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1 – Introdução
Parece à primeira vista, que temos muita informação sobre este personagem. Ele
aparece logo no início dos evangelhos de Mateus e de Lucas, na descrição do
nascimento de Jesus com uma completa genealogia.
Mas, depois desta imponente introdução, fica-se com uma certa desilusão, porque
além destas passagens relacionadas com o nascimento de Jesus, José só volta a
aparecer uma segunda vez quando Jesus tinha doze anos de idade e nunca mais é
mencionado, pelo menos nos textos canónicos da Bíblia.
A maior parte das informações encontra-se nos textos apócrifos, mas parecem-me
pouco credíveis e fruto da piedade dos seus autores.
2 – Origens de José
Também Lucas 2:4, confirma que José era da tribo de Judá, a mesma do Rei
David, pois teve de ir da Nazaré na Galileia a Belém na Judeia, cidade dos seus
antepassados, para o recenseamento ordenado pelas autoridades romanas.
Na Judeia, terra dos seus antepassados, a precipitação média anual não vai além
dos 100 milímetros por ano, enquanto na Galileia, esse valor é de 700 a 1000
milímetros por ano. Nazaré fica na baixa Galileia, região predominantemente
agrícola, enquanto as árvores que poderiam fornecer matéria-prima para a pequena
indústria de José, cresciam na alta Galileia e deve ter sido bem árduo o trabalho de
levar os troncos para a sua oficina
4 – Profissão de José
De acordo com Mateus 13:55 e Marcos 6:3, podemos concluir que José era
carpinteiro e como era natural nessa cultura, em que os filhos geralmente seguiam
a profissão dos pais, José ensinou essa profissão a Jesus.
Mas, temos também os vários tipos de carpinteiros dos nossos dias, desde o
carpinteiro de cofragem da Construção Civil, ao carpinteiro especializado em
móveis vulgarmente conhecido por marceneiro, até ao carpinteiro de Construção
Naval, talvez o mais especializado dos carpinteiros.
Muito mais difícil é saber o que era, e o que fazia o carpinteiro na época em que
José viveu.
Julgo que esta informação da profissão de José, é a mais importante para este
estudo.
Isto significa simplesmente que nessa época as profissões não tinham equivalência
às dos nossos dias. Ainda não tinham surgido as profissões de Arquitecto nem de
Engenheiro de Construção Civil e quem exercia estas funções era o carpinteiro ou o
pedreiro mais experiente e especializado.
Penso que o carpinteiro dessa época engloba várias profissões dos nossos dias,
pois nós vivemos numa cultura altamente especializada, em que cada profissão se
desdobra em várias especializações. Agora, já ninguém fala nos sábios que
antigamente pretendiam saber tudo. Há cerca de 50 anos havia os Engenheiros
que pretendiam saber tudo de engenharia, o que é impensável nos nossos dias em
que há engenheiros das mais diversas especializações.
Primeiro, pegava no machado e procurava uma boa árvore, para obter a madeira
para o seu trabalho, numa época em que ainda não havia os madeireiros dos
nossos dias. Para isso, teria de trepar às montanhas, pois na maior parte do
território de Israel só havia pequenos arbustos.
Este pormenor, como já dissemos, pode explicar porque é que José, sendo
descendente de David, da tribo de Judá, foi viver na Nazaré, que ficava na Galileia,
onde não podia possuir terrenos de acordo com a lei judaica, embora nessa época
já estivessem dominados pelos romanos e não sabemos se essa velha lei que
dividia o território pelas várias tribos, ainda seria cumprida a rigor. Mas penso que
José terá sido bem recebido pelos nazarenos, não só por ser pessoa simpática e
pacífica, como pela sua profissão, pois vinha implantar mais uma indústria e
arranjar postos de trabalho na pacata cidade de Nazaré.
Certamente que os troncos das árvores seriam arrastados até à sua oficina na
Nazaré, possivelmente com a ajuda de bois para esse trabalho. Mesmo admitindo
que as árvores maiores cresciam no alto dos montes, sendo este trabalho de certa
maneira facilitado pelo declive do terreno, certamente que essa seria uma fase bem
difícil da sua profissão.
Mas, continuamos com as nossas dúvidas. Que fazia ele com esses grandes e
pesados troncos de árvore? Nessa época ainda não havia serrações com serras
eléctricas, muito menos estufas para secar a madeira.
É principalmente neste pormenor que podemos obter uma “fotografia”, mesmo que
desfocada de José.
Todos esses troncos de árvore, tinham de ser serrados manualmente para depois
serem secos ao ar quente e seco da Nazaré.
Não sabemos bem como era o machado e a serra de José. Nessa época, cerca do
ano zero da nossa era, o bronze já tinha sido substituído pelo novo metal, o ferro,
que iria mudar o mundo, mas não podemos confundir o ferro fundido com o aço dos
nossos dias. Era certamente uma pesada serra de ferro fundido, manobrada por
dois homens, um em cada extremidade. Trabalho muito violento, para transformar
os troncos em tábuas que pudessem ser utilizadas na sua carpintaria.
