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Algumas questões sobre a extradição no

direito brasileiro

Carmen Tiburcio e Luís Roberto Barroso

Sumário
I – Introdução. II – Questões constitucionais.
1. Competência para apreciar pedidos de extra-
dição. 2. Não-extradição de nacionais. 3. Impos-
sibilidade de extradição por crime político: a.
Histórico e direito comparado; b. Quadro nor-
mativo; c. Doutrina e jurisprudência; d. A extra-
dição política disfarçada. 4. Impossibilidade de
extradição por crime de opinião. 5. Impossibili-
dade de extradição nos casos de sério risco de
vida no país requerente. III – Questões legais. 1.
Aspectos formais: a. O pedido; b. Defeito de
forma do pedido. 2. Aspectos materiais: a. Im-
possibilidade de extradição de brasileiros e por
crimes políticos; b. O princípio da dupla tipici-
dade; c. Prescrição; d. Julgamento no exterior
por juízo ou tribunal de exceção; e. Existência
no Brasil de processo contra o extraditando; f.
O princípio da especialidade; g. Proibição da
extradição para cumprir pena corporal ou de
morte. A questão da possibilidade da extradi-
ção para cumprir pena de prisão perpétua. IV –
Conclusões.

I – INTRODUÇÃO

Carmen Tiburcio é Professora Adjunta de Instrumento de cooperação judiciária


Direito Internacional Privado da Universidade entre os Estados em matéria penal, a extra-
do Estado do Rio de Janeiro, Mestre e Doutora dição consiste na entrega de um indivíduo,
em Direito Internacional pela Universidade de que está no território do Estado solicitado,
Virginia, EUA, e Consultora jurídica no Rio de
para responder a processo penal ou cum-
Janeiro.
prir pena no Estado solicitante.
Luís Roberto Barroso é Professor Titular de
Direito Constitucional da Universidade do Es- Pressuposto do pedido de extradição é a
tado do Rio de Janeiro, Mestre em Direito pela existência de um tratado, geralmente bilate-
Universidade de Yale e Procurador do Estado e ral1, ou, na sua ausência, uma promessa de
advogado no Rio de Janeiro. reciprocidade feita pelo Estado requerente,
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pela qual este promete acolher, no futuro, ral circunscreve-se à legalidade do pedido,
pedidos de extradição enviados pelo Esta- sem que isso implique necessariamente a
do requerido. efetiva concessão da medida, que é da com-
No plano interno, o tema é tratado na petência exclusiva do Chefe do Executivo
Constituição Federal (art. 102, I, g; art. 22, Federal.
XV; e art. 5º, LI e LII), na Lei nº 6.815, de Portanto, o pedido formulado ao Brasil
18.8.80 (arts. 76 a 94), também conhecida pelo governo estrangeiro é encaminhado ao
como Estatuto do Estrangeiro, e no Regimen- Supremo Tribunal, que examina a sua lega-
to Interno do STF (arts. 207 a 214). lidade. Uma vez autorizada a extradição,
O presente trabalho não pretende exau- compete ao Executivo decidir sobre a sua
rir o tema abordado, mas, como o título deno- conveniência. Portanto, é possível que o
ta, tratar de algumas questões sobre o institu- Supremo autorize a extradição e esta não
to da extradição no direito brasileiro atual. venha a ser efetivada, por não ser conveni-
ente ao Executivo2. Contrariamente, seria
II – QUESTÕES impossível a extradição se o Supremo Tri-
CONSTITUCIONAIS bunal indeferisse o pedido e o Executivo ain-
da assim quisesse efetivá-la (MELLO, 1978,
p. 60). Nesse caso, estaríamos diante de uma
1. Competência para apreciar violação a um dispositivo constitucional que
pedidos de extradição determina que compete ao Supremo Tribu-
nal o julgamento da extradição de Estado
Determina o art. 102 da Constituição Fe- estrangeiro. Observe-se, entretanto, que, em
deral: havendo tratado de extradição entre o Bra-
“Compete ao Supremo Tribunal sil e o Estado requerente, fica o Presidente
Federal, precipuamente, a guarda da da República obrigado a conceder a extra-
Constituição, cabendo-lhe: dição, uma vez autorizada pelo Supremo,
I – processar e julgar, originaria- sob pena de violar obrigação assumida pe-
mente: rante o direito internacional (REZEK, 1991,
... p. 202).
g) a extradição solicitada por Es- Observe-se ainda que, como o julgamen-
tado estrangeiro” to do Supremo Tribunal Federal é exigido
Estabelece também a Lei nº 6.815/80 que: pelo texto constitucional, mesmo que o ex-
“Art. 83. Nenhuma extradição será traditando concorde com o pedido formula-
concedida sem prévio pronunciamen- do e deseje submeter-se à jurisdição do Es-
to do plenário do Supremo Tribunal tado requerente, ainda assim deve a legali-
Federal sobre sua legalidade e proce- dade do pedido ser apreciada pela Corte:
dência, não cabendo recurso da deci- “(...) O controle jurisdicional, pelo Ex-
são”. celso Pretório, do pedido de extradi-
Esses dispositivos devem ser combinados ção deduzido por Estado estrangeiro,
com a regra constitucional que determina: traduz indeclinável exigência de or-
“Art. 84. Compete privativamente dem constitucional e poderosa garan-
ao Presidente da República: tia – de que nem mesmo o extraditan-
... do pode dispor – contra ações eventu-
VII – manter relações com Estados almente arbitrárias do próprio Esta-
estrangeiros”. do”3.
Assim, como cabe ao Presidente da Re- É bem de ver, ainda, que o exame judicial
pública manter relações com Estados estran- circunscreve-se às questões enunciadas nas
geiros, o exame do Supremo Tribunal Fede- normas constitucionais e na legislação or-

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dinária, sem adentrar aspectos relativos ao cados antes da naturalização ou (2) em hipóteses
mérito do processo que tramita no exterior. de comprovado envolvimento em tráfico ilícito
Esse entendimento encontra-se consolida- de entorpecentes e drogas afins, encerrando
do na jurisprudência, como se vê das trans- assim um debate doutrinário acerca da pos-
crições abaixo: sível inconstitucionalidade da regra, previs-
“Inadmissibilidade da pretensão ta na legislação ordinária7, que admitia a
de trazer a prova documental produ- extradição de brasileiros naturalizados por
zida no Estado requerente ao conhe- crimes cometidos antes da naturalização.
cimento do Supremo Tribunal Fede- Parte da doutrina entendia que, como o tex-
ral como se fora este, não apenas o to constitucional equiparava os brasileiros
Juízo da legalidade da extradição, naturalizados aos natos, não poderia a le-
como de fato é, mas o próprio julga- gislação ordinária tratar aqueles diferente-
dor da ação penal a que responde o mente, admitindo a sua extradição nesses
paciente.(...)”4. casos específicos (SOUZA, 1998, p. 126-130).
Na mesma linha: A esse argumento costumava-se contra-
“(...) 3. Não compete à Justiça bra- por o fato de que, a rigor, não teria havido
sileira, no processo de extradição, de- válida aquisição da nacionalidade brasilei-
cidir sobre o acerto ou desacerto da ra (TIBURCIO, p. 9), à vista dos requisitos
Justiça portuguesa, na interpretação legais impostos à concessão da naturaliza-
e aplicação de sua legislação. ção: (1) bom procedimento; (2) inexistência de
4. Ao se pronunciar sobre o pedi- denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil
do de extradição, não cabe ao STF exa- ou no Exterior por crime doloso a que seja comi-
minar o mérito da condenação ou nada pena mínima de prisão, abstratamente con-
emitir juízo a respeito de vícios que siderada, superior a um ano8. A questão ficou
porventura tenham maculado o pro- superada com a nova Carta, havendo a Su-
cesso no estado requerente.(...)”5. prema Corte decidido não ser necessário
anular previamente a naturalização para
2. Não-extradição de nacionais conceder-se a extradição9.
A outra novidade prevista no texto cons-
A extradição é um tema tradicionalmen- titucional foi a possibilidade de extradição
te merecedor da atenção específica do cons- de brasileiros naturalizados por envolvi-
tituinte brasileiro. Prevê o texto constitucio- mento em tráfico de drogas. Diversamente
nal em vigor, em seu art. 5º, LI, que “nenhum da primeira ressalva, essa hipótese tinha
brasileiro será extraditado, salvo o natura- mesmo de constar da Constituição para ser
lizado, em caso de crime comum, praticado legítima: diante da equiparação entre brasi-
antes da naturalização, ou de comprovado leiros natos e naturalizados, prevista em
envolvimento em tráfico ilícito de entorpe- sede constitucional, qualquer tratamento
centes e drogas afins, na forma da lei”. distinto estabelecido na legislação ordinária
A proibição de extraditar nacionais não seria necessariamente considerado discrimi-
está presente nem na Constituição Imperi- nação, violando assim a Carta Política.
al, nem na Carta republicana de 1891, sur- Em seu denso estudo sobre extradição,
gindo somente na história constitucional assinalou Artur Gueiros a propósito da pre-
brasileira a partir de 19346, permanecendo visão constitucional:
nos textos posteriores. “Nesse prisma, pode-se sustentar
Mantendo a proibição de extraditar na- que, se de um lado a inovação em cau-
cionais, a Constituição Federal de 1988 ino- sa é digna de críticas, na medida em
va ao admitir a extradição de naturalizados que discrimina, in pejus, o brasileiro
em duas situações: (1) em caso de crimes prati- naturalizado – em detrimento de uma

