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A interio~ização da ·metrópole

e outros estudos

. .. Odi!a .Leite
....M.aria . . da . Silva D.ias.

' . ...

. ..

São Paulo, 2005


·ilameda
V

A interiortzação da metrópole*

A_~ tef!~r i1ma apreciação sumária do .~stágio atual da his-


toriografia brasileira sobre a "independência''. desejamos relem-
brar e enfatizar certas bal~s já bem fundamentadas por nossos
histori:idores e que dizem respeito a certos traços específicos e
peculiares do processo histórico brasileiro da primeira metade
do século XIX, o principal dos quais é a continuidade do proces-
i) ~J de transição da' colónia p·ar,a o Império. Ressalte-se em segui-
da o fato de ·a "independência", jsto é, o processo da separação
política da me~rópole (1822j, .não ter coincidido com 0 da con-
.1) solid~ção da ·unidade nacional (1840-1850),' nem ter sido mar-
cada por .~m movimento p·opriamente ~àcioms.lista ou revo!u-
•• - • t,'

cionário, e nos confrontamc-s com a conveniência de desvincular


<:..:!f_'!.4.'l.9!! P.'.~~ffSS~ ,d~ [~,:,_~aç~o _da nac!CJ'falidati~ ~r,q_~ile(rE__,!!,O
c::._rrer ~_p_rJ.,.'!~!r.~.~fC'l~(!-S do s~ulp XIX dq. imagem tragi~!º!.1~'
~nil!Ll111~~-f.".l}Jf'I. .Jl .metrópole. No estágio dos estudos em
que nos encontramos,_seria esta! sem _dúvida, uma atitude sábia
e proficua a desvenchr novos ho~izontes de ,.>esquisa 2 - o que
-.
• Este texto (oi publiado pela primeira vez como 11m upft11lo do livro J822 -
Di•iaula orpn_iudo ~ Ca_rlo$ Guilhe~_J.101a (São Paulo, Pcrspectiva, 1972).,
Monteiro, Tobiu. His16rio do t~p_irio ( A clobor"fªº do 1"dcp. nd4ncio). Rio de
Jancirv: f. Bripid & Cia., 1927. p. ·, 03-5 e 8-46•7.
2 Caio Pnido Jónior procurou dem.onstrar o fato de a lndcpcnd~ncia cm si nio
con,titllir objdiYO de estudo par~-o hi,toriador, sendo antes resultado de "um
COIUCIIIO ocasional ele íorças que ci"tlo longe, todas elu de tenderem cada qual só

8 Maria Odila Leite da Sil\'a Dias •
A intcrioriuçlo da metrópole e outro, en udo, 9
• 1

evidentemente não implicaria excluir o processo brasilei··o do acontecimentos que então se desenrolam no Brasil. Para os ho-
contexto maior dos muitos paralelismos históricos de s~ieda- mens de ideais constitucionalistas, parecia imprescindível conti-
des coloniais em busca de uma identidade própria. nuar unidos a Portugal, pais viam na monarquia dual os laços que
As diretrizes fundamentais da atual historiografia da emanci- os prendiam à civilização européia, fonte de seus valores cosmo-
pação política do Brasil foram lançadas na obn de Caio Prado politas de renovação e progresso. A separação, provocada pelas
'
.
Júnior, Formaçdo do Brasil contemponfo~ (1944), em que o autor cortes revolucionárias de Lis~a, principiou a conotação reacio-
estuda a finalidade mercantil da colo11ização p:>rtuguesa, a sua nária de contra-revolução e'_a, marca do partido absolutista.5
1
org~J!iz.ação_~raMente produtora e Jis9l, os fatores geogr~ficos -·· A c~ntinuidade-.da t r ~ no plano das instituições e da
de disptrsão e fragmentação do poder e a conseqüente fa)ta de estrutura social e económica· também foi considerada por Sérgio
nexo moral qt:~ caracteriza o tipo de sociedade existente r:o final Buarque de Holanda cm seu estudo sobre "A herança colonial -
e
do século XVIII início do XIX; contradições e conflitos sociais sua desagregação'~ em que analisa as transações e os compromis-
internos sem-condições de gerar forças autónomas capazes de criar sos com a estrutura colonia! na formação do Império america-
uma consciência nacional e um desenvoivimento revolucic..1ário no.' Algumas 4irctrizes indicadas por Caio Prado.Júnior foraf!). ·:
apto ·a· rêorga·nizar a soc::iedade e a con.stitu(-la em nação'_, G mes- elaboradas por Emília Vio''i. da Costa em seu trabalho "Intro-
mo autor, num pequeno ensaio, "Tamoio e a política dos / ndra- dução ao estudo da emancipação politica': no qual a autora tam-
das•:• analisa as graves e profundas tensões sociais que vieram à bém analisa as contradiçõe~ da politica liberal de D. João e a
tona quando a revolução liberal do Porto fez difundir na colónia pressão dos comerciantes pc!rtugueses prejuàicados com a aber-
as aspirações de liberalis~o coflstitucional, susçitando desordens tura aos portos e a concorrência iugiesa forçando o monam. a
e um sentimento generaliz.ad~ de mse~rança social e acarretando adotar ~edid:is protecionistas e mercantilistas destinadas a pro-
de imediato a reação conservadora, caracter(stica principal dos teger seus interesses.7 Atribuem-se os germes d~ separação ao
~ e mteresses entre as ~ ~ ti~is~ de ten-

por ,i para •aquele fim ..." (Prado Jdnior, Caio. Fotf'lo do Br1uil contempnrdneo.
Sio Paulo: BrasUiemc, 1957. p.156). 5 ).1ontciro, T~iu, op. cit., 1927, p.408 e • l l.
3 •Pela própria naturaa de uma tal estrutura, não mamos ser outra coisa mais
6 Holanda, ~ Buarque de. A herança colonial - sua desagregação. ln: Holanda,
que o que f0nmos at~ cntlo: uma feitoria da Europa. ..m ~•-npla forncccd< · de
~ o Buarque de. (Org..) Hisl6ri• J,, civiliurao lmuileir«. ~o Paulo: Diíd, 1962.
produtos tropicais pan kU com~rcio. A 10..:icdad~ colonial era Incapaz de Í<-rnc•
t.11, v.l, p.9. ·
ccr a base, 01 fundamento, para conui1uir-sc cm nacionalidade orglnica. Nlo
7 Costa, Emllia Viotti da. lntroduç,o ao cm1do da emancipação poHtic.a. ln: Mota,
tinha com que .atisfazer as neceuidades intcrnu e coerentes de uma ~opul~çlo
Carloa f,wlbcnnc. (Ors.) O &.uil ffll pmp«riwi. ~o Paulo: Difd, 1968. ·:'· '.') u . A
--1uc nlo existia como. r.ni êm si mesma, sendo apenas um mecanismo, wna pal"'r. .
mtsma aulora, em outros trabalhos, aprofundou o estudo do papel dcscmptnha•
de uma vas1a organiz.açlo produton d«linada a atender " demandu do comfr-
do por JOM Bonifkio, analis:ndo as contradiçõa de •ua mentalida~t de ilwtrado
cio europeu• (Pndo Nnior, Caio, op. cit., 19S7, p.120-1). ·
4 Pndo Júnior, Caio. Ewmirb poUricA
1963. p.117u.
"º Br1ui/ t 0111ro, a111do,. S&o Paulo: Brasiliense,
europeu e americano e o dioquc da Yislo de cstadinas com a rahdadc concrtta
e objetiva de sua tcna (e{, OMta, Elllnia Viotti da. Mito t histórias. ln: ~n11i1 do
M11uM Pr,11/ilt,, Slo Paulo, v.xxl, 1 967, p.216).
10 Maria Odila Leite da Silv.a Dias A intesioriuçio da mcuópolc e outros estudos 11

