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Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Os Objetivos do Ensino de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Aspectos Metodológicos do Conteúdo e do Ensino de Ciências no Ensino
Fundamental: O Profissional do Ensino de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
O Espaço Escolar e a Construção de Experiências Científicas a Partir da Realidade.
Atividades Complementares e Produção de Material Didático Voltado para o Ensino
de Biologia, Física e Química. Métodos e Técnicas, Execução e Avaliação de Atividades
Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.6 A Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
UNIDADE 1
Os Objetivos do Ensino de
Ciências
1.1 Introdução
Vamos aqui discutir sobre os objetivos do ensino de Ciências, procurando fazer uma análise
dos diferentes enfoques do ensino de ciências, refletir sobre as diferentes concepções sobre de-
senvolvimento do conhecimento científico, com destaque para a relação homem/natureza. Para
iniciar essas discussões, propomos o seguinte questionamento: em que o desenvolvimento da
Ciência Moderna tem contribuído para amenizar o sofrimento de homens e mulheres num mun-
do configurado por desigualdades sociais, preconceitos, dores e flagelos naturais que assolam o
nosso planeta?
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UAB/Unimontes - 5º Período
DICA mal (CAPES/UFRJ, 1986), Angotti e Delizoicov (1990); Delizoicov (1993), Valle e Miranda (1993),
Na dinâmica atual da Monteiro (1993), Mendes Sobrinho (1998) e Ramos et al. (2000).
sociedade contem- O outro eixo tem como objeto o que poderíamos denominar de ‘materiais e métodos de
porânea, envolvida ensino de Ciências’, destinados às séries iniciais. Em muitos casos, os trabalhos localizados nesse
com os processos de eixo se articulam com aqueles do eixo de formação de professores através de distintos níveis de
globalização econômica aproximação.
e políticas neoliberais
de educação, pesquise
sobre que perfil de
cidadão, de sociedade
e de escola norteia as
estratégias metodo-
lógicas do professor
de ciências. Faça o seu
comentário e poste no
fórum. Figura 1: Ciência ►
Moderna
Fonte: Disponível em
<http://eslfb1c2.blogspot.
com/2010/05/stc-activida-
de-de-criacao-de-logoti-
po_05.html>. Acesso em
13 set. 2010.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
mente, sobre a melhoria das condições de vida do ser humano, ao mesmo tempo em que auxilia-
ria na apropriação do código escrito. A “alfabetização científica cívica” seria a que torna o cidadão
mais atento para a Ciência e seus problemas, de modo que ele e seus representantes possam
tomar decisões mais bem informadas.
Assim, o cidadão é capacitado a
Um dos problemas da alfabetização científica cultural é que ela está disponível apenas para
um número comparativamente pequeno de pessoas. Deveria haver um esforço muito grande
para aumentar o acesso a esse tipo de informação para que a população possa desfrutar da Ciên-
cia em qualquer momento de sua vida.
Existem hoje várias revistas que procuram divulgar a Ciência, propiciando maior veiculação
do conhecimento científico. Os jornais e revistas também informam constantemente a evolução
da Ciência. Torna-se necessário, porém, que esses meios de comunicação possam circular livre-
mente pelas escolas, colocando os alunos em contato com essas informações e, principalmente,
utilizando-os como material pedagógico, constituindo-se, também, num desafio aos professores
que precisam usá-los adequada e criticamente.
◄ Figura 2: Esfera em
fibras de polímero de
água viva
Fonte: Disponível em
<http://www.cienciah-
oje.pt/index.php?oi-
d=39998&op=all>. Acesso
em 12 set. 2010.
Então, ao pensarmos um tipo de ensino de Ciências ideal para os nossos alunos do século
XXI, temos de primeiro pensar em duas questões basilares do processo de ensino: por que ensi-
nar? Como ensinar? Não pretendemos esgotar essa discussão, mas tentaremos discutir ao longo
deste trabalho.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino e os objetivos do ensino de
Ciências no Ensino Fundamental são concebidos para que o aluno desenvolva competências que
lhe permitam compreender o mundo e atuar como indivíduo e como cidadão, utilizando conhe-
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UAB/Unimontes - 5º Período
Dica cimentos de natureza científica e tecnológica. Esses objetivos podem ser organizados de forma
O professor de Ciências que os alunos tenham as seguintes capacidades:
deve ter acesso aos 1. Compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e
Parâmetros Curriculares agente de transformações do mundo em que vive;
Nacionais - que foram 2. Identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de
distribuídos para todos vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica;
professores das escolas
públicas do Brasil -, 3. Formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elemen-
com o objetivo de servir tos das ciências naturais, colocando em prática conceitos, procedimentos e atitudes desen-
de apoio metodológico volvidos no aprendizado escolar;
e direcionador das práti- 4. Saber utilizar conceitos científicos básicos, associados à energia, à matéria, à transformação,
cas pedagógicas em ao espaço, ao tempo, ao sistema, ao equilíbrio e à vida;
sala de aula.
5. Saber combinar leituras, observações, experimentações, registros, etc., para coleta, organi-
zação, comunicação e discussão de fatos e informações;
6. Valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para construção
coletiva do conhecimento;
7. Compreender a saúde como bem individual e comum que deve ser promovido pela ação
coletiva;
8. Compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, distinguindo
usos corretos e necessários daqueles prejudiciais ao equilíbrio da natureza e ao homem.
Nesse contexto, esses objetivos solicitam do professor de ciências, nas séries iniciais do En-
sino Fundamental, saber fazer boas escolhas dos conteúdos a serem ensinados. Nessa escolha
estão em jogo algumas considerações ligadas ao perfil do professor de Ciências e, sobretudo, às
concepções de sociedade, de homem e de educação que povoam a subjetividade presente na
vida do professor: sua formação política, cultural e social.
Dica Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, faz-se necessário, portanto, o estabeleci-
mento de critérios para a seleção dos conteúdos de ensino de Ciências. São eles:
Forme um grupo, dis-
cuta as questões abaixo • Os conteúdos devem se constituir em fatos, conceitos, procedimentos, atitudes e valores
e poste no fórum as compatíveis com o nível de desenvolvimento intelectual do aluno, de maneira que ele possa
conclusões. operar com tais conteúdos e avançar efetivamente nos seus conhecimentos;
Até que ponto, nós, pro- • Os conteúdos devem favorecer a construção de uma visão de mundo que se apresenta
fessores das Ciências, como um todo formado por elementos inter-relacionados, entre os quais destacamos o
estamos instigando as
nossas crianças para a homem, agente de transformação. O ensino de Ciências deve relacionar fenômenos natu-
curiosidade e dando rais e objetos da tecnologia, possibilitando a percepção de um mundo permanentemente
a elas a oportunidade reelaborado, estabelecendo-se relações entre o conhecido e o desconhecido e entre as
de espaço e tempo partes e o todo;
para experimentações • Os conteúdos mediados pela tecnologia, superam interpretações ingênuas sobre a reali-
e construções coleti-
vas do conhecimento dade. Os temas transversais apontam conteúdos particularmente apropriados para essa
científico? superação.
Conforme os estudos de Bizzo (2007), quanto à adequação dos conteúdos de Ciências, os
conteúdos têm sido tratados de maneira literal pela escola elementar, pois os conteúdos são
apresentados apenas como um ornamento curricular, alertando que é preciso evitar lista de no-
mes a serem memorizados. Professores e alunos devem encontrar conteúdos que permitam uma
exploração inteligente da ciência e dos fenômenos estudados, e a criança deve ser vista como
aprendiz inteligente, capaz de entender e criticar o conhecimento científico dentro das caracte-
rísticas próprias da idade.
Ainda procurando justificar o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental,
recorremos a estudos teóricos realizados pela Pedagogia, estabelecendo um diálogo mais pró-
ximo da prática docente e ratificando o pensamento de Bizzo quando afirma que “proporcionar
aos professores elementos teóricos sobre a prática é um verdadeiro exercício dialógico e, conse-
quentemente, de cidadania” (BIZZO, 2007, p. 9).
Segundo Bizzo (2007, p.11), “o ponto principal é reconhecer a real possibilidade de enten-
der o conhecimento científico e a sua importância na formação dos nossos alunos”. Assim sendo,
ensinar Ciências no mundo contemporâneo deve ser uma das prioridades de todas as escolas,
principalmente as públicas, pois o ensino de Ciências não serve apenas para que a população
tenha acesso a conhecimentos científicos e tecnológicos, mas também para despertar vocações,
dar plena realização ao ser humano e para sua integração social.
Conforme documento da UNESCO (2005), intitulado “O Ensino de Ciências: o futuro em risco”,
o ensino de Ciências deve investir para construir uma população cientificamente preparada para
receber de volta a cidadania e produtividade, que melhoram as condições de vida de todo o povo.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
◄ Figura 3: Pequenos
cientistas
Fonte: Disponível em
<http://cientecno.
com/site/wp-content/
uploads/2010/03/mun-
dosemengenheiros.jpg>.
Acesso em 13 set. 2010.
Assim, o professor, antes de escolher um livro didático para a sua disciplina, deve analisá-lo
minuciosamente para perceber quais são os critérios relevantes para o ensino de Ciências, o que
falta ou não e o que mais condiz com a realidade de seus alunos. Tendo em vista, também, a va-
lorização dos conhecimentos prévios dos alunos, as experiências vividas por eles ao longo de sua
vida, os ensinamentos passados pelos avós, os quais, consequentemente, acabam reproduzindo
nas aulas. Tais conhecimentos populares, com o conhecimento científico, tornam a aula e a disci-
plina mais prazerosas e significantes para os alunos, que se sentirão como contribuidores para o
andamento e o ensino das aulas ministradas pelo professor.
Nos cuidados da escolha do livro e dos conteúdos, Delizoicov e Angotti (1992) ponderam
quanto aos livros textos e manuais instrucionais utilizados pelos professores, pois conseguem re-
produzir de forma bastante fiel o que ocorre com a veiculação do conhecimento científico exi-
toso, sempre em favor da ciência clássica, contribuindo para sua imperativa divulgação, repro-
dução e/ou transposição. Porém, continuam a reforçar uma imagem distorcida do que hoje se
reconhece como “fazer ciência”, mesmo que consideremos o relativismo e as diferenças de posi-
ção entre historiadores e epistemólogos.
◄ Figura 4: Trabalho
coletivo na escola
Fonte: Disponível em
<http://www.unifesp.br/
homebaixada/images/
extensao/saude1.jpg>.
Acesso em 13. set. 2010.
