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CARNAVAL E PROTESTO POPULAR

Prof. Eduardo Martins/UFMS

E quem garante que a história é carroça abandonada numa


beira de estrada ou numa estação inglória. A história é um
carro alegre cheio de um povo contente que atropela
indiferente todo aquele que a negue. (Chico Buarque).

Principio este artigo com alguns versos da belíssima canção de Chico Buarque de
Holanda para em seguida falar um pouco sobre a função popular do carnaval que, às vezes, é
apropriado pelo povo e se torna um evento de contestação às más políticas e administrações
públicas, bem como contra medidas impopulares de governantes e burgueses.

No episódio deste carnaval de 2018 apresentado pela Escola de Samba Paraíso do Tuiuti
a gota d’água foi a propalada Reforma da Previdência, bem como a indigesta, impopular e
desumana Reforma Trabalhista que jogou e ainda vai jogar milhares de trabalhadores brasileiros
no desemprego ou no subemprego. A questão levantada pela Tuiuti é bem pertinente “está
extinta a escravidão?” A resposta parece indicar que tal sistema desumano está de volta. Basta
ver as comemorações do patrões/burgueses soltando rojões pelo fim da CLT. O dono da Havan,
lojas Marisa, Riachuelo, Magazine Luiza, Carrefour, e em nível das cidades os inúmeros
comércios que saudaram com vivas e obrigatoriedade de desfiliação dos seus empregados dos
seus respectivos sindicatos.

O carnaval teve historicamente um papel de catalizador dos descontentamentos das


massas trabalhadoras que se viram oprimidas por atitudes despóticas burguesas. Desde a Idade
Média, pelo menos, se tem registro do uso dessa festa para se protestar contra tais opressões. No
carnaval de 1579/80 a cidade francesa de Romans se viu às voltas com um motim popular em
que a cidade se valeu da festa de carnaval para protestar contra o abusivo aumento dos impostos
dos pobres em detrimento dos privilégios da nobreza, clero e burguesia. Ainda na Idade Média
os charivaris, festas populares, em estilo de escárnio àquelas figuras impopulares, tratava-se de
zombarias, gritos e muito barulho nas ruas como forma de justiça popular, eram eventos
cuidadosamente planejados que se misturava com o carnaval da época.

O Brasil sempre foi marcado por protestos de rua misturado com as festas populares
tradicionais, o exemplo disso é o entrudo , ocorriam nas ruas das cidades, principalmente nos
bairros mais populares. Havia guerras de ovos, água suja, urina, frutas podres, etc. Tinham um
caráter agressivo e desrespeitoso às normas impopulares e leis absurdas, assim o povo dava o
tom contra as leis burguesas opressoras. Tal tradição foi muito forte na cidade do Rio de Janeiro
dos séculos XVI ao XX.

Este ano de 2018 a escola de Samba Paraíso do Tuiuti, brinda os trabalhadores com uma
festa de escárnio contra a burguesia patronal que teima em impor um tipo de legislação
social/trabalhista impopular (escravista), digna das mais belas festas que a história do carnaval
de protesto tem registrado. A figura central alvo do protesto foi o improvisado presidente
Michel Temer, mas de arrastão a Escola trouxe à baila os coxinhas, com camisa da CBF, as
panelas, e o tal pato da FIESP. Como numa alegoria maravilhosa a Paraiso do Tuiuti representa
milhares de trabalhadores brasileiros que vem dia-a-dia sendo oprimidos pela elite que tomou o
poder de assalto compactuado com o poder judiciário e as demais ordens burguesas do tipo
medieval que resiste no Brasil. Ademais os milhares de trabalhadores oprimidos se vingaram ao
ver o silêncio estúpido e não menos conivente com o golpe da tv globo ao ter que mostrar suas
figuras/marionetes preferidas (os coxinhas) sendo escarniadas, gozadas, achincalhadas,
zombadas, ridicularizadas em plena rua para milhões de pessoas ao redor do mundo rirem da
sua estupidez.

Por fim, a história cobra caro quem as nega, quem as tripudia e quem as ignora
principalmente. Dessa feita cabe ao povo trabalhador e resistente desse país dar continuidade ao
grito de liberdade iniciado pela Paraíso do Tuiuti. Que o carnaval de protesto da Tuiuti se
prolongue nesse ano de eleições e que os milhares de trabalhadores, intelectuais, estudantes e
pessoas cultas continuem essa festa de protesto contra esse golpe maldito que assola a nação.

(P.S.) Nós trabalhadores nos sentimos um pouco vingados no dia em que a tv globo se
calou e fez cara de idiota ao ser obrigado a narrar que suas marionetes (coxinhas) foram
zombadas em pleno carnaval e que o mundo todo viu e também, zombou. Cada trabalhador se
sentiu um pouco vingado e de alma lavada.

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