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Assistimos o surgimento da criança, de modo não ingênuo, no conto de João e Maria,

popularizado pelos irmãos Grimm, aparecido de uma tradição oral longíquoa que provavelemente
aponta para uma um comportamento comum no século XIX, na Europa, onde se destaca a dureza
para a sobrevivência desde a Idade Média que marcado pela escassez da comida naturalizou o
infanticídio como uma prática comum, seja por meios diretos ou indiretos, ao deixarem se perder
na floresta para que morressem. Da mesma forma aconteceu com a Branca de Neve, amenizada
pela tradição Americana, ao qual a madrasta ou mãe-ruim, consegue persuadir ao pai que
abandone seu filho na floresta. A marca da fome é igual em João e o Pé de Feijão, Peter Pan com
os meninos perdido, abandonados e adotados carentes de mãe que vão para a Terra do Nunca
porque “caíram” do berço e não foram socorridos pelos pais.
Desde o Século XIII temos conhecimento de que existia na França a abertura da primeira
agência de amas-de-leite, inicialmente restrita apenas à aritocracia até o século XVI e torna-se tão
poupular o hábito de contratá-la que até o século XVIII que ocorre o escassez destas.
Em levantamento policial na França do século XVII das mais de 21 mil crianças nascida em
Paris, apenas mil eram amamentadas pela mãe e outras mil pelas amas-de-leite. Nesta época
tanto a taxa de mortalidade era absurdamente alta, assim como o número de crianças que jamais
conheceram o olhar materno da mãe. Segundo os relatos da polícia, algumas crianças foram
enviadas além muros para serem amamentadas e ao voltarem ao encontro de suas mães não
encontraram nenhum sinal de alegria ou ternura. Aliás, eram alvo de denuncia severas as mães
que porventura oferecessem carinho aos seus filhos sob a alegação de que a amamentação
voluptosas debilitam os corpos pelas delícias, de acordo com o pregador J. L. Vives, na obra A
Instituição da Mulher Cristã, traduzida e reeditada inúmeras vezes nesta mesma capital.
Fato que o infanticídio e o abandono nas portas de classes mais ricas ou dos futuros
patronatos não eram sem culpa, quanto a isso nos garantem os detalhes dos relatos e imagens de
bilhetes deixados presos à roupas das crinças ou deixá-la com o seu brinquedo favorito, por vezes
único. Ao que os atuais enxovais luxusos dos bebês nascem do desejo das classes com melhores
aquisições comprovar que esta criança não terá o destino dos pobres, ao qual em contra partida,
marcamos a recusa da oferta do seio como um sintoma do desejo inconsciente da mãe sobre a
morte da criança.
A visão tridimensional de mãe nem sempre existiu, isto é a tríade de esposa, mãe e mulher
que não é uma disposição psicológica original, mas uma realidade criada socialmente e que em
ato contínuo impactam no arranjo psíquico, assim como o sentimento da infância e aos infântos
se estruturassem na mentalidade e solidificasse o comportamento de amar. A família era social e
não sentimental. Portanto, somente depois do Século XVIII que surge a marca da família moderna
que tem por característica a intimidade e a ternura entre pais e filhos.
Por volta dos anos de 1760-1770 que começam a surgir a figura do Menino-Rei, o Príncipe,
o Herdeiro, o Preparado, que encontraria ecos na Igreja Católica, aparelho ideológico, que em
seus ritos inicia vagarosamente a devoção do Menino Jesus, em Praga, Portugal (1620); e, Nossa
Senhora Menina, em Todi, Itália (1735), que porventura, até então, tida como “loucura” e
“devanieos” a devoção de Santa Teresa de Ávila pelo Menino Deus enclausurada em seu mosteiro
(1515-1582).
Em contrapartida da criação de uma criança depositária de esperanças, tradições e
tesouros da sucessão familiar, seja pelas benécies morais ou financeiras, emerge a necessidade
de criar uma criança a ser temida pela possibilidade de fracasso por sua natureza corrompida pelo
pecado original concupiscencia, que tão logo deveria ser amenizada pelo batismo cristão católico,
pois se for dada ao natural logo seria capaz de produzir todos os crimes possíveis. Nesta teoria se
destaca Santo Agostinho que não tarde de associar o comportamento ético e a aprendizagem ao
estado da graça, isto é, a plena comunhão com Deus, haja vista, que em suas confissões afirma já
saber ler antes de ser alfabetizado e que a aprendizagem são revelações vindas da Cidade de
Deus, fonte de todo conhecimento e felicidade. Desta forma assistimos a criação de uma nova
forma cuidado com o infanto. O teólogo ao contrário do psicanalista, vê na relação mãe e filho a
fonte de má educação, enquanto este segundo afirmará que é pela primeira relação bem
sucessedida que virá o bom equilíbrio emocional e moral da criança. A Pedagogia-Cristã,
promovida pelos teólogos, produz vasta literatura de como educar e proceder neste trabalho
ascético que vence o espírito leviano privando-o do excesso de amor e cuidados.
Em Descartes, francês do século XVII, o racionalismo endossa a visão cristã e aponta a
infância como uma fraqueza do espírito, ao qual o corpo domina é quem domina e atrapalha as
faculdades do conhecimento do espírito por falsas ciências; e, associa a causa dos erros dos
adultos ao fato de um dia terem sido criança. Logo, ser homem e digno deste nome faz-se
necessário expurgar este passado negro de dentro de si.
Somente a partir do Século XVIII que começamos a notar o embrião da concepção de
criança que temos hoje:
1. No século XVIII pela primeira vez a criança é chamada de poupon, isto é bebê, uma
boneca, um brinquedo, uma diversão engraçada que produz coisas divertidas, um
pequeno ser sem personalidade dado à modelagem dos adultos. O mecanicismo
médico do mesmo século contribuiu para ver a criança como algo fácil de modificar
em seus princípios concendo à medicina e à educação a salvação do destino do
homem. Embora existindo um saber médico sobre a criança, foi apenas no Século
XIX que surge a pediatria com um saber específico e atento às doenças infantis,
comumente recusadas serem vistas pelos médicos em prol de classificá-lo como um
problema exclusivo da mãe. Os primeiros pediatras sofreram grandes perseguições
intelectuais pelos conservadores que exigiam ser a medicina única entre o adultos e
crianças.
2. Também somente no século XVIII que as crianças entram na literatura com
narrativas próprias desbancando a tradição de La Fontaine pela inventividade de
Molière.
3. Neste momento que termina a indiferença materna sobre as crianças dado que a
possibilidade do infanticídio pelas razões já declinadas ou a morte por qualquer outro
motivo como fome, doenças, guerra ou outros azares da vida, conduziam a mãe
proteger-se contra apego para que não sofresse as perdas que corriqueiramente
sofriam pela morte da criança.
4. A indiferença nesta época iniciou seu declínio colaborado pela diminuição de uma
atenção seletiva autenticado de acordo com as necessidades como os custos-
benefícios dos dotes, alianças entre famílias, patrimônios ou títulos nobres.

