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FACULDADE CEARENSE

CURSO DE DIREITO

BEATRIZ SOARES PINTO

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA JUSTIÇA DO


TRABALHO: UM ESTUDO BASEADO NA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

FORTALEZA - CE
2014
BEATRIZ SOARES PINTO

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA JUSTIÇA DO


TRABALHO: UM ESTUDO BASEADO NA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

Monografia apresentada como


exigência parcial para a
obtenção do grau de bacharel
em Direito, sob a orientação de
conteúdo da Professora
Mariana Vieira Araújo Lima.

Fortaleza - Ceará
2014
P659 Pinto, Beatriz Soares
A desconsideração da personalidade jurídica na justiça do
trabalho: um estudo baseado na sociedade empresária / Beatriz
Soares Pinto. – Fortaleza; 2014
41f.
Orientador: Profª. Mariana Vieira Lima Araújo.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Direito, 2014.

1. Justiça do Trabalho. 2. Personalidade jurídica. 3.


Desconsideração – Teorias menor e maior. I. Araújo, Mariana
Vieira Lima. II. Título

CDU 349
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
BEATRIZ SOARES PINTO

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA JUSTIÇA DO


TRABALHO: UM ESTUDO BASEADO NA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

Monografia apresentada à
banca examinadora e à
Coordenação do Curso de
Direito da Faculdade Cearense,
adequada e aprovada para
suprir exigência parcial inerente
à obtenção do grau de bacharel
em Direito.

Fortaleza (CE), 15 de dezembro de 2014.

__________________________________________
Mariana Vieira Lima Araújo
Professora Orientadora da Faculdade Cearense

__________________________________________
Ana Mabel Barbosa Moreira
Professora Examinadora da Faculdade Cearense

__________________________________________
José Péricles Chaves
Professor Examinador da Faculdade Cearense

__________________________________________
José Júlio da Ponte Neto
Coordenação do Curso de Direito da Faculdade Cearense
Dedico a minha mãe pelas noites mal
dormidas que passamos em busca deste
sucesso, eu em meu canto estudando e
ela de lado sempre rezando por mim.
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida e pela força que foi
primordial quando em certos momentos eu quis fraquejar.

Agradeço pelo incentivo em especial a minha mãe pela santa paciência, por
sempre acreditar até mesmo quando nem eu acreditava, ela sempre esteve ali.
Minha âncora, meu porto seguro sempre.

Agradeço ao meu pai pelo apoio financeiro e por nunca me proporcionar nada
de mão beijada fazendo com que eu adquirisse o bom hábito de sempre lutar por
aquilo que acredito que mereço e tanto almejo.

Agradeço aos meus tios Ary e Lúcia, ele por ter sido primordial na escolha do
meu tema e ela por sempre estar presente quando eu mais preciso em minha vida,
minha madrinha e segunda mãe.

Agradeço aos meus colegas de turma pela paciência e pelos bons anos de
convivência nos bancos de faculdade, alguns levarei para vida inteira.

Enfim, agradeço a todos os professores que me acompanharam nessa


jornada acadêmica, mais em especial, aos professores: Ana Mabel, Péricles e
Mariana, por terem sido meus professores quando era necessário e meus amigos e
conselheiros nas horas vagas, pois o tempo que passei em convívio com vocês
levarei para sempre, e mais uma vez obrigada por participarem de mais uma obra da
minha vida, integrando a banca examinadora do trabalho de conclusão do curso de
graduação de bacharelado em direito.
“Não é porque certas coisas são difíceis que
nós não ousamos. É justamente porque não
ousamos que tais coisas são difíceis!”

(Sêneca, filósofo romano)


RESUMO

Esse trabalho tem como intuito discutir algumas questões básicas a respeito da
desconsideração da personalidade jurídica no âmbito da justiça trabalhista, tomando
como base do estudo a sociedade empresária, com uma leve introdução ao ramo do
direito comercial, conceituando seus personagens de destaque, como as espécies
societárias e os diversos enfoques deste instituto dentro da sociedade, como a
conceituação e os efeitos da personalização e desconsideração da pessoa jurídica,
a aplicabilidade das teorias relativas a este tema (Teoria Menor e Teoria Maior ) e
suas divergências dentro dos órgão de jurisdição trabalhista. A sociedade
empresária está protegida diante do instituto da desconsideração da personalidade
jurídica quando a questão é relativa a Justiça do Trabalho?

O estudo teve complementação por meio da legislação pátria tendo uma pesquisa
bibliográfica centrada em vários autores que disponibilizaram suas obras por meio
de livros, artigos e revistas.

Palavras chave: Desconsideração; personalidade jurídica; Teoria Menor; Teoria


Maior, Justiça do Trabalho.
ABSTRACT

This work has the intention to discuss some basic questions about piercing the
corporate veil under the labor courts taking as study based on the business company
with a light introduction to the field of commercial law conceptualizing its prominent
characters as the corporate species and the various approaches this institute within
society as the concept and the effects of personalization and disregard of the legal
entity, the applicability of theories on this subject (Minor and Major Theory) and their
differences within the labor jurisdiction body. The business company is protected on
the disregard of the Institute of legal personality when the question concerns the
Labor Court?
The study completion through legislation homeland with a literature search focused
on a number of authors who publish their works through books, articles and
magazines.

Keywords: Disregard; legal personality; Theory Minor; Greater theory, Labor Justice.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10

2 EMPRESÁRIO ....................................................................................................... 11

2.1 Conceito de Empresário ...................................................................................... 11


2.2 Empresário Individual .......................................................................................... 13
2.3 Sociedade Empresária ........................................................................................ 15
2.4Registro do Empresário ........................................................................................ 16

3 DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SUA DESCONSIDERAÇÃO ...................... 19

3.1 Da personalidade jurídica .................................................................................... 19


3.2 Efeitos da personalização .................................................................................. 20
3.3 Desconsideração da personalidade jurídica ....................................................... 21
3.3.1 A teoria da desconsideração da personalidade jurídica ................................... 21
3.3.2 Teoria Maior .................................................................................................... 24
3.3.3 Teoria menor .................................................................................................... 25

4 A APLICAÇÃO DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO


ÂMBITO DA JUSTIÇA TRABALHISTA ................................................................... 28

4.1 A previsão da desconsideração da personalidade jurídica na Consolidação das


leis do trabalho frente a sua natureza protecionista .................................................. 29
4.2 Princípios relacionados a natureza protecionista das leis trabalhistas com relação
ao empregado ........................................................................................................... 30
4.3 A aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica nos órgão
da jurisdição trabalhista ............................................................................................. 32
4.4 Divergências da aplicação da teoria pela Justiça do Trabalho ............................ 35
4.5 As decisões do Tribunal Regional do Trabalho perante o empresário ................ 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41
10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem enfoque na teoria da desconsideração da


personalidade jurídica no âmbito da Justiça do Trabalho, pois se trata de um estudo
baseado na sociedade empresária e na sua situação diante dos efeitos da
desconsideração da pessoa jurídica carreada em processos tramitantes na Justiça
do Trabalho.

O ser humano é um ser político e precisa conviver em sociedade. Contudo o


instinto da ganância leva, na maioria das vezes, a excesso, pois enquanto alguns
indivíduos exploram e tentam enganar a massa trabalhadora, outros ludibriam
àqueles que investem o patrimônio em busca de melhor condições de vida.

Surpreendidos por terceiros que de forma errônea se utilizam da credibilidade


da pessoa jurídica para enganar pessoas, os empresários se veem perdido tentando
não sucumbir, já que, além de se defender dos ataques dos credores, deverão ainda
proteger seu patrimônio das verbas trabalhistas que em virtude de seu caráter
alimentício tem prioridade na escala de cobrança. Além disso, os magistrados
respaldadam-se na Teoria Menor da desconsideração, revestindo a atividade
comercial de insegurança jurídica, proferindo julgados cada vez mais desfavoráveis
ao empresário, de tal sorte que desencorajam a fomentação do mercado.

Para adentrar nesta pesquisa faz-se essencial mencionar noções do conceito


de empresário, da sociedade empresária e demonstrações de quem pode ou não
ser correlacionado como tal. Devemos tecer considerações acerca do instituto da
personalidade jurídica, seus efeitos, e as consequências da aplicação da
desconsideração da personalidade jurídica, a formulação de suas teorias,
demonstrando qual a mais utilizada na área da presente pesquisa.