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tradicional política de proteção à na- nação do ato imputado e o juízo estran-
cionalidade adquirida –, por outro não geiro sobre a seriedade da suspeita.
se pode deixar de reconhecer que, ante 2. No ‘sistema belga’, a que se filia
o elevado índice de extraditandos en- o da lei brasileira, os limites estreitos
volvidos no tráfico de drogas, alguma do processo extradicional traduzem
ação necessitava ser tomada ao nível disciplina adequada somente ao con-
do direito positivo, constitucional ou trole limitado do pedido de extradi-
não”10 (p. 133). ção, no qual se tomam como assentes
Cabe observar que o Supremo Tribunal os fatos, tal como resultem das peças
Federal deu alcance restritivo ao dispositi- produzidas pelo Estado requerente;
vo ao interpretar os requisitos a serem exigi- para a extradição do brasileiro natu-
dos para conceder-se a extradição: compro- ralizado antes do fato, porém, que só
vado envolvimento no tráfico ilícito de entorpe- a autoriza no caso de seu ‘comprova-
centes e na forma da lei, como previstos no do envolvimento’ no tráfico de drogas,
texto constitucional. Liderado pelo Minis- a Constituição impõe à lei ordinária a
tro Sepúlveda Pertence, o entendimento do- criação de um procedimento específi-
minante da Corte é no sentido de só permi- co, que comporte a cognição mais
tir a extradição na hipótese de (a) ser pro- ampla da acusação, na medida neces-
mulgada lei regulando a matéria e (b) tra- sária à aferição da concorrência do
tar-se de extradição executória. Foi o que se pressuposto de mérito, a que excepci-
decidiu no primeiro pedido de extradição onalmente subordinou a procedência
formulado após a promulgação da Consti- do pedido extraditório: por isso, a nor-
tuição: ma final do art. 5º, LI, da CF, não é
“(...) II – Extradição do brasileiro regra de eficácia plena, nem de apli-
naturalizado anteriormente ao crime, cabilidade imediata (...)”11.
no caso de ‘comprovado envolvimen-
to em tráfico ilícito de entorpecentes, 3. Impossibilidade de extradição
na forma da lei’ (CF, art. 5º, LI, parte por crime político
final): pressupostos não satisfeitos de
eficácia e aplicabilidade da regra cons- Dispõe ainda a Constituição em vigor,
titucional. em seu artigo 5º, LII, que “não será concedi-
1. Ao princípio geral de inextradi- da extradição de estrangeiro por crime polí-
tabilidade do brasileiro, incluído o tico ou de opinião”. Trata-se da reprodução
naturalizado, a Constituição admitiu, de regra que já constava das Cartas de 1967-
no art. 5º, LI, duas exceções: a primei- 69 (art. 150, § 19, e art. 153, § 19), 1946 (art.
ra, de eficácia plena e aplicabilidade 141, § 33) e 1934 (art. 113, nº 31).
imediata, se a naturalização é poste-
a. Histórico e direito comparado
rior ao crime comum pelo qual procu-
rado; a segunda, no caso de naturali- Em seus primórdios, o instituto da ex-
zação anterior ao fato, se se cuida de tradição visava somente à entrega de pesso-
tráfico de entorpecentes: aí, porém, as que houvessem cometido crimes contra
admitida, não como a de qualquer es- os soberanos, tanto porque havia conside-
trangeiro, mas, sim, ‘na forma da lei’, rável uniformidade ideológica – e assim o
e por ‘comprovado envolvimento’ no crime contra um monarca era uma ameaça
crime: a essas exigências de caráter potencial aos demais –, como também por-
excepcional não basta a concorrência que criminosos comuns não eram conside-
dos requisitos formais de toda extra- rados um “perigo público” (WIJNGAET,
dição, quais sejam, a dúplice incrimi- 1980, p. 5).

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Após a Reforma Protestante, a Revolu- de mais do êxito ou do fracasso da causa
ção Industrial e as revoluções burguesas, o que os impulsiona; (3) o país estrangeiro,
quadro histórico alterou-se substancialmen- que deve permanecer neutro, não deve (e
te na Europa, tendo em vista, por um lado, o nem pode) ser instrumento penal de uma
fim da hegemonia ideológica e a convivên- das partes em disputa (Apud CAHALI,
cia com um certo pluralismo político e reli- 1993, p. 343).
gioso, e, por outro, o grande aumento da Assim, a grande dificuldade passou a
mobilidade individual proporcionado pe- residir na definição de crime político, sem
las novas máquinas, que permitia que pes- que jamais se questionasse a existência da
soas acusadas de crimes comuns passas- regra em si: a não-extradição de acusados
sem a se locomover para além das frontei- de crimes políticos. Com efeito, o grande in-
ras do Estado nacional, surgindo a necessi- ternacionalista Hersch Lauterpacht já regis-
dade de adotar a extradição para os crimes trou: “in the legislation of modern states there
de homicídio, estupro e roubo (PHILIPS, are few principles so universally adopted as that
1997, p. 339). Esse conjunto de fatores aca- of non-extradition of political offenders”12. O
bou por desencadear um movimento inver- problema da definição de crime político foi
so, passando-se a admitir a extradição so- enfatizado por Oppenheim, que considera-
mente para aqueles acusados de crimes co- va tal tarefa impossível; por Glaser, que via
muns, sendo os acusados de crimes políti- a questão como “une des tâches les plus diffici-
cos excluídos desse instituto. les du droit extraditionnel”; e por R. Koehring-
A França e a Bélgica foram os países pre- Joulin, que a ela se referiu como “définition
cursores dessa nova tendência excludente introuvable” (Apud ERRERA, 1995, p. 283).
já no início do século XIX (LABAYLE, 1996, Na busca de tal definição, a doutrina e a
p. 894) até que em 1890, com a eclosão do prática dos Estados passaram a distinguir
movimento anarquista, que visava destruir entre os crimes políticos puros e os comple-
todas as formas de governo, surgem dúvi- xos. Os primeiros têm por sujeito passivo o
das acerca da extensão dessa regra. Estado, não afetando os civis. São os casos,
A exceção do crime político é justificada v.g., dos crimes de traição, conspiração para
por vários fundamentos, o que acaba tor- derrubar um governo e espionagem (PHI-
nando a questão mais complexa. O primei- LIPS, 1997, p. 342) – hipóteses que, inequi-
ro baseia-se no conceito de que os Estados vocamente, impedem a extradição.
não devem se imiscuir nas atividades inter- O problema surge nos crimes políticos
nas dos demais, e a extradição de crimino- complexos ou relativos, quando há, num
sos políticos significaria um parti pris do mesmo fato, uma mistura de elementos de
Estado concedente em face do Estado reque- crimes tanto políticos quanto comuns. Os
rente. Pondera-se ainda que, embora o cri- países adotam critérios diversos para ad-
me político seja contrário à moral, este se mitir ou não a extradição nesses casos. Os
justificaria pelas circunstâncias do momen- Estados Unidos e a Inglaterra tendem a ado-
to. Além disso, vale lembrar que o acusado tar o critério da existência de um momento
de crime político tem mais chances do que o político conturbado para a definição de cri-
criminoso comum de ser submetido a julga- me político – “(...) if those crimes were inciden-
mentos injustos ou a outras violações de tal to and formed a part of political disturban-
direitos fundamentais básicos (SWART, ces”; a Suíça adota o critério do motivo de-
1992, p. 182-183). Outras considerações po- terminante do acusado, que deve ter funda-
dem justificar essa regra: (1) os delitos polí- mento político conjugado com o critério da
ticos são considerados crimes para o venci- finalidade; e a França adota o critério da
do, mas não para o vencedor; (2) a sua puni- motivação, conjugado com a gravidade do
ção, no lugar em que são praticados, depen- crime cometido13.

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b. Quadro normativo todas as infrações que excedam os li-
mites lícitos do ataque e da defesa.
A proibição de extraditar em virtude da 4. Não é delito político o genocí-
prática de crime político é também reprodu- dio, de acordo com a Convenção das
zida em nível infraconstitucional, no art. 77, Nações Unidas”.
VII, da Lei nº 6.815/80, que estabelece: A Convenção Modelo da ONU sobre Ex-
“Art. 77. Não se concederá a extra- tradição prevê, em seu artigo 3º, que a extra-
dição quando (...) dição não será concedida se o delito que
VII – o fato constituir crime políti- motivou o pedido extradicional for qualifi-
co; cado no Estado requerido como de nature-
§ 1º A exceção do item VII não im- za política 14.
pedirá a extradição quando o fato Ademais, a qualificação da natureza do
constituir, principalmente, infração crime como político cabe ao Estado requeri-
da lei penal comum, ou quando o cri- do. Nesse sentido é a regra prevista na Lei
me comum, conexo ao delito político, nº 6.815/80, art. 77:
constituir o fato principal. “§ 2º Caberá, exclusivamente, ao
§ 2º Caberá, exclusivamente, ao Su- Supremo Tribunal Federal, a aprecia-
premo Tribunal Federal, a apreciação ção do caráter da infração”.
do caráter da infração. Também assim determina o Código Bus-
§ 3º O Supremo Tribunal Federal tamante:
poderá deixar de considerar crimes “Art. 355. Estão excluídos da ex-
políticos os atentados contra Chefes tradição os delitos políticos e os com
de Estado ou quaisquer autoridades, eles relacionados, segundo a defini-
bem assim os atos de anarquismo, ter- ção do Estado requerido”.
rorismo, sabotagem, seqüestro de pes-
c. Doutrina e jurisprudência
soa, ou que importem propaganda de
guerra ou de processos violentos para Autores nacionais têm convergido para
subverter a ordem política ou social”. a idéia de que é mais fácil definir o que não
Essa mesma nregra é adotada pela Con- é crime político do que o contrário. Nesse sen-
venção Européia de 1957 sobre extradição, tido, Celso Albuquerque Mello (1978, p. 53):
em seu art. 3.1. “Atualmente tem predominado a
Na XI Conferência Interamericana, a aplicação de um critério misto para a
Comissão Jurídica Interamericana (órgão da verificação da natureza política ou
OEA, sediado no Rio de Janeiro) concluiu não de um crime. Contudo, somos da
pela adoção dos seguintes critérios para a opinião que não há qualquer vanta-
definição de crime político: gem e que existe uma impossibilidade
“1. São delitos políticos as infra- de se definir crime político. É mais fácil
ções contra a organização e funciona- de definir o que não é crime político”.
mento do Estado. Nessa linha de abordagem negativa,
2. São delitos políticos as infrações Heleno Cláudio Fragoso escreveu que não
conexas com os mesmos. Existe cone- devem ser considerados crimes políticos “os
xidade quando a infração se verificar: que atingem interesses administrativos do
(1) para executar ou favorecer o aten- Estado, que são crimes comuns” (1976, p.
tado configurado no número 1; (2) 148).
para obter a impunidade pelos deli- Tem prevalecido, em toda parte, o crité-
tos políticos. rio do exame das circunstâncias de cada caso
3. Não são delitos políticos os crimes concreto para concluir se o crime é ou não
de barbárie ou vandalismo e em geral político, sem a adoção de uma definição pré-

