísico
corresponderia à substituição dos reis pelos juristas, compreende-se a sociedade como
originária de um contrato.

• Estado positivo: neste momento do desenvolvimento das ciências ocorreria a


subordinação da imaginação e da argumentação à observação dos fatos concretos.
Cada observação deveria, necessariamente, corresponder a um fato.

Para Comte, representando os novos interesses da burguesia interessada na ordem, as


sociedades européias estavam em estado de profundo “caos social”. Crítico das idéias
iluministas, viu nelas o “veneno da desintegração social”, ou seja, ideias iluministas, na
sociedade industrial, somente poderiam levar à desunião entre os homens. Para superar esta
situação seria necessário atingir e estabelecer definitivamente o “estado positivo”, deixando
para trás os preconceitos e noções equivocadas, fruto da imaginação ou do fervor religioso, e
estabelecendo definitivamente o domínio da ciência e da razão.

Comte vê os estados
teológico e metafísico
como etapas necessárias
ao desenvolvimento da
humanidade, mas sua
perpetuação causa
entraves à ciência e ao
verdadeiro conhecimento
do real

O estado positivo
deve estabelecer sua
superioridade
HULTON DEUTSCH/Stock Photos

De acordo com Comte, com a supremacia do estado positivo e da ciência estabelece-se


como consenso que não deve haver liberdade de consciência com relação às questões sociais.
Assim como na física, na matemática e na biologia, cabe aos sábios determinar os princípios.
Aos sociólogos cabe a análise isenta da realidade e a elaboração das medidas necessárias à
sociedade, ao Estado cabe a execução destas medidas.
Durkheim: Fatos Sociais, Solidariedade e Coesão

Mesmo com o reconhecimento devido a Comte por sua contribuição para a instituição
da Sociologia enquanto ciência, foi sem dúvida Émile Durkheim (1858-1917) um dos
pensadores que mais contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência empírica e
para sua instauração no meio acadêmico, tornando-se o primeiro professor universitário dessa
disciplina. Ele é referência metodológica obrigatória de boa parte da literatura positivista na
área das ciências sociais.

A Sociologia pode ser definida, segundo Durkheim, como a ciência das instituições, da
sua gênese e do seu funcionamento. Na fase positivista que marca o início de sua produção,
considera que, para tornar-se uma ciência autônoma, essa esfera do conhecimento precisava
delimitar seu objeto próprio, os fatos sociais e o método adequado a sua observação.

Definir e descrever um método próprio à sociologia, capaz de tornar o conhecimento


da vida social científico, superando as dificuldades do senso comum, permeado pela
interferência das tradições e valores pré-científicos, foi uma das primeiras preocupações do
autor. Tal método deveria ser semelhante ao adotado nas ciências naturais, contudo, com as
adaptações necessárias ao reino social. Com base em suas experiências práticas na
observação da realidade social, Durkheim elaborou regras para a observação dos fatos sociais,
são elas:
Descrevê-los pelos seus
• Considerar os fatos sociais como coisas caracteres exteriores que
possam ser descritos
• Afastar os preconceitos e as noções pré-concebidas pela observação

• Definir previamente tais fatos pelos caracteres exteriores que lhes são comuns

• Considerá-los sem tomar em consideração suas manifestações individuais

Fatos sociais compreendem “toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma
sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações
individuais que possa ter”, (DURKHEIM, 1971, p. 11).

Alguns aspectos permitem caracterizar um fato social. Primeiro, são “maneiras de agir,
de pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora das consciências
individuais” (DURKHEIM, 1971, p. 2), ou seja, são exteriores ao indivíduo, definidos fora dele
e independentes de sua existência, têm por substrato a sociedade, são práticas, crenças e
modos de agir que existem antes do indivíduo nascer e continuarão a existir após sua morte.
Segundo, são capazes de se impor às consciências individuais, “são também dotados
de um poder imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõe, quer queira, quer não.
Não há dúvida de que esta coerção não se faz sentir, ou é muito pouco sentida quando com
ela me conformo de bom grado, pois então torna-se inútil” (DURKHEIM,1971, p.2). Fatos
sociais, portanto, se impõem aos membros da sociedade, sendo a coerção maior ou menor
conforme a resistência que se opõe aos mesmos.