Assim, no último capítulo, estudaremos a aplicabilidade da desconsideração


da personalidade jurídica, suas consequências, divergências e utilização de seus
preceitos nos órgãos de jurisdição trabalhista.
11

2 EMPRESÁRIO

Desde as civilizações mais antigas, a atividade mercantil vem se mostrando


presente e apesar de já existir regras e normas especificas que regulavam o
exercício do comercio não podia se falar de Direito Comercial/Empresarial como nos
dias atuais.

Nos primórdios surgiram ideias derivadas de usos e costumes que ensaiaram


os primeiros institutos jurídicos, ainda rudimentares, que serviam de norte para
regulação de atividades de comércio e formaram a base estrutural das regras
utilizadas atualmente.

No Brasil, em 1850, foi publicado o Código Comercial que se inspirou na


Teoria dos Atos de Comércio, trazendo consigo a figura do comerciante. Mesmo
ante a tantas limitações, até mesmo aquelas decorrentes do decurso do tempo, o
Código Comercial vigorou até a implementação do novo Código Civil em 2002.

O Direito Comercial/Empresarial Brasileiro passou por diversas mudanças e


dentre elas uma das mais significativas foi a derrogação de grande parte do Código
Comercial de 1850, na tentativa de unificar, ainda que apenas de maneira formal, o
direito privado.

Com o advento das novas legislações, desapareceu a figura do comerciante e


da sociedade comercial para o surgimento da sociedade empresária e da pessoa do
empresário.

2.1 Conceito de Empresário

“Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.
Conceito fornecido pelo Código Civil de 2002 demonstra que empresário é
todo aquele que exerce atividade econômica organizada de forma profissional para
produção ou circulação de bens e serviços.
12

Para melhor entender a situação do indivíduo que pode ser chamado de


empresário, é preciso que seja feito uma análise de toda a estrutura do conceito
fornecido pela legislação pátria.
A começar pela expressão “profissionalmente”, por ser este o requisito que é
subjetivo e está intimamente ligado à pessoa em si que gere a empresa. Há três
dimensões para explicação de seu conceito, a começar pela habitualidade, onde não
pode ser considerado empresário aquele que exerce suas atividades econômicas de
forma esporádica.
Ainda dentro do requisito do profissionalismo, a dimensão da pessoalidade,
que determina que o exercício da atividade empresarial demande trabalho, e seja
necessário contratar empregado, diferencia aqueles que exercem a mão de obra da
atividade empresário dos sócios da sociedade.
E por fim, ainda no que tange ao profissionalismo, e não menos importante,
temos o aspecto do monopólio de informações que o empresário detêm sobre
determinado bem ou serviço, pois como o empresário é um profissional do ramo em
que exerce a atividade, deve muito bem entender todos os aspectos referentes aos
bens ou serviços por ele fornecidos, para sempre atender da melhor forma possível
seu mercado consumidor.
Referentemente ao restante do conceito de empresário, este passa a exercer
a atividade econômica de forma organizada; e quando se fala em atividade, está-se
falando na empresa, pois, na linguagem comum, empresa é aquilo que tecnicamente
chamamos de estabelecimento comercial, ou seja, o local onde a atividade é
desenvolvida.
Na realidade, a atividade econômica organizada é que se pode chamar de
empresa, e esta enquanto atividade comercial não se confunde com o sujeito de
direito que a desenvolve.
O empresário, ao exercer empresa, deve desenvolver suas funções
econômicas, ainda que não seja para a obtenção de lucro, além de mantê-la de
forma organizada, conservando em seu poder os quatro fatores de produção do
sistema capitalista: capital, insumo, mão de obra e tecnologia.
Aquele que é eminentemente empresário tem o condão de obter vantagem
econômica na realização de suas atividades econômicas organizadas de forma
profissional.
13

Seguindo literariamente o que descrito no Código Civil, as atividades


literárias, artísticas, intelectuais e cientificas não podem ser consideradas atividades
próprias de empresário.
Para complementar o conceito de empresário empreendido no art. 966 do
Código Civil Brasileiro, descreve-se a circulação de bens e serviços como uma
qualificadora do seu conceito, pois, ao desprender esforços para o abastecimento do
mercado consumidor, fazendo girar bens ou serviços, o empresário põe em prática a
função essencial de seus esforços, fazendo a junção do profissionalismo com a
atividade econômica organizada, com o fim de auferir.
O vocabulário comum não faz distinção entre a pessoa dos sócios
administradores da sociedade empresária daqueles que são verdadeiramente
empresários e meros comerciantes, deixando claro que nada tem a ver com a
distinção entre pessoa jurídica e pessoa natural, podendo, portanto, ser
caracterizado como empresário uma pessoas natural bastando que ela preencha os
requisitos do conceito de empresário contido no Código Civil de 2002.

2.2 Empresário Individual

Como já foi visto o empresário pode ser uma pessoa física ou jurídica e para
tanto apenas deve preencher os requisitos constantes do conceito encontrado no
art. 966 do Código Civil.

Quando do conceito derivar uma pessoa jurídica estaremos diante de uma


sociedade empresária, e os sócios participantes desta sociedade não figuram como
empresários e sim como empreendedores ou investidores da sociedade,
dependendo de sua colaboração.

Já em caso do indivíduo que figurar no conceito estabelecido no art.966 do


Código Civil ser uma pessoa natural, está-se diante de um empresário individual.
“Atente-se para o fato de que muitas pessoas desenvolvem atividades negociais,
mais isso não traduz uma organização empresarial”.1

1. Mamede, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial, volume 1 / 4. ed. - São Paulo:
Atlas, 2010, p.88.
14

Apenas a atividade de empresa institucionalizada, organizada e com


patrimônio próprio, pode atribuir à pessoa natural a condição de ser denominada
empresária individual, ainda que esta não seja a única atividade desta pessoa,
porque, não necessariamente, é preciso que haja dedicação exclusiva, bastando
para tanto que o indivíduo realize sua atividade de forma organizada para a
circulação de bens e serviços, de forma habitual, seja titular do empreendimento e
tenha sempre como objetivo auferir vantagem econômica.

Existem algumas hipóteses de restrição de pessoas naturais figurarem na


relação jurídico-econômica como empresários individuais, conforme o Código Civil
Brasileiro. Uma deriva da proteção da própria pessoa, traduzindo-se em normas que
expressam a capacidade civil.

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em


pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente
assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por
seus pais ou pelo autor de herança.
Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por
disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com
a aprovação do juiz, um ou mais gerentes.

Art. 976. A prova da emancipação e da autorização do incapaz, nos casos


do art. 974, e a de eventual revogação desta, serão inscritas ou averbadas
no Registro Público de Empresas Mercantis.

A outra se consubstancia em normas que trazem a proteção aos terceiros,


além de se manifestarem na proibição ao exercício de empresa, conforme art.973 do
Código Civil: “Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria
de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas”.
Este artigo deixa claro que, ainda que o indivíduo impedido de exercer
atividade própria de empresário, mesmo assim o fizer, responderá por seus atos,
independentemente de seu impedimento, arcando com as obrigações contraídas.
Ainda no tocante ao empresário individual, há que mencionar o caso do
empresário individual casado. “Art. 978. O empresário casado pode, sem
necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os
imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”.
15

E com isso o empresário individual não precisa de outorga conjugal e


independe do regime de bens para dispor do patrimônio da empresa conforme
menciona o Código Civil.

2.3 Sociedade Empresária

Sociedade empresária é a pessoa jurídica que pratica a atividade


economicamente organizada de forma profissional com o fim de obter vantagem
econômica. Tem personalidade própria para arcar com suas obrigações, mesmo em
face da pessoa dos seus sócios, pois tem patrimônio próprio e autonomia processual
e negocial.

A sociedade empresária é formada pela reunião de dois ou mais empresários


para a exploração de atividade econômica para a circulação de bens ou serviços,
com intuito de obter maior vantagem econômica possível. “Art. 982. Salvo as
exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o
exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples,
as demais”.