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UAB/Unimontes - 5º Período
Dica
Reflita sobre a afirma-
ção abaixo e poste no
fórum suas conside-
rações. O professor
inovador é a pessoa
sui-generis, capaz de
ver, ao seu redor, um
mundo coerente, que
poder ser moldado e Figura 5: Tecnologia e ►
cujas reações podem Ciência
ser previstas, o inovador
Fonte: Disponível em
crê no conhecimento
<http://www.iapar.br/ar-
científico. Com seu ele- quivos/Image/ciencia_e_
vado senso de compe- tecnlogia.jpg>. Acesso em
tência, procura alcançar 15 set. 2010.
seus objetivos e sente
necessidade de ordem
e êxito.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Nessa perspectiva, todos os indivíduos devem receber uma formação mínima em Ciências
Naturais, para a sua formação cultural, uma vez que o conhecimento científico é parte constituin-
te da cultura construída pela humanidade.
◄ Figura 6: Confronto
religião e ciências
Fonte: Disponível em
<http://www.fc.up.pt/
DocsOnLine/news/
img/20081125151147_
CIENCIARELIGIAO.jpg>.
Acesso em 16 set. 2010.
◄ Figura 7: Formação de
Professores
Fonte Disponível em
<http://arielvillanova.
blogspot.com/2008/10/
resumo-da-semana-
de-12102008-19102008.
html>. Acesso em 15 set.
2010.
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UAB/Unimontes - 5º Período
As observações do céu por potentes telescópios, realizadas pelos astrônomos M. Slipher e Edwin
P. Hubble, mostram que as galáxias estão se afastando uma das outras, reforçando a ideia de que o
universo se encontra em expansão. A lógica leva a concluir que, no passado, as galáxias deviam estar
mais próximas que hoje. Levando essa ideia ao extremo, cientistas dizem que teria havido um mo-
mento em que todos os componentes do universo estariam aglomerados em um único ponto.
Devido ao triunfo das ciências exatas na modernidade, é inevitável aceitar, do ponto de vista
de um indivíduo religioso, que a doutrina bíblica de criação seja “apenas” uma imaginação sim-
bólica de “verdadeiros” eventos cósmicos. Nesse sentido, podem coexistir na consciência moder-
na os dois referenciais, ou seja, os relevantes textos bíblicos e as teorias astrofísicas atuais.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
A história prova que a religião pode ter esse efeito. Isso é bem ilustrado pelo famoso caso de Dica
Galileu Galilei. Todavia, nesse contexto, acho muito interessante a hipótese de Max Weber, que Leia sobre aprendiza-
diz que as ciências modernas têm suas raízes na tradição judaico-cristã e, por isso, elas se desen- gem significativa de
volveram especificamente na Europa, onde as duas religiões haviam deixado suas marcas. Max Davis Ausubel.
Weber apontou para a cosmovisão dualista, para a ideia de um Deus transcendental, totalmente A aprendizagem
diferente do mundo, que, uma vez criado, segue os seus mecanismos invariáveis. Segundo We- significativa de David
Ausubel (1970) vem
ber, esse conceito provocou certa divisão na área intelectual. romper com o estigma
Por um lado, acentuou-se a teologia ocupada do lado divino do “ser”. Por outro lado, as ciên- de que o aluno é uma
cias exatas se articularam, propondo uma integridade, uma autonomia do mundo distante de máquina pronta para
Deus, exposto a uma investigação própria. Nesse sentido, podemos dizer que a religião, em vez receber informações de
de inibir um desenvolvimento da ciência, estimulou-o. Mais especificamente, devemos pensar, seu professor. Ela vem
veicular a necessidade
por exemplo, em vários grandes físicos que eram homens religiosos, cuja religiosidade não inibia do apoderamento por
que chegassem a resultados, levando-os a novos paradigmas em suas áreas. parte dos educadores
Devemos, também, lembrar-se do caso da Igreja Cristã dos Santos dos Últimos Dias, ou seja, de ferramentas que
dos chamados Mórmons. Motivados pela doutrina de que membros da Igreja podem contribuir acelerem o processo
para a salvação de seus parentes já falecidos, ou seja, como consequência da prática do batismo criativo, de forma a des-
mistificar a educação e
de antepassados, há grandes especialistas em pesquisa na área de genealogia nessa Igreja. Esse diversificar a aprendi-
exemplo também indica que religião não deve ser reduzida ao seu papel inibidor a respeito do zagem.
progresso científico.
O foco do ensino de Ciências está na perspectiva metodológica com temáticas mais volta-
das às novas metodologias centradas no construtivismo, na direção que aponta Duit (1987), Pos-
ner et al. (1982). Mas há diversas alternativas metodológicas que visam a relacionar os conteúdos
ensinados com o cotidiano, analisar modelos e analogias, investigar concepções epistemológicas
de professores, desenvolver propostas para a formação docente mais adequada, valorizar a expe-
rimentação, produzir materiais didáticos alternativos à esfera comercial, defender o ensino com
base na história da ciência, analisar as questões de linguagem no ensino de Ciências e questionar
perspectivas epistemológicas empírico-positivistas.
Nesse contexto, tal fato pode desconsiderar a educação como campo de produção científi-
ca, social e cultural. O desafio é entender que a mediação pedagógica do conhecimento implica
considerar que as finalidades sociais da escolarização não são determinadas pela lógica do co-
nhecimento científico de referência e promover no espaço escolar estudo que siga uma aborda-
gem mais sociológica do currículo de ciências, sobretudo, oferecer às nossas crianças uma apren-
dizagem significativa.
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UAB/Unimontes - 5º Período
BOX 1
Resilência
Quais os compromissos que a Ciência tem assumido com o nosso planeta na melhoria da
qualidade de vida de homens e mulheres?
Referências
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensi-
no de Ciências - PCN/ MEC. 3. ed. Brasília: 2001.
DELIZOICOV, Demétrio et al. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2002.
Delizoicov, D.; Angotti, A. (1990). Metodologia do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez.
DUIT, R. The constructivist view: a fashionable and fruitful paradigm for science education re-
search and practice. In L. P. Steffe & J. Gale (Eds.), Constructivism in Education. LEA, Lawrence Erl-
baum Associates, Publishers. 1987.
FRIZZO, M. N.; MARIN, E. B. O ensino de ciências nas séries iniciais. 3. ed. Rio Grande do Sul -
Ijuí: UNIJUÍ, 1989.
LOPES, Alice Casimiro, MACEDO, Elizabeth (orgs.). Currículo de ciências em debate. Campinas:
Papirus, 2004.
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UAB/Unimontes - 5º Período
LORENZETTI, L.. O ensino de ciências naturais nas séries iniciais, 2005. Disponível em <www.
faculdadefortium.com.br/ana_karina/material/O%20Ensino%20De%20Ciencias%20Naturais%20
Nas%20Series%20Iniciais.doc>. Acesso em 16 nov. 2010.
POSNER, G.J., STRIKE, K.A., HEWSON, P.W. & GERTZOG, W.A. Accommodation of a scientific con-
ception: Toward a theory of conceptual change. Science Education, 66(2): 211-227, 1982.
SHEN, B. S. P. Science Literacy In: American Scientist, v. 63, p. 265-268, may. jun. (1975).
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
UNIDADE 2
Aspectos Metodológicos do
Conteúdo e do Ensino de Ciências
no Ensino Fundamental: O
Profissional do Ensino de Ciências
Entende-se que essa resistência pode levar o aluno a rejeitar as concepções cientificas ou
sentir excluído do processo educacional, projetando a Ciência como algo distante e desvincula-
do da sua vivência.
Foi somente na década de 1980 que o ensino de Ciências Naturais passou a dar ênfase na
construção do conhecimento pelo aluno, o que significa mudanças no processo ensino/apren-
dizagem, passando a questionar as metodologias de ensino que preconizavam apenas a memo-
rização de fatos. Essa tendência pedagógica foi caracterizada como construtivista, porque pau-
ta-se na interação “professor, estudante e conhecimento”, resultando em novas aprendizagens
docentes e discentes. Conforme Silva (2009):
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UAB/Unimontes - 5º Período
Aponta-se, então, a necessidade da prática educativa a partir das ideias prévias dos estu-
dantes para se chegar à visão científica atual. O professor deveria atuar, então, como mediador
da aprendizagem, promovendo conflitos cognitivos que fomentariam a revisão das concepções
e práticas. Assim, permitiria que os estudantes questionassem a coerência de suas percepções
diante do fenômeno analisado.
Os pressupostos básicos da aprendizagem por mudanças conceituais são: a aprendizagem
ocorre a partir do envolvimento do aluno com a construção do conhecimento, em que as ideias
iniciais dos alunos exercem função importante no processo, que toma como ponto de partida o
conhecimento que o aluno possui. Considera-se que as concepções do mundo que a criança tem
são fundamentais na explicação do modelo que está sendo criado ou experimentado. Portanto,
o conhecimento prévio que a criança traz consigo é muito importante, pois ela precisa comparar
o modelo ao mundo real para se certificar de que suas concepções espontâneas a respeito do
assunto que está sendo modelado têm fundamento ou não.
Outro pressuposto dessa teoria é que, ao longo de sua história, os seres humanos têm construí-
do modelos da realidade como maneira de possibilitar a sua interação com essa realidade. A ciência
é resultado da adoção de um modelo de explicação da realidade. Como a ciência integra diversos
campos do conhecimento, foram criadas diversas ciências (humanas, sociais, naturais, exatas, etc.),
cada uma com referenciais metodológicos específicos. Desse modo, a humanidade vem construindo
um cabedal de conhecimentos científicos que tem sido transmitido através dos tempos.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Em suma, entendemos que o ensino de Ciências Naturais não objetiva transformar crianças
em futuros cientistas, mas sim formar pessoas que sejam capazes de utilizar conhecimentos cien-
tíficos para explicar, com consciência, fatos que acontecem no seu cotidiano, incluindo a dinâ-
mica do seu corpo. Por essa razão, as aulas de Ciências Naturais não podem apenas se resumir a
conteúdos dados sem que os alunos saibam sua função e aplicabilidade. Assim, as aulas são um
espaço privilegiado para que os estudantes e professores possam desenvolver as noções e ideias
que têm do mundo a seu redor e de si próprios.