dência liberal e o~omerciantes portugÜescs)pegados à política trai. Associar esquematic.an~ente os interesses das classes agrárias
protecionista e aos privilégios de monopólio. brasileiras c:om as do imperialismo inglês seria, pois, simplificar
O problema inerente ao amadurecimento do capitalh.:no um quadro por demais complexo.
industrial na Inglaterra é de âmbito amplo e aefine o quadro Apesar de estarem bem definidas suas diretrizes fundamen-
geral das transformações do mundo ocidental nesse período. A ~ no~ historiog_rafia, a~ descortinar o _processo sui generis
luta entre o~ interesses mercantilistas e HberaJismo econ~;nic@ \ de ~~ans1ção do Brasil colonial para o Impéno, ainda não se des-
4
se processaria de forma intensiva na I !aterra de 1815 a 1846
1
.afetando drasticamente-3--,0.Jrtica de thdos os palses coloniais ·
'
··7],,.· cartou completamente de ~ertos vlcios de interpretação provo-
\ ,/ ~~Qs por~_pfoques_~uropcizant~,lJUe di..tQw:m o processo bra-
diretamente relacionados com a expanspo do Jm~rio britânico sileiro entre os quaas avulta :.i da unagem de Rousseau do colono
do comércio livre. Não atingiu nenhuma área tão diretamente quebrando os grilhões do fugo da n,~trópole; ou da identifica-
como as Antilhas, e o tema foi magistralmente estudado por Eric ção com o liberalismo e o nacionalismo próprios da grande re-
Williams em seu livro Capitalism and Slavery (Londres, 1946).
Foi n pretexto para a fundação de um novo Império português [ volução burguesa na Europa. Emilia Viotti opõe ressalvas a esses
conceitos:~~ a~ contradiç?~s ainda estão para ser explicitadas.'
Durant~ multo· tempo, res~ntiú-se o esnido da nossa ·eman-
no Brasil; teve evidentes reflexos na polític.a económica e ,,o pro-
cesso de separação de Portugal. A histo~ognfia da época jã defi- cipação pofüica do ~rro ar.vindo da suposta consciência nacio-
niu bem as pressões externas e o qua~o internacional de que nal a que muitos procurava;n atribuir. O modelo dJ .indCP.t IJ:
d~n.cia ~os Es~a4os Unidos fascinava os...~~~t~;poráneos e
prov~m as grandes fo!'ças de tra~sformações. ~esta estudar
modo_como a~~ta ~s ~ -~ses dominantes da colónia e os mecanis
continua Je certa forma a ·iludir a perspcctiva ro.~
_hi~totjad~w·s ,
atuais. ~~iio Buarque de Ho!a!l_da refere-se mais objetivamente
mos internos inerentes ao processo de formaç!o da naciona!ida
às lutas ~ -=in~~i~d~ncia" como uma ~úerra civil entre portu-
e brasileira. Ao perder o papel de intermediários do comércio
do Brasil, restava aos comerciantes portugueses unir-se às gran- ?-~cs desen~~-~ -~_qllÍ ~la Re~olução do Por~o, 10 e não por
~um processo autôr~omo de arregimentação dos nativos visando
des familias rurais e aos interesses da produção. Estes nem .sem-
a reivindiações comuns contra a metrópole. 9 _f~t? da sep~,;
pre esta,·am ~Farados das ativi<lades de comércio e transpcrte,
~o dg reino cw J6'12 não teria tanta importância na evolução
como se constata no caso do Barão de Iguape em São Pauio.• A
da colónia para Im~rio. Ji era fato consumado desde 1808 com.
pressão inglesa pela abolição do tráfico _tenderia, a seu turno, a
ª...!inda_da Corte e a abertu~~ do~·portos e por motivos alheios à.
levantar a hostilidade dos interesses agrários contra o poder cen-
vontade da colónia ou da i;netrópo!e..,. -·
..

l -·
a Pctro~c, Maria Thercu Schorcr. Um comerciante do c:i,l~ d;, açllcar paullsta:
An16n10 da S. Prado (1817-1129). Jwvisu Jc Hut6ri,,, v.xxxvJ, n.73, JHl,,p.161; 9 Co$U, Emllia Vioai da, op. CU.:_1968.
v ~ I , n.76, 1968, p.31S; e v.xxxJX. n.79, 1969, p,121, : 10 Holanda, Súpo Buuquc de, Of• cit., 1962, p.13.
12 Maria Odila Leite da Silva Diu

A interiorização da metrópole e outros c~tudos 13
' '

A preocupação, evidentemente justificada, de nossos histc· ria- abstrato contra a metrópole, o que nos levaria de volta à distorção
.. ' - ' - - 1
dores em integra,.~~ P!~_esso de emancipa'30 política com as f 'res- dos mitos. A história '.da emancipação política do Brasil tem a
sões do ~~~}nternacional envolve, no entanto, alguns inconve- ver, no que se refere estritamente à separação política da Mãe ll
nientes ao vincular demais os acontecimentos da época a um plano Pátria, com os conflitos internos e domésticos do reino, provo- fJ.
muito geral; ~ -~tribuiu decima~nte para Q i~...o9.J imªi,Çm da cados pelo impacto da Revol~ção Francesa, tendo mesmo ficado IJ
'I'
colónia em lq~5ontry.mçtró.e9le,_deixffido et! esql;!~~J~.e_q~o o associado à luta civil que se tr;)Va então entre as novas tendências
P1:"0~~tn~ode ajustamento às mesmas pres!1es, que é o de liberais e a resist!ncia de uma..estiutura arcaica e feudal contra as r{
'~!':!_iza.m~,;rJo 4~~interesses portugu_t:fies:e~iet~do o process.•· de inovações que a nov.a Cor.te Jo.Rio tentaria impor,ao re.iw:...
interiorizaç.ao da metrópole no antro-sul d4 co16nia. O fato é q.ue a Os sacrifidos e as afliç~ da invasão francesa, a repressão
consumação formal da separação polítika foi provocada }~elas violenta de qualquer mudança alimentada pelo clima da pró-
dissidências internas de Portugal, expressas no programa dos re- pria guerra contra Napoleãq. o-temor das agitações jacobinas
volucionários liberais do Porto e não afe~ria o processo brasilei- contribu{ram, pois, para despertar ciúmes e tensões entre portu-
o já desencadeado com :\ vinda da Corte. ' ' em 1808. gueses do reino e portµgueses da nova Corte. Em Portugal, a
. A vinda ~~!.ª-2-~~~~-!.!.~ei~~~ fun,9:a!,l_l.nJ..CJV.O de~~stação e a miséria da guerra, agravada pela pressão da anti- S
Império nos trópicos já significaram por si ur,:a ruptura int~rna ga nobreza, foram ainda mais acentuadas pelo tratado de 1810 t,
nos setores políticos do velhÕ..rcinÕ.Os~êônfiii~ ~d~í~do~ das que não ró retirava qualque~ esperança de reviver o antigo co- 'f
-- - - '
cisões e do partidarismo interno do reino ctsde a Revolução Fran- mércio 'intermediário de produtos coloniais exercido pelos
cesa iriam sé acentuando com o pattntea~das diver:;focias ~ntre · .:o:nerd..nt.:s ~os portos portugueses, como também' prejudica-
portugueses do reino e portugueses da nova Corte. Com o tem- va o processo incipiente de aindustrialização defendido por ho-
po a dissid~ncia doméstica tenderia a intehsificar-se. 11 O impor- mens como Acúrcio das Neves e por "brasileiros" como Hipólito
tante é integrá-la como tal no j<:>go de fatores e pressões da época da Costa.•J A fome generalizada, à carência de géneros alimentí-
sem confun~i-la com uma luta brasileira nativista da colónia in cios, à desorganização da produção de vinho e azeite, somava-se
a paralisação dos portos, (~ ·ir.íciQ f...x.hade,s por Junot e depois
desvitalizad~s e sem movimentQ por causa desse tratado de 1810.
li •o c6nsul au,trfaco na Corte do Rio de Janeiro dj testem•inho sugestivo· a
Par-.. Pereira· (Ía ~ilva, que escreveu sobre esse período, não eram
respeito da dispOJição do Conde da Sara, ministro_.de D. Joio Vl a este respeito
cm 1811. Mostrando-lhe certa vez a inconvenitndia de menospruar Portugal,
0

donde poderia resultar a ,w 1cparâç10;·ouviu o c(>ruw cm rê,posta achar-se o .


governo preparado para essa eventualidade, que ~ils nlo o assustava, pQil de 12 Ver artic<> de Hipólito da Co,ta M>bre a intlwtrialiuçio de Portugal no Corrdo
bom irodo ~nunci11rÜI • Europ11 , 1orn11r-se-io 11m,riano ... " (Monteiro, Tobiu, Brailiauc de jwaho e agono dt 11116; Macedo, Jorge Borges de. Probltrr1Gs dt
op. cit., 1927, p.222). Ver wnbmi Oliwini Uma, Manud de. D. Jt>ü V1 no Brasü. liist4ritl ü ittdáurill portutllff4 ~ sl<ulo XVIII. U1boa: Quccco, 196); ~rrio,
Rio de Janeiro: Joú Olympio, 19-4S. v.11, p.1020.
.
Joel. A IAdmtria portumK ffll 11~- B11/lttin d'Eludn liistori1111a, Lisboa, 1953 .
I• Muia Odila Leite da Silva Dias A intcrioriz.açlo da mdrópolc e outros estudos IS

