You are on page 1of 4

CARACTERIZAÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS DE ADOLESCENTES

ANTES DE PARTICIPAREM DE UM PROGRAMA DE PROMOÇÃO DE SAÚDE


EM GRUPO

Leonardo Zaiden Longhini, Carmem Beatriz Neufeld


Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
cbneufeld@usp.br

Resumo
Múltiplas pesquisas buscam organizar a conceitualização de habilidades sociais, assim denominadas por
sua relação com a competência social, requeridas para diversos desempenhos de interação social
funcionais específicos, a partir de variados critérios que garantem proteção ao desenvolvimento
psicossocial. Considerando a vasta conceitualização, a maioria dos instrumentos de avaliação dessas
habilidades avalia desempenhos específicos, enquanto alguns instrumentos buscam integrar a relação
multimodal em sua avaliação. Essa pesquisa objetivou a categorização de habilidades sociais de 139
adolescentes de uma escola pública de Ribeirão Preto, a partir de dados obtidos anualmente desde 2009,
antes da participação em um grupo de promoção de saúde. Esses dados, obtidos pelo Inventário de
Habilidades Sociais Para Adolescentes (IHSA-Del-Prette), permitiram uma ampla avaliação em sete
categorias de frequência e dificuldade que correspondem a diversos contextos e interlocutores sociais, em
uma descrição validada por estudos de consistência interna e de outras variáveis. Os índices avaliados
foram Empatia, Autocontrole, Civilidade, Assertividade, Abordagem Afetiva e Desenvoltura Social, além do
escore Total. A investigação demonstrou dificuldades e baixa frequência na emissão da maioria do
repertório de comportamentos sociais competentes dos adolescentes avaliados, em relação ao grupo
normativo. Especificamente, a amostra feminina demonstrou maior prejuízo no repertório de habilidades
sociais. Em conclusão, é possível considerar a hipótese que tais resultados estejam correlacionados com a
proposta terapêutica que circunscreve a pesquisa, com a maior autoconsciência da amostra feminina, e
com o contexto de vulnerabilidade social em que os participantes podem estar submetidos.
Palavras Chaves: Habilidades Sociais, Caracterização, Adolescência

Abstract
Multiple investigations attempt to organize the conceptualization of social skills, so named for its relationship
with social competence, required for various performances of specific functional social interaction,
considering varied criteria that involves psychosocial development protection. Considering the vast
conceptualization, most of these assessment instruments evaluate specific performance skills, while some
seek to integrate multimodal relations in this assessment. The study aimed at categorizing social skills of 139
adolescents from a public school in Ribeirão Preto, from data obtained annually since 2009, prior to
participation in a health promotion group. This data, obtained by the Social Skills Inventory for Adolescents
(IHSA-Del-Prette), allowed a comprehensive assessment in seven categories of frequency and difficulty
corresponding to various contexts and social interlocutors, in a description validated by studies of internal
consistency and related to other variables. The social skills assessed were Empathy, Self-Control, Civility,
Assertiveness, Affective Approach and Social Resourcefulness, and a Total score. The research has shown
difficulties and low frequency emission repertoire of the majority of competent social behavior of adolescents
assessed, in relation to the normative group. Specifically, the female sample showed more deficits in social
skills. In conclusion, it is possible to consider the hypothesis that these results are correlated with the
therapeutic proposal that contextualize the research, with a greater self-awareness of the female sample,
and with the context of social vulnerability in which participants may be submitted.
Key words: Social Skills, Characterization, Adolescence

SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP


Introdução
O termo Habilidades Sociais (HS) é usualmente definido por pesquisadores de uma forma ampla, são
descritas, atualmente, como classes de comportamentos sociais que somente podem ser classificadas
como habilidades sociais na medida em que contribuem para a competência social (A. Del Prette & Z. A. P.
Del Prette, 2011). Essa competência social, por sua vez, está relacionada a comportamentos bem-
sucedidos em ambiente social. Tal interação se dá entre duas dimensões de funcionalidade: instrumental e
ético-moral. A dimensão instrumental se refere a consequências imediatas e individuais, assim como
correlatos emocionais positivos que contribuem para aquisição e manutenção das habilidades sociais. A
dimensão ético-moral é referente às consequências positivas de médio e longo prazo, inclui também o
grupo e o outro indivíduo da interação social; nessa dimensão, são consideradas, portanto, o equilíbrio nas
trocas entre as pessoas da interação, caracterizando consequência positiva para todos os sujeitos da
relação (Z. A. P Del Prette & A. Del Prette, 2010; Z.A.P. Del Prette & A. Del Prette, 2005).
A. Del Prette e Z. A. P. Del Prette (2009) consideram também a premissa de que as habilidades sociais
possuem determinantes culturais específicos, variando contextualmente. Crowe, Beauchamp, Catroppa e
Anderson (2011) investigaram 86 ferramentas de avaliação de função social, de 1988 a 2010,
demonstrando a especificidade de cada instrumento para cada contexto, seja de estágio de
desenvolvimento, socioeconômico ou étnico e cultural. Considerando o contexto escolar e sua relação com
o processo de desenvolvimento e inclusão de repertório das habilidades sociais em crianças e
adolescentes, o acréscimo de habilidades sociais é presente como fator de proteção para o
desenvolvimento humano saudável, servindo de forma preventiva evitando transtornos do desenvolvimento
e problemas do comportamento.
M. Cole e S. R. Cole (2003) e Novak e Peláez (2004) reafirmam a importância da capacidade de
socialização para a saúde psicológica, atribuindo a elas a capacidade preventiva. Papalia, Olds e Feldman
(2006) dispõem uma numerosa lista de mudanças derivadas do desenvolvimento no período da
adolescência, que se traduzem pela característica fragilidade socioemocional desse estágio
desenvolvimental, que passam a depender do meio social, e por consequência, do desenvolvimento das
habilidades sociais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o desenvolvimento de habilidades
de vida, entre elas as habilidades de tomada de decisão, de controle da impulsividade, de pensamento
consequencial e de habilidades sociais como estratégias para auxiliar o adolescente a se proteger em
situações de risco à saúde (Gorayeb, Netto & Bugliani 2003). A presente pesquisa está relacionada a um
projeto maior do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental do Departamento de
Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo,
que envolve um programa de promoção de saúde e treinamento de habilidades sociais em grupos para
adolescentes em uma escola municipal de Ribeirão Preto.

Objetivos
O presente estudo objetivou identificar e caracterizar as habilidades sociais de 139 adolescentes antes de
participarem de um programa de Promoção de Saúde em Grupo para Adolescentes, oferecido a estudantes
de uma escola pública, em categorias de Habilidades Sociais específicas.

Materiais e Métodos
Realizou-se a caracterização de dados dos 139 participantes do programa de Treinamento de Habilidades
Sociais, adolescentes do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Ribeirão Preto, com idade entre
12 e 14 anos, a partir dos dados obtidos antes da intervenção. A pesquisa se deu sob um projeto maior,
relativo ao programa de promoção de saúde em grupo, que conta com um banco de dados iniciado em
2009. A participação foi voluntária e apenas os alunos que apresentaram o Termo de Consentimento
Informado, Livre e Esclarecido assinado pelos pais ou responsáveis puderam participar do treinamento. A
coleta de dados foi realizada, segundo o proposto pelo programa. (Neufeld, Rossetto, Cassiano &
Cavenage, 2014). A média de idade dos participantes foi de 12,58 (desvio padrão 0,57). A amostra
masculina foi de 51 (36,7%) com média de idade 12,55 (0,82) anos e a feminina de 88 (63,3%) com média
de idade 12,59 (0,63) anos.
O instrumento adotado para o estudo foi o Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes (IHSA-Del-
Prette), desenvolvido para a população de 12 a 17 anos, que avalia o repertório de habilidades sociais em

SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP


situações interpessoais cotidianas. Avalia o repertório em dois indicadores: frequência e dificuldade com
que reagem às diferentes demandas de interação social, a partir de grupos de referência já validados no
Brasil, composto por 1172 adolescentes. Os itens do teste buscam contemplar as principais classes de
habilidades sociais requeridas na adolescência. Inclui demandas das relações familiares e escolares, de
amizade, afetivo-sexuais, e de lazer e trabalho. Em relação a interlocutores, os itens representam
demandas para repertórios nas relações com pais, irmãos, colegas, amigos, parceiros afetivo-sexuais,
pessoas de autoridade (professor, chefe, religiosos, etc) e desconhecidos, além de alguns itens genéricos.
Composto por 38 itens, cada um descreve uma situação de interação social e uma possível reação a ela. A
frequência utiliza uma escala do tipo Likert que varia de 0-2 a 9-10. Para a dificuldade, a escala apresente
as opções: Nenhuma, Pouca, Média, Muita, Total.
Análises de consistência interna, obtida por Alfa de Cronbach obtiveram índices satisfatórios para a escala
total (0,896) e para as subescalas (entre 0,61 e 0,82) utilizadas. O escore total permite avaliação geral
existência de recursos e déficits em habilidades sociais do respondente, enquanto as subescalas
especificam as habilidades entre: Empatia, Autocontrole, Civilidade, Assertividade, Abordagem Afetiva e
Desenvoltura Social. Consideradas as escalas, foi realizada a análise da diferença entre as médias dos
sexos (Mann-Whitney) e comparação entre os fatores do grupo pesquisado e grupo normativo. Em relação
a frequência, se avaliou considerando o intervalo 01%-35% como indicativo de repertório de HS
significativamente abaixo da média em frequência. Relacionando o escore de dificuldade, acima de 35%
considerou-se indicativo de ansiedade ou dificuldade na emissão do comportamento social. Acima de 50%
considerou-se alto custo e ansiedade na emissão.

Resultados
Não foram encontradas diferenças significativas (U de Mann-Whitney) entre as médias de escores
masculinas e femininas da amostra, diferentemente do grupo normativo.

Tabela 1: Comparação entre médias da amostra e grupo normativo masculino, com respectivos percentuais.
Grupo Masculino (N=51) Grupo Normativo (N=217)

Frequência/Dificuldade
Média da Média da 35% 50% 75%
Frequência (DP) Dificuldade (DP)
Total 78,67 (31,9) 42,73 (22,0) 83/39 93/46 108/59
Empatia 23,45 (10,6) 9,63 (7,6) 24/5 27/7 33/12
Autocontrole 14,33 (6,6) 11,29 (6,1) 14/11 16/14 20/18
Civilidade 14,08 (7,1) 5,29 (5,4) 16/1,70 18/3 21/6
Assertividade 15, 12 (7,6) 6,67(4,7) 16/5 18/7 21,50/10
Abordagem
10,76 (5,6) 8,06 (4,7) 10/8 12/10 16/13
Afetiva
Desenvoltura
9,69 (4,7) 5,57 (3,4) 9/6 11/7 14/10
Social

Tabela 1: Comparação entre médias da amostra e grupo normativo feminino, com respectivos percentuais.
Grupo Feminino (N=88) Grupo Normativo (N=301)

Frequência/Dificuldade
Média da Média da 35% 50% 75%
Frequência (DP) Dificuldade (DP)
Total 79,09 (28,1) 43,76 (23,2) 91/39 100/46 114/59
Empatia 25,85 (9,4) 9,28 (8,3) 29/5 31/7 36/12
Autocontrole 13,00 (7,2) 12,00 (7,0) 16/11 17/14 22/18
Civilidade 14,65 (6,5) 4,68 (5,5) 18/1,70 20/3 22/6
Assertividade 15,58(6,7) 6,90 (5) 18/5 20/7 24/10
Abordagem Afetiva 9,86 (5,4) 8,47 (4,8) 11/8 12/10 16/13
Desenvoltura
9,07 (4,5) 6,24 (3,4) 10/6 11/7 14/10
Social

SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP


Conclusões
Diante do resultado apresentado pelo estudo, os adolescentes avaliados apresentaram indicativos de risco
e vulnerabilidade social, e de possíveis ganhos com o encaminhamento a um programa de promoção de
saúde. Em relação a habilidades avaliadas como mais baixas no grupo estudado, a amostra feminina
demonstrou escore reduzido em todas as frequências e dificuldade aumentada em empatia, civilidade,
assertividade, abordagem afetiva e desenvoltura social. A amostra masculina demonstrou escore reduzido
nas frequências de empatia, civilidade e assertividade, além do escore total. Demonstrou também
dificuldade elevada em empatia e civilidade.
Esse resultado traduz que há frequência menor de emissão de comportamento social habilidoso, e maior
custo ou ansiedade na emissão de repertório social do que no grupo normativo. Adolescentes do sexo
feminino demonstraram índices correlacionados a maior vulnerabilidade social quando comparadas as
médias com a amostra masculina. No estudo normativo, adolescentes do sexo feminino obtiveram
resultados de maiores frequências e menores dificuldades em relação aos de sexo masculino, sempre que
encontrada diferença significativa, já no grupo caracterizado, não foram encontradas diferenças
significativas entre as médias dos sexos. Diante da discussão e considerado o limite do instrumento, que
avalia pelo autorrelato, foi possível se criar a hipótese de que a amostra feminina apresenta maior
autoconsciência em relação às próprias dificuldades sociais e/ou é mais prejudicada no contexto social
estudado. Além disso, como não foram encontradas diferenças entre as médias, existe ainda a hipótese de
que o grupo homogêneo tenha tal característica devido à natureza de um contexto terapêutico em uma
região considerada prejudicada no contexto social.

Referências Bibliográficas
Cole, M & Cole, S. R. (2003). O desenvolvimento da criança e do adolescente (4ª ed.) Porto Alegre: Artmed.

Crowe, L. M., Beauchamp, M. H., Catroppa, C. & Anderson, V. (2011). Social function assessment tools for
children and adolescents: A systematic review from 1988 to 2010. Clinical Psychology Review, 31, 767-785.

Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2009). Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes. São Paulo:
Casa do Psicólogo.

Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2011). Habilidades sociais: intervenções efetivas em grupo. São Paulo:
Casa do Psicólogo.

Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2001). Inventário de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette): Manual de
aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2010). Psicologia das Relações Interpessoais: Vivências para o
trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes.

Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: Teoria e Prática.
Petrópolis: Vozes.

Gorayeb, R., Netto, C. J. R. & Bugliani, M. A. P. (2003). Promoção de saúde na adolescência: Experiência
com programas de ensino de habilidades de vida. In Z. A. Trindade & A. N. Andrade (Eds.), Psicologia da
saúde: Um campo em construção (pp. 89-100). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.

Neufeld, C. B., Rossetto, C. P., Cassiano, M. & Cavenage, C. C. (2014) Programa de promoção de saúde
em crianças e adolescentes em grupo. In C. B. Neufeld et al, Intervenções e Pesquisas em Terapia
Cognitivo-Comportamental com indivíduos e grupos. Programa de promoção de saúde em crianças e
adolescentes em grupo. São Paulo: Synopsys.

Novak, G. & Peláez, M (2004) Child and adolescent development: A behavioral systems approach.
Thousand Oaks: Sage.

Papalia, D. E., Olds, S. W. & Feldman, R. D., (2006) Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed.

SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP

You might also like