Baseado no conceito acima, considera-se sociedade empresária aquela que


registra seus atos constitutivos na Junta Comercial.

Atualmente é mais comum que as sociedades empresárias adotem a forma


de sociedade limitada ou sociedade anônima. Contudo, independente da forma que
assumirem, devem obter seu registro na Junta Comercial de seu respectivo Estado.

A Sociedade Anônima é normalmente constituída por estatuto social, onde o


que importa é a junção de capitais necessários para desenvolvimento da atividade,
sem necessidade de ligação entre as pessoas dos sócios (affectio societatis),
denominados acionistas.

Com esta liberdade quanto aos títulos representativos da participação


societária, é importante mencionar que nenhum dos acionistas pode impedir o
ingresso de quem quer que seja nos quadros da sociedade e em caso de
16

falecimento de titular da ação também não pode ser negado o direito ao seu
sucessor de ingressar na sociedade.

Já a Sociedade Limitada é o tipo societário que mais se encontra presente


nos quadros do mercado brasileiro, em virtude de suas características peculiares,
que são a responsabilidade limitada dos sócios, se integralizado o capital social,
além do caráter liberal e autônomo de suas cláusulas contratuais.

Em ambas as modalidades, é necessário o investimento de capital, chamada


de participação societária, cuja competência cabe a cada sócio.

Contudo as decisões da sociedade são de cunho colegiada, ou seja, decidida


pela participação societária de cada um, e em ambas as sociedades, os sócios tem
segurança de somente responderem dentro de suas participações. “Art. 1.052. Na
sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas
quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”.

Apenas na sociedade limitada, os sócios poderão responder solidariamente


pela integralização do capital social, caso em que os demais não o fizerem no tempo
e na forma prevista.

2.4 Registro do Empresário

As sociedades empresárias e os empresários individuais, para se


conceberem perante à lei como tais, e para que possam passar a gozar de direitos e
obrigações de forma regular, devem-se registrar respeitando o Código Civil.

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro


Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a
sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá
obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples
adotar um dos tipos de sociedade empresária.

Regidos pela lei 8934/94 que dispõe sobre o Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências sobre as diversas nuances
contidas no ato de registro.
17

É obrigação daqueles que querem ser formalmente reconhecidos como


empresários ou sociedade empresária, já que o exercício da atividade comercial
praticada por eles não requer maiores complexidades.

Para efeitos deste registro, qualifica-se a atividade desenvolvida com todas as


especificações possíveis, seus ônus e seus bônus, devendo tudo ser registrado em
repartições oficiais.

As repartições oficiais que efetuam o registro público exercem suas atividades


em órgão federais e estaduais de forma sistemática em todo território nacional, para
garantir a segurança e publicidade aos documentos arquivados, catalogando todas
as empresas, independentemente da atividade exercida, seja ela nacional ou
estrangeira, tendo o cuidado de manter as informações contidas no registro sempre
atualizadas, e, se necessário for, proceder com o cancelamento das atividades da
empresa.

Os atos de registro empresarial seguem a seguinte forma, conforme


explica Gladston Mamede:

O registro público de empresas mercantis e atividades afins compreende o


arquivamento: (I) de atos constitutivos, alterações e extinções de firmas
mercantis individuais (empresas individuais); (2) das declarações de
microempresas e de empresas de pequeno porte; (3) dos atos constitutivos
e das atas das sociedades anônimas, bem como os de sua dissolução e
extinção; (4) dos atos constitutivos e respectivas alterações das demais
pessoas jurídicas organizadas sob a forma empresarial mercantil, bem
como de sua dissolução e extinção; (5) dos documentos relativos a
constituição, alteração, dissolução e extinção de sociedades cooperativas;
(6) dos atos relativos a consórcios e grupos de sociedades; (7) dos atos
relativos a incorporação, cisão, fusão e transformação de sociedades
mercantis; (8) de comunicação de paralisação temporária das atividades e
de empresa mercantil que deseja manter-se em funcionamento; (9) dos atos
relativos a sociedades mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no
pais; (10) das decisões judiciais referentes a empresas mercantis
registradas; (11) dos atos de nomeação de trapicheiros, administradores e
fieis de armazéns-gerais; dos demais documentos que, por determinação
legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário ou a
2
empresa mercantil.

2. Mamede, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial, volume 1 / 4. ed. - São Paulo:
Atlas, 2010, p.70.
18

Com todo este protocolo fielmente cumprido, os órgãos de registro tornam a


atividade empresarial exercida notoriamente conhecida de toda sociedade e assim
toda e qualquer pessoa que precisar poderá obter as informações pertinentes a
sociedade empresária ou empresário devidamente registrado, bem como obter
certidões que comprovem a veracidade das informações, sempre efetuando o
pagamento dos valores correspondentes na tabela.
19

3 DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SUA DESCONSIDERAÇÃO

3.1 Da personalidade jurídica

Para compreender os efeitos causados pela desconsideração da


personalidade jurídica, é importante que se faça um breve apontamento sobre a
mesma.

O homem tem em si de forma instintiva a necessidade de se sociabilizar, e,


ao se correlacionar, os indivíduos descobrem objetivos comuns. Quando a
realização de seus planos ultrapassam a barreira do individual, passam a agir em
grupos, formando-se necessariamente uma sociedade, que requer, como pessoa
que é, personalidade jurídica.

O seu desenvolvimento pressupõe, então, a aglutinação de esforços de


diversos agentes, interessados nos lucros que elas prometem propiciar.
Essa articulação pode assumir variadas formas jurídicas, dentre as quais a
3
de uma sociedade.

Com a formação da pessoa jurídica, a sociedade passa a ter diversas


obrigações tais como créditos e débitos perante a fornecedores, responsabilidades
perante o fisco, contratação de empregados etc. “Em suma, no campo do direito
privado, o sujeito personalizado pode fazer tudo que não está proibido; o
despersonalizado, somente o essencial ao cumprimento de sua função ou os atos
expressamente autorizados”.4

No Brasil os sócios são pessoas distintas da sociedade empresária, devendo


responder esta última com suas obrigações e exigir que sejam respeitados seus
direitos, afastando-se na medida do possível da pessoa dos sócios.

3. Curso de direito comercial, volume 2: direito de empresa / Fábio Ulhoa Coelho. — 17. ed. — São Paulo: Saraiva,
2013. (pág. 18)

4. Curso de direito comercial, volume 2: direito de empresa / Fábio Ulhoa Coelho. — 17. ed. — São Paulo: Saraiva,
2013. P.22.
20

3.2 Efeitos da personalização

Ao separar a relação patrimonial da sociedade da relação patrimonial de seus


membros, sócios, devido ao princípio da autonomia das relações patrimoniais, fica
evidenciado que não se pode mais atribuir as obrigações da sociedade àqueles que
por participarem dela a compõe.

A pessoa jurídica será titular de direitos e obrigações em três esferas:


obrigacional, processual e patrimonial, sendo esta última a que se dará maior
ênfase, devido às contrariedades relacionadas à Justiça do Trabalho, realçado em
tópicos futuros.

Com relação à titularidade obrigacional, a pessoa jurídica terá ligações


jurídicas contratuais e extracontratuais oriundas da atividade econômica exercida
pela sociedade. E conforme cita Fábio Ulhôa Coelho, em sua obra sobre direito
societário,os sócios não são partícipes dessa relação.

Já com relação à titularidade processual, a sociedade passa a ser parte


legitima para demandar e ser demandada em juízo, ou seja, quem responde pelos
eventuais processos que possam lhe ser movidos é a própria sociedade, excluindo
assim a pessoa dos sócios.

A questão da responsabilidade patrimonial é de suma importância, visto que


os bens em poder da sociedade não são correlacionados com os bens dos sócios,
que participem da pessoa jurídica formada pela junção de interesses comuns.

Como nas relações de pessoas físicas não há comunicabilidade entre as


obrigações, em regra, na pessoa jurídica da sociedade também não pode haver
essa comunicação entre os entes participantes, respeitando, assim, o princípio da
autonomia patrimonial.

Em casos excepcionais, em detrimento de um bem comum maior, ou melhor


dizendo, respeitando a condição das dívidas adquiridas com terceiros, e visando
saná-las, é bem possível que seja executado o patrimônio dos sócios.