menores os males de Portugal que os da 4anha, a que se refere demização da estrutura económica e social do reino, pois a pros•
sugestivamente como "mais um cadáver q'ue uma nação viva•~ u J)l!ridade do novo Império nascente não poderia arcar sozinha
Ante a miséria desse período de crise e d~ extrema decadênck ; com as enormes despesas que requeria a reconstrução da antiga
confrontava-se o reino com a relativa pro;peridade e otimismo metrópole. A Corte não hesitaria em sobrecarregar as provindas
de perspectivas que se abriam então para o Brasil. do norte do Brasil de despesas que viriam acentuar as caracterfsti•
Dom Rodrigo de Souza Coutinho tinha o novo Império do ~s regionais de dispersão; mas, como esses recursos não basta•
Brasil como a tábua de salvação do reino; acreditava poder vam, preferia introduzir reformas económicas e sociais no reino a
reequil!brar a ·•ida ~C!)nó(Jlica <l!! Portugal P°ir meio de uma..p~!Jtica fim ·de evitar sobrecarregar a eo.rte que começava a enraizar-se no
económica puramente comercial e financeira. Revitalizada a circu- estrtitamento de seus laços de integração no Centro-Sul.
lação da r.,oeda e com bons rendimentos ~fandegários, o reino Durante a <k:Upação francesa, recorreram a impostos extra•
teria condições de se refazer, pois contaria com os aux.Oios prove- ordinários e a sub;crições voluntárias para financiar a luta.is
nientes da prosperidade do Brasil.14 Seria viftal, porém, reanimar a Também order.aram a emissã.o indiscriminada, o que acarretou
agricultura de Portugal, e, para isso, percebia a necessidade de a desvalorização da moeda do·reino cm relação à da noVl\ '-"':rte .
~O<ictnizar a estrutura social é"ec0n6núca do reino; no que talvez tendo como conscqü! •. .:ia o movimento crescente de evasão da
cedesse em parte à pressão dos ingleses, convencidos da invia- moeda para o n~vo Império.••·Terminada a guerra, ell não que-
bilidade de Portugal, caso não se procedesse a algumas reformas ria c<'ntinuar a cobrar impostos demasiados sobre as capitanias
da estrutura arcaica do sistema de propriedades fundiárias, para o as
do norte do Brasil, pois já erar•l grandes despesas exigidas pelo
que sugeriam que se.co~vQC.aS~~ nov~me':lte as antigas corte:.. funcionalism~ e pelos memb:'Os da novà éorte, sem côntar as
O Prlncipe Regente opôs-se decididamente à pressão inglesa despesas com as guerras da Guiana e do P~t"'. De onde o Prínci-
pela reconvocação das cortes, mas endossou,a necessidade de mo-
pe Regc•nte definiu parn, o reino uma polftica regalista de refor•
- mas modemiz.adoras·.~7.
Ele pretendia lançar mão da venda de bens·da Igreja e da
1) Pereira da Silva, Joio Manuel. Hist6rúi d11 f11ndllf~O do lmpirio brasiltiro, Puis:.
Garnlcr, 1164-1164. v.111, p.274. •Assolado pela invado anterior <101 trh 11r-.01;
Coroa no p,róprio reine. R~formar resquícios antiquados de con•
diminwdo .de RCUrsos com a perda do comhcio e monopólios do Bruil; decai•
do de população que lhe arnnanm as gue~s e·. 'v.!! " f ' ~ rr• • Amlr'ic4, Kl1I
mais indwtria, Ubrica, e transaçõei' ,ncrcanlis; mllbaratado ainda por imposto,
e sacriffcios que lhe a101aram o, recursos do pracntc e cnqrcccram o porvir;
curvado ,ob a autoridade de r,1ulo1, que nlo rcspcita".lm lei _n em _pcuc»l e IS Ibidem. v.111, p.2S;
propricciaGcaÍ lc·Jüdito&: reduzido a colónia e a conJ.tlsca: que nação o i~lava 16 ·;bidta1, v.Ul, p.i67." .
cm soírimmtoa!• !, . 17 SobR a poUtka rcp1ista de O. J~ yi e os incidentes com o Valicano, ~r Pcrein
14 Reprcscncaçto reservadluima de D. Rodrigo de Sduu Crutinho ao Prlncipe
Rqaltc de .JI de dacmbro de 1110 (Pereira da Silva. Joio Manuel. op. de., 111f•
1161, v.11, p.'26 e vJll, p.lU e p.346). \i . ,
Dami1o. H.,._, 4' '-1.,,
ela Silva. Joio M'IDucl, op. àt., 116<·; 1968, v.111, p.2S3, 256·1. Ver WDbân PerC$,
Bar«il,1: PortucaJcme. lv., 1928; Almeida. For1una10
ele. H ~ '6 t-1111.J. Coimbra: ediçlo do autor, 1922-1929. 6v., v.V e Vl .
~: ·'
16 Maria Odib Leice da SiJv3 Di3s A interioriz.açlo da metrópole e outros utudos '7

tribuição feudal, lançar novos impostos ordinários menos (1jus- As tensões internas e inerentes ao processo de reconstrução e
tos e mais aptos a dinamizar a economia agn\ria do reino. 11 Vender modernização de Po'rtugal viriam, pois, exacerbar e definir cada
bens da Coroa, a prebenda de Coimbra, as capelas e sobretudo vez mais as divergências de interesses com os portugueses no Bra-
acabar com o esquema administrativo das lezfrias, terras incul- sil. A nova Corte, dedicada à consolidação de um Império no
tas ao longo dos rios, vendendo e cobrando as oécimas e as .sisas Brasil, que deveria servir de,baluarte do absolutismo, não conse-
das vendas, ó que concorreria para multiplicar o número de pro- guiria levar a bom termo as'.reformas moderadas de liberalização
' .
priedades e para aumentar a produtividade, i'l;pedindo exten- e reconstrução que se prop-'.ís executar no Reino, aumentando as
sões de terras não-cultivadas.•~ . . .. ,, - tensões que vãv· culminar 1ia Revolução do Porto. · ·-·-
Contra a política do Príncipe Regente, ressurgiam os súores ~ -"!Ull)!~!..!..~~E!:..~S!.?J>.? ~ti~,--~~ ~':~~t~ram m33s qµ·~-~~­
mais conservadores do reino que, aferrados aos seus direito~ anti- J inicio não quiseran\
n -~_.----..-.., não .,t~~~~ia_
.... ___.._. ._.......,.__ . ~ brilp~nt_
çs_p.ara .o.~. hom~ru
------,--..-~--------=:-::--:---~~---..---:--------
os contribuíam ara dificultar ainda m is a devastação causada ✓- da geração_~:-.
in~~.ep!~~_::':~ .ª.s _P~!s_pect~vas da colónia para
_eela guerra na vida económica do país. A~, 6s o fim da luta, e .con- f b · transformar-se em nação e sobretudo em uma nação moderna
trariamente às ordens recebidas da nova Corte, a regência d: rei-
,1
no, ligada por laços de parentescos e ir.... rtsses a setores da n(.Jbre-
za agrária e ao clero, quis fazer continuai o sistema de imp')stos
·~;:~~1:~~hifó~~,::~d~::::;!:::!~:;,~;·
A
1

s~es inter~as sa"c.iais, raciais, da fragmentação, d~s regionalis-


extraordinários, que recaía sobre comerciantes e funcionários da ~ aP° mos: ~a .~a.lt~ ~~- ~n!dade q~e7ão- d~~~.m-;rg~·.; ·~o apã';e,im-~~ i'o
cidade, principalmente de Lisboa e do Porto.>0 A pressão inglesa e · âe-Üma consciência nacional capaz de dar força a um movimento
a política come~cial da nova· Corte fariam, entretanto, qü.e esta · r,(Xlp!)-1 rev9lu~J~?J!.~!!? A~post~, .~ ~~-' -º ~süu:·:- a-;ocieJaae. Não falta-
tam~m não pudesse contar com os seto~es mais progressistas do :a-m manifestações exaltadas d·e ·n;tivismo-~ pressões bem defini-
reino, interessados como estavam em meqidas protecionistas, nos das de interesses localistas. No entanto, a consciência propria-~_
esforços de industrialização ou em reconquistar antigos privilégi- mente •nacional" viria pela integração das cliverScls províncias e J
os mercantfüstas do comércio com a metrópole.ª' seria uma imposição da nova Corte no Rio de Janeiro ( 1840- •
-1850) co~guida a duras p·enas por meio da luta pela centraliz:.-
ção do poder e da "vontade de ser brasileiros?~ que foi talvez
IS Silbcn, Albert. Lt Por111:al medittrranün .à la fin dt l'J.n<itn Re:imt - XVIII' - uma das principais forças políticas m<'Jeladõrá~-do Império; a
dthut dw XIX sitck. Pari,: Stvpcn, 1966.
vontade de se constituir e.·de sobreviver como nação civilizada
19 Pereira da Silv3, Joio Manuel, op. cit., 1864-1868, vJJI, p.161, 165-7, 168, 280-3 t
349. . '
20 Ibidem, i>, 170.
21 Pittira Santos, Fernando. Ceo:rafia,. economia da ll,~alwf12o d, 1820. Lisbo.1:
Europa•Am4!riu, 1962; Sidtti, Sandro. Triide 11nd " - (lnform11l Coloni11lilm in 22 Sou:ra. Antonio Candido de Mdlo e. FonnaçAo da li1u11111r41 hrOJiltira (mommtos
,.._n,10 Port11111eu Re/11tions). Rottrdam: Rotterdam' Unlvtnity Press, 1970. ,l«ui..,). 2.cd. Slo Paulo: Uvrda Martins, 1964.
18 M~ria Odila uitc d~ Silv• Dias .' A intnioriz:açio da mctrópok e outros estudos 19
.... .
.
européia nos trópicos, apesar da sociedade escravocrata e mesti- rica espanh,ola ou pelos refugiados europeus. Inseguros de seu
ça da colónia, manifestada pelos portugueses enraizados no Cen- · status de homens civilizados em meio à selvageria e ao primitivismo
,
tro-Sul e que tomaram a si a missão de reorganizar um nov.o da sociedade colonial, procuravam de todo modo resguardar-se
Império português.23 A dispersão e fragmentação do poder, so- das forças de desequilíbrio. interno. A sociedade que se formara
mada à fraqueza e instabilidade das dassei'dominantes, requeria no correr de tr!s séculos de colonização não tinha alternativa ao,
1
a imagem de um Estado forte que a nova Corte parecia oferec.cr.l4 findar do ~culo XVIII senão tran~forrnar-se em metrópole, a fim '}
, A~ições, ~ -~E1-~ -~fer<:cia_~~~~~~~!-~-~- ~~.lRni~LO~<t de manter a continuidade de sua estrutura política, administrati- ~
[ e~~'!.1 .ªE~as a fon1~ntar mQvimentos pe 1.iP~~ção de -;unho pro-- va. ec.;;r.()mic.a e social. Foi o que os acontecimentos europeus, a °\
\ P_°.a~e!lte_nacionalis~ fie:> ~entido b1:1rguês _do século XIX. Desde pressão inglesa e a vinda da· Corte tornaram possível, ·


