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Brasil tem 6,9 milhGes de familias sem casa e 6 milhées de imoveis vazios, diz urbanista BBC (http://www. bbc.com/portuguese/brasil-44028774) - by Fernanda Odilla, Nathalia Passarinho e Luis Barrucho Da BBC Brasil em Londres O desabamento do edificio Wilton Paes de Almeida, que pegou fogo e foi ao chao no centro de Sao Paulo, nao apenas escancarou o problema do déficit habitacional no Brasil como jogou luz sobre a situagao dos iméveis vazios que, mesmo sem condigées adequadas, atraem milhares de pessoas em busca de teto. O pais tem, pelo menos, 6,9 milhées de familias sem casa para morar. Tem também cerca de 6,05 milhdes de iméveis desocupados ha décadas. Esse descompasso, que ja havia sido indicado pelo Censo de 2010, tem motivado uma onda de ocupacées e invasées em uma escala jamais vista no pais, diz o urbanista Edésio Fernandes, professor de direito urbanistico e ambiental da UCL (University College London). "A diferenca das ocupacdes tradicionais est no volume. Nao se sabe quantas pessoas vivem dessa forma, sem falar das praticas precarias de aluguel e o surgimento dos cortigos, sobretudo nas dreas centrais, agravado pelo crescimento da populacao de rua", diz Fernandes, pontuando que as novas ocupagées sao maiores que muitos municipios brasileiros em termos populacionais. O professor cita como exemplo dessa nova onda a ocupagio batizada de Izidora, em Belo Horizonte. Formada por trés vilas interligadas (Esperanca, Rosa Leo e Vitéria), Izidora retine 30 mil pessoas numa area de cerca de 900 hectares ocupada a partir de 2013. Fernandes cita também a ocupacio Povo Sem Medo, de Sao Bernardo, que em uma semana ja tinha reunido 6 mil pessoas no ano passado. Fernandes diz que o problema é a falta de leis para definir onde os mais pobres vao morar. "Nao ha planejamento e pensamento sobre onde vao viver os pobres. .) Os centros de cidades esto perdendo populacao, mas o lugar dos pobres é cada vez mais a periferia", afirma o professor, que é membro da Development Planning Unit da UCL. Para resolver esse problema, diz Fernandes, a solugdo nfo passa apenas por facilitar a aquisicdo de propriedades para quem tem baixa renda. Ele defende uma mescla de politicas publicas, que incluem também propriedades coletivas, moradias subsidiadas e auxilio-aluguel como medidas necessarias para acabar com o déficit habitacional, que é maior entre familias que tém renda entre zero e trés salarios minimos - cerca de 93% dos 6,9 milhées de familias sem teto tém renda de até R$ 2,8 mil. Cotas sociais e raciais para moradia E por isso que a arquiteta e urbanista Joice Berth defende reservar cotas habitacionais em espagos com mais infraestrutura para negros. "A gente precisa desfazer 0 modelo de casa grande e senzala", afirma Berth, dizendo que bairros como Pinheiros ¢ Itaim Bibi, em Siio Paulo, so bairros mais brancos e com maior renda "onde a negritude nao pode estar". Aarquiteta pontua que "brancos e pretos pobres se parecem, mas nao sfio iguais". Por isso, ela defende cotas nao apenas em programas de aquisicao de iméveis em conjuntos habitacionais, mas também uma politica que garanta acesso direto a terra aos negros. Ela também acredita que esta na hora de radicalizar as pautas. "Até porque com 0 advento das cotas (na educag&o) temos pessoas com novo olhar", observa. Em relagio as ocupagées, Berth diz que a solugdo pode passar por reformar esses iméveis e manter os moradores que lé esto. O professor Edésio Fernandes, no entanto, observa que o "Brasil nao tem. tradigaéo nem know how" para transformar iméveis comerciais em residenciais, e isso pode encarecer e dificultar essa conversao. "Faltam tradigao e tecnologia", salienta. Perversidade Fernandes observa ainda que programas como o Minha Casa Minha Vida (MCMV) deixaram a desejar. Na avaliagao dele, além de nao atender com prioridade a populacao com renda mais baixa, o MCMV oferece iméveis de baixa qualidade construtiva e ambiental. O professor lembra, no entanto, que o Brasil nao é o unico pais a enfrentar dificuldades para manter uma politica habitacional de qualidade. Fernandes cita o incéndio consumiu Grenfell Tower, prédio de 127 apartamentos para pessoas de baixa renda em Londres, que usou material de baixa qualidade e inflamavel em uma reforma antes da tragédia que matou 71 pessoas. Ele também compara o incéndio da torre britanica com o do prédio do centro de Sao Paulo. "Os dois incéndios revelam muito mais do que a faléncia de um modelo e de uma politica, revelam a perversidade dessa forma de se fazer cidade e moradia", afirma. A faléncia, acredita Fernandes, também se estende ao sistema de representagiio politica e reflete a falta de mobilizagdo da sociedade para demandar seus direitos. “Sobretudo, é a faléncia da nossa histéria de nao confrontar a estrutura fundiaria, segregada e privatista", diz. Fernandes ¢ Berth conversaram com a BBC e defenderam mudangas na politica habitacional brasileira no sébado, durante palestra no Brazil Forum UK, evento organizado por estudantes brasileiros no Reino Unido. BBC (http://www,bbc,com/portuguese/brasil-44028774) - by Fernanda Odilla, Nathalia Passarinho e Luis Barrucho Da BBC Brasil em Londres

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