Conforme já é possível notar foram os poderes públicos, da Igreja e da escola que


impulsionaram a crítica da naturalidade do infanticídio, secretamente tolerados e inventaram
regras e condições de higienização, perpassados pelo ideal divino, que produziram as
paparicações e o apego. Assim os movimentos religiosos se intensificaram e afluiu para a criação
das casas de misericórdias e orfanatos, os Estados pelas leis viabilizaram os patronatos e a escola
como um espaço de observação e disciplina, agora não somente voltado aos clérigos e os
aritocratas, mas como manifestação do poder para a produção de um corpo dócil e untado para
ser peça na engrenagem social. A escola, aparelho ideológico do Estado e da Igreja, substitui o
conhecimento técnico pela educação familiar a fim de contruir um discurso de que a família é a
célula base da sociedade, portador de bens espirituais.
Este foi o embrião do que chamamos Institucionalização. Institucionalizar é transformar
algo abandonado em alguma coisa de alguém. Entre o período de abandono das crianças à morte
e o surgimento de instituições como o Estado Moderno, Igreja e Escola, por vezes ambas em uma
só, o que se caracteriza pela manifestação de um saber opressivo de controle social, médico e
institucional que normatiza os usuários, na qualidade de dependentes. Neste panorama fica fácil
entender que é aqui que se institucionaliza a família como célula mãe e seio de tudo.
No Brasil Colônia foram encontrados indícios da existência da Roda de Expostos, uma
portinhola, criada na Europa Católica, instalada nos muros das Santa Casa de Misericóridia tinha o
objetivo a entrega anônima dos bebês às instituições como as novas ordens religiosas. Este
sistema perdurou no Brasil até meados do século XX e no século XIX foram contadas, em todo o
território nacional, mais de dez Rodas de Expostos, que agora recebiam o nome de Casa dos
Expostos, no entanto extintas após a instauração da República.
Foi durante o Reinado de Dom Pedro II pela Lei nº. 16 de 12/08/1834 que tornou-se
responsabilidade das províncias a função de garantir a instrução primária aos “filhos do povo”,
estes que outrora seriam usuários das Rodas. Assim nove províncias criaram as Casas de
Educando Artífices para oferecerem educação elementar, música e educação.
Com o advento da República o Brasil já contava com vasta experiência na atenção ao
infânto necessitado, porém não atendendo mais ao anseio da produção de força de trabalho para
a colônica, mas agora objetivando aparelhar a nação por um saber que garanta a soberania. Foi
pela República que surgiu a conceituação de menor abandonado e meios especializados para lidar
com esta subcaterogia que atendessem ao plenejamento e a política do Estado. Em 1927, surge o
Código de Menores e o Juizado de Menores e este se manteria até o fim da década de 1980.
O fenômeno da institucionalização de crianças e adolescentes no Brasil nos séculos XIX e
XX não possuem números confiáveis por falta de sistematização na contagem e o que nos resta
são apenas o conhecimento da existência de algumas instituições e muitas limitam-se apenas a
nome. Até o fim da década de 1980, os “orfanatos”, “intertatos de menores”, Serviço de
Assistência a Menores (SAM) e o famoso FUNABEM – Fundação Nacional de Bem-estar do Menor
que funcionavam nos moldes das instituições asilares e eram tidos como último recurso dado pela
justiça e durante muito tempo foi a reclusão da criança o principal forma de assistência à infância
no país. Muito embora, ainda nesta época em certos cantos do país ainda é possível observar a
naturalização da morte das crianças ainda por desinterias.
As políticas públicas da infância no Brasil visou fazer valer à pena investir na criança e tal
valorização apresenta-se pela mudança de conceitual da criança como uma miniatura do adulto
para um faixa específica do desenvolvimento, com atenção particular, ao qual o apego pudesse
ser justificado porque a criança não morreria tão facilmente. A partir destas mudanças fora
possível permitir a criança brincar e estudar, e de fato, ser criança. Pela modernidade inaugura-se
a Era de Ouro da infância onde não é necessário o trabalho, fase em que a vida deve ser perfeita,
protegida e tranquila, antes da aparição das exigências e concorrências da vida adulta. Época de
puro gozo da inocência, excluíndo qualquer outra forma de compromisso. Aliás, é na pressa da
modernidade que impacta diretamente na correria da vida adulta que ao ausentar-se de seus
filhos provoca maior afabilidade como sistema de compensação ao que culmina na produção de
oferecer maior gozo ao período do infanto.
As mudanças advindas pela Constituínte de 1988 e iluminados pelos princípios da
Declaração Universal de Direitos Humanos da Criança tornou-se imperativo o posicionamento do
Brasil que revogou o Código de Menores e da PNBEM e promoveu a elaboração da Lei nº.
8069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que direciona as ações de proteção aos
infanto-juvenis.
O ECA basea-se na promoção da Proteção Integral aos direitos:

Áreas de Proteção Direitos Garantidos


Vida e Saúde; Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade;
à Convivência Familiar e Comunitária; da Família Natural; da
Fundamentais Família Substituta; da Guarda; da Tutela; da Adoção; do
Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer; do
Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho
Prevenção Especial; Informação, Cultura, Lazer, Esportes,
Prevenção Diversões e Espetáculo; dos Produtos e Serviços; da
Autorização para Viajar
Política de Atendimento Entidades de Atendimento e da Fiscalização das Entidades
Medidas de Proteção Gerais e Específicas
Dos Direitos Individuais; das Garantias Processuais; das
Medidas Sócioeducativas; da Advertência; da Obrigação de
Prática de Ato Infracional Reparar o Dano; da Prestação de Serviços à Comunidade; da
Liberdade Assistida; do Regime de Semi-Liberdade; da
Internação; da Remissão
Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável Responsabilidades e Atribuições
Atribuições do Conselho; Da Competência e Da Escolha dos
Conselho Tutelar
Conselheiros; Dos Impedimentos
Justiça da Infância e da Juventude; do Juiz; dos Serviços
Auxiliares; dos Procedimentos; da Perda e da Suspensão do
Acesso à Justiça Poder Familiar; da Destituição da Tutela; da Colocação em
Família Substituta; da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
Adolescente; da Apuração de Irregularidades em Entidade de
Atendimento; da Apuração de Infração Administrativa às
Normas de Proteção à Criança e ao Adolescente; da
Habilitação de Pretendentes à Adoção; dos Recursos; do
Ministério Público; do Advogado e da Proteção Judicial dos
Interesses Individuais, Difusos e Coletivos
Crimes e das Infrações Administrativas dos Crimes em Espécie e das Infrações Administrativas

Norteado pelos princípios do ECA a institucionalização da Criança do país alterou o formato


da internação asilar para a concepção de abrigo, ao aderir o formato de exclusivo de proteção
sobre as condições de risco social e pessoal e adotar o caráter provisório de estadia; e, a
internação apenas como uma medida sócio-educativa de privação da liberdade, mas ainda
viabilizando e garantindo os direitos inerentes à faixa-etária. Acrescenta ainda a subsitutioção do
conceito de Instituição para Entidade, que além de cumprir papéis juridicos diferenciados, cumpre
com direitos e deveres mais afetivos que o primeiro. Este foi uma enorme avanço na concepção
de cuidado com a criança, com o menor infrator (antigo delinquente) e com os órfãos e em
situação de abandono familiar.
As esntidades que desenvolvem trabalhos em formato de abrigo devem então atentar-se
para cumprirem os seguintes princípios determinados pelo ECA:
1. preservação dos vínculos familiares;
2. integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na
família de origem;
3. atendimento personalizado e em pequenos grupos;
4. desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;
5. não desmembramento de grupos de irmãos;
6. evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e
adolescentes abrigados;
7. participação na vida da comunidade local;
8. preparação gradativa para o desligamento;
9. participação de pessoas da comunidade no processo educativo.

Alguns municípios, baseados na criatividade de seus Conselhos de Direitos da Criança e


seguindo as diretrizes do ECA, criaram leis municipais que instituem “famílias acolhedoras” que
funcionam como pequenos abrigos solidários às crianças que pertecem aos grupos de riscos
sociais e pessoais. Este é o caso da cidade do Rio de Janeiro e de São Gonçalo, que colecionam
casos de sucesso no acolhimento e na direção participativa da educação.

Inicio esta aula com a apresentação da Carta 0 do Tarôt: O Louco. O Tarôt é um baralho
de cartas de origem misteriosa e que na Europa Central permaneceu em uso constante em jogos
e em cartomancia. Para muito além disso, o Tarôt é uma viagem às profundezas da mente
humana, baseado em conteúdos ancestrais e arquetípicos, ao qual já foi objeto de estudo de C. G.
Jung. A loucura é tão misteriosa quanto a representatividade desta carta, que sem número,
pretende ser qualquer parte do desenvolvimento humano. Um movimento intenso em direção às
resoluções conflituosas da alma, mas que pode ser o fim antes mesmo do começo, o fim a
qualquer momento ou o recomeço quando quiser. Tal é a ambiguidade e os mistérios do
fenômeno da loucura.
Até o início da idade média, o louco convivia normalmente com seus pares, era membro da
sociedade e por vezes era tido iluminado. Foi após estabelecer-se a Idade Média e até a metade
da renascença que surge a loucura como algo diabólico, produção do demônio, merecedo de
atenção de um especialista que pudesse realizar um discurso e terapêutica eficaz que pudesse
livrar aquela alma da perdição. Foi assim que surgiu o termo Epilepsia, que quer dizer tomar de
cima, possuir.. como um demônio que se apossa de alguém e o debate sem sua vontade, assim a
loucura ganhou uma explicação pela igreja ao qual perpetrava o seu tratamento espiritual e
cuidados. Os primeiros hospitais gerais nasceram sob a responsabilidade da igreja, que por
desígnios bíblicos também necessitava dar conta do pecado manifesto através da lepra.
Foi após a erradicação da Lepra do território europeu que inúmeros leprosários ficaram
inutilizaveis. Sem razão para existir, os bens e as rendas destinados a eles passaram para outras
formas de exclusão. Os leprosários e os bens criaram uma marca de exclusão, delimitados a um
lugar onde deve-se esperar pela “salvação”, assim, da lepra passamos para centros de correção
da moral e para a atenção às doenças venéreas, aos quais, longe da sociedade, podem ser
estudadas livremente e sem produzir incômodos.
Na renascença a casa da “salvação” também se dedicava a receber os viajantes das naus
dos loucos, que embarcados para serem evitados em suas cidades, ao serem encontrados além
mar eram encaminhados para estas “prisões”. Pós Revolução Francesa e até o século XVIII,
nenhum cidadão poderia ser abritrariamente privado de sua liberdade, exceto o louco, que é
interpretado como aquele que faz sarcasmo ao Saber, uma ignorância humana. Uma incapacidade
ao trabalho, Esta dimensão refina a concepção destes excluídos e faz surgir um saber nosológico,
médico. Aqui nasce a Psiquiatria e pela primeira vez a loucura é estabelecida como disfunção da
razão e da consciência, assim o homem deixa de se comunicar com o louco, a ciência patologiza,
as leis tiram os direitos e a internação é solução para a correção mental e o Manicômio surge
pelas estruturação das ideias de Pinel (1745-1826) e nunca mais junta com as doenças venéreas e
outras partes excluídas da sociedade com uma “libertação” por formas diferentes de tratamento.
Sob o olhar da medicina, inúmeras tentativas de terapias foram aplicadas aos pacientes,
porém com poucos sucessos. O Museu da Loucura, em Barbacena, Minas Gerais, mostra um
pouco da história da loucura daquilo que havia sido um hospital psiquiátrico e que ficou famoso
pela crueldade aos quais foram submetidos os seus internos. Gumarães Rosa, em seus contos já
identificava a Barbacena e o “trem dos loucos” ou “trem da solidão coletiva” que levavam os
portadores de Trantorno Mentais para este Hospital Colônia, fundado em 1903. Imperava,
veladamente, a visão Higienista de limpeza social isolando a escória, sob utilização de objetos de
torturas como eletros-choques sem prescrição, exposição à chuva e frio, lobotomina, camisa-de-
força, algemas, celas sem cama substituídos por capins trocados semanalmente por superlotação.
A impossibilidade de obter um discurso verdadeiro e total sobre a loucura é um saber de
fato, pois, diante de vários sentidos, principalmente a impossibilidade da experimentação empírica
e pessoal no real e, em seguida, um retorno assegurado para a uma produção descritiva. Foucault
no livro Doença Mental e Psicologia (1984), também colabora com a premissa da impossibilidade
da existência de uma Psicologia Geral que possa compreender e explicar a loucura visto que é a
loucura quem detém a verdade sobre a Psicologia, e não o contrário.

