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Breve apontamento biográfico sobre o autor.

O Dr. Krumm Heller, nasceu como Arnold Krumm-Heller a 15 de Abril de 1876


Aos 16 anos, partiu ao encontro de alguns familiares na América do Sul, em busca de
trabalho. Aí viajou extensivamente onde,é suposto, terá aprendido métodos curativos e
técnicas medicinais com os índios nativos da Argentina, Chile etc.
Aos vinte e poucos anos, regressou à Alemanha, onde entrou para a fraternidade iniciática
Rosa Cruz. Mais tarde voltou à América Latina e criou várias instituições denominadas:
“Fraternatis Rosacruciana Antiqua”. Estabeleceu-se na Cidade do México, n qual criou o
centro da sua fraternidade iniciática. Foi nomeado deão de linguísticas na Universidade do
México, chegou a militar com patente no exército mexicano e foi, igualmente, doutorado em
medicina pela Universidade de Berlim. Era aí conhecido pelo nome que adoptou interiorizar:
Huirocacha, que é um dos Mestres do Raio da Medicina e Ciência. Samael Aun Weor, para
muitos o primeiro avatar da era do Aquário, foi estudante na instituição inicática criada por
Huirococha, enquanto jovem, como se pode depreender do que está escrito no livro “As três
Montanhas”
Arnold Krumm-Heller (Heller, era o nome de solteira da sua mãe) escreveu muitos livros
sobre esoterismo e a Irmandade Rosacruziana. Um dos seus dos seus trabalhos mais
conhecidos foi precisamente este; “A Igreja Gnóstica”. Krumm-Heller, expressou sempre o
seu desprezo pelos “ensinamentos mortos” das instituições que floresciam durante a primeira
parte do século XX. Defendeu que o ensinamento vivo tem sido preservado por certos
pequenos grupos de índios no Peru, Colômbia e outros lugares na América Latina. Mais do
que apenas ler sobre misticismo em escritos remotos, ele declarou que o verdadeiro
conhecimento é o que está acessível a quem o procura. Disse sempre que nunca fugido para
a Índia “para comer raízes e usar trapos”, numa clara alusão ao que faziam os teosofistas
seus contemporâneos. Pelo contrário, afirmou, os verdadeiros ensinamentos, podem estar ao
alcance a todo aquele que ponha em prática certos exercícios esotéricos e busque em si
próprio a Verdade Interior.
A IGREJA GNÓSTICA

Primo intelligere,
Deinde credere
PRÓLOGO
Já que a quarta edição deste livro se esgotou, é com todo o gosto que dou autorização à
Livraria Nicolas B. Kier, para que lance de novo este ensaio tão necessário aos meus amigos
da Ibero-América.
Confesso que até agora este livro foi um fracasso, fracasso que me doeu muito como autor.
Mas a verdade há que confessá-la.
Não um fracasso de vendas, pelo contrário, venderam-se milhares e milhares de exemplares.
Mas, chegarei algum dia a ser compreendido?
Nas suas páginas faço um resuma sintético de uma quantidade de Sociedades Iniciáticas do
passado
Falo do Nazarenos, dos Peratas, dos Pitagóricos, dos mistérios do Egipto, da Grécia, de
Roma, Babilónia, Síria, Pérsia, da Índia, do México e do Peru, cito uma quantidade de autores
como Basilides, Simão O Mago, Valentim, Santo Agostinho, Tertuliano, Santo Ambrósio,
Irenio, Hipólito, Epifânio, Clemente de Alexandria. Origenes, Marco Cerdón, Empédocles, os
Evangelhos Apócrifos, e nunca esperei que nunca me pedissem a chave de tudo isto.
Ninguém o fez. Não leram estas obras. Ninguém estudou a Gnosis. Celebraram a Missa
Gnóstica com a mesma rotina com que o fazem as demais igrejas. No Brasil publicaram uma
Revista mas por não tratar em nenhum dos seus artigos da face oculta da Gnosis, não
merece o nome que tem.
Por isso, agora que volta a sair este livro, eu suplico aos meus leitores que não o leiam
superficialmente, mas que repitam a sua leitura várias vezes, que estudem a literatura
mencionada em seguida me peçam práticas, só assim teremos os primeiros Gnósticos,
porque até este momento, tenho pena de confessá-lo, estou só e se não houver mudança,
não voltarei a permitir que se volte a publicar nova edição.
Assim todos os amantes dos estudos herméticos sabem o que fazer.
Se conseguirmos que alguns penetrem nos mistérios, já me darei por satisfeito e ficarei
contente.
Que se avance…avance…
Dr. Krumm Heller (Huiracocha)
Arcebispo da Santa Igreja Gnóstica

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INTRODUÇÃO.
Os arcebispos e Bispos da Santa IGREJA Gnóstica, reunidos em pleno concílio com a devida
autorização do Patriarca Supremo de Jerarquia da Igreja e com pleno poder da Fraternidade
Branca a que pertencemos, enviamos nossa bênção Apostólica a todos os humanos sem
distinção de Sexo, Casta, Raça ou Cor, desejando que a Roda Evolutiva deste ciclo de Vida
acelere o seu passo, para que a Fraternidade Universal encarne em todos os Filhos do Pai e
o Logos Divino faça florescer a Rosa bendita da Espiritualidade sobre a Cruz gigante da
Nossa Terra.
Nós, com os poderes que nos foram conferidos, demos autorização ao Arcebispo da nossa
Santa Igreja, Frater Huirococha, para que divulgue este livro em que faz uma exposição
doutrinária de quantos são e o que significam os Nossos Sagrados Mistérios, já que é
chegado o momento, para que esta Primitiva e Verdadeira Igreja Cristã, saia ao encontro da
humanidade na altura em que está começando a Era do Aquário.
Séculos e séculos em silencioso recolhimento e fechada na sua concha para não ser
profanada pelo materialismo reinante esteve dormitando a nossa Igreja. Embora encarnando
nela a Religião da Razão Mais Pura, possuidora da verdadeira Gnosis do Símbolo e do
Mistério e dando-os a conhecer gradualmente em toda a sua nudez virginal, não eram os
tempos cheios de egoísmo do passado, os mais favoráveis para uma sementeira divina que
mais do que trigo branco, haveria de dar, ao invés, frutos espinhosos.
Hoje a humanidade ansiosa de melhorar, necessita ser espírito e procura incessantemente o
Messianismo – que todos aspiram – como um vento de redenção que acaricia as Almas
levando-as para um caminho desconhecido… Mas necessita de Uma Voz, uma Palavra, um
Grito, um sinal que lhe indique a via ou espera que, de entre todos, surja de novo o Homem
que os redima e morra de novo sacrificado às mãos dos mesmos Escribas e Fariseus.
Mas a tua redenção, oh Humanidade dolente, já a tiveste uma vez. A Profecia foi cumprida e
a Doutrina Santa do Salvador ainda brilha como fogo vivo nas entranhas do santuário de
onde se tornará forte e poderosa, nesta época propícia para o derrube do “edifício do
sectarismo” que ofendeu as verdades mais puras.
Vinde, pois, beber nesta Fonte. A Igreja Gnóstica não é apenas mais uma igreja ou um novo
ideal religioso inventado ao sabor dos tempos. É a Igreja de Cristo, a que pregou Jesus, o
divino Rabi da Galileia, com todos os seus Sagrados Mistérios Iniciáticos. É a Igreja da
Redenção, a primitiva Igreja Cristã que sofreu todos os combates do sectarismo católico cuja
doutrina adaptou aos seus fins e interesses egoístas. É a Igreja que possui as mais santas
revelações, as interpreta e dá a conhecer a Verdade na sua mais cristalina pureza e sem
máculas.
A nossa doutrina é Ciência e religião ao mesmo tempo. Como Ciência, remonta a algo
superior, supremo, infinito, ultra-cientifico, que está muito acima dos baixos conhecimentos
vulgares para que possa encarnar o Saber por Excelência. E como religião procura que o
Homem, suprema hierarquia humana, vá despertando em si mesmo os poderes divinos que
lhe são peculiares para alcançar um dia a Santa União com a Causa primeira que é a sua
génesis. Dentro deste dualismo tem-se em atenção o princípio latino que diz: “Primo
intelligere, Deinde credere. (Primeiro entender, depois acreditar.
Este livro, querido leitor, vem preencher uma das maiores necessidades da época actual. É o
expoente de uma nova teoria, que apesar de ser tão arcaica é ao mesmo tempo o arauto, o
percursor do restabelecimento da Santa Igreja Gnóstica no Mundo.

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A IGREJA GÓSTICA
Assim como existe em quase todas as religiões um livro sagrado, Bíblia ou um conjunto de
ensinamentos e doutrinas que integra cada uma, também, nós, os Gnósticos dentro da nossa
Igreja, dispomos de um Livro Santo. Advertimos, no entanto, aqueles que quiserem começar
por este livro o seu estudo, que para compreender os diferentes autores há que tomar em
conta não só a época bem como o sentido esotérico em que foram escritos.
Aquilo que é para os semitas o Thalmude, o Bhagavad-Gita para os budistas, o Corão para
os muçulmanos, a Bíblia para os cristãos, é para nós a PISTIS SOPHIA.
Vejamos pois, em síntese, o que acerca dela diz um historiador, para podermos concluir que
a Pistis é não apenas e só um livro, mas igualmente e por sua vez, uma entidade espiritual.
Trata-se do livro Cimeiro de todas as Doutrinas Gnósticas tendo sido publicado em latim em
1851 por Schwartz e Pettermann, de acordo com um Código que se encontra no museu de
Londres chamado Askeniano, que por sua vez remonta ao século III, segundo uns, para
outros ao século V. (Opus Gnosticum Valentino adjudicatum est Códice manuscripto Cóptico
Londinese descripsit et latin vertit M.G. Schwartz).
O original deste Código, escrito em Grego, que serviu de base nos primeiros séculos, nunca
foi encontrado. Apenas existe o texto Sahídico, que é uma tradução em copta do manuscrito
primitivo. O Papiro Copta, pelo contrário, foi encontrado no Egipto sem que sem que se possa
testemunhar se o original grego foi escrito assim mesmo ou pelo povo egípcio. Numa coisa
estão de acordo todos os investigadores: é que esta Obra advém de algumas das múltiplas
Escolas ou Sociedades Gnósticas Primitivas, tendo-se por mais certo que pertenceria aos
Ofitas.
Divide-se em 148 capítulos. Em quatro grandes partes ou livros. O primeiro não tem qualquer
inscrição, o Segundo, no entanto, é encabeçado pelo seguinte título: “Segundo Livro da Pistis
Sophia”. Tem depois uma inscrição no final que diz: “Parte dos Volumes do Salvador”. Esta
mesma inscrição repete-se no final do Terceiro Livro, que aparece sem título.
Esta falta de homogeneidade é o que faz supor a alguns historiadores, que a Pistis Sophia,
não foi escrita sob um plano e arranjos unitários e que a maioria dos seus escritos são de
épocas diferentes. Por tal, asseguram, que o Livro Quarto é mais antigo que os outros.
Ao redigir-se esta Obra, pensa-se terão passado onze anos após a ressurreição de Jesus e
que esse tempo terá sido passado com os seus discípulos, provavelmente, no Monte das
Oliveiras, dando-lhes então a conhecer As Supremas Verdades Iniciáticas.
O Cristo rodeado pela Luz que o veste, pôde atravessar o Mundo Supra Sensível e indo de
esfera em esfera, foram-lhe franqueadas todas as portas, atemorizando os Arcontes ou
Guardiães daqueles Lugares, que o adoraram.
Jesus chega ao plano onde estão esses Arcontes ou Senhores Tiranos, cujo Príncipe é
Adamas. Eles vêem a ser os donos do Destino.* (Os senhores do Karma para os Teósofos).
Jesus conta aos seus discípulos a história deste Ser Misterioso, que estava parado no Eon 12
e pretendia chegar à Região da Luz Suprema atravessando 12 Eons. Desse intento e no seu
voo ascendente, é impedida pelos tais Arcontes que a atiram então para a imensidão do Caos
Esta é a triste situação da Pistis, até ao dia em que o Pai envia Jesus como Libertador. Então
Jesus, apela a Gabriel e a Miguel para que a levem, sem que nenhuma das suas partes se
perca nas Trevas, e assim é transportada desde o Caos até ao lugar onde se encontra;
abaixo do Eon 13. Por fim e depois de uma luta enorme; Jesus despoja os Arcontes da sua

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luz, e conduz a Pistis Sophia até ao seu Lugar Sagrado, donde passa a morar desde aí com
os seus irmãos invisíveis.
Na história da Pistis Sophia, o seu relato, feito por Jesus, é muitas vezes interrompido, por
vários hinos que ela fazia chegar desde o Cais da Luz. No total de 13. Cada vez que Jesus
recita um hino, convida cada um dos seus discípulos a dar-lhe uma interpretação. Eles fazem-
no com frequência referindo as Santas Mulheres, Maria ou Salomé. Outras vezes, algum
apóstolo como André, Pedro, Mateus ou Filipe, interpretam os hinos da Pistis juntando algum
salmo de David ou Salomão.
É característico dos Gnósticos Coptas, o facto de não irem buscar outra autoridade para
confirmar os seus escritos que as Sagradas Escrituras, e se se observa algum secretismo
neles é apenas mais na forma do que nas ideias.
Depois, conta-se neste livro, a sorte que esperam as almas no além, para lá da morte,
revelando-nos o que acontecerá a cada uma das diferentes categorias de homens. As
alegrias e privilégios que aguardarão uns e as penas e tormentos que afligirão a outros. O
seu tema principal é a Redenção das Almas…
Na Primeira parte ocupa-se, da Sorte das almas privilegiadas, isto é, dos Apóstolos, das
Santas Mulheres, dos Perfeitos e Iniciados que haviam feito a renúncia da matéria e dos bens
terrenos.
Na segunda parte revela-se, o destino que é reservado às outras almas, especialmente as
que se arrependem das suas culpas (pecados). Logo em seguida, outra parte, trata dos
Mistérios e da sua eficácia e finalmente, na última, trata de descrever as penas dos que são
condenados.
Veremos mais adiante que OS MISTÉRIOS são o mais importante e que tudo o resto gira em
redor deles.
No Livro Quarto, fala-se da ressurreição de Jesus, aquele de quem se sabe ter vencido os
Arcontes do Destino e da Fatalidade, cuja sombra nefasta deixou desde aí de pousar sobre
os homens.
Aqui refere também Jesus aos discípulos, as façanhas destes Arcontes filhos de Adamas
que, persistindo no seu afã de procriar, fizeram nascer os Arcanjos, Anjos, Liturgos e
Decanos, até que interveio Jeú, a que Jesus chama Pai Do Meu Pai. Como Jabhora, Adamas
e os seus persistiram obstinadamente no seu erro (pecado), Jeú prendeu-os na Esfera onde
actualmente formam parte do Zodíaco, vindo a ser aos Arcontes do Destino, que tiranizam os
homens e cujos passos investiga a Astrologia…
São ainda descritas a maneira e as formas de tortura como os Arcontes penetram nos
homens e os incitam ao mal, atraindo depois sobre eles terríveis castigos e perdições
absolutas.
Mesmo agora, quando pensamos atentamente, percebemos que os ensinamentos deste Livro
Sagrado não podem ser mais aprofundados nem por historiadores ou investigadores, apenas
pela falta de Chaves.
Pistis para nós significa fé. Não a nossa habitual fé, proveniente da aceitação de qualquer
opinião estranha, resultante do que nos é contado. Não. A fé em sentido Bíblico, é uma força.
É força mágica, da tal que basta ter um grão de mostarda, para mover uma montanha e
lançá-la ao mar. Sophia sabemo-la ciência. Por tal forma Pistis Sofhia é poder - ciência, é
teurgia, magia branca, cuja chave naturalmente não pode ser dada neste livro mas apenas

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em cursos secretos. Nisto de diferencia da teosofia indú. Nesta teoria muitos são até contra
as práticas de magia. O Gnóstico exige primeiro o manejo da Pistis e em seguida a
comprovação dos factos. É, pois, antes de tudo, a prática real racional e efectiva, sem
qualquer especulação à partida.
Parece ser de aceitar o raciocínio de alguns críticos, que ao pensarem que por falta de
concordância e homogeneidade das suas partes, esta Obra não foi escrita com obediência a
uma unidade e a um plano preconcebidos. No entanto, isto apenas se ficou a dever ao facto
de que da tradução de Schwartz, e ainda do Código do Museu de Londres, apenas existem
fragmentos que foram, no entanto, indubitavelmente deixados dispersos pelas Primitivas
Escolas Gnósticas.
O Livro integro, inteiro, o verdadeiro Original Grego, tal como foi escrito com toda a pureza de
ensinamentos, está em poder da nossa Santa Igreja, como relíquia esotérica não sendo dado
a conhecer senão aqueles que estão em condições de receber as suas profundas e claras
verdades…
A nós terão que vir necessariamente. É o nosso Patriarcado o fiel guardador desta preciosa
jóia.
Nesta preciosa Obra Sagrada estão condensados todos os nossos rituais.
É por isso que a crítica histórica, não pode falar mais acertadamente daquilo que foi em todos
os tempos a Bíblia Sacra dos Gnósticos.
A vida moderna oferece um grave perigo. A humanidade pode querer perder o seu lado
humano e tornar-se máquina. Este perigo é tanto mais evidente quando se trata de aniquilar a
personalidade como procura a Teosofia tanto a Oriente como a Ocidente. A única Salvação
só pode ser encontrada do Cristianismo Esotérico que trata precisamente da salvação do EU.
Senão veja-se o apocalipse de São João. Um EU forte e potente com os adiantamentos da
técnica, será o eixo e o norte da humanidade do futuro e tudo o que ponha obstáculos a este
avanço deve ser combatido.
Nas Orações bem sentidas vibra a substância de Cristo. Os sete Rishis Sagrados ensinavam
aos seus discípulos a oração seguinte: Tu, Ego Solar, que és a base de todo o Amo, penetra
em mim, ilumina-me e faz-me progredir, porque sem ti, Logos Solar, nada pode ter
existência… Os Rishis foram aqueles que ensinaram os grandes mantras da iniciação de
Zaratrusta e falam também da substancia Solar que é o próprio de Deus. Francisco de Assis
orava na sua montanha sagrada dizendo: Glória a Ti, Oh Senhor, e a todas as coisas por ti
criadas, sobretudo o nosso irmão Sol. Ele trabalha e Tu, Senhor, O QUE O ALUMIA. Ele é
formoso e irradiante como teu símbolo. Oh Altíssimo.
Quando na Idade média se lia a parte do evangelho que diz: “Eu sou o Pão da Vida”, o
sacerdote olhava então o solo, depois, quando dizia: “Eu sou a Luz da Vida”, olhava para
cima, por fim, quando dizia: “Eu sou a porta”, olhava em frente.
Um dos pintores iniciados foi também Dudero. Basta examinar os seus trabalhos sobre o
Apocalipse. As suas obras “O Cavaleiro passando entre Deus e o diabo” e “A Trindade e os
Santos” manifestam-no claramente.
Sobre o símbolo da Cruz, fala-nos também Platão para nos dizer o significado da Terra
Material, de onde vem a alma para ser crucificada e poder converter-se em espírito. Sendo
muito curioso que a Cruz de Platão está estendida, enquanto a de Cristo se levanta com a
cabeça para cima.

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Outra diferença notável: os orientais põem-se, para fazer as suas orações, numa posição
difícil para nos de imitar em que escondem os pés para que a corrente terrestre não passe
através deles. Na realidade pretendem evitar a realidade terrena, para ao abstraírem-se de si
próprios, serem apenas mundo supra sensível, fora dos sentidos. Os ocidentais, pelo
contrário, ao mesmo tempo que elevam as suas orações ao Invisível, ao alto, a Deus, dobram
os joelhos para receber a corrente terrena, pois apenas na conjugação harmónica desses
Mundos se encontra a Luz, a Iniciação, a Redenção.
Pois bem. A Igreja Romana manteve sempre os interesses que criou e a sua actuação
intolerante começou quando começaram os seus negócios materiais. A mesma coisa
aconteceu à Sociedade Teosófica em Inglaterra, Austrália e Estados Unidos, etc. por causa
dos seus direitos autorais, dos seus imóveis e outros bens. Mesmo em Espanha, há
interesses editoriais a quem não convém que o Teosofismo mude de rumo ou tome outra
orientação. Mas isso são casos isolados, como o que se passou de quando a nossa viajem à
América, em que eles se serviram dela para terem mais êxito nas suas intenções.
O estudo dos problemas Gnósticos há-de levar-nos a conclusões definitivas, fazendo parecer,
toda a obra teosófica do passado, como infantil e preliminar.
Com as coisas como estão, a nossa pretensão limita-se a que os nossos irmãos teósofos não
se fechem num círculo de intolerância. Podem seguir, com nós, fazendo sempre parte da
Sociedade Teosófica, mas seria justo que estudassem também as nossas Obras
atentamente, porque nada perdem e é bem possível que os nossos ensinamentos lhes
proporcionem um novo alvorecer.
Não quisemos propositadamente na América, tocar no ponto sexual, nem mencionar o
gnosticismo para poder dar maior amplitude a este nosso livro, que aqui deixamos à
consideração dos nossos leitores. Por aqui poderão observar todos, que as nossas ideias
Rosa Cruz Gnósticas, oferecem um positivo avanço e disso poderão testemunhar bem os
diferentes teósofos e espiritualistas, que sem abandonar a sua própria filiação, nos vêem
seguindo. São os nossos ensinamentos matéria para controvérsias? A nossa revista está à
disposição de todos aqueles que queiram expor livremente o seu critério e serão sempre bem
recebidos.
Por outro lado, uma vez que o Gnosticismo e o Livro da Igreja Gnóstica requerem uma maior
amplitude de explicações, embora todos sejam igualmente compreensivos, um teósofo que
está connosco e sempre se distinguiu pela sua liberdade, hoje Núncio Apostólico da nossa
Igreja, irá à América para se por às ordens das classes, ramos e centros, onde poderá falar
sobre estas matérias e nos seus pontos de contacto com as ideias Rosa Cruz.
Os Gnósticos aceitam igualmente as Sagradas Escrituras dos Cristãos.
A Bíblia Cristã, como vermos adiante, teve por interpretes os Gnósticos, e só para dar um
exemplo vejamos algo sobre o Apocalipse de São João.
A parte inicial do magno livro bíblico, sempre foi ignorada por aberração da igreja oficial, que
nunca fez mais nada do que ler as capas das Sagradas Escrituras, fazendo apenas delas
activamente a sua interpretação, umas vezes sem qualquer má fé, mas outras com supina
ignorância.
Os Gnósticos, desde os tempos remotos que dão sobre este assunto uma clara, bela e
sublime explicação; é pena que a Igreja Católica se tenha afastado deste luminoso caminho.