a vinda de D. João VI, portugueses, europeus e nativos ·e11ropei- A vinda da Corte com o enraizamento do Estado portu-
zados combinavam forças de mútuo apoio, armavam-se, despen- gu~s no Centro-Sul daria início à transformação da colónia em7
__ ,. ...
diam grandes somas com aparelhamento policial e militar,25 sob !1~.t-~_ópole i"nteri~rizada. -~eria esta a única solução aceitável
o pretexto do perigo da infiJt~::i~:ão _de,idéias jarr~_iqas pela Amé: para as dass~'> dominantes em meio à insegurança que lhes ins-
-piravam as ~9ntradições da sodedaJe colonial, agravadas pela
agitações do i.:onstitucionaíirmo portugu~s e !)ela fermentação
23 O Conde de Palmela, apesu de ter estado apenas 1ran,i1oriamcn1e no Rio de ··mais generalizada no mu·ndo inteiro na época, que a Santa
Janeiro, define extraordinariamente bem o ponto de vista dos ponugucsa que se
enraizavam no Brasíl, que tra, aliJs. o mesmo do, ilustrados brasileiros, i,1al- Aliança e a ideologia da cr•ntra-revolu~o. na Europa não che-
m,n1c curop~u.s. Em carta para 1, sua mulher, comertava Palmela: •falta gente g-,vain a dominar. Pode-se dizer que esse processo, que parte do
branca, luxo, boas estradas, enfim, f.aham muitas coiu, que o tempo dar4, mas
nJo falta, como cm Lisboa e seus arredores, igua e wrdura, pois mesmo nesta Rio de Janeiro e do Centro-Sul, soment.e =se consolidaria com a
cstaçto, • pior, temos ludo aqui Uo verde como na lncJatcrra- (Carvalho, Maria centralização poHtica realizada por homens como Caxia:.,
Amilia VaL Vid4 do D111111, d, P11lmfl4 D. P,dro d, So11u1 , Holsttin. Lisboa:
lrnprcnsa Nacional, 1891-1903. v.l, p.371•2). Nada Ela1ugutivo da visto dos
Bernardo de Vasco~~los, Visconde do Uruguai, consumando-
homens que íormar~m a nadonalidade brasileira d que casa citaçlo. • se politiamente com o Marqu~s de Paraná e o Ministério da
. 24 Paulo Pereira de Camo, cm •A cxperitncia rcpubli na (1131-1140)", ntud., a
poUtia da rcgfncia e cm partic,úr a tradição de gottmo Cone e ccntralii.adc/ de
Conciliação (18:i3< 8~G): ·
JoK Bonif.tcio, Evaristo da Veiga, Aurcliano Coutin~o. ligada ao, Interesses do Ainda estão por ser estudados mais a fundo o processo de
Pªfº• Jlessalta-sc a sua influtnda sobre liberais mln"ciros e paullstas, uprrua,
por exemplo, no item $Obre a •promcia metropolitana• na corutitulçlo elabora-
·~ennizã.mento da metrópole na colónia, principalmente pela or-
da pelos conspiradorC$ de Pouso Alegre:. O autor f.az confron·-, dessa tcndfocia ganizaçlo do comércio de ,abastecimento do Rio de Janeiro e
com o parlamentarismo dos barões de çaf~ no interior do Rio de Janeiro. Q fún.
damcntal ' c:-vidmtcmcnté à aniculaç.lo da lcndcndiau,oritiria e centnliz.adÓra·
conscqüenlc il,i.egrá~o do <·~ntro-Sul; as inte:-relações àe inte-
com o tradicionalismo localista (cf. Castco, Paulo Pereira ,-e. A experifncia resses comerciais e agrárics;._os casamentos em famOias locais, os
republic:ana (113l•IH0), ln: Holanda, Ságio Buarque de (O "é-) Hist6rio 1er11I do
civiliuf•" br111ikirc. Sio Pawo: Difd, 1964. t.11, v.11 _'p .ll).
investimentos em obras púl:llicas e em terras ou no comércio de
25 Pereira da Silva, Joio Manuel, op. ât., 1'64-1861, v.l~, p.40; v.111, p.J6, 52, 1;;1.
,, .
tropas e muares do Sul, no negócio de charque... processo este
.
20 Maria Odila Leite da Silva Dias
A intcrioriu~ão da metrópole e outros estudos 21
. '

presidido e marcado pela burocracia da Corte, os privilégic· ~ (abril de 1815), ao palácio de Santa Cruz para as jornadas de
administrativos e o nepotismo do monarca.» fevereiro, julho e noverr1bro (p.222), a um palácio novo no sitio
!5te é o tema recorrente nas cartas de Luiz dos Santos Mar- da Ponte do Caju que consumiria 77 milhões (p.232); cm feverci-
!ocos, que atribuía a contínua postergação da volta da Corte à • rode 1816, a um picadeiro novo que consumiria cinquenta mi-
~s_ão de interesses articulares 'v' é · , lhões e a uma cadeia nova "com, dinheiro arrecadado num dia de
soo em obras públicas. Em suas cartas, co Beneficio do teatro da Corte"(;,.260).
mo os enormes investimentos locais que faziam c:s principais Loterias e subscrições vol~_'ltáriàs atestavam os interesses de
--~ºm_:r.~ Ee r.~gócic,s da Corte demonstral'lpo sua intenção d~ enraizar a Corte. •Há..m.uitas c· muitas obras, mas são daquelas,
permanecer no país. Em carta de março e maio de 1814, atribuí-~ de que os pscudo-brasileiros, vulgo janeiristas, se servem para
o atraso àJ ~olta da Corte para Portugal à construção do Paláé,o promover o boato de persistirmos aqui eternamente~ escrevia
da Ajuda. Referia-se a Hletargo e silêncio': que encobriam interes- em carta de dezembro de 181~ (p.220). Também interessantes
ses particulares.27 A volta não se daria tão cedo: são as suas rcfcrtncias aos invútimentos particulares das princi-
pais fort~nas da Corte. . . -.
·· ·· i~ão ~ porque crescem áºqu1 ás obras dei mclh~r acomodaçã;: Etn novembro d., 1812, conta do soberbo palácio no Lago
futura, mas há cousas particulares e não sei 51expressõcs de autor:.
dos "Siganos• que construía José Joaquim de Azevedo, logo Ba-
dades, que fazem recear uma mui prolongada permanência nesse
rão do ruo Seco; cm agosto de ;s13 o mesmo "capitalista" cons-
clima. Por todas as repartições eclesiásticas, civis e militares há estas
truía um segundo palácio no sitio de Mataporcos, igualmente
aparfocias. (p.188)
' . · faustoso (p ..i54). Refere-se aos interesse_s de Fernando' Carnei-
As construções não paravam: refere-se, em sua correspon- ro Leão na real loteria do teatro São João (p.50 n.) e às proprie-
d~ncia, às rcfonnas do arsenal da marinha (p.215), a um palácio dades luxuosas de alguns ministro~; por exemplo, a aquisição
no sítio de Andaraí para O. Carlota residir (p.216), a um au- pelo Conde da Barca de duas casas por 45 mil cr:µzados, onde

mento no palác~o de São Cristóvão para o verão da familia real "vai fazer a sua habitação~ acresa:ntava com·evidente desagra-
do o bibliotcdrio de D. JÓão VI, que não via a hora de retornar
a Portugal
.. . - i Marrocos fornece algumas pistas curiosas sobre o enrai-
26 Visconde do Rio Seco. Exposiç1o analltica e justificativa da conduta e vida
pública do Visconde do Rio Seco. Rio de Janeiro, 1821 , Vu Ar9uivo do M111t11
zamento dos interesses portu&U:cses no Brasil não só em constru-
lmpcri11I A ~n,:,,, tradi(lo de depcnd~nda do poder rcal 'em t'ortugal ~cm .çõcs de luxo, mas também e, sobretudo, na·compra-de-•terras e no
descrita cm Racton, Jacomc. RfC,1rd11f6u. Londres; H. Brycr, 1113. ·
estabelecimento de firmas de negócios: "José Egídio Alvarez de
27 Manoco,, Luiz Joaquim do, Santo,. Cartas de Luiz Joaquim do, Santos Marro:
cos, escrita, à sua famQia cm Lisboa, de 1111 a 1821. AMil 8ibliottc11 N11cion11I, Almeida li vai para o Rio Grande ver e arranjar uma grande
•,
193 Y,S6, p.118•19.
fazenda que comprou por 63 mil cruzados e ali estabelecer uma
22 Maria Odila Leite da Silva Dias A interioriu'ç ão da metrópole e outros estudos 23
i'