Panorama Histórico da Saúde Mental


A literatura sobre a prevenção da Saúde Mental começaram com pontuações acerca da
educação das crianças onde associa-se a felicidade como um bem estar psicológico fruto de uma
atenção mais dedicada à instrução das crianças. Como exemplo citamos Locke, em 1693, no livro
Pensamentos sobre a Educação, no capítulo Da Educação das Crianças, o filósofo empirista
recomenda que os pais devem ter atenção para a prevenção eficaz da saúde dos filhos e inclui a
saúde mental neste rol.
No início do Século XVII foi Louise Borguerois, parteira da Rainha Maria de Médice,
escreveu-lhes pequenas instruções sobre as crianças, a fim de auxiliá-la, e instrui que elas são
atualmente muito sagazes. Esta atenção já se aplicaria ao comportamento da Saúde Mental dos
novos recém nacidos e ao cuidado que deve ser aplicado para que permanecessem em boa
saúde.
No entanto, foi John Bunnell Davis, em 1817, que escreveu o marco fundador da Saúde
Mental, sua prevenção e promoção associado a uma boa educação em seu opúsculo Uma
investigação rápida sobre algumas das principais causas de mortalidade de crianças, com a
intenção de ajudar a melhorar o estado da geração crescente quanto à saúde, moralidade e
felicidade. Seu incansável trabalho incluia a instrução ostensiva das mães sobre os primeiros
cuidados com o bebê que além de garantir-lhe a vida ainda previnia a saúde, a moralidade e a
felicidade. Assim os atributos de cuidado com o Mental ganha uma forma, aplicabilidade e atenção
diferenciada que ao do corpo, tão igualmente quanto porém não mais como consquencia.
A Saúde Mental adquire um discurso médico com o francês Philippe Pinel (1745 – 1826),
considerado o Pai da Psiquiatria. Muitos autores o apontam como o responsável por desacorrentar
os loucos em Paris visando um tratamento mais humano. Suas principais contribuições foram:
distinguir a confusão existente entre os furiosos e os tristes; transformar a atitude brutal e
repressiva em uma atitude compreensiva que denominou tratamento moral; introduzir no
tratamento princípios que reduzem a importância da lesão anatômica.
A psicanálise também tem uma contribuição importantíssima no entendimento e na
construção do panorama histórico da Saúde Mental. Foucault, pretendendo ser justo com Freud,
ainda na História da Loucura (1978), atribui um valor à psicanálise por ter sido ela quem retomou
à loucura do silêncio, ao qual foi confinada pela ausência de um saber científico-positivista, ao
colocá-la ao nível da linguagem favorecendo uma nova possibilidade de análise e diálogo com esta
“desrazão”. É possível interpretar, ler e coldificar uma lógica no discurso do surto psicótico, então
a loucura é uma fala com estruturação própria, logicamente diferente do comum, porém passível
de compreensão, análise e intervenção.
Na leitura da biografia de Daniel Paul Schreber, Freud compreende e explica pela primeira
vez o delírio psicótico como uma forma de reorganização do aparelho psíquico em direção à cura.
Sim, é inicialmente ver isso com estranheza! O senso comum indica os delírios e as alucinações
como sendo a própria loucura, no entanto, ela surge como uma tentativa do aparelho psíquico
não submergir diante de uma representação ameaçadora, ao que seria um evento que suscita
uma lembrança da castração. Outra importante contruibuição de Freud nas leituras da Biografia
do Juiz da Suprema Corte Anglo-Saxã é ter interpretado o delírio homossexual como um recalque
das representações do desejo.
Em seguida é a vez de Lacan fazer suas interpretações psicanalíticas sobre a loucura e (re)
ler James Joyce. Uma questão prelimitar sobre a possibilidade de tratamento das psicoses, uma
frase foi simbólica “Não fica louco quem quer”, com isso Lacan fundamenta a loucura como uma
possibilidade de uma estutura psicótica já estabelecida e que o surgimento do sintoma é apenas o
“ponto zero” do transtorno. Assim, nem todos que passam por situações ou traumas iguais ficarão
loucos, mas que necessitam ter uma estrutura que torne isso inaugurado. Desta maneira cunha
um conceito chamado Nome-do-Pai que pode ser admitido ao aparelho e torná-lo neurótico ou
haver sua forclusão fazendo a necessidade do surgimento do Sinthoma ou uma suplência
reparadora, ao contrário do que seria o Nome-do-Pai, necessitando de “soluçõe psicóticas” que o
mantenha no Real.