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UAB/Unimontes - 5º Período
nibilidade dos alunos. Sobretudo, podemos inferir que o profissional de Ciências deve possuir
consciência crítico-política apurada para realizar uma leitura real da realidade social e fazer com
que os conteúdos de Ciências estejam a serviço da comunidade escolar.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
• “[...] o homem sente-se intrigado com o que observa e começa a imaginar o que o levou a fi-
car intrigado... o homem principia a questionar-se mais e mais [...]” - identifica-se a presença
da observação como desencadeante de um processo reflexivo que, envolvendo a curiosida-
de, promove o questionamento, o perguntar-se sobre as coisas, descobre o problema a ser
resolvido;
• A reflexão, a tentativa de explicar fenômenos, as explicações prováveis: momento funda-
mental da criatividade. A criatividade, em Ciências, somente é atingida quando uma ou mais
explicações forem formuladas para explicar determinado fato ou fenômeno;
• Cria, então, um sistema de dados que o orientarão na investigação, organiza o material co-
lhido e registrado. - É a experimentação caracterizada pela concepção de uma estratégia
para investigar o problema, confirmar ou rejeitar, empiricamente a(s) hipóteses(s);
• “A capacidade de criar e exteriorizar-se depende da estimulação”. - Em uma só frase, dois as-
pectos essenciais do processo ensino/
aprendizagem: o criar/exteriorizar-se signi-
fica um processo interno (motivação), ca-
paz de aflorar em determinadas situações,
o que significa incentivos capazes de pro-
vocar a exteriorização da motivação; ◄ Figura 18: Visão
• “Pergunto então: por que o homem, com interdisciplinar do
todo conhecimento que tem, ainda as- ensino de Ciências
sim não é capaz de criar?” - Essa é a ques- Fonte: Disponível em
tão básica para a qual podemos analisar < http://quiprona.files.
wordpress.com/2010/12/
partindo do pressuposto de que o erro ciencia.jpg>. Acesso em 20
primordial é a maneira como estes co- set. 2010.
nhecimentos são ministrados. É algo pa-
dronizado, mas na hora da aplicação do
conhecimento sentimo-nos barrados, im-
potentes. O mais importante foi deixado
para trás: a aplicação da teoria.
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UAB/Unimontes - 5º Período
bitos da cultura humana das quais também depende e com critérios de verificação funda-
dos em permanente exercício da dúvida;
3. Promover e valorizar a alfabetização científico-tecnológica, ou seja, a capacidade de se ex-
pressar e se comunicar com as linguagens da ciência, bem como de expressar o saber cien-
tífico em diferentes linguagens;
4. Ser capaz de construir relações significativas entre os diferentes campos de conhecimento das
ciências naturais (Física, Química e Biologia) em múltiplos contextos, incluindo-se também te-
mas de outras áreas, favorecendo, assim, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade;
5. Compreender que o ensino de Ciências deve compor o desenvolvimento da cultura científi-
ca, com a promoção de competências, habilidades e valores humanos;
6. Conduzir a aprendizagem de forma a promover a emancipação e a capacidade de traba-
lho coletivo dos alunos, planejando e realizando atividades com sua participação ativa e,
também, demandando consulta e cooperação entre eles, em questões de caráter prático,
crítico, político e social;
7. Tratar temáticas que dialoguem com o contexto da escola e com a realidade dos alunos,
antecedendo aquelas que transcendem seu espaço vivencial, respeitando as culturas regio-
nais, mas orientando a construção conceitual com vistas a uma cultura científica de sentido
universal;
8. Respeitar as etapas de desenvolvimento cognitivo dos alunos, utilizando linguagens e ní-
veis de complexidade dos conteúdos disciplinares de forma compatível com a maturidade
esperada da faixa etária típica de cada série;
9. Realizar e sugerir observações e medidas práticas que não se limitem a experiências de-
monstrativas ou laboratoriais, mas que também envolvam percepções e verificações do
mundo real, em que sejam relevantes a participação e o registro feitos pelos alunos;
10. Ser capaz de motivar e fomentar os interesses dos alunos, estimulando a investigação e a
capacidade de pesquisar e de fazer perguntas, assumindo, com tolerância e respeito, a res-
ponsabilidade inerente à função que exerce, o que também requer o cuidado com a sua
formação contínua ao longo da vida.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
9. Identificar hipóteses e teorias sobre a origem e a evolução dos seres vivos, que revelam Dica
como fósseis e outros registros do passado mostram como se operaram transformações As condições ou
dos seres vivos ao longo do tempo, reconhecendo igualmente as causas e as consequên- reflexões até agora
cias da extinção de espécies; feitas vêm sendo
10. Demonstrar compreensão das estratégias e processos de ocupação dos espaços pelos se- desdobramento de um
res humanos e das consequências da produção de alimentos, da obtenção de materiais do primeiro saber inicial-
mente apontado como
solo, do subsolo e da atmosfera e, ainda, da domesticação de vegetais e animais; necessário à formação
11. Demonstrar compreensão de como os ciclos naturais do ar e da água e a biomassa viva ou docente, numa perspec-
fóssil são aproveitados e processados para uso energético; tiva progressista. Saber
12. Identificar, em representações variadas, fontes e transformações de energia que ocorrem ensinar não é transferir
em processos naturais e tecnológicos, bem como selecionar, entre as diferentes formas de conhecimento, mas
criar as possibilidades
se obter um mesmo recurso material ou energético, as mais adequadas ou viáveis para su- para a sua própria
prir as necessidades de determinada região; produção ou a sua cons-
13. Reconhecer transformações químicas do cotidiano e do sistema produtivo através da dife- trução. (FREIRE, 1996,
rença de propriedades dos materiais e do envolvimento de energia nessas transformações p. 47).
e apontar necessidades e benefícios, assim como riscos e prejuízos ambientais relacionados
a alterações de processos naturais e à contaminação por resíduos;
14. Compreender a constituição dos materiais, diferenciando conceitos de elementos, subs-
tâncias químicas, misturas, com suas propriedades físicas, revelando também uma visão
microscópica que responda por suas propriedades, assim como ter uma compreensão das
muitas radiações e de seu espectro, em correlação com as suas diversas aplicações;
15. Caracterizar a saúde como bem-estar físico, mental e social, identificando seus condicio-
nantes (alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, renda, trabalho, educação,
transporte e lazer) e recorrendo a indicadores de saúde, sociais e econômicos, para diag-
nosticar a situação de estados ou regiões brasileiras;
16. Reconhecer os agravos mais frequentes à saúde, suas causas, prevenção, tratamento e dis-
tribuição, bem como as funções dos diferentes nutrientes na manutenção da saúde;
17. Compreender o caráter sistêmico do corpo humano, descrevendo relações entre os sistemas,
ósseo-muscular, endócrino, nervoso e os órgãos dos sentidos, mostrando também como se
relacionam sexualidade e saúde reprodutiva e como as drogas interferem no organismo;
18. Construir uma representação da Terra, com suas dimensões, estrutura interna e modelos de
placas tectônicas, associando essa compreensão com fenômenos naturais como vulcões,
terremotos ou tsunamis;
19. Situar a Terra no universo, associando os movimentos da Terra aos aparentes da Lua, do Sol
e das estrelas, às medidas de tempo diário, às estações do ano e aos eclipses, assim como
ter uma compreensão do Sistema Solar, com as dimensões, distâncias e características dos
planetas;
20. Reconhecer o aspecto cultural relacionado às constelações, bem como o movimento das es-
trelas no céu e sua relação com movimentos da Terra. Identificar o Sol como uma estrela e
estabelecer o conceito de galáxia, compreendendo o movimento do Sol na Via Láctea.
Vive-se um momento de profundas transformações. Não se sabe ao certo para onde se ca-
minha nem qual o caminho a trilhar. A sociedade atual encontra-se em profunda crise, na qual
somos remetidos a repensar nossos valores e atitudes. Como nos aponta Gramsci, citado por Ga-
dotti (1998, p. 86), “vivemos um momento histórico no qual o bloco hegemônico dominante en-
tra em crise, frente à ameaça de um novo bloco histórico”.
31
UAB/Unimontes - 5º Período
Nesse contexto incerto, o papel do profissional da educação precisa ser repensado. Segun-
do Gadotti (1998), faz-se mister que o professor se assuma como um profissional do humano, so-
cial e político, tomando partido e não sendo omisso. Nessa perspectiva, entende-se que o povo,
de posse desse saber mais elaborado, poderá vir a ter condições de se proteger contra a explora-
ção das classes dominantes, organizando-se para a construção de uma sociedade melhor, menos
excludente e, realmente, democrática. Não se pode esperar que tal organização brote esponta-
neamente, mas sim por meio da educação, que pode caminhar lado a lado com a prática política
do povo. Sendo assim, o profissional da educação assume aqui um papel, sobretudo, político.
Educadores e educadoras precisam engajar-se social e politicamente, percebendo as possi-
bilidades da ação social e cultural na luta pela transformação das estruturas opressivas da socie-
dade classista. Para isso, antes de tudo, necessitam conhecer a sociedade em que atuam e o nível
social, econômico e cultural de seus alunos e alunas.
Precisam entender também que, analisando dialeticamente, não há conhecimento absolu-
to, pois tudo está em constante transformação. Usando os dizeres de Gadotti (1998), todo saber
traz consigo sua própria superação. Portanto, não há saber nem ignorância absoluta: há apenas
uma relativização do saber ou da ignorância. Por isso, educadores e educadoras não podem se
colocar na posição de serem superiores, que ensinam um grupo de ignorantes, mas sim na po-
sição humilde daqueles que comunicam um saber relativo a outros que possuem outro saber
relativo.
Como educadores engajados em um processo de transformação social, é preciso que esses
profissionais acreditem na educação e, mesmo não tendo uma visão ingênua, acreditando que
ela sozinha possa transformar a sociedade em que está inserida, acreditem, também, que, sem
ela, nenhuma transformação profunda se realizará. É preciso confiar nessas mudanças e esperar
o inesperado, pois como nos diz Morin (2001):
No entanto, como professores e professoras se vêem frente a essas questões? Que espaço
reservam para discutir as suas funções sociais? Será que no seu dia a dia, entre uma escola e ou-
tra, fazem tal reflexão ou acabam sucumbindo ao sistema, mergulhando num fazer sem fim? A
sociedade e a escola têm valorizado os profissionais da educação, ou, como nos aponta Arroyo
(2002), veem estes como “um apêndice, um recurso preparado, ou despreparado?”.
32
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
A citação vai ao encontro das ideias de Severino (2001), que nos faz entender que é tarefa
da filosofia da educação é intencionalizar a prática educacional, dando respaldo para que essa
prática seja pensada, refletida, construída e reconstruída, enfim, seja uma prática não apenas em-
pírica, mas também reflexiva, que se aporte na epistemologia. Para tal, entende que a filosofia
não deve ser vista como uma ciência isolada, mas sim que busca se apoiar em fundamentos his-
tóricos e sociológicos.
