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Lei municipal e o seu controle de

constitucionalidade: RE 650898
julgado em 1/2/17 (novidade)
Um dos temas mais importantes, em Direito Constitucional, para
concursos públicos é controle de constitucionalidade.

OBS: post publicado em 28 de dezembro de 2016 e atualizado em 08 de


fevereiro de 2017 em razão de decisão do STF no RE 650898
Legenda:
Atualização AZUL
Entendimento modificado VERMELHO

Ubirajara Casado é Advogado da União


Professor de Processo Civil e Constitucional da EBEJI
EBEJI
Lei municipal e o seu controle de constitucionalidade
EBEJI
Um dos temas mais importantes, em Direito Constitucional, para concursos públicos
é controle de constitucionalidade.
Quando estamos diante de um concurso municipal, especial para a sua Advocacia Pública,
o estudo do controle de constitucionalidade específico da norma municipal de revela
de extrema importância.
Afinal, é natural que o concurso, em alguns momentos da prova, seja objetiva, subjetiva ou
oral, “puxe a sardinha” para a sua realidade federativa.
O objetivo do post não é ser longo, nem servir de revisão sobre todos os aspectos do
controle de constitucionalidade no sistema brasileiro. Se é isso que procuras, sugiro estudar
com o grande professor Samuel Fonteles no Curso de Controle de Constitucionalidade
promovido pela EBEJI.
A ideia principal de nossa breve revisão é vermos como se dá especificamente o controle
constitucional da norma municipal.
No Brasil, vigem duas espécies de controle de constitucionalidade:
Controle político ou Visa impedir o ingresso de lei ou ato normativo no ordenamento jurídico
preventivo exercido pelo Poder Legislativo.
Controle repressivo Busca, por meio do Poder Judiciário, retirar do ordenamento jurídico normas
inconstitucionais já editadas.
No controle repressivo, temos:

Controle difuso, aberto ou Autoriza a todo e qualquer juiz ou Tribunal realizar, no caso concreto, o
por via de exceção ou defesa exame de compatibilidade de lei ou ato normativo com a Constituição.
Aqui, a declaração de inconstitucionalidade é:
– incidental;
– isenta a parte que pretendeu a inconstitucionalidade da norma do seu
cumprimento;
– a norma declarada inconstitucional, no controle difuso, permanece
vigente para terceiros.
Perceba, desde já, que a constitucionalidade da NORMA MUNICIPAL
pode ser amplamente questionada via controle difuso.
Controle concentrado ou por Tem por objetivo a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato
via de ação direta normativo independentemente da existência de um caso concreto. Esse
controle abstrato de constitucionalidade pode ocorrer de duas formas: por
ação ou omissão.
Principal vantagem do controle in abstrato:
– controvérsia constitucional decidida com eficácia para todos e efeitos
retroativos, em regra.

Nos termos da Constituição Federal, temos:

Compete ao STF processar e julgar, originariamente, a ação direta de inconstitucionalidade de


lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
(CF, alínea “a”, do inciso I, do
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.
artigo 102.)
Compete aos Tribunais dos a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos
Estados normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual.
(CF, artigo 125, § 2°.)

Perceba que não há previsão constitucional para o controle de constitucionalidade da


norma municipal com relação à Constituição Federal.
Pois bem, vamos destrinchar então acerca do controle de constitucionalidade de LEI ou
ATO NORMATIVO MUNICIPAL.