As Políticas Públicas de Saúde Mental


Na Segunda Sessão do Comitê de Especialistas em Saúde Mental da Organização Mundial
da Saúde (OMS), reunidos em Genebra, em 1951, Winnicott considera em seu artigo As Bases da
Saúde Mental, que as bases da saúde mental do adulto é decorrência daquilo que constrói-se na
infância e na adolescência, balizando as condições, características, possibilidades e
sustentabilidade que sejam cmpatíveis com o “Sujeito de Direito”. Com esta contribuição cria-se o
primeiro marco de inserção da Saúde Mental como pertencente à Saúde em Geral e portanto um
problema de e do Estado.
No entanto foi Lacan, através dos seus seminários, que fundamentou, através do conceito
de Responsabildade, que o indivíduo portador da psicose deve permanecer no campo político da
Saúde Mental, retirando-o do registro da Ordem Pública, e que os direitos devem ser assegurados
por si e não através do mental, permitindo o portador da psicose permanecer como sujeito de
pleno direito.
Em 03 de Julho de 1934, foi publicado no Brasil o primeiro decreto sobre a Assistência e
Profilaxia Mental sob o número 24.559.
Em 21 de Novembro de 1986, durante a Iª Conferência Internacional sobre a Promoção da
Saúde, é publicada a Carta de Ottawa, o documento fundador do atual panorama da promoção da
saúde, ao qual estabelece que a atenção à Saúde Mental deve garantir determinados valores:
vida, saúde, solidariedade, participação, cidadania, desenvolvimento, democracia, solidariedade e
etc...
Em 14 Novembro de 1990, toda a América Latina e Caribe, convocada pela Organização de
Mundial da Saúde (OMS), reunindo seus líderes em Conferência Regional para a Reestruturação
da Atenção Psiquiátrica, em Caracas [Venezuela], proclamaram a chamada DECLARAÇÃO DE
CARACAS (BRASIL, 2004), ao qual ideologicamente sustenta que atual atenção psiquiátrica não
permite alcançar os objetivos compatíveis com uma atenção comunitária, descentralizada,
participativa, integral, contínua e preventiva e que se faz urgente uma reestruturação da atenção
psiquiátrica na região implica a revisão crítica do papel hegemônico e centralizador do hospital
psiquiátrico na prestação dos serviços.
Voltando ao Panorama da Saúde Mental no Brasil, foi em 1978 que aconteceu a chamada
crise do DINSAM (Divisão Nacional de Saúde Mental), ao qual profissionais de Saúde Mental
denunciaram as péssimas condições aos quais eles e os usuários dos serviços eram submetidos.
Neste mesmo ano foi publicado durante o V Congresso Brasileiro de Psiquiatria foi divulgado o
Manifesto de Camboriú contendo inúmeras denuncias e exigências.
Como consequencia desta derrocadam, em 1979, durante o I Encontro Nacional de
Trabalhadores em Saúde Mental funda-se o MTSM - Movimento dos Trabalhadores em Saúde
Mental que em 1987, em manifestação ostensiva, cria o Dia de Luta Antimanicomial.
Em 1992, Brasília, foi realizada a decisiva 2ª Conferência Nacional de Saúde Mental onde
foi apresentado fundamentado o Projeto Paulo Delgado, ao qual, somente em 06 de Abril de
2001, durante a III Conferência Nacional de Saúde Mental, foi apresentada em forma de lei nº
10.216. Esta lei Regulamenta o direito das pessoas com transtornos mentais e a extinção
progressiva dos manicômios do país prevendo com isso a desinstitucionalização da loucura.
A Lei nº 10.216/2001, também conhecida como A Lei da Reforma Psiquiátrica, trouxeram
várias inovações, dentre elas: a criação de serviços comunitários de Saúde Mental e com isso os
serviços de Saúde Mental deixam de ser hospitalocêntrica, daí surgem o CAPS (Centro de
Atenção Psicossocial), o CAPSI (Centro de Atenção Psicossocial Infantil) e a Ampliação do
HOSPITAL DIA para dar atenção a estes usários; a internação passa ser somente quando os
recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes; as Residências Terapêuticas; Atenção
Comunitária e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família.
Com esta lei houve a cessação da comprovação de Periculosidade e Medida de Segurança
(Risco de Violência) como critério para internação imediata do paciente por entender que a
agressividade é algo inerente ao ser humano e inclui a devolução e garantia de inúmeros direitos
aos usuários enumedos a seguir conforme o texto da lei:

São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:


I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às
suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de
beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na
família, no trabalho e na comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a
necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de
seu tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos
possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde
mental.

No entanto, em 30 de Setembro de 2009, trabalhadores da área de saúde mental e o


Conselho Federal de Psicologia, realizaram a Marcha pela Reforma Psiquiátrias, para defender o
cumprimento da lei 10.216/2001; a integração integral com o SUS, a realização da IV Conferência
Nacional de Saúde Mental e exigir a efetiva implantação do "Programa de Volta para Casa", criado
pelo Ministério da Saúde em 2003.