'
fábrica de couros de sociedade com António de Araújo - minis- Um estudo mais aprofundado do mecanismo inerente às cl~
tro de D. João VI, Conde da Barca'~l•
TamMm continua pendente o estudo mais específico do re.;i-
onalismo e das relações da Corte com as províncias do Norte e
-ses d~ioarrcs no Br:uil colonial seria um grande passo no esta-
d o atual da historiografia da "independência': Viria certamente
~recer de forma mais esP.ecífica e sistemática a relativa confi~
Nordeste, em que se defina claramente a continuidade com a es- nuidade das instituições qué caracteriza a transição para o Im-
. .,.~L~
l_n,J)lrafoi!tica e administrativa da colónia. Como m•'.!§e pério. Quando se aprofundar o e~tudo do predomínio social do
) 1 interio~.~ ~~~.:~~~~o de J_ane~r:>~t~~2~~-~?.~.do comerciante e das intimas ir.terdependências entre interesses ru-
' ,1 novo Império portufil!ês_é:man~~~ntrole e; ! .~~2J9J.açã .· rais;"ti:lmerciais e administrâ't";vo~·; êsttfã aberto o caminho para
!.. das outras "colónias-,; ·do continente, -comd o Nordeste.11
••• ---•- -
· 0 __, ...: ___
!,,,,;, • •• -~••- ---4-••H,o. .,,-.• . ., •
• · • • :•• r:- .... -~ •· ' ~ -"' ,. .. ~ a compreensão do pro_cesso· moderado de nossa emancipação
Não obstante a elevação a Reino Unido, o surto de reformas
política. A instabilidade •.:rónic~ da economia colonial gerava
que marca o período joanino visa à reo:ganização da metrópole
mecanismos sociais de acomodação, tais como a conseqüente e
na colónia e equivale, de resto, no que diz respeito às demais
relativa "fluidez" e "mobilid~de" das classes dominantes, servin-
s:3pitanias, apenas a um recrudescimento dos processos de colo-
co.'llo for<;•· nct•tr:olizadora· ~ara abafar ~iw:rgências e impe~
, · ·:-lc.
nização portuguesa do século· ;111terior.'°
dir manifestaçl'.>es de descontentamento que multiplicassem in-
confidências e revoltas.
28 Carta de fevereiro de ,1814, op. cit., p.18S. Ver tam~m o levantamento dos bens A própri:1 estrutura social, com o abismo existente entre
adquicido, pelo Conde dos Arcos cm Monteiro, ~biu, op. cit., 1927, p.2-.4 n.
G Sugesti~o das relações .~nlrc antíga metrópole, a nJva Corte do Rio de Jan. iro e
u demais capitanias do Bruil kria a divislo de mercado cnuc a fábrica real de
uma minoria privilegiada e ·J resto da população, polarizaria as
forças poUtic:as, mantendo u~1ido~ os interesses das dasscs domi-
pólvora do rrino e a nova Cibrica de pólvora insut,&da no Rio (Pereira da Silva,
-;antcs. O sentimeritn de in~j~!~~.~ ~09-i~e o ..haitianismo", ou
Joio Manuel, op. cit., 1864-1868, v.111, p.151). Fica~am rC$Crvados cxdusivamcn-
tc para a fibric:a do Rio os mercados consumidores de Pernambuco, Bahia, Slo seja, o pavor de um:l insurreição de escravos ou mestiços como a n
Paulo, Rio Gr•nde do Sul, os portos da costa da Africa e a própria Cone. A
fibrica do reino só poderia vender para Açorei. Madeira, Porto Sanlo, Cabo
que se dera no Haiti ém 1794, não devem ser subestimados como t
Vmle e, no eontinmtc americano, para o Maranhio, Pari e Can (c.uu de 2-2 de traços típicos da mentalidade da época, reflexos estereotipados "\I
jlJ:lho de 1811, vJU, p.344). ~btm il11str11tiwi dll con1in11if.'.,de d11 poll1ic4 jisf'lll ~
da ideologia conservadora e da contra-revolução européia.'~fil~.~.
• o fato de a corte lar;ar novos impostos 1obre as provindas do Norte dcstin:ados
___!O eu,1eio de seu funcionalismo e de obras 1>1)Wico11, como •nia o caso do · agiram como força poli~iq cataUsadora e tiveram -~IT' paoel de-
aumento de imposto, de cxportaçlo de açúcar, tabaco, al~dlo, couros etc.
(v.111, p.55). Em julho de 1811, quando se t<>rnou n«aúrio levantar uma contri•
cisivo n~ ~o~iii.o. em gq~~T~&!.2E!1J!~~s-~ ~i:'e.~si.da~ês ?e inte-
buiçio de 120 mil cruudos para financiar a rcconsfruçlo do rcíno, a nova Corte resses ~~r~m: ~e~_~iy~~~.9:~_,as ..<:}~s_es.domina_ntes da cc,l?,i:1ia ..
lançou os ncccuJrio• impostos ,obre u provfncias do Norte: a Babia contri,nlir
ria com uuenta mil cn. ;ados por ano: Pernambuco com quucnla mil e
Mar;nhlo con: VUllc mil (carta ré1ia de 26 de juL.,o de 1111 ,.v.lll, p.285).
30 Semelhantes ao fato de as capitanias dirigirem-se para Us1,oa ou para o Rio de )1 Marrocos, Luls Joaquim dos Sant~~. op. cit., v.56. Ver Carta do Conde do, Aicos
Janeiro. Ver Vucoocdos, Antonio Luiz de Brito Ancto. Memória IObrc o c'11&• 1o1,ce rno1&as nqras na B:ahia. ct.' Martiru, Francisco de llocha. O últinio Yia-rti
bckcimenlo do lmptrio do Brasil M4is Bibliotta 'Nccioncl, v.4J•4, p.4). . ,lo B,uL UJboa: Oficinas Gii6cas do •A.B.C.': 1932. p.3S-6. •
2• Maria Odila L<:ire da Silva Diu /,. inlerioriz.açlo di m<lrópolc e ou1ros csrudos 25

t
Nesse sentido, são sugestivas as considerações e as inquiet.l- com relação à_propor~o exagera~ entre uma minoria br~nca e
ções dos homens das duas primeiras décad~ do s~culo XIX sobre propri~tária e urna maiória de desempregados, pobres e mestiços,
as perspectivas que poderia oferecer a colónia para·se transfor- que pareciam inq~·i;tá:f~s--~i;·d;q~~ à população·escrava. Ã
mar em nação. Para alguns utópicos e sonhadores, tudo eviden- fusêgúrânçã do desnfvel social soma~am-se os problemas advindos
temente parecia possível. Mas, no geral, homens de ãnimo mais .
da diversidade étnica de que portugueses ou nativos enraizados
eram muito conscientes: "em rortugal e no Brasil os homens de
ponderado, dotados de um senso arguto 1a realid_a de do meio
para o qual se voltavam com opiniões poqticas t onservadoras, senso conhecem que, deslocanrio-se o poder real, o Brasil se perde
.. conforme rt>queriain a época.e o-mf>~expi-ess...vam mil inseg,'a- para o mundo civilizado e Poriugal perde a sua inde~!ncia''.H
ranças e um profundo pessimismo, arraigado no sentimento ~e- Verdade é que Sierra y Mariscai apegava-se a uma ordem de
1
neralizado de insegurança social e de pavor da população e<~ra- coisas que a infiltração do cont~abando inglês na colónia e a
va ou mestiça: •... amalgamação muito difkil seri a liga de tanto marginalização económica e isolítica de Portugal no correr do
~metal heterogéneo. Como brancos, mülatos, pretos livres e e~- século XVIII já vieram desm1..ntir.>5 Não obstante a Corte e a
E"avos, índios, etc. etc., em u,:n corpo sól.icl() e poUtico" (escre, ia administi;ação portuguesa, a m~marquia e o pod~r real, o mito
José Bonifácio em 1813 para D. Domingos de Souza Coutinho~·:Jl da autoridade central pareceria sempre uma âncora de salv.. ç; 1
Sob o impacto das agitaçõe: constitucionalistas da revoi.1- e segurança, •po· isso é que o governo deve ter molas muito mais
ção liberal que viera ferventar as contradições internas da socie- fortes que em qualquer outra 'parte. A educação, o clima, a es-
, '
dade c.olonial, Sierra y Mariscai, em 1823, calculava que dentro cravidão sfo jwtamente a cau·sa desta fatalidade''.l4
de trés l\OOs a •raça br.. nca acabará às mãos de outras casta! ,: a. ·· ~orace Séi:, qu~ veio ao Brasil em ·1816, testemunha a falta
província da Bahia desaparecerá para o m~do civilizado'~" de unidade e comunicação entre as diferentes possessões portu•
Grande fqi~--ª.P~tn.s~Q. qita.n~o a R~v9l~i<2..f.2!!~~-a guesas no continente amcricano.n .Dez anos mais tarde, em pie-
volta ~e..~· Joã? VI para o velho reino puseram em perigo a conti-
nuação do .PO<!tr real e do novo Estado portugu& no Cent~o-Sul,
que os interesses enraizados em tomo da Corte queriam preser- 34 Ibidem, p.5), ·, •
'!ar. Além disso, grand~ e~ a falta de segurança social que sentiam 3S Sobff a marpnalíuçJo de Portug:al nos século~
~li t XIX. wr Manchen«, Alan
IC. BritW. Pr-iMn« in BraiL Winois: Univmiry of Nonh Carolina Prns. 1933;
as classe_s_ d~~a~tes em qualquer
. , . ponto
. da colónia; .insegurança .$tán. Stanley e Strin, Buban. 7M o,loni,r/ Htril•tt of Z..1in Amtriu (Ess41y, on
Ea111omic l)qffldnice in Puip«ti~,. Ncw York: 0:úord Univcnity Prcu, 1970;
t Bo:ur, Oiarlcs R. Tht Porl&:fUtU s,.1,ornt Empirt. London: Hutchinson, 1970;

32 Documc~ttrio 50brrI cormpondlncia de )o~ s ... nifác1o (laio. 1á2~i.. R~td ri~
Múwe:ll, ,-'.clllldh. P.:,11bal and"the nationaliz.atio11.0C luso-brazifün comrncrce.
HÜJ"lnit Amtric•n Hütoriul Ji~. no,·embcr 1968; Sidcri, Sandro, op. cit., 1970,
Hist6rid, v.xxvu, n.5S, 1963, p.226. Tra11-K do irmlo de D. Rodrigo de Souza
Coutinho. # cap.111 e VL
36 Siern y Marilcal, Francisco de, op. cit., v.43_., p.63.
33 Siern Y Mariscai, Fnnci1eo de. ldiias sobre a Rcvoluçlo do Bruil e ,u.u conK•
qOfocias. An•ü l'4 Bi/,liottu N•cio,u,I, v.0•4, p.6S. 37 Holanda, 5'rpo Buarque de, op. àt.·, 1962, p.16.

