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Subunidade 1.

3 — Ficha de avaliação

NOME: N.º: _ TURMA: DATA: ________

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia com atenção o poema «Reticências», de Álvaro de Campos.

Reticências
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!

Vou fazer as malas para o Definitivo,


5 Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é
sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
10 E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,


Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
15 Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
20 Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio
da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela por onde não vi
a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafísica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
25 Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...
Fernando Pessoa, Poesias. Álvaro de Campos, Lisboa, Ática, 1944.

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1. Interprete a metáfora presente no primeiro verso, relacionando-a com o sentido
global do poema.
2. Clarifique o significado que o termo «romântico» adquire no poema. Justifique a
sua resposta com citações pertinentes.
3. Explicite o papel da «vendedeira da rua» (v. 18), indicando os efeitos que o seu
canto tem no sujeito poético.

B
Leia o início do poema «O sentimento dum ocidental», de Cesário Verde.
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

5 O céu parece baixo e de neblina,


O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,


10 Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,


As edificações somente emadeiradas:
15 Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,


De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
20 Ou erro pelos cais a que se atracam botes…
Cesário Verde, Cânticos do Realismo e outros poemas.
32 Cartas, edição de Teresa Sobral Cunha, Lisboa, Relógio
d’Água, 2006.

1. Demonstre que o espaço da cidade influencia o estado psicológico do sujeito


poético.
2. Relacione as estrofes do poema «O sentimento dum ocidental» com três
características temáticas da poesia de Cesário Verde. Ilustre a sua resposta com
citações.

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GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
Leia com atenção o texto seguinte.

«Romântico» — o termo e o conceito


O vocábulo «romântico», tal como «barroco» ou «clássico», apresenta uma
história complexa. Do advérbio latino «romanice», que significava «à maneira dos
romanos», derivou em francês o vocábulo «romanz», escrito «rommant» depois do
século XII e «roman» a partir do século XVII. A palavra «rommant» designou,
5 primeiramente, a língua vulgar, por oposição ao latim, tendo vindo depois a designar
também uma espécie de composição literária escrita em língua vulgar, em verso ou em
prosa, cujos temas consistiam em complicadas aventuras heroicas ou corteses.
O vocábulo francês «rommant» passou para a língua inglesa sob a forma
«romaunt». Cerca de meados do século XVII, encontramos já em uso, em francês e em
10 inglês, os adjetivos «romanesque» e «romantic», correspondentes àqueles nomes.
No século XVII, o adjetivo inglês «romantic» significa «como os antigos romances»
e pode qualificar uma paisagem, uma cena ou um monumento ou pode oferecer um
significado estético-literário. Com efeito, num texto de Thomas Rymer1, o vocábulo
«romântico» possui claramente um significado literário, referindo-se ao carácter
15 fantasioso e romanesco de alguns poemas que, por isso mesmo, pareciam afastar-se
das normas estritamente clássicas.
Não admira que, na atmosfera racionalista que envolve a cultura europeia desde
os finais do século XVII, o vocábulo «romantic» passe a significar «quimérico»,
«ridículo», «absurdo» — qualidades (ou defeitos) que se atribuíam precisamente aos
20 romances e poemas romanescos, quer da literatura medieval, quer de Ariosto, de
Boiardo2, etc. Tal como «gótico», «romântico» designa, na época do Iluminismo3, tudo
o que é produzido pela imaginação desordenada, aquilo que é inacreditável e que
reflete um gosto artístico irregular e mal esclarecido.
No entanto, a par deste significado pejorativo, a palavra que vimos a analisar
25 oferece, no século XVIII, um outro sentido: à medida que a imaginação adquire
importância e à medida que se desenvolvem formas novas de sensibilidade,
«romantic» passa a designar o que agrada à imaginação, o que desperta o sonho e a
comoção da alma, aplicando-se às montanhas, às florestas, aos castelos, etc. Nesta
aceção — que, como foi dito acima, já remonta ao século XVIII —, foi-se obliterando a
30 conexão do vocábulo com o género literário do romance, tendo vindo «romantic» a
exprimir sobretudo os aspetos melancólicos e selvagens da natureza. […]
A palavra adquire definitivamente direito de cidadania na língua francesa, quando
Rousseau4, num passo famoso dos seus Devaneios de um caminhante solitário, escreve
que «as margens do lago de Bienne são mais selvagens e românticas do que as do lago
35 de Genebra».
Aguiar e Silva, Teoria da literatura, vol. I, 8.ª ed., Coimbra,
Livraria Almedina, 1996 (com adaptações e supressões).

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(1) Thomas Rymer: historiador inglês (1643-1713).
(2) Ariosto e Boiardo: poetas italianos que viveram no século XV.
(3) Iluminismo: movimento cultural que defendia o uso da razão como caminho para a Humanidade alcançar a
liberdade e a autonomia.
(4) Jean-Jacques Rousseau: escritor e filósofo francês do século XVII, é um dos nomes maiores associados ao
Romantismo. Proclamou que o Homem é naturalmente bom, sendo corrompido pela sociedade.

1. A partir dos finais do século XVII, devido à atmosfera racionalista,


(A) o adjetivo «romântico» adquiriu uma conotação negativa.
(B) a imaginação passou a ser muito valorizada.
(C) o adjetivo «romântico» adquiriu um sentido positivo.
(D) o papel das emoções na criação artística passou a ser preponderante.
2. A forma verbal «obliterando» (l. 29) significa
(A) «evidenciando».
(B) «acentuando».
(C) «extinguindo».
(D) «formando».
3. O constituinte «complexa» (l. 2) desempenha a função sintática de
(A) predicativo do sujeito.
(B) modificador restritivo do nome.
(C) modificador do grupo verbal.
(D) predicativo do complemento direto.
4. O constituinte «das normas estritamente clássicas» (ll. 16-17) desempenha a função
sintática de
(A) predicativo do complemento direto.
(B) modificador do grupo verbal.
(C) complemento direto.
(D) complemento oblíquo.
5. A oração «que envolve a cultura europeia desde os finais do século XVII» (ll. 17-18) é
uma subordinada
(A) adverbial temporal.
(B) substantiva completiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) adjetiva relativa restritiva.
6. A expressão «No entanto» (l. 24) assegura a coesão
(A) frásica. (C) interfrásica.
(B) lexical. (D) referencial.

4
7. Os termos «vocábulo» (l. 1) e «palavra» (l. 4)
(A) contribuem para a coesão referencial.
(B) estabelecem entre si uma relação de hiponímia/holonímia.
(C) contribuem para a coesão interfrásica.
(D) estabelecem entre si uma relação de sinonímia.
8. Identifique a função sintática do constituinte «em complicadas aventuras heroicas
ou corteses» (l. 7).
9. Indique o tipo de coesão assegurado pela palavra «seus» (l. 33).
10. Transcreva a oração subordinada presente na frase «No entanto, a par deste
significado pejorativo, a palavra que vimos a analisar oferece, no século XVIII, um outro
sentido […]» (ll. 24-25).

GRUPO III
«Não tenhas nada nas mãos / Nem uma memória na alma,»
Ricardo Reis
Elabore uma exposição, com um mínimo de cento e trinta (130) e um máximo de cento
e setenta (170) palavras, na qual se refira aos principais ensinamentos veiculados nos
poemas de Ricardo Reis, relacionando-os com os princípios do estoicismo e do
epicurismo.
Planifique o texto antes de o redigir e reveja-o no fim.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em
branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número
conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —
há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do
texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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