Assim, pois, o fato social é algo dotado de vida própria, externo aos membros da
sociedade e que exerce sobre seus corações e mentes uma autoridade que os leva a agir, a
pensar e a sentir de determinadas maneiras. É por isto que o “reino social” está sujeito a leis
específicas e necessita de um método próprio para ser conhecido, diferentemente do que
acontece no “reino psicológico” que pode ser entendido por meio da introspecção.

Da perspectiva do autor, a sociedade não é o resultado de um somatório dos


indivíduos vivos que a compõem ou de uma mera justaposição de suas consciências. Ações e
sentimentos particulares, ao serem associados, combinados e fundidos, fazem nascer algo
novo e exterior àquelas consciências e às suas manifestações. A sociedade, então, mais do
que uma soma, é uma síntese e, por isso, não se encontra em cada um desses elementos,
assim como os diferentes aspectos da vida não se acham decompostos nos átomos contidos
na célula: a vida está no todo e não nas partes.

Segundo Durkheim, todos possuem duas consciências: uma individual, que é única a
cada indivíduo e lhe coloca problemas de ordem individual; outra coletiva ou comum,
caracterizada como um conjunto de idéias, sentimentos e hábitos que exprimem em cada
indivíduo o grupo do qual faz parte.

Essa consciência comum ou coletiva corresponde ao “conjunto das crenças e dos


sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade [que] forma um sistema
determinado que tem vida própria” (DURKHEIM, 1983, p. 52), isto é, independente dos
indivíduos

Os laços que unem os membros entre si e ao próprio grupo constituem a solidariedade,


a qual pode ser orgânica ou mecânica; de acordo com o tipo de sociedade cuja coesão
procuram garantir. Quando a personalidade individual quase inexiste, quando os indivíduos
se identificam uns com os outros por semelhanças mútuas sentindo-se atraídos para
manterem-se unidos, ocorre entre eles aquilo de Durkheim denomina solidariedade
mecânica.

Em sociedades onde se desenvolve a divisão do trabalho a unidade do organismo é


maior quanto maior é a individualidade das partes, isto é, uma solidariedade mais forte e
efetiva surge da interdependência entre os membros da sociedade. À esta solidariedade, na
qual cada membro individual executa uma função para a manutenção do todo, Durkheim deu
o nome de solidariedade orgânica.
O Marxismo

Pode-se dizer que no final da primeira metade do séc. XIX, particularmente no ano de
1848 com a publicação do “Manifesto do Partido Comunista”, dos alemães Karl Marx (1818-
1883) e Friedrich Engels (1820-1895), tenha se desenvolvido o que posteriormente seria
nominado como marxismo.

Portrait of Karl Marx


Karl Marx (1818-1883), German political philosopher,
author of Das Kapital.
Imagem: © Bettmann/CORBIS
Data da Fotografia ca. 19th century
Coleção Bettmann

A obra é uma espécie de divisor de águas no pensamento de Marx, marcando o fim de


um longo período de reflexões filosóficas (desde a elaboração de sua tese de
doutoramento: "Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro", defendida em
1841 na Universidade de Berlim); para uma etapa de estudos políticos.

Friedrich Engels Working in His Office


Título original: Illustration of Friedrich Engels (1820-
1895), German socialist philosopher. Undated.
Imagem: © Bettmann/CORBIS
Data de Criação ca. 1880's
Coleção Bettmann

Nesta segunda fase, Marx resolveu um antigo problema na cisão entre idealistas (que
pensavam modelos ideais de sociedade, por exemplo), e materialistas (alicerçados nas
condições materiais de transformação das sociedades), propondo aquilo que definiu como
práxis: a ação transformadora da realidade, rumo à concretização da idealidade. Obviamente,
o ideal vicejado por Marx só se constituiria, em sua teoria, diante das possibilidades materiais
de tornar-se real.
Com base nisso, Marx, nesta fase, centrou seus esforços na crítica política ao modelo
de sociedade vigente ao seu tempo, perscrutando suas raízes mais longínquas na História da
humanidade para defender um modelo de sociedade que superaria os antagonismos de suas
precedentes, levando o Homem ao desenvolvimento máximo de suas potencialidades.