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via. Sobre o assunto, escreveu Viscount Rad- Inúmeros votos e decisões traduzem o
cliffe, a propósito do tratamento da matéria esforço nesse sentido, neles sobressaindo a
no Reino Unido: verificação da presença dos elementos mo-
“O que é um delito de natureza tivação e finalidade. Enfrentando o tema,
política? Os tribunais, eu presumo, averbou o Ministro Aldir Passarinho:
têm formulado esta questão periodi- “(...) O crime será político ou não
camente desde que ela foi inicialmen- pela motivação do agente e os fins a
te posta em 1890 no caso In re Castio- que visa. O crime é político ou não
ni, e, até agora, nenhuma definição foi pelas características que o envolvem.
elaborada ou está prestes a ser. Aliás, Ele é, ou não é, substancialmen-
tem-se considerado uma vantagem o te(...)”18.
fato de não haver uma definição. In- Em outro caso, o Ministro Djaci Falcão
clino-me para concordar com que isto enfatizou a idéia da finalidade, nos seguin-
seja uma vantagem desde que se reco- tes termos:
nheça que o significado das palavras “(...) Nada nestes autos, por outro
‘crime político’, mesmo que não com- lado, demonstra ou sequer insinua na
preenda uma definição precisa, repre- personalidade do extraditando o
senta entretanto uma idéia que pode e substrato psíquico dos delinqüentes
deve ser descrita se vier a integrar o fun- políticos, senão o puro intuito comer-
damento de uma decisão judicial”15. cial do lucro (...)”19.
Na jurisprudência brasileira, o Supremo Na mesma linha de determinação da fi-
Tribunal Federal, confirmando o sentido do nalidade como elemento fundamental para
mandamento constitucional, já assentou a identificação do crime político, pronun-
que a vedação da extradição na hipótese de ciou-se o Ministro Célio Borja, in verbis:
crime político configura uma inafastável “(...) Em nenhum momento, entre-
garantia individual, um direito público sub- tanto, alegou, sequer, que os teria pra-
jetivo, em decisão na qual se lavrou: ticado com vistas à consecução de um
“A inextraditabilidade de estran- fim político. Se verdadeiras as impu-
geiros por delitos políticos ou de opi- tações, o extraditando teria causado a
nião reflete, em nosso sistema jurídi- morte e torturado prisioneiros confia-
co, uma tradição constitucional repu- dos à sua guarda, quando no exercí-
blicana. Dela emerge, em favor dos cio de funções públicas de relevo, em
súditos estrangeiros, um direito pú- seu país. Tal conduta é punível pelo
blico subjetivo, oponível ao próprio direito penal comum, não se constitu-
Estado e de cogência inquestionável. indo em crime político, mas em abuso
Há, no preceito normativo que consa- de autoridade, conduta arbitrária, ou
gra esse favor constitutionis, uma insu- em agravante da pena cominada (...)”20.
perável limitação jurídica ao poder de No recente julgamento do pedido formu-
extraditar do Estado brasileiro (...)”16. lado pelo Paraguai de extradição de Gusta-
Mas, no tocante à caracterização do cri- vo Stroessner, filho do ex-presidente Alfre-
me político, não se afastou da inevitabilida- do Stroessner, o Ministro Relator Celso de
de do exame das circunstâncias concretas, Mello parece ter concordado com o parecer
resumida na ementa abaixo: da Procuradoria-Geral da República, quan-
“Crime Político. (...) do, ao negar a natureza política dos crimes
Exame caso por caso, pelo Supre- imputados ao extraditando, enfatiza que o
mo Tribunal Federal. Descaracteriza- extraditando “inclusive parece não ter exer-
ção de delito político, na hipótese em cido qualquer cargo de natureza político-
julgamento (...)”17. administrativa”21.

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O exame dos precedentes, brevemente dirá a extradição quando constituir,
exemplificados acima, permite incluir, en- principalmente, infração da lei penal
tre os elementos relevantes para caracteri- comum, conexo ao delito político,
zar a ocorrência de crime político, a motiva- constituir fato principal. Ora, o fato
ção do agente, os fins visados e a circuns- principal, para a tutela constitucional,
tância de ter exercido cargo ou função polí- é sempre o crime político. Este é que
tico-administrativos. imuniza o estrangeiro da extradição.
Aqui é importante fazer uma nota. O cri- Logo, onde ele se caracterize, onde ele
tério da preponderância, considerado arbi- exista, predomina sob qualquer outra
trário por alguns (CAHALI, 1983, p. 349), circunstância, e, portanto, não cabe a
compõe a definição de crime político, já que medida, pouco importando haja ou
a legislação ordinária a ele se refere no art. não delito comum envolvido, que fica
77, § 1º, da Lei nº 6.815/80, in verbis: submergido naquele” (1997, p. 327).
“A exceção do item VII não impe- O ilustre constitucionalista completa
dirá a extradição quando o fato cons- ainda: “O Supremo saberá atuar com pru-
tituir, principalmente, infração da lei dência e visão do sentido da garantia cons-
penal comum, ou quando o crime co- titucional, de sorte que, em havendo dúvida
mum, conexo ao delito político, cons- quanto à natureza política do delito, se de-
tituir o fato principal”. cida por esta” (Idem).
Entretanto, a norma constitucional, que De fato, ao julgar o pedido de extradição
veda a extradição com base em crime políti- de Fernando Carlos Falco, apresentado pela
co, não prevê qualquer ressalva ou limita- República Argentina, devido à invasão do
ção. Desse modo, havendo crime político, quartel de La Tablada, o Supremo Tribunal
este sempre haverá de preponderar sobre o Federal decidiu que o fato político principal
comum, para os fins de evitar a extradição, contamina os delitos conexos comuns:
não podendo a lei ordinária impor restri- “Ditos fatos, por outro lado, ainda
ções à garantia constitucional, sob pena de quando considerados crimes diver-
violar a Carta Magna. sos, estariam contaminados pela na-
Nesse sentido é a lição de Pontes de Mi- tureza política do fato principal cone-
randa: xo, a rebelião armada, à qual se vin-
“Para o direito brasileiro, nenhu- cularam indissoluvelmente, de modo
ma das limitações que se conhecem a constituírem delitos políticos relati-
ao princípio da inextraditabilidade, vos (...)”22.
em casos de crime político ou de opi- Assim, no caso supracitado, como os cri-
nião, pode ser admitida. Seria contrá- mes foram cometidos durante uma rebelião
ria à Constituição de 1967, art. 153, § armada, tais atos, mesmo sendo considera-
19, como o seria a que permitisse a ex- dos como crimes comuns, foram absorvidos
tradição do autor de crime político se pelo crime político a que estavam vincula-
é ‘particularmente odioso’, ou ‘crime dos.
contra a pessoa do Chefe de Estado’, Cabe, ainda, uma observação final acer-
ou ‘crime comum com maior gravida- ca da regra inscrita no § 3º do artigo 77 da
de do que o crime político’” (1974, p. Lei nº 6.815/80, na qual se prevê:
281). “O Supremo Tribunal Federal po-
José Afonso da Silva perfilha esse mes- derá deixar de considerar crimes po-
mo entendimento: líticos os atentados contra chefes de
“(...) É portanto, inconstitucional Estado ou quaisquer autoridades,
o § 1º do art. 77 da Lei 6.815/80 ao bem assim os atos de anarquismo, ter-
declarar que o fato político não impe- rorismo, sabotagem, seqüestro de pes-

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soa, ou que importem propaganda de Ressalve-se, entretanto, que esse dispo-
guerra ou de processos violentos para sitivo veicula mera faculdade, já que é em
subverter a ordem política ou social”. caráter excepcional que se admite que o Su-
Quanto à possibilidade de deixar de con- premo Tribunal não considere tais crimes
siderá-los crimes políticos, como já visto como políticos, apesar de o serem. Assim,
acima, existe a fundada alegação de que não independentemente da discussão acerca de
caberia à legislação ordinária estabelecer sua constitucionalidade ou não, a Corte
limitações a um direito subjetivo público, pode deixar de aplicá-la.
previsto em sede constitucional, que é o da
não-extradição com base em crime político. d. A extradição política disfarçada
Além disso, tem sido impugnado o tratamen- Exatamente porque todas as convenções
to diferenciado dado ao atentado dirigido a internacionais e a legislação interna dos
determinadas autoridades públicas e o que Estados em geral proíbem a extradição com
se volte para outras pessoas, quando a mo- base em crimes políticos, tendo essa regra
tivação política esteja presente em uma e em se tornado de aceitação universal (RUSSO-
outra hipótese. Sobre o ponto, escreveu Gil- MANO, p. 85), muitas vezes o Estado reque-
da Russomano: rente solicita a extradição com base em deli-
“Além disso, muitos crimes de di- tos puníveis pelo direito comum, embora de
reito comum, por se encontrarem liga- fato exista uma situação de perseguição
dos, intimamente, a acontecimentos política. Essa tese foi desenvolvida no Bra-
políticos (como uma insurreição), são sil pelo então advogado e hoje Ministro do
excluídos, pela sua natureza, da me- Supremo Tribunal Federal José Paulo Sepúl-
dida extradicional. Por que, então, jul- veda Pertence em minucioso trabalho apre-
gar, diferentemente, o assassínio de um sentado na VIII Conferência Nacional da
chefe de Estado resultante, também, de OAB em 1980, quando sustentou:
paixões políticas?” (1981, p. 95). “(...) Uma das formas mais odio-
Hildebrando Accioly e Geraldo Eulálio sas de perseguição política é a que se
do Nascimento Silva também se pronuncia- esconde, particularmente nos perío-
ram contra a regra do § 3º, art. 77, da Lei nº dos pós-revolucionários, sob a aparên-
6.815/80, pelos fundamentos a seguir re- cia legal dos processos forjados a pro-
produzidos: pósito de delitos comuns, gerando, na
“Muitos autores, entretanto, con- esfera internacional, a preocupação
denam – não sem razão – a aludida com a chamada extradição política dis-
cláusula de exceção, a qual se tornou farçada (‘extradition politique déguisée’).
conhecida como ‘cláusula do atenta- (...) Põe-se, assim, o problema da
do’ ou ‘cláusula belga’. Entre os que a extradição política disfarçada, quan-
criticam, uns dizem não ser justo en- do as circunstâncias demonstrem que
tregar-se o assassino de um chefe de a persecução formalmente desencade-
Estado e não proceder de igual forma ada por imputação de delitos comuns
nos casos de assassínios de pessoas dissimula o propósito de perseguir
menos importantes; outros sustentam inimigos políticos ou, pelo menos, evi-
ser inadmissível que a natureza de um denciem que a posição política do ex-
ato e as regras que, em virtude de tal traditando, na conjuntura real do Es-
natureza, lhe devem ser aplicadas se- tado requerente, influirá desfavoravel-
jam determinadas a priori, fazendo-se mente no seu julgamento” (p. 67).
abstração das circunstâncias do caso Mais tarde, no exame de um caso con-
ou não as levando em conta” (1996, p. creto, o Ministro Francisco Rezek adotou
354-355). essa tese em seu voto, ao afirmar, in verbis:

Brasília a. 38 n. 150 abr./jun. 2001 181


“(...) Não posso perder de vista que, que tal medida não deve ser concedida se o
neste caso, é duvidoso que a extradi- Estado requerido tem razões para acreditar
ção vise tão-somente ao exercício da que o pedido de extradição foi formulado
justiça penal no seu aspecto ordiná- com o propósito de perseguição ou punição
rio. A boa fé do governo requerente não com base em raça, religião, nacionalidade,
obscurece o fato, mais ou menos notó- ou opiniões políticas ou que a posição do
rio, de que o processo penal contra acusado será prejudicada por um desses
antigos líderes montoneros pretende fatores (GILMORE, 1992, p. 703).
neutralizar certo incômodo político O direito brasileiro absorveu essa regra
que se produz em setores outros do com o Código Bustamante, que prevê:
próprio quadro político argentino, e “Art. 356. A extradição também
que estimam tendencioso o intento não será concedida se a petição de
persecutório do regime hoje ali esta- entrega foi formulada, de fato, com o
belecido. fim de se julgar ou castigar o acusado
Acompanho o voto do eminente por um delito de caráter político”.
relator, indeferindo o pedido de extra- A origem dessa regra remonta à proibi-
dição”23. ção do “refoulement”, considerada como um
A Convenção de Genebra de 1951, que direito fundamental, independentemente de
versa sobre o estatuto dos refugiados, já tra- sua inclusão em tratados e na legislação
tava, em seu artigo 33, da proibição de ex- interna dos Estados26, pelo qual a vítima de
pulsão ou de “refoulement” do refugiado – perseguição por suas idéias e posições polí-
seja de que forma isso ocorra – para um país ticas não deve ser enviada de volta para o
no qual a sua vida ou liberdade seja amea- país que a persegue.
çada em virtude de sua raça, religião, nacio- Independentemente dessa construção, o
nalidade, participação em certo grupo soci- fato é que no Brasil essa regra tem força obri-
al ou suas opiniões políticas. gatória, por estar também prevista no Pacto
Ao estabelecer, em seu art. 3º, a regra ge- de São José da Costa Rica, de 1969, ratifica-
ral de proibição da extradição por delitos do pelo Brasil27, cujo art. 23 determina que:
políticos, a Convenção Européia de 1957 já “§ 8º Em nenhum caso o estran-
incluía nessa vedação a extradição política geiro pode ser expulso ou entregue a
disfarçada, caso o Estado requerido tivesse outro país, seja ou não de origem,
razões sérias para acreditar que o pedido onde seu direito à vida ou a liberdade
de extradição por uma infração de direito pessoal esteja em risco de violação por
comum fora motivado pela finalidade de causa da sua raça, nacionalidade, re-
punir um indivíduo em razão de sua raça, ligião, condição social ou de suas opi-
religião, nacionalidade, opinião política ou niões políticas”.
se a situação desse indivíduo pudesse vir a Lembre-se que, em virtude do § 2º do art.
ser agravada em função de qualquer uma 5º da Constituição Federal, que determina
dessas razões24. A recente Lei Modelo sobre que “os direitos e garantias expressos nesta
Extradição da ONU, em seu art. 3º, adota Constituição não excluem outros decorren-
essa mesma regra25. tes do regime e dos princípios por ela adota-
A Convenção sobre o Genocídio de 1948 dos, ou dos tratados internacionais em que
e a Convenção Européia de 1977 sobre a a República Federativa do Brasil seja par-
Supressão do Terrorismo, que adotam a re- te”, a ordem interna brasileira está obriga-
gra geral de que os crimes previstos em cada da a respeitar os direitos e garantias indivi-
uma delas não devem ser considerados duais previstos em tratados de direitos hu-
como políticos para os fins de evitar a extra- manos regularmente ratificados. Desse
dição, estabelecem, entretanto, a ressalva de modo, a entrega do extraditando para um

182 Revista de Informação Legislativa


país onde esteja sujeito a perseguições em “§ 8º Em nenhum caso o estran-
virtude de suas opiniões políticas violará geiro pode ser expulso ou entregue a
frontalmente o citado dispositivo. outro país, seja ou não de origem,
onde seu direito à vida ou à liberdade
4. Impossibilidade de extradição pessoal esteja em risco de violação por
por crime de opinião causa da sua raça, nacionalidade, re-
ligião, condição social ou de suas opi-
A Constituição Federal, como já trans- niões políticas”.
crito, veda também a extradição por crime Aliás, a Corte Européia de Direitos Hu-
de opinião. Essa garantia decorre do direito manos tem utilizado esse argumento para
de expressar-se livremente, reconhecido a impedir a saída compulsória de estrangei-
todos desde a Declaração dos Direitos do ros, quando tal medida implique um prová-
Homem e do Cidadão de 1789, em seu art. vel risco de vida no país para onde estaria
11. A liberdade de manifestação do pensa- sendo enviado. Tem entendido que, nesses
mento é um direito fundamental presente casos, a expulsão/extradição/deportação
em todos os instrumentos de direitos huma- do estrangeiro viola a regra assecuratória
nos e está assegurada a todos os indivíduos do direito à vida, prevista no art. 3º da Con-
na Declaração Universal dos Direitos Hu- venção Européia dos Direitos Humanos,
manos de 1948, art. 19, e no Protocolo de aplicável a todos os indivíduos, nacionais e
Direitos Civis e Políticos da ONU de 1966, estrangeiros. Nessa linha a decisão do caso
ratificado pelo Brasil, também em seu art. Soering v. UK, na qual se considerou que o
19. Entre nós, esse direito é garantido ex- Estado membro infringiu a regra acima men-
pressamente em sede constitucional tanto a cionada quando decidiu extraditar um in-
brasileiros como a estrangeiros residentes, divíduo para um país onde a sua integrida-
nos termos dos arts. 5º, IV e IX, e 220. de física não estava totalmente assegurada.
No mesmo sentido, os casos Chahal v. UK,
5. Impossibilidade de extradição decisão de 15.11.96, e Ahmed v. Austria, deci-
nos casos de sério risco de vida dido em 17.12. 9628.
no país requerente
III – QUESTÕES LEGAIS
O direito à vida é garantido a todos, bra-
sileiros e estrangeiros, com base no artigo
5º, caput, da Constituição Federal. Adicio-
1. Aspectos formais
nalmente, e como já mencionado, por força
a. O pedido
do § 2º desse mesmo dispositivo, “os direi-
tos e garantias expressos nesta Constitui- O Estatuto do Estrangeiro prevê que o
ção não excluem outros decorrentes do regi- pedido de extradição deve ser enviado ao
me e dos princípios por ela adotados, ou Brasil por via diplomática ou diretamente
dos tratados internacionais em que a Repú- pelo governo estrangeiro, o que exclui a pos-
blica Federativa do Brasil seja parte”. As- sibilidade de pedidos formulados por auto-
sim, reforçam esse direito um conjunto de ridade judiciária ou administrativa estran-
atos internacionais garantidores do direito geira. Assim, nos países onde a autoridade
à vida: a Declaração Universal dos Direitos judiciária é a competente para solicitar a
Humanos de 1948, o Protocolo de Direitos extradição, o pedido deve ser ratificado pelo
Civis e Políticos de 1966, ratificado pelo Bra- governo estrangeiro. Textualmente, prescre-
sil, e, especificamente, o Pacto de São José ve a Lei nº 6.815/80:
da Costa Rica de 1969, também já citado, “Art. 80. A extradição será reque-
cujo art. 23 determina: rida por via diplomática ou, na falta

Brasília a. 38 n. 150 abr./jun. 2001 183


de agente diplomático do Estado que base em defeitos de forma dos documentos
a requerer, diretamente de governo a apresentados pelo Estado requerente, como
governo (...)”. comprovam as decisões abaixo:
Com base em tal princípio, que já vem “Extradição. Incompetência quan-
desde o regime legal anterior na matéria, o to aos crimes praticados em Sobibór,
Supremo Tribunal Federal já indeferiu pe- na Polônia, já que o extraditando per-
dido de extradição formulado pela autori- deu a nacionalidade austríaca. Man-
dade judiciária estrangeira, sem a interven- dado de captura, quanto aos fatos
ção do governo29, como se vê do acórdão a ocorridos em Hartheim, que não pre-
seguir: enche os requisitos exigidos pela lei
“Extradição. Pressuposto. Compe- brasileira....”31.
tência. E, no mesmo sentido:
É pressuposto essencial da extra- “Não é de se conceder a extradi-
dição que seja ela requerida por go- ção se a descrição dos fatos tidos como
verno de país estrangeiro. ilícitos não atende aos requisitos exi-
Pedido não conhecido, visto que gidos no art. 80 da Lei 6.815/80”32.
formulado por autoridade judiciária Especificamente, o Supremo Tribunal
estrangeira”30. Federal tem exigido que os fatos motivado-
res do pedido extradicional sejam narrados
b. Defeito de forma do pedido
com clareza e objetividade:
O art. 85, § 1º, da Lei nº 6.815/80 prevê o “É essencial, especialmente nas ex-
vício de forma dos documentos apresenta- tradições instrutórias, que a descrição
dos pelo Estado requerente como impedi- dos fatos motivadores da persecução
mento à concessão da extradição, nos se- penal no Estado requerente esteja de-
guintes termos: “A defesa versará sobre a monstrada com suficiente clareza e
identidade da pessoa reclamada, defeito de objetividade. Impõe-se deste modo, no
forma dos documentos apresentados ou ile- plano da demanda extradicional, que
galidade da extradição”. E o art. 80 da mes- seja plena a discriminação dos fatos,
ma lei, por sua vez, estabelece: os quais, indicados com exatidão e
“Art. 80. A extradição será reque- concretude em face dos elementos vá-
rida por via diplomática ou, na falta rios que se subsumem ao tipo penal,
de agente diplomático do Estado que poderão viabilizar, por parte do Esta-
a requerer diretamente de governo a do requerido, a análise incontroversa
governo, devendo o pedido ser instru- dos aspectos concernentes: (a) à du-
ído com a cópia autêntica ou a certi- pla incriminação; (b) à prescrição pe-
dão da sentença condenatória, da de nal; (c) à gravidade objetiva do delito;
pronúncia ou da que decretar a pri- (d) à competência jurisdicional do
são preventiva, proferida por juiz ou Estado requerente e ao eventual con-
autoridade competente. Esse docu- curso de jurisdição; (e) à natureza do
mento ou qualquer outro que se jun- delito e (f) à aplicação do princípio da
tar ao pedido conterá indicações pre- especialidade.
cisas sobre o local, data, natureza e O descumprimento desse ônus
circunstâncias do fato criminoso, iden- processual, por parte do Estado reque-
tidade do extraditando, e, ainda, có- rente, justifica e impõe, quer em aten-
pia dos textos legais sobre o crime, a ção ao que preceituam as cláusulas
pena e sua prescrição”. do tratado de extradição, quer em ob-
O Supremo Tribunal Federal tem indefe- séquio às prescrições de nosso direito
rido inúmeros pedidos de extradição com positivo interno, o integral e pleno in-