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No versículo sexto, principia o Santo da Revelação, por nos dizer que fomos feitos para Reis
e Sacerdotes e não para pobres e pecadores, como lembra a todo o momento a Igreja
católica. O mesmo é dizer que Reis e Sacerdotes, são os que mandam e ensinam…
Nunca nenhum pintor criou quadros com tais sublimes detalhes. Não é necessário para ler
este sagrado Livro, ter dele pavor ou medo do dia a dia que virá, mas sim um espírito aberto e
cheio de sentimento artístico.
Todo o Gnóstico deve pois ser como um rei e um sacerdote, esperando que os nossos
ensinamentos o levem a cumprir esses propósitos.
Uma chave para tornar mais compreensível o Apocalipse dá-nos Fausto, uma vez que as
obras Iniciáticas tendem entre si, a explicar-se e a complementarem-se. No Fausto
encontramos o duplo aspecto de Mefístoteles. Na primeira, aparece esta figura a manobrar
com as suas fantasias as paixões individuais, e na segunda, as colectivas. Primeiro faz as
suas vítimas entre as pessoas isoladamente e por fim mata toda a humanidade.
No Apocalipse, encontramos também estes dois aspectos de Lúcifer e Ariman. No capítulo 13
fala-se de dois animais ou bestas. A primeira vinda do mar que tinha sete cabeças e dez
cornos, e a segunda nascida da terra, tinha os seus cornos semelhantes a um carneiro.
Estes animais representam os nossos mundos. O Físico, onde habitamos naturalmente e o
Espiritual, de onde vimos e onde teremos que regressar, e que está sempre patente em nós.
O homem ao descer desde a sua Mansão Celestial do Mundo do Espírito ao plano físico,
enceta uma luta entre eles, os dois princípios interiores, em que o segundo se manifesta por
tentações, vícios e erros, e sempre com diferentes cabeças. Nunca um problema humano é
igual em duas pessoas diferentes, tal como nunca existem dois rostos iguais. Não é possível.
Assim cada um requer uma solução bem diferente.
Para encontrar realmente o cada problema, necessitamos de LUZ e RAZÃO, havendo no
entanto uma grande ferida com que temos de contar: a ferida da ignorância. No capítulo 17,
faz-se uma referência a essa mesma ferida que irá sarar pouco a pouco à medida que vamos
recebendo Luz e Sabedoria.
A Bela Adormecida habitava nas Sete Montanhas, com os gnomos (anões). Um dia a rainha
olhou-se no espelho e perguntou-lhe: Quem é a mulher mais bela do meu reino? O espelho
respondeu-lhe: Tu, mas a Bela Adormecida que habita com os seus gnomos nas Sete
Montanhas é a mais bela de todas. Quer isto simbolizar, que é nesse outro Mundo, onde
parece estar a Bela Adormecida, o Mundo Espiritual, que tudo é ainda mais bonito. Este é o
mesmo enigma do Castelo de Klimgsor e o Santo Graal.
A Ciência e a sabedoria em luta constante. Essa eterna luta entre o Espiritual e o Físico.
Surge depois a grande rameira, Babilónia a Grande, a mãe das fornicações e abominações
da Terra, de nefasta condenação. Nela vimos representados o aspecto físico, a política, o
imperialismo egoísta, o comunismo, as escolas filosóficas e tudo aquilo que lamentavelmente
nos faz perdem tempo – como se o perdêssemos com uma prostituta - sem nos
preocuparmos com o Mundo Espiritual, que deve ser a nossa verdadeira morada. Essa
rameira é o traço grosseiro e material de todas as coisas que se opõem ao espiritual. No
essencial utilizamo-la sem saber que o estamos a fazer nem do que é feita. Um pouco da
mesma forma como utilizamos a electricidade, a manejamos sem que ninguém nos diga o
que ela é em si. Se estudássemos o mundo das causas sob o aspecto espiritual de tudo o
existe, saberíamos o que é a electricidade e quantas maravilhas poderíamos fazer com ela, e
descobriríamos muitos dos problemas obscuros que ainda hoje inquietam a humanidade. É

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tão simples a electricidade. Não tem outra fonte que senão o próprio Sol. O carvão, e o crude
de onde se extrai de entre outras coisas o petróleo, não são mais que simples plantas que no
passado se saturaram completamente de Sol e que agora extraímos das entranhas da Terra
e nos oferecem essa energia condensada e oculta.
Podemos dizer que uma pedra e um pedaço de ferro, são coisas mortas, no entanto quando
batemos com elas fortemente, saem faíscas. Esse fogo é a parte espiritual da matéria
radiante cuspindo matérias ígneas. É um processo alquimista instantâneo o que se produz e
nós, os Rosa Cruz Gnósticos, estudamos atentamente esse fogo vivo que surge da pedra que
como causa tem a substância do Logos Solar, o Cristo, que por sua vez radica na causa de
tudo.
A ciência e a sabedoria, mencionadas anteriormente, estão hoje representadas pela Roma e
a Rússia. Dois animais ou bestas apocalípticas… Mas para além delas, está indubitavelmente
o nosso Mundo Espiritual que é o único com que podemos contar para revolucionar o Mundo.
Voltando ao Apocalipse de São João, diríamos que só os Gnósticos acertaram na devida
interpretação, como disso são prova as simples embora contundentes explicações que nos
foram legadas e que têm plena aplicação na nossa época. Anteriormente mencionamos
Roma e Rússia, para sintetizar esses dois aspectos, pessoal e colectivo, que vínhamos
falando. Em seu lugar ponhamos agora o fascismo e do comunismo. O fascismo pretende
encontrar a salvação concentrando-a somente num homem, numa personalidade
francamente conservadora que devolve ao Papa os seus domínios temporais. O bolchevismo
ignora completamente a personalidade individual e repele o sentimento religioso. Como
resultado infalível de ambos, estão os homens na miséria e cheios de sérias e várias
ameaças por todos os lados.
Noutro sentido, a Índia representou também uma espécie de comunismo religioso no dia em
que pretendeu acabar com a personalidade individual, matando o EU. No entanto, na Gnosis
renascente, vislumbramos uma espécie de fascismo, ainda que com aspecto diferente, que
parece não se conformar em esperar tudo da nossa personalidade, parecendo antes querer-
nos transformar num género de Mussolini, uma personalidade consciente, de rei e sacerdote.
No entanto o vidente João, não nos diz que Deus fez UM rei e um sacerdote. O que ele
afirma é que Deus nos fez a TODOS Reis e Sacerdotes. Sendo, por isso, de todo o interesse
que TODOS as pessoas possam levar à prática, individualmente, o cuidado de serem Reis,
Sacerdotes. Homens que saibam mandar e abençoar.
As sete cabeças do monstro apocalíptico, representa a Hidra Septenária que desde os
tempos remotos foi aceite na Índia por Germanos e Gnósticos.
No mesmo capítulo 17, faz São João referencia ao mistério do sexo, quando menciona as
maldições que cairão sobre os actos de fornicação, dizendo então: E o anjo me perguntou:
Porque te maravilhas? Eu te direi que o mistério da mulher é a besta que a trás com sete
cabeças e dez cornos.
Vemos nisto, na duplicidade, os aspectos do mundo material e as suas paixões e o Mundo
Espiritual com as suas virtudes, enquanto as sete cabeças simbolizam os sete corpos ou
estados do SER.
No capítulo 6, fala-se dos quatro selos que representam o quaternário inferior, pelo qual a
humanidade teve que passar fazendo o seu caminho à medida que ia rompendo esses selos.
Os quatro animais que influenciam os quatro corpos inferiores nos doze signos do Zodíaco,
estão representados duplamente pelos quatro anciãos, porque em tudo existe há mesma
dualidade. Tenhamos em consideração que existem dois Zodíacos: o espiritual e o material.

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O primeiro está relacionado com o aspecto químico e o Éter de Luz ou o Tatwas. O Cavalo
Branco fala-nos da inspiração que tiveram os antigos em épocas passadas. O Vermelho,
simboliza a época do ferro, as armas o egoísmo. O Negro é a ciência e o pensamento
material, a balança da justiça, que representa o querer que tudo decorra com peso e medida
material. Por ultimo o Cavalo Incolor…é o próprio Tatwa, onde todo o estado é indefinido.
Fala da volta do Cristo, mas diz que virá como um ladrão de noite… tal como a Sabedoria.
Ela acerca-nos e regressa a nós, como regressou Persifal, ao não ficar no Castelo da Ciência
de Klingsor, mas sim assaltando como um ladrão o Castelo do Graal. Quando o Graal é
conquistado, conquista-se o verdadeiro EU, já que o nosso eu, é apenas uma caricatura
habitual.
Descreve a mulher com um cinturão ou escrito na carne, o nome do Rei dos Reis e Senhor
dos Senhores. Está o REI na frente dos desígnios da carne… É este o mistério sexual.
Por fim, todo o Apocalipse é perfeitamente explicável através de coisas naturais, uma vez que
é absurdo, como acreditam os fanáticos, pensar numa nova vinda de Cristo… A Jerusalém
divina, é um estado espiritual, um mundo invisível. Logo, não nos devemos esquecer, que
vivemos em dois mundos diferentes, o astral e o material. No primeiro existem Anjos, Mestres
que cuidam de nós mudando as estações do ano. Razão porque, por exemplo, na Unção
Eucarística Gnóstica estão as hostes de Uriel, no Verão, as de Miguel, no Outono e as de
Gabriel na Primavera. O sacerdote deve invoca-los nessa estações.
No capítulo 30, fala-se de um Anjo que desce do céu e trás uma Chave e uma Grande
Corrente, como se quisesse dizer à humanidade que faça a sua escolha entre as religiões
que a amarram ao Eu, ou a chave do Gnosticismo para que obtenha a ciência do EU.
Fala ainda o Sagrado Livro, do reino dos mil anos e do anticristo, o que provoca que muita
gente se encontre na expectativa da chegada dessa época anunciada, cheia de Paz e de Luz.
A Bíblia diz que antes que principiem mil anos o diabo será solto... Pois bem. É agora o
tempo em que o diabo anda à solta. O anticristo da ciência material, contra o Cristo
verdadeiro, contra a sabedoria verdadeira. Já passou esse tempo por que muitos esperavam
e a natureza vai seguindo o seu caminho.
Os doze filhos de Jacob, do Antigo Testamento, representam as dozes épocas em que as
influências zodiacais foram completamente físicas. Os doze Apóstolos as influências
zodiacais da época astral em que actualmente vivemos e por ultimo, virão os doze Anjos que
representam os tempos vindouros.
No fim diz-se como síntese: eu sou o Alfa e o Ómega, que é o mesmo que dizer o “A” e o “O”,
o Princípio e o Fim. Aos que tiverem sede lhes darei água, da Fonte da Água da Vida
gratuitamente. Eu sou o Alfa e o Ómega. Bem-aventurados os que lavem as suas vestes (os
sete corpos) com o Sangue do Cordeiro, (a substancia Solar, no equinócio da primavera) para
que possam entrar nas portas da Cidade.
Assim, e em consequência desta promessa, acerca-se, vem até nós o nosso Anjo para
conseguir com que nos conectemos com ELE, que é a finalidade da Iniciação, e então
verifica-se o despojo, a união de um mundo com outro. ELE vem com o seu prémio para nos
recompensar.
Mas cuidado com aquele que mate o seu EU com as horrorosas voluptuosidades, perdendo
as benditas emanações do Logos! Para esses, os fornicadores, diz o capítulo 21, o seu
destino será um lago ardendo em fogo e enxofre, que é a segunda morte.

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Por isso o nosso dever, para que recebamos os benefícios dos tempos que se aproximam, é
fortalecer e conquistar o EU. EU SOU. Quando SOU CRISTIANIZADO, quer dizer que é
convertido o Logos Solar em substancia Crística. É nessa a substancia que havemos de fazer
florescer, impulsionando-a do interior da semente, para que lhe rompa a casca que a envolve
com a sua negra dureza.
Vejamos agora o que nos dizem alguns autores dos primeiros séculos.
Origenes conta-nos, que um Governador da Judeia, chamado Pilatos, depois de lavar as
mãos como símbolo da sua própria ignorância acerca da “culpa” de Jesus, mandou inscrever
na Cruz do Gólgota, o célebre letreiro reconhecido pela cristandade: INRI, redigido em três
idiomas diferentes, hebreu, grego e latim. Esta triplicidade de línguas, que à primeira vista
parece desnecessária, foi aplicada pelo Magistério Romano no sentido de querer dar a
entender ao povo judeu algo que embora estando ao seu alcance, mas que não pode na
altura ser compreendido pelas massas sedentas do sangue do redentor. Mas na verdade está
contido nele esotericamente algo de muito importante, que é verdadeiramente de um enorme
valor simbólico. Os gregos deram a conhecer os Mistérios. Os hebreus, as Escrituras e a
Cabala e os romanos, suportando-se nestes pilares, iniciaram uma nova época de
transformações. A ponte que dá acesso do Antigo ao Novo Testamento é feita pelo
Evangelho de São Mateus, que foi o único escrito em hebreu. Todos os outros foram escritos
em grego como também o Antigo Testamento, na sua parte septuagésima, foi redigido em
grego.
O hebreu e o grego são idiomas completamente diferentes em sentido ideológico. Eis o
motivo porque se encontram tantos erros nas traduções bíblicas, que por sua vez, foram
motivos mais do que suficientes para que existissem lutas encarniçadas sustentadas pelos
Gnósticos e a Nova Seita Cristã. Os primeiros, os primitivos, exigiam a aceitação da Bíblia na
genuína escrita grega. Os neo-cristãos, discordando, mandaram compor à sua maneira uma
tradução em latim. Hoje os Gnósticos modernos estudam essas diferenças, que constituem
investigações passivas mas de sumo interesse.
Disse um grande filósofo, que os judeus formaram Cristo, os gregos compreenderam-no e os
romanos aproveitaram-no. E foi nesta falsa base, que o cristianismo se constituiu religião de
estado, depois do século IV, que para além de desdenhar dos escritos gregos negou a
verdadeira origem.
Todos os verdadeiros santos da Igreja Gnóstica receberam e explicaram todos os seus
ensinamentos em grego. Tanto Santo Agostinho, como anteriormente Tertuliano, escreveram
os seus ensinamentos em latim. Por fim Santo Ambrósio, São Jerónimo e mesmo Santo
Agostinho, deram um timbre romano à religião, mudando-lhe então o puro e santo
Gnosticismo, para uma espécie de romanismo convencional. A sabedoria, foi então
substituída pelo dogma judeu. O hebreu, língua que o povo judaico fala, tem um fundo
significativamente comercial e materialista, enquanto o grego e as suas gentes são, na sua
essência, puramente espirituais. Por isso, é natural que todos os interesses materiais da
actual igreja romana, tenham origem genuinamente no povo judeu. Mas aconteceu, como
sempre ocorre nas coisas que foram feitas para serem derrubadas, que houve Gnósticos que
transigiram e permitiram concessões que deram origem a seitas, com as quais hoje nos
deparamos. Ao fazer estudos, encontramos diversos sistemas e tão diferentes, tanto nos que
se mantiveram fiéis ao grego, como os que se uniram aos latinos. De todos estes sistemas,
surgiu um herético, aquele que sempre foi combatido pelos teólogos sem darem conta que
era o verdadeiro, o que continha a verdade em toda a sua pureza. Provem do grego e foi o

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que sempre foi conservado, até aos nossos dias, nas Sociedades Ocultas e que agora os
Gnósticos voltam a por ao alcance da humanidade.
São Jerónimo que viveu quarenta anos em Belém, foi o verdadeiro autor da Vulgata Latina.
Foi ele que satisfez a encomenda do Papa Dâmaso para que a traduzisse, tendo em causa
os aspectos que interessavam ao Catolicismo. A própria igreja não tem hoje qualquer
inconveniente em confessar isto. Por isso, as posteriores traduções da Bíblia, incluindo a
Luterana, ao basearem-se nos trabalhos de São Jerónimo, inicial e intencionalmente
adulterados, resultam defeituosas. Embora os luteranos assegurem que Lutero fez a tradução
do Original Grego, isso não é verdade, pela simples razão de que ele não sabia grego.
Apenas conhecia latim e um pouco de hebreu. Nós, os Gnósticos, não andamos a encobrir no
próprio interesse dos ensinamentos Bíblicos, traduções falsificadas. Oferecemos ao Mundo, a
que é verdadeira, um livro imenso, oculto e de grande poder iniciático.
Os antigos, isto é, os anteriores aos gregos, tinham três tipos de Escrituras: a epístolográfica,
a heliográfica* e hieroglificográfica. A primeira era comum a todos, a segundo só usada pelos
jerarcas e a terceira apenas pelos Iniciados.
Origenes fala-nos também dos mantras ou palavras mágicas que existem na Bíblia, devendo-
se a eles os exorcismos empregados hoje friamente pela igreja, sem qualquer resultado,
enquanto nós, conhecedores de todo o seu valor, os aplicamos seguramente. Mais, refere-se
ainda à certeza que existe na Magia Bíblica como uma Arte Real ou Arte Santa, repetindo
frequentemente que tanto as sagradas Escrituras, como os Evangelhos são letra morta, se
não se possui a chave da sua leitura. Ridiculariza ainda a descrição do Génesis lamentando
que haja espíritos tão infantis que ainda acreditem que tudo aconteceu como está escrito,
aceitando a lenda do Paraíso, sem excluir a maçã, dizendo que tudo o que lá se escreve, é
profundamente e estritamente simbólico e encerra grandes mistérios sexuais.
Quando hoje lemos as obras de Origenes e temos muita pena que ele tenha sido tão
perseguido e martirizado. Se os Papas da sua época lhe tivessem dado ouvidos, temos a
certeza de que hoje todo o cristianismo seria Gnóstico.
Para lá de tudo isto, Alemán Eberhard Nestle, prova com documentação irrefutável, que as
autoridades da igreja romana, nos primeiros séculos, escolheram alguns “correctores” a quem
deram incumbências no sentido de modificar os textos, juntando ou tirando-lhes sentidos,
quer no Antigo quer no novo Testamento, de tudo aquilo que não conviesse à ortodoxia
imperante e aos fins políticos da igreja. Vindo em seguida, em Concílios, as explicações
caprichosas desses mesmos sacerdotes, as declarações do interesse apócrifo, fazendo com
tudo isto um maremoto. O que nos obriga a estudar de novo os originais gregos se queremos
saber a verdade sobre esses livros que, – há que sublinhá-lo acentuadamente – apenas a
Igreja Gnóstica os possui, porque os guardou em Sociedades Secretas como os Rosa Cruz,
durante tantos e tantos séculos.
Reconhecendo-se isto entre diferentes seitas cristãs, embora não tendo meios para o
resolver, foi a Igreja Católica Liberal a que se valeu das faculdades clarividentes (?) de alguns
dos seus adeptos para dar a conhecer o Evangelho dos Doze Santos que, enquanto ensaio
espírita, é no entanto pior que a vida de Jesus contada por ele próprio.
Já observámos por diversas vezes o quanto se faz e como o executa nesta igreja. E temos
verificado que apenas ocorrem verdadeiras forças angelicais, quando celebra Leadbeater a
missa. Noutras ocasiões aparecem verdadeiras forças sinistras, porque enquanto ritual, lhe
falta a base da verdadeira Magia Cerimonial que possui a Igreja Gnóstica. Sabemos ainda
dos esforços da Igreja Liberal na tentativa de misturar os teósofos com o nosso irmão e

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Mestre Racokzi, no entanto nós que o conhecemos pessoalmente sabemos que ele apenas e
quanto a isso, encolhe os ombros.
De toda a maneira, já aqui ficou bem expresso, tudo aquilo que aconteceu com a actual Bíblia
Católica, admitida também pela Igreja Liberal, que está muito distante de interpretar os
verdadeiros ensinamentos e o verdadeiro sentido do texto original. É forçoso,
consequentemente, voltar aos primórdios na sua própria e à genuína raiz, para que não
consigam confundir-nos com a sua invasão tendenciosa, aqueles que têm interesse em
ofuscar a verdade para tirar um proveito que já não é possível nos tempos actuais.
A verdade é só UMA, e ela há-de abrir caminho custe o que custar. A proximidade da era do
Aquário assim o indica. Podem fazer a obstrução que entenderem todas as seitas. Por isso
nós vamos preparando essa “Páscoa da Ressurreição”, cujas campanhas já anunciam um
novo advento, uma nova Primavera para o Mundo.
Depois de feita a comparação das duas Bíblias, a Gnóstica e a Romana, na qual se
fundamenta a religião, perguntamos...
Necessitamos nós de uma religião?
Se observarmos a História da Humanidade, vemos que os primitivos povos nómadas se
fixaram para se poderem dedicar à agricultura. Isto, que é um feito verdadeiramente biológico
em sentido material, tende a repetir-se a todo transe na vida espiritual do homem. Porque
hoje – espiritualmente falando – podemos afirmar que somos primitivos, nómadas, em busca
do nosso alimento anímico onde quer que o possamos encontrar, ainda que muitas vezes o
façamos dentro de um verdadeiro caos. No entanto na época do Aquário que advém, haverá
a apropriada disciplina onde se cultivarão os estudos por forma a encontrarmos a verdade
sem sugestionamentos. A Verdade!
Se não fizermos a pergunta sobre o que é a verdade, colocamo-nos perto da inquietação de
Pilatos e quando nos sentirmos vencidos e impotentes sem ter resolvido o problema, estamos
então como Nietzche, e podemos dizer como ele: Para quê falar da verdade...É preferível
ocuparmo-nos da Força. Não. Os Gnósticos vivem a Verdade e imitando até mesmo os
jesuítas, mas em sinal contrário, como sempre sucede.
Na segunda semana dos exercícios jesuíticos, obrigam o penitente a ouvir, cheirar, provar e
tocar o abismo insondável das trevas. Acreditam que com esta prática provocam um
verdadeiro horror ao Inferno e por consequência, põem o invocado no melhor lugar para
conseguir a obediência e a submissão. Numa palavra: exploram o medo!
Nas nossas práticas, pelo contrário, recomendamos ao discípulo que se sinta dentro da
Verdade como se fosse uma árvore debaixo do Sol. Basta que repita QUE SEJA A
VERDADE e concentrar-se profundamente sobre esse pensamento, para que pouco a pouco
se comecem a vislumbrar os primeiros raios da Verdade. É o egoísmo imperante em todas as
coisas, uma das causas porque os sistemas Yoga conseguem tão parcos resultados. A
Verdade tem que estar sempre fortemente unida à Vontade, de outra forma, este atributo
estaria em perigo. O sistema americano, da passadeira contínua, desenvolvido por Ford, faz
com que o homem seja um ser mecânico executando o trabalho num determinado movimento
sem pensar e quase sem querer. Nas práticas de vida modernas, nas tendências politicas e
religiosas imita-se o mesmo sistema. Por isso os católicos não precisam de pensar nem ter
vontade própria. Basta-lhes que disso se ocupem o Papa e os sacerdotes, uma vez que aos
fiéis o único papel que lhes resta é obedecer.