Procurando contextualizar o surgimento da filosofia da educação, Severino (2001, p. 121)
aponta que o pensar contemporâneo busca na ciência, na razão, a explicação para as causas pri-
meiras, fugindo de toda espécie de transcendentalismo tão presente no pensar medieval. Sendo
assim, o racionalismo naturalista moderno transfigura a cosmovisão da cultura ocidental e ins-
taura uma avassaladora dessacralização da natureza e da cultura, fato que, antes de tudo, atinge
as ciências naturais e, a seguir, as humanas, das quais se originam as ciências da educação. Nessa
perspectiva, a educação passa a ser pensada por meio da ciência, tendo a filosofia da educação a
função de justificar a utilização de recursos técnico-científicos que levem ao máximo o desempe-
nho dos sujeitos envolvidos no processo de ensino/aprendizagem.
Segundo Severino (2001), a educação brasileira é atingida por essa forma de pensar, com
ideários escolanovistas, que emergem como contraponto à educação tradicional jesuítica, a qual
influencia por séculos a escola brasileira. Para a Escola Nova, a educação é considerada o único
instrumento apropriado para a construção de uma sociedade laica e justa, gerenciada por um
aparelho estatal que se inaugura a partir de um projeto político iluministicamente concebido e
juridicamente implementado.
O escolanovismo é fortemente influenciado pelas ideias de John Dewey, de quem Anísio
Teixeira é interlocutor no Brasil. As ideias da Escola Nova aportam-se na psicologia do desenvolvi-
mento, o que faz com que essa disciplina seja, até os dias atuais, bastante prestigiada nos cursos
de formação de professores.
Segundo Severino (2001, p 110):
33
UAB/Unimontes - 5º Período
Severino (2001, p.128) prossegue sua análise criticando também teóricos cientificistas que
delegam a filosofia da educação apenas a validação da metodologia de investigação e de expres-
são do conhecimento científico, tornando-se uma filosofia das ciências da educação. Nessa pers-
pectiva, a filosofia da educação traz em si dois aspectos: o instrumental e o crítico. Entende-se
por instrumental o embasamento teórico que a filosofia pode oportunizar para a resolução de
problemas práticos. Por sua vez, o crítico deve despertar o constante questionamento sobre a
prática. Para tais teóricos, o conhecimento científico é o único capaz de verdade e fundamento
plausível da ação; qualquer critério do agir humano só pode ser técnico e funcional, nunca ético,
estético ou político.
Essa vertente teórica no campo da filosofia, segundo Severino (2001), não atenta para a sub-
jetividade presente na área da educação, nem para as ilusões, erros e ideologias que perpassam
a consciência humana, sendo acusada de reducionismo epistemologista ao apoiar-se apenas na
ciência e na técnica. Segundo Severino:
34
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
mentados no Brasil em 1969, no período da ditadura militar, fato que remete a pensar em um
educador passivo, apolítico, técnico sem preocupações sociopolíticas, com um agir totalmente
desvinculado da realidade na qual se insere. Dessa forma, especificamente, o curso de Pedagogia
oferece habilitações para supervisão, orientação, administração, inspeção e planejamento com
conotações totalmente tecnicista, apoiada no treinamento desses profissionais para atuarem nas
escolas com toda a objetividade possível.
Entender a forma como o curso de Pedagogia foi regulamentado no Brasil se faz necessário
para a compreensão de como essa mentalidade, mesmo que de forma implícita, ainda permeia
o agir de educadores e educadoras no momento atual, pois, como nos aponta Hennig (1994), a
formação do profissional da educação não se
inicia, ao contrário do que se imagina, quan-
do este ingressa em um curso de formação de
professores, mas sim desde o primeiro dia em
que ele ingressa na escola como aluno. Suas
representações e seus significados de educa-
ção, vivificados como estudantes, são muito
mais influenciados pela sua vivência escolar
do que com as teorias que venha a entrar em ◄ Figura 22:
contado em sua formação acadêmica. Responsabilidade com
Grande parte dos educadores e educado- o planeta
ras que se encontra em sala de aula atualmen- Fonte: Disponível em
<http://www.oglobo.
te passou por todo esse sistema repressivo globo.com>. Acesso em 20
da ditadura militar e foi aluno de professores set. 2010.
e professoras que trabalhavam sob a égide
desse momento histórico, os quais necessi-
tam sempre de refletir, questionar e rever sua
prática pedagógica para não cair em um ciclo
vicioso de reprodução dessa ação castradora.
Para Gadotti (1998), o profissional da educa-
ção precisa ser desrespeitoso para questionar
a realidade que a ele se apresenta para então
promover mudanças sociais. Explicando melhor, defende Gadotti:
Desrespeitar, no enfoque de Gadotti (1998), pode ser entendido como questionar. Educado-
res e educadoras precisam constantemente repensar e revisitar suas crenças mais intrínsecas so-
bre a representação que têm de educação, pois, de acordo com Paulo Freire, que já proclamava
desde os anos 60, e de acordo com Gadotti (1998), a educação não é neutra. Ou se educa para o
silêncio, para a submissão, ou com o intuito de dar a palavra, de não deixar calar as angústias e a
necessidade daqueles que estão sob a responsabilidade, mesmo que temporária, de educadores
e educadoras nos âmbitos escolares. Sendo assim, métodos e técnicas precisam ser secundariza-
dos na discussão sobre a educação, devendo-se atentar prioritariamente sobre a vinculação en-
tre o ato educativo, o ato político e o ato produtivo.
Professores e professoras têm um papel, sobretudo político e precisam problematizar a edu-
cação, buscando o porquê e o para que do ato educativo. Mais que isso: sua tarefa é a de quem
incomoda, de quem evidencia e trabalha o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o conflito
para sua superação dialética.
No entanto, pergunta-se até que ponto pode-se dizer que esse fazer dialético, problematiza-
dor, está presente no cotidiano escolar? Estão nossos professores e professoras problematizando
as questões, ou continuam se calando diante das injustiças? Trabalham para quem? A favor de
quem? Estabelecem uma relação dialógica com o saber, buscando uma sociedade democrática
e coletiva, ou reproduzem a lógica do sistema, no interior das escolas, através de seleções, de ex-
clusões, de estímulo à individualidade e à competitividade?
35
UAB/Unimontes - 5º Período
Gadotti (1998, p. 74) entende que não há uma educação tão somente reprodutora do siste-
ma, nem uma educação tão somente transformadora desse sistema. Essas duas tendências coe-
xistem no plano educacional numa perspectiva dialética e conflituosa. Sendo assim:
[...] há uma contradição interna na educação, própria da sua natureza, entre a ne-
cessidade de transmissão de uma cultura existente - que é a tarefa conservadora
da educação - e a necessidade de criação de uma nova cultura, sua tarefa revo-
lucionária. O que ocorre numa sociedade dada é que uma das duas tendências é
sempre dominante (GADOTTI, 1998, p.74.)
Nesse caminho, o papel dos profissionais da educação necessita ser repensado. Estes não
podem mais agir de forma neutra nessa sociedade do conflito, não podem ser ausentes, apoian-
do-se apenas nos conteúdos, métodos e técnicas; não podem mais ser omissos, pois os alunos
pedem uma posição desses profissionais sobre os problemas sociais, não com o intuito de incul-
cação ideológica de suas crenças, mas como alguém que tem opinião formada sobre os assuntos
mais emergentes e que está disposto ao diálogo, ao conflito, à problematização do seu saber.
Atualmente não se pode mais apoiar-se em teses que apregoam que a educação não pode
mudar enquanto não houver mudanças estruturais no sistema. Faz-se necessário acreditar, com
Gadotti (1998), que, apesar de a educação não poder sozinha transformar a sociedade em ques-
tão, nenhuma mudança estrutural pode acontecer sem a sua contribuição. A transformação so-
cial, que muitos almejam para uma sociedade mais justa, com menos desigualdades, onde todos
tenham voz e vez, só será possível a partir do momento em que se evidenciem os conflitos, não
tentando escondê-los ou minimizá-los, mas que os tragam à tona, para que assim a educação
não contribua como mecanismo de opressão, buscando a superação, e não a manutenção de
uma sociedade preconceituosa e desigual, dividida entre ricos e pobres.
Referências
AUSUBEL, D. Psicologia educativa: um ponto de vista cognitivo. México: Editorial Trillas, 1970.
36
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
BANDEIRA, A.; STANGE, C. E. B.; SANTOS, J. M. T. Proposta de critérios para análise de livros didá-
ticos de ciências. In: XIX Seminário de Pesquisa e XIV Semana de Iniciação Científica da UNI-
CENTRO. CDROM Resumos. Guarapuava: UNICENTRO, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 3. ed. São Paulo: Cortez; Brasília,
DF: UNESCO, 2001.
37
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
UNIDADE 3
O Espaço Escolar e a Construção
de Experiências Científicas a
Partir da Realidade. Atividades
Complementares e Produção
de Material Didático Voltado
para o Ensino de Biologia, Física
e Química. Métodos e Técnicas,
Execução e Avaliação de
Atividades Experimentais
39
UAB/Unimontes - 5º Período
40
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Quando os alunos são incitados a contar como resolveram o problema, começam a tomar
consciência das construções dos eventos, iniciando-se a conceituação. A tomada de consciência
está longe de constituir apenas uma simples leitura: ela é uma reconstrução que o aluno faz de
suas ações e do que conseguiu observar durante a experiência.
Pensando no que fizeram, para contar ao professor e à classe como resolveram o problema,
começam a tomar consciência, vão fazendo ligações lógicas, estabelecendo conexões entre suas
ações e reações dos objetos. As relações gradualmente vão sendo desvinculadas das ações da
própria criança para as relações entre modificações dos atributos físicos, químicos e biológicos
dos objetos e respectivos resultados. Nessa passagem - das ações executadas pelo próprio sujei-
to para a relação entre os atributos dos objetos -, vai se iniciando a construção dos conceitos.
É importante reafirmar que a conceituação é um processo que se inicia com a reconstrução
da própria ação e, depois, vai evoluindo para as sequências exteriores, permitindo uma elabora-
ção gradativa de noções necessárias para a explicação dos fenômenos.
Portanto, caro(a) acadêmico(a), se quisermos ensinar Ciências, se quisermos que nossos alu-
nos aprendam Ciências, construindo eles mesmos os conceitos que queremos ensinar, então, é
preciso incentivá-los em cada aula, em cada atividade, para compreenderem o que já sabem fa-
zer. A aula de Ciências não pode terminar com a resolução do problema.
À medida que se amplia o conceito de conteúdo escolar, o papel do professor em sala de
aula torna-se ainda mais fundamental. O professor é a figura-chave no desenvolvimento das ati-
vidades práticas e, por esse motivo, é importante discutir alguns pontos relacionados à sua atitu-
de em sala de aula, bastante diferente da do professor que trabalha de forma ‘tradicional’:
• A autonomia do aluno;
• A cooperação entre os alunos;
• O papel do erro na construção do conhecimento;
• A avaliação;
• A interação professor/aluno.
