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plantas medicinais
Marili Villa Nova Rodrigues, Vera Lúcia Garcia Rehder, Adilson Sartoratto, Sinésio Boaventura Júnior, Adriana da
Silva Santos
Universidade Estadual de Campinas
CPQBA-UNICAMP
Divisão de Química Orgânica e Farmacêutica
Caixa Postal 6171, CEP 13083-970, Campinas, SP.
E-mail: marili@cpqba.unicamp.br
Resumo
O extrato vegetal bruto constitui uma matriz bem complexa contendo centenas ou
milhares de metabólitos, que diferem consideravelmente em seus parâmetros físico-químicos
e espectroscópicos. Por isso, uma eficiente detecção e rápida caracterização têm papel
fundamental na pesquisa de produtos naturais biologicamente ativos. Uma eficiente triagem
dos extratos é alcançada através do monitoramento biológico e químico, realizados
concomitantemente. Para isso, a utilização de técnicas hifenadas é de grande valia, pois
fornece numerosas informações estruturais dos metabólitos antes mesmo do seu isolamento.
A hifenação de um método eficiente de separação com detetor espectrométrico constitui a
principal ferramenta utilizada no estudo de plantas medicinais, onde a cromatografia gasosa e
a cromatografia líquida ocupam posições de destaque entre os métodos de separação. Para
compostos que apresentam grupos cromóforos, o detetor de arranjo de diiodos (DAD) é
normalmente empregado; caso contrário, a detecção é feita pelo detetor seletivo de massas,
por causa do grande número de informações geradas. No estudo de plantas medicinais, na
maioria das vezes, torna-se necessário o uso de técnicas complementares para a identificação
dos componentes ativos, como o caso da combinação entre LC-NMR (cromatografia líquida
com detetor de ressonância magnética nuclear), LC-DAD (cromatografia líquida com detetor
de arranjo de diiodos) e LC-MS-MS (cromatografia líquida com detetor seletivo de massas
tandem), graças à complexidade do problema. Com os recentes avanços da tecnologia, os
pesquisadores podem contar com ferramentas poderosas na busca de novos compostos
bioativos.
LC-DAD
A cromatografia líquida com o detetor de arranjo de diiodos (LC-DAD) é uma técnica
amplamente utilizada na análise de produtos naturais desde que o analito apresente grupos
cromóforos que propiciem a absorção de luz na região de UV-visível.
É uma técnica muito aplicada no controle de qualidade de produtos de origem vegetal;
porém, sua utilização na identificação de compostos bioativos é limitada, pois o LC-DAD
fornece apenas o espectro UV-Vis de cada substância como informação estrutural, o que não é
suficiente para a caracterização, pois vários compostos de um mesmo grupo químico
apresentam espectros similares, impossibilitando sua distinção. As informações obtidas com
esta técnica são complementares a outras técnicas hifenadas em cromatografia líquida (LC-
MS, LC-NMR). Um exemplo desta aplicação é análise de compostos fenólicos utilizando-se
LC-DAD-MS (10).
A busca por mais informações sobre a estrutura de compostos levou ao
desenvolvimento de novas técnicas hifenadas como o LC-MS e LC-NMR.
LC-MS e LC-MS-MS
Dentre os acoplamentos, o LC-MS é muito mais seletivo e, em certas circunstâncias,
mais sensível que o LC-DAD. Já a identificação de compostos é mais difícil e nem sempre é
viável, por causa da menor resolução cromatográfica (em comparação com GC) e a possível
coeluição de compostos.
Uma dificuldade encontrada para acoplamento da LC com o MS era a manutenção do
vácuo no detetor de massas, o que foi resolvido em parte pela introdução da fase móvel de
HPLC na forma de “spray” dentro da fonte de íons do MS, onde apenas uma pequena fração
do solvente entra no analisador de massas (11).
O principal problema do uso da LC-MS na química de produtos naturais é a ionização
de uma grande variedade de compostos existentes no extrato bruto. Embora existam vários
tipos de interfaces disponíveis no mercado, nenhuma delas permite a detecção universal de
todos os constituintes da matriz vegetal. Cada interface tem suas próprias características e sua
faixa de aplicação (6).
Inicialmente a LC-MS foi desenvolvida para aplicação na confirmação da identidade
de compostos, mas sua precisão é suficientemente alta para permitir a quantificação de
analitos por calibração interna e externa.
O desenvolvimento de técnicas de ionização à pressão atmosférica, tais como a
ionização química à pressão atmosférica (APCI) e a ionização por eletronebulização ou
eletrospray (ESI) tornaram a técnica de LC-MS aplicável para uma grande variedade de
matrizes. Mais recentemente a disponibilidade do equipamento com fotoionização (APPI)
conferiu universalidade à técnica de LC-MS, permitindo a análise de compostos com baixa
massa molecular até proteínas (12).
A Tabela 03 sumariza algumas das principais características das interfaces utilizadas
em LC-MS.