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Não é assim. Não se lembram, lamentavelmente, que nada fazem nem oferecem qualquer
proveito, quer dentro das colectividades quer no interior das escolas. O ensinamento tem que
ser adequado a cada indivíduo, a cada temperamento, segundo o seu próprio registo e o seu
próprio ritmo, para que a potência, que se encontra adormecida em cada um de nós, possa
despertar. É este o sistema Gnóstico.
Nós mesmos educamos e preparamos cada um dos membros da nossa Igreja.
É outra a memória das enfermidades que nos açoitam. Perdemo-la na sua maior parte e
devemos exercitarmo-nos para a recuperar. Aos nossos discípulos ensinamos estas normas.
Todas as noites, e em momento de recolhimento, devemos recordar tudo aquilo que fizemos
durante o dia. Seguida esta linha de conduta um dia após outro, deveremos ao fim de cada
mês fazer uma recapitulação de todos os acontecimentos; e, logo, cada ano. Assim
sucessivamente, para observarmos ao mesmo tempo a mão do destino. Por isso que seja tão
interessante a nossa própria crítica para evitarmos que as ideias intrusas entrem na nossa
individualidade espiritual, sem estudo prévio e sem antecipada comprovação. Primum
intelligere, deindre credere...
Recomendamos ainda aos nosso discípulos, que perguntem: Quem foram as três pessoas
que lhes deixaram uma impressão mais forte? Quais foram os três momentos de mais
emocionante alegria? E quais foram os três mais duros e aborrecidos no sentido da dor?
Depois é necessário meditar naquilo que disseram essas três pessoas, sobre as
circunstâncias de alegria e de dor em que estiveram envolvidos esses momentos, para repelir
a força negativa da amargura e viver em seguida com a nossa imaginação os verdadeiros e
supremos momentos de felicidade, onde radica a verdadeira e positiva beleza da vida. Por
essa razão se torna tão necessário uma Religião em que se possam interligar o bom, o santo
e o divino. No entanto, embora uma religião não seja tão necessária como o pão para a boca,
porque dentro de nós existe um alento feito pela divindade, devemos congregarmo-nos
debaixo de uma bandeira ou comunidade religiosa que apenas nos ofereça algo de positivo,
algo de real, algo que se ajuste e tenha uma relação directa com as necessidades da época.
O mesmo é dizer que jamais nos deveremos juntar a uma seita pequena, pobre,
depauperada... mas apenas com algo que represente UM TEMPLO UNIVERSAL.
Esta necessidade fez com que em muitos países se tenha seguido a teosofia como uma
religião, tendo sido determinante para que os seus dirigentes criassem a Igreja Liberal, em
cuja identidade nada existe nem de liberal nem de católica. Noutros lugares deu-se destaque
ao espiritismo, que constituíram uma seita com os seus ritos e orações. Nada disto foi feito
para durar, porque não tem nem solidez nem qualquer tradição.
Tratam por outro lado de amalgamar os ensinamentos do Oriente com os do Ocidente,
esquecendo-se que aos orientais, embora possuidores de poderes interiores, lhes falta a
personalidade, o ego. Ao contrário dos ocidentais a quem lhes sobra personalidade, como o
demonstra os adiantamentos da ciência e da técnica, carecem de poderes interiores. Assim
se explica como um número reduzido de ingleses manejaram milhares de indus como
escravos.
Esta ligação com as qualidades necessárias entre o Oriente e o Ocidente, tem-no conseguido
através dos séculos a Igreja Gnóstica, guardando a formula a aplicar para o alcançar.
O catolicismo romano destruiu, por seu lado, os poderes do ego, nas suas congregações,
através dos seus dogmas nefastos. O dano que provocam os padres na congregação é
terrível e seria bom que eles abrissem os olhos. Pelo contrário, os Gnósticos abominamos o
dogma, porque o que nos faz falta é ter um fim, uma meta ou lugar onde chegar.

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Precisamos de um caminho. Não de uma lei.
Também ignoramos palavras de autoridade, porque aquilo de que precisamos é o Verbo da
Vida. Todas as religiões seguem um caminho com as tendências vindas de fora, no entanto
os Gnósticos, buscam-no dentro de nós e na procura do Oculto.
Buscamos a LUZ. E onde está?
Cristo disse: Eu sou a Luz do Mundo... No entanto nós não nos conformamos com aquilo que
Eles disse, mas sim com a forma com que cada um de nós, trate de ser uma Luz, uma réstia
no meio do caminho.
Os Gnósticos encontraram em Cristo essa Luz que é SUBSTÂNCIA. É essa Substância
Crística que aplicamos em toda a razão e forma, com toda a ciência e os meios necessários
para descobrir a verdade. Eis o Gnosticismo.
A grei católica está cuidada e conservada exoticamente, como plantas numa estufa. Nós, no
entanto, procuramos empurrar os nossos seguidores para que sejam a Luz do Sol de uma
Primavera Radiante.
Com os protestantes tudo se transforma em prédicas. Para os seus adeptos o altar e o culto
não têm importância. Contrariamente; para os católicos o altar é tudo, sendo o púlpito apenas
um meio, um instrumento, de onde lançam as suas diatribes para que se faça uma prática
acomodada aos seus fins.
Os Gnósticos, neste ponto, apenas querem cumprir com o ensinamento do Grande Iniciado
de Nazaré, quando na sua qualidade de Logos Solar, disse: Eu sou o pão da Vida. Eu sou o
pão vivo. Aquele que comer este pão viverá eternamente. Aquele que comer da minha carne
e beber do meu sangue, terá a Vida eterna e eu o ressuscitarei. Aquele que comer da minha
carne e beber do meu sangue mora em mim e eu nele.
Este pão descende do céu, e não nos devemos esquecer, ao pensar nesta declaração de
Jesus, que Ele, com sua pureza, foi feito de substância solar no seu corpo físico, e que
através do seu contacto, as partículas solares vivas se desprendem do pão para então se
comunicarem connosco, com a nossa carne e com o nosso sangue, fazendo-nos imortais.
Em consequência disso, a Santa Igreja Gnóstica, é uma constante e santa afirmação como
religião arcaica, primitiva e baseada nos Grandes Mistérios. Os alicerces se mantiveram,
apesar do grandioso Edifício que a alberga ter ficado invisível durante tantos anos, perante o
avanço materialista das épocas, para o que tanto contribuiu a guerra incessante do
catolicismo. Gostaríamos que compreendessem que não somos uma nova religião formada à
última hora com quaisquer fins, mas que apenas içámos a bandeira secular de uma primitiva
igreja, que guarda a mais vera e pura revelação em cujas águas bebeu o Nazareno para
depois pregar a sua Santa Doutrina. Com Ele, voltamos aos tempos remotos em que as
religiões eram formadas de luz e de belezas e ofereciam-nos um caminho de rosas... Não
como os cristãos sectários, que construíram um caminho de dor, coroas de espinhos e
horrorosos sofrimentos na cruz.
Nós somos filhos de uma religião que tem como norma a Alegria e o Optimismo.
Somos os Epícuristas espiritualistas, porque sabemos que Epicuro foi iniciado nos nossos
Mistérios.
Antes de prosseguir, vamos entrar um pouco na história sobre as doutrinas das mais
proeminentes escolas, seitas e congregações Gnósticas.

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Encontramos em primeiro lugar os nazarenos, que tiveram considerável importância nos
primeiros séculos da nossa era. Adoravam a serpente e por isso foram declarados heréticos.
Mas confessam os historiadores que foram muito versados nas ciências e que eram
possuidores de grandes e intocáveis virtudes. O único que pode ser reprovável neles, foi a
adoração aos Nahas(Serpentes) e a crença que sustentavam que o liquido obtido através
destes animais, na sua maior parte venenoso, servia para redimir os homens dos seus
pecados. Em grego serpente é “Ophis”. Por isso os nazarenos gregos se chamavam Ofitas.
Os seus ensinamentos foram aprendidos de S. Tomás e no Evangelho dos Egípcios. Nos
escritos dos nazarenos, descreve-se o homem com uma natureza tríplice. Um aspecto
andrógino, a que davam o nome de Adamas, que era também o pai dos Aenes, que mais
tarde se convertiam em Girones, formando-se assim a trindade de Corpo, Alma e Espírito.
Todos estes princípios, em todo o seu perfeccionismo absoluto, convergem em Cristo. Diz S.
Tomás, que este Cristo se encontra no sémen das crianças e se encontra escondido até à
idade de sete anos, para se manifestar aos catorze. Explicando que por isso a aura de satura
dessa seiva.
Reconheciam o Demiurgo como a entidade encarregada de criar os mundos, ou pelo menos
o nosso mundo. Eram astrólogos fantásticos que punham em co-relação os sete planetas e
os sete signos do Zodíaco, com os sete centros internos do nosso organismo. A forma do seu
culto foi adoptada pelos gregos e egípcios. Simbolizavam ainda Hermes munido de um pénis
em erecção, a quem davam o título de dador de razão.
Empédocles diz que os seres humanos foram trazidos a este mundo de Adão, para que
servissem de número, ao Deus Jaldabaoth, que com uma vara na mão, em que florescia uma
rosa, à qual se atribuía o poder, quando se aproximava dos homens, de os fazer adormecer
ou despertar segundo os desejos desse Deus. Conta igualmente Homero que um membro
viril com esta figura, era quem tinha mais poder sobre a vida e a morte, mas para lidar com
ele era necessário usar o chicote para o dominar.
O mesmo nos recorda Nietzshe, quando diz: Se vais onde está a mulher, não esqueças o
chicote... Esta frase, motivou imensos protestos no sexo feminino que pareceu esquecer-se
que foi no entanto Nietzsche, mais do que ninguém, aquele que soube respeitar e adorar a
mulher. Quem leia aquele frase e a interprete à letra erra por desconhecimento.
No acto sexual deve-se separar Deus da besta, o Anjo do macho bravio. A volúpia carnal foi o
que mais denegriu o homem, tomando em conta que no momento do êxtase do amor se deve
confundir com a fémina. Os que não sabem dominar-se e pôr isso em prática, necessitam
desse chicote que o tão proeminente filósofo aconselha.
A reencarnação aceite pelos nazarenos. Baseava-se e estava representada pelas altas e
baixas marés. Diziam aquelas antigas Escrituras: Todos vós sereis deuses se sairdes do
Egipto e passares o Mar vermelho...
As descrições do Antigo testamento eram altamente interpretadas por eles e o caminho do
povo de Israel pelo Jordão era apenas simbólico e um sinal para explicar a nossa sistemática
evolução interior.
Conheciam o poder dos mantras e o domínio da Tríade Humana. Era empregue na magia
sacra. Kawlakaw – Sawlasaw – Zeesar, era pronunciado secretamente. Kawlakaw era o
homem superior. Sawlasaw, o interior, e Zeesar o Mediador o Cristo Redentor.
Tinham como objecto sagrado ou símbolo, um cálice. Em que guardavam o sémen de
Benjamim. Diziam que esse sémen era composto de vinho e água. Celebravam a Unção
Eucarística, uma espécie de missa actual e nela colocavam diversos símbolos havendo entre

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eles uma serpente alada com muitas semelhanças com a dos Maias de Yutacan, como se
pode observar em San Juan de Teotihuacán.
Vem depois os Peratas ou Peraticenos.
A denominação de Peratas vem de Perasai, porque assim foram chamados os que
constituíram aquela religião. Afirmavam que eram eles os únicos que podiam ultrapassar toda
a corrupção da época. Eram, com toda a certeza, de uma altíssima moral e conheciam os
grandes segredos da natureza.
Como os nasarenos, dividiam o mundo em três. A Primeira parte desta tríade era a Perfeição,
o Deus Causa. A segunda era o Mundo Astral; e a terceira o Mundo físico ou visível. Tinham
três verbos e três mentes. Desde o Mundo Superior, era espargida toda a semente que
frutificava no Mundo Visível; e entre o Pai-Causa e o Mundo Manifestado, havia um mediador
o Crestos, sem o qual era impossível chegar à Perfeição... A serpente ou órgão sexual,
figurava como símbolo principal no culto dos Peratas. Num dos seus livros, falam de Cristo, a
quem consideravam como um Nirvanacaya que veio voluntariamente para se encarnar, para
salvar denodadamente a UNIDADE, isto é, a Tríade dispersa. Diz uma das suas passagens:
Sou a huangadilha que vem despertar a força que está no espaço, que está no mais não-
mundo: Sou o que no Mar é masculino e feminino e tem doze aberturas para tocar flauta. O
meu nome é Chozar. Existe na ignorância, mas tem uma pirâmide de cinco ângulos, que se
chamam OU, AOAL, OUO, OUOAB e KORE, que representam todo um conjunto... Cantam e
tocam beleza, e dizem que o seu segredo está no masculino-feminino, que, aproveitado
devidamente, nos mantém sempre jovens. Afirmavam ainda que existiam duas formas de
nascimento. A da carne, originada pelo coito e outra bem diferente para aquilo que não era
precisado. Da primeira saíam homens condenados à morte e da segunda, da concepção do
Espírito Santo, Anjos. Que o nosso dever era evitar a concepção carnal e alcançar a
espiritual. O passar de um estado para outro era chamado, a caminhada do Povo de Israel
pelo Mar Vermelho.
No simbolismo religioso, existe um grande papel no feito de Moisés, que no deserto, mostrava
ao seu povo a serpente transformada em vara, dizendo que o que aproveitava a essa
serpente não seria prejudicado durante o trajecto. O poder e a força, que acompanhavam
Moisés na sua peregrinação, foram os da serpente sobre em vara, que logo se converteriam
na própria vara. Foi ela que devorou as outras serpentes e a mesma que falou com Eva.
Na Trindade, com o Pai-Deus num extremo e a Matéria no outro, não podem ser entrelaçadas
senão por Cristo enquanto laço de união. Mas Cristo nada pode fazer sem o auxílio da
serpente, porque a força e o poder apenas residem nela.
Nos seus mistérios encontramos pura Fisiologia. O Pai é a cabeça, o cérebro não criado. Na
sua base e no extremo oposto, a matéria, o organismo duro concebido pela carne. No meio, o
líquido, o sémen criado por ele mesmo.
Vêem depois os Setianos.
Esta seita prestava culto à sabedoria divina, e foram, indubitavelmente, os primeiros teósofos.
Diziam que Set era filho da sabedoria. A sua Tríade acabava representada por Set, Caim e
Abel. Sendo Caim a carne e Abel o mediador. Enquanto Set, era Deus-Sabedoria. Afirmavam
que Cristo e Set eram a mesma coisa enquanto filhos da sabedoria.
Quando se encontrou a sarcófago de Set, a igreja católica escondeu o Livro dos Mortos, no
Vaticano, perdendo-se para a maioria ensinamentos de valor inestimável.

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Os setianos adoravam a Grande Luz, diziam que o Sol, nas suas emanações, era substância
divina, a qual formava em nós um ninho que, por sua vez, constitui a serpente. Que o homem
apenas deveria temer a obscuridade, o que ela representa ou seja, o inferno, já que a Luz
está aprisionada por esta mesma obscuridade e tenta dela libertar-se. Esta obscuridade está
contida num grande útero ao qual deverá chegar um Grande Vento o Grande Hálito, para a
libertar. Nos mistérios, a Luz é representada por um ancião e a obscuridade por uma jovem
formosa, e os poetas setianos cantavam essa perseguição.
Existe um Livro Sagrado entre estes iniciados que se chama O Discurso de Set.
Nazarenos e setianos, tinham ensinamentos absolutamente idênticos aos da teosofia
moderna. É uma pena que a Mestra Blavatzky não tivesse dado com os Tesouros Gnósticos.
Se o tivesse conseguido com o seu trabalho, teria sido bem diferente a realidade, sem a
necessidade de importarmos coisas praticadas no Oriente. É no entanto também possível que
isto pudesse ter sido uma conveniência, porque de outra forma, a igreja católica naqueles
tempos, teria feito com que ela se calasse.
No entanto, nós não devemos contentar-nos com a teosofia oriental, apenas devemos lançar
mãos ao nosso cristianismo esotérico, tal como o vimos pregando há vinte e cinco anos.
Mais tarde apareceu Justino, formando a Escola dos Justinianos.
Nunca a igreja católica fez mais falsificações que com as Obras de Justino, aquele que, tendo
sido discípulo dos Apóstolos, criou uma grei e em seguida foi morto como mártir. Por ter sido
Gnóstico, a igreja queimou as suas verdadeiras Obras e reformou-as substituindo nomes. Por
isso, hoje, se pode dizer que temos dois Justino’s; o verdadeiro e o falsificado pelos católicos.
Justino pedia aos seus discípulos, um juramento tremendo em que os obrigava a jamais
revelar, aquilo que lhes era ensinado sobre os Grandes Mistérios. Foi ele o autor do
Apocalipse Baruc, que é muito diferente do que actualmente se conhece. O verdadeiro está
em poder de diversas Sociedades Secretas. E neste livro repete-se um conto de Herodoto,
em cujo simbolismo se acredita está o Mistério da Criação:
Hércules andava em viajem, e numa noite, ao atravessar o deserto e vencido pelo cansaço
deixou-se adormecer. Sonhou então que o cavalo, que o acompanhava na viajem, tinha
fugido; ao despertar e no meio das diligências para o encontrar, veio ter com ele uma mulher
muito formosa que lhe disse conhecer o paradeiro do animal. Ao perguntar-lhe Hércules, em
que lugar se encontrava a sua montada, esta respondeu que não lhe diria uma só palavra
enquanto ele não a considerasse sua amante e realizasse com ela o coito. Imediatamente
Hércules a repudiou até porque só a metade superior dela era de uma mulher formosa. Os
membros inferiores eram os de uma serpente horrorosa. Mas como mesmo assim ela lhe
devolveu o cavalo ele acedeu. Essa Mulher Serpente concebeu de Hércules e dessa relação
nasceram tês pessoas numa. Uma figura de Mulher dividida em três partes: metade de Corpo
Humano; metade de Serpente, e no meio, a Parte Sexual de ambos. Daqui nasceu a
Trindade.
Nesta Obra o povo de Israel não é uma simples tribo, mas sim o símbolo do mal, a parte
feminina... Fala ainda dos doze Anjos bons e dos doze maus. Segundo Justino, Baruc foi um
Anjo, que encontrando Jesus, o iniciou nos Sagrados Mistérios. Justino foi um dos maiores
Iniciados e a sua fama chegou a ser Universal. Não podendo, por esse motivo, a igreja deixar
de explorar o seu nome, sumiu os seus verdadeiros Livros, dando-lhe paternidade a outros
que ele jamais pensou em escrever.
Temos ainda Simão O Mago.

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Este foi contemporâneo de Justino e louvado por este. Hoje a igreja diz, naturalmente, que
Justino se enganou a respeito dele. A verdade é que os romanos lhe erigiram estátuas com a
inscrição “Simon Deo Sancto”. Conseguiu tal desenvolvimento das suas faculdades interiores,
que conseguiu operar verdadeiros milagres e segundo contam teve uma controvérsia com
São Pedro em que este terá afirmado que as coisas de Deus não se adquirem com dinheiro...
Pelos vistos, a igreja emendou esta frase do primeiro Pontífice e hoje o Papa entrega e
oferece muitas coisas mediante retribuição...
Simão O Mago, acredita no imenso poder do fogo e assegura que na íntima essência deste
elemento, encerra-se um poder imenso, do qual o Mago se deve valer sem qualquer dúvida.
Esse fogo encontra-se também dentro de nós, na transmutação das forças sexuais. É
ensinado aos nossos estudante avançados.
Foi o primeiro que naquele época deu a conhecer o Septenário Teosófico, descrevendo o
manusear da mente falada dos quatro elementos. Descreve o caminho que empreendem as
forças seminais até chegarem ao coração, deixou-nos uma infinidade de fórmulas e receitas
de toda uma Magia cerimonial. Muito dos escritos, que foram publicados por Papus, e outros
autores, acerca da magia nos últimos anos, foram copiados de Simão O Mago.
No seu livro A Pregação, diz: Para vós eu falo em metáforas; mas deveis compreender-
me...Dois rebentos nascem de toda a Seriedade e há um princípio sem fim. Ambos vêem da
mesma Raiz ou seja do Poder Infinito, do Silencio Invisível. Um dos rebentos eleva-se. É o
poder , o entendimento do grande Todo que a tudo chega e é masculino. O outro desce. É a
grande mente, o produtor incansável e é feminino. É na união de ambos que está a resolução
de todo o problema. O poder em si mesmo é masculino e feminino alternadamente.
Simão O Mago, pregava o amor ideal e a obrigação de combater a volúpia carnal e isso foi
quanto bastou para que tivesse sido uma vítima da igreja, que mais tarde o santificou.
Continuemos com os valentinianos.
Valentim, faleceu em 161, foi contemporâneo de Harpócrates. Era um dos Gnósticos de maior
renome e foram muito grandes as lutas para não ser conquistado pela Igreja Católica, que
acabou por excomunga-lo como herege. No entanto a “heresia” de Valentim, consistia em ter
um conhecimento mais fundo e transcendente, que o dos sectários da Igreja Católica, e em
que as suas mais puras virtudes foram o seu maior património durante a sua vida. Os seus
grandes poderes de mago foi o que mais eficazmente despertou os ciúmes dos seus
adversários. A literatura deste Mestre, é naturalmente agnóstica, visto ele lhe ter
acrescentado uma série de sofismas e erros, propositadamente, para com eles esconder a
sua verdadeira Doutrina, que chegou a ser ignorada por completo.
Valentim. Como quase todos os Gnósticos, valeu-se da analogia do nascimento de um ser
humano para explicar a Criação dos Mundos, chegando a construir todo um edifício filosófico
com este sistema. Sustentou que Jesus foi Gnóstico em toda a acepção da palavra e que por
causa da Igreja Católica, não pode interpretar as escrituras devido ao facto de lhe faltar a
chave necessária para o efeito. Era ainda um grande matemático e fez a sua filosofia com o
Santo e o Numero. Foi o primeiro a pôr em prática o sistema decimal, tendo-o provavelmente
ido buscar à Cabala dos Zefirotes ou os dez caminhos para chegar a Deus. Foi racionalista e
falava da razão como o primeiro atributo que Deus oferece aos homens. A ele se deve a
diferença estabelecida entre Ciência e Sabedoria e ainda, no erro que existe quando se tem
por adquirido, ao pensar que a Matéria nasce por mediação da Carne.
Todo o sistema Gnóstico pode ser descoberto estudando Valentim, e então se verá a
maldade dos seus inimigos ao querer destruir uma coisa verdadeiramente santa. As suas

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teorias sobre a forma de transmutação das forças sexuais e os seus ensinamentos, são muito
idênticos aos de outros Mestres ou Escolas, por isso não se torna necessário repeti-las.
Mais tarde Hipólito ocupou-se em explicar o sistema de Valentim provando que sem dúvida
Jesus, durante trinta anos da sua vida e no tempo em que estudou no Egipto, foi Gnóstico e
que as suas ideias acabaram por ser adulteradas pela nova seita que veio a constituir o
cristianismo.
Marcos, aquele que nos deu a missa Gnóstica, foi um dos mais interessados na Unção
Eucarística. Pertenceu à seita dos Esenios entre os quais, ao que sabemos, se praticava o
Agape e que Jesus o terá celebrado com os Apóstolos em casa de José de Arimateia. A
forma utilizada por Marcos, na prática do Agape, difere em parte da nossa, que além de mais
bonita é, desde logo, mais útil nesta nossa época.
Marcos dá uma extrema importância à vocalização da fórmula e diz que toda a verdade está
encerrada no alfabeto grego. Ordena as letras desse alfabeto, sucessivamente, em cabeça,
pescoço ombros, peito etc., fazendo passar o líquido espermático, perante essas forças e
pelo corpo interno. Nenhum dos ocultistas modernos falou tão franca e claramente dos
Grandes Mistérios como ele.
Fazendo menção às 24 letras – que na realidade existem e são vistas pelos Iniciado –
assegura que o nome de Cristo se compõe igualmente de 24 letras para ser Logos, cujo
resultado é 888, ou seja três vezes oito ou três vezes o infinito.
Marcos ofereceu-nos ainda os mantras necessários para evocar os anjos que certamente
produzem efeitos, como nós podemos comprovar. A igreja romana tem a bom recato todos os
segredos deixados por Marcos, porque se assim não fosse, seria o seu fim completo, o que
prepararia o florescimento e a instituição da Igreja Gnóstica.
A obra de Marcos merece que dela se faço um livro especial. No entanto, não é possível dizer
mais alguma coisa, enquanto os que me lêem não se encontrarem mais bem preparados.
Surge Basilides.
Basilides o Gnóstico, chama-lhe a igreja gnos – católica a este grande filósofo. Todos aqueles
que se dedicaram dos Amuletos, plagiaram este Mestre cuja fórmula de consagração recebeu
directamente dos Anjos Invisíveis. Foi um grande alquimista. Está no Museu de Kircher, no
Vaticano, guardado Livro de sete folhas de chumbo feito por ele. Tendo chegado nos seus
trabalhos com os metais ao ponto de preocupar os arqueólogos, que até hoje ainda não
conseguiram descobrir, naturalmente, o seu significado oculto. Os seus trabalhos são ainda
confundidos com os do seu filho, que herdou toda a sabedoria de seu pai. Basildes sustenta,
nas suas obras, que os Apóstolos tinham conhecimentos bastante mais profundos que
aqueles que deixaram expressos nos eus escritos, falando ainda de forma bastante clara dos
aspectos exotéricos e esotéricos das coisas de Deus, como as que lhe havia ensinado S.
Matias que lhe deu a conhecer a parte secreta dos ensinamentos de Jesus, que não passou
para a igreja católica, porque apenas ficou como património exclusivo dos Gnósticos. As
ideias expostas por Basilides são difíceis de compreender. Sobretudo quando fala do Grande
Nada e da criação da Semente. No entanto a reencarnação e o karma, estão muito melhor
explicados por Basilides que pelos indus. O nosso Patriarca tomou o seu nome como símbolo
iniciático e com o seu imenso saber parece compreende-lo melhor que a maioria dos seus
discípulos.
Saturnino de Antioquia.
Foi o Gnóstico que melhor conheceu o Zend Avesta, tendo sido um cabalista profundo.