Contudo estes são apenas casos fora do comum, pois o princípio da


autonomia patrimonial é que resguarda a segurança jurídica das relações, pois sem
21

ele, caso a exploração da atividade econômica desenvolvida pela sociedade tivesse


fracasso, todos os bens dos sócios, inclusive, aqueles que não foram adquiridos
devido tal atividade, seriam contabilizados a fim de cessar a dividas com os
credores.

3.3 Da desconsideração da personalidade jurídica

3.3.1 A teoria da desconsideração da personalidade jurídica

O mundo em que vivemos atualmente é excessivamente capitalista e os


indivíduos são dotados de uma ganância sem igual. São pessoas com falsos
caráteres, capazes de enganar qualquer um, sem se preocupar com as
consequências que lhe serão impostas, sobretudo, em razão da impunidade que
assola o país.

Dotados de tal ânsia em ganhar sempre mais alguma pessoas com o intuito
de apenas ludibriar terceiros formalizam empresas lhes dotando de personalidade
jurídica com o único fim de arrecadar lucro excessivo.

Em meio a diversas fraudes é que surge no direito o instituto da


desconsideração da personalidade jurídica, também chamado de teoria da
penetração, ou disregard of legal entity.

O direito como sempre buscando alcançar os fatos sociais no caso concreto


se depara com a necessidade de proteger os menos favorecidos que passam a ser
enganados pela pessoa jurídica.

O Código Civil de 2002 prevê em caso de abuso por parte da pessoa jurídica
com relação à sociedade, seja por desvio de finalidade, que ocorre quando a
sociedade é constituída para explorar atividade econômica diversa, ou seja, a
empresa é somente de fachada, seja pela confusão patrimonial, que ocorre quando
os bens sociais e patrimoniais se confundem entre os administradores.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
22

requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir


no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou
sócios da pessoa jurídica.

Este instituto nada mais é do que o afastamento provisório da personalidade


jurídica, recaindo a responsabilidade patrimonial sobre os sócios ou administradores,
ou seja, todas as obrigações relacionadas a atividade econômica exercida pela
sociedade em relação a terceiros seriam de responsabilidade não somente desta
sociedade, mas destes sócios.

Os bens particulares dos sócios, neste caso, são contabilizados para


posteriormente serem executados, a fim de sanar as obrigações com terceiros
efetuadas em nome da sociedade.

Suas primeiras ideias de concretização da matéria dentro do ordenamento


jurídico brasileiro foram trazidas por Rubens Requião, em 1960, pois, apesar de já
aplicada no âmbito jurídico por meio das jurisprudências, nada havia sido introduzido
legalmente no Brasil.

A primeira regulamentação se deu em 1990 com o advento do Código de


Defesa do Consumidor, que, com seu caráter essencialmente protecionista da
classe hipossuficientes na relação de consumo, tratou logo estabelecer a
desconsideração da personalidade jurídica em casos abusivos, albergando também
casos de falência, insolvência e até inatividade por má administração.

Art. 28 - O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração.

Como uma “espécie de chave”, o CDC abriu portas para que outras
legislações também relacionassem a desconsideração da personalidade jurídica
como meio de inibir os prejuízos causados a terceiros em nome da sociedade,
conforme prevê em seu parágrafo 5º, do art. 28 retro mencionado. “[...] § 5º -
Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
23

personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos


causados aos consumidores.”

A lei que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações à ordem


econômica, em seu art. 18, copia quase que na integralidade o texto do caput do art.
28 do CDC, adequando-o apenas à situação a que se refere a lei. Neste mesmo
compasso, a lei 9.605/98, que regula os crimes ambientais, em seu art.4, também
faz reprodução, por sua vez, do § 5º do art. 28 do CDC, resguardas as modificações
pertinentes ao tema da lei ambiental.

O art. 50 do Código Civil de 2002 é a regra que deve ser utilizada como
parâmetro para todas as relações em que se evidenciar a desconsideração da
personalidade jurídica, sem, contudo, se tornar banal, e é neste sentido que se
manifesta o STJ.

Falência. Arrecadação de bens particulares de sócios-diretores de empresa


controlada pela falida. Desconsideração da personalidade jurídica
(disregard doctrine). Teoria maior. Necessidade de fundamentação
ancorada em fraude, abuso de direito ou confusão patrimonial. Recurso
provido. 1. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica –
disregard doctrine –, conquanto encontre amparo no direito positivo
brasileiro (art. 2. ° da Consolidação das Leis Trabalhistas, art. 28 do Código
de Defesa do Consumidor, art. 4. ° da Lei n. 9.605/98, art. 50 do CC/02,
dentre outros), deve ser aplicada com cautela, diante da previsão de
autonomia e existência de patrimônios distintos entre as pessoas físicas e
jurídicas. 2. A jurisprudência da Corte, em regra, dispensa ação autônoma
para se levantar o véu da pessoa jurídica, mas somente em casos de abuso
de direito – cujo delineamento conceitual encontra-se no art. 187 do CC/02
–, desvio de finalidade ou confusão patrimonial, é que se permite tal
providência. Adota-se, assim, a “teoria maior” acerca da desconsideração
da personalidade jurídica, a qual exige a configuração objetiva de tais
requisitos para sua configuração. [...] (REsp 693.235/MT, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, 4.ª Turma, j. 17.11.2009, DJe 30.11.2009).

Esta jurisprudência evidencia que as teorias relativas a desconsideração da


personalidade jurídica devem ser aplicadas com cautela dentro dos parâmetros de
razoabilidade e proporcionalidade. Demonstra ainda que é necessário que os
requisitos sejam cumpridos para que seja aplicado tais teorias, não podendo ser
decretada de oficio pelo magistrado, contudo no judiciário brasileiro, mais
especificamente no judiciário cearense não é bem isso que ocorre, pois o
magistrado algumas vezes decreta a desconsideração da personalidade jurídica de
oficio a seu bel prazer.
24

3.3.2 Teoria Maior

Expressão utilizada para identificar a regra geral relacionada à


desconsideração da personalidade jurídica caracterizada pelo desvio de finalidade
ou confusão patrimonial, não podendo ser decretada de oficio pelo juiz, ou seja,
sendo necessário sempre a prévia provocação pela parte ou pelo Ministério Público,
este último quando lhe couber atuar no processo.

No Código Civil de 2002, uma vez ocorrida as situações descritas no art. 50,
demonstradas e provadas, o credor, se vendo prejudicado, pode recorrer à justiça,
para frente a ausência ou insuficiência de patrimônio da sociedade, seja levantado o
véu que recobre a pessoa jurídica e a responsabilidade patrimonial, e recair tão
somente sobre os bens particulares dos sócios ou administradores, para eventual
quitação das dívidas com os credores.

Ocorre que ao implantar essa teoria no ordenamento jurídico brasileiro, o


legislador cometeu o ato falho de não revogar as demais disposições legais sobre
este tema, fazendo assim gerar uma duplicidade de entendimentos com relação à
matéria em questão.

Pelo princípio da especialidade, entende-se que a lei especial derroga a lei


geral, e, assim, quando houver dubiedade entre as teorias acerca da
desconsideração da personalidade jurídica, é preciso fazer uma análise no caso
concreto e ver qual teoria se adequaria da melhor forma ao tema, pois, existindo lei
específica sobre o tema em questão, não é adequado utilizar a norma geral.

Em casos de crises na constituição da sociedade em que houver a quebra ou


a possibilidade de falência, ainda que o credor não se manifeste, ao juiz é permitido,
após a descrição pormenorizada dos fatos, desconsiderar a pessoa jurídica a fim de
alcançar os bens particulares dos sócios.