26 Maria 0dila Leite da Silva Dias
A interioriuç;,o da metrópole e outro$ estudos 27

no primeiro reinado, o ministro inglês Chambcrlain escrevia para


Pernambuco dissidente já do Rio de Janeiro. A Bahia nula em
Canning manifestando a sua grave apreerysão com a indiferença rendas e r~tos os elementos de sua prosperidade. O Rio de Janeiro a
e o descaso manifestados pelo governo do Rio para com os pr.,- ponto de uma bancarrota pelos esforços e sacrificios que tem feito e
blemas de miséria e seca que agitavam o Império, da Bahia para pelas perdas sofridas. As pro.víncias do Sul inquietas. As provfncias
o Norte, tornando cada vez mais iminente e perigosa a centelha do Maranhão e Pará nulas para o partido da revolução e tudo junto
de uma revolução que poderia cindi-lo." Conscientes de sua_fra- porlo o governo do Rio de Janeiro nas tristes circunstãncias de caí-
queza interna, os portugueses da nova Corte dedicaram-se a for- rem em terra com a carga, sem esperanças de mais se levantar.40
talecer a centralii.aç~o e o poder real, que os revoludcnários do
Podem-se vislumbrar, de~tro dos ·padrõcs da época, o caris-
reino queriam transferir de volta à antiga metrópole:
ma que teria a imagem de um -Príncipe Regente e a força com que
o Brasil t um p.fs nascente, um povoado ~e habitantes de diversas atra[a a massa de povos mestiços e desempregados, incapazes d _.
cores, que se aborrecem mutuamente: a força numtrica dos brancos se afirmarem, sem meios de expressão polftica, tomados de des-
~ muito pequena e só Portugal pode socorrfr eficazmente no caso de contentamento, que, em sua. insatisfação, por demais presos ao
4.u~•,r~r dissensão intern'.. ou atague externo. As capitanias não se condicionamento patetnalist~ Jo -:r..::h' e. n .!)Ue surg;; Jffi, . r,.vol-
podem auxiliar mutuamente, por estarem separadas por sctor.:s imen- .l'dvam-se cont~ monopolizadore:. do comércio e contra atraves-
sos de modo que aquele pais não forma ainda urr. reino inteiro e sadores de glnéros alimentícios. Porém, a Corte e o poder real
contínuo, 1_iecessita em conseqüência de sua união com Portugal, por fascinavam-nos como uma verdadeira atração messiânica; era a
!!)eio da carta constitucional que fará felizes ambos os pafses_. ..~ esperança de socorro de um ·bom pai que. vem curar as feridas
dos filhos~·Nem a febre do constitucionalismo chegaria a afetar
A fraqueza e dispersão da autoridade.µ lutas de facção tor-
' dr--.sticamente seu condicion.amento poUtko.
navam mais aguda a insegurança das contrâdições internas sociais
Ta;nMm as elas~~ dominantes tenderam a apegar-se à Cor-
e raciais, e estas identifi.:avam-se para os homens da época com o
te. Atormentados pei~ .falta c!c perspectiva poUtica e pelo desejo
perigo da dispersão e a desunião política entre várias capitanias.
de afirmação diante de {acções rivais, chamados cm sua vaidade
Para Sierra y Mariscai, que escrrvia e~_1C13, as·possessõe~-~~~-
pele., ·nepotismo do p1~:icipe, atra:dos por títulos• 1 e, sobretudo,
ricanas dos port:ugueses apresentavam um quadro desolador e
~~1~~-~~r~~-~ · 1e :~~~~g~~<::_- - - - · .. - . . - .. -. ,.
•O Ibidem, p.74.
41 Notc-.w o prisma liberal curiosamrn(c .fütorcido com qu,: Per:in da Silva ("f e:· , -
1164· 1861. vJI, p.47) critica o que üa um traço peculiar e arac,~rútico do equil!-
Ja Cana de 22 de abril de 1826 (Websta, Omln K. Gru,t Brillli,. ..:u111~ i11d~ndmct brio intemo das JaSICS dominantes'-~ col6nia; aitia csu contn o Nnáonamento
11/ lAtin Ãmmai. Oxford: Oxford Univcrlity Preu, 183'. p.JOI). páblico que ~ uma du chaYCI com.-que invnte contra o pnfodo joanino: "C.Onse•
39 Sierra y Marisc:al, Francbco de, op. cit., v.•3-•, p.12. gwnm lp&bncn&c cntnr para u R".,.niç6cs pi1blicu aJcuns brasileiro$, po,to que
• poucoa e nroa, deixando poli~ índq>ffldentes h.w:rativu e honrou5, ofuscados
28 Maria Odila leilce da Silva Di~s
.
A intcrioriuçlo da metrópole e outros estudos 29

ansiosos de assegurar sua autonomia lopd sob a proteção~ san- administração pública, dado o grande papel social que exercia
ção do poder central que viria afirmar sua posição cm rrí~io à na colónia.º
população escrava, ou pior, a turbul~ntia de mestiços que não A vinda da Corte l')averia de re~ltar traços já bem aparen-
eram proprietários. Além disso, precísavam dos capitais dos tes na segunda metade do século XVIII e que tendiam a acentuar
portugueses adventkios; firmavam com eles compromissl:ls de o predomfnio do ~a"~~rci~nte. Por isso, alarmava-se Sicrra y
proprietários e laços de casamento. O :Banco do Brasil oferecia Marisa.Í com a Revolução c!o Porto e com as manifestações hos-
vantagens para os que sabiam buscar a prote.cã~ política. tis aos comerciantes portui uese's:
1

•,

A falta de meios que tem essa espécie de aristocracia lhe p~1va de r~to o dique que continh;: as revoluções (o comércio}, não havendo
formar clientes e de fazer-se hum partido entre o povo, por~ •~e eles que~ supra a lavoura, esta nlio pode dar um passo. Um ano de
; mesmos são fraqulssimos e precisam da proteção do~ Nego~iantes gucrrH;vil aU>.Jiado do céu, !laturez.a da agricultura e topografia da
com que se honram muito. O Comércio, se se quer, é quem é o 11nico provfncia tem relaxado a ,Jisciplina da escravatura. Os Senhores de
corpo aristocrata.0 Engenho não tendo querr. lhes adiante fundos não podem alimentar
.. ·, . · · .. __os_escravos e !leste estado ?S es~ravos se subleva"l e a Raça Branca
/>~·º · s_
c . ~prof~ndar o e~tud? ~-º
pr~~-º~...!!l_i_o -~cial ,;o co- perece sem rem&iio.44
merciante
.
e da fntima interdependência entre in.tercs;~;-~-~-~·ai;-,
Sierra y Marisca] refletia o pensamento dos brancos e pro-
administrativos, comerciais, temos um ·quadro mais claro dos
prietários da Bahia e de ~ernamb~co, mas generalizava a sua
mecal'!ismo! de _defesa e coe.são do elitismo que era característica
apreensão para todo o Império português. Era a missão da
-~ n~ie~tal da. s~~_iedade do Br_asil ,o.lonial. forám laJ.1ça<fas Já -...::..., • . . ' 1

monarquia portuguesa salvar a raça branca e salvar-se a si mes-


as diretrizes de revisão do mito europeu da sociedade dual e
ma, porque, se um incêndío eclodisse nas províncias do No rte do
v~rias o~ras cxistc~tes analisam sob ntvos prismas a suposta
Brasil, •1evariam a dissolução e a anarq_uia a todas as possessões
d1cotom1a ou oposição entre interesses ~rbanos e rurais; iden-
pacificas da parte d'aquém do Cabo; sem que se excetuassem as
tificados, \!Onfundidos uns com 9s outr6s e harmo~izados pela
ilhas de Cabo Verde e Aço~es e neste terrível conflito a base mc~-
ma da monarquia se abalaria'~•s

pelo brilho e imponlnc~ social do funcionalismo. Apoderam .;e 01 e1plrito1 todos


de wna tendtncia para os emprego, administrativos que cawou e causa atualmente O 8GUJ, 01.rln R. Th, Colden ,,.,,, of Bra:il. Berkeley: University o( Cal iíorn ia
( ! 86_7) p-,ves prtjutz.o, l im/epcndfocia in<fividu.a.l e ao d~r.volvimcnJii m::-ral e Prcu, l96l p.63-70; !loxcr, Charle5 R., op. cit., l9(i9. Ruu.el•W!)od, /\. ). R.
matuial do puudo. A ambiçlo de viver dentro e dtbaixo da açlo e tuttl• do FU«i101··•11J'Pltil•ntlaropim: Sont4 C4s• d, Mistric6rdia of B11hio. Berkeley:.
governo rouba 101 indMdll0$ a ,ua própria libcrdaae, to) pauo que lhe nlo ·aueiu- Ualvcnity o( Caliíornia Prcu, 1968; Schwuu, Stuart B. The Desembargo do
ra • fortuna e nnn o Íllh.ro seu e da sua famOia e·ainnca '°' u
ofkios, arte&, 10 Paço. H.-,uc Amcric.tn Hisorital Rcvitw, 1971.
comlrdo, à inchb1ru, à, lflm e às citncias, cidadãos prestirno,os e inteliicnta': 44 Sian y Marisa.!, Francisco de, op. cit., v.0-4, p.72.
(2 •,
Sicrra y Mariscai, Francisco de, op. cit., v.O- p'!J2. 4S lclibcaa, p./a7.
A inlcrioriz.aç•o da metrópole e ou1ros cstua os J 1
30 Maria Odila Lci1c da Silva Dias . . _ -ff tviJJ.,
Yv ,{)\ . ~ '..if> Y>-ve' e,
. yy,,,Qt
~
classes menos favorecidas, muitas vezes identificadas com nati-
Os conflitos gç,ra..dos pela incompatibilidade entre o_absolu-
vismos facciosc.s ou com forças regionalistas hostis umas às ou-
tismo e de um lado,~ pol~ti~. m~r~ntilista da Coroa e do outro,
,l as pressões do novo liberalismo econó-~i~~.-~·ri~~d~ d~-~~~d~-: tras e por vezes à nova Corte, como seria o caso do Nordeste na
'• • , ,•~••.~.a -,-, ..., '!' 1..-•;.,..~ -..,_,,_. _,. _ •.:·•-.,._, . ___,..,. ,. - - . •