Sendo assim, há uma dimensão fundamentalmente sociológica na elaboração teórica


de Marx, pois lançou as bases do marxismo que, para além da Sociologia, constituiu um dos
mais significativos cabedais teóricos da contemporaneidade. Serviu tanto como instrumento
para organização da classe trabalhadora e para o surgimento dos partidos políticos de
esquerda em todo o mundo, como para influenciar revoluções sociais como a Revolução
Chinesa e a Russa, por exemplo; e, ainda, para conformar uma intelectualidade engajada com
a transformação da realidade social em nome dos menos favorecidos, aquela que se
denomina: marxista.

O princípio fundamental do marxismo é o materialismo, ou seja, a única realidade seria


a matéria e suas forças, em transformação contínua. Sendo assim, a matéria, para Marx, não
consistiria em uma composição estática, inerte, mas em constante movimento e
transformação.

De fato, o princípio já estava na filosofia pré-socrática (estudada pelo “jovem Marx”),


no materialista Heráclito de Éfaso (540 a.C. - 470 a.C.) e seu célebre exemplo de que um
homem nunca se banharia no mesmo rio duas vezes, pois, na segunda vez, nem as águas do
rio seriam as mesmas, nem o homem permaneceria o mesmo. Para ele, tudo flui.

Materialismo Econômico

Para Marx, a base econômica seria determinante para o desenvolvimento das


sociedades.

Sua visão contrapôs-se à de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831, foi professor
e reitor da Universidade de Berlim, onde Marx estudou), para quem “as idéias determinam
todas as condições da sociedade”; para Marx e Engels “a economia determina inclusive as
idéias”, sendo assim, para o marxismo “a economia molda a sociedade”.

Marx entendia que as relações econômicas de produção de determinada sociedade


permitiriam compreender todos os seus demais aspectos. Para isso, focou sua análise nos
modos de produção, a partir dos quais se conformariam os demais aspectos da vida social, de
forma adaptativa ao sistema econômico vigente.
O estudo dos processos tecnológicos empreendidos nas atividades produtivas, a divisão
do trabalho decorrente da organização da produção, a estratificação social resultante da
divisão do trabalho, a distribuição dos bens e produtos, seu consumo, a própria organização
social, a remuneração da mão-de-obra, o regime de propriedade e as leis que legitimam essas
relações, são elementos fundamentais para a compreensão das sociedades.

Segundo esta visão, a estrutura econômica exerceria um papel determinante no


processo de transformação das sociedades humanas. Dela adviriam mudanças no cotidiano
dessas sociedades, moldando seus aspectos político-ideológicos e culturais, pois se constituiria
fundamentalmente das próprias formas de relação de produção que as regeriam.

A transformação das sociedades estaria, portanto, intrinsecamente relacionada com o


movimento de suas estruturas econômicas, ou seja, com a forma como o Homem interfere na
natureza para atender as suas necessidades de sobrevivência.

Materialismo Histórico

Para Marx, as sociedades, ao longo da História, também estariam em perene


transformação, conforme vimos, determinadas pelas mudanças em sua base econômica.

Essas transformações se dariam por meio de uma marcha triática, ou seja, a partir de
três elementos: tese, antítese e síntese. Essa formulação advém de uma re-apropriação que
Marx fez da dialética proposta por Hegel, daí dizer-se: da dialética hegeliana.

O movimento se daria da seguinte forma: tudo o que existe na natureza constitui tese;
porque tudo está em movimento (como vimos), tudo o que existe em natureza se transforma,
em especial, em direção ao seu oposto (exemplo: a madeira se transforma naturalmente de
forma a deixar de ser madeira, quando começa a se decompor), a esse contrário, que nega a
tese, chamamos de antítese (anti+tese); o choque da tese com seu contrário (ou suas
contradições, como no exemplo dado, de a madeira naturalmente se decompor), teria como
resultado a síntese, ou seja, algo novo (uma matéria nova, no exemplo dado, produto da
decomposição da madeira).

