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Rogério Greco
Procurador de Justiça
Doutor e Mestre em Direito
No Brasil, a discussão vem ganhando corpo, uma vez que o crime organizado,
principalmente as facções ligadas ao tráfico de drogas, se utiliza de menores devido
à sua particular condição, o que lhes facilita a saída do sistema punitivo, caso seu ato
venha a ser descoberto.
sintéticas, como é o caso do ecstasy, que são oferecidas em festas, em plena luz do
dia.
Esse caldo faz com que sempre seja discutido o início da imputabilidade
penal, marco que geraria consequências graves para aquele que, a partir desse
momento, viesse a praticar alguma infração penal.
Na Espanha, tal como ocorre no Brasil, a imputabilidade penal tem início aos
18 anos completos, idade a partir da qual passa a existir a possibilidade de serem
responsabilizados criminalmente, ou seja, de acordo com as lei penais.
Por mais que o menor deva ser submetido a uma Justiça Especial, que o julgará
e aplicará uma medida de acordo com suas peculiares características, há situações
em que esse julgamento sequer poderá ser cogitado, sob pena de se cair em
situações ridículas. Por isso, a orientação constante do item 3, do art. 40 da
mencionada Convenção.
Em alguns casos, não poderia ser diferente, pois que muitos menores atuam,
como já dissemos, em concurso com pessoas imputáveis, praticando toda sorte de
infrações penais. A violência praticada por menores vem crescendo a cada ano,
principalmente nos países onde a desigualdade social é grande. O tráfico de drogas
os arregimenta em suas fileiras, e os transforma em delinquentes
profissionais,muitas vezes mais perigosos e sedentos de sangue do que seus
companheiros, que já atingiram a maioridade penal.
Essa onda crescente de violência praticada por menores faz com que, a toda
hora, o sistema de internação seja repensado. Tal como ocorre com as
penitenciárias, os menores são jogados, como é o caso do Brasil, em instituições que
não os recuperam, que os tratam com crueldade, de forma desumana e degradante.
Contudo, esses programas jamais terão êxito da forma como são aplicados.
Isso não quer dizer que em todos os lugares do mundo a situação seja essa. Existem
muitos países avançados na recuperação de menores, principalmente na Europa.
Essa, infelizmente, é uma realidade que retrata os países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, como ocorre em grande parte na América do Sul, aqui incluído o
Brasil.
Nenhum jovem poderá ser admitido num centro de detenção sem uma ordem
de internação válida, expedida por uma autoridade judicial, devendo,
obrigatoriamente, ser registrado o seu ingresso naquele estabelecimento, onde
serão consignados todos os seus dados. Os menores deverão ser entrevistados,
preparando-se, o mais rápido possível, um relatório psicológico e social, que será
apresentado futuramente ao diretor do estabelecimento para que decida sobre o
lugar adequado a ser instalado.
Enfim, tal como deveria ocorrer com os maiores, imputáveis, aos jovens
infratores deveriam ser oferecidas todas as condições necessárias à sua
reintegração, tornando-os pessoas úteis. No entanto, embora tudo tenha sido
determinado a contento pelas organizações mundiais, na prática, a realidade é
outra. Os adolescentes são jogados em calabouços, afastados de suas famílias e
amigos, maltratados por aqueles que deveriam cuidar da sua segurança, espancados
por outros menores, autores de atos infracionais graves que, devido à falta de
classificação adequada, encontram-se internados com outros que praticaram fatos
de menor gravidade; não lhes é oferecida a necessária educação escolar, não são
preparados para o mercado de trabalho. Em resumo, não lhes concedem o mínimo
de dignidade.
Por isso, não se pode exigir que saiam do sistema melhores do que entraram,
mas, pelo contrário, a tendência natural é uma mera transferência de endereço, ou
seja, ao saírem de uma instituição para menores, voltarão para a sociedade e, em
pouco tempo, atingindo a maioridade, após praticarem nova infração penal, serão
transferidos para o sistema prisional, o que não lhes fará muito diferença, pois que
já se estão acostumados com tudo aquilo que nele presenciarão.
Não podemos nos esquecer que essa grande maioria de jovens que faz parte
do sistema de punitivo que lhes é próprio, também sofre com o processo de
seletividade. Isso que dizer que, também nessa esfera punitiva, existe uma seleção
pré-determinada de quem, efetivamente, cairá nas “garras” da Justiça de Menores,
ou seja, existe também aqui um processo natural de seleção, pelo qual somente os
jovens pertencentes às camadas sociais mais baixas é que sofrerão os rigores da
legislação que lhes é destinada.
Tal como acontece com a aplicação da lei penal para os imputáveis, existe um
cruel processo de seleção dos jovens miseráveis, pertencentes, muitas vezes, a
famílias desestruturadas socialmente. O abandono dos pais, o alcoolismo, o vício em
substâncias entorpecentes, a miséria, enfim, esse conjunto de fatores cria uma
fórmula quase que infalível: a delinquência.
Por outro lado, não é incomum que jovens de classe sociais mais abastadas
também pratiquem crimes, principalmente os ligados ao uso de drogas. No entanto,
como acontece normalmente, a grande maioria fica livre da Justiça. É a dureza da
realidade seletiva, ofensiva do princípio da isonomia.