A jurisprudência evidencia a incidência de casos com relação a teoria maior


como a seguir.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. INEXISTÊNCIA
25

DE PROVA SEGURA DA OCORRÊNCIA DE DESVIO DE FINALIDADE OU


CONFUSÃO PATRIMONIAL. ARTIGO 50 DO CÓDIGO CIVIL.
1. A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico
brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a
pessoa jurídica, insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-
se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio
de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de
confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração)."(STJ, 3ª Turma,
Resp. 279273/SP, Rel. Min. Nancy Andrigui, DJ 29/03/2004)

Segundo o STJ o simples fato da empresa ter ficado inativa não significa que
a empresa se dissolveu de forma irregular, restando assim a autorização para a
desconsideração da personalidade jurídica.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA. EXECUÇÃO. INADIMPLEMENTO DA
EXECUTADA. TEORIA MAIOR E TEORIA MENOR. LIMITE DE
RESPONSABILIZAÇÃO DOS SÓCIOS.
I- A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico
brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a
pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-
se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio
de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de
confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração). II - A teoria
menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico
excepcionalmente no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide
com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de
suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade
ou de confusão patrimonial. III - Não tendo sido provados os requisitos do
art. 50 do CCB, não há como deferir a desconsideração da personalidade
jurídica, pois o mero inadimplemento, por si só, não a autoriza. (TJ-MG - AI:
10518020135043002 MG, Relator: Antônio Bispo, Data de Julgamento:
15/05/2014, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
23/05/2014)

Já no caso jurisprudencial acima, como não fica evidenciado as provas da


insolvência, no desvio de finalidade, ou, até mesmo, na confusão patrimonial, o
TJ/MG entendeu por melhor respeitar o limite de responsabilização dos sócios e
segue pela regra geral da teoria maior.

3.3.3 Teoria Menor

No caso da Teoria Menor, utilizada para demonstrar as situações de exceção


à regra dentro da doutrina da desconsideração da personalidade jurídica, muito
26

utilizado na legislação extravagante ao Código Civil, é necessário que tão somente o


credor demonstre a insolvência da obrigação, pois se confia que há relação de
hipossuficiência da parte que sofre a falta do cumprimento da obrigação.

Assim basta que a pessoa jurídica não consiga honrar seus compromissos
com o próprio patrimônio, que já fica estabelecido o requisito para pedir a
desconsideração da personalidade jurídica, a fim de alcançar, nos bens do sócios,
ou dos administradores, o necessário para sanar os débitos.

É com base nesta teoria, acreditando que o empregador é capaz de suportar


o ônus ocasionado pelo prejuízo das causa trabalhistas frente ao empregado, que a
jurisprudência trabalhista respalda a incidência da teoria menor, mesmo sabendo
que as exceções à regra, teoria maior, estão asseguradas legalmente, e a legislação
trabalhista ainda não tem regra positivada de forma explícita quanto ao assunto.
Mesmo gerando inúmeros danos ao mercado, pois o empregador é pego de
surpresa.

E é aqui que encontramos a problemática proposta no tema deste trabalho,


pois o empregador é tratado sempre como culpado da insolvência, contudo, em
alguns casos, ele é tão somente vítima, só que de forma diferenciada. No caso de
cometimento de ilícitos quanto sociedade empresária, em que o empregador não
compactuada com a fraude, mesmo antes de restar comprovado que o mesmo não
teve culpa, ele terá de arcar com seu patrimônio, pois uma vez caracterizada a
insolvência, o empregado requererá ao judiciário trabalhista a aplicação dos efeitos
da desconsideração da personalidade jurídica para receber seus numerários.

O STJ também se manifesta com relação a teoria menor no caso em tela a


seguir na relação consumerista.

AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA -


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA - RELAÇÃO DE
CONSUMO - APLICAÇÃO DA TEORIA MENOR
Circunstâncias fáticas que configuram obstáculo à satisfação do direito do
consumidor autorizam a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa executada. Aplicação da teoria menor, que dispensa a existência
de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. Jurisprudência do STJ.
Provimento do recurso. (TJ-RJ - AI: 00436573620138190000 RJ 0043657-
36.2013.8.19.0000, Relator: DES. EDSON AGUIAR DE VASCONCELOS,
Data de Julgamento: 29/01/2014, DÉCIMA SÉTIMA CAMARACIVEL, Data
de Publicação: 28/03/2014 00:00)
27

No caso a seguir, demonstra-se exatamente a problemática retratada, pois na


legislação trabalhista é aceita a teoria menor.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. -TEORIA


MENOR

É amplamente aceita no Processo do Trabalho a chamada -Teoria Menor


da Desconsideração da Pessoa Jurídica-, segundo a qual se podem incluir
incidentalmente na relação processual executiva os sócios do devedor
estampado no título exequendo, desde que frustrados os meios executórios
em relação a ele, sem necessidade de processo de conhecimento, nisso
não se vislumbrando qualquer afronta à garantia do devido processo legal
(Constituição, art. 5º, inc. LIV).(TRT-1 - AGVPET: 10297820105010003 RJ ,
Relator: Dalva Amélia de Oliveira, Data de Julgamento: 04/06/2012,
Terceira Turma, Data de Publicação: 2012-06-19)

O TRT do RJ ainda vai mais além, desmistificando a tese de que o fato de não
se cobrar meios de prova no processo de conhecimento frustrem a garantia ao devido
processo legal.
28

4 A APLICAÇÃO DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO


ÂMBITO DA JUSTIÇA TRABALHISTA

Como já mencionado no primeiro capítulo do presente trabalho, o


empregador, resumidamente, é aquele que contrata o empregado para determinada
função, seja ela executar os serviços destinados a ele e em contrapartida ao serviço
efetivamente prestado recebe uma remuneração denominada salário, pagamento
este que deve fazer jus a atividade desempenhada pelo empregado.

Contudo na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em seu art. 2


considera-se empregador a empresa não para encarnar características
diferenciadas a esta ou aquela mais tão somente para distinguir o patrimônio da
empresa do patrimônio daquele que gere suas atividades seja ele pessoa física ou
jurídica.

A relação essencialmente paternalista da CLT leva ao protecionismo


exacerbado do empregado deixando o empregador totalmente desguarnecido de
armas quando se trata de fraudes com relação a sua empresa, fazendo com que
este venha a arcar com todas as consequências para só depois ser ressarcido de
qualquer eventual engano quanto a sua pessoa.

Conforme Vólia Bonfim Cassar menciona em sua obra citando o ilustre


Arnaldo Süssekind a CLT não tinha intenção de inovar no que concerne ao sistema
legal dos sujeitos de direito quis tão somente assegurar que as questões
obrigacionais referentes a empresa se mantivessem inerentes a esta, seja ela
pessoa natural ou jurídica, levando o contrato de trabalho a considerar mais a
atividade econômica desenvolvida pela empresa do que a pessoa do empresário
que explora a atividade.

Esta manobra da CLT mais uma vez quis proteger o empregado de possíveis
ações fraudulentas dos empregadores e também deixou novamente o empregador
em situação desfavorável garantindo que em caso comprovado de fraude por parte
da empresa, sem requerer o dolo ou a culpa do empregador, seja aplicada a teoria
da despersonificação ou despersonalização da personalidade jurídica afetando de
forma direta os bens dos sócios ou administradores da empresa.
29

4.1 A previsão da desconsideração da personalidade jurídica na Consolidação das


leis do trabalho frente a sua natureza protecionista

Quando no dia primeiro do mês de maio do ano de 1943 foi aprovado o


decreto – lei conhecido como Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) o legislador
entendeu sabiamente, que assim como outras leis já vigentes, com o passar do
tempo este se tornaria obsoleto se não existisse artifícios para possíveis adaptações
que tornariam tal lei atual mesmo com o passar de tantos anos e assim continuando
a beneficiar milhares de pessoas sem precisar a edição de novas leis.

Uma das mais importantes consta do art.8 parágrafo único da CLT que versa
o seguinte.

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas
gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo
com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que
nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse
público.
Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do
trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios
fundamentais deste.

Com o que preleciona este artigo em seu parágrafo único fica salutar que é
possível a utilização de outros dispositivos do ordenamento jurídico, ainda que
subsidiariamente, a fim de suprir naquilo que couber as lacunas existentes no Direito
do Trabalho.

Com isso como não há na legislação trabalhista norma específica para tutelar
a questão da desconsideração da personalidade jurídica e este assunto não é
incompatível com os princípios regentes da legislação trabalhista, pelo contrário, a
utilização de outros dispositivos reforça o protecionismo ao trabalhador que é o
principal papel da CLT é totalmente aceitável a utilização de outros preceitos com o
intuito de preencher as lacunas que só se evidenciaram com o passar dos anos.