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Já Mestre Encausse, quando estudávamos com ele, nos confessou que a maioria das suas
fórmulas as tinha aprendido em Saturnino.
Assegurava, nos seus ensinamentos, que o Jahave, Deus dos judeus, era um dos Anjos
caídos, que pode chamar, em virtude dos seus conhecimentos, ao seu povo, de povo
predilecto...Mas a Suprema Causa, o Principio Desconhecido, o Grande Deus, não pode
reconhecer essa diferença que se afastava da verdadeira justiça e equidade com que ELE
abraça todos os povos da Terra.
Os Saturninos eram sóbrios, muitos castos e completamente vegetarianos, levando as suas
normas morais a extremos inconcebíveis.
Para compreender Saturnino em toda a extensão dos seus ensinamentos e necessário
entender e estudar primeiramente os seus antecessores.
Marción da Ponto filho de um bispo da igreja católica. Sendo amigo íntimo de Cerdon, teve de
lutar com ele denodadamente em Roma, para que os sectários cristãos regressassem à
verdadeira igreja cristã para manter sempre incólumes os princípios morais do Gnosticismo,
mas o egoísmo e os interesses da seita romana não lhe deram ouvidos e excomungaram-no.
Defendia o dualismo ou o princípio dual de todas as coisas e admitia haver um Deus
inominado (sem nome) e outro manifestado em toda a essência de tudo o que existe.
Carpócrates era grego e foi o fundador das primeiras Escolas Místicas do Gnósticismo. Nos
primeiros séculos existiram em Espanha muitos conventos Carpocratianos onde se recolhiam
os Rosa Cruz, para aprender e estudar os ensinamentos do sábio Mestre. Carpócrates, fala
da monada com ainda maior profundidade que os teósofos e assegura nas suas prédicas que
Jesus tinha desenvolvido a clarividência de tal maneira que podia recordar tudo o que tinha
visto e vivido noutros mundos e noutros céus. Foi um verdadeiro mago e nos seus conventos
se ensinava a Magia cerimonial. Os Gnósticos conservam os conhecimentos transcendentais
deste Mestre e todas as nossas fórmulas sobre medicamentos e preparações, na nossa
botânica Rosa Cruz, devem-se ao legado por ele sobre esta importante questão.
O maniqueísmo, ao qual no segundo século, pertenceram sacerdotes como Santo Agostinho
aceitavam, embora a igreja diga que só aparentemente, que a emanação do céu ou do sol,
que se realizava na terra, passando então a chamar-se terra lúcida, era feita pelos iões de
Deus. Luz é portanto a mesma. E hoje a encontramo-la com o nome de Substancia de Cristo
ou Essência do Logos Solar.
Entre os continuadores dos Gnósticos primitivos encontramos os Albigenses. Conheciam
igualmente uma substância divina que reconheciam ser a causa de todas as coisas que foram
feitas. É conhecida a espantosa guerra que se iniciou contra esta seita, em que o beato
abade Arnoldo dizia: “Matai, matai-os todos, que depois Deus distinguirá os seus”. Como a
sua acção se desenvolveu na Catalunha, existem ali dois conventos onde foi encontrado
muito material de prova das doutrinas teosóficas dos Albigenses.
Com tudo isto, julgamos ter falado dos mais proeminentes e significativos Gnósticos dos
primeiros séculos. Entre as obras que podem ser consultadas para melhor informação sobre
a importância da nossa Escola, estão algumas de Ireneu, Hipólito, Epifaneo, Tertuliano,
Clemente de Alexandria., Origenes, Odea Gnóstica, Bardesanes, Marco e Cerdon, que são
os mais destacados historiadores depois de Herodoto. Aparte destes, coisas divinas, terão
ascendido em alas do Pleroma ou plenitude da inteligência.
As vulgares igrejas do positivismo religioso, a respeito e sob o aspecto do útil e do prático
nada nos ensinaram, uma vez que tanto os seus fundamentos como os seus ensinamentos

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foram degenerando em dogmas indiscutíveis, que é o que hoje resta da dura concha do
materialismo de que padecem.
No entanto, podemos acercar-nos de diversas fontes de filosofia, uma vez que temos tantos e
tão sábios filósofos. Mas é aqui que os mesmos textos se contradizem e a verdade se escapa
por uma vertente resvaladiça. Mais ainda: se temos a má ideia de ler Balmes, que tanto
inspirou a juventude de Espanha e América, seríamos envolvidos numa rede de crassas
estultícias e de sofismas espantosos.
Não falemos pois de universidades. O ensinamento escolástico, em sentido religioso, foi o
que maiores danos fez, obscurecendo e nublando a nossa própria razão para que não
víssemos a plena Luz. No dia em que nos disponibilizarmos para ser livres emancipando-nos
de tanto prejuízo inútil, saberemos o seu custo.
Por tal razão se queremos levantar o véu e ver o horizonte ilimitado das coisas, se queremos
prescindir do falso envolvimento que encobre a verdade, e desejamos alcança-la tal como
existe e não como a apresenta a mediocridade ambiente, temos que recuar. Tomar a nossa
linha o nosso elo de Ariadna e recomeçar da primeira fonte de onde brotam e tiveram
conhecimento todos os ensinamentos humanos.
Já na nossa obra, Logos, Mantras, Magia, mencionava-mos os Elohim. Essa espécie de anjos
ou mandatários de Deus, que ao separarem-se do seu núcleo, desceram das divinas esferas
sobre o Caos insondável e foram os possuidores de toda a Gnosis e de todas as leis que
governam o imenso infinito da natureza. E dizemos de todas as Leis e de toda a Gnosis,
porque eles não só eram possuidores da Ciência nos seus diferentes aspectos, como ainda
eram detentores da sabedoria.
Estes Elohim ou divindades secundárias, foram os criadores do mundo, os primeiros
arquitectos. São os pranjapatis do Veda Ring, que lhes chama os construtores da Obra
Universal, que deixaram ao homem, como herança, todos os conhecimentos absolutos que
detinham. Por isso os primeiros humanos que experimentaram este divino Saber, como uma
Santa Revelação Mística, chamaram-se Gnósticos.
É verdade que a ciência moderna em grande forma se adiantou sendo muitos os
conhecimentos que proporciona. Mas pensemos no entanto no muito que ainda se ignora.
Temos que procurar um meio, uma vereda mágica, um caminho livre e seguro que nos
conduza aqueles conhecimentos que como herança nos chegaram, isto se queremos ir a
esse mais além oculto, que radica em todas as coisas que faltam à Ciência descobrir com a
lentidão da sua miopia.
Temos no entanto o dever de avisar que essas Divindades, não nos deixaram esses
conhecimentos em livros impressos. Para nos dar as suas místicas revelações e os seus
ensinamentos construíram uma espécie de Representações Teatrais em cujo enredo
pontificava vivamente toda a Santa Gnosis revelada. A estas representações deram-se-lhes o
nome de Mistérios.
Foram célebres na história, os Efesos, os Orficos, os Samotracicos e sobretudo, os
Eleusinos.
Estes dramas religiosos não eram outra coisa senão representações simbólicas de lendas
divinas, com exibição pública de objectos sagrados, em que nelas imperava a mímica.
Os actores que desempenhavam os papéis eram os sacerdotes e as sacerdotisas dos
templos.

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No entanto o verdadeiro Misterium, a Gnosis esotérica, o Arcano intimo, apenas se dava a
conhecer aos místicos ou a candidatos à Iniciação por um Hiriofante, colocando-os em
particular e privilegiando contacto com o mundo invisível da Divindade.
Temos que estudar, porventura, os Mistérios se queremos chegar perto da mesma Fonte de
onde partiram todos os conhecimentos que tornaram sábios os homens primitivos.
Para isso. É necessário chegar a nós. Os Gnósticos.
Nós somos, por excepção, aqueles que com mais propriedade podemos dizer que guardamos
a ligação o contacto com essas primeiras Jerarquias Elohininas, tendo nas nossas mãos
todos os filamentos dessa ligação misteriosa que foi deixada dispersa entre os humanos e
que vem chegando até aos nossos dias desde antes da Criação.
Limitamo-nos a estudar a parte essencial, purificada e santa de todas as coisas, deixando de
lado todo o inútil, o desnecessário, a folhagem, que não é mais do que uma maneira ou forma
de ferir a nossa depauperada retina.
Observamos a natureza face as suas múltiplas cambiantes, para que se possa ver a mão de
Deus manifestada em tudo. E, como procuramos a quinta essência escondida em quanto
existe, analisamos a pedra, a árvore, o animal e o homem. Todo aquele que tem em si, sem
dúvida, a aura da Divindade.
Somos pitagóricos. Analisamos o Numero atentando na frase lapidar do Mestre: Deus
geometriza tudo. Por isso o Santo Numero reina em toda a parte.
Assim é. Com efeito.
Por onde quer que a nossa vista alcance, existe Numero e mão geométrica cristalizados na
sua forma.
Se são flores aquilo que observamos, prescindamos da sua beleza e perfume. Observemo-
las com olhos ocultistas e vejamos que nos oferecem um determinado número de folhas e
pétalas formando cruzes-pentagramas harmoniosos. Se estes não existem é porque houve
alguma causa não harmónica que ensombrou a sua perfeição.
Mais tarde quando vamos cortar umas destas flores, utilizamos a nossa própria mão. E
quando a estendemos verificamos que nela há cinco dedos... Precisamente o numero cinco
havia de estar na mão do homem.
Os antigos representavam o mundo por meio deste número, baseando-se no facto dele
significar a Terra, A Água, O Ar, o Fogo e o Éter ou Espírito. Daí o vocábulo Pentagrama, cuja
palavra deriva do grego pente (que significa cinco)e de pan (que é tudo). Por isso, o homem é
tudo, dentro da ordem da Natureza, o seu número representativo deverá ser o 5 e a figura
geométrica que o caracteriza, a estrela pentagonal cuja compreensão simbólico-ocultista tem
tanta importância para os Gnósticos.
Contrariamente, se vemos a mão dum homem com seis dedos, recebemos instantaneamente
um choque impossível de conter e compreender que um fenómeno anormal, extra natura,
rompeu com a única e verdadeira harmonia que lhe é peculiar.
Nas plantas vê-se manifestada a Trindade, com a raiz, folhas e flor. A flor no ar balanceia-se
ao vento e parece querer chegar ao Sol, até ao do céu. É a ascensão de Nosso Senhor. A
raiz, pelo contrário, mergulha, quer afundar-se, sulca a terra em busca do oculto. Como as
forças do Logos na sua misericordiosa actuação, empurram para baixo enquanto ao mesmo
tempo provocam a ascensão, logo a flor sendo uma força imanada que atrai do mais baixo
das suas raízes para as elevar ao mais alto redimindo-as e purificando-as. Onde

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encontramos, pois, a intercessão da Cruz naquilo em que estas forças se dividem? Deixemos
este símbolo chegar até ao homem lembrando-lhe aquilo que já dissemos noutras ocasiões
sobre o plexos solar.
Tenhamos em conta que os mencionados quatro elementos: Terra, Água, Ar e Fogo, que
formam a base de toda a ciência Rosa Cruz Alquimista, são os que dão impulso e vigor a
tudo quanto existe. Seriam no entanto forças de inacção, forças perdidas se dentro delas não
acalentassem, como que um hálito divino, O Logos Supremo.
Dizem os Livros Sagrados dos Maias, que os primeiros homens foram quatro: Balam Quitze,
Balam A’kab, Mahucutah, e I’ke Balam. Eles nasceram sem mãe, pois as suas origens são de
outro mundo, anterior ao nosso. Eram a imagem do inonimado como uma força criadora , pois
deles saíram logo os outros seres e as outras coisas.
É de capital importância para o Gnóstico o Quaternário Sagrado. Com esta expressão
simbolizava Pitágoras, o nome inefável de Deus, o princípio eterno, que em hebreu se
compõe de quatro letras, e que os antigos davam conhecer como símbolo do ser vivo que
tinha em si o Delta ou o Triangulo Divino, como portador de Deus. Nele está compreendido,
ainda, o Septenário, já que os três princípios inferiores podem reduzir-se a quatro e o Fogo,
por ele próprio, representar a Tríade.
A resolução deste problema é oculto e extremo e não o podemos aqui dar a conhecer.
Apenas o podemos indicar para que cada um possa, segundo a sua própria intuição, extrair a
seiva do conhecimento que lhe seja possível.
Na nossa obra anterior, Quirologia Médica, falámos da importância do ferro. Sem o seu
descobrimento não existiriam máquinas nem indústrias nem os problemas que hoje coexistem
no corpo social, não teriam razão de ser. Se não tivéssemos tido metais, teríamos certamente
utilizado apenas as lascas de pedra. Não haveria ferro vias, nem vias de comunicação, nem
telégrafos, nem aviões, nem muitas das coisas que hoje dispomos no mundo moderno. Até a
imprensa seria desconhecida. A Ciência não teria surgido e os conhecimentos humanos
seriam conservados em símbolos gravados nas pedras. Os Rosa Cruz antigos e os Mistérios
primitivos, viram todas essas possibilidades e por isso foram tão grandes as suas revelações.
Para nós, isto já não representa hoje, uma constante preocupação.
Mas tenhamos em consideração que nunca teríamos tomado conhecimento do ferro sem o
fogo. Foi este elemento que arrancou todos os metais da terra e só com ele é possível que
tudo seja transformado.. Por isso os Rosa cruz sustentam o seu princípio de Igne Naturua
Renovarum Integra. Não esqueçamos que sem o ferro e o fogo nada pode existir e que o seu
manejo pertence exclusivamente ao homem, para quem o fogo foi arrancado do Céu por
Prometeu. Os animais podem desenvolver-se dentro dos demais elementos, mas horrorizam-
se perante o fogo.
O Fogo é pois, uma parte de Sol, como que uma energia dinâmica que impulsiona e dá vida à
planta. Por isso vimos sobre a pedra quadrada do altar, velas de fogo formando um triângulo
ascendente, desde a parte inferior, uma larga chama. O Avental Maçónico representa esse
mesmo altar com a chama de fogo estando nele contido o Septenário Rosa Cruz. Mas
garantimos que os Mações o ignoram.
Somos, por isso, adversários da Maçonaria que se desviou do seu caminho metendo-se em
política, fazendo geralmente grandes males sociais. A maçonaria não serve como politica
nem como religião; o seu papel está em conservar, aplicar e estudar o sentido oculto dos
seus rituais, acontecendo geralmente, que os aderentes a essa causa, ignoram em absoluto o
significado oculto dessas práticas.

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A planta, a rosa, necessita de terra. Mas se a plantamos numa terra fria apenas, não floresce
vida. Necessita de água, humidade para germinar, e então ela desenvolve-se desde a
semente onde misteriosamente está contida toda a planta. Precisa, mais tarde, de ar para a
sua transpiração sem cujo elemento não pode ascender, ainda que tivesse terra, ar e água,
nunca cresceria na sua plenitude. É necessário o fogo da alquimia, para que seja operado o
milagre da transformação.
Tomemos o seu exemplo figurado e observemos o homem. O ser humano necessita de um
corpo, de um invólucro, sem o qual não teria personalidade. Precisa do elemento água que
representa a vida. Mas ainda que com corpo e vida, seria igual a uma mísera pedra e nunca
chegaria sequer a ser planta. Necessita então de algo mais que é a consciência que é o ar,
mas essa consciência sem o impulso divino que é o Fogo do Espírito não seria concebida.
Temos aqui pois os quatro elementos. O INRI da Cruz do Homem.
E já que falámos no homem devíamos perguntar: O que é o homem? Conhecemos os varões.
Conhecemos as fêmeas. Mas o homens como ser substantivo, como Unidade, é quase
impossível de imaginar. Apenas a dualidade em que está envolvido nos faz ter uma ligeira
suspeita.
Porque o homem não é a concha, não é a casca, não é o invólucro, não é a sua figura mais
ou menos bonita. Não. O homem está mais internamente escondido, mais recolhido, está
muito mais para além do sexo. Apenas por esta via se pode procurar e ele é a única chave
para o encontrar. Contende o sexo e tereis robustecido o vosso Mediador...
Sem dúvida, é muito difícil conter o homem, saber o que é o EU, o UNO. Por isso é tão
ridícula a pretensão da nova seita “Vida Impessoal”, recentemente estabelecida em Buenos
Aires, quando querem realizar aquilo que eles próprios nunca experimentaram.
Eu e o Pai, Somos Um, disse Jesus. Donde podemos concluir, em consequência, que o EU é
o Pai, quer dizer, DEUS MESMO e que Nada Chega Ao Pai Sem Ser Através De Mim.
Temos três figuras que jogam um papel importante dentro da Religião. Deus - Pai (o Jeová da
criação). O Diabo que, assim como filho ao manifestar-se tomou o corpo humano, ele
igualmente o fez, segundo a lenda Bíblica, sob a forma de uma serpente. O Corpo, a parte
material, é o Diabo, o Demiurgo, que é por sua vez, o Génio da Terra. O Filho é a Vida em
acção, a parte astral e só por ela, mediante esse veículo de vida manifestada, encontramos o
Pai, chegamos a Deus, que reside dentro de nós sem que consigamos comunicar com ele,
apesar de todas as igrejas, bíblias ou imagens. Só existe um único caminho para chegar a
Deus. De nada nos serve que Jesus tenha nascido em Belém, se ele não nascer no nosso
coração e a sua morte na cruz do Gólgota, não morre igualmente dentro de nós e nos redime
também.
Temos todos dentro de nós um Deus todo-poderoso com o seu omnisciente poder a
manifestar-se, mas só e apenas quando nos podermos manifestar com ele. Poderemos
depois voltar a encontrá-lo nas igrejas, nas escrituras, nos sacerdotes; mas antes não, sem
aquela condição básica nada existe...nada.
É esta, pois, a Trindade Gnóstica.
Os Gnósticos dizem: Deus é a única realidade é o único positivo. Tudo o que não seja Deus
não pode ser real, não podem ser de Deus. As doenças, as dores, a pobreza ou diabo, são
coisas negativas e não são mais que produto dos humanos. Não podiam existir se não os
produzíssemos. A doença, o mal, existe, porque é constantemente sustentado pela nossa
mente. Por isso a religião católica, sempre em torno das dores semeia penas e crucificações.

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Tal como a teosofia com as suas negações. Não, o karma acaba-se quando o homem se
sente redimido pelo Logos Solar. Para aquele que viva essa força de Cristo dentro de si, não
tem karma a pagar.
Existe na África uma seita chamada de satanistas. Eles adoram e elevam as suas orações ao
Diabo e muito logicamente manifestam que se Deus está no céu e é todo bondade e
misericórdia, não pode fazer mal algum às pessoas, formadas, como foram, à sua imagem e
semelhança. Isto seria contra os seus atributos pessoais e consideram os cristãos como uma
patranha. Pelo contrário, o Diabo, é o princípio do mal e como tem muito poder para o fazer e
maltratar os homens, é a ele que elevam as orações e lhe pedem benevolência. A lógica está
sem dúvida, do seu lado.
Eles pensam igualmente que a Terra, que este escabroso vale de lágrimas, este conjunto de
penas, males e imperfeições, não pode ter sido obra de Deus. Teve que o ser do Diabo, do
princípio do mal, e nisto existe alguma similaridade connosco os Gnósticos, porque até certo
ponto também supomos isso embora de forma simbólica.
A forma cristaliza, mediante a Terra, a Água e o Ar. Mas a Vida, oferece-a o Fogo. Por isso o
Diabo sem Deus, é absolutamente impotente e nada pode fazer se considerarmos que ele
mesmo é também obra da Divindade, como anjo e logo como produto humano. Devemos
combate-lo dentro de nós repelindo todo o pensamento perverso, termos apenas ideias sãs e
levá-las à prática. É necessário que o Gnóstico, seja bom e purificado quer dentro ou fora de
si. Devemos trazer dentro de nós o labor de uma eterna criação.
Eis porque, os Gnósticos sustêm que o Universo foi indirectamente criado por Deuses
directamente por aquelas Legiões de Anjos, chamadas Elohim, que até hoje nos têm
custodiado com a sua guarda perpétua.
A UNIDADE não se compreende. Seria útil fazer uma reflexão sobre ela e achar a sua
definição. Apenas se percebe, se sente e se vive. A Dualidade, por troca, através da sua
polaridade é perfeitamente entendível. Por isso a Deus o entendemos pelos seus divinos
atributos, mediante a existência do Diabo, por tratar-se de dois pólos contrários, de sinal
oposto em todas as religiões. O Uno é o Principio do Bem; o outro, o do Mal. Mas a verdade
de todas as coisas, a sua essência, a verdade cardinal de tudo quanto existe, está radicada
muito para lá do Bem e do Mal.
A UNIDADE, mesmo na planta, baseia-se no facto de queres ser o Sol e a Terra ao mesmo
tempo. É esse o seu instinto, o seu esforço, o seu impulso evolutivo.
O Cálice sobre o Altar simboliza todos os Reinos. O próprio Altar representa o reino mineral.
O Vaso unido pelo pé, a planta com o caule e a raiz. A Cavidade, a flor, que é igualmente a
chama de fogo sobre a terra. É pois necessário que o Cálice esteja sempre sobre o Altar,
porque o Fogo só tem acção sobre a terra.
Nos Elementos cabem todas as paixões que assaltam o homem. Os vícios, os prazeres, a
corrupção...No ar encontra-se igualmente a Ciência, que no Fogo radica em Sabedoria. Se a
ciência e a religião habitual nos ensinam as coisas pela rama, apenas o seu aspecto exterior,
é forçoso que o Gnóstico aprenda a ver através do véu e apure o olhar para que possa ver
mais fundo, para que possa encontrar assim a mais pura realidade.
Este sentimento bem marcado em nós, é aquele que nos deu o impulso para, nestes últimos
anos, dar forma a diversos livros, que dando a sensação de serem de temas diferentes,
formam sem dúvida e em conjunto um Edifício Filosófico.