184 Revista de Informação Legislativa


deferimento da extradição passiva. nistrem, pelo menos, indícios razoá-
Pedido indeferido”33. veis de culpabilidade”37.
E também: Mais recentemente, extrai-se de voto do
“Os crimes de associação para de- Ministro Celso de Mello a seguinte observa-
linqüir são imputáveis a cada um dos ção:
associados, independentemente de “Nem mesmo a comunicação po-
sua participação em cada um dos de- licial em que se baseou contém ele-
litos-fim da organização criminosa; mentos descritivos suficientes, que
mas, para que o deferimento da extra- permitam definir, de forma a ensejar a
dição autorize o processo também por verificação do princípio da dupla ti-
esses últimos, é preciso que a docu- picidade, qual o comportamento ilíci-
mentação instrutória do pedido pre- to imputado ao extraditando, quando
cise em relação a cada um deles, a con- teria ele ocorrido, de que modo teria
duta do extraditando”34. sido a execução da prática criminosa,
Além disso, na descrição dos fatos im- em que lugar teria sido consumada
putados ao extraditando, deve ficar clara a (...)”38.
sua participação nos mesmos, como igual- Finalmente, o Código Bustamante, pro-
mente enfatizado pela Corte: mulgado no Brasil pelo Decreto 18.871/29,
“Essa condenação não contém in- estabelece:
dicação de fatos concretos de partici- “Art. 365. Com o pedido definitivo
pação do extraditando em atos de ter- de extradição devem apresentar-se:
rorismo ou de atentado contra a vida 1. Uma sentença condenatória ou
ou a incolumidade física das pesso- um mandado ou auto de captura ou
as. E o texto é omisso quanto às con- um documento de igual força, ou que
dutas que justificaram a condenação obrigue o interessado a comparecer
dos demais agentes, de sorte que não periodicamente ante a jurisdição re-
se pode aferir quais foram os fatos glo- pressiva, acompanhado das peças do
balmente considerados (...)”35. processo que subministrem provas ou,
Quanto a esse aspecto, observou o ex- pelo menos, indícios razoáveis da cul-
Ministro Francisco Rezek, em texto doutri- pabilidade da pessoa de que se trate.
nário, que o fato determinante da extradi- 2. A filiação do indivíduo reclama-
ção deverá ser “narrado em todas as suas do ou os sinais ou circunstâncias que
circunstâncias”, sendo objeto de “minucio- possam servir para o identificar.
sa narrativa”, a cargo do Estado requeren- 3. A cópia autêntica das disposi-
te36. E o Supremo Tribunal Federal já exigiu, ções que estabeleçam a qualificação
particularmente em pedido de extradição legal do fato que motiva o pedido de
instrutória, que haja indícios razoáveis so- entrega, definam a participação nele
bre a culpabilidade do extraditando, como atribuída ao culpado e precisem a
se depreende da decisão a seguir: pena aplicável”.
“Pedido de extradição; quando A aplicação do Código Bustamante, in-
não se acha em termos para ser deferi- clusive para relações jurídicas ligadas a
do, segundo o próprio tratado entre o países que não sejam Partes da convenção
Brasil e o país requerente e o Código que o instituiu, defendida entre nós, inicial-
de Direito Internacional Privado, a que mente, por Clóvis Beviláqua, é matéria que
o Brasil aderiu pelo Decreto nº 18.871, já foi apreciada pelo Supremo Tribunal Fe-
de 1929. Falta de motivação da prisão deral, consoante a decisão ora reproduzida:
preventiva decretada contra o extra- “Observou-se, algures, aplicar-se
ditando ou cópia de peças que submi- no Brasil o Código Bustamante exclu-

Brasília a. 38 n. 150 abr./jun. 2001 185


sivamente aos súditos dos países que lidade deve ser absoluta e formal, de
o adotaram. Não parece apoiado em modo que seja impossível executar a
boa razão e acerto: os tratados, sim, norma recente sem postergar, destruir
apenas obrigam as partes contratan- praticamente a antiga.
tes; mas um Código, seja qual for a sua (3) para a derrogação, basta a in-
origem, é lei do país que o promulgou, conciliabilidade parcial, embora tam-
rege o direito por ele regulado, qual- bém absoluta quanto ao ponto em con-
quer que seja a nacionalidade das pes- traste. Portanto a abolição das dispo-
soas que naquele território o invo- sições anteriores se dará nos limites
quem”39. da incompatibilidade; o prolóquio – a
Mesmo após a edição da Lei nº 6.815/ lei posterior derroga a anterior (lex
80, a aplicabilidade do Código Bustamante posterior derogat priori) deve ser apli-
afigura-se como a melhor linha de entendi- cado em concordância com outro, já
mento, a despeito da existência de pronun- transcrito – leges posteriores ad priores
ciamento eventual do Supremo Tribunal pertinent.(...)” (grifo no original).
Federal em sentido diverso: Ora bem: a Lei nº 6.815/80 nem revogou
“O Código Bustamante – que cons- expressamente o Código Bustamante, nem
titui obra fundamental de codificação é com este conflitante, razão pela qual con-
do direito internacional privado – não tinuam vigentes, válidos e eficazes os requi-
mais prevalece, no plano do direito sitos ali estabelecidos quanto aos documen-
positivo brasileiro, no ponto em que tos exigíveis e a necessidade da existência
exige que o pedido extradicional ve- de indícios razoáveis de culpabilidade do
nha instruído com peças do processo extraditando. Não há que se invocar, tam-
penal que comprovem, ainda que me- pouco, o critério da especialidade – lex spe-
diante indícios razoáveis, a culpabi- cialis derogat generalis – tanto por não haver
lidade do súdito estrangeiro reclama- conflito entre as normas como porque am-
do (art. 365, I, in fine)”40. bos os diplomas, a lei e o tratado, contêm
De fato, consoante jurisprudência con- normas genéricas sobre o assunto.
solidada, os tratados plurilaterais situam-
se no mesmo plano hierárquico das leis fe- 2. Aspectos materiais
derais41. Assim, a norma interna posterior
somente prevalece sobre o ato internacional A Lei nº 6.815/80 traz ainda um conjunto
quando ocorrer antinomia manifesta ou re- de óbices materiais que impedem conceder-
vogação expressa. Fora dessas duas hipóte- se a extradição. Confira-se a transcrição sele-
ses, e em nome da preservação dos compro- tiva de dispositivos do seu art. 77, in verbis:
missos internacionais do país, deve-se bus- “Art. 77. Não se concederá a extra-
car interpretação harmonizadora. A incom- dição quando:
patibilidade entre as normas não deve ser I – se tratar de brasileiro, salvo se a
presumida, e sendo possível a convivência, aquisição dessa nacionalidade verifi-
ambas subsistem. A esse propósito, confira- car-se após o fato que motivar o pedi-
se a lição de Carlos Maximiliano (1947, p. do;
427-428): II – o fato que motivar o pedido não
“Em suma: a incompatibilidade for considerado crime no Brasil ou no
implícita entre duas expressões de Estado requerente;
Direito não se presume; na dúvida, se III – (...)
considerará uma norma conciliável IV – a lei brasileira impuser ao cri-
com a outra(...) me a pena igual ou inferior a 1 (um)
Para a ab-rogação a incompatibi- ano;

