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No Brasil, assim como em outros lugares do mundo, a agricultura familiar, seus grupos e
comunidades, têm por base preponderantemente o trabalho das famílias que residem e
produzem no campo. O papel estratégico da agricultura familiar no desenvolvimento rural
e, de resto, em todas as dimensões sociais do país, passou a ser reconhecido após a
Constituição de 1988 e por meio da consolidação de políticas específicas direcionadas ao
setor. Papel fundamental foi desempenhado pelo Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf) instituído em 1996 (Decreto 1946, de 28/05/1996), ao qual
se seguiram outras políticas que culminaram em 2006 com a Lei da Agricultura Familiar
(Lei 11. 326, de 24/06/2006).
1 Ensaio preparado a partir da exposição de G. C. Delgado em 09/12/16 e surge como produto na conexão
do Ciclo de Debates em TTICC e o Observatório da Agricultura Familiar. Versão para diálogo com
membros do OAF.
2 Autora correspondente: maria.consolacion@embrapa.br
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Guimarães Filho et al. (PESQUISA,1998) informando, refletindo e propondo sobre
agricultura familiar e seu desenvolvimento; Mota et al. (1998), em coletânea apresentando
estudos e debatendo bases para a ação pública; Silveira e Vilela (1998), tratando de
desafios impostos pela globalização às agriculturas; e Sperry (1998), tratando de métodos
de abordagem em pesquisa sobre agricultura familiar. Na esfera política da administração
superior da empresa, nos tempos após a edição (concepção) do Pronaf, foi e é frequente
ocorrerem estudos associados à temática, como aqueles publicados por Alves (2001) por
Sousa (2006) e por Sousa e Cabral (2009). Assim, destacamos que no ano em que foi
aprovada a Lei da Agricultura Familiar, a empresa publicou o livro “A agricultura familiar
na dinâmica da pesquisa agropecuária” (SOUSA, 2006) que inclui metodologias,
tecnologias e conceitos, como os da agroecologia e da sustentabilidade, das questões do
ambiente e da segurança alimentar e nutricional, dos alimentos seguros, e da
manutenção dos recursos genéticos e sua conservação. Mais adiante no tempo foi
empreendida a coleção Povos e Comunidades Tradicionais, em um esforço de revelar e
qualificar interações de pesquisa com esses grupos sociais e, também, de indicar e
promover convergências com políticas governamentais federais (STUMPF JUNIOR,
2015).
Assim o objetivo é realizar uma síntese de características deste grupo social e apresentar
diferentes conceitos de agricultura familiar presentes no ordenamento incidente na
categoria da agricultura familiar no Brasil.
Terminologia Legal
Segundo Guilherme C. Delgado a terminologia legal alusiva à agricultura familiar pode ser
estruturada em três eixos conceituais emitidos em ordem cronológica:
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Consta no Estatuto da Terra, art. 4, inciso II: “O imóvel rural que, direta ou pessoalmente
explorado pelo agricultor e pela família absorve toda a força de trabalho, garantindo-lhes a
subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região
e tipo de exploração e eventualmente trabalhada com ajuda de terceiros “– área deste
imóvel rural denominada de módulo rural.
2.1- Lei do Funrural -Lei Complementar 11 de 25/05/1971 art. 3 e parágrafo primeiro letra
”b” estabelece :
A esse conceito amplo são admitidas pluriatividades e pluri ocupações, além de relação
de trabalho assalariado de caráter temporário; são definidos o limite da “pequena
propriedade” como teto físico de abrangência do regime de economia familiar bem como
as relações de trabalho. Abarca também as atividades não restritas ao imóvel rural:
seringueiros, extrativistas e pescador artesanal.
O conceito legal de agricultura familiar ocorre com a “Lei da Agricultura Familiar” (Lei nº
11.326, de 24/06/2006), que estabelece as diretrizes para a formulação da Política
Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Essa lei define
“agricultor familiar e empreendedor familiar rural” e consagra a categoria sócio profissional
“agricultor familiar”, prevendo o planejamento e execução de ações que compatibilizem
crédito e fundo de aval; infraestrutura e serviços; assistência técnica e extensão rural;
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pesquisa; comercialização; seguro; habitação; legislação sanitária; previdenciária
comercial e tributária; cooperativismo e associativismo; educação, capacitação e
profissionalização; negócios e serviços rurais não agrícolas.