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Dizíamos no nosso Rosa Cruz (Novela Iniciática), a respeito do trio Matéria, Energia e
Consciência, que ainda estava tudo por resolver. Quando concebíamos a Matéria, esta não
podia ser explicada sem lhe considerar inerente uma Energia. Nem a esta, por sua vez, sem
uma Consciência ou Inteligência. O que é o mesmo que a Trindade: Pai, Filho e Espírito
Santo... como encarnação iniludível que está em tudo o que existe.
No nosso Biorritmo, tínhamos falado nos três ritmos: masculino, feminino e intelectual, nas
suas diferentes fases. No entanto se observarmos com atenção este último, o intelectual,
veremos que é uma espécie de mediador. O princípio que nada tendo de masculino nem
feminino, pertence a ambos como se fosse hermafrodita. É assim Cristo. Tem de homem e
tem de Deus e por conseguinte é um verdadeiro Mediador aos princípios a quem serve de
nexo constantemente.
Todos os grandes pintores deram a Cristo esse mesmo carácter em todas as suas telas,
desenhando-o com um corpo de homem, enquanto lhe davam a despeito da barba um rosto
afeminado.
Mesmo no nosso próprio corpo, dentro da nossa fisiologia, podemos encontrar a estrutura de
ossos, tecidos, nervos, células, etc., que formam a solidez da Matéria. Logo, achamos o
sangue e a linfa que constituem a nossa parte líquida e finalmente, essa secreção interna
viscosa e sexual a que chamamos sémen, que não é nem líquida nem sólida e que aparece
como um estranho mediador entre ambos
No trabalho interno do nosso laboratório alquimista orgânico não é conhecido de todo: mas
nós, os Gnósticos, sabemos que esse mediador, esse Cristo, esse astral líquido, encerra a
chave da redenção, e por isso é mencionado em todos os mistérios antigos.
Existe ainda um acto na Igreja Católica, digno de menção, tergiversada pelo conceito popular.
Quando o Conclave de Cardeais – costume que data de 1271 – decide por fim designar o
Novo Papa, este é colocado numa cadeira própria onde o eleito, depois de despojado das
roupas interiores, é submetido a uma espécie de exame ou reconhecimento de todos os
votantes, em relação aos atributos que determinam a sua masculinidade. Este acto que é
demasiado eloquente, refere-se muitas vezes como piada, ligado ao acontecido com a Papisa
Joana que, sendo mulher, viria mais tarde a surpreender o Colégio Cardinalício. Mas não é
assim na realidade. Se esse fosse o motivo, prescindia-se do exame do costume agora,
porque todos os Cardeais de conhecem entre si e não existe mais esse temor. A Problema é
mais fundo, mais importante. Esta cerimónia, estranha e surpreendente, tem a sua raiz nos
Mistérios Arcaicos de onde tudo procede. Uma vez que o Papa é e representa o Mediador, há
que fazer uma alusão ao lugar onde a sexualidade se encontra e vive com toda a potência e
toda a essencialidade do Mediador verdadeiro.
Nós resumimos o Septenário Teosófico de modo idêntico, tanto na parte material como na
espiritual e astral. É na última que a consideramos como mediadora, e por isso se conserva
em toda a sua plenitude a representação de Cristo.
Tanto os Rosa Cruz, como os Gnósticos, seguem o ensinamento afirmado por Jesus de que
nada chega ao Pai senão por Ele mesmo, que se declara como Mediador. Assim, para que se
obtenha a redenção, a salvação, não é uma questão de rezas ou confessionário, nem de
pagamento de indulgências. É preciso apenas buscar e tirar o proveito máximo dessa parte
Astral, cujos expoentes máximos são a medula e o sémen. Os quais encerram a chave da
saúde e do poder.
O Gnosticismo divide por isso o homem em três condições diferentes. Uma trídade a que dão
o nome de Physikoi (material), Psichoi (anímica) e Pneumatikoi (espiritual). Há, no entanto

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que dar alguma explicação sobre isto, sobretudo aos que se dizem Ocultistas e ainda a todos
os Espíritas, que confundem aquilo a que chamamos Alma com o que é o Espírito. Este
último princípio é julgado similar ao das Almas Penadas, que deambulam de um lado para o
outro acreditando que ambas as entidades são idênticas. Não. A Alma é o mediador, o
veículo da matéria subtil do corpo fluido, enquanto que o espírito é a parte essencial e divina.
Por isso se diz na Bíblia, que Deus é Espírito e os que o adoram devem fazê-lo em Espírito. A
Bíblia nunca disse que Deus é uma Alma. A Alma tem-se o Espírito existe. O caminho, por
consequência, para se chegar a Deus (Espírito), não é outro senão Cristo (a Alma ou Astral)
Os Pisichikoi são os filósofos, os que pensam, que estudam, mas que ainda prestam culto
inconscientemente à Matéria. Quer dizer, que se colocaram num ponto intermédio entre o
Materialismo e o Espiritualismo. É este, hoje, o grosso da humanidade.
Por último estão os Pneumatikoi, cuja palavra se poderia traduzir por Alento Divino. Os
Gnósticos chamam-lhe os completos, o Perfeitos, os Iniciados; e em algumas outras Escolas,
os Iluminados.
É a razão para que a Igreja Góstica seja uma escola Iniciática e de Mistérios. De Iniciar de
Iluminar de fazer Conhecer, tratam os Mistérios antigos e por isso nós voltamos a tomar o
mesmo caminho para fazer renascer essas arcaicas iniciações.
Continuando na análise sobre a personalidade de Cristo ou Jesus, recordemos aquelas
palavras da Bíblia, em que se diz que não foi “engendrado” nenhum Homem, quer dizer, que
não havendo coito algum, foi concebido por Obra e Graça do Espírito Santo.
Esse tipo de concepção é encontrado em todas as religiões antigas. A Senhora Blavaztky, ao
falar dos Anjos ou Pitris Solares, afirma que não existem por obra de nenhum casamento. No
Livro de Job (Jó), capítulo XIV, diz-se: “O homem nascido da mulher vive pouco tempo e está
sujeito a infinitas misérias”.
Se o Livro Bíblico fala de homens nascidos de mulher, é porque aceita que outros hajam
nascido sem ela. E se os primeiros estão sujeitos e obrigados a misérias, os segundos
deverão estar cheios de gozo, poderes, felicidade e de tudo aquilo que é contrário ao inerente
às baixas qualidades materiais.
Não iremos, por isso, perdermo-nos num maremoto de ideias, de ideias irrealizáveis a
comprovar, se é possível conceber um homem sem parto de mulher ou materializa-lo em
astral até ao ponto de o tornar palpável. O que podemos afirmar é que os Gnósticos, no que
se refere à concepção, tratam de melhorar antes de tudo a raça, procurando dar a todos os
seres, após o nascimento, toda a parte pneumática possível. Por isso no nosso Livro do
Bioritmo damos a chave para conceber filhos inteligentes.
É uma vantagem que a Igreja Gnóstica, uma vez que não se ocupa apenas de teorias e
discussões filosóficas, tomar as coisas pelo seu aspecto real e verdadeiramente prático.
Sendo o seu ponto supremos, a meta, o chegar a evitar a concepção material, já que
segundo as religiões antigas – e o confirma também Flamarion – existe a pluralidade dos
Mundos e outras moradas onde habitar. Cristo disse: “Na casa de meu Pai há muitas
Moradas”. Com efeito existem muitos planetas, outras moradas mais adiantadas que a nossa,
onde existe gozo e felicidade que descendem das penas e dores deste Mundo.
Não tratamos de conceber, não tratamos de motivar a reincarnação das Almas, estas vêem-
se forçadas a procurar outros lugares onde não impere nem seja necessária a Matéria.
É esta, pois, a divisa Gnóstica...

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Não preparamos os homens, aqueles que nos seguem, como fazem os católicos para
ascender a um céu hipotético e inadmissível, mas apenas para que alcancem outros Planetas
e outros Mundos melhores, que já os Iniciados por experiência própria conhecem. É esta
espécie de espiritismo prático, aquele que ensinamos na Iniciação.
Consideremos agora o Septenário Teosófico:
Atma. .Espírito.
Budhi. .Alma espiritual.
Manas. .Mente ou razão Superior.
Kamas. .Desejos ou Paixões.
Prana. .Vida.
Linga Sharira. .Corpo fluído ou astral.
Stula Sharira. .Corpo físico ou de matéria.

Vemos que todos estes princípios não estando separados; estão, no entanto, diferenciados.
Atama, o que existe em tudo, e por isso os Panteístas têm razão quando o afirmam. Budhi,
também se encontra em todas as coisas, tal como Manas ou Mente Superior; no entanto essa
Tríade Divina penetra no seu último expoente, que é Linga Sharira. Prana (vida) anima tudo o
que existe, e por isso o Gnóstico, faz deste Septenário uma Tríade sintética esperando
desenvolver em si próprio o último princípio pneumático o Atmico.
A Bíblia afirma que somos Deuses. Pois bem, esse princípio Deus, esse fogo espiritual é a
Causa Divina que mora dentro de nós a qual devemos realizar ou dar-lhe realidade. O
Mediador ou meio de que nos valemos, é o nosso veículo Astral, a Alma que contém
principalmente Buddhi, Manas e Kamas, sendo o seu último expoente o material de Linga
Sharira.
A alma alenta a acção consciente, o sentir, o querer, em toda a parte dos sentidos. No corpo,
apenas intervêm os princípios inferiores inconscientes. Mas onde pertence o Atma, é
impossível expressa-lo por palavras. Por isso Parsifal, refere-se a isto mesmo e igualmente
manifesta não o poder dizer. Ainda diz, Angelus Silesius: Deus é um Fogo e eu sou a sua
Luz, o seu resplendor que, como num santo casamento, hão-de ficar sempre unidos.
Há que procurar Deus dentro do EU, e o Eu dentro de Deus. É aqui que radica toda a chave.
O mantra que o descreve é IAO. Deus está representado pelo “O”, que tudo encerra, é a
circunferência. O “I”, simboliza o EU. Mas ambos se encontram e se apoiam no “A”, porque
toda a polaridade precisa de ser ponto de contacto ou união.
Este IAO, é o nome de Deus entre os Gnósticos, e é o único que pode expressar essas forças
divinas dentro de nós. É o Adam Kadmon e ao mesmo tempo a Ignis (fogo alma), Aqua (água
substância), Origo (causa origem).
Já aqui dissemos que a Igreja Gnóstica provem dos Mistérios e que estes foram instituídos
por Anjos... daí a afirmação de que temos origem no divino. Estes Mistérios foram revelados
pelos Elohim ou Santos Mestres, de maneira diferente, segundo a raça ou o lugar, sendo no
entanto variáveis na forma mas nunca em substância.
Não podemos revelar os Mistérios. Apenas nos limitamos a dizer algo do que disseram
autores profanos, mesmo que de outras épocas.
Contam que em todos eles, que quando se vivia o problema da Redenção, o auditório que
assistia a estas cerimónias via pirâmides, templos, tumbas, festas de alegria ou de pena,

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nascimentos mortes ou ressurreições, brilhava, em todas elas, uma estreita senda que ia da
obscuridade até à Luz.
Isto existe também na iniciação Maçónica quando o aprendiz vai desde a sala de reflexões e
reconhecimento até à Grande Luz, e na missa católica, com a descrição do nascimento de
Jesus, até à sua morte e ressurreição.
Dentro das mesmas dinastias Angelicais, existem categorias. Existem Anjos de maior ou
menor elevação e potencia, e estes acodem a qualquer cerimónia de índole religiosa que se
efectue com conhecimentos de causa. Assim como se sabe que estas Entidades guardaram
por tempo ilimitado a tumba de Tutan Kamon, até ao ponto de causarem a morte aos sete
arqueólogos que a descobriram, e assim como na missa católica se defende que há Anjos
invisíveis, presentes durante o acto, do mesmo modos os Gnósticos, dispõem de Sagradas
Entidades ainda superiores, porque a nossa cerimónia (A Unção Eucarística) tem maiores
efeitos mágicos.
Os Mistérios foram celebrados, segundo estudos históricos, no México, entre os Maias; pelos
Incas do Peru, assim como em, Bactriana, Babilónia, Assíria, Pérsia, Fenícia, Síria, Índia,
Atica, Trácia Tróia, Roma e Cartago, e ainda noutros lugares como Espanha, França e
Alemanha. Por estes factos, observamos que o mundo inteiro foi testemunha destes Mistérios
e que em todas as partes existem rituais, mesmo que em muitos sentidos, muito tenha
escapado à investigação histórica.
Nos países citados, as cerimónias eram mais ou menos idênticas, embora todas
convergissem no princípio do Eterno Feminino, A Grande Mãe.
Daqui o nascimento de Maria.
Este eterno feminino era na Babilónia, Ischtar. Para os arameus, Astarte. Para os frígios,
Cibeles. Para os sírios, Dea Síria. Para os persas, Anahita. Para os gregos, Rea. Para os
cristãos, Maria.
Temos então no Egipto, oposto a Isis, Osiris masculino. Na Fenícia, oposto a Hércules,
Dagon. Na Grécia, Apolo, a Diana. Em Atica, Plutão, a Persefone. Mas existe entre eles, de
forma muito vincada um culto onde são mencionados claramente o falo e o útero.
É o Ligan-Yoni dos mistérios gregos.
Um dos mistérios mais conhecidos e de maior importância, como dissemos no princípio, são
os de Eleusis e muitos dos Gnósticos modernos o praticam, sobretudo, Von Uxkul, o Grande
Iniciado Báltico, que pudemos conhecer na América durante a guerra e mais tarde na Europa.
Eulisis foi, nos seus Mistérios, a grande preocupação dos sábios de todas as épocas e ainda
hoje as suas ruínas são as testemunhas mudas de que ali havia uma grande Universidade
naqueles tempos remotos.
A história oficial, não sabe o que fazer ou como interpretar o fundador dos Mistérios Eulisinos,
que se chamava Eumolpo, filho de Neptuno e Chione, primeiro sacerdote de Ceres e de
Baco, ainda que outros lhe atribuam a paternidade a Museu. O certo é que no canto de
Homero a Demeter, encontrado numa biblioteca russa e em comparação com outros papiros,
se verifica que tudo girava em volta do acto sexual e que naqueles Mistérios se descrevia
uma façanha fisiológico-cósmica de enorme transcendência. Também nestes Mistérios se
ensinava – e a ciência comprovo-o recentemente – que o nosso organismo é uma réplica do
Grande Cosmos, e que estudados mesmo nos seus mais minuciosos detalhes, a concepção
e a criação pelo acto sexual, vamos encontrar a Criação do Mundo. Para eles a origem e o

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destino do homem não são fantasias ou elucubrações mais ou menos filosóficas, mas tão só
um facto comprovado e conclusivamente real.
Há na história da humanidade, determinadas épocas, em que foi marcadamente influente a
atitude de um homem, que umas vezes foi um simples estadista, noutras um rei ou um
imperador.
Umas destas proeminentes figuras e talvez a de maior relevo, foi Alexandre Magno, rei da
Grécia, aquele que quatrocentos anos antes da era cristã, conquistou a Ásia Menor, Síria,
Pérsia e Egipto, esbatendo as fronteiras entre oriente e ocidente. Os seus herdeiros foram os
romanos, devendo-se-lhes a cultura que tantas vezes exalta Mussolini, o Duce Italiano.
Aos romanos devemos a nossa religião, uma vez que depois de instituído em Roma o
Cristianismo, difundiu-se por toda a Espanha, tendo depois sido a gloriosa Espanha a traze-la
para a América em forma da Catolicismo. Mas antes da chegada de Pedro a Roma, um outro
acontecimento de enorme importância tinha acontecido em 5 de Abril do ano 205 AC, quando
apareceu o culto a Cibeles e logo a Isis, Osiris e Serapis, que chegaram à Cidade Eterna
entre nuvens de incenso. Estas religiões ou cultos, com os seus respectivos Mistérios, foram
aqueles que melhor e maiores conhecimentos deram aos antigos Cristãos. Neles se
concretizou aquilo a que nós, hoje, chamamos Cristianismo, mas ao qual não basta o Novo
Testamento para ser estudado. É preciso ir mais além e remontarmo-nos aos séculos
anteriores.
Defendemos que o Cristianismo, tal como o temos hoje na generalidade, não foi uma
evolução ou avanço, mas apenas um retrocesso. Poderão rotular-nos de ingratos por aquilo
que devemos a esta religião, mas não sabemos até onde teríamos chegado se tivesse sido
instituída entre nós a religião oriental Greco-Romana. Vejamos um exemplo
A religião na América, é devida aos conquistadores espanhóis, que deixaram uns mais ou
menos convictos católicos e uma quantidade de cultura de média importância. No entanto,
nunca saberemos se em vez de terem arribado ao Novo Mundo os espanhóis tivessem sido
os protestantes alemães ou ingleses a fazê-lo. Uma comparação pode ser feita, observando
por exemplo, o avanço dos Estado Unidos relativamente à Bolívia. Mas não queremos agora
expressar aqui a nossa opinião.
Pois bem. Sabemos o que foi a Europa e os seus filósofos, e entre eles, conhecemos Balmes.
Conhecemos os alemães como Kant e Nietzsche. Sabemos de Inglaterra, Burke e Hume.
Todos os dados que se conseguiram sobre estes povos foram-nos transmitidos por
historiadores imparciais. No entanto tudo aquilo que nos chega das suas respectivas
religiões, o que nos contam as contradições inimigas, é sempre contra Lutero, cuja
personalidade, entendemos, deveria ser estudada por protestantes e católicos, para que
fossem observadas as diferenças de critérios e formado um juízo razoável sobre este
reformador religioso.
Tudo aquilo que sabemos hoje cientificamente, acerca dos Mistérios e dos Gnósticos, resulta
de investigações plenas de imparcialidade das Universidades Alemãs, onde teólogos
católicos e protestantes aprofundaram honradamente tais questões. Todos são unânimes em
afirmar que os Gnósticos procuraram sempre com verdadeira justeza a União do Homem com
Deus e que procuraram, em todas as ciências, o caminho para Ele.
Dietrich, o grande teólogo, diz: Que para se chegar ao Religar ou à União com a Divindade,
temos que o fazer por meio destes quatro caminhos. Receber a Deus (a eucaristia). União
Amorosa (magia sexual). Amor Filial (sentir-se filho de Deus) e Morte ou Reencarnação.

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Se observarmos a religiões actuais, vemos que o que prevalece entre os cristãos e o
denominado amor filial ou sentir-se filho de Deus, enquanto entre os indús predomina a morte
e a reencarnação.
Os Gnósticos, por sua vez, são os únicos que empreendem estes quatro caminhos cujas
directrizes estão bem delineadas e explícitas nos antigos Mistérios.
Conhecer e viver estes Mistérios, é a Iniciação, é chegar à sabedoria do SER. (esp. Noscere).
Mário Roso de Luna, escritor profundo de teosofia, ao escrever no livro “Hacia la Gnosis”
(Caminho da Gnosis), diz que a Gnosis é o conhecimento, e junta uma série de artigos sobre
coisas científicas muito importantes, que têm um efeito maravilhoso como, aliás, tudo o que
publica este escritor. Mas há que ter em conta que esses conhecimentos científicos nada têm
a ver com a Gnosis. Por isso, o único que conheceu o Patriarca Basilides, desautoriza-o
apenas com uma simples frase: Não. Gnosis não é isso. É o esotérico, o profundo, o que está
oculto, o que se resguarda como essência Santa de todos os conhecimentos. (Não é nossa
intenção depreciar a ciência, nem é isso que nos propõe Mário Luna no seu livro). É a
Sabedoria de um super-homem como Nietzsche, ou como aquela seiva que parece transpirar
dos ensinamentos da Mestra Blavatsky.
As antigas deusas Demeter e Isis se confundem e intervêm mitologicamente porque ambas
as palavras significam Terra. É, pois a Mãe Terra, como Maria e Maya, ou seja ilusão de
matéria, cujos princípios sinteticamente, querem dizer o mesmo.
Nos Mistérios de Eulisis, volta a surgir a ideia santa da maternidade, da Mulher Mãe.
Por isso diz Renan, que se o cristianismos no princípio tivesse sucumbido, teriam triunfado,
indubitavelmente, Demeter e Isis e como divindade paterna, Mitras. Consequentemente,
teríamos tido em vez de cristãos mitraístas; muito embora aqueles tivessem herdado muitos
rituais e festas, destes. O culto de Mitras, com todos os seus conhecimentos profundos,
manteve-se na Alemanha e em Espanha, e chegaram aos nossos dias através de sociedades
iniciáticas e secretas.
Existe um princípio hermético que diz: O que está em cima é como o que esta em baixo.
Se as Crónicas sagradas falam de doze Elohim ou Anjos caídos, que se encarregaram de
dirigir os diferentes Mundos e foram postos nas diferentes Esferas ou Regiões, a começar por
Atma ou Deus, naturalmente impessoal, é lógico que deva existir o oposto da mesma
manifestação.
Assim o ensinam os Gnósticos.
Há que ter em conta que a polaridade exige a existência de dois pontos em oposição, Isto é,
opõem-se ao Sol a escuridão; ao Reino da Luz, em reino de Trevas; logo, frente a Deus,
como consequência, um princípio igualmente impessoal como força do mal. Se alguns desses
Anjos se separaram do seu núcleo para subir, outros fizeram o contrário para descer. Uns
desviaram-se de Deus, enquanto outros fizeram o mesmo do Diabo. Conta-se que os doze
Anjos que ficaram com Lúcifer, eram de características masculinas, enquanto os que se
desuniram tinham características femininas. Ambos na sua genuína tendência, teriam que se
encontrar e ao tocarem-se, em masculino e feminino, tiveram que unir-se mediante os sexos.
A Mulher, porque queria ao subir, tornar a parte masculina activa, pois sem ela não é possível
a sua ascensão. Ao mesmo tempo, o princípio masculino, procurou a mais apropriada
descida, encontrando nela e no acto sexual, a forma de continuar sem interrupção a sua rota.
Aqui está, pois, o Mistério do Paraíso.