41
UAB/Unimontes - 5º Período
Figura 25: No ►
laboratório de ciências
na escola
Fonte: Disponível em
<http://www.emnapion.
blogspot.com>. Acesso em
20 ago. 2010.
Criar condições para que os alunos digam o que pensam com convicção, argumentem com
precisão e exponham suas ideias com persuasão (e não repetindo o que o professor disse) são
objetivos a serem atingidos em todo ensino construtivista, mas que só podem ser alcançados
através de um trabalho diário, perseverante e muito atento do professor.
42
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Aprender a ouvir, a considerar as ideias de outro colega, não é só, do ponto de vista afetivo,
um exercício de descentralização; mas também, do ponto de vista cognitivo, um momento pre-
cioso de tomada de consciência de uma variedade de hipóteses diferentes sobre o fenômeno
discutido. Nessa situação de diálogo, os alunos são ainda estimulados por desafios às suas ideias,
reconhecendo a necessidade de reorganizá-las e reconceituá-las.
Pesquisas já demonstraram que, em um ensino, quando se aumentam as oportunidades de
discussão e de argumentação, também se incrementa a habilidade dos alunos de compreender
os temas ensinados e os processos de raciocínio envolvidos.
Prezado(a) acadêmico(a), é preciso que os estudantes compartilhem suas ideias com seus
pares, tanto em pequenos grupos como com toda a classe. Os pequenos grupos dão oportuni-
dade aos alunos para que expliquem e defendam seus pontos de vista - processo que estimula
a aprendizagem, pois a habilidade de argumentação é uma das realizações mais importantes da
educação científica. Ao contar aos outros o que pensam sobre um problema, os estudantes ela-
boram e refinam seus pensamentos e aprofundam sua compreensão.
Entretanto, não basta colocar os alunos uns ao lado dos outros e permitir que eles interajam
para obter, automaticamente, cooperação e superação do egocentrismo de cada um. Temos de
planejar muito bem cada atividade em grupo, pois o elemento decisivo não é a quantidade de
interação, mas sua natureza empolgante e interessante para resolver, de tal modo que, ao procu-
rarem uma solução, criem, com naturalidade, um clima de cooperação – do ponto de vista cogni-
tivo e atitudinal.
43
UAB/Unimontes - 5º Período
3.6 A Avaliação
Acadêmico(a), avaliar as aprendizagens dos seus alunos é uma tarefa, às vezes, não muito
fácil para o professor. Várias abordagens tratam da questão de maneiras diferentes e complexas,
levando em consideração as diversas tarefas do professor no chão da sala de aula.
Assumindo uma postura tradicional, o professor concebe a avaliação como classificação das
crianças no que se refere ao produto apresentado pelos alunos em dadas modalidades de avalia-
ção. A ‘prova’ retrata um ensino baseado no silêncio e na solicitação ao aluno de um ‘depósito’ de
informações aprendidas durante aulas expositivas e atividades individuais. Na verdade, com esse
tipo de avaliação, mede-se apenas a competência da criança em memorizar e repetir informa-
ções que lhe foram transmitidas durante as aulas.
Propomos uma avaliação mediadora dos processos de ensino e aprendizagem, que sirva
para encorajar e reorganizar o saber. Para isso, como afirma Hoffmann:
Nesse sentido, a autora ratifica uma proposta de avaliação que considere o desenvolvimen-
to processual da criança, respeitando-a em seus espaços e tempos diferenciados para aprender.
Uma proposta de avaliação que atenda às solicitações da sociedade moderna com suas perma-
nentes transformações, gestora do projeto neoliberal em desenvolvimento no mundo, que exige
diversas formas de pensar, agir e sentir a nova ordem socioeconômica.
Assim, a produção de conhecimentos e informações nessa sociedade leva-nos a perce-
ber que vivemos na sociedade do conhecimento e da informação, exigindo-nos capacidade de
‘aprender a aprender’ e de ‘aprender a ser’ na direção apontada por Morin (2001), para participar-
mos do jogo nacional e internacional de forma esclarecida e questionadora.
No ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o professor deve conduzir
suas aulas para uma prática problematizadora, possibilitando às crianças aprenderem a investi-
gar, na realidade do cotidiano, as questões levantadas no chão da sala de aula.
Conforme (Hoffmann, 2001, p. 98):
44
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
45
UAB/Unimontes - 5º Período
crianças. Os professores não devem ser levados a pensar que estimular a iniciativa dos alu-
nos justifica permitir que façam o que quiserem sem levar em conta sua própria segurança,
assim como a dos colegas. A segurança nas experiências e a ética do cuidado com os alunos
é um tema de reflexão de construtivistas da atualidade.
Para oferecer uma nova prova de que não existe um método único de “fazer” ciência, dife-
rentes fontes descrevem as etapas do método científico de maneiras diversas. Algumas delas
mencionam três etapas, outras apenas duas. Em termos fundamentais, porém, elas incorporam
os mesmos conceitos e princípios. Vejamos:
Para os nossos propósitos, diremos que existem cinco etapas fundamentais no método, Ve-
jamos:
Etapa 1: Observação
Quase todas as investigações científicas
começam por uma observação que desper-
ta a curiosidade ou suscita uma questão. Por
exemplo, quando Charles Darwin (1809-1882)
visitou as Ilhas Galápagos (localizadas no
Oceano Pacífico, a 950 km a oeste do Equa-
dor), ele observou diversas espécies de tenti-
Figura 29: Etapas do ► lhões, cada qual adaptado de maneira única a
método científico um habitat específico. Os bicos dos tentilhões,
Fonte: Disponível em
<www.ciencia.hsw.uol.
em especial, apresentavam largas variações e
com.br>. Acesso em 28 pareciam desempenhar papel importante na
dez. 2010. maneira pela qual o animal obtinha alimento.
Os pássaros cativaram Darwin. Ele queria com-
preender as forças que permitiam que tantas
variedades diferentes coexistissem com suces-
so em uma área geográfica pequena. Suas ob-
servações o levaram a formular uma pergunta
que poderia ser submetida a teste.
Etapa 2: Formulação da pergunta
O propósito da pergunta é estreitar o
foco da investigação e identificar o problema em termos específicos. A pergunta que Darwin po-
deria ter feito, depois de ver tantos tentilhões diferentes, talvez fosse expressa assim: o que cau-
sou a diversificação dos tentilhões das ilhas Galápagos?
46
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
O método científico tenta minimizar a influência da parcialidade que o responsável pela ex-
periência possa apresentar. Até mesmo o mais bem intencionado dos cientistas pode ser parcial.
Isso resulta de crenças pessoais, bem como de crenças culturais, o que significa que qualquer ser
humano filtra as informações com base em suas próprias experiências. Infelizmente, esse proces-
so de filtragem pode fazer com que um cientista prefira um resultado a outro. Para alguém que
esteja tentando resolver um problema doméstico,
ceder a essa parcialidade não é uma questão sé-
ria. Mas, na comunidade científica, em que resul-
tados têm de ser revisados e reproduzidos, a par-
cialidade precisa ser evitada a todo custo.
Essa é a função do método científico, que
oferece uma abordagem objetiva e padronizada
para a condução de experiências e melhora os re-
sultados obtidos. Ao empregar uma abordagem
◄ Figura 30: Gregor
padronizada nas investigações, os cientistas po- Mendel
dem se sentir confiantes ao estarem aderindo aos Fonte: Disponível em
fatos e limitando a influência de ideias pessoais e <www.uol.com.br>. Aces-
preconcebidas. Mas, mesmo com uma metodo- so em 22 set. 2010.
logia rigorosa em ação, alguns cientistas ainda
cometem erros. Por exemplo, podem considerar
que uma hipótese representa a explicação de um
fenômeno sem realizar testes que confirmem a
suposição. Ou podem deixar de registrar com pre-
cisão certos erros, como erros de mensuração, ou
podem ignorar dados que não apóiem suas hipó-
teses.
47
UAB/Unimontes - 5º Período
Gregor Mendel (1822-1884), padre austríaco que estudou traços hereditários em pés de
ervilha e um dos pioneiros no estudo da genética, pode ter sido vítima de um erro conhecido
como parcialidade de confirmação. A parcialidade de confirmação é uma tendência a acatar da-
dos que sustentem uma tese e rejeitar aqueles que a contestam. Alguns observadores argumen-
tam que Mendel obteve determinado resultado utilizando uma amostra de dimensões modestas
e depois continuou a reunir e a mensurar dados, a fim de garantir que seu resultado original fos-
se confirmado. Ainda que experiências subsequentes tenham comprovado a hipótese de Men-
del, muita gente ainda questiona seus métodos experimentais.
Na maior parte do tempo, porém, o método científico funciona e funciona bem. Quando
uma hipótese ou grupo de hipóteses correlatas recebe confirmação por meio de testes experi-
mentais repetidos, o resultado pode se tornar uma teoria. Teorias têm escopo muito mais amplo
do que hipóteses e oferecem imenso poder de previsão. A teoria da relatividade, por exemplo,
previu a existência de buracos negros muito antes que existissem provas capazes de sustentar a
ideia. Deve-se ressaltar, no entanto, que um dos objetivos da ciência não é só confirmar teorias,
mas refutá-las. Quando isso acontece, uma teoria precisa ser modificada ou descartada de todo.
48
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Em geral, cientistas recolhem dados tanto qualitativos quanto quantitativos, que contri-
buem igualmente para o conhecimento aglomerado quanto a um determinado tópico. Em ou-
tras palavras, os dados quantitativos não são mais importantes ou mais valiosos porque se ba-
seiam em medições precisas.
Lembre-se de que esta é uma metodologia idealizada. Os cientistas não carregam uma lista
dessas cinco etapas. O progresso é bastante fluido e aberto à interpretação. Um cientista pode
passar boa parte de sua carreira na etapa de observação. Outro pode trabalhar sem que nunca
dedique muito tempo a conceber e a conduzir experiências. Darwin passou quase 20 anos anali-
sando os dados que recolheu antes de agir em relação a eles. Na verdade, boa parte do trabalho
de Darwin foi puramente intelectual, como se ele estivesse tentando montar um grande quebra-
cabeças. No entanto, ninguém argumentaria que sua teoria da seleção natural é menos valiosa
ou menos científica, porque ele não seguiu rigorosamente o processo das cinco etapas.