Essa mesma lógica verifica-se, segundo Marx, na mudança das sociedades, que
também se decompõem e se transformam em algo novo. Essas transformações seriam
determinadas, como vimos, pela base econômica. Sendo assim, uma base econômica
determinada, como o capitalismo, por exemplo (ao tempo de Marx, que era o tempo da
industrialização), seria a tese dessa sociedade: o chamado modo de produção capitalista. Seus
antagonismos ou contradições, ou seja, sua antítese, seriam exatamente as condições de
penúria e extrema exploração vivida pelo proletariado, a classe trabalhadora nas fábricas. No
momento em que o proletariado não suportasse mais sua condição de exploração e se
voltasse contra o explorador - a burguesia -, ocorreria o choque que produziria um novo
modo de produção, ou seja, a síntese.
Tese X Antítese = Síntese

(o que existe) (suas contradições) o novo

Sendo assim, a expressão do materialismo histórico seria a luta de classes: o momento


de choque entre uma classe dominante (cuja ordem seria a tese) e as classes dominadas (cuja
condição de exploração seria antítese).

Com base na dialética hegeliana (tese + antítese = síntese), Marx elaborou sua teoria
explicativa sobre a sucessão dos modos de produção da vida social: “Todo modo de
produção já traz em si o germe que provocará sua deterioração e o surgimento de um modo
de produção novo”, tendo como motor dessas transformações a “luta de classes”.

Para Marx, a luta de classes seria então o motor da História, da transformação da base
econômica das sociedades e, assim sendo, das próprias sociedades.
MEIOS DE PRODUÇÃO:
São os meios necessários
A origem da divisão da sociedade em classes sociais estaria na
para garantir a existência
propriedade privada dos meios de produção. material do Homem, como a
terra e os instrumentos /
No momento em que um indivíduo se outorga proprietário de
ferramentas para a
um determinado meio de produção, como a terra, por exemplo, ele se transformação da natureza
distingue de todos os demais que não são proprietários. Decorre daí a naquilo que possa saciar as
divisão do trabalho social, entre os proprietários dos meios de produção necessidades humanas (uma
e aqueles que são proprietários apenas de sua força de trabalho. Trata- enxada, um arado, uma
máquina numa indústria, por
se, para Marx, de uma relação fundamentalmente de exploração, na
exemplo).
qual há exploradores e explorados. Percebemos então que, segundo
essa perspectiva, a divisão do trabalho social determina papéis e identidades sociais e,
segundo o marxismo, estão na base das desigualdades, por parte daqueles que são
proprietários dos meios de produção e expropriam a força de trabalho alheia.

Em determinado momento, então, essa condição de exploração se tornaria de tal


forma insuportável que adviria daí a consciência dessa condição, chamada por Marx de
“consciência de classe”: o combustível necessário para ativar a luta de classes, o motor das
transformações sociais subsequentes.

Revolução Social

A luta de classes encontra expressão máxima na forma da revolução social, que então
cria a nova ordem de produção, síntese do velho e do novo.

Trata-se da síntese dialética que vimos em Hegel e depois em Marx: a nova ordem já
trás em si o germe de sua ruína, suas contradições internas que provocarão a antítese, que em
choque com a tese gerarim a síntese (o novo).
A história da humanidade seria então a história da luta de classes, e a luta de classes
dependeria por sua vez da consciência de classe. Sendo assim, compreende-se porque para
Marx “a violência é a parteira das novas sociedades”.

A revolução como expressão da luta de classes, dada pelas contradições do


CAPITALISMO (expressão máxima da exploração a que teriam chegado as relações entre
proprietários dos meios de produção e proprietários de sua força de trabalho), levaria ao
SOCIALISMO (propriedade dos meios de produção centradas no Estado), fase transitória para
o COMUNISMO (ausência de propriedade privada dos meios de produção e, com isso,
ausência de relações de exploração).

Estrutura Social

A estrutura social, no marxismo, é formada pelas relações de produção: o fator


econômico é portanto o determinante fundamental na configuração das sociedades, pois o
papel do indivíduo na sociedade advém do papel que desempenha na divisão do trabalho
social.

As relações de produção determinariam as formas de consciência, organizações


políticas, religião, lei, filosofia, ciência, arte, literatura e até mesmo a moralidade.

Nessa perspectiva, o Estado (que não fosse o Socialista) seria a superestrutura criada a
serviço da classe dominante, proprietária dos meios de produção, para manter essas relações
inalteradas em favor dos dominadores.

A Sociologia Compreensiva de Max Weber

Max Weber é um nome de grande importância dentro do pensamento social. Suas


contribuições teóricas criaram as bases da Sociologia moderna, juntamente com Durkheim e
Marx. O estudo do seu pensamento vai possibilitar a aquisição de uma importante ferramenta
na compreensão das ações humanas e das sociedades.