/ recimento do capitalismo industrial na I glatcrra; íorãm sem revolução de 1817 e na Conkderação do Equador-•'
---;--:·-·---·- - - -··.:.~,........:......._ .".,,,~--........... .T .,,"'···
, -c.. ~-· ,., ;,... .. -- - .- ·
Tanto assim é que os conflitos e as pressões sociais e raciais
,9...uv1da a chave-me~tra a <J!~aear as (o -s de transformação
no período. Dadas, porém, as peculiaridades s;a;ra~·;;~i~d~- contra o portugu~. rico, monopolizador do comércio e dos cargos
·ê !ec~fal brasileira, ~as não se identif~ram por imedi~to públicos, não seriam resolvidos pela "'independência" em 1822, nem
com "um movimtnto de liberta:.ão na.-:ional". Tamanha era a pe!.:. ..:bdicação de O. Pedro em_1831. Não se tratava de um mero
complexidade dos conflitos internos e a heterogeneidade dos re- preconceito chauvinista relaci9nado com a separação da metró-
gionalismos que aquilo a que finalm::1te assistimos no decorrer pole; era um co1iflito interno· inerente à socie~ade colonial e que
dos episódios das primeiras décadas· do século XIX, que se mesmo o Império não superaria. A lwofobia transparece conti-
convencionou chamar de "época da indepeQdfocia'~ é uma frag- nuamente nos desabafos da imprensa através de todo o século XlX,
0amento
~entaçã~ •~~lista ainda m~!or_ ~ simultane~mente um
ua p,c:stnç.; de portugueses_,. ,1 ·
r~~r~~es-
·
nas reivindicações dos "praieiros'.' da çorte e de Pernambuco (1848)
pela nacionaliiação do comércio a varejo, repetii~.'.::>-se em muitos
1
Ao contrário do que se dá na maior parte dos países da outros episódi~•s esparsos de violéncia, como o que se dá em
América espanhola, em que os ..creolos" expulsam e expropriaIJl. Macapá, em Goiana, em 1873,:4' e pela Primeira República adentro.
os espanhóis metropolitanos, assistimos, em torno da nova Cor- Se as diretrizes fundamentais da historiografia brasileira já
te e da tr~nsmigração da dinastia de Bragança, ~q ~maizam~n o estão bem definidas, pre~isam ainda ser mais bem elaboradas
de novos capitais e interesses portugueses, associados às classes por estudos mais sistemáticos das peculi~ridades da sociedade
dominantes nativas e tamb~m polarizadas em torno da luta pela colonis_l, permitindo..'n~s uma compreensão mais completa desse
afirmação de um poder executivo central, pois essas classes que- processo de interiorização da metrópole. que parece ser a chave
:nam -se fortalecer contra as manifestações de insubordinação das para o estudo da fo~~ção da nacionalidade brasileira. O fato é
, qu~ ~ te111ente Ja "'na<:ionalidade" nada teria de revôlucionário:
a monarquia, a continuidade da ordem existente eram as gran-
46 MareKhal, o miniscro austrlaco no cone do Rio de Janeiro, rcgistrou o fato de . des preocupações dos homens que forja~am a transição para o
Jo5' Joaquim da llocha, um dos principais promotores do •Fico• e cm cuja cua ·
foi assinado o manifes10 dos fluminenses, ler-se rccwado a aceitar o cargo de
ministro por achar neccsdria uma maioria de p~rtugucKs no, conselho, di) . ' •.
Prlr,ci~ ... (Mont~. T1.:..1.11s;op. cit., 1927, p.4,tS). No· manifato de justií~o, 47 Mota, Carlos Guilhc.me. Nordw,:· 1817 • Estruturos t orzumtntos. S5o P~ulo:
os revolucionjrios do Porto alegavam, inicialmeme, a evulc. de gente e de
Pcnpcctiva, ltn.
upital par2 o Bnsil e, em seguida, ~mentavam os efeitos do t••tado de 1810 e a 48 CavalcaAli, Paulo. Ef• dt Qiuiro~; 11i it11dor no Brosil. Slo Paulo: Companhia
perda do monopólio do coml!rcío do Bn,il (Pereira da Silva, João Man11cl, or'-
Wtora NacioAal. 1966. p.6l.
dt., 1864-1868, v,U, p.46 e v.111, p.26). · •

)2 Mari3 Odil• Lci1~ d3 Silv• Di~ s A i•,1 tcrioriuçjo da mclrópolc e outros estudos 33

Império: "também não queremos uma revolução e uma revolu· Jos a amparar o status d~s "empobrecidos"n e a manter a har-
ção será se mudarem as bases de todo o edifício administrativo inonia do corpo social; eia o caso das santas casas, dos conven-
e social da monarquia; e uma revolução tal e repentina não se :tos, das ordens religiosas, do funcionalismo público em geraP>
pode fazer sem convulsões desastrosas, e é por isso que não a • Não se pode subestimar o papel do telitismo burocrático1na
0
desejamos". 'sociedade colonial, pois explica cm grande parte a íntima cola-
A semente da integração nacional seri~l, pois, lançada pela boração entre as classes domin?i1tes nativas e a administração
nova Corte como um prolongamento da adxpinist_r.. ~ão e da es- pública portuguesa, que vive a súa fase máxima com a vinda da
'
trutura_colonial, um ato de vontade de port~gueses adventkios;
~ - ,. Corte e a fundaçio.do.r.ovo Império. ·
cimentada pela dependência e colaboração dos nativos e forjad:1 Nessa época, absorvidos na engrenagem maior de uma polí-
pela pressào dos ingleses que queriam desfrutar do comércio se~n tica de Estado, empenharam-se ativ_a mente os ilustrado~ ,'1rasi •
ter de administrar... A insegurança social cimentaria a união das i'eiros na construção do novo lm~rio dos trópicos. A ilustração
dasses dominantes nativas com a vontade ãe_sê_r br°ilsifeirÕs" â'os
. • J..,_., . . ..
brasileira não pode ser, pois, idemificada com "anticolonialismo"
portugueses imigrados que vier~m fundar um ·novo Império ~"~ ou com a luta d:i colónia c0nrr1 a _'Tl~trópole., · .. .. .
••• 1 • "' '( _ . ... " " " - - -- --·- - .-~---

trópicos. A luta entre as facções locais levaria fatalmente à prOCl!.. Estadistas como D. Rodrigo de Souza Coutinho ou o Conde
ra d~-um apoio mais sólido no poder central. ps conflitos inereri- -da Barca tinham CC'mo missão precípu..t a tarefa da fundação de
tes à sor:icdade não se identificam com a ru~ura política com a um novo Im~rio que teria como ~de o Rio de Janeiro e que deve-
Mãe Pátria, e continuam como antes, relegados para a posteridade . ria impor•sé.s.,bre as demais capitanias. E para esse trabalho con-
.A pa;rtic:-? ação dos ilustrados brasileiro~ na aélministraç~o taram com a ·ú>Jaboração e oempenho dos ilustrados brasileiros.
pública portuguesa é fenómeno característico e muito peculiar Com a vinda da Corte, pela ·primeira vez, desde o início da
às classes dominantes da sociedade colonial.so O "elitismo buro- colonização, configuravam-se nos trópicas partugueses preocu-
crático" era uma das válvulas de escape da instabilidade econó- pações próprias de um~ colónia de povoamentosc e não apenas
mica sabiame~.te expressa no ditado do ~éculo XVIII: "Pai
taverneiro, filho nobre e. '1eto _i:n.er.Jicant~~s: Essa instabilidade
económica gerava mecanismos de acomod~~ão social destina-
• 1 52 Vilhma, l..u1s d°' Santos. Notkias Sotcropalitaniu d« &hia. Bahia: lmprtn~ Ofi•
eia!, 1921, cana 1, p.0-5.
SJ Boxcr, Ourla R., op. cit., 1962; Boxcr, Chotlcs R., op. ci1.• 1970; Russd -Wood, A.
J. R., op. áL, 1!61- . .,. -. .