Também seria apropriado mencionar uma vez mais que esse método não está reservado a
cientistas altamente treinados. Qualquer pessoa que tente solucionar um problema pode empre- Dica
gá-lo. Para ilustrar, considere o seguinte exemplo: você está indo a uma loja quando seu carro
Leia a afirmação de
apresenta superaquecimento. No caso, o problema revelado pela observação (uma luz de alerta John Dewey e reflita:
de temperatura), que lança a investigação imediatamente. Mas o que estaria causando o supera- “A Educação é um pro-
quecimento? Uma hipótese poderia ser um defeito no termostato. Outra envolveria o radiador. cesso social, é desenvol-
Uma terceira seria que a correia do ventilador poderia ter se partido. vimento.
A solução mais simples, muitas vezes, representa o melhor ponto de partida. O mais fácil a Não é preparação para
a vida: é a própria vida.”
fazer, nesse caso, é verificar a condição da correia do ventilador. Caso você descubra que ela está John Dewey.
mesmo partida, há motivos para acreditar que seja essa a causa do superaquecimento. No en-
tanto, ainda é necessário um teste para confirmar. O teste, no caso, envolveria substituir a correia
e ligar o motor para ver se o carro se superaquece. Caso isso não aconteça, você pode aceitar a
hipótese relacionada à correia do ventilador. Mas se a correia não estiver partida, ou se sua subs-
tituição não impedir o superaquecimento do carro, a hipótese terá de ser revista.
Talvez você tenha percebido que o exemplo oferecido não contém uma hipótese em forma
“se... então”. Também pode ter percebido que não inclui grupo experimental e grupo de controle.
Isso se deve ao fato de que problemas cotidianos não requerem esse tipo de formalidade. Mas
requerem uma abordagem lógica e uma progressão de pensamento que resulte em uma hipóte-
se passível de teste.
Vamos, então, apresentar as fundamentações e exemplos das técnicas de ensino mais
usuais, apropriadas e produtivas à introdução de Ciências, a fim de atingir seus objetivos. O su-
cesso de qualquer técnica, com qualquer exemplo, dependerá sempre da habilidade do profes-
sor. Não é a técnica em si nem os exemplos usados os condicionantes do sucesso ou fracasso
instrucional.
49
UAB/Unimontes - 5º Período
50
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Elaborar um plano
a) Que estratégia você irá desenvolver?
b) Procure organizar os dados em tabelas ou gráficos.
c) Você se lembra de um problema semelhante que poderá ajudá-lo a resolver este?
d) Procure resolver o problema por partes.
Executar o plano
a) Execute o plano elaborado, verificando-o passo a passo;
b) Efetue os cálculos indicados no plano;
c) Execute a estratégia traçada ou outras pensadas, obtendo várias maneiras de resolver o
mesmo problema.
51
UAB/Unimontes - 5º Período
Trata-se de uma técnica muita ativa que tem por fim fazer o aluno agir e realizar algo de prá-
tico, com grande atividade mental. Esse processo educativo propõe uma atividade planejada e
orientada por diretrizes previamente estabelecidas.
Projeto é o ato de planejar uma sequência organizada de tarefas relativas a uma situação
concreta, em busca de um fim prático.
O homem normal está sempre projetando, isto é, planejando suas futuras realizações no
que diz respeito a todos os setores de sua atividade: trabalho, negócios, descanso, etc. Pode-se
dizer mesmo que todas as ações humanas conscientes são, em última análise, a realização de
projetos.
Projeto, portanto, é um ciclo de atividades que vai do cérebro às mãos, sendo, portanto, ca-
paz de promover educação funcional. Assim, o projeto transforma a atividade do aluno de ser
passivo a ativo que concebe, prepara e executa o seu próprio trabalho.
52
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Além dessas vantagens gerais, a técnica dos projetos contribui especificamente no desen-
volvimento das capacidades de observação, raciocínio, método de trabalho, iniciativa, autodire-
ção, criatividade, cooperação, responsabilidade e auto-expressão.
A utilização da técnica de projetos em aula, como resultado didático, tem o mérito de fami-
liarizar o aluno com um modo de trabalho que ele frequentemente vai encontrar no plano práti-
co e corrente e na resolução de problemas pessoais e comunitários.
Finalizando, recomendamos que a técnica de projetos seja executada com precauções,
como as que se seguem:
• É aconselhável que os projetos não exijam muito tempo no caso de serem desenvolvidos
por alunos do Ensino Fundamental;
• A complexidade do projeto não deve ultrapassar a capacidade de resolução dos alunos, pois
podem ocorrer dificuldades de planejamento e execução que conduzirão a resultados insa-
tisfatórios;
• O professor deverá atuar para que o projeto seja viável.
O método da descoberta envolve a realização de atividades que necessitarão, sempre, do
devido projeto de investigação e dos relatórios ao final do processo. Quando um professor ou
um grupo de professores decide desenvolver uma atividade fora da rotina de sala de aula, sur-
gem diversos problemas de ordem técnica e logística que precisam ser resolvidos. Para que es-
ses problemas sejam resolvidos, inclusive, os de ordem financeira é conveniente apresentar, de
maneira clara e organizada, o projeto da atividade. Sugere-se a seguir um dos inúmeros roteiros
possíveis para a apresentação de um projeto.
É importante que se deixe bem claro que não há apenas um modo de organizar um projeto.
O que apresentamos são os elementos básicos de um bom roteiro. Muitas vezes as agências fi-
nanciadoras fornecem seus roteiros próprios.
Pode-se organizar um bom roteiro a partir das questões-chave que devem ser pensadas e
respondidas para definir o que se pretende realizar.
53
UAB/Unimontes - 5º Período
Mas, então, o que fazer para realizar aulas experimentais em condições ideais? É aí que
chamamos a atenção para o Laboratório Alternativo que faz uso de materiais bem simples
como: palha de aço, velas, detergente, sal de cozinha, açúcar, etc. Esses materiais são nomea-
dos de materiais alternativos, eles permitem ensinar Ciências de uma maneira inovadora e o
melhor: podem ser encontrados no próprio cotidiano da criança.
Acadêmico(a) comece a improvisar esse tipo de aula, não espere por recursos incertos. A
montagem do Laboratório Alternativo pode demorar um pouco, mas com o seu empenho e o
de seus alunos, com certeza, será uma atividade de sucesso.
Referências
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de Ciências. In: Ciências no ensino fundamental: o conhecimento físico. 1. ed. São Paulo: Scipio-
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DF: UNESCO, 2001.
PIAGET, J. O julgamento moral na criança. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1977.
54
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Apêndice
Arco-íris
Material
1. Uma folha de papel em branco
2. Um copo com água
3. Uma lanterna
Como fazer
1. Coloque o papel em frente ao copo com água.
2. Coloque a lanterna ao lado do copo e acenda.
O que acontece?
Aparece um arco-íris refletido no papel.
Por que acontece?
Porque o copo d’água faz com a luz da lanterna exatamente o que a nuvem faz com a luz do
Sol, ou seja, separa as cores da luz. A luz que parece não tem cor nenhuma, na verdade, é uma
mistura de cores coloridas. Juntas elas dão a luz invisível ou luz branca. Misturadas, a gente não
vê cor nenhuma, mas se você faz passar por alguma coisa que separe as cores, por exemplo, um
copo d’água, você vai ver as cores separadas ou um arco-íris.
55
UAB/Unimontes - 5º Período
Como fazer
1. Coloque a água em um recipiente e a areia no outro.
2. Deixe os dois na geladeira até esfriar.
3. Depois deixe os dois recipientes na luz do sol por 15 minutos.
4. Meça a temperatura de cada um deles.
O que acontece?
A temperatura da areia fica maior que a temperatura da água.
Por que acontece?
Sob a luz do sol, tanto a terra como a areia aquecem mais rápido que a água. Isso acontece
porque o calor do sol não consegue se aprofundar na areia, ele fica só na superfície e, por isso,
fica muito mais quente. Se você cavar na areia de uma praia no calor, vai descobrir que a areia
de baixo é fria. Com a água é diferente, o calor consegue se espalhar e, assim, esquenta menos e
mais devagar.
Como fazer
1. Coloque o leite no copo.
2. Ponha um pedaço de cortiça.
3. Com o conta-gotas, pegue o café e coloque em cima da cortiça cuidadosamente.
O que acontece?
O café não se mistura com o leite.
Por que acontece?
Por causa da tensão superficial, a superfície do leite fica mais resistente. Colocando o café
cuidadosamente com o conta-gotas, a tensão superficial não se rompe, impedindo que o café se
misture com o leite.
Como fazer
1. Coloque o palito sobre o gelo.
2. Jogue sal em cima.
O que acontece?
O gelo gruda no sal.
Por que acontece?
Por causa do sal, parte do gelo derrete deixando uma porção d’água em volta do palito.
Como essa água continua em contato com o gelo, ela congela de novo cobrindo o palito com
uma leve camada e, assim, prende o palito.
Movimento do ovo
Material
Um ovo cru
Como fazer
1. Gire o ovo.
2. Pare o ovo rapidamente e solte.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
O que acontece?
O ovo continua girando.
Por que acontece?
O ovo continua girando por causa da
inércia. Ela faz com que as coisas continuem a
fazer o que estão fazendo. O que está se mo- ◄ Figura 34. Ciência e
vendo continua a se mover e o que está para- Descoberta
do continua parado. Assim, quando você para Fonte: Disponível em
o ovo que estava girando, a clara e a gema <www.eb1-vila-verde-raia.
rcts.pt >. Acesso em 23
dentro dele continuam em movimento. dez. 2010.
Telefone
Material
1. Dois copos descartáveis
2. Barbante
3. Dois clipes
4. Lápis
O que acontece?
Sua voz passa pelo barbante, dando para falar como se fosse um telefone.
Por que acontece?
Porque quando falamos o ar vibra, fazendo o fundo do copo também vibrar. Essas vibrações
são transmitidas pelo barbante até chegar ao fundo do outro copo, que provoca uma vibração
do ar ao seu redor, isso produz o som que escutamos. Para transmitir essas vibrações, o barbante
precisa ficar bem esticado.
Vulcão de água
Material
1. Um frasco pequeno com tampa
2. Uma vasilha transparente com água
3. Água quente
4. Tinta em pó ou corante
Como fazer
1. Coloque a tinta em pó no frasco.
2. Ponha um pouco de água quente dentro do frasco com tinta.
3. Tampe o frasco, agite bem e coloque-o dentro da vasilha com água.
4. Abra o frasco.
O que acontece?
A água colorida sobe não se misturando com a água que está dentro da vasilha.
Por que acontece?
Isso acontece quando a água da vasilha e a água do frasco apresentam características dife-
rentes, ou seja, a água com tinta está quente e a água da vasilha está fria. A água quente é mais
leve que a fria, então, ela sobe e fica flutuando na superfície da água fria.
