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FACULDADE BAGOZZI

LICENCIATURA EM FILOSOFIA
HERMENÊUTICA
4. Schleiermacher e o Projeto de uma
Hermenêutica Geral
José Ricardo Martins
ricardo@brazil-one.net
Friedrich Schleiermacher
(1768-1834)
 1768 Breslau, Silésia (hoje Polônia) - 1834 Berlin
 Pastor protestante
 Teólogo e Filósofo
 Traduz Platão para o alemão
 Obras:
 Sobre a religião
 A fé cristã
 Allgemeine Hermeneutik von 1809-10
 Dialektik
 Hermeneutik
 Hermenutik und Kritik (Hermenêutica e criticismo
Contexto: Religião x Iluminismo
Projeto de uma Hermenêutica Geral
 Constatação inicial: “A hermenêutica como arte da
compreensão não existe como uma área geral , apenas existe
como uma pluralidade de hermenêuticas especializadas.”
(Conferências, 1819)
 Objetivo fundamental: construir uma hermenêutica geral
como arte da compreensão.
 As diversas hermenêuticas precisam de uma justificação numa
teoria universal da interpretação.
 Busca a unidade fundamental desse arte nos problemas
particulares de cada disciplina:
1. Todos os textos usam uma língua e seguem uma gramática
para dar sentido a uma frase/texto;
2. Há uma ideia por trás do texto e da gramática.
Projeto de uma Hermenêutica Geral
 “Ninguém pode pensar sem palavras. Sem palavras o
pensamento ainda está incompleto, não é claro.” (HC, p. 8)
 O discurso se move do pensamento interno para sua expressão
externa na linguagem, enquanto a hermenêutica se move da
expressão externa de volta para o pensamento como
significado dessa expressão. (SCHMIDT, 2013, p. 26).
 “Como é que toda e qualquer expressão linguística, falada ou
escrita, é ´compreendida´?
 Há uma relação de diálogo
 Há uma processo “misterioso” que o ouvinte/leitor consegue
apreender o sentido
 Esse processo “misterioso”, de “adivinhação” é o processo
hermenêutico
A compreensão como processo de
reconstrução
 Nesse processo, a hermenêutica possui dois aspectos/ momentos
interatuantes na interpretação:
 O gramatical: trata dos elementos linguísticos do texto,
seguindo as leis gerais e objetivas da linguagem; trata-se do
elemento que é extraído da linguagem (a determinação do signi-
ficado é feita a partir da língua compartilhada entre autor e leitor);
considera a linguagem a partir da totalidade de seu uso linguístico.
 O psicológico (técnico): concebe como expressão de um interior;
tudo aquilo que se inclui na vida psíquica do autor; individualida-
de do autor, o seu gênio particular (é necessário uma certa
adequação com o autor); o autor faz uso da língua (gramática)
imprimindo nela a sua própria individualidade. O intérprete
compreende a individualidade do autor com relação ao geral (a
linguagem).
A compreensão como processo de
reconstrução: virada psicológica
 Assim, a hermenêutica tem como meta a reconstrução da
experiência mental do autor do texto:

A arte [da interpretação] só pode desenvolver suas regras de


uma fórmula positiva que é: a reconstrução histórica,
divinatória, objetiva e subjetiva de uma dada expressão
linguística. (Scheiermacher: Hermeneutik, p. 87)

 Crítica de Gadamer: foco excessivo no psicologismo e menos


na linguagem.
O uso da Hermenêutica
 Há uma necessidade mínima (prática frouxa), como em
conversas cotidianas, e necessidade máxima da hermenêutica
(prática estrita), quando se está diante de enunciados e que
mal-entendos ocorrem regularmente.
 A prática estrita evita mal-entendidos: ocorrem por causa
da pressa ou de preconceitos.
 O preconceito é nossa preferência por nossa própria
perspectiva, e assim lemos erroneamente o que o autor quis
dizer, ou adicionando algo que não foi intencionado, ou
deixando algo de fora.