49 Correio Brazilicmc, 11.Y..'<.1\; ; . 21. 54 -uma du colsu qut conc~rr;~ muito p,m o aumc~tc da populaçio t • provi·
50 Dias, M•ria Odila Leite da Silva (Aspcctos da ilustr • -;!o no Brasil. Re vista ,/µ déncia d, «oi,omia e polítiu de todos os povos que habitam u cidadu, vilas e
Instituto Hi116rico t Groirdf,to Brasileiro, v.278, p.100-70, jan.-mar. 1968. Et1c lexto aldeias e ainda mamo o, mais insignifi.:ant~s lugares; para o que convtm prové•
cncon1u-,c cdi1ado nc,1c volume. los de tudo eqi&ilo que dcs n«nsilam, cuja &lta faz muitu veza ficarem dcscrus
51 Boxcr, Charlu Jt., op. cil., 1962, p.13. u tcrru, poi. • habitantes íogcm de reliwir cm wn altio, oo4c íaltam u comodi•

1
J• Muia Odila Leite da Silvi Diis A intcrioriuçlr da metrópole e outros euudos 35

de exploração ou feitoria comercial, p~-~ue no Rio teriam..s_ue instalação de obras públicas e- do funcionalismo, aumentaram
_yiver e, para sobreviver, explorar "os enormes recursos naturais" os impostos sobre a exportação de açúcar, tabaco, algodão e
e as potencialidades do Im ério nascente, tendo em vista o-fiti,- couros, criando ainda uma série de outras tributações que afeta-
mento do bem-estar da própria população loca . ~r_! ~~~!....qu~-
~
,.,- vam diretamente as capitanias do Norte, que a Corte não hesita-
riam firmar o trat~do_de 1810 e~ abertura dos portos "de manei- va ainda em sobrecarregar com a violência dos recrutamentos e
ra que, prom~vendo o comércio, pudes~~ ~~ ~~lti;~d~;;;do com as contribuições para cobrir as despesas da guerra no reino,
~rasil ·_ac,~ar_º . !ll~lh~r ~º~!.u~_o pa_ra_os~f~u;_jj"jõ.5fut~}.=s_u~ aàf na Guiana e no Prata. Para governadores e funcionários das vá-
~ J ~.,U!}.o~ adiant_a m~nto _ria ge_t l cultura e pov~;ção nas capitanias, parecia a mes~~-coisa dirigirem-se para Lisboa
deste vasto território':ss Promover o povpamento, ou para o Rio de Janeiro.57
- --- - --··-- . .. .... .
,_
Pc-lo menos uois dos ministros de D. João VI tinham expe-
o aume:,to da :agricultura, as pl:mt:içõcs de dnh:imo, especi:iri:is e de riência na administração colonial.sa Os governadores das várias
outros g!neros de grande importãncia, de conhecida utilidade, assim capitanias continuaram com ,s atribuições militares despóticas
para o consumo interno como para exportação, a extração dos pre- que tinham ante~_. ~p~sar das boas aQministrações do Conde de
.. ..
ciosos produtos, dos reinos mineral ~ vegetal e que te~:no ·aniinado e
.,
Palm; em Min;.s .Gerais e do Conde dos Arcos na Bahia, não _
protegido.. .')6
serviam os gover~1adores de bO"n~ cios ou unidade entre as várias
regiões da colónia, tran-:ando--se em suas rcspectivas jurisdi~õcs,
Déspotas esclarecidos e fisi!'.)cratas il\..diam-se exagerando os
cometendo excesso~ e arbitra:iedadcs e de!respeitando muitas
recursos das novas terras e estavam toma9os peJa febre dos. me-
vezes a ·.aut.;riJ,u!e eh Cor~e.s.- "Ê inegável, entretanto, os esforços
lhoramentos materiais. Reservavam priviUgios para o Centro•
feitos pelos ministro~ do~~~~~i~ Re;-n~~~r~-t~~n~r__m~.is e~--
Sul, onde se instalara a Corte: A fim de custear as despesas de
ciente ·a r..cntráffiãçiõ ;4ministrativa pela nomeação de juizes de
fora repr~;~~~t~s-do ~J;>Od~,~~entraCalentos à m1ssão-·dc _,O~~-
denar ~ ~teresses l~is com os da nova Corte.
ª'
dada n«aâN,. Pan K poder dar precisas providmáa~ tendentes a tlh'::fim, Al~m disso: preocv:,Õ~: ~;-a Corte·; ;.; abrir .:s(radas· e, fato
impona muito lndapr quais do os gtncros indispcndvci1 para a 1ubsistmc"ia da quase inMito, em melhora: _as comunicações entre as capitanias,
vida e (aur-sc com que eles nlo faltem cm cada lucar, que cm todos ,e plante a
mandioca, ou o trigo, mjam açougues provido,, Pfrnat" de frutos, ~1101 para
toda • qualidade de gados, tavernas de comestlveis e mffadoriu ~is concordei
com o uso e coruumo da terra, que hajam oficiais de todos e.. oflcios mcâr.icos,
Mldico·o11 Clrurcílo e o mais conduccn(c ao Bem- Pl11>:ico de cada poYCI ·ç!o•l -._.s, .;,:A1in,, Francisco de Rocha, op. cil•, 1932; p.Jti-9.
.-
proporçlo da sua crandcu e do seu lu.xo pois vm isao não se podem rc;cr 01 SI Foi o CISO ele Fernando Jo,, dt Ponugal, vice-rei no Rio de hncíro de 16JI 3
povos" (VaKOMdos. Antonio Luil <lc Brilo ArasJo, op. cil.. , :13.4, p.)l). 1106 e do próprio Conde dos Arc,,s (Oliveira Uma, Manuel de, op. ci1 .• ,·.!,
SS Pereira da Silva, Joio Manuel, op. cit., 186-t-1167, v.111, p.274. p.171-3 e llO).
56 Ibidem, p.2&J. S9 ~mra da Silva, Joio Manuel. op. cit., 1864-1868, v.111, p.156 e 211·9 e 291.

36 Maria Odila Leite da Silv~ Di~1 !\ intcrior iuçilo Ja mctrôpolc e outros estudos J7

em favorecer o povoamento e a doação ,de sesmarias. Tinh.,. m Abriram-se camin~os do interior para Ilhéus e para o Espí -
como fé obsessiva aproveitar as riquezas "de que abunda ; ste rito Santo e outro de Minas Novas para Porto Seguro.6S ~ ::<li-
d itoso e opulento país, especialmente favorecido na distribuição ções da colonização portug~esa e o .ara.de integração e conquista
de riquezas repartidas pelas outras partes do globo";'° precisa- dos rec~.!i21Jl~.turais delineavam a imagem do governo central
vam incrementar o comércio e movimentar meios de comunica- r~:;ccessário para ne-~t~;·1iiar os conflitos da sociedade e as
ção e transporte." Além dos estrangeiro-:, contin~aram os via- forças <Te-dcs_F~~g~~-~~-~:.~~~'. .
jantes e engenheiros nacionais a explorar o in•erior do país, a Essa "tarefa" de reforma 'J construção absorve~ os esfo~~!~
• ' J, ••

~;;;iki~~~-a Str'.1iço Ja Corte por~u,g_~~s~ ~ nela. ~e


0 0

realizar levêln~amen'. 05 e mapas topográfic-,s para o que foi es;-)e- do,s illl~I,edos ~
cialmente criada uma repartição no Rio 4e Janeiro.61 Levant6 u- i:i,~lçiaria a ger~-~ã;d;:;,~d~~r.iÚncj,( Não ~e devem subesti-
se uma carta hici1 o~ráfica das capitanias lomprcendidas entre o mar as conseqüências advindas desse engajamento numa política
Maranhão e o Pará; foram enviadas expedições para examinar de Estado portuguesa; marca \Jrofundamente a elite política do
os rios tributários do Amazonas. Tentararri dar acesso ao com.~r- primeiro reinado e teve influê11cia decisiva sobre todo o processo
cio do .M.itto Grosso pelos rios Arinos, Cuiabá e Tapajós, liga1;do de consolidaç~o do Impé rio , _principalmente no sentido i:lc .
· Mato Gros·s~ p·or via flu~ial e terres~-~e c~m São Paulo." Atr::vés arregimentação de forças pu; ...icas,· pois proviria em graf\de par-
do Guaporé, Mamoré e Madeira, encontraram o caminho que te daquela cxpc1 iência a imagem do Estado nacional que viri:1 a
poria em contato o Amazonas com os sc:tões do interior do se sobrepor áos interesses loca)istas. Algumas décadas após a In-
país. Concederam-se privilégios, estatuto~ e isenções de impos- dependênéia (1838-1870), chegariam os ilustrados brasileiros a
tos p:ira uma companhia e. ;i;>;Vçgaç:ío !!~viat "' 0 Tocantins e o defini; scu'naciona'iismo didático,66 intcg;ador e progressista , e
Araguaia foram explorados, embora nãq se tivesse chegado a uma consciência nacional emin~ntemente elitista e utilitária .
organizar uma companhia de navegação regular. Em Goiás, vá-
rios "capitalistas" se reuniram e começaram o trdnsporte regular
pelos seus ri-,s. Também foram mais bem investigados os rios
Doce, Belmonte, Jcquitinhonha, o Ribeirão de Santo Antô.1io
do Cerro do Frio, em Minas Gerais.

60 A!var~ de 24 de :,o•~.ml-(o_d! 1813 (Ibidem, v.111, p.) •8).


61 Cart- rtgia de • de dezembro de 1813 (Ibidem, v.111, p.H S).
62 Oliveira Uma, Manuel de, op. cit., v.l, p.255.
6) Ibidem, v.11, p.789. 65 Vasconcelos, Antonio Luit de Brito Ar~g:l.o, op. cit .. v.H·•, p.• 3.
64 Pereira da Silva, Jo1o Manud , op. dt., 186• -1868, v.111, p. 133.
. 66 Souu, Antonio Candído de Mello e; op. cit., 1964, v.11 .

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