Para Weber, o objeto da sociologia é a ação social. A ação social é a conduta humana
à qual o próprio agente associa um sentido. É aquela ação orientada subjetivamente pelo
agente levando em conta a resposta ou a reação de outros indivíduos. É preciso ver o que
Weber entende por sentido. Ele estava mais preocupado com enfatizar que o sentido é aquele
subjetivamente visado pelo agente e não um sentido correto da ação ou algum sentido
definido como verdadeiro. Interessa, enfim, aquele sentido que se manifesta em ações
concretas e que envolve um motivo sustentado pelo agente como fundamento da sua ação.
Para Weber, a sociologia é uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação
social, para sua explicação causal e para seus efeitos (COHN, 2003).
Em Economia e sociedade, Weber distingue quatro tipos de ação social:
1) ação racional em relação a um fim (por exemplo, o desempregado que procura um
emprego);
2) ação racional em relação a um valor (quando o sujeito age racionalmente não para
alcançar um resultado, mas para permanecer fiel a um valor, como no caso do capitão
que vai a pique com o navio que afunda ao invés de abandoná-lo);
3) ação afetiva (aquela ditada pela emoção ou pelo humor do agente);
4) ação tradicional (aquela ditada por hábitos, costumes e crenças). Esses tipos de ação
encontram-se mais ou menos mesclados na vida social, mas sua classificação é
necessária para se poder interpretar a vida social (REALE; ANTISERI, 2003).

O conceito de motivo permite estabelecer uma ponte entre o sentido da ação social e
a compreensão dessa ação por parte do cientista social. Do ponto de vista do agente, o
motivo é o fundamento da ação. Para o sociólogo, cuja tarefa é compreender essa ação, a
reconstrução do motivo é fundamental, porque, da sua perspectiva, ele figura como a causa
da ação (COHN, 2003).
A tarefa do cientista social é descobrir os possíveis sentidos das ações humanas
presentes na realidade social que lhe interesse estudar. O sentido, por um lado, é expressão da
motivação individual. O caráter social da ação individual decorre da interdependência dos
indivíduos. Uma pessoa age sempre em função de sua motivação e da consciência de agir em
relação a outras pessoas. Por outro lado, a ação social gera efeitos sobre a realidade em que
ocorre. Muitas vezes, tais efeitos escapam ao controle e à previsão do agente (COSTA, 1998).
Ao cientista social compete captar o sentido produzido pelos diversos agentes em todas
as suas conseqüências. As relações que o cientista estabelece entre motivos e ações sociais
revelam as diversas instâncias da ação social – políticas, econômicas ou religiosas (COSTA,
1998).
Weber distinguiu a ação social da relação social. Para ele, a relação social é uma
ação cujo sentido é compartilhado pelos agentes envolvidos nessa ação. Por exemplo, um
sujeito que pede uma informação a outro estabelece uma ação social: ele tem um motivo e
age em relação a outro indivíduo, mas tal motivo não é compartilhado. Numa sala de aula,
onde o objetivo da ação dos vários agentes é compartilhado, existe uma relação social
(COSTA, 1998).
O cientista, como todo indivíduo em ação, também age guiado por seus motivos, sua
cultura, sua tradição, sendo impossível descartar as suas pré-noções. Existe sempre uma
parcialidade na análise sociológica, como em toda forma de conhecimento. As preocupações
do cientista orientam a seleção e a relação entre os elementos da realidade a ser analisada. Os
fatos sociais não são coisas, mas acontecimentos que o cientista percebe e cujas causas
procura desvendar. Uma vez iniciado o estudo, este deve se conduzir pela busca da maior
objetividade na análise dos acontecimentos. A realização da tarefa científica não deve entrar
em conflito com as crenças e as idéias pessoais do cientista. O que garante a cientificidade de
uma explicação é o seu método. Weber lembra que, embora os acontecimentos sociais
possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade,
interpretação, subjetividade e compreensão (COSTA, 1998).