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A mulher, o eterno feminino, chega no momento adequado para deter a marcha do Ser
masculino obrigando-o a retroceder. Mas uma vez unidos, juntos, numa androginia perfeita,
podem chegar mesmo a Deus, ao qual a mulher haverá de chegar abraçada ao homem pela
primeira vez... Aqui se vê que a Redenção, reside exclusivamente no acto sexual...
Os Gnósticos têm por base estes caminhos. O eterno feminino, que tenda em encontrar em
cima, e o eterno masculino, que caminha no sentido descendente, para se encontrar a meio
do caminho, no reino do meio, a fim de conseguir ai a redenção. Por isso nos asseguram que
de todos os tempos, o Mistério do Sexo, tinha na sua raiz a salvação da espécie humana.
Mas basta de falar de Deus e do Diabo como entidades pessoais, apenas porque isso os
torna mais fáceis de entender pela nossa compreensão de seres humanos ainda
necessitados da objectividade das coisas. No entanto esses dois princípios são uma espécie
de estados, regiões, esferas ou reinos. A Deus imaginamo-lo objectivamente à nossa
semelhança, como um ser terreno. Mas é preciso e necessário imaginar um supra-Deus,
como fizeram os Gnósticos, a quem dão o nome de IAO, a encarnação suprema do Logos.
Diodoro diz num dos seus versos: Sabei, que entre os Deuses, o mais elevado é IAO. Aides é
o Inverno. Zeus, principia na Primavera. Hellios no Verão. E no Outono volta à actividade IAO,
que trabalha constantemente. IAO, é Jovis-Pater. É Júpiter, a quem chamam os judeus sem
direito Jahave. IAO oferece o substancioso Vinho da Vida, enquanto Júpiter é escravo do Sol.
Estudos recentes confirmaram, que o deus Jahave ou Javeh dos judeus, é na realidade um
demónio perverso que foi intencionalmente confundido por eles com Jheová, ainda que nada
tenham a ver um com o outro. Jheová, não é mais que as vogais do mantra: I.E.O.U.A,
enquanto Jhavé é o nome do demónio que lutou com Jesus na montanha e continua lutando
com ele pelo governo do nosso mundo.
Também na escala Gnóstica, existem regiões ou estados diversos, em cuja metade
ascendente estava o lugar onde chegaram as Monadas ao seu território de redenção dando-
se este lugar o nome de reino do meio. De Deus ou do Espírito, compunha-se outro reino
chamado Pleroma ou reino da plenitude. Na parte inferior, existia o reino do Demiurgo ou
Diabo que foi também o criador do Mundo, junto e naturalmente, como os Anjos bons.
O Mundo manifestado fez-se quando o Bem e o Mal se uniram, quando Deus e o Diabo ou, o
melhor de Deus e o melhor do Diabo se fundiram como Arquitectos, pois no princípio e antes
de tudo ter acontecido, tanto o Bem como o Mal, absolutos, não se manifestavam porque não
tinham tomado forma.
Falam também os Gnósticos de um Sémen de Luz, que se produziu quando aconteceu pela
primeira vez esta fusão, cujo sémen de luz enche indubitavelmente todo o espaço... a este
espaço chamam hebdoma; a Luz Astral.
No entanto, nos princípios, só existia o Bem absoluto...
Mas há que ter em conta que Deus (O Bem Absoluto) é eterno, enquanto o Diabo (o seu pólo
oposto) não é. Este foi formado pelo Demiurgo, por todas as paixões que desceram para
tomar a carne, para preparar aí o caminho da Ascensão. A esta manifestação de paixões
chamam Jaldabaoth. Sendo a nossa Terra regida por Javeh e Cristo em luta constante. Javeh
é o génio do mal, o demónio, e recomendamos que se estude a Bíblia neste aspecto, onde se
pode ver o papel nefasto do génio do mal descrito no Antigo Testamento.
Um dos Anjos que tomou a figura humana foi Jesus. O que recebeu a missão de pregar e
deixar antever os Sagrados Mistérios do Eu e a sua substancia divina.

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Jaldabaoth tinha seis filhos e um deles era Adeneus ou Adonai.
As potências ou forças destes Anjos manifestam-se mediante as constelações e conservam
dois pólos, duas oitavas, uma alta e outra baixa. A alta pertencente a Deus e é boa, e a baixa
é sinistra e inerente ao Diabo. É ao homem que compete agarrar-se à primeira, rechaçando
de forma denodada e empenhada a segunda.
Em vários escritos da Bíblia, fala-se destes pólos, oitavas ou caminhos. Em Jeremias, por
exemplo, capítulo 21, versículo 8, diz-se: É aqui o que eu ponho diante de vós, dois
caminhos, o da Vida e o da Morte. O homem pode continuar caindo afundando-se na culpa se
é seu arbítrio, mas pode aproveitar a mulher androginamente, como santo complemento, para
ascender, para regressar, para ser redimido...
Sem dúvida, o homem necessita de alento, um poderoso empurrão que o faça reanimar e lhe
dê a vontade – dinamismo, necessárias para que se deixe das velhas paixões arreigadas e
poder ascender às alturas do Pleroma. Precisa de um influxo, de uma comoção actuante que
o ajude a chegar. Estas estão radicadas nos Mantras Sagrados que põem em acção as
forças solares, as energias cósmicas, e fazem acontecer o Crestos em nós.
E agora que nomeámos o Crestos, retrocedamos, apara completar esta teoria, a algo que
expusemos no nosso discurso Rosa Cruz.
Matéria, energia e consciência. Eis aqui um trio indissolúvel, uma poderosa Chave para a
resolução de todos os problemas da física moderna… Sem esta base, nada teria solução
uma vez que cada uma das parte não consegue ter existência separadamente.
Quando as escolas Orientais se referem à matéria como coisa isolada, afirmam que ela não
existe, por tratar-se de uma ilusão dos nossos sentidos, a que chamam Maya, e tornam isto
como uma questão de fé, sustentam um dos maiores absurdos.
Os Gnósticos e os Rosa Cruz, embora sendo extremamente espiritualistas, podem ser
chamados de materialistas se atentarem à nossa própria concepção de que nada pode existir,
nem algum Deus, sem auxílio da Matéria... Tudo aquilo que fazemos, é estuda-la
minuciosamente até no seu estado mais psíquico, reconhecendo que nada espiritual tem
concretização por ser uma prolongada linha da Matéria, e que nada de material pode ser
realidade por ser uma extensão do Espírito. Eis, pois, um momento intermédio em que
Matéria e Espírito se encontram e formam então a Cruz.
A Alemanha está na vanguarda dos países que estudam a desintegração da Matéria. O
Instituto Nacional de física de Berlim, em união com o Laboratório de Transformações da
grande companhia AEG, fizeram experiências numa montanha Suiça, conseguindo dar o
primeiro passo assinalado por Gustavo Le Bon, e em muito breve as forças infra atómicas
serão aproveitadas muito brevemente. Veremos então como a energia contida num grão de
matéria, que equivale à desenvolvida por três mil toneladas de carvão aproximadamente, e é
capaz de mover um comboio de mercadorias à velocidade de 36 k/hora, numa distância, igual
a quatro vezes quatro a circunferência terrestre. Isto é, 17.000 quilómetros.
Na representação gráfica do equilíbrio artificial, imposta a elementos procedentes da matéria
desintegrada, observa-se sempre e sem excepção, o desenho de uma cruz.
Um grande físico que assistia connosco a estas investigações, exclamou espontaneamente:
maldita cruz. Mas nós respondemos: Bendita Cruz.
William Crooks, foi o primeiro que por meio dos seus estudos científicos, pode descerrar o
véu dando-nos a conhecer a sua matéria radiante na qual se pode antever o quarto estado.

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Com ele, chegou a pôr sobre o Tau a cabeça principal convertendo-se assim numa cruz
perfeita.
Mas tenhamos em conta que todo o radiante provém do Sol. O Sol é o grande criador de vida
e a ele devem existência muitos outros planetas, para além do nosso.
Sabemos igualmente hoje, que a Luz é igualmente uma substância, que é matéria e que é ela
quem constantemente se transforma em terra e se converte em tudo o que vimos, sentimos e
somos. Porque, com efeito, somos Sol transformado por causa da energia do Logos Solar,
que é o que faz e desfaz, constrói e faz mudar tudo o que existe.
O Sol, por sua vez, depende de outro Sol Central.
Ele por si mesmo, não é mais que um mediador que nos cria, nos faz evoluir constantemente
e nos redime pela acção imperativa do Crestos Solar.
Este Crestos, não é Maya, não é ilusão, nem sequer um símbolo. É algo de prático, real e
evidente e tal como o Logos, tem a sua ressonância, o seu ritmo e o seu tom. Platão disse,
que o Logos soa, e afirmou que o Sol tem o seu ritmo. Deste modo, o Crestos Cósmico, tem
positividade efectiva e é uma substância, uma força, uma consciência actuante. A Matéria é,
por essa acção, Luz materializada.
Já nos Genesis se encontra, em primeiro lugar, o Fiat Lux, e logo, como consequência do
espargir deste sémen luminoso, toda a matéria se concretizou.
Daqui a origem do culto Solar, tanto no México como no Egipto, ter a sua razão de ser.
Vamos agora nós recordar a sua actividades sob o ponto de vista espiritual. Já sabemos que
aqueles povos, mais atrasados tecnicamente do que nós, não puderam, no conceito vulgar,
chegar a mais do que o conhecido, mas todos os Iniciados nos Mistérios, da época,
conheciam todos os avanços científicos que hoje conseguimos e nem sequer ignoravam os
processos que haviam de tomar estes assuntos no futuro.
A Luz transforma-se e chega a estados subtilíssimos de espiritualidade. É por isso que
aceitamos que nos chamem ou designem por materialistas. A luz, neste caso e com esta
transformação, é aquilo a que chamamos Luz no sentido intelectual, ético e psíquico.
Os Gnósticos aprendem a manejar esse Crestos, essa força Luz, esse mediador,
transformador e redentor e nele realizamos todos os nossos actos de Magia Branca, como a
que acontece com a Unção Eucarística.
A ciência oficial, com a holoterapia, usa os banhos de sol ou luz. Não queremos com isto
dizer que eles devem ser sempre prescritos. Achamos que até pode ser conveniente, ao
nosso estado físico, qualquer energia radioactiva como intuito de nos conservar as forças.
Afirmamos, no entanto, que este uso de energias é apenas e só um aspecto material e
grosseiro do emprego de energias solares. Nós conseguimos concentrar esse Sol utilizando-o
na sua forma astral. Na transformação dessa substância Luz, está todo o Mistério da
Eucaristia. Os milagres que realizou o Rabi da Galileia (O Logos Solar), a quando da sua
passagem pela terra, não foram mais que adequadas aplicações dessa substancia Luz do
Sol, utilizada no seu estado mais psíquico.
Pitágoras, antes de Goeth, falou-nos do som dos raios solares. Ambos com razão. Assim
como uma palavra ao soar fere com a sua vibração material os ouvidos físicos, o som da
palavra solar, o substrato, escuta-se com os sentidos astrais. O caminho a seguir para unir
ambas as coisas, está na aprendizagem da vocalização ou, como antes dissemos, na
pronunciação dos mantras sagrados. Certamente, o estudante, antes de começar, deve

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dominar integralmente aquilo que dizemos no nosso livro, “Logos, Mantras, Magia”, sobre
estes exercícios e sobre a linguagem da Luz.
Acreditamos que sem dúvida, com aquilo que dissemos e se souber ler e interpretar, se
chega à Iniciação, isto é, a Ascensão.
Este Livro da Igreja Gnóstica, está destinado a abrir a ultima porta e a descobrir, para aqueles
que o estudaram, o ultimo véu. Apenas lhe temos que juntar algumas breves explicações
para que a Luz de faça e se estabeleça a virtude.
Virtude é uma palavra que tal como moral, tem um vulgar e absurdo significado. A palavra
virtude, na acepção de poder, deriva de vir, homem. Significa uma qualidade de poder
substancial, de poder superior e espiritual que cresce e se há-de manifestar no próprio
homem.
A virtude, no ponto de vista médico, segundo Paracelso, é a quarta coluna do templo da
medicina, não pode ser uma ficção. É algo de real, eficaz, positivo que só pode ter razão de
existir potencialmente no Iniciado. De aqui que tanto o verdadeiro médico como o verdadeiro
sacerdote tenham que ser ungidos por Deus.
Continua, Paraselso, dizendo a este respeito: Aquele que pode curar enfermidades é Médico.
Nem os Imperadores, nem os Papas, nem as Academias, podem criar médicos. Poderão
conferir privilégios e autorizar a matar impunemente, mas não poderão outorgar o Poder de
Curar. Ninguém poderá ser um verdadeiro Médico se antes não tiver sido já ordenado por
Deus, pois só ELE dá a Sabedoria Médica e não a que se encontra nos livros. (Paragranum).
Para nós, não é médico verdadeiramente, aquele que não conhece a posição que ocupa o
homem na sua relação com a natureza, porque este é o único meio de poder tratar o seu
corpo com conhecimento de causa dentro das leis que tudo regem.
Por isso os antigos Gnósticos procurarão sempre no Cosmos, os diversos fenómenos para
irem comprovando eficazmente todas as suas ideias.
Por exemplo, no eterno ciclo da transformação da água em nuvens e no seu retorno em
forma de chuva, viram uma metamorfose. Sobretudo quando na transformação nas nuvens,
que de cirros passam a cúmulos, estratos e nimbos, transformando-se constantemente umas
nas outras. Essa transmutação observa-se igualmente nas plantas quando se retraem e se
dilatam progressivamente.
A semente dilata-se em raiz, volta a reduzir-se em caule, o caule abre-se em ramos em
folhas, volta a recolher-se em botão, o botão alarga-se em flor, por último a flor, ao desdobrar-
se em semente, cai à terra recomeçando todo o ciclo.
Esta é a vida, que está sempre acoberta e encoberta pela Morte, porque sem morte não há
vida possível.
A semente está revestida por uma casca dura, impassível, morta, onde num ponto se
esconde, um princípio, um átomo, onde residem todas as possibilidades germinativas de uma
futura árvore. Ao contrário nas folhas, posadas no exterior, alenta a morte que vela pela vida,
umas vez que quando murchas, caídas no solo, se decompõem servindo de adubo ao novo
gérmen que haverá de brotar. É por isso que se diz que a natureza não tem piedade ao
consentir que milhões de sementes morram para dar vida a uma só, mas é assim e assim tem
que ser.
A criação do Mundo foi igual. O próprio homem trás a mesma evolução, porque tudo está
sujeito à mesma Lei e sempre é forçoso que se repita seguindo o mesmo caminho.

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As religiões conhecidas ocupam-se principalmente dos bens espirituais e de confortar as
almas, isto é, de medicá-las espiritualmente, preparando-as para que alcancem uma fé e uma
potencialidade que são os factores que as hão-de levar ao hipotético céu que todas elas
pintam.
Para medicar uma alma há que conhecê-la. É necessário ter um absoluto domínio da
psicanálise e poder penetrar no mais obscuro recanto moral e procurar mesmo nos seus mais
recônditos, pois há enfermidades anímicas que marcam o corpo físico, como há doenças
físicas, que transtornam totalmente a nossa parte anímica. Há que estar a par de tudo aquilo
que se pode caracterizar por influências orgânicas, tanto para um lado como para outro, cujas
causas radicam no astral na natureza, em contactos venenosos, no espiritual e até em certos
arcanos, que não é agora o momento de explicar.
Suponhamos, por exemplo, que uma relação sexual ilícita haja ocasionado doenças venéreas
em determinada pessoa. É natural que sendo tratado cuidadosamente a enfermidade ceda –
como sucede – e assim, a pessoa afectada, se cure sem outras consequências. Mas
suponhamos que depois de conseguida a cura física, a pessoa continua afectada, triste,
acabrunhada, sem saber a que atribuir a mau estar, ou que então se torna depravada,
soberba, agressiva. No primeiro caso receitavam-se alguns reconstituintes, enquanto no
segundo se procuraria acalmar os nervos descontrolados.
Mas não. Não há-de sentir alívio. Mesmo que seja contraproducente. O que há que ter em
conta é que essa relação ilícita com a mulher descarada, não pode senão trazer doenças
desconhecidas, uma vez que nesse acto se efectua, até certo ponto, a união das naturezas
interiores de ambos, que podem levar um homem que coabita como uma mulher assim, a
extrair alguma das suas características e a juntar, ainda que apenas numa pequena parte, o
karma e o destino dela, a si mesmo. Uma união material, uma vez mantida, permanece para
sempre e chega à eternidade.
Desprezam também as religiões, pelo menos na aparência, as riquezas materiais. A verdade
é que isto apenas são palavras, uma vez que na prática observamos o caso dos Jesuítas,
que representam a Companhia de Valores mais forte do mundo e muitos dos seus
sacerdotes, aceitam dádivas materiais dos seus paroquianos em troca de bem-estar lá no
céu.
A Igreja Gnóstica, apenas cuida, aconselha e orienta sobre os bens espirituais que cada um
há-de conseguir por si próprio, dando apenas grande importância ao bem-estar dos seus
seguidores apenas com o intuito de lhes proporcionar tranquilidade e sossego moral para os
seus fins ulteriores. Porque o dinheiro não tem qualquer valor se não tivermos uma boa
saúde, no interesse principalmente da nossa parte física para que possamos manter o corpo
forte e jovem conseguindo assim a longevidade se isso for necessário. Tal é o conhecimento,
que se guarda dos seus Arcanos, sobre Medicina Oculta, desconhecido na ciência oficial e
que sempre foi património dos antigos médicos gnósticos. Não significa isto que estejamos
obrigados a viver cem anos ou mais se for preciso. Existem muitos motivos para deixar este
planeta, sem que isso seja uma contradição das ideias expostas.
Nas nossas obras anteriores, destacámos sempre o valor das glândulas endócrinas e das
hormonas, bem como das sua secreções, dando-lhes o valor que realmente devem ter, pois
se hormona é uma deriva do grego hormano, Eu Ânino; podemos dizer que estas secreções
são substâncias animadoras.
Uma das substâncias mais conhecidas das hormonas é a insulina que é segregada por umas
glândulas localizadas nos intestinos, e a adrenalina que é produzida pelas glândulas supra-

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renais e curioso o labor destas hormonas quando se ajudam mutuamente. Assim, quando
falta açúcar no sangue a insulina ajuda a aumentá-la. A ciência provou que as vitaminas
ajudam o trabalho endocrinal.
A mais importante das glândulas endócrinas é a sexual, e é notável que esta importância
fosse já conhecida nos Antigos Mistérios que nos deixaram, como herança, grandes segredos
sobre as suas surpreendentes possibilidades.
A base da vida está realmente nas secreções dessas glândulas e são elas, quando usadas
como nós os Gnósticos o fazemos, que influenciam de maneira especial tanto o nosso viver
físico como o nosso progresso espiritual. É verdade que no nosso ambiente, a civilização
actual oferece-nos duas possibilidades de as gastar: consumindo a vida nas voluptuosidades
do amor, ou guardar abstinência, como a que se obriga aos sacerdotes católicos, obtendo a
sua degeneração ou atrofia mais absoluta.
A verdade é que a natureza incita a não guardar esse tipo de abstinência nefasta e nós
sabemos que se houver um, em cem mil padres, que a cumpra escrupulosamente, já será
muito. A Igreja Gnóstica, ao contrário, conhece o segredo da transmutação dessas forças
sexuais em vida, vigor, em potencialidade intelectual e todo o sacerdote que quiser cumprir
fielmente essa obrigação deverá aderir à nossa causa.
Nós damos cursos práticos para aprender a lidar com essas forças.
Conseguindo a transmutação das forças sexuais, conseguimos evitar uma série de doenças
cerebrais e a manutenção de um aspecto de acentuada juventude e o prolongamento da vida
de um indivíduo, porque acreditamos que uma vez que o homem encarnou neste planeta,
deve aproveitar bem o tempo, prolongando a sua existência, para que as suas encarnações
vindouras possam ser noutros Mundos.
Para tudo isso é necessário um culto, pois só nesse ambiente, dispomos das condições de
receptividade para nos ligarmos a forças superiores. Reside aqui a razão porque os espíritas
devem abraçar o culto Gnóstico, pois os Gnósticos foram em todas as idades espiritistas
práticos.
Para finalizar: A saúde é a base de tudo. Estai seguros de que ele se encontra nas mãos dos
nosso sacerdotes médicos.
Continuando o nosso tema principal, prosseguimos trazendo dados comprovativos da ciência
em relação à Gnósis da nossa Igreja.
Steinach e Voronoff com os seus enxertos orgânicos e ováricos a fim de alcançar o
rejuvenescimento, chamaram a atenção do mundo e não foram poucas as pessoas que se
deixaram operar injectando-se nas glândulas genitais. Voronoff chegou a provar com muitas
experiências, que as hormonas das glândulas endócrinas influíam sobre o corpo humano e
muito principalmente sobre a mente e a psique das pessoas. Brown Sequard, foi o primeiro
que levou à prática estas experiências.
O seu princípio fundamental suporta-se, em quanto mais sangue, mais vida e como as
glândulas de secreção interna são as que regulam o aumento de sangue, o caminho seria
muito directo se duma forma definitiva se pudesse actuar, mediante injecção, sobre essas
mesmas glândulas. Mas não se pode esquecer que a base de tudo é a substancia solar e
aqueles que a sabem manejar porque a conhecem. São os únicos capazes, em consciência
de fazer rejuvenescer, dar vida e oferecer saúde.
As hormonas têm também a sua base química.