Na falta de norma especifica para defender esta questão em matéria


trabalhista utiliza-se em conjunto o Código Civil, para evidenciar o instituto da
30

desconsideração da personalidade jurídica de forma mais ampla, e o Código de


Defesa do Consumidor, de forma mais específica dentro de uma legislação mais
restrita e com mais especialidade, este para demonstrar quando melhor se adequa a
utilização deste instituto defendendo e salvaguardando a hipossuficiência dos
empregados, na relação trabalhista, e assim adequando no que couber o que se
utiliza na relação consumerista.

Com isso fica evidenciado que a teoria da desconsideração da personalidade


jurídica demonstrada de forma implícita dentro da Consolidação das Leis
Trabalhistas é tão são somente em busca de defender os direitos dos trabalhadores
em detrimentos dos direitos patronais e assim mesmo em virtude de qualquer
justificativa não há o que se falar em empecilhos que levem a perca de direitos
trabalhistas por parte da classe operária.

Contudo nem todo aquele, ou melhor dizendo a maioria, daqueles que


exercem a atividade empresária tem a intenção de agir de forma fraudulenta, porém
ao se aventurar pelos caminhos da atividade empresarial se deparam com os
perigos de atuar em tal seguimento e com isso ficam sujeitos a se tornarem
hipossuficientes na relação, pois a retirar o véu que recobrem suas empresas se
tornam pessoas naturais arcando com seu patrimônio por conta de serem vítimas da
ação fraudulenta, todavia antes de comprovarem serem tão somente vítimas terão
que arcar com as obrigações perante os empregados que nada tem a ver com os
riscos inerentes das relações empresariais.

4.2 Princípios relacionados a natureza protecionista das leis trabalhistas com relação
ao empregado

Buscando entender a situação de hipossuficiência da classe operária


demonstraremos os princípios que dão robustez ao protecionismo dos empregados
frente aos empregadores.

A começar com o princípio primordial do Direito do Trabalho que é o princípio


da proteção ao trabalhador que visa proteger o empregado, considerado como parte
hipossuficiente por ser este economicamente mais fraco do que o empregador.
31

Neste ponto a legislação trabalhista se preocupou em garantir aos empregados seus


direitos frente a desproporcionalidade econômica das partes e o estado intervêm
impondo normas mínimas a serem cumpridas.

Sendo este primeiro princípio a base do legado protecionista do direito


trabalhista é necessário uma melhor compreensão e para tanto este princípio foi
dividido em três partes a serem analisadas a seguir.

Princípio da condição mais benéfica ao trabalhador é aquele que diz que toda
condição que for mais vantajosa para o empregado prevalecerá sobre condição
anterior menos benéfica independentemente de onde seja oriunda, lei ou contrato,
regimento interno ou norma coletiva. Assim se o empregado em sua relação de
emprego de forma habitual tiver benefícios incorporados ao seu metiê este proveito
deve ser incorporado ainda que tacitamente ao patrimônio do empregado.

E a jurisprudência já tem se manifestado quanto ao assunto de forma


expressiva a fim de não deixar lesar o direito do empregador conforme segue.

AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. NATUREZA SALARIAL. ALTERAÇÃO


CONTRATUAL LESIVA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO
MAIS BENÉFICA. Formalizado o contrato de trabalho em época anterior à
atribuição de natureza indenizatória à parcela auxílio-alimentação, face à
existência de alteração lesiva no contrato de trabalho dos autores (conforme
artigos 9º e 468, ambos da CLT), é prevalente a natureza salarial da parcela
segundo o princípio, informador do Direito do Trabalho, de sobrevalência da
condição mais benéfica ao trabalhador, devendo ser tutelada a situação
pessoal mais vantajosa do empregado, incorporada ao seu patrimônio
jurídico. [...]

(TRT-4 - RO: 342720105040021 RS 0000034-27.2010.5.04.0021, Relator:


FERNANDO LUIZ DE MOURA CASSAL, Data de Julgamento: 28/07/2011,
21ª Vara do Trabalho de Porto Alegre)

Dentro do princípio da proteção ao trabalhador temos ainda o princípio da


norma mais favorável ao trabalhador e prevê a existência de um conflito entre
normas a serem aplicadas a um mesmo empregado e neste caso se faz uso daquela
que seja mais favorável a ele sem pouco importar a hierarquia das leis.

Dentro de um desmembramento importante dentro do princípio base de


proteção ao trabalhador temos o princípio do in dubio pro miseroque trata de uma
regra de interpretação que frente a uma incongruência deve se levar em
32

consideração a interpretação que mais benefícios trouxer ao empregado, desde que


seja razoável optar pelo hipossuficiente resguardados seus direitos indisponíveis.

Um princípio que também vem a favorecer a classe operaria é da primazia da


realidade onde versa que prevalece sempre o que aconteceu independente do que
está escrito. Assim como menciona Alice Monteiro de Barros “as relações jurídico-
trabalhistas se definem pela situação de fato, pouco importando quais nomes foram
dados as partes e sim o serviço efetivamente prestado”.5

Ainda dentro da lógica protecionista do direito trabalhista temos o princípio da


boa-fé que é um princípio a ser seguido de forma geral por todos os ramos do Direito
demonstrando que todos devem comportar-se de forma ética e moral a fim de levar
um comportamento de confiança e lealdade que se espera de um homem comum.

O fundamento da boa-fé consiste em opor valores éticos com o objetivo de


evitar os perigos de uma interpretação excessivamente positivista do
ordenamento jurídico. Dessa forma, o princípio da boa-fé exerce função
flexibilizadora dos institutos jurídicos, entre os quais se situa o contrato
6
de trabalho.

4.3 A aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica nos órgão


da jurisdição trabalhista

No tocante a teoria da desconsideração da personalidade jurídica a Justiça do


Trabalho tem seu funcionamento diferenciado das demais justiças apesar o instituto
ser o mesmo utilizado no código Civil por exemplo.

A utilização da desconsideração da personalidade jurídica no âmbito da


justiça trabalhista se evidencia com a simples comprovação do débito perante o
empregado, sem necessitar do preenchimento de nenhum outro requisito, assim
havendo o empregador patrimônio, ainda que não seja em nome da pessoa jurídica,
já fica caracterizado a possibilidade de quitar a dívida trabalhista.

5. Curso de direito do trabalho /Alice Monteiro de Barros – 7. Ed – São Paulo LTR 2011

6. Curso de direito do trabalho /Alice Monteiro de Barros – 7. Ed – São Paulo LTR 2011 p. 147.
33

Acreditando que o trabalhador é sempre no ponto de vista econômico o elo


mais fraco da relação trabalhista e a natureza alimentar s verbas em questão é que
a doutrina acha razoável que os empresários arquem com as dividas alegando estas
fazerem parte do risco natural da atividade comercial exercida.

Conforme a legislação a que se toma como base, o Código de Defesa do


Consumidor, deveria também a legislação trabalhista utilizar-se da teoria maior
quando o assunto é a desconsideração da personalidade jurídica contudo em virtude
do caráter excessivamente protecionista das relações trabalhistas quanto aos
empregados basta que fique comprovado o inadimplemento do crédito e a falta de
bens da pessoa jurídica para solver a dívida que estará presente o requisito para
retirar o véu da pessoa jurídica e adentrar ao patrimônio da pessoa física
descrevendo assim a teoria menor que é menos utilizado na legislação civil e mais
utilizada na legislação trabalhista.

Há tempos essa situação vem gerando desconforto da classe patronal em


virtude da insegurança jurídica fundada no caráter ilimitado da dividida trabalhista
onde o empregado precisa receber suas verbas indenizatórias em detrimento de
qualquer situação e o empregador deve pagar nem que para isso seja necessário
arcar com o próprio patrimônio para adimplir o seu saldo devedor.