Metodologia Weberiana

As reflexões metodológicas de Weber têm uma clara dívida com a filosofia do


Iluminismo. O ponto de partida e de chegada da sua análise é o indivíduo. Weber considerava
o indivíduo e a sua ação como uma unidade básica. Ele incorporou o problema da
compreensão da ação social em sua abordagem sociológica e chamou sua sociologia de
sociologia compreensiva ou interpretativa (GERTH; WRIGHT MILLS, 1971).

Para poder compreender os fenômenos sociais, Weber propôs um instrumento


metodológico que chamou de tipo ideal. Trata-se de uma construção teórica abstrata a partir
dos casos particulares analisados. O cientista constrói um modelo pelo estudo das diversas
manifestações particulares do fenômeno, acentuando aquilo que lhe pareça característico
desse mesmo fenômeno (COSTA, 1998). Para Weber, o tipo ideal “obtém-se pela acentuação
unilateral de um ou de vários pontos de vista e encadeando uma quantidade de fenômenos
isolados, difusos e discretos, existentes que se encontram ora em grande número, ora em
pequeno número, por vezes até ausentes, que se ordenam segundo aqueles pontos de vista
unilateralmente evidenciados, em um quadro conceitual homogêneo. Em sua pureza
conceitual, esse quadro nunca poderá ser encontrado empiricamente na realidade: ele é uma
utopia. E ao trabalho histórico se apresenta a tarefa de verificar, em cada caso individual, a
maior ou menor distância da realidade daquele quadro ideal” (Apud REALE; ANTISERI,
2003, p. 473).

O tipo ideal não existe na realidade. É um instrumento de análise científica, uma


construção do pensamento que permite conceituar fenômenos sociais e identificar na
realidade observada suas manifestações. Pode-se ver que o tipo ideal é instrumento
metodológico de pesquisa. Com ele, construímos um quadro ideal (por exemplo, de
protestantismo, de economia urbana, de capitalismo, da Igreja, de dominação, etc.) para
depois com ele medir ou comparar com a realidade efetiva, controlando a sua proximidade
ou o seu distanciamento em relação ao modelo. Resumidamente, pode-se dizer que: 1) o tipo
ideal não se identifica com a realidade, não a reflete nem a expressa; 2) ao contrário, em sua
idealidade, o tipo ideal se afasta da realidade efetiva para afirmar melhor os seus diversos
aspectos; 3) o tipo ideal não deve ser confundido com avaliação ou valor; 4) o tipo ideal,
repetindo, pretende ser instrumento metodológico, os conceitos típicos-ideais são
uniformidades limites (REALE; ANTISERI, 2003).
Material Complementar

Positivismo

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes,


2002.

COMTE, Auguste. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

RIBEIRO, João. O que é positivismo. São Paulo: Brasiliense, 1996.

Sobre a influência e importância do Positivismo no Brasil os seguintes textos podem ser


consultados:

BOSI, Alfredo. O positivismo no Brasil: uma ideologia de longa duração. Disponível on-
line em: http://www.machadodeassis.org.br/abl/media/prosa43c.pdf

LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1967.

Marxismo

No site da Biblioteca Virtual de História do Marxismo no Brasil, da Universidade


Federal de Minas Gerais e da Pontífice Universidade Católica de Minas Geraos, é possível
acessar os clássicos do marxismo, em formato digital, no link:
http://www.fafich.ufmg.br/marxismo/ .

O Centro de Estudos Marxistas (CEMARX) da Universidade Estadual de Campinas


mantém uma publicação intitulada “Revista Crítica Marxista”, no site:
http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/.

Indico ainda os filmes, disponíveis no Youtube:

• A Teoria Marxista - http://www.youtube.com/watch?v=bjIuO1EMR7E&feature=related

• Alienação - http://www.youtube.com/watch?v=n2vFecjCNWs&feature=related
Weber

Para conhecer a biografia de Weber acesse o site:

• http://www.culturabrasil.pro.br/weber.htm

Para conhecer um pouco mais do pensamento de Weber acesse o site:

• http://www.cejur.ufpr.br/revista/artigos/001-2sem-2006/artigo-02.pdf

• http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/45/42

• http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
93131996000200004&script=sci_arttext&tlng=en

Assista ao vídeo:

• http://www.youtube.com/watch?v=hSHsMEpNyHU

• http://www.youtube.com/watch?v=BYp6uZpdP3Q&feature=related
Anotações

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