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Quando Brown Sequard injectou pela primeira vez testiculina, apenas obteve resultado
transitórios apenas porque essas glândulas ainda continham em si alguma vida. Mas quando
esta acabou esgotaram-se toda a acção e propulsão.
É necessário, indubitavelmente, de forma a ter-se um resultado positivo, preparar com
antecedência e de maneira original o receptáculo.
Vejamos pois. Se transferirmos secreções masculinas (hormonas) a uma mulher, esta muda
certamente de voz, nascem-lhe pelos na cara e perde o contorno curvilíneo das ancas. Numa
palavra, masculiniza-se. Outra coisa acontece ao homem se lhe injectamos secreções
femininas. Pode chegar a obter movimentos efeminados, ganha curvas na cintura e chega
mesmo a deitar leite das mamas. Feminiza-se.
Existe uma prova muito curiosa que se pode pôr em prática mas demonstrar a acção de
certas hormonas e ilustrar a relação existente entre o reino animal e o vegetal. É a seguinte...
Faz-se uma solução infinitesimal de vitelo e licor dos folículos Graaf* mergulhando juntamente
com ela os tubérculos de plantas estéreis, ou seja, daquelas que não podem florescer sem
esse contacto entre espécies que designamos por pantogamia . Mas se fizermos um controlo
com outras plantas às quais não se aplicou o mencionado banho, certamente ficarão sem
flores. Após isso, verificamos que essas plantas se desenvolvem com a maior prontidão. Mas
se fizermos um controlo sobre as outras plantas, onde não se aplicou o mencionado banho,
verificamos que ficam sem flores.
Este poder germinativo é recebido nas glândulas pela acção do Sol, e a ciência oficial
resolverá com ela muitos problemas que até hoje se mantêm enigmáticos.
A marca da substância cristónica no nosso sangue, como a sentimos os Rosa Cruz, tal como
o descrevemos no nosso livro “Plantas Sagradas”, é o que nos dá a chave da pré-história dos
povos e permite formar grupos de sangue, como os idealizados por Wirth*, oferecendo-nos a
resolução de todos os enigmas da natureza. É a chave de todos os cultos e nos remete à
primitiva linguagem da Luz, como explicamos no nosso livro “Logos Mantra Agia”.
Todas estas experiências demonstram, com era sabido nos Antigos Mistérios, e o
conhecemos hoje através da Igreja Gnóstica, têm uma base real e positiva. No entanto, aquilo
que foi feito pelos citados investigadores não foi mais do que materializar esses
conhecimentos. Nós, ao contrário, manejando adequadamente a respiração rítmica, ou
melhor biorrítmica, conjuntamente com os outros meios que damos a conhecer, prolongamos
a vida e curamos mais doenças que o médico. Todos os milagres do Nazareno foram assim
feitos, perante o assombro inaudito da ignorância da sua época. Com toda a franqueza isso,
pode ser repetido, hoje mesmo, pelos nossos Sacerdotes Gnósticos.
Estes milagres não são conseguidos com fórmulas mortas, mas sim com o ânimo daqueles
que sofrem e padecem. Por isso a importância do culto é tão importante. Antigamente – como
hoje acontece nas igrejas de ciência cristã – reuniam-se os enfermos para receber esse
benefício no momento adequado da cerimónia religiosa, de onde saíam curados. Muitas
vezes bastava que o sacerdote impusesse as mãos na cabeça do doente, como fazia Jesus,
para obter um resultado prático e maravilhoso.
E perguntareis, porque a Igreja Gnóstica dá mais importância a Jesus da Galileia que a
qualquer outro fundador de religião. Pois bem: porque entre os demais existe uma grande
diferença que foi a Ressurreição. Nem Lao-Tse, nem Confuncio, nem Buda, nem Mahome
ressuscitaram. Quando ocorreu a sua morte terminaram para o nosso mundo visível. Só o
corpo astral do Nazareno regressou e se perpetuou com todas as forças. O processo

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iniciático, consequentemente, ficou completo. Eis a razão porque se torna tão interessante o
processo de imitação de Jesus. A substância de Jesus, do Logos Solar, propagou-se pelo
mundo, transformou o ambiente perpetuando-se até aos nossos dias como essência solar,
que oferecemos na nossa Unção Eucarística.
A Eucaristia não é um simples recordar, nem pode ser tomada à letra como fazem os
católicos, quando asseguram que pronuncia a fórmula “Hoc est enim corpus meu” seguida de
“Hic est enim calix sanguinis mei”, imediatamente o pão se converte em carne e o vinho em
sangue. Nem como os protestantes, que afirmam que a cena não é mais do que uma
recordação imperecível do ágape do Senhor. A Igreja Gnóstica encontra o meio-termo. O
verdadeiro Sacerdote, ao pronunciar as nossas sagradas fórmulas pode se quiser, despertar
a Força Solar dentro do pão, para que tenha vida, como pode curar, se o desejar, o corpo e a
alma de todos os seus semelhantes.
O sábio Herrera tinha-nos verdadeiramente suspensos com a sua plasmogenia, desde que se
puderam observar as suas primeiras experiências... Com elas pretendia demonstrar a
falsidade das teorias vitalistas, ao mesmo tempo que intentava converter-nos em devotos das
suas, submergindo-nos num ambiente puramente mecânico.
Temos que confessar que o resultado se processou no sentido oposto. Quanto mais se via
mais se observava. Mais se acentuava que o nosso caminho está mais perto da Verdade
Por isso não foi preciso estudar Driesch, para acabarmos por aceitar convictamente a ideia,
de que o gérmen de toda a espécie alberga uma força imaterial (entelequia). Não obstante, e
apesar do zoólogos a terem querido combater este célebre autor, nós sustentamos que a
vitalidade, que tem a sua primordial expressão no Logos espermático, é o único que nos dá a
Chave para a resolução doa enigmas do Universo, uma vez que, para nós o modo de
desenvolvimento do óvulo e os seus fundamentos biológicos, não são nem nunca foram um
mistério... Por isso continuamos a afirmar que os Gnósticos foram os únicos que conseguiram
desvendar a natureza tornando-a acessível aos humanos.
O Credo romano que foi tirado igualmente dos Mistérios, contem as seguintes palavras, que
destacamos: Creio em...ou, todo o visível e invisível...em Jesus Cristo... que nasceu do Pai
antes de todos os séculos. Deus de Deus, Luz de Luz.. por quem foram feitas todas as
coisas.
Este princípio imaterial – mesmo não sendo no final exacto – é o Éter Químico cuja base é a
substancia de Cristo. A diferença entre o catolicismo e a Igreja Gnóstica, baseia-se no facto
de que para nós, Cristo, é uma substância que operou na terra um fenómeno cosmo-
biológico, enquanto os católicos apenas dão importância ao feito histórico- material,
desconhecendo o verdadeiro Mistério da substância Cristíca.
A nossa Igreja tem apenas três únicos sacramentos: O Baptismo, a Eucaristia e a Extrema-
Unção, cujo ritual tem um mágico e eficaz poder. Conservamos também a confissão; mas não
à maneira dos católicos. A nossa é uma espécie de solicitação de conselhos e instruções que
se fazem ao Sacerdote, uma vez que este, como conhecedor da parte oculta, pode dar e
oferecer normas em cada caso concreto. Não aceita pecados nem erros, porque achamos
absurdo fazer os outros acreditar, que os seus pecados serão perdoados, quando ninguém
pode arrogar-se esse poder nem prestar sequer a mais pequena ajuda nos problemas que
são apenas responsabilidade da personalidade de cada um. No entanto o erro pode-se
corrigir e remediar com o conselho do sacerdote Gnóstico porque junta ao seu Mistério o
facto de ser Médico por excelência, que através da psicanálise, lhe é dado conseguir
transmutar os erros e convertê-los em santas e puras Verdades

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Para tal é necessário estar-se com boa disposição e em condições de receber forças divinas,
uma vez que essa atitude apenas se consegue pondo-nos em contacto com a Santa
Eucaristia. Um Sacerdote, por não ser infalível na sua vida vulgar, poderá enganar-se nas
apreciações ou opiniões; mas ao actuar com este Sagrado Sacramento, as forças todas se
reúnem nele e então, representa o Alti Iniciado, o Ungido; o Deus Mesmo e faz espargir sobre
os outros o que recebe. É neste momento supremo que se devem acercar do altar todos os
enfermos e aflitos. De lá sairão certamente curados.
Todos os altos Iniciados, aos quais nós chamamos Santos Padres da Santa Igreja Gnóstica,
estão em conformidade com esta doutrina e a demonstram em obras transcendentais que
raramente hoje se encontram nas bibliotecas. A Igreja Católica na sua luta para conseguir a
sua propagação no mundo, fez tudo o que pode para apagar todos os vestígios dos
Gnósticos, cujas consequências eram demasiado claras e abertas, e demasiado amplo o
sustentáculo da Verdade. Mas apesar de imediatamente correram rios de sangue, para a
imposição do cristianismo na sua forma católica, valeram-se ainda, nos primeiros séculos,
dos meios diplomáticos para queimar livros, falsificar outros, sonegando os de maior
importância Iniciática que hoje se encontram escondidos no Vaticano. Muito, naturalmente,
está expresso em metáforas, em símbolos que os católicos não se deram ao trabalho de
decifrar. No entanto nós agora somos forçados a fazê-lo ainda que lamentavelmente com
dezoito séculos de atraso.
Vamos no fim consegui-lo com Epifania.
Epifania é uma palavra, de origem grega, que mesmo sendo uma ocupação e preocupação
constantes dos teólogos, não foi possível alcançar, resultante delas, uma justa e acertado
explicação.
No entanto, nós podemos dizer aquilo que entendemos por Epifania, a Revelação, a
Ascensão ou a Manifestação de Cristo em nós.
Fica pois a palavra definitiva. Havendo no entanto que meditar nela num sentido
verdadeiramente prático, quando nos lembramos de pensar em quantos dos nossos leitores
já se terão perguntado como se manifesta Cristo em nós.
É este o segredo da Unção Eucarística na Igreja Gnóstica.
Vejamos como.
Os Rosa Cruz alquimistas, afirmavam que os quatros elementos; Terra, Água, Ar e Fogo,
davam a resolução de todos os problemas mediante uma quinta-essência subtil e impalpável,
que alenta perenemente cada uma delas.
O Elemento Terra, para os Rosa Cruz era tudo o que era sólido, e davam-lhe o nome de SAL.
Água era todo o líquido, inclusive o vapor a que chamam MERCÚRIO. E Fogo tudo o que não
se podia analisar, a que designavam com o nome de SULFUR ENXOFRE.
Paracelso, no seu livro Paramirum, Lib I, Cap VI, diz: A anatomia do homem é dual. Sob um
aspecto consiste em dissecar o corpo a fim de descobrir os ossos, músculos, veias, etc.; mas
não é isto que nos interessa. O outro aspecto é o mais importante e consiste em introduzir
uma vida nova no organismo, ver as transmutações que se efectuam no ser, saber o que é o
sangue e que espécie de Sal, Mercúrio e Enxofre contem.
Razão porque estes três princípios que compõem o mundo e cujos estados dentro do
Universo eram chamados pelos antigos de as Três Substancias.
A Terra é igualmente, os cristais que formam a água gelada como no cúmulo de neve.

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Se tomamos como exemplo, a água que contem ferro, ainda que não seja possível ver esse
metal; basta que o ponhamos em contacto com um reagente, por exemplo o oxigénio, para
que solidifique. No entanto se aquecermos esta mesma água, ela vai-se transformar em
vapor e então, o ferro nele contido, vai transformar-se em gás que arde perante o fogo. Aqui
temos então o ferro, a passar pelo estado sólido, vapor gasoso e fogo radiante.
Por este mesmo processo podem passar todas as coisas. Tudo se pode converter em sólido,
líquido e gasoso mediante esse impulso interno, da quinta-essência, de que falamos atrás.
Mas este é um exemplo primário. A Natureza mesma por impulso próprio exerce estas
funções de maneira ainda mais bela.
A Terra, recolhe a semente de uma planta, abriga-a, comprime-a e fá-la estalar e despregar-
se, produzindo raiz, caule, folhas e a flor. Cada flor que nasce é um altar que a Natureza
oferece à Divindade
Uma constante corrente é o que faz surgir e empurrar os sais da Terra em direcção
ascendente; mas outro impulso de igual natureza toma o influxo do Sol e fundindo-se nele,
leva-o para baixo. Esta submersão do Sol vital, é aquilo que chamamos quinta-essência,
porque ela é o Cristo. Cristo é e Luz do Mundo, a influência energética que tudo anima, é o
Logos Solar que em tudo opera e sem o qual nada teria existência. Suponhamos por um só
momento que Cristo nos abandonava, isto é, que o Sol vital se extinguia. Todo quanto existe
sobre a grande e mole Terra se desmoronaria; o enlace atómico rompia-se e seria o Caos.
Por isso Cristo disse: Antes de Abraão fui eu. E indubitável o significado contido nesta frase,
uma vez que Cristo está com o Mundo desde a sua criação, como Logos Solar, para que se
manifestasse a Vida.
Por isso os Gnósticos estabelecem uma diferença sensível entre Buda, Zoroastro; Confuncio,
Mahomé, etc. e Cristo. Os primeiros foram, certamente grandes filósofos e grandes Iniciados
encarregues de pregar a sua religião e a quem lhes foi dada a santa incumbência de a pregar
e instalar segundo a região do Mundo e a sua época. No entanto Cristo tem uma
personalidade diferente. É Deus, é o Logos Solar ou a Essência Solar, é a força do Espírito
que está fundida no Sol e alenta através dele. É a substância íntima que se infiltra nas plantas
as faz nascer para logo as transformar.
Na Unção Eucarística repete-se este processo. Por isso o Altar simboliza a Terra, o pé do
cálice o caule da planta, o copo Sagrado a flor.
Nunca acrediteis que isto seja apenas um símbolo mas sim uma realidade. Cristianismo para
os Gnósticos não é apenas um simples emblema. É algo de certo, positivo e real que tem
uma franca e incontestada manifestação.
O Sol envolve e aprofunda a raiz do trigo, impulsionando a sua energia ascendente, faz
crescer um caule que dá a espiga e a raiz de decompõe ficando apenas o corpo do trigo com
todo o seu potente poder de alimentar, de força energética, como fica em cada carvão o fogo
concentrado, que ao converter-se em pão, não sendo apenas hidrocarbonetos, é tão só vida
solar, como que Cristo em potência. Assim, quando o pão entra no nosso organismo, começa
a grande transmutação em sangue e hormonas, em tecidos etc. Se em tudo houvesse
elementos mortos, nada seria construído no interior do organismo. Mas é Cristo, a vida Solar,
que impera constantemente e nele tudo se faz e desfaz, tudo se forma e transforma tudo o
que se desenvolve sob o Sol.
É por tal que a Eucaristia não é um símbolo nem uma alegoria mais ou menos bonita. A
Santa Unção Eucarística, é prática e positiva porque temos na realidade Cristo dentro do pão.

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Passemos agora à bases da Matéria, Energia e Consciência. O pão não é só matéria, nem só
energia motriz, mas apenas Consciência - Crística.. Num átomo luta constantemente a
consciência que não quer ser absorvida pela energia motriz, defendendo-se esta, por sua
vez, da matéria, no mesmo sentido. Ao chegar de fora uma energia maior, aumenta brio que
lhe é latente do mesmo modo que lhe transmite consciência. Agora, na cúspide, em cima,
com maior consciência e a energia juntas, está o Sol. E é a essa partícula divina de Sol que
junta ao Pão Eucarístico.
O mesmo se passa com o vinho. A água da montanha, vinda das neves, vai-se infiltrando na
terra. De lá se transforma em energia concentrada nas raízes das cepas de caule duro, onde
é obrigada a ascender até ficar fechada nas uvas, que vão mais tarde produzir o sumo que se
há-de transformar em vinho. Entretanto a uva, foi recebendo a influencia solar de Cristo, que
ao transmitir-se ao vinho, a faz resultar numa potente substância de vida.
O Sacerdote Iniciado, ao celebrar, percebe, em êxtase, a influencia de Cristo e ao mostrar
magicamente, transmite a sua própria influencia ao pão e ao vinho, fazendo despertar as
substancias que neles radicam para que operem no corpo.
O elemento Fogo está representado pelas velas ou luzes.
Quanto ao sacerdote, leva três vestes sobrepostas e um capelo. O capelo torna-o humano. O
chapéu com que se cobrem os judeus na Sinagoga ou como o que utilizaram os maçons
alemães é considerado um símbolo de Igualdade. As três vestes são os nossos três
diferentes corpos: o físico, o astral e o espiritual. Quando termina a consagração, tiram-se
duas delas e apenas fica o hábito usual. Isto significa que se volta a ser homem de novo. A
quando da prática, cobre-se a cabeça. Significando que é igual aos outros homens e só
expressa opiniões pessoais. A leitura dos Evangelhos na Bíblia, é porque o Evangelho limpa
e varre todo o impuro dentro de nós. E quando ao movimentar-se de um lado ao outro do
altar, isso apenas quer dizer e significa o passo que se dá de um para o outro Mundo.
Não podemos esquecer que a Rosa Cruz, sempre fiel à sua triplicidade: tem um aspecto
físico e é em tudo uma sociedade que se ocupa da Ciência, outro, de ordem oculta, suportada
nas práticas e no exercício dos Santos Rituais, e em terceiro lugar e por fim, num culto
religioso da Santa Igreja Gnóstica.
Cada um destes três aspectos deve ser trabalhado pelo estudante – discípulo. Pode no
entanto acontecer que, segundo o livre arbítrio de cada um, haja pessoas que apenas
pertençam à parte externa da investigação científica da Ordem. Outras, que queiram ficar
apenas na Igreja e seu culto. E ainda aquelas, que prescindindo das anteriores situações,
queiram pertencer apenas à Ordem Monástica Rosa Cruz.
Mercúrio é o que provoca o movimento ascendente da vida das plantas. Está representado
por Ar e Água cujos elementos circulam através do sólido que compõe o altar. É incenso.
Deste modo podemos estabelecer o seguinte quaternário: Fogo; as velas. Ar, incenso. Água,
o cálice; e Terra, o Altar.
Se bebêssemos HO puro, seria um veneno. É necessário que esteja unido com a Terra, com
sais, etc., para que não nos faça mal e apenas produza o bem.
Existe uma doença conhecida pelos ingleses que lhe dão o nome de Homesickess, que
significa nostalgia da casa. Significa, que se uma pessoa se ausenta de casa, sofre com a
contrariedade de não estar nela, junto dos seus, pode chegar, por tal motivo, a adoecer. Isto
deve-se ao facto de não só nos alimentamos pela boca, como pela pele. Pelos olhos, pelos
ouvidos... O ambiente nutre-nos. Numa região marítima, recebemos e aspiramos sais

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marinhos. Nos bosques de pinheiros, as emanações da resina. Ao abandonar o ambiente do
costume, uma pessoa sente falta ou até mesmo a nostalgia do alimento que recebia
constantemente em sua casa e pode adoecer. O sangue pede-o, exige-o e custa muito
acostumar-se a um outro ambiente diferente. Se nestas condições se recebem notícias ou
algo que se refira a entes queridos, o coração enche-se ao ponto de até chegarmos a beijar
um objecto que esteve nas mãos da mãe, esposa ou do filho ausentes; e se um dia
regressamos, sentimo-nos invadidos por uma enorme sensação de gozo íntimo por voltarmos
ao lugar que mais amamos.
Nós pertencemos a um mundo muito diferente deste que habitamos e no nosso
subconsciente existe sempre o peso da nostalgia, com a sua perene cadeia de sofrimentos. O
Altar e a Eucaristia já são algo, como uma antecipação do mundo de onde vimos, por essa
razão se sente prazer, esse gozo inefável ao receber a sagrada forma das mãos de um
Sacerdote ou Bispo Gnóstico.
O catolicismo não tem ideia clara sobre estas coisas. Nega um mundo espiritual e só conhece
um inferno e um céu hipotéticos. Os Gnósticos reconhecem com sinceridade esse mundo
Astral onde penetramos e exercitamos as nossas práticas.
Quando comemos, os alimentos destroem-se primeiramente na boca, preparando-os o
estômago para que indo até ao intestino aí exprimam toda a sua energia para depois seguir o
seu caminho normal e voltar de novo a construir. Este é o caminho que levam todas as coisas
da natureza... Só morrendo o nosso corpo é aproveitável. Só a Morte trás Vida. O álcool
causa-nos perturbações por não permitir, se o ingerimos em grandes quantidades, que se
façam os trabalhos orgânicos da decomposição e vai, tal como é, directamente ao sangue
produzindo sintomas de intoxicação. Há que advertir que o nosso sangue é um líquido
sagrado, e é a ela que vai parar a parte solar que nos trás a comida (pan) e o líquido (vino).
Se nos espiritualizássemos tanto que chegássemos a despertar apenas com o nosso
contacto a Consciência e a Vida de todos os elementos, tudo e qualquer coisa que
comêssemos seria uma Unção ou uma Comunhão; mas não sendo isso possível, temos
necessidade de fazer com frequência essa transmutação, para que se produza em nós a
necessária eficácia. É por isso que a Unção Eucarística vem a ser algo de real e
extremamente positivo como Santa Operação de Magia nas mãos de um Bispo.
Assim o compreendiam os primeiros Cristãos e assim o voltamos a introduzir nós.
Não existe outra forma de conseguir esse Sagrado Mistério a que se dá o nome de Epifania
que nós traduzimos como manifestação de Cristo.
A União com Ele.
EU estou entre vós, disse Jesus.
No evangelho de São João, repete o autor Bíblico, sempre ao ritmo de sete vezes a palavra
EU SOU. Mesmo que esta frase passe despercebida à maioria dos leitores, ela está lá, para
que seja tomada pelo conceito em que foi escrita: o Mistério do Cristianismo, a Conquista do
Verdadeiro Eu.
Os indianos, nos seus ensinamentos esotéricos, concebem uma Entidade Universal – que
está ainda mais bem explicado pelos persas no seu Zend Avesta – na qual somos enquanto
EU, apenas uma chispa.
O novo movimento filosófico Vida Impessoal, com bastante poesia, mas explicando mal os
versículos Bíblicos, pretende obter renúncia ao EU invadindo-o ou dissolvendo-o dentro de
um estado impessoal.

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Isto que quer este novo ramo teosófico, contem um dos maiores perigos. Se os adeptos desta
Sociedade tivessem lido o que dizemos na nossa conferência sobre o EU Interior, teriam
constatado que não dizem nada de novo para além do que manifestei nela. Mas pela maneira
como se expressam apenas se consegue sacrificar o maior, o mais santo, o mais sublime,
que é AQUILO porque morreu o Logos Solar no Gólgota, o EU.
EU SOU, pode dizer-se, que é o mais transcendente que podemos expressar. Se lemos
esses neologismos que se encontram escritos sobre a Vida Impessoal, nada temos a opor ao
texto, já dissemos e diremos sempre sobre estas teorias; a diferença está no conceito
Vejamos um exemplo:
Duas pessoas discutem; mas no auge da discussão, uma diz à outra palavras ofensivas. O
ofendido responde então: Você não me pode ofender. Esta frase pode significar: Existe tanto
carinho entre os dois, que por muito que me digas, não existe lugar para ofensa. Estamos tão
acima da própria ofensa, que qualquer frase que me diga que a possa parecer, não é mais
que um conselho para mim. Você está num plano moral tão elevado que não me pode
ofender. Você não é capaz de ofender ninguém. No entanto, num outro conceito, diríamos:
Você é um malvado. Tudo aquilo que você pensa e diz é imoral. Você não pode ofender
ninguém porque a sua maldade rebaixa-o ao ponto de perder a autoridade necessário para
que ofenda outra pessoa.
Observámos como a mesma frase pode ter interpretações diferentes e até opostas? Por essa
razão não podemos combater assim a nova Escola. Haveria sempre imaginações dispostas a
querer interpretar uma qualquer frase ou palavra a seu gosto, e nunca iríamos por este meio
chegar a podermo-nos entender. De aí que seja preciso fazer bem e de forma adequada a
prova da bondade ou da perversidade de uma coisa, mas provar sempre, e ainda mais nestes
casos em que dentro dos conceitos, existe um dano visível.
Os Gnósticos recomendam constantemente a Meditação sobre os sete EU SOU do
Evangelhos de S. João, pois há que passar pela revelação do EU CRISTO, para conquistar o
nosso próprio EU.
Actualmente, a nossa época, está doente do EU. Em épocas anteriores, esta doença aguda
estava dirigida mais ao EU Impessoal; mas agora ataca o terrível perigo do Egoísmo. Tanto
um como o outro extremo são males condenáveis. Temos que procurar por isso, o EU MEIO,
O EU EM CRISTO, O EU DA SUBSTANCIA SOLAR, em consciência o EU.
Cada vez que se diga EU SOU – Diz o Iniciado Rittelmeyer – é um remédio para as doenças
endémicas do EU.
Eu sou o pão. É o remédio contra o Egoísmo do EU.
Eu sou a Luz. Contra o temor do EU
Eu sou o Bom Pastor. Contra debilidade do EU.
Eu sou a Porta. Contra a emoção enferma do EU
Eu sou a Ressurreição. Contra a petrificação do EU.
Eu sou o Caminho, a verdade e a Vida. Contra a pobreza do EU.
Eu sou a Videira. Contra a dureza irresistível o Egoísmo do EU.
Sobre todos eles há um que a todos abarca: EU SOU A LUZ.