186 Revista de Informação Legislativa


V – (...) “(...)Extradição e Princípio da Du-
VI – estiver extinta a punibilidade pla Tipicidade.
pela prescrição segundo a lei brasilei- Revela-se essencial, para a exata
ra ou a do Estado requerente; aferição do respeito ao postulado da
VII – o fato constituir crime políti- dupla incriminação, que os fatos atri-
co; buídos ao extraditando – não obstan-
VIII – o extraditando houver de res- te a incoincidência de sua designação
ponder, no Estado requerente, peran- formal – revistam-se de tipicidade pe-
te tribunal ou juízo de exceção. nal e sejam igualmente puníveis tan-
§ 1º A exceção do item VII não im- to pelo ordenamento jurídico domés-
pedirá a extradição quando o fato tico quanto pelo sistema de direito
constituir, principalmente, infração positivo do Estado requerente. Prece-
da lei penal comum, ou quando o cri- dente: RTJ 133/1075. (...)”42.
me comum, conexo ao delito político, Não basta que o fato punível praticado
constituir o fato principal. pelo extraditando seja apenado tanto na le-
§ 2º Caberá, exclusivamente, ao Su- gislação do Estado requerente como na do
premo Tribunal Federal, a apreciação Brasil, mas também que em ambos o fato seja
do caráter da infração. punível como crime. Assim, se a legislação
§ 3º O Supremo Tribunal Federal brasileira tipificar o fato como contraven-
poderá deixar de considerar crimes ção, o pedido extradicional será indeferido,
políticos os atentados contra Chefes como já se decidiu:
de Estado ou quaisquer autoridades, “Extradição e porte ilegal de arma
bem assim os atos de anarquismo, ter- de fogo – Contravenção penal – Im-
rorismo, sabotagem, seqüestro de pes- possibilidade
soa, ou que importem propaganda de O porte ilegal de arma de fogo –
guerra ou de processos violentos para ainda que seja qualificado como cri-
subverter a ordem política ou social”. me pela legislação penal do Estado
estrangeiro –não autoriza a extradi-
a. Impossibilidade de extradição de
ção, eis que se trata de ilícito tipifica-
brasileiros e por crimes políticos
do como simples contravenção penal
Os temas já foram desenvolvidos no ca- pelo direito positivo vigente no Bra-
pítulo II deste trabalho, pois as proibições sil. Precedentes do STF”43.
de extradição de brasileiros e por crimes
c. Prescrição
políticos constam originalmente do texto da
Constituição Federal. Outro pressuposto básico da extradição
é que o fato imputado ao extraditando não
b. O princípio da dupla tipicidade
esteja com a sua punibilidade extinta, seja
Os fatos imputados ao extraditando de- pela lei brasileira, seja pela lei do Estado
vem ser tipificados como crime tanto no país requerente. Estão abrangidos por essa ex-
requerente como no país requerido, como cludente não só a prescrição, mas também a
determina o inciso II do art. 77 da Lei nº anistia, graça ou indulto (SOUZA, 1998, p.
6.815/80. Isso significa que em ambos os 21). Essa regra é decorrência básica da pre-
países os crimes imputados ao extraditan- missa de que os fatos imputados ao extradi-
do devem ser puníveis pela legislação pe- tando devem ser passíveis de punição, tan-
nal, pouco importando as diferenças termi- to no Estado requerente como no Estado re-
nológicas existentes na legislação dos dois querido, e um crime considerado prescrito
países. Nesse sentido já determinou o Su- pelo Estado requerido não atenderia o re-
premo Tribunal: quisito da punição em ambos os países.

Brasília a. 38 n. 150 abr./jun. 2001 187


d. Julgamento no exterior por juízo Esse entendimento do devido processo
ou tribunal de exceção legal, mais preocupado com as condições
da realidade do que apenas com elementos
A lei ordinária veda a extradição, como formais, tem sido adotado pelo Supremo
se observa do artigo 77, VIII, supracitado, Tribunal Federal em vários precedentes,
sempre que o extraditando vier a ser subme- como ilustrado a seguir:
tido no Estado requerente a julgamento por “A noção de tribunal de exceção
tribunal de exceção. Com fundamento nes- admite, para esse efeito, configuração
sa regra, o Supremo Tribunal negou a extra- conceitual mais ampla. Além de abran-
dição, requerida pelo Haiti, do coronel Al- ger órgãos estatais criados ex post fac-
bert Pierre, chefe de polícia durante o regi- to, especialmente instituídos para o
me do Presidente Duvalier: julgamento de determinadas pessoas
“(...)V – Juízo ou tribunal de exceção. ou de certas infrações penais, com evi-
Caracteriza-se quando instituído dente ofensa ao princípio da natura-
ou modificado o regime de competên- lidade do juízo, também compreende
cia dos órgãos jurisdicionais, intuitu os tribunais regulares, desde que ca-
personae. racterizada, em tal hipótese, a supres-
Conceitos divergentes sobre juízo são, em desfavor do réu, de qualquer
de exceção entre o país requerente e o das garantias inerentes ao devido
adotado na doutrina e precedentes processo legal. A possibilidade de pri-
judiciais brasileiros. vação, em juízo penal, do due process
Verificação, in casu, da excepciona- of law, nos múltiplos contornos em que
lidade do juízo pela fixação de novo se desenvolve esse princípio assegu-
regime de competência tendo em vis- rador dos direitos e da própria liber-
ta, única e exclusivamente, a pessoa dade do acusado – garantia de ampla
do extraditando. defesa, garantia do contraditório,
Pedido de extradição indeferido”44. igualdade entre as partes perante o
Observe-se que a Corte tem dado a esse juiz natural e garantia de imparciali-
dispositivo amplitude maior do que a sim- dade do magistrado processante –,
ples verificação da existência de um tribu- impede o válido deferimento do pedi-
nal criado especialmente para julgar o ex- do extradicional”45.
traditando. A esse respeito, esclarece Artur
e. Existência no Brasil de processo
Gueiros (1998, p. 118):
contra o extraditando
“Sobre a questão da vedação de tri-
bunais de exceção – prevista no arti- O artigo 89 da Lei nº 6.815/80 impede a
go 5º, inciso XXXVII, da Constituição entrega do extraditando se este estiver sen-
da República e no artigo 77, inciso VIII, do processado no Brasil por crime punível
da Lei nº 6.815/80 – deve-se salientar com pena privativa de liberdade. Entretan-
que o Supremo Tribunal ampliou seu to, a extradição pode ser efetivada, se for da
âmbito de abrangência, para compre- conveniência do governo brasileiro:
ender não apenas a proibição de en- “Quando o extraditando estiver
trega de alguém para uma jurisdição sendo processado no Brasil, por in-
criada ex post facto, mas, também, para fração penal punível com pena priva-
denegar os pedidos oriundos de lu- tiva de liberdade, o ato extradicional
gares onde não exista o mínimo de somente deverá ser executado após
respeito ao cinturão de garantias com- concluído o processo-crime ou, quan-
preendidas na cláusula do devido do for o caso, depois de cumprida a
processo legal”. pena. O Presidente da República, con-

188 Revista de Informação Legislativa


tudo, atento a razões de conveniência te de extradição já concedida solicite
pertinentes ao interesse nacional, po- sua extensão para abranger delito di-
derá ordenar a imediata efetivação da verso. Precedentes do STF”47.
extradição, inobstante haja processo
penal instaurado ou, até mesmo, te- g. Proibição da extradição para cumprir
nha ocorrido condenação. pena corporal ou de morte. A questão da
Esta faculdade, conferida pelo art. possibilidade da extradição para cumprir
89, in fine, do Estatuto do Estrangeiro, pena de prisão perpétua
pertence ao chefe do Poder Executivo Estabelece o art. 91 da Lei nº 6.815/80 que:
da União, a cuja discrição e exclusiva “Art. 91. Não será efetivada a en-
deliberação submete-se o seu exercí- trega sem que o Estado requerente as-
cio. O presidente da República, em tal suma o compromisso:
circunstância, é o único árbitro da (...)
conveniência e oportunidade da efe- III – de comutar em pena privativa
tivação dessa medida excepcional”46. de liberdade a pena corporal ou de
morte, ressalvados, quanto à última,
f. O princípio da especialidade
os casos em que a lei brasileira permi-
Prevê o art. 91 da Lei nº 6.815/80 os com- tir a sua aplicação”.
promissos que o Estado requerente deverá Vedar a extradição para cumprimento de
assumir para, depois de concedida a extra- pena corporal ou de morte é questão pacífi-
dição pelo plenário do Supremo Tribunal ca na doutrina e jurisprudência brasileiras,
Federal, ser-lhe entregue o extraditando. por se tratar de regra expressa contida na
Entre esses, figura o princípio da especiali- lei. Nesses casos, a rigor, a extradição vem a
dade, segundo o qual o extraditando não ser efetivada, mediante compromisso do
pode ser punido, no país solicitante, por cri- Estado requerente de comutar tal pena por
me diverso daquele que motivou o pedido outra restritiva de liberdade48.
original de extradição: Nada obstante, alguns países que não
“Art. 91. Não será efetivada a en- adotam a pena de morte extraditam estran-
trega sem que o Estado requerente as- geiros para outros que imponham tal pena,
suma o compromisso: sem qualquer ressalva. Esse é o caso do Ca-
I – de não ser o extraditando preso nadá, cuja Suprema Corte, no caso Kindler
nem processado por fatos anteriores v. Canada (Minister of Justice), ratificou uma
ao pedido”. ordem extradicional do Ministro de Justiça
Para que o Estado estrangeiro possa vir para os Estados Unidos, sem a exigência de
a punir o extraditando por crime diverso que a pena de morte não fosse imposta ao
daquele que motivou o pedido de extradi- extraditando. A Corte concluiu que a ordem
ção, deve solicitar uma extensão do pedido do Ministro não constituía uma pena cruel
original: e sustentou:
“Constitucional. Pena. Extradição: “A execução, se ocorrer, será nos
Pedido de extensão. Pedido feito pelo EUA, com base na legislação norte-
Governo Suíço. americana, envolvendo um nacional
I – Pedido de extradição para o fim norte-americano com relação a um
de o extraditando ser processado por delito ocorrido nos EUA”49.
fatos delituosos não compreendidos Entretanto, tem despertado polêmica a
no pedido de extradição. (...) possibilidade de conceder-se a extradição
II – O princípio da especialidade, para cumprimento de pena de prisão perpé-
adotado no art. 91, I, da Lei nº 6.815/ tua no Estado requerente, por tratar-se de san-
80, não impede que o Estado requeren- ção inadmitida pela Constituição brasileira50.