A instituicionalização de uma Cultura da Loucura ainda é imperativa no cotidiano que


resiste permeada pelos estigmas, pela “força de expressão”, e pela ignorância ao diferente,
enquato ainda não é o paciente que aporta ao consultório ou o hospital, mas a família que além
dos Transtornos Mentais permanecem demandam outras afecções psíquicas e inadaptação social
à reclusão manicomial.
Abordando a loucura e a adolescência cabe ao profissional de saúde mental o
discernimento entre o que é patológico de fato e o que é socialmente criado e imputado a um
grupo marginalizado por uma cultura opressora. Desta forma, a necessidade de novos modelos
para o atendimento dos Transtornos Mentais torna-se um imperatívo ético na conduta que deve
ser iniciada pelo entedimento e criando um novo saber acerca destes transtornos e seus
diferenciais.
A história da saúde pública no Brasil sempre foi uma questão complexa e delicada desde o
Brasil Colônia, e esta história se confunde claramente com a própria história do país visto que
ainda em 1789, em todo estado do Rio de Janeiro, haviam apenas quatro médicos, obviamente
relegando a população à merce dos pajés e dos botânicos como única forma de assitência à saúde
dos colonos. Foi a partir da chegada da Corte Portuguesa, em 1808, que enfim, iniciou um
processo de institucionalização da saúde com o objetivo de resolver as questões de controle do
saneamento, fiscalização da qualidade dos produtos comercializados, combate as epidemias e
doenças e regularizar o exercício profissional da saúde. Esta narrativa se estende em 1897 com a
criação da Diretoria Geral de Saúde Pública, serviços terrestres e marítimos nos três distrítos
sanitários Rio de Janeiro, Belém e Recife. Porém, somente 120 anos depois, em 1928, acontece a
Reforma Sanitária que municipaliza as ações de saúde no País.
Neste breve histórico já conseguimos perceber quão jovem e imatura é nossa experiência
quando se trata de saúde pública. Mas ainda até o início do século XX não haviam assistências
competentes às doenças. Foi após a década de 20 que surgiu a primeira tentativa sob a invenção
do CAPs (Caixa de Aposentadoria e Pensões), uma iniciativa de algumas empresas que passaram
oferecer assistência médica e financeira aos seus funcionários e aposentados, tornando aberto-
privado aquilo que era apenas realizado por médicos de famílias aristocratas ou raras instituições
de caridade, fomentadas pelas mesmas famílias assistidas. Na metade do século o Estado assume
além das funções da atenção primária preventivas, resolve aprimorar e assumir o projeto do CAPs
e agregando ao seu frágil IAPs (Instituto de Aposentadorias e Pensões), ao qual, em 1966 se
unificaram sob o nome Institutos Nacional de Previdência Social (INPS).
Somente em 1986, por meio da VIII Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, que
oficialmente a saúde passou ser considerada como resultado das condições de educação, renda,
meio ambiente, alimentação, trabalho, lazer e definitivamente, acesso aos serviços de saúde. Tal
declaração foi suficente base para que esta pauta fosse considerada na Constituínte de 1987 em
seus artigos 196 ao 200, tornando o acesso universal aos serviços de saúde e garantido uma
gestão descentralizada. Este movimento tornou a saúde um dever do estado, um direito do
cidadão e favoreceu o reconhecimento mundial a partir da Lei 8080/90 que atribuiu as funções e
objetivos de cada esfera do governo e os conceitos básicos de funcionamento, que inclui a noção
de território, descentralização e universalização.
O SUS conseguiu força maior em sua descentralização em 1994 com o Programa Saúde da
Família pela dedicação a reorganização da prática à atenção primária em nível ambulatorial,
atendendo 85% da demanda, restando apenas 15% dos atendimentos aos hospitais, dotado de
seus serviços mais especializados, garantindo a destituição do modelo hospitalocêntrico. Em
seguida, em 1996, foi instituída a Norma Operacional Básica do SUS que responsabiliza ao
Município sob a execução e gestão garantindo de fato a descentralização.
No que se refere as ratificações da Saúde Mental, estas foram fomentadas pela Política
Nacional de Saúde Mental, que pela criação de novas leis, decretos e portarias garantiram a
contrução de novos entedimentos e aplicabilidades acerca do modelo assistencial a ser prestado
na Saúde Mental, desta vez associado ao SUS.
O início da mudança aconteceu pela publicação da Lei nº 10.216/2001, a Lei da Reforma
Psiquiátrica e pelo Decreto Presidencial 7508, estabelecendo que dentro dos limites nacionais os
hospitais psiquiátricos não poderiam mais adotar o regime manicomial. Desta forma, através da
Portaria 3.088/2011 institui-se em todo território brasileiro o RAPS – Rede de Atenção
Psicossocial, com objetivos e diretrizes claras e precisas que fixa um Modelo Aberto, com livre
circulação dos usuários e base comunitária, que acontece no Município, mas financiado pelo FNS e
desenha a Atenção Básica da Atenção Psicossocial por seus componentes: Atenção Especializada,
Urgências e Emergências, Atenção Hospitalar, Atenção Residencial de Caráter Transitório,
Estratégias de Desistitucionalização, Reabilitação Psicossocial.
Todo este panorama geram enormes desafios de implantação e mobilização, apresentam
resultados variados, pois depende do contexto sociopolitico em que está inserido, fazendo ser este
tema totalmente controverso nas leituras de seus resultados quanto a verdeira contribuição à
sociedade.