É impensável que José fosse o velhinho que andava agarrado ao seu cajado, como
nos mostram muitas imagens, fruto da “devoção” dos crentes, com a intenção de
“comprovar” a virgindade perpétua de Maria, pois esse respeitável velhinho dessas
imagens, nunca poderia ser o verdadeiro José, o carpinteiro dessa época.
Se Jesus era o Filho de Deus, também não o consigo imaginar um jovem pequeno
e magro. Aliás Lucas 1:80 informa-nos que ..o menino crescia e se robustecia em
espírito... dando a entender que foi um jovem à altura do seu pai adoptivo, pois se
não fosse assim, não poderia ser também carpinteiro como José. Marcos 6:3
Nós os portugueses, por influência da nossa Nazaré que é vila piscatória, somos
tentados a imaginar a Nazaré bíblica ao pé do Mar da Galileia, o que não é
verdade, pois estava a uma distância de 25 quilómetros. Isto parece à primeira vista
afastar a possibilidade de José ser carpinteiro de construção naval.
Mas não podemos raciocinar com base na realidade dos nossos dias, em que todos
os estaleiros se construção naval estão ao pé do mar.
Para um hábil carpinteiro como José, arrastar o barco por esses 25 quilómetros,
talvez fosse mais fácil do que arrastar os pesados troncos necessários à sua
construção. Aliás, sabemos que em Corinto já havia a técnica de levar barcos pelas
estradas. Esses eram barcos de mercadorias e passageiros, que navegavam no
Mediterrâneo, certamente muito maiores do que os barcos de pesca, do lago a que
chamamos o Mar da Galileia.
Noto também uma forte ligação de Jesus aos homens do mar, nomeadamente os
pescadores, que pode ser o indício do que terá sido a sua vida desde os 12 até aos
30 anos. Grande percentagem dos apóstolos eram pescadores, muitas das
parábolas estavam relacionadas com o mar e a pesca, além de Jesus mostrar que
estava perfeitamente identificado com o ambiente do Mar da Galileia, embora esse
pormenor possa ser atribuído à sua natureza divina.
Admitindo que José foi carpinteiro de Construção Naval, uma das dificuldades do
seu trabalho seriam os 25 quilómetros que separam Nazaré do Mar da Galileia,
através dum caminho montanhoso. É verdade, que não se sabe por onde passava
a tal estrada, ou simples caminho da Nazaré ao Mar da Galileia, pois não ficaram
vestígios arqueológicos como no caso das vias romanas, mas qualquer engenheiro
civil ou topógrafo ou outro profissional ligado a estradas, em face duma planta
topográfica suficientemente ampliada, não teria dúvidas em “adivinhar” qual a
provável localização dessa estrada ou caminho, pois nessa época não havia
máquinas para grandes trabalhos de escavação ou terraplenagem, muito menos se
podia pensar em túneis, e a conclusão seria sempre uma estrada de montanha com
várias subidas e descidas. Também o relevo obrigaria a muitas curvas e os 25
quilómetros de distância em linha recta, por estrada seriam certamente muitos
mais.
José não quis acusar Maria de infidelidade e resolveu deixá-la em segredo. Nem
sabemos se terá exigido do pai de Maria a devolução do que lhe teria pago, como
era tradição entre os judeus. Penso que esta atitude não nos mostra um homem
justo, muito menos se pensarmos no que era o homem justo nessa cultura. Eu
preferia chamar-lhe de homem pacífico, conciliador, um homem bom, que preferiu
ficar prejudicado a apelar para a justiça a que tinha direito.
Muito se tem dito de Maria como a mulher escolhida por Deus para a concretização
dos Seus planos, mas penso que o mesmo podemos dizer de José, que também foi
o homem escolhido por Deus.
Em Mateus 2:13/14 e Mateus 2:19/21 temos novas aparições do anjo a que José
prontamente obedece.
Quando encontraram a Jesus, foi Maria que perguntou: Filho, por que nos fizeste
isso? Trata-se duma pergunta que tem um certo tom de repreensão. A atitude de
José e a precipitação de Maria, numa altura em que tal era bem compreensível
devido à sua preocupação, mostram um homem pacífico que não intervinha sem
necessidade, pois se houvesse alguma repreensão a fazer a Jesus, era a ele, como
chefe de família que competia tomar a iniciativa. Mas afinal, nem José nem Maria
compreenderam a resposta de Jesus.
7. Conclusão
Não há mais referências a José em toda a Bíblia. A informação que temos é pouca,
mas já nos basta para “vermos” um homem fisicamente grande e forte, com
qualidades de chefia que se impõe não pelo seu autoritarismo mas pela sua
competência e espírito pacífico e tolerante, além de ser um verdadeiro crente, que
cumpriu a função para que o Senhor o chamou, pois quando Deus o escolheu, bem
sabia quem era José, o escolhido do Senhor.