1. Como vimos, a CF estabeleceu que os Tribunais dos Estados farão o controle de


constitucionalidade da norma municipal tendo como parâmetro a Constituição
Estadual.
2. Da interpretação da Constituição, nos termos do item acima, pode-se concluir que
o Tribunal de Justiça não tem competência para julgar a constitucionalidade de
norma municipal em confronto com a Constituição Federal. Sobre o tema, o STF tem
posicionamento claro quando diz: “É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, antes e depois de 1988, no sentido de que não cabe a Tribunais de Justiça
estaduais exercer o controle de constitucionalidade de leis e atos normativos
municipais em face da Constituição Federal.” ADIN 347-0. Assim, acostume-se, não
há controle concentrado, por meio de ADI, que analise a constitucionalidade
de lei municipal em confronto com a Constituição Federal.
3. Sobre o tema, Alexandre de Morais diz: “(…) será inadmissível ação direta de
inconstitucionalidade perante o Supremo Federal ou perante o Tribunal de Justiça
local, inexistindo, portanto, controle concentrado de constitucionalidade, pois o único
controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo municipal em face da
Constituição Federal que se admite é o difuso, exercido incidenter tantum, por todos
os órgãos do Poder Judiciário, quando do julgamento de cada caso concreto”.
4. Mas, está certa a ideia do doutrinador de que o controle concentrado de lei municipal,
em face da Constituição Federal, se dá apenas pelo meio difuso? Ou seja, chega-
se ao STF apenas por meio de Recurso Extraordinário, obviamente com o devido
cumprimento de todos os requisitos intrínsecos e extrínsecos inerentes a essa
modalidade recursal? Não! Há outro meio de controle da norma municipal em
face da Constituição Federal, vejamos.
5. ADPF. A Arguição do Descumprimento de Preceito Fundamental está prevista no
parágrafo 1º, do art. 102 da CF e foi regulamentada pela Lei n. 9.882/99.

ADPF

Art. 1º, parágrafo único, I da Caberá também arguição de descumprimento de preceito fundamental:
Lei n. 9882/88 I – quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional so
lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anterio
à Constituição.
Art. 11 da Lei n. 9882/88 Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo
arguição de descumprimento de preceito fundamental, e tendo em v
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poder
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de s
membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela
tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro mome
que venha a ser fixado.

Em resumo, temos o seguinte:


A. LEI MUNICIPAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
– Controle Difuso
– Controle por meio de ADPF
ATENÇÃO: o STF, em 2 de fevereiro de 2017, no julgamento do RE 650898 firmou tese
em termos de controle de constitucionalidade de Lei Municipal em face da
Constituição Federal:

“Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de


constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro
normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de
reprodução obrigatória pelos Estados.”
Assim, o controle concentrado de Lei Municipal conta não apenas com o Controle
Difuso e ADPF, é possível questionar a constitucionalidade da Lei Municipal, via ADI,
tendo como parâmetro a norma constitucional de reprodução obrigatória na
Constituição do Estado.
B. LEI MUNICIPAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
– ADI estadual
– Se a norma estadual for de reprodução obrigatória por simetria da Constituição
Federal, o STF conhece do tema em sede de Recurso Extraordinário no caso de negativa
da pretensão de inconstitucionalidade da ADI estadual.
Atenção: há discussão doutrinária sobre a possibilidade de instituição de ADC e ADO no
âmbito estadual. Gilmar Ferreira Mendes, em seu curso, defende a possibilidade de ambas
em sede estadual, vejamos:
“Ora, tendo a Constituição de 1988 autorizado o constituinte estadual a criar a representação
de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal em face da Carta
Magna estadual (CF, art. 125, § 2º) e restando evidente que tanto a representação de
inconstitucionalidade, (…) quanto a ação declaratória de constitucionalidade, (…) possuem
caráter dúplice ou ambivalente, parece legítimo concluir que, independentemente de
qualquer autorização expressa do legislador constituinte federal, estão os Estados-membros
legitimados a instituir a ação declaratória de constitucionalidade.”
“(…) as ações diretas por inconstitucionalidade de lei ou ato normativo e a ação direta de
inconstitucionalidade por omissão têm, em grande parte, um objeto comum – a omissão
parcial –, então parece correto admitir que a autorização contida na Constituição Federal
para a instituição da representação de inconstitucionalidade no plano estadual é abrangente
tanto da ação direta de inconstitucionalidade em razão da ação, como da ação direta por
omissão”.
C. LEI MUNICIPAL EM FACE DA LEI ORGÂNICA MUNICIPAL
Não há muita discussão sobre o tema, já que não existe previsão constitucional desse
controle, posição confirmada pelo STF:
Recurso Extraordinário. 2. Controle concentrado de constitucionalidade de lei
municipal em face da Lei Orgânica do Município. Inexistência de previsão
constitucional. 3. Recurso não conhecido. (STF – Recurso Extraordinário – RE n.
175.087/SP – Relator(a): Min. Néri da Silveira – Julgamento em 19/03/2002 – Órgão
Julgador: Segunda Turma – DJ 17-05-2002 PP-00073)
Assim, a lei municipal que contraria lei orgânica do Município incorre em vício de ilegalidade,
não de inconstitucionalidade, razão pela qual não há controle previsto em lei.
Atenção: se a lei que estamos falando contraria lei orgânica do Distrito Federal, que tem
status de Constituição, aí sim podemos falar em inconstitucionalidade em face de lei
orgânica.
ebeji
Questões do CESPE sobre o tema:

1. Eventual impugnação em abstrato de lei Resposta E.


municipal em face da CF deve ser feita por meio da
arguição de descumprimento de preceito O TJ, como vimos, não tem competência para o
fundamental perante o tribunal de justiça. julgamento em abstrato em face da Constituição
Federal, somente em face da Constituição
Estadual.Como já salientamos, o TJ até pode declarar
inconstitucionalidades face à CF, mas somente no
caso concreto, via controle incidental, não em
abstrato.O TJ, nos termos do novo entendimento do
STF, pode analisar a constitucionalidade de lei
municipal em face da CF, apenas para normas de
reprodução obrigatória. De todo modo, a ADPF, no
caso, deve ser analisada pelo STF. Assim, a ADPF
tratada no item deveria ser proposta perante o STF.
2. Considerando que a lei orgânica seja Resposta E.
equivalente, no município, à sua Constituição, se Como salientamos, a lei municipal que contraria lei
uma lei ordinária municipal ferir o disposto na lei orgânica do Município incorre em vício de
orgânica do município, então essa lei ordinária ilegalidade, não de inconstitucionalidade, razão pela
estará sujeita ao sistema de controle de qual não há controle previsto em lei.
constitucionalidade.

3. Compete ao STF processar e julgar Resposta E.


originariamente a ação direta de Ação direta de inconstitucionalidade tendo por objeto
inconstitucionalidade tendo por objeto lei ou ato lei ou ato normativo municipal que contrarie previsões
normativo municipal que contrarie previsões expressas na constituição estadual é de competência
expressas na constituição estadual, desde que do TJ.
constituam mera repetição de disposição prevista
Se a norma estadual for de reprodução obrigatória por
na CF.
simetria da Constituição Federal, o STF conhece do
tema em sede de Recurso Extraordinário no caso de
negativa da pretensão de inconstitucionalidade da
ADI estadual. Agora, também, o TJ, nos termos do
novo entendimento do STF, pode analisar a
constitucionalidade de lei municipal em face da CF,
apenas para normas de reprodução obrigatória.
4. Quando uma lei municipal afronta Resposta C.
simultaneamente dispositivos previstos na CF e na Ver justificativa do item 3.
constituição estadual, mesmo em se tratando de
preceitos de repetição obrigatória, compete ao
tribunal de justiça do estado processar e julgar
originariamente eventual ação direta de
inconstitucionalidade.
5. Compete originariamente ao STF julgar a ADI Resposta E.
ajuizada em face de lei ou ato normativo do DF,
O Distrito Federal é um ente hibrido, ora atua como
praticado no exercício de sua competência estadual
Estado, ora como Município. No caso de atuar como
ou municipal.
Município, não poderá se impugnar tal norma perante
o STF, em controle abstrato, já que não cabe ADI de
norma municipal face a Constituição Federal.

Um abraço a todos, Ubirajara Casado.

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