LC-NMR
O uso do LC-DAD e LC-MS nem sempre é suficiente para a identificação “on-line” de
produtos naturais pois, muitas vezes, faltam informações estruturais conferidas pela LC-
NMR.
Os requerimentos básicos para o acoplamento dessas duas técnicas são:
• Substituição dos tubos convencionais de amostra por cela em fluxo.
• Supressão do solvente. O uso de solventes protonados promove um sinal intenso em
relação ao sinal dos analitos impossibilitando a detecção. Em princípio, isso pode ser
superado utilizando-se solventes deuterados, porém o custo é elevado e outros métodos de
supressão de solvente são indicados. Entretanto, a supressão múltipla do solvente é mais
fácil se ao invés de H2O utilizar D2O na fase móvel.
O acoplamento da HPLC com NMR pode ser encontrado em 3 módulos:
• Fluxo parado: o processo cromatográfico é alterado depois de definir o tempo de
transferência do centro do pico obtido na HPLC para a cela de determinação do NMR.
Depois disso, experimentos uni ou bidimensionais podem ser realizados durante horas.
• Transferência de várias frações (picos cromatográficos) para “loops” sem interrupção da
análise cromatográfica. Os picos são estocados e subseqüentemente transferidos para a
cela de medida do NMR.
• No módulo em fluxo, o eluente é continuamente transferido para a cela do NMR.
Enquanto a fase móvel com os analitos atravessa a cela, o NMR registra espectros
unidimensionais.
Nos últimos anos, o LC-NMR “on-line” tem atraído a atenção de muitos
pesquisadores do ramo dos produtos naturais. Este sistema de detecção é uma ferramenta
poderosa na diferenciação entre isômeros, configurações de açúcar e substituições no anel
aromático, além do que, seu acoplamento simultâneo com o detetor seletivo de massas
permite a aquisição de informações adicionais sobre grupos funcionais e massa molecular
(14).
A alta resolução de informação de métodos NMR permite a identificação de muitos
analitos num só espectro. Compostos de ampla faixa de polaridade podem ser analisados por
LC-NMR incluindo aqueles que não podem ser analisados por GC-MS.
Mesmo assim, para uma elucidação estrutural mais exata de novas moléculas
provenientes de produtos naturais, muitas vezes torna-se necessário o isolamento preparativo,
pois normalmente parte da região do espectro de 1H é perdida e o espectro de 13
C,
indispensável para a identificação, não é fornecido (15).
A resposta obtida por LC-NMR reflete diretamente a concentração do analito,
enquanto que, em LC-MS, a resposta depende da eficiência de ionização, ou seja, das
propriedades químicas do analito.
A principal desvantagem da LC-NMR é sua baixa sensibilidade, que em geral é de 3
ordens de magnitude menor do que para LC-MS e, portanto, não é indicada para a
determinação de baixos níveis de concentração (11).
As principais dificuldades encontradas no emprego da LC-NMR são:
• Dificuldade em observar a ressonância do analito na presença de grande quantidade de
fase móvel.
• Utilização de mais de um solvente protonado na fase reversa.
• Mudança na freqüência de ressonância com o gradiente.
Para LC-NMR, a quantificação é realizada no modo em fluxo, através do uso de um
padrão interno, dispensando o uso de um padrão de referência e de curva de calibração.
Informações mais precisas são obtidas quando o NMR é acoplado “on-line” com
HPLC. O uso de colunas pequenas (75 x 4,5 mm 5 µm) que operam a baixo fluxo (0,017
mL/min) permite o acúmulo de um grande número de espectros.
Por razões de sensibilidade, as determinações por LC-NMR se restringem ao 1H
NMR.
A Tabela 04 ilustra aplicações do LC-NMR na análise de flavonóides, onde a maioria
das citações utiliza o modo “stopped-flow”, dispensando longo tempo para registro do
espectro. O tempo de varredura do espectro pode variar de 1h até vários dias por pico
cromatográfico.
Tabela 04: Estudo de flavonóides por LC-NMR em plantas
A técnica de LC-NMR ainda não foi aceita amplamente pelos cientistas, por causa da
falta de sensibilidade, onde a maior dificuldade é a de observar as ressonâncias do analito na
presença de uma grande quantidade de fase móvel. Porém, constitui uma poderosa ferramenta
na identificação de compostos bioativos quando utilizada em combinação com outras técnicas
hifenadas. Até o momento não temos registro do uso desta técnica no Brasil.
Conclusão
A exigência cada vez maior na obtenção de produtos de origem vegetal com qualidade
requer o emprego de técnicas analíticas seletivas e eficientes, que possibilitem com segurança
a identificação e quantificação de diferentes classes de compostos, o que pode ser obtido com
a utilização das técnicas hifenadas.
Referências Bibliográficas
4. LI, W. & FITZLOFF, J.F. High performance liquid chromatographic analysis of St.
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12. PEREIRA, A.S.; BICALHO, B.; LILLA S.; DE NUCCI, G. Desafios da Química
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15. WILSON, I.D.; BRINKMAN, U.A.T. Hyphenation and hypernation: the practice and
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