 Fonte: SCHMIDT, 2013, pp. 28-30.


A compreensão como processo de
reconstrução
 O objetivo da hermenêutica é conseguir reconstruir como
o uso da linguagem do autor consegue apresentar suas ideias.
 No âmbito gramatical: precisa-se saber sobre a linguagem
que o autor usou; precisa-se de talento para interpretar a
linguagem no sentido de suas possibilidades de expressão,
como analogias e metáforas.
 No âmbito psicológico: precisa-se compreender como o
autor pensava em relação à sua cultura e ao seu tempo
histórico particulares
 Interpretar bem requer talento para compreender tanto a
linguagem quanto a individualidade do autor.
 Fonte: SCHMIDT, 2013, pp. 28-30.
Circulo Hermenêutico
 Em cada nível de interpretação estamos envolvidos em um
círculo hermenêutico.
 Não podemos saber a leitura correta de uma passagem no
texto a menos que conheçamos, grosso modo, o texto como
um todo; não podemos conhecer o texto como um todo a
menos que conheçamos determinadas passagens (partes).
 Não podemos conhecer o significado de uma palavra a menos
que saibamos os significados das palavras que a rodeiam, e do
texto como um todo; conhecer o significado do todo requer o
conhecimento de palavras individuais.
 Não podemos compreender o texto por completo a não ser que
conheçamos a vida e a obra do autor como um todo, o que
requer o conhecimento de textos e outros acontecimentos que
constituem sua vida.
Circulo Hermenêutico
 Não podemos compreender um texto por completo a não ser
que conheçamos por completo a cultura que deu origem ao
texto, o que pressupõe o conhecimento dos textos e
acontecimentos que constituem a cultura. Não só existe a
circularidade em cada nível de interpretação como também
entre os níveis. Não podemos escolher uma leitura correta de
uma passagem particular a não ser que já saibamos alguma
coisa sobre o seu significado, e também sobre a vida ou cultura
do autor.

 Fonte: INWOOD, 2007.


ATIVIDADE
 Atividade INDIVIDUAL. Questões:
1. O que é Círculo Hermenêutico e qual é sua contradição
lógica? Como Schleiermacher supera esse problema?
2. Como Lawrence Schmidt (pp. 32-40) descreve a interpretação
gramatical e a psicológica proposta por Schleiermacher?
3. Como a hermenêutica é possível para Schleiermacher,
conforme a descrição de Lawrence Schmidt (pp. 43-48)?
 Fontes:
 PALMER, Richard. O projeto de Schleiermacher de uma
hermenêutica geral. In: _____.Hermenêutica, Porto: Ed. 70,
1999, pp. 91-103.
 SCHMIDT, Lawrence. A hermenêutica universal de
Schleiermacher. In: ____. Hermenêutica. Petrópolis: Vozes,
2013, pp.
Referências
• GRONDIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. São
Leopoldo: Ed. Unisinos, 1999.
• INWOOD, Michael. Hermenêutica. Crítica, 2 de junho de 2007.
Traduzido da Routledge Encyclopedia of Philosophy, org. Edward
Craig. Londres: Routledge, 1998.
• PALMER, Richard. Hermenêutica. Porto: Ed. 70, 1999.
• SCHLEIERMACHER, Friedrich. Hermeneutics and criticism and other
writings [HC]. The Cambridge Companion to Friedrich
Schleiermacher. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.
• ______. Hermeneutik und Kritik. Heidelberg: H. Kimmerle, 1959.
• ______. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. 5.ed. Bragança
Paulista: Ed. Universitária São Francisco, 2006.
• _____. Hermenêutica e crítica. Ijuí: Editora Unijuí, 2005.
• _____. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. Petrópolis:
Vozes. 1999
• SCHMIDT, Lawrence. Hermenêutica. Petrópolis: Vozes, 2013.

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