Brasília a. 38 n. 150 abr./jun. 2001 189


De início, o STF adotou o entendimento IV – CONCLUSÕES
de que a pena de prisão perpétua deveria
ser comutada por prisão com o prazo máxi- 1. A extradição é um instrumento de coo-
mo fixado na legislação brasileira, que é de peração judiciária em matéria penal entre
trinta anos51. Foi essa a posição adotada em Estados, subordinada a prévio pronuncia-
pedido de extradição do ex-oficial da SS ale- mento judicial e, em caso de deferimento, à
mã, Franz Paul Stangl, de cuja ementa do decisão política do Executivo. O Supremo
acórdão constou: Tribunal Federal, ao apreciar a matéria, não
“(...) 3. Comutação da pena. examina o mérito do processo que, no país
a. A extradição está condicionada estrangeiro, deu ensejo ao pedido extradici-
à vedação constitucional de certas onal. Compete-lhe, tão-somente, verificar o
penas, como a prisão perpétua, embo- cumprimento dos pressupostos constituci-
ra haja controvérsia a respeito, espe- onais e legais para a concessão da medida.
cialmente quanto às vedações da lei 2. A Constituição veda a extradição de
penal ordinária. brasileiros natos em qualquer caso e tam-
b. O compromisso de comutação da bém a de naturalizados, salvo duas exce-
pena deve constar do pedido, mas pode ções: (i) no caso de crime comum, praticado
ser prestado pelo Estado requerente antes da naturalização, e (ii) na hipótese de
antes da entrega do extraditando”52. comprovado envolvimento em tráfico ilícito
Esse precedente foi seguido em pedidos de entorpecentes e drogas afins, na forma
de extradição subseqüentes53, até o julga- da lei. Na ausência da lei referida no texto
mento do caso Russel Wayne Weisse, quan- constitucional, não é possível a extradição
do a Corte alterou o seu entendimento e de- de brasileiro naturalizado.
feriu a extradição, sem a ressalva da comu- 3. É vedada a extradição por crime polí-
tação da pena de prisão perpétua em pena tico, como tal consideradas as infrações con-
limitativa de liberdade54. Essa decisão fun- tra a organização e o funcionamento do Es-
dou-se, sobretudo, em dois argumentos: 1) tado. Tratando-se de crime político puro, a
impossibilidade de emprestar eficácia trans- interdição é absoluta. As dificuldades sur-
nacional aos direitos previstos na nossa gem em relação aos delitos políticos comple-
Constituição; 2) a Lei nº 6.815/80, art. 91, xos ou relativos, nos quais estão igualmente
III, e a grande maioria dos tratados de extra- presentes elementos de crime comum.
dição em vigor só impõem aos Estados a 4. Não existe um critério rígido, prévio e
obrigação de comutar a pena corporal ou de abstrato para a caracterização de um crime
morte, nada mencionando sobre a pena de como político quando também estão presen-
prisão perpétua. tes elementos de crime comum. Tal defini-
As decisões posteriores da Corte têm ção somente pode ser feita à vista do caso
mantido esse novo entendimento: concreto e deverá levar em conta fatores
“Extradição – Possibilidade da como: (a) a situação política do Estado re-
concessão ainda que esteja o extradi- querente, (b) a motivação do agente, (c) o fim
tando sujeito à pena de prisão perpé- visado e (d) a condição da vítima (e. g., ocu-
tua no país requerente – Inexistência pante de cargo público, candidato a cargo
de restrição. Voto vencido. político etc.). Deve o intérprete estar atento à
É admissível, sem qualquer restri- extradição política disfarçada, na qual a
ção, a possibilidade de o Governo Bra- persecução ideológica da vítima se oculta
sileiro extraditar o súdito estrangeiro sob a imputação de crime comum.
reclamado, mesmo nos casos em que 5. Além das vedações constitucionais,
esteja ele sujeito a sofrer pena de pri- que incluem também o crime de opinião,
são perpétua no país requerente(...)”55. existem diversas hipóteses legais nas quais

190 Revista de Informação Legislativa


não se concederá a extradição: defeito de nº 2.010, de 23.9.96), Bélgica (Rio de Janeiro, 6.5.53;
forma no pedido, inocorrência de dupla ti- Dec. Leg. nº 26/56, de 19.6.56; Dec. Exec. nº 41.909,
de 29.7.57), Espanha (Brasília, 2.2.88; Dec. Leg. nº
picidade (o fato tem de ser crime no país 75/89, de 29.11.89; Dec. Exec. nº 99.340, de 22.6.90),
requerente e no Brasil), pena imposta pela EUA (Rio de Janeiro, 13.1.61; Dec. Leg. nº 13/64,
lei brasileira inferior a um ano e ocorrência de 18.6.64; Dec. Exec. nº 55.750, de 11.2.65), Itália
de prescrição, seja pela lei brasileira ou do (Roma, 17.10.89; Dec. Leg. nº 78/92, de 20.11.92;
Estado requerente. Dec. Exec. nº 863, de 9.7.93), Paraguai (Assunção,
24.2.22; Dec. Leg. nº 4.612/22, de 29.11.22; Dec.
6. A lei prevê, ainda, a não-concessão da Exec. nº 16.925, de 27.5.25), Portugal (Brasília,
extradição quando esteja sujeito o extradi- 7.5.91; Dec. Leg. nº 96/92, de 23.12.92; Dec. Exec.
tando a juízo ou tribunal de exceção. Tal clá- nº 1.325, de 2.12.94) e Reino Unido (Londres, 18.7.95;
usula, submetida ao filtro constitucional, Dec. Leg. nº 91/96, de 11.09.96; Dec. Exec. nº 2.347,
irradia-se para incluir as hipóteses em que de 10.10.97).
2
Ver ACIOLY; SILVA, 1996, p. 358-359. Ver
o pedido tenha-se originado em procedimen- também MELLO, 1978, p. 60-61). Adotando posi-
to no qual não foi observado o devido pro- ção divergente REZEK (1991, p. 203) entende que,
cesso legal (de acordo com standards míni- uma vez enviado o pedido ao STF, assume o Exe-
mos estabelecidos na lei brasileira ou em atos cutivo o compromisso de extraditar, caso o Judici-
internacionais) ou se houver risco real de ário a autorize.
3
Extradição nº 509, rel. Min. Celso de Mello, j.
vida para o extraditando no país requerente. 4.5.90, DJU de 1.6.90, p. 4.930. No mesmo sentido:
7. Em matéria extradicional, vigora o prin- “Não pode, entre nós, o extraditando, como no sis-
cípio da especialidade: o extraditando não tema francês, renunciar ao benefício da lei, median-
pode ser punido, no país solicitante, por cri- te a exteriorização do propósito de ser colocado à
me diverso do que motivou o pedido origi- disposição do Estado que o reclama independente-
mente do pronunciamento judiciário”. Extradição
nal de extradição. Se o Estado requerente nº 314, rel. Min. Bilac Pinto, RTJ 64/22; HC nº
quiser punir por outro crime o extraditan- 52.251, rel. Min. Luiz Gallotti, j. 22.05.74, DJU
do, deverá requerer ao Brasil autorização 23.8.74.
expressa para isso, formulando um pedido 4
Extradição nº 773, rel. Min. Octavio Gallotti, j.
de extradição supletiva. 23.2.00, DJU de 28.4.00, p. 72. No mesmo sentido,
Extradição nº 768, rel. Min. Ilmar Galvão, j. 3.5.00,
8. Quando o extraditando estiver sujei- DJU de 16.6.00, p. 31 e Extradição nº 776, rel. Min.
to, no Estado requerente, a pena de morte, o Celso de Mello, j. 6.4.00, DJU de 10.8.00, p. 3.
Supremo Tribunal Federal impõe como con- 5
Extradição nº 565, rel. Min. Sydney Sanches,
dição para deferir a extradição a comutação RTJ 160/402.
de pena, que somente poderá ser privativa
6
A Constituição de 1934 determinava: “Art.
113 § 31. Não será concedida a Estado estrangeiro
de liberdade. Quando sujeito a prisão per- a extradição por crime político ou de opinião, nem,
pétua, prevaleceu longamente na Corte o em caso algum, de brasileiro”.
entendimento de que o Estado requerente 7
Art. 1º §, 1º, do Decreto-Lei nº 394/38; art. 88,
deveria comutar a pena para o prazo máxi- I do Decreto-Lei nº 941/69 e art. 77, I, da Lei nº
mo previsto na lei brasileira (trinta anos). 6.815/80.
8
Art. 112, VI e VII, da Lei nº 6.815/80, respec-
Recentemente, contudo, passou a conceder tivamente.
a extradição, nessa hipótese, sem qualquer 9
“Habeas Corpus. Extradição de brasileiro natu-
ressalva. ralizado anteriormente condenado no país de ori-
gem por crimes comuns. Artigo 77, I da Lei 6.815/
80, em face da norma do art. 5º, inciso LI da Cons-
tituição de 1988. Desnecessidade de prévia anula-
Notas ção da naturalização, para a concessão da extradi-
ção. Alegações sobre a identidade entre os crimes
1
Atualmente o Brasil tem tratados de extradi- praticados no país de origem e os previstos na legis-
ção com os seguintes países: Argentina (Buenos lação penal brasileira, cujo exame excede o âmbito
Aires, 15.11.61; Dec. Leg. nº 85/64, de 29.9.64; Dec. do habeas corpus, devendo ser deduzidas no proces-
Exec. nº 62.979, de 11.7.68), Austrália (Camberra, so de extradição. Habeas corpus denegado”. HC nº
22.8.94; Dec. Leg. nº 36/96, de 28.3.96; Dec. Exec. 67.621, rel. Min. Carlos Madeira, RTJ 135/96.