Atenção Psicossocial Especializada | Componente: Centro de Atenção Psicossocial

Ponto de
Funcionamento Horário Parâmetro
Atenção
Transtorno Mentais graves e Diurno
Acima de 20 mil
CAPS I persistentes decorrentes do uso de Segunda a
habitantes
crack, álcool e outras drogas Sexta
transtornos mentais graves e Diurno
Acima de 70 mil
CAPS II persistentes, podendo também atender Segunda a
habitantes
pessoas com necessidades decorrentes Sexta
transtornos mentais graves e
persistentes. Proporciona serviços de 24 Horas e
Acima de 200
CAPS III atenção contínua, com funcionamento Fins de
mil habitantes
24 horas, incluindo feriados e finais de Semana
semana, ofertando retaguarda clínica e
acolhimento noturno a outros serviços
de saúde mental

adultos ou crianças e adolescentes,


considerando as normativas do
Estatuto da Criança e do Adolescente,
CAPS AD Acima de 70 mil
com necessidades decorrentes do uso Diário
(Álcool e Droga) habitantes
de crack, álcool e outras drogas.
Serviço de saúde mental aberto e de
caráter comunitário
adultos ou crianças e adolescentes,
considerando as normativas do
Estatuto da Criança e do Adolescente, 24 Horas e
Acima de 200
CAPS ADIII com necessidades de cuidados clínicos Fins de
mil habitantes
contínuos. Serviço com no máximo 12 Semana
leitos para observação e
monitoramento,
crianças e adolescentes com
transtornos mentais graves e Diurno
Acima de 150
CAPS i persistentes e os que fazem uso de Segunda a
mil habitantes
crack, álcool e outras drogas. Serviço Sexta
aberto e de caráter comunitário

Equipe Mínima

1 médico psiquiatra ou médico com formação em saúde mental. 1


CAPS I enfermeiro. 3 profissionais de nível superior de outras categorias
profissionais. 4 profissionais de nível médio
1 médico psiquiatra 1 enfermeiro com formação em saúde mental. 4
CAPS II profissionais de nível superior de outras categorias profissionais. 6
profissionais de nível médio
2 médicos psiquiatras 1 enfermeiro com formação em saúde mental. 5
CAPS III profissionais de nível superior de outras categorias profissionais. 8
profissionais de nível médio
1 médico psiquiatra. 1 enfermeiro com formação em saúde mental. 1
CAPS AD médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento
(Álcool e Droga) das intercorrências clínicas. 4 profissionais de nível superior. 6
profissionais de nível médio.
1 médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com formação em saúde
CAPS i mental. 1 enfermeiro 4 profissionais de nível superior. 5 profissionais de
nível médio.

OBS: No quadro acima é considerado como Outros Profissionais de Nível Superior:


psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, professor de educação física ou
outro profissional necessário ao projeto terapêutico Profissionais Nível Médio: técnico e/ou
auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

Agora que já compreendemos a infância como um período inventado a partir de um cenário


elaborado por um longo processo que se desenrola desde do mito do amor materno até o
infanticídio naturalizado nas sociedades européias e as rodas dos exposos, cuja existência
estendeu-se até no Brasil. Em seguida, acrescido do panorama histórico das Políticas de Saúde
Mental e a criação da Rede de Assistência Psicossocial ligada ao SUS, é chegado o momento de
nos aprofundarmos na especificidade do nosso componente: analisarmos o Modelo de Atenção
Psicossocial para a Infância e Adolescência.
A adolescência forma um grupo extremamente complexo ao entendimento dada as suas
questões conflituosas intrínsecas à puberdade, e, não obstante a isso, a própria modernidade
cuida de tornar mais turbulento pela invenção da moratória confinando o neo-adulto ao silêncio
do in fan, mas com deveres de adulto, desenvolvendo verdadeiras psicopatologias às quais se
apresentam em números crescentes e frequentes nos serviços do CAPSi. Este contexto exige do
profissional que atua na saúde mental uma atenção precisa no tocante a psicodiagnósticos,
abordagens, intervenções terapêuticas e encaminhamentos, pois na medida em que se ignora
sintomas prejudicam o desenvolvimento do sujeito, contudo se supervaloriza o “normal
patológico" igualmente contribui para o desenvolvimento daquilo que se queria prevenir.
Nesta aula analisaremos o perfil do usuário infantil e adolescente que frequentam o CAPSi e
que tipo de desafio psicopatológico ele traz em suas queixas, na medida que aumentam o número
de crianças e adolescentes que fazem uso de medicação.

A Adolescência: uma loucura contemporânea


E por que estudamos adolescência, neste capítulo, juntamente com a “loucura”? A
brevidade da resposta já se encontra nas aspas da loucura, pois a adolescência conquistou para sí
inúmeros saberes, de diversas fontes, ao quais hoje se apresenta um momento de angústia diante
da modernidade justamente por não ter um saber sobre sí. Saber este impossível na medida em
que afastado do que seria natural, é a própria modernidade que vai inventando enquanto se
reinventa.
Então, similar a loucura a adolescência também foi inventada. Não que as estruturas
psicóticas só foram estabelecidas ou surgiram depois de uma data, mas que sua compreensão e
contexto variaram de acordo com a história.
Doravante como a infância foi uma etapa inventada dentro de um contexto histórico, algo
semelhante ocorreu com a adolescência e o conceito de Loucura. Embora os aspectos fisiológicos
infantis sejam coerentes com a percepção que se pode ter em um simples olhar, a forma de
localizar o infanto na família e na sociedade, e desta forma, o tratamento que se aplicaria a estes
é o que se diferenciou ao longo do tempo, relativizando assim a forma de entendermos a infância.
Ao contrário da infância, a adolescência foi um período absolutamente inventado. Com isso
teorizamos que a adolescência é um período de moratória concebido como uma instância na vida
ao qual a pessoa não é tão criança para ter atitudes infantís, mas não é tão adulto para gozar
direitos e cumprir os deves que compete aos mais maduros. É vasta a bibliografia antropológica
que apontam diversos rituais e ritos de passagens de inciação da criança à vida adulta, isto é, que
o infanto ao passar por estes rituais imediatamente é contado como um membro adulto da sua
comunidade.
Atualmente a sociedade moderna adota poucos ritos de passagens, embora sua grande
maioria limite-se apenas a pequenos ritos que aplicam-se apenas às condições psicológicas.
Dentre os poucos ritos que conhecemos contamos o casamento, as formaturas, a morte e o
nascimento; no entato, nenhum que inaugure definitivamente, radicalmente e singularmente um
novo posicionamento inaugural do participante em uma nova etapa do desenvolvimento humano
como tornar-se adulto, idoso ou criança. É esta falta que faculta o surgimento do tempestuoso
período da adolescência, pois a criança não irrompe à vida adulta e o conceito de “estar
preparado” cada vez mais se relativiza por ser uma concepção coletivamente construída e pelos
apelos das dificuldades da independência financeira.