Diversos julgados evidenciam a situação real dos fatos onde havendo


inadimplemento da verba trabalhista é necessário a quitação do debito independente
de qualquer situação e assim o empregador tem seu patrimônio utilizado para sanar
a dívida trabalhista, conforme veremos a seguir:

AGRAVO DE PETIÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA. A aplicação da teoria da desconsideração da personalidade
jurídica na Justiça do Trabalho se dá na sua vertente objetiva, na qual se
dispensa a verificação de violação ao contrato ou abuso de poder, bastando
a ausência de bens por parte da pessoa jurídica para que se inicie a
execução contra o patrimônio dos sócios. [...]
(TRT-4 - AP: 1061004820025040203 RS 0106100-48.2002.5.04.0203,
Relator: CLÓVIS FERNANDO SCHUCH SANTOS, Data de Julgamento:
13/10/2011, 3ª Vara do Trabalho de Canoas)
34

Utilizando-se da Teoria Menor o Direito do Trabalho busca a liquidação da


verba trabalhista de forma objetiva dispensando o caráter subjetivo de qualquer caso
fortuito ou força maior que por ventura possa ter ocorrido com o empresário.

FALÊNCIA DO REUS DEBENDI. REDIRECIONAMENTO DO EXECUTIVO


TRABALHISTA CONTRA OS SÓCIOS. POSSIBILIDADE. A Lei de Falência
(Lei n. 11.101/2005) não veda a aplicabilidade do instituto da
Desconsideração da Personalidade Jurídica na Justiça do Trabalho quando
decretada a falência do devedor principal. Assim sendo, constatando-se que
o réu debendi não apresenta força financeira capaz de suportar a execução,
equiparando-se a tal situação, por presunção legal, o caso de falência
(consoante hipótese dos autos), autoriza-se o redirecionamento da
execução em face dos sócios, a se realizar perante esta Justiça
Especializada, conforme exegese do art. 28 do Código Consumerista, de
aplicação subsidiária ao processo do trabalho (art. 769 da CLT). Agravo de
petição do exequente provido.
(TRT-2 - AP: 01086002220035020005 SP 01086002220035020005 A20,
Relator: MARIA ISABEL CUEVA MORAES, Data de Julgamento:
04/02/2014, 4ª TURMA, Data de Publicação: 14/02/2014)

A simples decretação de falência também não exclui a aplicação do instituto


da desconsideração da personalidade jurídica onde os sócio remanescentes da
relação empresarial deverão arcar com os inadimplementos visto que se utilizaram
da atividade laboral dos empregados e assim esta modalidade de créditos dentro do
processo de falência tem caráter de crédito privilegiado.

FALÊNCIA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.


POSSIBILIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO NA JUSTIÇA
DO TRABALHO. A falência não constitui óbice para a desconsideração da
personalidade jurídica, amplamente aplicada na Justiça do Trabalho. O art.
114 da Constituição Federal, que prevê a competência da Justiça do
Trabalho, não se limita à fase de conhecimento. A interpretação sistemática
do art. 5o, incisos XXXV e LXXVIII, e art. 100, parágrafo 1o - A da CF/88, do
art. 877 da CLT e do art. 28 da Lei 8078/90 e da Lei 11.101/06 revela a
possibilidade de o reclamante prosseguir a execução em face dos sócios,
na Justiça do Trabalho, antes de habilitar o crédito no Juízo Falimentar.
(TRT-2 - AP: 02602006220035020079 SP 02602006220035020079 A20,
Relator: IVANI CONTINI BRAMANTE, Data de Julgamento: 02/09/2014, 4ª
TURMA, Data de Publicação: 12/09/2014)

O que vem trazendo ainda mais desconforto para os sócios e ex-sócios de


sociedades empresaria é que os magistrados do âmbito trabalhista em fase de
35

execução estão cada vez mais se utilizando deste instituto sem sequer buscar
esgotar outros meios de saldar as dívidas trabalhistas.

AGRAVO DE PETIÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA. CRÉDITO DE NATUREZA ALIMENTAR. LEI N 6.830/80.
Aplicação da Lei n. 6.830/80, que possibilita a desconsideração da pessoa
jurídica e a penhora dos bens particulares dos sócios, nos termos do artigo
899 da Consolidação das Leis do Trabalho. A aplicação da teoria da
desconsideração da personalidade jurídica na Justiça do Trabalho se dá na
sua vertente objetiva, na qual se dispensa a verificação de violação ao
contrato ou abuso de poder, bastando a ausência de bens por parte da
pessoa jurídica para que se inicie a execução contra o patrimônio dos
sócios. [...]
(TRT-4 - AP: 1279003520055040751 RS 0127900-35.2005.5.04.0751,
Relator: CLÓVIS FERNANDO SCHUCH SANTOS, Data de Julgamento:
28/07/2011, Vara do Trabalho de Santa Rosa)

No caso da Justiça do Trabalho no judiciário cearense segue o exemplo


assim como demonstrado pela Vara do Trabalho de Santa Rosa, contudo no Ceará
há uma falta de segurança jurídica a partir do momento que o magistrado nem
sequer respeita o contraditório e a ampla defesa, aplicando a teoria menor da
desconsideração da personalidade jurídica sem nem mesmo instaurar um processo
preocupando-se apenas com a falta de recursos da pessoa jurídica para quitar seus
débitos trabalhistas.

4.4 Divergências da aplicação da teoria pela Justiça do Trabalho

É de conhecimento geral que o Direito do Trabalho tem como sua função


precípua defender o trabalhador, contudo, quando se trata do instituto da
desconsideração da personalidade jurídica as consequências para o empregador
devastadoras e importunam a segurança jurídica da atividade comercial.

Bem como o proletariado fica à mercê da classe dos empregadores que se


utilizam de sua mão de obra como condição de exploração, também o empresário
que tem o condão de movimentar a máquina comercial pode sofrer com fraudes,
trapaças e ação de falsificadores e assim ficar inadimplente perante não só a seus
empregados como a seus credores também.
36

Sem se preocupar com uma das funções básicas de constituição da pessoa


jurídica, que é a separação patrimonial, a justiça trabalhista se utiliza da teoria
menor, prevista na legislação consumerista, e responsabilizam os sócios e ex-sócios
da sociedade empresária sem análise nenhuma do caráter subjetivo do
inadimplemento.

Neste caso os empregados ficam guarnecidos pelo caráter objetivo utilizado


pelo instituto da desconsideração da personalidade jurídica no âmbito trabalhista, e
os empresários ficam em completa dependência dos riscos inerentes às atividades
comerciais prestadas.

4.5 As decisões dos Tribunais Superiores perante o empresário

A empresa, quando busca sua regularização frente ao mercado consumidor,


por meio de seus sócios, está tentado se resguardar de diversas situações, dentre
as quais a proteção do seu patrimônio, garantindo que não haja confusão entre os
bens dos sócios e os bens da sociedade empresária, assim nenhuma das partes irá
arcar com os custos desta relação.

A personalidade jurídica foi um meio encontrado para dar maiores garantias


àqueles que decidiam investir em seus negócios, respaldando a estes que nada
aconteceria com seus patrimônio, desde que estes servissem de garantia para a
atividade comercial, e assim os empresários detinham mais e mais investimentos a
fim de fomentar cada vez mais a atividade comercial, angariando mais lucros,
gerando maior rentabilidade para seus negócios, e fazendo cada vez mais com que
o mercado crescesse.

A legislação trabalhista, entretanto, quando trata do instituto da


desconsideração da personalidade jurídica não tem norma especifica que verse
sobre o tema, e, assim, os Tribunais se utilizam de analogias, normas gerais do
direito e jurisprudências para suprir as lacunas existentes sobre o respectivo tema.

A instabilidade quanto a personalidade jurídica, ou melhor, quanto


relativização do patrimônio da sociedade empresária faz com que os sócios
empresários fiquem receosos de investir e assim máquina do mercado consumidor
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passa a girar com menos fluidez aumentando as perdas tanto de cunho sócio
econômico como a manutenção dos empregos dos trabalhadores.

À medida que investia, resguardando-se no véu que revestia a sociedade


empresária, os sócios fomentavam a economia sem medo de arriscar, com a meta
deque em havendo perdas somente se perderia aquela quantia que já estava
destinava a atividade comercial e com o advento da teoria da despersonalização da
personalidade jurídica não só o que foi investido pode perecer mais também todo o
patrimônio dos sócios até seja liquidada a dívida trabalhista.