Brasília a. 38 n. 150 abr./jun. 2001 191


10
Relativamente à última parte da citação, 19
Extradição nº 347, rel. Min. Djaci Falcão, RTJ
“constitucional ou não”, deve-se chamar a atenção 86/1.
dos leitores que qualquer alteração necessariamen- 20
Extradição nº 446, rel. Min. Célio Borja, j.
te deveria ser feita em sede constitucional, diante 17.12.86, DJU 7.8.87, p. 15.432.
da equiparação entre brasileiros natos e naturaliza- 21
Extradição nº 524, rel. Min. Celso de Mello, j.
dos na Constituição, conforme comentário anterior 31.10.90, DJU 8.3.91, p. 2.200.
feito no texto. 22
Extradição nº 493, rel. Min. Sepúlveda Per-
11
Extradição nº 541, rel. Min. Néri da Silveira, tence, j. 4.10.89, DJU 3.8.90, p. 7.235.
rel. para o Acórdão Min. Sepúlveda Pertence, j. 23
Extradição nº 417, rel. Min. Alfredo Buzaid,
7.11.92, DJU 18.12.92, p. 24.374. No mesmo senti- rel. para o Acórdão Min. Oscar Corrêa, RTJ 111/16.
do, ver os pedidos de Extradição nº 688, rel. Min. 24
No original:“La même règle s’appliquera si la
Celso de Mello, j. 9.10.96, DJU 22.8.97, p. 38.760, e partie requise a des raisons sérieuses de croire que la
690, rel. Min. Néri da Silveira, j. 6.3.97, DJU 20.3.98, demande d’extradition motivée par une infraction de
p. 5. droit commun a été présentée aux fins de poursuivre ou
12
“Na legislação dos estados modernos há pou- de punir un individu pour des considérations de race, de
cos princípios que sejam adotados de forma tão religion, de nationalité, ou d’opinions politiques, ou que
universal quanto o da não extradição dos crimino- la situation de cet individu risque d’être aggravée pour
sos políticos”. Laws of nations and the punishment of l’une ou l’autre de ces raisons”.
war crimes. British Yearbook of International Law, 1944, 25
“Mandatory Grounds for Refusal: Extradition
p. 58. shall not be granted in any of the following circumstan-
13
Com base nesse critério, a França negou o ces: If the requested State has substantial grounds for
pedido de extradição de Abu Daoud, suspeito de believing that the request for extradition has been made
ter participado no massacre conhecido como “se- for the purpose of prosecuting or punishing a person on
tembro negro”, contra os atletas israelenses nas account of that person’s race, religion, nationality, eth-
Olimpíadas de 1972, formulado pela então Alema- nic origin, political opinions, sex or status, or that that
nha Ocidental e Israel (PHILIPS, 1997, p. 347-349). person’s position may be prejudiced for any of those
14
”Mandatory grounds for refusal: Extradition shall reasons”.
not be granted in any of the following circumstances: 26
Sobre essa categoria dos direitos fundamen-
a) If the offence for which extradition is requested is tais e a inclusão nela dessa regra, ver GOODWIN-
regarded by the requested State as an offence of a poli- GILL 1978, p. 75, 141. Ver também TIBURCIO, p.
tical nature”. 75-102.
15
No caso R. v. Governor of Brixton Prison ex 27
Decreto nº 678, de 6.11.92.
parte Schtraks, em 1964, apud GILMORE (p. 704). O 28
O caso Soering v. UK foi reproduzido na Re-
texto transcrito é uma tradução livre do original: vue Universelle des Droits de l’Homme, p. 99, 1989.
“What then is an offence of a political character? The O caso Chahal v. UK foi publicado no LXVIII The
courts, I am afraid, have been asking this question at British Yearbook of International Law, 388-390, 1997.
intervals ever since it was first posed juridically in 1890 Ahmed v. Austria foi publicado na Revue Universel-
in In re Castioni, and no definition has yet emerged or by le des Droits de l’Homme, p. 386, 1997.
now is ever likely to. Indeed, it has come to be regarded 29
Ver também art. 76 da Lei nº 6.815/80.
as something of an advantage that there is to be no 30
Extradição nº 314, rel. Min. Bilac Pinto, RTJ
definition. I am ready to agree in the advantage so long 64/22.
as it is recognised that the meaning of such words as ‘a 31
Extradição nº 359, rel. Min. Cunha Peixoto,
political offence’, while not to be confined within a precise RTJ 92/955.
definition, does nevertheless represent an idea which is 32
Extradição nº 452, rel. Min. Aldir Passarinho,
capable of description and needs description if it is to form j. 1.4.87, DJU 8.5.87, p. 8.360.
part of the apparatus of a judicial decision”. 33
Extradição nº 524, rel. Min. Celso de Mello, j.
16
Extradição nº 524, rel. Min. Celso de Mello, j. 31.10.90, DJU 8.3.91, p. 2.200.
31.10.90, DJU 8.3.91, p. 2.200. 34
Extradição nº 670, rel. Min. Sepúlveda Per-
17
Extradição nº 446, rel. Min. Célio Borja, j. tence, j. 11.6.97, DJU 27.6.97, p. 30.225.
17.12.86, DJU 7.8.87, p. 15.432. No mesmo sentido 35
Extradição nº 694, rel. Min. Sydney Sanches, j.
a Extradição nº 321, rel. Min. Aliomar Baleeiro, RTJ 13.2.97, DJU 22.8.97, p. 38.760.
74/1, em que se decidiu que o cunho político da 36
José Francisco Rezek, Direito internacional pú-
infração deve ser demonstrado pelo extraditando e blico, p. 206, 1989.
seu exame deve ser deduzido em função das pecu- 37
Extradição nº 171, rel. Min. Nelson Hungria, j.
liaridades de cada caso concreto. 6.8.52, DJU 31.12.52.
18
Extradição nº 417, rel. Min. Alfredo Buzaid, 38
Extradição nº 524, rel. Min. Celso de Mello, j.
rel. para o Acórdão Min. Oscar Correa, RTJ 111/ 31.10.90, DJU 8.3.91, p. 2.200.
16. 39
Sentença Estrangeira nº 993, rel. Min. Carlos

192 Revista de Informação Legislativa


Maximiliano, RT 136/824. DJU 29.3.96, p. 9.343; Extradição nº 773, rel. Min.
40
Extradição nº 662, rel. Min. Celso de Mello, j. Octavio Gallotti, j. 23.2.00, DJU 28.4.2000, p. 72.
28.11.96, DJU 30.5.97, p. 23.176.
41
Jacob Dolinger, As soluções da Suprema Corte
brasileira para os conflitos entre o direito interno e o
direito internacional: um exercício de ecletismo, RF 334/ Bibliografia
71.
42
Extradição nº 669, rel. Min. Celso de Mello, j. ACIOLY, Hildebrando; SILVA, Geraldo Eulálilo do
6.3.96, DJU 29.3.96, p. 9.343. Nascimento. Manual de direito internacional público.
43
Extradição nº 669, rel. Min. Celso de Mello, j. 1996.
6.3.96, DJU 29.3.96, p. 9.343. Essa decisão é ante-
BUSTAMANTE Y SIRVEN, Antonio Sanchez. De-
rior à Lei nº 9.437, de 20.2.97, que em seu art. 10
recho internacional privado. v. 3, n. 1.719, p. 137,
passou a tipificar o porte de arma como crime.
1943. Apud CAHALI. Estatuto do estrangeiro, 1993.
44
Extradição nº 446, rel. Min. Célio Borja, RTJ
122/865. ERRERA, Roger. Extradition et droits de l’homme.
45
Extradição nº 524, rel. Min. Celso de Mello, j. Collected Courses of Academy of European Law. v. 6(2),
31.10.90, DJU 8.3.91, p. 2.200. Ver também Extra- p. 283, 1995.
dição nº 232, RTJ 26/01.
46
Extradição nº 509, rel. Min. Celso de Mello, j. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal.
4.5.1990, DJU 1.6.1990, p. 4.930. Ver inúmeros pre- 1976.
cedentes do STF que autorizaram a extradição, GILMORE, William C. Extradition and the poitical
mesmo havendo processo no Brasil em curso: Ex- offense exception: reflections on United Kingdom
tradição nº 418, rel. Min. Aldir Passarinho, j. law and practice. Commonwealth Law Bullitin. 1992.
5.12.1984, DJU 8.3.1985, p. 2.597; Extradição nº
657, rel. Min. Mauricio Corrêa, RTJ 114/10. GOODWIN-GILL, Guy. International law and the
47
Pedido de extensão na Extradição nº 548, rel. movement of persons between states. 1978.
Min. Carlos Velloso, j. 11.11.96, DJU 19.12.96, p. LABAYLE. Le juge: la constituition et l’extradition.
51.765. Ver também Extradição nº 444-1, rel. Min. Revue Française de Droit Administratif. v. 12, 1996.
Celso de Mello, despacho de 10.2.00, DJU de
17.2.00, p. 5. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação
48
Ver Extradição nº 744, rel. Min. Celso de Mello, do direito. 1947.
j. 1.12. 99, DJU 18.2.00, p. 54.
MELLO, Celso Albuquerque. Direito penal e direito
49
No original: “The execution, if it takes place,
internacional. 1978.
will be in the US under American law against an Ame-
rican citizen in respect of an offense that took place in MIRANDA, Pontes de. Comentários à constituição de
the US”. (1991) 2 S.C.R., j. 26.9.91, caso nº 21.321. 1967: com a emenda n. 1 de 1969. 2. ed. 1974.
50
Essa proibição constou, inicialmente, do tex- Tomo 5.
to constitucional de 1934, no art. 113, § 29. Com
PERFILHA, J. Afonso. Curso de direito constitucional
exceção da Carta de 1937, foi mantida em todas as
positivo. 13. ed. 1997.
Constituições posteriores. Atualmente é prevista
no art. 5º, XLVII. PERTENCE, J. P. Sepúlveda. Liberdade e direito de
51
Ver art. 75 do Código Penal. asilo. Anais da 8. Conferência Nacional da OAB. 1980.
52
Extradições nº 272, 273 e 274, Extradições -
Julgamentos e Legislação, p. 46. PHILLIPIS, R. Stuart. The political offence excepti-
53
Ver, e.g., Extradição nº 399, rel. Min. Aldir on and terrorism: its place in the current extradition
Passarinho, RTJ 108/18 e Extradição nº 417, rel. scheme and proposals for its future. Dickinson Jour-
Min. Alfredo Buzaid, rel. para o Acórdão Min. Os- nal of International Law. v. 15, 1997.
car Correa, RTJ 111/16. REZEK, J.F. Direito internacional público: curso ele-
54
Extradição nº 426, rel. Min. Rafael Mayer, RTJ mentar. 2. ed.
115/969.
55
Extradição nº 588, rel. Min. Marco Aurélio, RUSSOMANO, Gilda. A extradição no direito inter-
rel. para o Acórdão Min. Celso de Mello, RT 752/ nacional e no direito brasileiro. 3. ed. 1981.
509. No mesmo sentido: Extradição nº 429, rel. Min.
SOUZA, Artur Gueiros. As novas tendências do direi-
Djaci Falcão, RTJ 119/483; Extradição nº 469, rel.
to extradicional. 1998.
Min. Francisco Rezek, RTJ 136/1051; Extradição nº
472, rel. Min. Moreira Alves, RTJ 128/998; Extradi- SWART, A. H. J. Refusal of extraditions and the um
ção nº 486, rel. Min. Octavio Gallotti, RTJ 132/1083; model treaty on extradition. Netherlands Yearbook of
Extradição nº 669, rel. Min. Celso de Mello, j. 6.3.96, International Law. v. 23, 1992.

Brasília a. 38 n. 150 abr./jun. 2001 193


TIBURCIO, Carmen. The human rights of aliens WIJNGAERT, Christine van clen. The political offen-
under international and comparative law. Kluwer ce exception to extradition. 1980.
Law International. nota 55. p. 9.
______. ______. p. 75-102.

194 Revista de Informação Legislativa

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