Vai e vem
Material
1. Fósforos
2. Tesoura sem ponta
3. Duas porcas grandes de metal
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UAB/Unimontes - 5º Período
Como fazer
1. Amarre as porcas ao elástico com o barbante.
2. Faça um furo na tampa e outro no fundo do pote.
3. Enfie o elástico no buraco do fundo do pote e prenda-o pelo lado de fora com o palito de
fósforo. Faça o mesmo com a tampa, prendendo-a com o outro palito de fósforo.
4. Role o pote.
O que acontece?
Você rola o pote e ele volta.
Por que acontece?
Isso acontece porque quando o pote rola, o elástico vai torcendo por dentro acumulando
energia, conhecida como energia potencial. Quando o elástico é solto, vai se desenrolando e a
energia potencial vai se transformando em energia de movimento ou energia cinética, fazendo
com que o pote role de volta.
Cartolina grudenta
Material
1. Cartolina
2. Copo
Figura 35: Laboratório ► 3. Água
experimentos com 4. Tesoura
material alternativo
Como fazer
Fonte: Disponível em
<www.clubedecienciase-
1. Encha o copo com água.
macao.blogspot.com>. 2. Recorte um pedaço da cartolina
Acesso em 26 dez. 2010. (deve ser maior que o tamanho da boca do
copo).
3. Deslize a cartolina sobre o copo, ta-
pando-o.
4. Vire o copo de cabeça para baixo e,
em seguida, levante-o.
O que acontece?
A cartolina não cai, segurando toda a água dentro do copo.
Por que acontece?
A pressão atmosférica, que age em todas as direções, aplica uma força de baixo para cima
na cartolina, maior que o peso da água do copo. Como essa pressão não age diretamente na par-
te de cima da água por causa do copo, a água não cai.
Laranjas dançarinas
Material
1. Duas laranjas
2. Barbante
Como fazer
1. Faça um varal com o barbante.
2. Corte dois pedaços de barbante e amarre um pedaço em cada laranja.
3. Pendure as laranjas no varal de barbante, deixando-as na mesma altura.
4. Balance uma das laranjas.
O que acontece?
Quando a laranja que está balançando começar a parar, a outra laranja começará a balançar.
Por que acontece?
Por causa da energia cinética (energia das coisas em movimento). A energia cinética da la-
ranja que está balançando passa pelo barbante até a outra laranja. Essa outra laranja começa a
balançar também até que a energia cinética volta pelo barbante para a primeira laranja. Assim,
a energia cinética fica passando pelo barbante de uma laranja para outra, e as duas ficam balan-
çando alternadamente.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Lente de aumento
Material
1. Um pote de iogurte
2. Trecos (moedas, botões, tampa de caneta)
3. Filme plástico de cozinha
4. Água
5. Elástico
Como fazer
1. Coloque os objetos (trecos) no pote de iogurte.
2. Tape o pote com o filme plástico, deixando-o meio frouxo.
3. Prenda o filme plástico com elástico.
4. Afunde o centro do filme plástico com a mão sem deixar furar e, em seguida, encha de água.
O que acontece?
Dá para ver as imagens aumentadas dos objetos.
Garrafa chuveirinho
Material
1. Garrafa de plástico com tampa de rosca
2. Prego
3. Água
4. Tigela
Como fazer
1. Encha a tigela de água.
2. Fure a base da garrafa com o prego e, em ◄ Figura 36: Observação
seguida, coloque-a dentro da tigela. Fonte: Disponível em
3. Coloque água dentro da garrafa e feche. <www.escolaalfredoklie-
mann.com.br>. Acesso 26
4. Segure a garrafa pela boca sem apertá-la dez. 2010.
e, em seguida, levante-a.
O que acontece?
Mesmo com a garrafa furada, enquan-
to estiver tampada, a água não cai. Se abrir, a
água começa a cair; se fechar, a água para.
Óleo e água
Objetivo
Provar como óleo e água não se misturam.
Material
1. Um pouco de óleo de cozinha
2. Água
3. Um pote transparente com tampa
4. Detergente
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UAB/Unimontes - 5º Período
Como fazer
Coloque um pouco de água e de óleo de cozinha no pote.
Feche com tampa e agite bem o pote.
O que acontece?
Quando você abaixar o pote, o óleo e a água vão se separar em duas camadas.
Agora, acrescente umas gotas de detergente e agite o pote novamente.
O que acontece
Produzirá uma mistura turva.
Por que acontece?
O sabão do detergente divide o óleo em pequenas gotas, que flutuam na água, fazendo-a
parecer turva. É assim que o detergente ajuda a remover a gordura de pratos e panelas.
Curiosidade
Para manterem suas penas impermeáveis, os pássaros espalham sobre elas um óleo produ-
zido por uma glândula especial.
Bolhas de sabão
Objetivo
Fazer bolhas de sabão mais resistentes.
Material
1. Três ou quatro colheres de sopa de sabão em pó ou pedaços de sabão.
2. Quatro xícaras de água quente.
3. Uma colher de sopa de açúcar.
Obs.: A água deve ser aquecida por um adulto.
Como fazer
1. Coloque o sabão na água quente e misture.
2. Deixe a mistura descansar por três dias.
3. Agora, coloque o açúcar.
O que acontece?
Você conseguirá fazer bolhas mais resistentes
Por que acontece?
Por causa do açúcar.
Flor colorida
Objetivo
Provar que a flor absorve água.
Material
1. Uma flor branca recentemente cortada (cravo)
2. Um copo transparente de água
3. Anilina culinária
4. Uma tesoura sem ponta.
Como fazer
1. Corte um pedaço de 5cm do talo de uma flor.
2. Coloque várias gotas de anilina no copo com água.
3. Deixe a flor nesse copo por várias horas.
O que acontece?
As pétalas começarão a ficar da cor da água do copo.
Por que acontece?
A flor chupa a água colorida pelos estreitos tubos do talo. A força dessa ação capilar é sufi-
ciente para vencer a força da gravidade.
Tente:
Com um pouco de habilidade, tente também fazer flores com mais de uma cor, cortando o
talo ao meio em 3 ou 4 partes no sentido do comprimento e colocando cada uma delas numa
Mistura de cores
Para iniciar o trabalho com experiências, com levantamento de hipóteses, poderão ser utili-
zadas as misturas de cores primárias. Dessa forma, os alunos aprenderão as cores e também te-
rão contato com Química.
Massa de Modelar
4 copos de farinha
2 copos de sal
2 colheres de tinta guache (escolher a cor com os alunos)
Aproximadamente 2 copos de água.
Misturar todos os ingredientes e adicionar água aos poucos até dar o ponto de massinha...
Sugestão:
Peça para que as crianças adicionem os ingredientes e antes de cada misture questione: O
que vai acontecer? Como será que vai ficar? (Levantamento de hipóteses);
Faça um cartaz com os ingredientes (se forem crianças pequenas, utilizem figuras com pala-
vras, como uma miniatura da embalagem de sal, por exemplo);
Com esta experiência, trabalhamos Matemática (quantidades) e Química podendo ser reali-
zada em qualquer faixa etária.
Culinária/ Receitas:
Preparar um bolo com as crianças pode ser uma ótima oportunidade de aprendizagem...
Em uma receita, os alunos têm contato com números, quantidades e com as misturas, além
de poder se deliciar depois de realizada a experiência...
Para explorar Química na culinária, é importante sempre questionar os pequenos sobre o
que estão vendo, o que acham que irá acontecer, o que aconteceu agora.. E dar oportunidade
61
UAB/Unimontes - 5º Período
para que todos falem. Dessa forma, também ensinamos que, se seguirmos a receita, é mais prová-
vel que nossa mistura dê certo, mas, para isso, é importante deixar que as crianças meçam e tam-
bém misturem. Caso a receita dê errada, o professor tem nas mãos mais uma chance de fazer com
que os pequenos reflitam sobre o que aconteceu... o que fizemos? Por que será que não deu cer-
to? Nessa hora, é importante que o professor faça a mediação, mas que deixe com que os alunos
cheguem às suas próprias conclusões e, num outro momento, quando forem novamente à cozi-
nha, lembrar os pequenos o que aconteceu, o que podem fazer para que a experiência dê certo.
Rega
É um dos principais momentos do cultivo de uma horta. Sem a rega, é impossível o bom de-
senvolvimento de qualquer planta. Ela deve ser feita de manhã bem cedo. No caso de dias muito
quentes, regue também no final da tarde. Em regiões de clima mais ameno, uma rega ao dia é su-
ficiente. O solo do canteiro ou a terra da sementeira deve receber água de maneira uniforme, até
que infiltre abaixo das sementes ou raízes, sempre tomando cuidado para não encharcar a terra.
62
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Colheita
É feita de duas maneiras: arranco e corte. Para alface, chicória, mostarda, beterraba, cenou-
ra e rabanete, basta arrancar. Salsa, cebolinha e rúcula devem ser cortadas três dedos acima do
solo. Se a salsa e a cebolinha forem cortadas corretamente, poderão ser colhidas muitas vezes.
Rúcula e almeirão, no entanto, podem ser colhidos, no máximo, sete vezes. O almeirão deve ser
cortado rente ao solo. No caso do espinafre, devem-se cortar apenas os ramos maiores. Para a
couve, retire as folhas maiores com cuidado para não danificar os brotos centrais. Tanto o espina-
fre quanto a couve podem ser colhidos diversas vezes.
Movimentos da terra
Material
1. Uma bola de isopor grande, com um furo no centro
2. Uma agulha de tricô
3. Uma bolinha de isopor do tamanho de uma bolinha de gude
4. Mesa com lâmpada acesa perto (podem ser utilizados abajur, luminária ou lanterna)
Como fazer
1. Sobre a bola maior, prenda a bolinha de isopor. Atravesse a bola maior com a agulha de tricô.
2. Escolha um ambiente onde haja uma mesa e perto dela uma lâmpada acesa.
3. Mantendo a agulha na posição vertical, faça a bola girar nos sentidos dos movimentos da
terra. A bola de isopor vai representar a terra, e a agulha de tricô, o eixo de rotação.
Estudando a composição dos alimentos
63
UAB/Unimontes - 5º Período
Dica Material
Como saber se um ovo 1. Uma caneca
está cozido sem tirar a 2. Cinco pratinhos
casca? 3. Uma colher (café)
A solução é muito 4. Água
simples: só precisamos 5. Farinha de trigo
fazer o ovo girar sobre a
mesa. Se estiver cozido, 6. Batata fatiada
girará uniformemente 7. Abobrinha fatiada
por algum tempo des- 8. Pedaço de carne crua
crevendo círculos. Se
estiver cru, girará dando Como fazer
tombos, seu movimen-
to será errático e logo 1. Coloque a água na caneca e nela acrescente uma colher (café) de tintura de iodo.
deixará de girar. 2. Mexa a mistura.