A Justiça do Trabalho neste caso desestimula a manutenção da atividade


comercial, pois o sócio da sociedade empresária pode ser vítima de ação
fraudulenta, e ao invés de ter seus direitos e patrimônio protegidos, terá que tentar
resguardar o que lhe resta de uma possível execução trabalhista.

FRAUDE À EXECUÇÃO. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL PELO SÓCIO. 1. A


fraude à execução, instituto eminentemente processual, consiste em ato
atentatório à dignidade da Justiça (artigo 600, I, do CPC), que acarreta a
ineficácia do negócio jurídico celebrado entre o devedor e o terceiro. Cuida-
se de vício que atinge os interesses dos credores trabalhistas, mas também
a autoridade do Estado concretizada no exercício jurisdicional. Nessa
esteira, existindo ação judicial em andamento, o interesse na manutenção
do patrimônio do executado é, sobretudo, do Poder Judiciário. 2. Deve ser
observado que a teoria da desconsideração da personalidade jurídica é
relativamente recente. Na legislação pátria passa a se fazer presente no
Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990), mais
especificamente no § 5o do art. 28. E, de forma mais abrangente, tal teoria
foi consagrada apenas quando da promulgação do Código Civil de 2002,
estando prevista em seu art. 50. No Processo do Trabalho, a
desconsideração da personalidade jurídica é aplicada utilizando-se
subsidiariamente a legislação de cunho civilista, nos termos do artigos 8o,
da CLT, visto que as normas trabalhistas não fazem previsão específica a
tal instituto. Na Justiça do Trabalho a desconsideração da personalidade
jurídica da reclamada, que permite a execução dos bens de seus sócios,
somente passa a ser formalmente aplicada a partir do final da década de
1990 e início dos anos 2000. Até o advento do Código de Defesa do
Consumidor, a jurisprudência trabalhista dirigia a execução aos sócios da
empresa devedora com base no art. 10, do Decreto no 3.708 de 1919, que
autoriza a responsabilidade dos sócios, para com está e para com terceiros,
solidaria e ilimitadamente, pelo excesso de mandato e pelos atos praticados
com violação do contrato ou da lei. Sendo assim, à época do início da
presente execução não havia a exigência ou até mesmo a prática de se
fazer, formalmente, um despacho desconsiderando a personalidade jurídica
da empresa e direcionando a execução dos sócios. Como verificado nos
autos, desde o ano de 1990 a execução está sendo direcionada aos sócios
proprietários do imóvel alienado em 1995. Destarte, tendo em vista a
responsabilidade subsidiária dos sócios, é nula a venda do imóvel, bem
como os atos subsequentes, a partir da distribuição da ação. Ante a fraude
de execução. Agravo de petição a que se dá provimento.
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(TRT-1 - AP: 01727007719895010013 RJ, Relator: Sayonara Grillo


Coutinho Leonardo da Silva, Data de Julgamento: 19/05/2014, Sétima
Turma, Data de Publicação: 05/06/2014)

Pelo caráter alimentar das verbas trabalhistas, a teoria da desconsideração


da personalidade jurídica é um caminho a se seguir, contudo, em um longo prazo
haverá um aumento de empresas despersonalizadas e irregulares e um grande
dano na economia.

Os magistrados aplicam de forma ampla e objetiva a teoria da


desconsideração da personalidade jurídica, permitindo que o simples
inadimplemento seja suficiente para o afastamento da personalidade jurídica e a
penetração no patrimônio particular dos sócios da empresa, causando, muitas
vezes, implicações negativas na vida financeira dos sócios.

Os Tribunais têm se manifestado a respeito deste tema da seguinte forma:

RECURSO ORDINÁRIO. GRUPO ECONÔMICO. BLOQUEIO DE BENS.


Em razão da formação do grupo econômico, as empresas que o compõem
respondem de forma solidária pelos créditos trabalhistas dos empregados
que lhes prestaram serviços e foram dispensados no período abrangido
pela reclamação trabalhista. Além disso, em razão da confusão societária e
da fraude que culminou com a dispensa de diversos empregados e no
ajuizamento destas ações pelo Ministério Público do Trabalho e com a
consequente desconsideração da personalidade jurídica das sociedades
empresárias, os sócios destas devem responder, também, na reclamatória
pelos créditos trabalhistas remanescentes, de forma solidária.
(TRT-1 - RO: 124008920055010431 RJ, Relator: Marcelo Antero de
Carvalho, Data de Julgamento: 12/12/2012, Décima Turma, Data de
Publicação: 2013-01-23)

A desconsideração da personalidade jurídica no âmbito da justiça do trabalho


é regida pela Teoria Menor, que versa pela simples inadimplência do
devedor(empregador), já que fica caracterizado para o credor(empregado) o direito
de questionar a pessoa jurídica e os bens de seus respectivos membros. O
magistrado não pode, de ofício, decretar tal medida, pelo princípio constitucional da
inércia jurisdicional, mas também não pode se escusar, após a devida provocação,
pois a partir do preenchimento do requisito objetivo, fica caracterizado um direito e
assim mesmo diante da sua discricionariedade, ou seja, seu juízo de conveniência e
oportunidade, o julgador deve cumprir a lei, retirando o véu que recobre a pessoa
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jurídica e penetrando nos bens particulares dos sócios com cautela, sempre
aplicando a proporcionalidade e a razoabilidade.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empresário, termo genérico, é aquele que exerce profissionalmente


atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços, é elemento fundamental na engrenagem do comércio em geral, pois, sem
ele, não há como fazer girar a grande máquina dos negócios denominada comércio.

Dentro do comércio, além do empresário individual, também se faz presente,


com bastante força, a sociedade empresária, que tem como objetivos os mesmos
almejados por aquele, só que este se faz representar por seus sócios, através de
uma pessoa jurídica preestabelecida somente para este fim.

A personalidade jurídica da sociedade empresária é comparada a “um véu”


que recobre àqueles que querem investir em seu patrimônio, sem, contudo,
arriscassem, através da constrição de seus bens pessoais.

Em meio a tantas soluções para tentar evitar ações fraudulentas, o juiz do


trabalho deixou o empresário a mercê dos rigores das teorias que guarnecem a
personalidade jurídica das sociedades, pois aplica, exacerbadamente, a Teoria
Menor como a mais eficiente perante a Justiça do Trabalho, alegando a proteção
dos hipossuficientes frente à classe patronal, desguarnecida de armas para se
defender.

Assim o empresário é surpreendido pela ação criteriosa dessa teoria, sendo


muitas vezes injustiçado pela restrição de seu patrimônio, valendo-se, até, de
medidas jurídicas rigorosas, para poder coibir a constrição indevida de seus bens.

Portanto, por uma questão de proporcionalidade e razoabilidade, os efeitos da


personalidade jurídica e a “disregard doctrine” devem, concretamente, ser
analisadas com maior cautela, a fim de evitar o que hoje é real na Justiça do
Trabalho: o bloqueio das contas bancárias dos sócios, que, muitas vezes,
guarnecem seus salários.
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REFERÊNCIAS

Barros, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho – 7. Ed – São Paulo LTR
2011

BRASIL, Consolidação das leis trabalhistas. Decreto-Lei nº 5.452, de 1° de maio de


1943.

BRASIL, Constituição da república federativa do Brasil: promulgada em 05 de


outubro de1988.

Coelho, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial, volume 2: direito de empresa— 17.
ed. — São Paulo: Saraiva, 2013.

Coelho, Fábio Ulhôa. Manual de direito comercial: direito de empresa – 22 ed.- São
Paulo: Saraiva 2010

Mamede, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial,


volume 1 / 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2010

Mamede, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial,


volume 2 / 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2010

Martins, Fran. Curso de direito comercial / Atual. Carlos Henrique Abrão – 37. ed.
rev., atual. e ampliada. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.

Negrão, Ricardo. Direito empresarial: estudo unificado — 5. ed. rev. — São PAULO:
Saraiva, 2014.

Ramos, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado – 4. ed. rev.,
atual. e ampliada. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.

Resende, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado / 4. Ed. rev. atual. ampl. – Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.

http://www.jusbrasil.com.br.Acesso em: 29dez. de 2014.

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