1. Não detenha, a qualquer título área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
2. Utilize predominantemente mão de obra familiar nas atividades econômicas de seu
estabelecimento ou empreendimento:
3. Tenha renda familiar predominantemente originária de atividades econômicas
vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;
4. Dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família”
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execução dos serviços públicos de apoio ao setor rural, visando à complementaridade de
ações com estados, Distrito Federal, territórios e municípios (cabendo a estes assumir
suas responsabilidades na execução da política agrícola, adequando os diversos
instrumentos às suas necessidades e realidades); compatibilizar as ações da política
agrícola com as de reforma agrária, assegurando aos beneficiários o apoio à sua
integração ao sistema produtivo; possibilitar a participação efetiva de todos os segmentos
atuantes no setor rural, na definição dos rumos da agricultura proprietários de pequenas
unidades de terra passou a compor um amplo conjunto que acabou sendo identificado
pela categoria “trabalhador rural”.
O Pronaf, instituído, em 28 de julho de 1996, por meio do Decreto n 1.946, teve o objetivo
central “promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos
agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da capacidade produtiva, a
geração de empregos e a melhoria de renda”. O Pronaf, quando os agricultores familiares
passam a acessar várias linhas de crédito de acordo como sua necessidade e o seu
projeto desde o custeio da safra, a atividade agroindustrial, seja para investimento em
máquinas, equipamentos ou infraestrutura. Para acessar o Pronaf, a renda bruta anual
dos agricultores familiares foi mudando ao longo do tempo visando adequar a demanda
dos agricultores e ampliar o número deste atendidos pelo programa. Os objetivos do
Pronaf: I – dotar os agricultores familiares de competência econômica, pelo
aprimoramento das tecnologias empregadas, mediante estímulos à pesquisa,
desenvolvimento e difusão de técnicas adequadas à agricultura familiar, com vistas ao
aumento da produtividade do trabalho agrícola, conjugado com a proteção do meio
ambiente; II – adequar e implantar a infraestrutura física e social necessária ao melhor
desempenho produtivo dos agricultores familiares, fortalecendo os serviços de apoio à
implementação de seus projetos, à obtenção de financiamento em volume suficiente e
oportuno dentro do calendário agrícola e o seu acesso e permanência no mercado, em
condições competitivas. Um dos maiores benefícios do Pronaf embora pouco
mencionado, foi assegurar a instituição de um marco legal para a agricultura familiar.
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especial pelo IBGE. França et al.(2009) discute as diferenças entre a definição legal e o
conceito usado no estudo (FAO/INCRA) permitindo uma melhor compreensão das
informações estatísticas disponíveis.
Considerações finais
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A definição legal de agricultura familiar adotada no censo de 2006, permite caracterizar de
forma mais aproximada a participação da agricultura familiar na economia nacional.
Permite também uma análise econômica ao agregar produtos heterogêneos, o valor anual
da produção da agricultura familiar é de R$ 54,5 bilhões de reais (33,2%) e o da
agricultura não familiar é de R$ 109,5 bilhões (66,8%).
Considerando dados de outras fontes, essa lacuna de informação econômica pode ser
coberta pela investigação do domicílio rural do censo demográfico que inclui no seu
critério de renda domiciliar “a soma de todos os rendimentos do trabalho e de outras
fontes percebidas por todos os moradores com 10 anos ou mais de idade“. Em 2010, o
censo demográfico revela que a renda familiar dos domicílios rurais do estrato de (0-2
SM) abrange 73,6% do total de domicílios rurais e se situa no valor mediano de 1,2 SM
(salário mínimo equivalente a 331 dólares). Em outros termos, a agricultura familiar tem
um peso maior no valor da produção do que indicado no censo agropecuário de 2006,
base de dados para se referenciar ao papel da agricultura familiar no país.
Notas
Nota 2. O módulo fiscal é uma unidade territorial agrária, fixada por cada município
brasileiro baseados na Lei Federal nº 6.746/79. O tamanho do módulo fiscal, para cada
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município, é determinado levando-se em consideração: o tipo de exploração
predominante no município e a renda obtida com ela; outras explorações importantes
(seja pela renda ou área ocupada) existentes no município; e o conceito de "propriedade
familiar", definido pela Lei nº 6.746/79. O módulo fiscal varia de 5 a 100 hectares,
conforme o município.
Bibliografia
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MATTOS, L. M. Austeridade fiscal e desestruturação das políticas públicas voltadas à
agricultura familiar brasileira. Friedrich Ebert Stiftung Brasil. Análise n. 39/2017.
PERFIL da Agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Brasília: FAO; INCRA, 1996.
24 p. Projeto UFT/BRA/036.
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Documentos \ Documentos \ Embrapa DTT \ Embrapa. Observatório AgriFam \ UDRY, S. AgriFam. Conceitos legais. Doc. para OAF. 20-03-18. Com notas VGFG.doc
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