Explicação: No ovo 3. Derrame a mistura amarelada de tintura de iodo com água nos cinco pratinhos. No primeiro,
cozido a distribuição de coloque o sal; no segundo, a farinha de trigo; e nos outros, as fatias finas de batata, de abo-
massa em seu interior brinha e a carne.
não muda à medida que
gira. Se o ovo está cru, a OBS.: É preciso a supervisão do professor na realização dessa atividade.
gema se movimentará
em seu interior, mudan- Testando o tato
do a distribuição de sua Material
massa, fazendo que o 1. Três bacias ou recipientes grandes
giro não seja uniforme.
2. Água morna
3. Água na temperatura ambiente
4. Água gelada
Como fazer
1. Coloque as três bacias uma ao lado da outra, sobre uma mesa, numerando-as de 1 a 3.
2. Com a supervisão de um adulto, coloque um pouco de água morna na bacia 1.
3. Na bacia 2, coloque água na temperatura ambiente.
4. Na bacia 3, coloque água gelada.
5. Coloque as duas mãos na bacia 2, espere um minuto.
6. Mude a mão direita para a bacia 1 e a mão esquerda para a bacia 3. Espere mais 1 minuto.
7. Recoloque as mãos na bacia 2.
Responda:
a). O que você sentiu ao recolocar as mãos na bacia 2?
b). Essa sensação é enganosa ou verdadeira? Por quê?
c). O nosso tato é um instrumento preciso para medir temperaturas? Por quê?
d). O que é mais indicado para medir temperaturas? Por quê?
ESTETOSCÓPIO (Aparelho que faz com que os sons baixos fiquem audíveis)
Material
1. Funil de plástico
2. Fita adesiva
3. Tubo plástico (de mais ou menos 60 cm de comprimento).
Como fazer
1. Coloque a ponta do funil dentro do tubo plástico e prenda-o com fita adesiva.
2. Encoste o funil no peito de um (a) colega e a outra ponta do tubo na sua orelha, tomando
cuidado para não enfiar o tubo dentro da orelha.
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Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Resumo
O ensino de Ciências naturais, relativamente recente na Escola Fundamental, tem sido praticado
de acordo a diferentes propostas educacionais, que se sucedem ao longo das décadas como elabora-
ções teóricas e que, de diversas maneiras, se expressam nas salas de aula. Muitas práticas, ainda hoje,
são baseadas na mera transmissão de informações, tendo como recurso exclusivo o livro didático e
sua transcrição na lousa; outras já incorporam avanços produzidos nas últimas décadas, sobre o pro-
cesso de ensino e aprendizagem em geral e sobre o ensino de Ciências em particular.
Até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da educação de 1.961, ministravam-se aulas
de Ciências naturais apenas nas duas últimas séries do antigo curso ginasial. Essa Lei estendeu a
obrigatoriedade do ensino da disciplina a todas as séries ginasiais, mas apenas a partir de 1.971,
com a Lei 5.692, Ciências passou a ter caráter obrigatório nas oito séries do primeiro grau. Quan-
do foi promulgada a LDB, de 1.961, o cenário escolar era dominado pelo ensino tradicional, ain-
da que esforços de renovação estivessem em processo. Aos professores cabia a transmissão de
conhecimentos acumulados pela humanidade, por meio de aulas expositivas e aos alunos a re-
produção das informações. No ambiente escolar, o conhecimento científico era considerado um
saber neutro, isento, e a verdade científica, tida como inquestionável.
A qualidade do curso era definida pela quantidade de conteúdos trabalhados. O principal
recurso de estudo e avaliação era o questionário, ao qual estudantes deveriam responder deten-
do-se nas idéias apresentadas em aula ou no livro didático escolhido pelo professor.
As propostas para a renovação do ensino de Ciências Naturais orientavam-se, então, pela
necessidade do currículo responder ao avanço do conhecimento científico e às demandas peda-
gógicas geradas por influência do movimento denominado escola Nova. Essa tendência deslo-
cou o eixo da questão pedagógica dos aspectos puramente lógicos para aspectos psicológicos,
valorizando-se a participação ativa do estudante no processo de aprendizagem. Objetivos pre-
ponderantemente informativos deram lugar a objetivos também formativos. As atividades práti-
cas passaram a representar importante elemento para a compreensão ativa de conceitos, mesmo
que sua implementação prática tenha sido difícil em escala nacional.
A preocupação de desenvolver atividades práticas começou a ter presença marcante nos proje-
tos de ensino e nos cursos de formação de professores tendo sido produzidos vários materiais didáti-
cos dessa tendência. O objetivo fundamental do ensino de Ciências Naturais passou a dar condições
para o aluno vivenciar o que se denominava método científico, ou seja, a partir de observações, le-
vantamento de hipóteses, testagem dessas hipóteses, o seu refutamento e abandono quando fosse
o caso, o aluno pode redescobrir conhecimentos, ou seja, construir coletivamente o conhecimento.
O método da redescoberta, com sua ênfase no método científico, acompanhou durante
muito tempo os objetivos do ensino de Ciências Naturais, levando alguns professores a identifi-
carem metodologia científica como metodologia de ensino de Ciências Naturais, perdendo-se a
oportunidade de trabalhar com os estudantes, com maior amplitude e variedade, processos de
investigação adequados às condições do aprendizado e abertos a questões de natureza distinta
daquelas de interesse estritamente científico.
Apesar de não ter atingido a maioria das escolas e ter criado a idéia no professorado de que
somente com laboratórios é possível alguma modificação no ensino de Ciências, muitos mate-
riais didáticos produzidos segundo a proposta da aprendizagem por redescoberta constituíram
um avanço relativo, para o qual contribuíram equipes de professores trabalhando em instituições
de ensino e pesquisa, para a melhoria do ensino de Ciências Naturais. Entre outros aspectos, essa
proposta enfatizou trabalhos escolares em grupos de estudantes, introduziu orientações para o
professor, ainda que numa perspectiva mais diretiva e prescritiva.
A compreensão dos processos de construção dos conceitos científicos teve como principais
referenciais teóricos e epistemológicos os trabalhos de Jean Piaget e a teoria da Aprendizagem
significativa de Ausubel. Segundo essas teorias o processo de construção de conceitos em sala
de aula é resultado da interação do sujeito com o objeto de estudo. Um novo conceito seria an-
corado a esquemas conceituais já existentes na estrutura cognitiva do sujeito, de modo a trans-
formar o conhecimento ou esquemas já existentes em um conhecimento novo.
As concepções denominadas “prévias”, “alternativas” ou “espontâneas” são semelhantes para
pessoas de diferentes faixas etária, ambientes culturais e estão organizadas com grau suficiente
de coerência interna, o que as toma muito resistente às mudanças. Essa resistência pode levar o
65
UAB/Unimontes - 5º Período
66
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Referências
Básicas
DELIZOICOV, Demétrio et al. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
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Complementares
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BANDEIRA, A.; STANGE, C. E. B.; SANTOS, J. M. T. Proposta de critérios para análise de livros di-
dáticos de ciências. In: XIX Seminário de Pesquisa e XIV Semana de Iniciação Científica da UNI-
CENTRO. CDROM Resumos. Guarapuava: UNICENTRO, 2008.
CARVALHO, A. M. P. (org.) Ensino de Ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Pioneira
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Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável, 2005-2014: do-
cumento final do esquema internacional de implementação. Brasília: UNESCO, 2005
DELIZOICOV, D.; Angotti, A. (1990). Metodologia do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez.
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67
UAB/Unimontes - 5º Período
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68
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia de Ciências
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) Com base nos estudos realizados, construa uma definição sobre “Alfabetização Científica” e
discorra sobre a sua importância no ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
2) Com relação aos objetivos do ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental,
assinale a única alternativa INCORRETA.
a) ( ) Compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e
agente de transformações do mundo em que vive.
b) ( ) Os conteúdos devem favorecer a construção de uma visão de mundo, que se apresenta
como um todo formado por elementos inter-relacionados, entre os quais o homem, agente de
transformação.
c) ( ) Os conteúdos devem favorecer a construção de uma visão de mundo moderna e baseada
unicamente nos Parâmetros Curriculares Nacionais, diretrizes estabelecidas pelo MEC para todo
o território nacional brasileiro.
d) ( ) Valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para construção
coletiva do conhecimento.
3) A alfabetização científica deve proporcionar “um tipo de conhecimento científico e técnico que
pode ser posto em uso imediatamente, para ajudar a melhorar os padrões de vida” (SHEN, 1975, p.
265). Com relação a esse enunciado, assinale a alternativa INCORRETA.
a) ( ) Shen (1975) quis se referir às questões do sujeito comum, considerado histórico, e às suas
necessidades de apoderar-se do conhecimento científico para sobreviver em meio ao mundo
tecnológico da sociedade moderna contemporânea.
b) ( ) O autor se refere às questões da melhoria da qualidade de vida da população que neces-
sita do acesso às informações para saber atuar como sujeito ativo/participativo nas mudanças
pelas quais o mundo moderno passa.
c) ( ) Shen (1975) se refere à ‘melhoria do padrão de vida’ da população no que tange ao aumen-
to do acesso de bens de consumo, como, por exemplo, comprar eletrodomésticos de última ge-
ração, de forma única, o enriquecimento financeiro como possibilidade de melhorar a vida.
d) ( ) O autor se refere às necessidades humanas mais básicas como alimentação, saúde e habi-
tação.
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UAB/Unimontes - 5º Período
5) Com base na discussão proposta no Caderno Didático e nos debates realizados, exponha o
pensamento do teórico Bizzo, de forma crítica.
Os estudos teóricos realizados pela Pedagogia estabelecem um diálogo mais próximo da prática
docente e ratificam o pensamento de (BIZZO, 2007, p. 9), quando afirma que “proporcionar aos
professores elementos teóricos sobre a prática é um verdadeiro exercício dialógico e, consequen-
temente, de cidadania”.
6) Estabeleça pelo menos quatro critérios básicos para determinar um perfil adequado para o
professor de Ciências das séries iniciais do Ensino Fundamental.
7) Nosso estudo sinaliza as experiências práticas como vetor fundamental para o sucesso das au-
las de Ciências no Ensino Fundamental. Com relação às experiências práticas, todas as alternati-
vas estão corretas, EXCETO
10) Faça um registro acerca da importância de ser educador das Ciências e sua responsabilidade
diante das necessidades de homens e mulheres no século XXI.
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