Meditando sobre todos estes sete “EU SOU”, conseguimos compreender que somos UNO
com o Logos Solar, embora conservando a nossa Entidade Pessoal, diferenciada num EU
individual e que radica no Milagre, no Mistério, mediante o qual Cristo nos ofereceu o EU.

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Nos sete “EU SOU” estão os sete Sacramentos.
Eu sou a Luz: O Baptismo.
Eu sou a Videira e vós os Ramos: A Comunhão.
Eu sou o Bom Pastor: A Confissão.
Eu sou a Porta: O Casamento.
Eu sou o Pão: A Eucaristia.
Eu sou a Luz do Mundo: A Ordenação de Sacerdotes.
Eu sou a Ressurreição e a Vida: A Extrema-Unção.

Se nos detivermos no primeiro dos sete; “Eu sou o Pão” e no último, “Eu sou o Vinho”.
Compreenderemos então que é entre os dois que tudo está contido
Em hebreu Eu, é “ANI”. A realidade está no “A” e o “EU” no “I”; interpondo-se o “N” entre os
dois, como negação. O mesmo acontece com o monossílabo AUM. No “A” está a realidade. O
“U” faz ascender e escapar de novo, e o “M” vem depois, como ponto oposto negativo,
significar a Morte.
Os povos latinos têm como os alemães, o privilégio de poder encerrar Deus no “O”, e seria
um crime ir contra essa conquista magnânima de Cristo...
Por isso os Gnósticos, por entendermos que a veracidade deve ser a primeira condição do
Ocultista, propagamos abertamente o nosso Eu, e honradamente assim o expomos aos
outros.
Este EU é susceptível de ser educado. Não no sentido de uma educação escolar, mas
apenas como personalidade efectiva. Franklim (Benjamim?), um dos homens de mais
acentuada personalidade, conta que um dia fez um exame de si mesmo e descobriu doze
faltas, doze maus hábitos que estorvavam e prejudicavam o progresso do EU. E então disse:”
Assim como um caçador não pode matar doze lebres de uma vez, sob pena de não matar
nenhuma, do mesmo modo não posso eliminar doze defeitos, sem correr o risco de não
conseguir eliminar nenhum”. Pensou, em consequência, que para combater os maus hábitos
um a um, em cada dois meses, este trabalho já requeria um tempo de perto de dois anos. Em
seguida encetou a estratégia traçada, e pôde chegar ao fim com pleno êxito alcançando
aquilo a que se tinha proposto.
A própria Natureza nos ensina gradativamente. Natura non facis saltus. Primeiro compreende
um estado, depois outro, e vai assim avançando progressivamente em sentido indefinido. Do
mesmo modo, as Culturas e Civilizações de todos os tempos, brilharam em determinadas
épocas, sendo cada uma delas de imprescindível necessidade no seu período.
Para que uma semente amadureça, há a necessidade que ela própria se mantenha nesse
mesmo estado, conservando o seu preto invólucro ou a sua dura casca. Foi o que sucedeu
com as civilizações chinesas e indiana. A época do seu apogeu foi a época da semente,
dentro da qual estava o Logos Solar encerrado como num cofre hermético. Ao nascer o
Nazareno e ao oferecer o seu heróico sacrifício sobre o Gólgota a toda a humanidade, fez
estalar a semente florescendo imediatamente o novo período do EU que chegou até aos
nossos dias.
Fazer agora, poderosos esforços, para que a semente já então rompida, torne a juntar-se e
ignorar que a planta brotou, que agora está erguida e luxuriante, é extemporâneo, é querer
retroceder a idades perdidas na noite dos tempos. Pretender com estudos pseudo –
teosóficos, que as cascas ou os velhos invólucros da antiguidade remota voltem a cobrir
novamente o que fez florescer o Cristianismo Primitivo, é um absurdo.

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Na idade Indu, se exaltava o grão com a sua beleza e formosura extintas. Hoje devemos
exaltar e adorar o EU Cristo, que é aquele que há-de dar a sua Luz, ao nosso próprio EU.
A entrada de Cristo no Templo para expulsar de lá os mercadores intrusos, tem para nós um
proveitoso simbolismo. Tudo isto nos parece querer ensinar, que devemos deitar para muito
longe tudo o que seja arcaico, tudo o que suponha os prejuízos do costume ou tradicionais,
tudo o que estorve ou seja inútil, para o avanço e progresso da purificação do nosso Templo
Interior. Os pensamentos pesados e materialistas são aquilo que forma o odioso materialismo
que advém do palavreado vão e estulto.
É nosso dever mais sagrado, respeitar todas as ideias, considera-las e estuda-las, porque
serão sempre fiel expressão de sentimentos bem arreigados. Mas é igualmente nosso dever,
levantar a voz para que nos escutem em defesa da Verdade: Por isso, aqui afirmamos, que
os estudos teosóficos baseados no Budismo, são considerados inúteis e sem eficácia para a
Humanidade actual, porque esta tem já como redenção o Cristianismo, que é o que nos
oferece o meio de realizar o nosso EU, o Cristo interior que nos anima.
A posição de oposição que sempre tomou, desde os tempos mais remotos, a Igreja Católica,
a respeito dos Gnósticos, fez com que se perdessem para o Mundo, os mais sábios
ensinamentos, que tão necessários teriam sido para a humanidade em todos os tempos. No
entanto aceitaram uma boa parte do gnosticismo de Clemente de Alexandria e do seu
discípulo Orígenes, aproveitando as suas obras, ainda que renegando as verdadeiramente
Gnósticas.
Lastimamos apenas que não se tivesse cumprido o desejo destes Sábios Iniciados, de
enlaçar os Antigos Mistérios com o Cristianismo nascente. Teria sido o mais lógico e uma
indubitável bênção para a humanidade.
Não obstante, os Mistérios conhecidos em todas as épocas pré cristãs, como uma espécie de
representações teatrais, foram levados, através da crucificação e da Ressurreição de Jesus,
à realidade e à prática. Por isso, o resultado, é que ELE, o Cristo é maior que todos os seus
predecessores.
Se bem que as traduções Bíblicas, como já foi dito, sejam todas defeituosas, recentemente
Teólogos Alemães fizeram uma nova tradução das primitivas escrituras, e na sua edição já
ressalta claramente o Gnosticismo. A frase, “Sede Perfeitos como meu Pai”, deve ser
traduzida por “Sede Iniciados; e os leitores das Sagradas Escrituras terão de o fazer assim.
A Bíblia é uma das obras iniciáticas mais perfeitas e a ela devem dedicar-se principalmente
os estudantes de ocultismo ainda que seja preciso sabê-la ler e compreender, porque nem
mesmo os próprios teólogos tiram dela o necessário proveito.
Eu sustento que aqueles Mistérios e ensinamentos do passado, que nos chegam importados
do Oriente, se encontram de forma mais grandiosa na Bíblia. Sobretudo nessa síntese geral,
a que damos o nome de Apocalipse de São João, como já anteriormente vimos.
Os Cristãos, passam ao lado e dão pouca importância, sobre o que se lhes diz do Reino de
Deus, isto é, o Pleroma dos Gnósticos, apesar de ele ser tão interessante. Uma vaga ideia
foi-nos dada pelos indus quando nos falam do seu Devachan; por outro lado, os Rosa Cruz
especializaram-se nas investigações do Mundo Astral e podem relatar-nos as verdades mais
profundas que sentiram e viveram.
Cada época e cada povo, é verdade que tem a sua maneira de viver a Verdade, ainda que
ela seja UNA desde que o Mundo é Mundo. Razão pela qual já não resulta, nem pode ser
acatada a ideia dos Budistas, em constante negação e sintetizada no EU NÃO SPY. Esta

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frase foi substituída na oportunidade por Jesus com o EU SOU, quando disse: EU SOU A
LUZ DO MUNDO. Mas a Luz do Mundo não é o Sol? Pois bem, Cristo é a Luz do Sol,
querido leitor: queremos repetir esta frase essencial neste livro para que a grave na memória:
Cristo é a Luz do Sol. Não a física, mas apenas a espiritual, que está por detrás dela.
Cristo Jesus, antes da ressurreição de Lázaro, fala da semente que há que conhecer e tomar
em conta. Por isso tinha um papel tão importante nos Mistérios de Eulisis, quando se
representava Demeter provida de uma espiga de trigo.
Os Evangelhos mostram uma sucessão cronológica ao fazerem-se representar pelo Touro. O
símbolo dos egípcios, foi o Boi Ápis. Dos persas, o Leão e dos povos nórdicos, sobretudo dos
alemães, a Águia, esperando com o Anjo, receber a revelação.
Estudada a Bíblia, encontra-se nas suas passagens outra sucessão. As três etapas da
Trindade que se denominam:
Imaginação
Inspiração
Intuição
Primeiro é necessário ver interiormente as coisas espirituais, logo há que escutar o Verbo e a
palavra divina, para ter o nosso organismo espiritual preparado para a intuição.
Jesus quis dar sentido despertando a Imaginação, a todos os que chegaram e leram acerca
do seu martírio, para que estivessem aptos a receber a sua palavra e se tornassem
disponíveis para chegar à Iniciação.
Para que percebamos tudo isto é necessário que sejamos invadidos por um sentimento de
alegria. Não devemos ficar como na sexta-feira Santa, com uma profunda tristeza, mas sim
excitados por uma santa e alegre satisfação em plena Páscoa de Glória. Isso disse
Nietzsche, que o Mundo seria bem diferente de cultivássemos com verdadeira assiduidade o
optimismo e a alegria.
Esta Trindade encontra-se nas primeiras súplicas do Pai-Nosso, assim:
Santificado seja o Teu Nome: Significa, o Santo Nome de Deus, o Verbo, a palavra produtora;
Venha a Nós o Teu Reino: Com o pronunciar do Verbo, da palavra, dos mantras, vem o
Pleroma, a plenitude, o Reino de Deus; Faça-se a Tua Vontade, assim na Terra como no
Céu: Nisto está a União, que tudo resolve.
Com estes três pedidos, pedimos todo o necessário e se um dia o conseguimos, já SOMOS,
e não há mais necessidade de pedir.
Na Unção Eucarística não se pode esquecer que a nossa substância, no mais interior do seu
íntimo, albergue a própria substancia, que ao penetrar em nós na sua forma, nos ilumina e
nos põe em condições de compreender os Mistérios.
Mesmo Jesus falou de alegria na Quinta-Feira Santa, momentos antes do seu sacrifício.
Significa que mesmo em presença da desgraça devemos estar contente e alegres. Por vezes
uma criança, ao falar de qualquer coisa e ao dizer que isto ou aquilo é seu, torna-o mais
pequeno e obscuro dando-lhe um toque de egoísmo. O mesmo faz o homem quando falam
do Eu. O Eu Sou de Cristo, por sua vez, tem forma espacial, é mais plural, procura ser a
imensidade onde radica igualmente o mistério da alegria habitual que nos deveria assistir.
Quando dizemos que temos alegria, melhor seria a frase se disséssemos repetindo-a: Eu Sou
Alegria. Isto se indica na Missa com Melquisedec quando se fala do sacrifício do pão e do
vinho.

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Se retrocedermos, sondando e mergulhando no passado, chegaremos certamente aqueles
estados primitivos de barbárie da humanidade. Mas há que ter em conta que esta era uma
época transitória, antes da qual já existiam os Mistérios que foram explicados e propagados
como uma espécie de preparação para a Gnosis e o Cristianismo.
É possível que aqueles que historicamente se conhecem tivessem entrado em decadência,
porque os genuínos eram segredo absoluto. Em relação a isto, recordamos que Esquilo foi
acusado e processado por ter feito referência a uma parte dos Mistérios que deveria manter
em segredo. Provou então, que apenas os sabia de forma intuitiva e que não havia recebido a
iniciação.
Existem verdades de razão e verdades de facto. Cristo, ao apresentar pessoalmente o seu
Drama de Mistério, revelou uma Verdade de Facto.
Na missa dos Mistérios, os assistentes levam oferendas aos Deuses, constituídos por alguma
parte da sua fortuna. É o único que os católicos conservaram ao receberem dádivas para si e
não para Deus.
Também se fala na igreja do sacrifício de intelecto. Isto significa que devemos sacrificar na
nossa própria religiosidade o próprio intelecto, mas não no sentido em que estas coisas são
concebidas intelectualmente, uma vez que o intelecto é puramente material. Devemos
oferecer e brindar apenas a nossa parte espiritual. A vinda de Cristo de que tantos falam as
seitas, significa que Ele virá para se apoderar da nossa razão, e embora o materialismo de
hoje o torne difícil de conceber, as nossas possibilidades divinas irão despertar, preparando-
nos a todos mediante a Unção Eucarística.
Para explicar a Unção Eucarística e reconhecer o seu septenário:
Imaginação.
Inspiração.
Intuição.
Palavra ou Verbo.
Sacrifício.
Transmutação.
União.

É necessário que nos socorramos de um similar ou exemplo muito simples.


Quando vimos uma pessoa qualquer, observamos a sua imagem, escutamos a sua palavra e
isto é o suficiente para passar estas impressões à nossa consciência. A sua fisionomia dá-
nos a conhecer algo do seu carácter, embora muitas vezes de forma enganosa. Os seres
mais perversos têm um rosto lindo. Só ao escutar a sua palavra, a sua voz, poderão
impressionar-nos de forma agradável ou desagradável. Este é um fenómeno oculto e
misterioso. Quando em certas ocasiões escutamos uma conversa, por exemplo através de
uma parede, se a voz nos agrada e tem a nossa simpatia, tendemos a imaginar essa figura
igualmente simpática. Mas por vezes, quando vimos essa cara ao vivo, a pessoa não resulta
como a imaginámos. É preciso pois, ver e ouvir para darmos exactamente conta de quem se
trata, dar-lhe ainda a nossa mão para que a aura de ambos se confunda. Imediatamente se
sente a impressão. Existem pessoas cujo contacto nos choca, nos desperta repulsa e outras,
ao contrário, nos agradam. Neste simbolismo de dar a mão, existe uma unção, uma
comunhão.
Na Unção Eucarística é igual. Primeiro, temos de observar a cerimónia de entrada do
sacerdote e preparar a nossa Imaginação para abarcar todo o acto de forma proveitosa.

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Depois, quando o oficiante recita o Ritual, devemos pensar sobre o seu conteúdo, sobre a
sua divina Magia, para nos enchermos das suas emanações, sacrificando tudo quanto temos
de humano dentro de nós mesmos, por forma de receber a parte divina, que por sua vez
naquele acto, se sacrifica. Vem em seguida, a pronunciação da fórmula que transmuta
simbolicamente, e de um certo modo, de uma maneira real. Finalmente, devemos receber o
pão da vida com todo o reconhecimento e toda a religiosidade de que sejamos capazes, para
oferecer à divina dádiva, mais do que um simples albergue, um Verdadeiro Templo.
É nisto que exageram os católicos, pois supõem que ao passar um sacerdote por perto de
onde haja uma grande quantidade de pão e pronunciar a fórmula: hoc est einam corpus
meum, tudo se converte em Cristo nesse mesmo instante. Não é assim. Isto é puramente
dogmático.
Os protestantes, por sua vez, excedem-se por outro lado, afirmando que a Eucaristia é
apenas alegórica e o que praticam é apenas uma recordação do Ágape que Jesus ofereceu
aos seus apóstolos.
Nós, os Gnósticos, seguimos pelo caminho do meio. Ao pronunciar a fórmula e executar a
cerimónia o nosso Sacerdote Iniciado, a parte Santa do Prana que o pão alberga, a parte do
Sol que o trigo recebeu ao crescer, desliga-se convertendo-se em substância espiritual e
então o pão e o vinho, trabalham santificando.
Tanto o pão como o vinho, existem nas partículas divinas dos Elementos e a estas, na Unção
Eucarística, junta-se-lhes a parte de Divindade que nós levamos. A água provem do céu. O
vinho da terra e nessa santa e mágica comunhão se reúnem e ligam-se.
Por outro lado, o caminho da Imaginação, Inspiração e Intuição existe também quando
conhecemos qualquer pessoa. Disse um filósofo que o homem é invisível. À primeira vista
estranhamos, mas depois vimos quanta razão existe nesta afirmação filosófica. Essa entidade
invisível manifesta-se pela face, pelos olhos, pelos movimentos do corpo, pelo ênfase da
palavra, sem que saibamos quem é, como se chama, e o que caracteriza o verdadeiro
homem, precisamente porque permanece invisível apesar das formas manifestadas.
Suponhamos que ficam diante de nós uma quantidade de decapitados ou de corpos sem
cabeça. Não nos dariam a sensação de serem pessoas. Mas supondo ainda que
conservavam a cabeça, mas se não gesticulassem, não se movessem e sobretudo, não
falassem, teríamos de os considerar como corpos inanimados que nada nos diziam nem nada
nos fariam sentir. Só ao escutar a sua voz e a modelação das sua palavras, é que
qualificaríamos cada um, porque então se dá a comunhão. Antes da Imaginação, e antes que
esta seja recebida e tome corpo em nós, dispomos livremente de um intelecto abstracto.
Depois, numa esfera sucessiva, vem a Imaginação.
Nos Mistérios Antigos, despertava-se a Imaginação com um drama, onde a figura de Deus
aparecia cheia de luz. Depois, punham em prática o Rito, voltando a recita-lo chamando-O de
novo. Aqui temos, pois, a etimologia de Recitar, que significa, voltar a citar.
Os católicos, quando celebram a Missa, rebaixam Deus e não o engrandecem, uma vez que
o chamam como se chamassem uma qualquer pessoa a determinada hora e num lugar
determinado… Não deve ser. As Forças Divinas estão sempre presentes, sem variação, e o
culto dirige-se apenas para as despertar para que actuem. Mas tudo se deve manipular com
sentido rítmico, uma vez que tudo em nosso redor é ritmo.
Aos nossos paroquianos recomendamos que vivam a Trindade. À noite, quando nos vamos
deitar, vamos ao sono do Pai, que é o Inverno, a Morte. Pela manhã, ao despertar, moramos

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no Filho; que é a primavera, o nascimento em Belém. Ao meio-dia quando o sol está no alto e
nos inunda de vida, vivemos o Espírito Santo que é o Verão com o seu divino fogo.
De todas as religiões, a católica é a mais materialista, e isso reflecte-se no uso do negro no
hábito ou sotaina, que é o símbolo do corpo físico… Ao vestir-se o sacerdote em alva, ou cor
branca, é quando reconhece outros corpos, apesar deles próprios ignorem que a cor oiro,
usada pelos Bispos, representa o Sol. Os Gnósticos têm em comum com eles a cor branca,
se bem que em cada estação se use uma cor diferente.
Quando o oficiante católico vai do lado da Epístola para o do Evangelho, para uns significa
que vão de Herodes para Pilatos ou ainda dos gentios para os judeus. Na verdade significa a
mudança de um estado para outro e por isso que nós, quando mudamos de altar, fazemos o
mesmo.
Finalmente na cerimónia da Unção reflecte-se toda a nossa vida. Quando chegamos ao
Mundo, vimos com certas faculdades e poderes latentes, que temos o dever iniludível, como
nosso principal objectivo, de os despertar e desenvolvê-los até que cresçam para que os
possamos tirar da sua prisão na matéria. Tal como sucede com as forças latentes no pão e
no vinho, que chegados ao cimo, transbordam, quando a palavra as faz despertar.
CONCLUSÃO
Terminámos o Livro da Igreja Gnóstica.
Não nos foi possível, nesta primeira exposição, ir mais ao fundo das coisas, ainda que o
nosso ímpeto tenha que ser contido nesse afã, que é próprio de todos os homens que
ambicionam dar tudo quanto sabem. Mas reconhecemos que o ambiente há-de começar a
formar-se com estes primeiros ensinamentos, que enquanto não forem assimiladas pelos
nossos fiéis e estudantes, não será ainda tempo de entrar em ondas que já roçam a Iniciação
e que levantariam o véu perante o olhar do candidato extasiado.
No entanto, se este livro for estudado com fé, com vontade, atenção firme desperta e
ponderada, temos a certeza de que muitos dos nossos leitores, se estes conhecimentos
chegarem no instante propício, verão certamente a Luz, ao saber onde radica e observando
que o problema cimeiro é o cultivo do EU, a exaltação do Eu. Há que perceber, sentir e viver
aquilo que aqui expomos. Se não bastar apenas a leitura, é necessário repeti-la até que se
impregnem profundamente de todos os conceitos. Essa compreensão que se consegue será,
sem dúvida alguma, o primeiro degrau para alcançar a Ascensão do Logos Solar, a
Substância Crística em nós mesmos.
Entretanto, meditai em silêncio
Sede serenos, cautos e ouvi a vossa própria voz, a voz da Verdade que pugna por
transbordar do vosso coração. Aí está o Mestre, em espera mística aguardando o momento
de ser realizado. Afastai e esculpi todo o desejo impreciso, que lá exista para vos torturar, e
retirai dele quantas concubinas as que intentem apoderar-se do tálamo nupcial para que vos
desvieis da hora certa da vossa chegada.
Robustecei-vos com todos os conhecimentos que a Gnósis nos dá e que aqui mencionámos.
Juntai o maior número de virtudes necessárias, com heroísmo, para que assim consigamos a
própria conquista da Grande Força de Nós, o Cristo Santo, o Logos Imortal, que dorme
encolhido no mais profundo do Templo. A Sabedoria surgirá diante de vós quando observar
que vos converteste num verdadeiro Amante que a adorna, com a roupagem inconfundível,
com a túnica inconsumível da Virtude. Desprezai a letra. Deixou de existir. Temos que ir
procurar o grão mesmo, a semente mesma e partir a sua dura casca, fazer com que a planta

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nasça e floresça. É muito fácil alguém contentar-se com o ser a entidade nominal de uma
coisa. Temos que ser a própria coisa e identificar-nos com ela, conseguindo o divino enlace, a
excelsa união com a Verdade cujo veículo é a própria libertação.
Eu Sou. Há que o repetir diariamente. Eu Sou, há que o clamar aos quatro pontos cardeais.
Eu Sou, há que o gritar ao Mundo inteiro. Por amor do Eu, para seguir o Eu, há que
abandonar tudo, deixar a própria casa que são os nossos vão amores e os desejos malsãos a
que estamos arreigados. Para conquistar e realizar o Eu, devemos dar tudo, tudo, sem
quaisquer limites. Assim o teremos, e assim o poderemos um dia oferecer aos nossos irmãos
na humanidade, que atravessa um momento tão difícil causado pelo materialismo reinante.
Não quis explicar neste livro o ritual da Unção Eucarística; mas em todo o Centro ou Loja
Rosa Cruz, pode solicitar para que receba instruções a fim de celebrar e fazer o seu primeiro
trabalho de Magia cerimonial.
Apenas e a terminar, darei apenas mais um grito: LIBERTAI O VOSSO EU... Isto é tudo. Que
a antena dos nossos irmãos, lá em todas as terras, possam receber essa onda de afirmação
espiritual e liberdade únicas e que todos os homens que seguem na vanguarda deste
progresso espiritual, possam conquistar a candura necessária para a merecer, mente sã para
o conceber, e lábios puros para pronunciar o seu nome imaculado...

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