Os RITOS DE PASSAGEM são celebrações que fundam a mudança de status de uma pessoa
dentro da sua comunidade. Estes ritos podem ser de caráter social, religiosos ou comunitário.

A adolescencia é portanto um período notoriamente contratual da moderna sociedade civil


que afasta ainda mais o homem do estado de natureza, impondo-lhes, por consequencia um mal
estar psíquico, através da aprovação e classificação dos comportamentos aceitáveis na mesma
medida em que exclui àqueles que não se adequam aos padrões por ela ditados através da
cultura.
A adolesência tal como a conhecemos hoje é uma criação social muito recente que começa
a aparecer no início do século XX, mas que prevaleceu a partir da segunda guerra mundial e
estabeleceu-se como um período de exílio, uma suspensão, uma moratória, uma etapa de
preparação para a entrada da vida adulta. Justamente é a falta Na contemporaneidade, este
período caracteríza-se pela dedicação aos estudos.
A ciência médica demarca a adolescência com o início da puberdade, mas não é precisa
quanto ao fim. A Psicologia, igualmente adota o início da adolescência pela maturação dos órgãos
sexuais, porém contribui com a significação do luto da condição de criança e a mudança da
relação com os pais e com o mundo. Muito mais do que uma maturação dos órgãos sexuais, os
profissionais da Saúde Mental devem preocupar-se como o sujeito interpreta esta maturidade.
Com a mudança do corpo em direção a maturação, o psiquismo agora se ergue na
tentativa de criar sua própria identidade, o trabalho psíquico tende a aumentar a fim de elaborar
com as mudanças corporais, seus novos desejos, fantasias, angústias e novas sensações.
Com um mundo novo para ser explorado, agora dotado com estas novas sensações,
podemos enxergar a adolescência como um período de acessos e intensidades, isto é, inúmeos
caminhos se abrem para que se dê início ao processo de individuação no adolescente formará sua
própria personalidade em detrimento aos desejos infantis dos pais ao mesmo tempo em que este
caminho será impulsionado pela força oriunda das mudanças hormonais, aos quais facultará os
primeiros conceitos do adolescente: inconsequentes e inquietos.
O luto do corpo infantil e o luto dos pais infantis com suas exigências que ora provocam e
esperam comportamentos de crianças para alguns contextos e exigirão em outros momentos
atitudes como se fossem adultos. Neste panorama de deslocalização surge a necessidade da
criação de uma nova identidade ao qual o adolescente tenderá criar diversos personagens, uma
mesma versão dele, que seja capaz de lidar com as contradições impostas e vivenciadas pelo
corpo e pela sociedade. Assim é muito comum a flutuação da identidade refletir-se nas roupas e
na intensidade das emoções que em um instante estão muito felizes e outros, muito tristes.
Outro evento importante que acontece na adolescência é a uma regresso as fases do
desenvolvimento infantil mal elaborada. Para a teoria psicanalítica, o sujeito transita na fase Oral,
Anal, Fálica, Latência e Fase Genital, portanto, para estes pensadores, caso uma destas fases
tenha sido postergada, abreviada ou circundada de manifestações interpretadas como agressivas
ao aparelho psíquico da criança, será neste período da adolescência, que pela regressão, o sujeito
tentará reaver a fim de (re)significá-lo.
Postergar o reconhecimento do adolescente como um adulto faz adiar no sujeito uma série
de realizações de valores básicos como o desejo de ser desejado, ter uma vida amorosa bem
sucedida, ser invejado ou observado pelo sucesso social e financeiro, enfim, o faz fantasiar e
angustiar-se pela liberdade. A fatídica missão de buscar o gozo escondido no desejo dos adultos,
torna-se um verdadeiro pesadelo pelo recalque dos desejos íntimos de simplesmente ser.
Os conflitos dos adolescentes são frutos de uma conjectura social, familiar, biológico e
psicológico. O adolescente quer ser adulto, o que ele não quer é ser o adulto que ele tem diante
dele. O que é amplo e novo, comumente é tido como agradável ao adolescente, não por ser
perigoso e apenas novidade, mas porque é a uma oportunidade de não repetir o que se quer dele
quanto repetição dos “adultos modelos”. Viver radicalmente pode ser uma fuga para onde não se
quer ir, mas não é possível viver como adolescente sem ter a delícia e dor de ser mutante, deixar
de ser massa para ser alguém. Nascer novamente.
Neste aspecto Knobel e Aberastury (1981) apresenta uma normalidade na patologia da
adolescência, uma síndrome normal inerente a este período idealizado, uma vivência limítrofe,
uma espécie de entidade semipatológica, tolerado apenas neste período. Os sintomas são: busca
de sí mesmos e da identidade; tendência grupal; necessidade de intelectualizar e fantasiar; as
crises religiosas; a deslocalização temporal; a evolução sexual desde o auto-erotismo até a
heterossexualidade; atitude social reivindicatória; contradições sucessivas em todas as
manifestações da conduta; separação progressiva dos pais; constantes flutuações do humor e do
estado de ânimo.
Seguindo a lógica de uma normalidade patológica igualmente encontramos em alguns
adolescente traços histéricos normais, isto é, a angústia, a tristeza e revolta vinda de um amor
decepcionado a um adulto que lhe dirige uma demanda. A fantasia de ser humilhado gera a
revolta de querer gritar “não quero mais fazer as vontades dos meus pais”. Desta forma, é
igualmente comum as saídas fóbicas ou obsessivas nos adolescentes o medo de “pagar mico” e o
controle “desesperados” pelos pensamentos repetitivos.

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